Capítulo Único

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Some say, I'll be better without you,
They don't know you like I do, Or at least as far as I thought I knew

encarava seu armário há horas, era pequeno, sabia de cor cada peça de roupa que tinha ali, um enorme contraste com o closet que tinha na casa de seus pais quando ainda era adolescente, mas não era sua quantidade de roupas que incomodava e machucava, era a falta delas na outra metade do armário, a metade que era de seu marido.
a tinha deixado sozinha e grávida de seu primeiro filho.
Desde sempre sua família tinha sido contra seu relacionamento com o marido por diversos motivos, mas principalmente por ele ser negro e vir de uma família simples, mas a gota d'água foi quando ele decidiu se alistar para o exército. O que seus pais e amigos nunca seriam capazes de um dia entender, era que nada disso importava para ela, pois nunca amara ninguém como amou B. . Ao lado dele, todas as coisas supérfluas do mundo pareciam somente aquilo...supérfluas.
podia se lembrar com exatidão a primeira vez que o viu de verdade, era seu aniversário de 18 anos e seus pais a deixaram livre para fazer o que quisesse, algo completamente inédito. Combinou com Nikki, uma de suas melhores amigas, que passariam o dia fazendo tudo que ela nunca pôde e isso incluía ir para o lado da cidade onde sua amiga morava.
As duas se conheceram quando Nikki ganhou uma bolsa para estudar em sua escola, que ficava na cidade vizinha, já que em Rock Springs tinha apenas uma escola pública que apesar de boa, não possuía o mesmo ensino oferecido pela outra, que era particular. Nikki tinha que pegar dois ônibus todas as manhãs para conseguir chegar a tempo as aulas, pois não tinha transporte direto ligando as duas cidades e quando ficou sabendo disso, passou a oferecer carona para a menina todas as manhãs e fins de tarde. Foi questão de dias para que se tornassem inseparáveis.
Naquele aniversário, entrou na casa de Nikki pela primeira vez, conheceu seus pais e onde ela morava. Passeou pelo bairro e pôde finalmente dar vida às muitas histórias que a amiga vinha lhe contando pelo último ano. O último ponto daquela parte da cidade que foram, eram as quadras de basquete comunitárias. Tinham apenas quatro garotos praticando, dentre eles .
Ele estava se divertindo com os amigos, todo compenetrado no jogo, mas bastou um erro do lado adversário para que sorrisse largo e pulasse nas costas do amigo numa brincadeira que somente homens entendiam, mas ela sorriu mesmo assim. imediatamente quis saber mais sobre ele, achou lindo o tom de sua pele negra, o cabelo curtinho raspado e o domínio que ele tinha da bola, era possível sentir a paixão que ele tinha pelo esporte. Tudo isso em um corpo bem distribuído em 1,83cm de altura.
- Ei Nathan. – Nikki chamou a atenção do irmão que embora surpreso, abriu um sorriso - Quero te apresentar a .
- Isso não é uma miragem? – o outro brincou jogando a bola para um de seus colegas e deu uma leve corrida em direção a irmã – Finalmente vou acreditar que minha irmã não é uma doida e que essa sua amizade com ela não é imaginária. – disse se esquivando do tapa que Nikki tentou lhe dar.
- Não é não, eu existo e compartilho dessa amizade. – disse feliz por conhecer o irmão da amiga, que era tão simpático quanto a irmã.
- Nada mais justo se eu te apresentar o meu melhor amigo. Ei , vem conhecer a famosa . – a menina sentiu-se nervosa ao ver o garoto também parar de jogar e vir em sua direção.
Logo de início teve certeza que ele não ia com a cara dela pelo simples fato de todos saberem quem ela era, a filha do dono das Indústrias , a fábrica que mais empregava pessoas naquela cidade. Parte de sua família tinha certa fama e mesmo não compartilhando de suas opiniões ela sempre acabava sofrendo as consequências, já que por conta de sua idade, adorava passear pelo centro da cidade com Nikki e suas outras amigas.
O olhar dele, quando a viu ali foi frio, duro, julgador, provavelmente se questionando o que ela estava fazendo daquele lado da cidade. Não foi de repente que viraram um casal, demorou e muito. Foi só quando desistiu de tentar alguma coisa, que pareceu ser notada e então ela aprendeu que aqueles olhos não eram nada julgadores, eram doces, cheios de compaixão e com uma determinação que ela nunca tinha visto na vida antes. Porque se ele achou que poderia simplesmente chegar depois de quase oito meses a tratando com indiferença que ela iria pular em seus braços, estava muito enganado, ele teve que suar muito para que ela finalmente lhe desse uma chance, e ele tinha feito tudo e mais um pouco para se redimir com ela.

