06. First Dance
Finalizada em: 01/07/2018

Capítulo Único

O salão estava colorido pelas luzes artificiais montadas pela equipe de iluminação contratada pelo comitê. O ponche, a essa altura da noite, estava mais batizado do que puro, e alguns garotos estavam rindo pelos cantos, enquanto outros babavam na arquibancada do ginásio. A música estava alta, provavelmente mais do que o devido para aquele horário, mas ninguém se importava em nossa pequena cidade: provavelmente os filhos e netos de todos os moradores daquele lugar estavam reunidos naquele baile, e a última coisa que a velha guarda de Jordan Fields queria era estragar o baile dos sonhos da garotada.
Os grupinhos populares se reuniam na pista de dança ao som de Calvin Harris e Avicii, enquanto o resto de nós, meros mortais, ocupávamos as mesas ao redor, apenas observando, intimidados demais. O rei e a rainha já tinham sido escolhidos, e pelo segundo ano consecutivo, Kimberly Reynolds e seu namorado, Henry Pack, levavam a coroa. Eles eram o perfeito clichê de colegial americano: ela – adivinhem – chefe das líderes de torcida. Ele – pasmem – capitão do time de futebol americano. Perfeitos um pro outro, e ao mesmo tempo clichê demais pra durarem por toda a vida. Enquanto toda a escola os veneravam, eu via neles só mais um casal de colegial, que não sobreviveriam a duas semanas em faculdades separadas. No mesmo grupo deles, estavam os outros populares: Gary Thomas, Will Jones e as namoradas, Olivia Fawcett e Pam Rodriguez. O resto da equipe de líderes de torcida se unia a eles aos poucos, bem como os jogadores de futebol.
No círculo ao lado, estavam os cérebros de nosso colégio: os matletas, presidentes de clubes e do grêmio estudantil. Eram a interseção entre populares e mortais como eu. A presidente do comitê, Jenna Davies finalmente se dera um descanso, e agora pulava e dançava, cantando ao som de Despacito, claramente alterada, provavelmente pelo ponche batizado. De qualquer forma, era divertido vê-la dessa forma, uma vez que a víamos andar pela escola em terninhos sérios e suéteres caretas.
Espalhados, ou em pequenos grupos, estavam meus amigos e conhecidos. Alguns eram do meu convívio diário há anos, como meus melhores amigos Bill e Jonah, enquanto outros eu mal sabia o nome.
Mas entre os quase 300 alunos que a escola Fields High abrigava presentes naquele baile, uma destoava na minha visão: . Circulando entre todos os grupinhos com seu olhar serelepe e cabelos sempre perfeitamente arrumados, estava lá a garota por quem eu era apaixonado há cerca de três anos, e que eu tinha a felicidade e infelicidade de chamar de melhor amiga. É sempre complicado quando um garoto se apaixona por sua melhor amiga, mas entre e eu tudo parecia mil vezes pior. Ela não era só minha melhor amiga. Era ex-namorada de Jonah. Mesmo eu conhecendo os dois como a própria palma da minha mão e sabendo que ambos tinham seguido em frente após o termino, no meio do primeiro ano, eu ainda não tinha certeza se deveria chamá-la para sair.
Esse é um dos grandes problemas de se viver em uma cidade pequena: todo mundo conhece todo mundo. Todo mundo sabe tudo de todo mundo. Então era simplesmente impossível esconder algo de alguém dentro de Jordan Fields, ao passo que todos sabiam que eu sustentava sozinho, um sentimento gigantesco por . Minha mãe, o padeiro, o dono da sorveteria, o funcionário da locadora, e até o pastor da Igreja já me concedera sua benção para o meu casamento com a garota, uma vez. Todos sabiam, menos as duas pessoas envolvidas: e Jonah.