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crescera na pequena cidade de Rock Springs, onde todos se conheciam. Não era pobre, nunca passou necessidade, mas não tinha muitos luxos, seus pais trabalhavam nas Indústrias há mais de 20 anos e eram felizes, tinham sempre comida na mesa e ele trabalhava propositalmente na loja de esportes da cidade desde os seus 16 anos para usar de seu desconto de funcionário para comprar o que precisasse para seus treinos de basquete.
Ele sempre via a menina pela cidade, ela tinha um motorista e estava sempre acompanhada de sua família ou de suas amigas inseparáveis, Lauren e Alana, filhas dos donos de algumas lojas da cidade. Nunca tinha pensado muita coisa dela, sabia que ela era muito rica e provavelmente mimada, ela fazia parte de um mundo ao qual ele nunca conheceria e para ele estava tudo bem assim, era feliz em seu mundo com seus amigos, pais e o irmão mais velho, que tinha mudado de cidade para fazer faculdade.
e Nathan tinham se conhecido alguns anos antes durante as aulas de educação física e logo perceberam serem os melhores da turma no basquete e acabaram por se tornar melhores amigos. Assim como seus pais, o pai do amigo também trabalhava na fábrica dos pais de e foi uma surpresa pra todos quando a irmã de seu amigo contou que a princesinha da cidade tinha lhe oferecido carona.
Todos ficaram receosos e preocupados que algo poderia voltar de forma negativa para a menina e seus pais, mas os meses foram passando e apesar de nunca terem visto pessoalmente, ouviam histórias sobre ela que não pareciam ser nada verdadeiras, pois a que eles conheciam em nada parecia com o que Nikki descrevia.
conhecia alguns dos parentes da menina, já que sempre iam na loja onde trabalhava e o chamavam de "ajudante" ou "moreninho", mesmo seu nome estando no crachá para qualquer um ver. Não que os fossem abertamente racistas, mas os cargos mais cobiçados da empresa nunca iam para pessoas de cor ou diferentes etnias e a família inteira, inclusive os agregados, eram todos brancos.
Ver em sua parte da cidade fora algo que ele nunca imaginou presenciar, ela o encarava curiosa e ele acreditou ser por causa de sua cor, meses mais tarde ele teria certeza que aquele era o motivo, mas não da forma que ele imaginava, amava sua cor e amaria ainda mais ele por inteiro, como ele nunca imaginou que fosse possível.
Naquele dia ele jantaria com os pais do amigo, já que nunca perdia um guisado da Família Lennox e estaria mentindo se dissesse que não se surpreendeu ao vê-la comendo daquele prato, que muitos na cidade viravam a cara por ser de origem simples, feito com as partes menos nobres da carne, mas logo sua impressão se desfez já que ela mal se serviu de uma pequena porção, fingindo não estar com muita fome. O que ele viria a descobrir meses depois era que na verdade, ficou com vergonha de comer o que ela normalmente comia na frente dele, ele poderia ser muito mais alto e forte do que ela, mas a garota facilmente o acompanhava em suas refeições.

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- Por que vocês pediram três pizzas? – questionou os amigos. Estavam os quatro em sua casa para assistir um filme, era a primeira vez de lá. – Sempre dividimos duas.
- Vocês tem ideia do quanto a come? – Nikki interferiu levando uma cotovelada da amiga. - Ai! Só estou falando a verdade, você é magra de ruim.
- Não é bem assim. – a outra tentou se defender, fazendo o garoto prestar atenção. – Estou em fase de crescimento.
- Certo, eu… - disse pegando a carteira para separar mais dinheiro.
- Está tudo bem, eu pago por uma. – a menina disse com o dinheiro já na mão.
- É a minha vez. – disse firme e um pouco irritado - Eu posso pagar, trabalho pra isso.
- Eu não estou dizendo que não pode, eu estou aqui de intrusa e pretendo comer a pizza.
- Inteira?! - ele a encarou com os olhos arregalados e a menina suspirou aliviada quando a campainha tocou.

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Ao longo dos meses ele percebeu que gostava dele, ela vivia assistindo a seus treinos e passou a frequentar a casa dos amigos e os bares do seu lado da cidade, sempre encontrando uma desculpa para chamar sua atenção ou conversar com ele. Até pedir para ensiná-la a jogar basquete pediu, mas para ele, ela era apenas a amiga da irmã mais nova de seu amigo procurando alguma diversão com algo que fosse chatear seus pais.
Ouvia todas as histórias que ela contava sobre a escola, as amigas, seus pais e o quanto eles eram rígidos com sua educação e a aparência que tinham perante a cidade. Se divertia com ela, dava corda para a menina para ver até onde ela ia, mas o que não tinha percebido era a falta que sentiria dela, no momento que ela desistisse dele.
Ele sempre se lembraria do dia que tudo mudou, tinha ido assistir um de seus treinos, já que o combinado era ele a ajudar praticar logo depois, mas naquele dia, Tânia, uma garota que ele às vezes ficava, apareceu de repente e o beijou. Ele tinha várias garotas que sempre saía sem compromisso e nunca ligava quando elas apareciam de surpresa, mas assim que o beijo terminou, sem entender bem o porquê, ele procurou por e ela não estava mais ali. Enviou uma mensagem perguntando do treino que teriam e ela pediu desculpas dizendo que teve que voltar pra casa mais cedo. Até para mentir ela era doce.
A partir daquele dia, deixou de ir a todo momento para seu lado da cidade e ele passou a se pegar procurando por ela em todo local que ia. Tinha vergonha de perguntar a Nikki onde a amiga estava, já que até então sempre dizia estar fazendo sua parte para ir ao céu. Certo dia, apareceu em sua loja para comprar um par de tênis para seu irmão, que até então ele nem sequer sabia que existia, o menino parecia ter por volta de 7 anos e ele tentou interagir com o garoto, mas ele nada disse.
- Ele é autista. - a garota explicou o pegando desprevenido - Ele não fala muito e menos ainda com estranhos.
- Por que você nunca me contou? - perguntou estranhando, já que ela vivia contando mil histórias para ele.
- Porque você nunca quis saber de verdade , eu posso ser mais nova, mas não sou idiota. Eu sei que você sabe que sou apaixonada por você, eu insistia porque achava que um dia você poderia se interessar por mim se me conhecesse de verdade, não o que dizem por aí. Não precisava me dar atenção por dó, poderia simplesmente ter dito que nunca gostaria de mim dessa forma, que prefere garotas negras e eu entenderia, mas eu sempre achava uma forma de perguntar se você tinha alguém e você sempre negou.
- Não é bem assim, . Você não quer treinar amanhã e a gente conversa?
- Não precisa, os meus pais contrataram o Nathan para me ajudar, tenho treinado com ele na quadra que tenho na minha casa faz três semanas.
- Ajudar com o quê?
- Minha escola tem um torneio estúpido de esportes com outras escolas da região, eu sempre menti para não ter que fazer as aulas, até que descobriram e fui obrigada a escolher um esporte...Escolhi basquete por sua causa. - deu de ombros se abaixando para colocar os tênis nos pés do irmão que pareceu adorar a cor chamativa - Nós vamos ficar com esse.
Naquele dia percebeu que a garota que ele achava que conhecia, era na verdade somente uma pequena parte da mulher maravilhosa que era , linda por fora, mas ainda mais por dentro. Ele nunca tivera um gosto particular por mulheres, era verdade, antes dela nunca tinha ficado com uma mulher que não fosse negra, mas era simplesmente a forma que as coisas tinham acontecido e ele agradecia por ela ser tão determinada e corajosa, pois se ela não tivesse insistido tantos meses nele, teria deixado o amor de sua vida passar.
- Ei . - a menina ajudava seu irmão a entrar no carro, quando ouviu a voz de . - Esses seus torneios...Quando é o próximo jogo?
- Sábado, por quê?
- Te vejo lá.
Foram quatro meses que ela o fez correr atrás dela e cada dia tinha valido e muito a pena, pois foi exatamente um ano depois de se conhecerem, no aniversário de 19 anos da garota que os dois se beijaram pela primeira vez e desde então nunca mais se largaram.

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I can't bear this time, It drags, as I lose my mind
Reminded by things I find, I know some clothes you left behind.