Bill sempre disse que eu deveria dizer a ele, que ele não se importaria, que ele tinha seguido em frente, mas eu tinha receio. “Amigos antes de qualquer coisa” sempre fora nosso lema em todos esses anos de amizade. E colocar a frente de tudo e no meio de uma possível briga entre nós era a última coisa que eu desejava. Então, lá estava eu: perdidamente apaixonado por uma garota, sem poder contar com um dos meus melhores amigos pra me ajudar, e ainda me aproximando cada vez mais de .
A vida no colégio era ótima, sim.
- Cara, pare de encarar. Está ficando estranho. – disse Jonah ao perceber que eu praticamente seguia com o olhar.
- O quê?
- . Pare de encarar e chame logo a garota pra dançar. Olhe, estão tocando Ed Sheeran. É o momento perfeito!
- O quê? – eu repeti, sem entender o que ele queria dizer.
- Pare. Você é maluco por aquela garota.
- Jonah. Eu nunca...
- Sim, eu sei. Você nunca disse porque não queria estragar o que nós tínhamos. Eu estava feliz, ela estava feliz, era o que importava. Bill já me disse isso tudo. Você podia ter me dito, . Confiado em mim.
- Eu não consegui. Quis muito, mas não consegui. E então vocês terminaram e eu pensei...
- Que tinha uma chance.
- Mas ela estava muito chateada.
- Eu sei, eu sei. Mas você sabe, eu não podia mais. Não gostando de outra pessoa.
- Vocês continuam se encontrando? Você e a Vasquez?
- Vez ou outra, quando ela vem pra cá. Estou fazendo planos pra ir pra lá assim que as provas terminarem. Gabbie é incrível. Vamos juntos pra estadual, sabia? – os olhos de Jonah faiscaram ao mencionar a garota que conhecera no acampamento de verão no qual ambos foram instrutores. Ele, nascido na pequena cidade no sul do estado, ela cerca de 100 quilômetros mais ao norte, com parentes na cidade. Se encantaram um pelo outro em cerca de duas semanas, e quando finalmente se beijaram pela primeira vez, foi um beijo de despedida, antes que a garota entrasse no ônibus que a levaria de volta pra casa. Desde então, um brilho rondava o olhar de um dos meus melhores amigos. – O que eu quero dizer é que você deveria chamar pra dançar, pelo menos. Não é como se tudo o que você sente fosse acabar da noite pro dia.
Suspirei e olhei mais uma vez, que dessa vez se servia de ponche sozinha, do outro lado do salão.
- Como eu sei que ela não vai dizer não?
- Porque eu estou dizendo que não. Eu a namorei por quatro meses. Sei dizer quando ela vai dizer não pra alguma coisa. Além disso, vocês estão se aproximando desde que você aceitou ajudar a galera do jornal a fazer os gráficos pro anuário.
- Não é nada. Qualquer um faria isso.
- Mas você resolveu fazer.
- Qualquer um poderia fazer.
- Mas você resolveu fazer. – ele enfatizou as palavras. – Entende o que eu quero dizer? Dentre todos, você foi o único que teve iniciativa de ir lá e se oferecer. Por quê?
- Queria me aproximar de .
- Elementar, meu caro Watson. – ele citou Sherlock Holmes e eu sorri ao ouvir a citação ao meu detetive preferido dos meus livros preferidos. – Se minha benção era o que você queria, preciso ser mais explícito? – foi a vez dele sorrir.
- Obrigado, cara.
- Vai ser feliz e fazer nossa garota feliz.
Eu sorri e andei em direção a linda garota de vestido azul que fazia meu coração bater mais rápido.
- ? – eu a chamei e ela abriu um sorriso leve ao se virar.
- Oi! Eu estava justamente procurando você. Queria agradecer mais uma vez pela ajuda com o anuário. Ficou tão bonito que eu nem acredito que fizemos em uma semana.
- Não agradeça por isso. É pra isso que servem os amigos. Escute, eu...
- Ah, eu adoro essa música! – ela exclamou quando All Of Me ecoou pelo ginásio.
- Então dança comigo? – eu estendi meu braço pra ela, que sorriu e segurou minha mão, levemente suada. Ela claramente percebeu meu nervosismo, e apertou mais forte a mesma, como se dissesse que estava tudo bem. E realmente parecia tudo bem.