Mais uma lágrima caiu dos olhos da mulher, ela sequer sabia que era possível chorar por horas e ainda ter espaço para mais. Seis anos, ela e estiveram juntos por seis longos e difíceis, mas muito felizes seis anos e agora ele tinha partido, sem nem deixar uma nota de adeus.
O corpo de tremia, sentindo uma dor em seu peito que nunca tinha sentido antes. Nunca o haviam arrancado daquela forma. Desde quando seus pais e amigos descobriram seu relacionamento com um homem negro que trabalhava em uma simples loja da cidade, ouviu-os dizer que aquilo era um capricho seu, que estava finalmente tendo sua adolescência rebelde e assim que a novidade passasse, ela voltaria correndo para casa.
Esse dia nunca chegou.
Para eles, estaria bem melhor sem , mas por todos os anos que estiveram juntos ela sabia que o conhecia como ninguém, mas ali naquele momento, assustada, sozinha e grávida, ela não sabia mais se conhecia seu marido tanto quanto pensou. Juntos, tinham passado por momentos muito difíceis, mas isso, ela não tinha tanta certeza se conseguiria superar.
- Ei . - a mulher ouviu a voz da melhor amiga e se assustou, ela estava logo ao seu lado e ela nem tinha reparado. - Eu estou aqui, tá? Estou aqui hoje, amanhã e sempre. - Nikki a abraçou, deixando que a amiga chorasse o tanto que quisesse. Nem ela conseguia acreditar no que estava acontecendo.
- Você falou com o Nathan? - perguntou esperançosa - Ele não sabe de nada?
- Ele está vindo pra cá. Você não quer descer e comer alguma coisa? Ficar aqui encarado esse armário não vai mudar as coisas.
- Eu estou sem fome, Nikki...eu não sei se vou conseguir superar isso, ele...Me deixou. Fez a única coisa que disse que nunca faria, ele prometeu que nunca me deixaria sozinha. Em nossas despedidas, quando ele era convocado para mais uma missão, eu sempre achava que seria a última vez que o veria e fazia questão de me despedir direito. O sempre brigava comigo e dizia que só morreria depois que eu lhe desse cinco filhos. - deixou escapar uma risada entre seus soluços.
- Eu tenho certeza que isso ainda vai acontecer, nós vamos descobrir o que aconteceu, sim? Eu nunca vi um amor como o de vocês, por que acha que eu nunca me casei? Estou esperando o meu aparecer.
- E eu estou esperando o meu. - disse sentindo o choro voltar - Eu não sei o que pensar Nikki, eu sei que ele estava lutando contra a própria mente e sofrendo com isso, mas eu achei que passaríamos por isso juntos, como todas as outras vezes.
fechou os olhos se lembrando do dia em que o marido decidiu se alistar no exército, ele tinha tomado aquela decisão por eles, pelo futuro que queria ter e dar a mulher que ele sabia, seria pra sempre sua. Estavam juntos há seis meses e ainda não tinha conhecido os pais da namorada, ela por outro lado já conhecia seus pais, seus amigos e frequentava todos os lugares com ele.
Inseguro, pensando que talvez suas dúvidas iniciais fossem certeiras e que ela só estava com ele por um capricho de menina rica e que na verdade tinha vergonha dele, a confrontou. E, mesmo sabendo o que resultaria daquele encontro, ela os apresentou, e tudo que ela vinha lhe contando há meses finalmente pareceu fazer sentido. Mark e Cindy eram racistas. O trataram bem, apesar da cara de espanto assim que a porta foi aberta, mas no segundo em que ele foi ao banheiro, uma guerra se iniciou na casa de sua namorada e naquela noite fez as malas e se mudou para a casa de Nathan e Nikki.
- Você me desculpa? - consolava a namorada no caminho, que encarava a rua à sua frente quieta.
- Por que eu precisaria te desculpar? - lhe perguntou sincera, os olhos marejados, acabando com ele.
- Eu deixei que minha insegurança estragasse a sua relação com seus pais, eu não deveria ter insistido...eu só queria conhecer sua família, seu quarto, fazer parte da sua vida, como você já faz da minha. - disse dando um beijo na mão da menina, entrelaçada a sua.
- Eu disse que eles não valiam a pena, você acredita em mim agora?
- O que eles te disseram? - não resistiu a pergunta.
- Eu não tenho coragem de repetir isso em voz alta, não falaria isso nem se estivesse sozinha, quanto mais na sua frente.
Os pais da garota tentaram conversar com ele, disseram que não tinham problemas com "pessoas de cor", mas acreditavam que era apenas uma fase de sua filha, que tinha um futuro brilhante pela frente e queriam que ela focasse apenas naquilo e quem sabe um dia, pudesse encontrar alguém que fosse mais a sua altura. Mas eles não conheciam como , ela não queria assumir a fábrica, ficar sentada em um escritório o dia todo ouvindo máquinas funcionarem. A garota por quem ele estava se apaixonando tinha o sonho de ser professora de educação infantil.
Naquela mesma semana, os pais de lhe deram um ultimato o namorado ou a família e a resposta saiu de sua boca, antes mesmo de seu pai terminar a frase.
- O , Sr. , hoje, amanhã e todos os outros dias, eu escolho o .
Sem dinheiro, ambos começaram a procurar formas de ficarem juntos sem que ela dependesse de seus pais. Queriam construir um futuro juntos e foi por isso que aplicou para diversas faculdades e dentre todas as opções que encontrou, se alistou no exército.

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- Ele não viu essas roupas aqui. - comentou com a voz baixa, por conta da garganta que doía de tanto chorar, ao encontrar algumas peças de roupa do marido que estavam na máquina de lavar - Se eu fechar os olhos, consigo ver e até sentir o cheiro dele nelas.
- Eu vou encontrar ele , eu prometo. - Nathan estava furioso com o amigo, também sabia o que ele vinha passando, talvez soubesse ainda mais que a mulher a sua frente, mas sempre estiveram lá um pelo outro por todas suas vidas e não conseguia entender como o amigo, que estava finalmente realizando o maior sonho de sua vida, poderia abandonar sua esposa, seu filho e seus amigos.
- Os pais dele estão vindo pra cá também, você quer que…
- Jamais, nunca vou dar o gosto aos meus pais de acharem que estavam certos.

Wake me up, wake me up when all is done
I won't rise until this battle's won, My dignity's become undone
But I won't go, I can't do it on my own
If this ain't love, then what is? I'm willing to take the risk


A primeira missão de como soldado aconteceu pouco depois que eles se mudaram de cidade para que pudesse cursar sua faculdade. Apesar do medo, entendia que estava fazendo aquilo por eles e respeitou sua decisão, o apoiou assim como ele a apoiava em tudo. Decidiram que aquele era o melhor caminho como casal, enquanto ela focava em seus estudos, ele trabalharia para juntar dinheiro e ser promovido, e juntos conquistarem os muitos sonhos e objetivos que tinham traçado.
Não foi fácil, pensava no ainda namorado dia e noite e quando conseguiam se falar por Skype ela passava o resto do dia em prantos, cheia de saudade e medo.
tinha em seu coração e pensamento a todo momento, sua primeira missão era simples se comparado com o que ainda estaria por vir, mas nem por isso era fácil. Estava orgulhoso de si mesmo, tinha passado o primeiro treinamento individual e depois o em grupo com méritos e entrado para um batalhão onde todos seus companheiros pareciam ser do bem. Lá fez seu primeiro amigo no exército, o também soldado, Matthew Andrews.
- Esposa? - Matt se aproximou dele, que encarava a foto que tinha da namorada.
- Namorada...por enquanto. Vou pedi-la em casamento no dia em que ela se formar na faculdade.
- É ela então? - perguntou curioso.
- Desde o primeiro beijo eu já sabia. - confessou tímido, colocado a foto dentro de seu uniforme.
Quatro meses se passaram onde ele aprendeu muitas coisas, sobre armas, granadas, tiros, bombas, mas principalmente sobre o amor e a saudade. Quando chegou de volta ao país, foi impossível não sorrir e ir correndo em direção a garota de vestido azul que o esperava com o sorriso maior que o próprio rosto. Ele a amaria por toda sua vida.

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- Ei amiga. - acordou mais cansada do que quando tinha ido dormir. - Eu guardei tudo que tinha dele pela casa numa caixa e coloquei embaixo da escada, tem certeza que é o que você quer?
- Tenho, faz quase um mês que ele simplesmente desapareceu Nikki, se ele não teve a menor consideração comigo e nosso filho, eu quero mais que ele se exploda.
Nikki imediatamente reconheceu os cinco estágios da perda na amiga, afinal, como psicóloga do hospital da região, atendia vários casos parecidos. Sentiu-se aliviada, pois a primeira fase, a da negação, tinha sido longa e dolorida. Por mais que ninguém tivesse pistas de onde ele poderia ter ido, esperava que ele voltasse, dizendo que tudo não passava de uma brincadeira de mal gosto. A escola tinha cedido em caráter de emergência férias a professora e tudo que fazia era dormir e comer o que Nikki, Nathan e os pais de a obrigavam engolir. O bebê mantinha-se firme, mas um pouco menor do que os médicos gostariam e tiveram que interná-la por três dias para que o pequeno ganhasse mais peso.
Vê-la chegar no segundo estágio, o da raiva, trouxe um sorriso na amiga, ela finalmente sabia que em breve, ficaria bem.
- Eu não vou ver o Archie essa semana - a mulher disse ao telefone para a empregada da casa de seus pais - Estou um pouco indisposta, assim que me sentir melhor eu prometo que compensarei, diga que o amo sim?
- Você acha justo fazer isso com ele? - sua amiga a olhava acusadora - Você não o vê há três semanas, sabe como ele sente sua falta.
- Eu também sinto, mas está impossível esconder essa barriga e eu não quero que me perguntem do , não quero que tenham pena de mim, que me olhem e digam que fui abandonada.
- Você ainda tem esperança que ele volte, não?
- Claro que tenho, eu primeiro o mataria e depois o beijaria por inteiro.
- Ahhh! Não me conte essas coisas. - as duas riram - Fico feliz que você admita ainda o que sente por ele, eu tive medo de você pegar suas coisas e ir embora porque tudo nessa casa e cidade te lembram o .
- Eu não conseguiria, não sozinha com meu bebê. Eu ainda o amo muito, mesmo ele tendo nos deixado. Gosto de acreditar que ele pensou estar tomando a melhor decisão, sem se tocar que eu preferiria estar ao seu lado em seus piores dias do que nunca mais o ver.
- O amor é isso né? Na saúde e na doença.
- Sim, estou disposta a assumir o risco.