Chegamos ao centro do salão e ela rapidamente passou suas mãos em torno do meu pescoço, como sempre fazia quando me abraçava. Eu fiz o mesmo, enlaçando sua cintura e puxando-a para mais perto de mim.
- Não tive chance de dizer antes, mas você está linda. Como todos os dias.
- Obrigada, . Você também está lindo. Nunca tinha te visto de terno e gravata. – ela sorriu de leve.
- Fico feliz que tenha dado tudo certo, no fim das contas. O baile, o anuário, a formatura.
- A faculdade. Entrei na USC.
- ! – eu a abracei forte no meio da dança e ela riu. – Eu sempre soube que você conseguiria. Sua mãe deve estar indo a loucura com você indo pra Los Angeles sozinha. – sorri ao me lembrar dos costumes superprotetores da senhora .
- Nem me fale, eu mal fui pra lá e ela já está me enlouquecendo. E você?
- Matriculado na CIT, e ansioso pelo início das aulas. Eu sempre odiei o ensino médio, você sabe.
- “Um inferno na Terra, até se fosse um musical seria melhor do que é”. – ela repetiu minhas exatas palavras e eu sorri.
- Exatamente. Você me conhece muito bem mesmo.
- Obrigada. Quantos anos te aturando?
- Acho que uns oito, talvez menos. Como você me aguenta há tanto tempo?
- Com muita paciência e muito chocolate. Meio amargo com castanhas pra você...
- Chocolate ao leite puro pra você. Eu sei de cor. Nunca vou esquecer. Você é importante demais. - eu olhei fundo em seus olhos e suspirei antes de começar. - , eu...
- Não precisa dizer. Eu sei.
- Sabe?
- Eu te conheço muito bem mesmo, lembra? – ela sorriu e colocou a mão sobre uma de minhas bochechas, e me puxou para um beijo, pelo qual eu realmente não estava esperando.
Seus lábios macios tocavam os meus com a mesma delicadeza presente em sua voz. Passei os últimos anos sonhando com aquele momento, e agora finalmente acontecia. estava em meus braços, sua boca colada na minha, nossos corações batiam descompassados, juntos.
Eu mal podia acreditar no que estava acontecendo.
- Como você soube? – eu perguntei, assim que nos separamos, e ela deitou em meu ombro.
- Eu sempre soube, no fundo do meu coração. Meu coração sempre me disse que você era diferente. Ele sempre bateu diferente com você por perto. – eu a olhei espantado. – Ah, como eu soube sobre você? Digamos que você não é o maior expert em esconder o que sente.
- O que você disse, sobre seu coração bater mais forte, é verdade mesmo?
- Sempre foi. Desde depois do Jonah. Muito antes do anuário e das maratonas quinzenais de Star Wars. – eu sorri ao vê-la mencionar nosso programa preferido no mundo inteirinho, e foi a minha vez de puxá-la para um beijo.
A música tinha voltado a ser agitada e todos dançavam animados ao nosso redor, mas como no maior dos maiores clichês, a pista de dança parecia só nossa naquele momento.
- Você sabe que, mesmo com tantos anos participando do baile da escola, e do comitê organizador, eu nunca tive uma dança? Uma dança lenta, como essa nossa. – e eu me dei conta de que nós ainda dançávamos pra lá e pra cá, lentamente. – Fico feliz que você tenha sido meu par na minha primeira dança.
- Espero que você me conceda mais primeiras danças em sua vida.
- Quantas você quiser. Quantas eu tiver.
E, novamente, a pista era só nossa.

Only if you give, give the first dance to me
Girl I promise I'll be gentle, I know we gotta do it slowly
If you give, give your first dance to me
I'm gonna cherish every moment,
It only happens once, once in a life time





Fim.



Nota da autora: Tô muito feliz de ter pegado essa música, AMEI TANTO ESCREVER ESSA FIC! Ela ficou curtinha, mas eu escrevi ela em um tempo recorde, e tô realmente muito feliz com o que fiz aqui! Espero que vocês também tenham gostado, e espero encontrar vocês nos próximos ficstapes por aí! Beijos de brigadeiro!



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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