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So petrified, I'm so scared to step into this right,
What if I lose my heart and fail the climb?
I won't forgive me if I gave up trying


Em sua segunda missão, foi para uma zona um pouco mais perigosa, ele viu coisas que gostaria de nunca ter visto, sons que por mais que ele tentasse, pareciam a cada dia que passava, grudar ainda mais em sua cabeça. Ele ainda via , mas ele também via e ouvia gritos e tiros.
sentiu que as coisas estavam diferentes na segunda conversa via Skype, parecia mais alerta, assustado, duro. Ela via com orgulho o seu namorado se transformar em um soldado de guerra, um homem. Tinha lido a respeito, conversado com outras mulheres que namoravam militares e ela estava preparada para ver mudanças nele e ser o porto seguro em que ele se prenderia, todas as vezes em que voltasse pra casa.
Desde quando se beijaram a primeira vez, os dois sentiam que aquilo não era passageiro. A boca de era a coisa favorita no mundo todo de , ela amava seu sorriso, sua voz rouca e amava principalmente os beijos que ele lhe dava. Desde os mais castos aos mais proibidos...Principalmente os mais proibidos. Seu passatempo favorito era morder os lábios do namorado enquanto ele dormia. O sorriso safado que surgia em seu rosto assim que ele percebia o que estava acontecendo, desmontava ela por inteiro.
- Essa é uma das minhas memórias favoritas quando estou longe de você. - o homem disse ainda de olhos fechados, puxando a namorada para mais perto.
- O que eu posso fazer se sou apaixonada por essa sua boca e em você por inteiro. - sussurrou em seu ouvido. - Ainda mais que você está mais gostoso do que já era. - disse se deitando em cima do corpo malhado dele.
- Benefícios de namorar um cara como eu, que além de gostoso, sabe te satisfazer como ninguém.
- Como se eu fosse negar. - sorriu com a boca já grudada na dele.
Passariam os próximos meses grudados um no outro, sempre sabiam aproveitar ao máximo quando ele voltava de suas missões.

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- A gente sempre vinha aqui. - encarava o cardápio do restaurante favorito deles, sentindo um nó no estômago.
- E eu não sei? Desde antes de você conhecer o a gente já vinha aqui pra tomar o seu Milkshake de Oreo. - Nikki segurou na mão da amiga.
- Eu daria tudo pra ter ele aqui ao meu lado, rindo da minha cara por não saber como eu conseguia tomar dois milkshakes e ainda pedir sobremesa.
- Acho que todos nós nos perguntamos isso até hoje. - a amiga lançou um sorriso para , um pouco feliz, mas preocupada ao mesmo tempo por ver que o estágio da raiva tinha passado e que agora começaria o da barganha.
- Deus, ficar dois meses longe dele já era difícil antes, nunca sabia se ia acordar com alguma má notícia na minha porta, mas isso...isso já é tortura. O não saber é pior do que qualquer coisa.
- , nós vamos saber, sim? Mantenha-se positiva, o Nathan vai nos ligar assim que chegar lá.
- Eu às vezes tenho medo do que ele pode encontrar, já pensou estou aqui sofrendo e ele tem outra família? De qualquer forma, não me perdoaria se não continuasse tentando. Melhor ser corna do que viúva.
- , você está falando isso da boca pra fora. - Nikki disse num misto de divertimento e bronca.

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Faziam dois meses que tinha sumido do mapa. De início teve ânimo, ideias para descobrir onde ele poderia estar, ligou para todos os amigos do marido que conhecia e ninguém nunca sabia nada. Marcus, seu irmão, deixou o trabalho, esposa e filhos de lado para ajudar nas buscas e pistas, mas todas elas davam numa rua sem saída. Seu batalhão parecia não saber nada e isso causava um desespero ainda maior nas pessoas que ele havia deixado para trás.
Não foi até sua terceira missão que os sinais começaram a aparecer, voltou daquela viagem diferente. Tinha sido a mais longa desde que ele se alistou, nove meses, mas foi preciso mais um mês para que sentisse que ele realmente estava li de novo, em casa e seguro. Foi nessa época que os pesadelos começaram a aparecer, não eram frequentes, mas ele sempre acordava suado e nervoso, chamando por seus companheiros.
Apesar de tudo, sorria quando pensava naquela época, já que foi junto a sua formatura que foi pedida em casamento por seu grande amor. Tinha acabado de descer do palco onde pegou seu diploma e deu de cara com em seu uniforme militar, de joelhos.
Seus olhos marejados entregavam todo amor que sentia pela mulher a sua frente, a primeira lágrima caiu do rosto de quando ele se deu conta que ela não era mais uma menina. Memórias invadiram sua mente do dia em que se conheceram e em como a havia julgado errado, naquele dia ele havia dito a Nathan que esperava nunca mais vê-la e agora ele queria vê-la todos dias, para o resto de sua vida.
- Sabe quando eu descobri que estava apaixonado por você? A gente não estava junto ainda, você me fazia correr atrás de você feito um otário. Não que eu não merecesse pela forma que te tratei antes, mas foi no aniversário da Nikki. - disse encarando a irmã de seu amigo, que tirava fotos do momento - Você estava como sempre andando na frente de todo mundo e eu te chamei, você virou só o rosto por sob seus ombros e sorriu. Não só com a boca, mas com os olhos. Naquele momento eu me senti como me sinto até hoje, como se ser quem eu era fosse suficiente, não importava minha cor ou conta bancária.
- Que nunca foi muito alta de qualquer forma. – o interrompeu rindo sob sua emoção.
- Que por uma maluquice do destino aquela menina maravilhosa me achava suficiente da forma que eu era, com todos os meus defeitos. A gente dançou a noite toda, bebemos também e eu passei a madrugada toda com você no banheiro vomitando. - os quatro amigos e a família de riram nesse momento - Você pediu que eu ficasse até você dormir e eu percebi que queria ficar até você acordar. Ali eu já te amava e precisava de você, mas não queria admitir por medo de nunca te ter de verdade. Nós passamos por muitos obstáculos e você me deu uma das maiores provas de amor que um homem poderia sonhar, trocou sua vida de princesa, sua família, por uma vida difícil com um cara negro e pobre, que nunca vai poder te dar o mesmo.
-
- Seus pais te criaram pra você ter mil preconceitos, casar com um bancário rico e branco e ter sua vidinha perfeita de subúrbio. Mas, por alguma ironia do destino, foi por mim que você se apaixonou, e eu agradeço a Deus todos os dias por isso, porque eu não sei o que seria da minha vida sem você . Eu quero ficar com você até estarmos velhinhos, cheios de cabelos brancos e por toda a eternidade. Você aceita se casar comigo?
- Eu aceito. - disse num murmúrio, sem conseguir falar mais nada entre o choro que debulhava desde o momento que começou a falar.
O anel era simples, nada como o de sua mãe, que sempre dizia que ela não deveria se contentar com nada menor que aquilo, mas ao ver o anel em sua mão esquerda, ela teve a certeza que não o trocaria por diamante algum.
se levantou e pulou em seu colo gargalhando em felicidade, de longe ela pôde ver seus pais observando a cena e tudo que ela sentiu foi pena. Eles nunca saberiam o que era ser realmente feliz, mesmo sem ter nenhum dinheiro no banco.

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I heard his voice today, I didn't know a single word he said
Now I'm resemblance to the man I met, Just a vague and broken boy instead
But I won't go, I can't do it on my own, If this ain't love, then what is?
I'm willing to take the risk


A quarta e penúltima fase dos cinco estágios da perda chegou na mesma época que completou três meses do desaparecimento de , a depressão surgiu muito mais forte e destruidora do que qualquer um poderia imaginar. Até mesmo Nikki, que vinha sendo a fortaleza que a amiga precisava, não conseguiu amenizar sua dor.
entrou nela no segundo que percebeu que precisava montar o quarto do bebê, em três meses ele chegaria e nada estava feito. Seu filho, que ainda não tinha nome, estava crescendo dia após dia sem nem imaginar o que o esperava quando decidisse vir ao mundo. Nathan e Marcus tinham se oferecido para montar o berço que ela e encomendaram antes dele os abandonar e ao perceber que a cada dia que passava as chances dele reaparecer eram menores, fez com que a mulher desabasse. Ela ia de casa para a escola e da escola para casa. Seus alunos e seu filho eram as únicas coisas capazes de fazê-la abrir os olhos todas as manhãs.
A saudade que sentia era insuportável, a dor chegava a ser física, ainda mais que todos pensavam que estava em mais uma missão. Já bastava sua história ser conhecida por todos na cidade, ela não precisava de pena para adicionar aos diversos sentimentos que causava nas pessoas.
Semanas antes, Nathan tinha chegado com más notícias, as poucas pistas que tinham dele acabavam em Terry Andrews, viúva de Matt, um dos muitos companheiros que perdeu em batalha.
- Ele esteve aqui sim, mas isso fazem quase três meses, ele não estava bem. Perguntou se eu sabia o endereço dos pais do Tim, mas eu não tinha. - a mulher disse para Nathan.
- Ele disse alguma coisa? Mencionou algum lugar?
- Não, quando eu disse que não tinha o endereço ele se levantou para ir embora, eu perguntei da e ele só respondeu que ela estava bem melhor. Então perguntei se ele estava bem e ele disse que não, mas que iria ficar.
Aquilo foi o suficiente para que a mulher começasse a se culpar. Se ela tivesse tentado mais, ou se tivesse sido mais compreensiva. Se talvez ela não tivesse jogado os remédios fora, talvez ainda estivesse ali.
Se talvez ela tivesse o amado mais, ele teria ficado.

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sabia o que era aquilo, ele reconhecia uma emboscada no segundo que seus olhos a viam. Era treinado pra isso e sua recente promoção indicava que era ele quem deveria checar o perímetro. O barulho das pessoas gritando em outra língua, o pequeno ponto em seu ouvido, sua única forma de comunicação com a base. A poeira que os explosivos levantavam e os civis.
Muito pouco o fazia parar pra pensar, sabia que um segundo era tempo demais numa guerra e qualquer erro resultaria em sua morte, mas toda vez que ele via um civil, uma pessoa realmente inocente, presa numa guerra sem opção de escolha, ele lembrava de . Pensar que aquele civil era a de alguém, o fazia parar pra pensar.
Apesar disso, não havia sido um erro seu que resultou na morte de três soldados, mas ele ainda sim se sentia culpado. Se ele tivesse entrado naquela casa antes de seus companheiros, talvez ele tivesse visto a armadilha. Josh, Ben e Taylor, eles também eram a de alguém. Ben tinha um filhinho de três meses. Um dia seria ele.
- Nós temos que ir, . - Andrews, seu melhor amigo implorava, tentando colocar nos ombros o corpo de seu amigo caído.
- Precisamos continuar. - disse sem coragem de encarar o local onde a armadilha tinha explodido.
- Precisamos ter certeza que eles voltem para suas famílias, isso sim.
sabia que ele estava certo, mas nada o impediria de juntos voltarem ao mesmo local no dia seguinte e fazerem a justiça com as próprias mãos.

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- , o que aconteceu lá? Você tá bem? Ainda tendo os pesadelos?
- Eu tô bem. - disse curto e grosso, olhando para o teto da tenda que fazia as vezes de um quarto.
- E a ? - perguntou, já que sabia que aquele assunto sempre acalmava o amigo.
- Nós brigamos antes de eu vir. - confessou sentindo o peito doer, odiava ter brigado com sua noiva horas antes de voltar pro Iraque.
- Por quê? - Matt perguntou sincero, embora não conhecessem pessoalmente as companheiras um do outro, torciam pela relação.
- Opa, vamos finalmente descobrir porque o tá ranzinza? - Tim Murphy, um novato, que ainda estava em sua segunda missão e que tinha sido “adotado” pelos dois, se jogou na cama de .
- Ela desistiu de muita coisa na vida por minha causa, era pra ela estudar numa universidade boa, casar com um cara que tivesse dinheiro suficiente pra estar ao lado dela todas as manhãs. Não comigo.
- De novo isso? - Andrews sabia como o amigo, frente às dificuldades da vida, se questionava se não estava sendo egoísta ao amar a mulher e a querer para si, ao invés de deixá-la ter uma vida melhor, com mais confortos, porém sem ele.
- Eu já não dei o anel que ela merecia, quando acordei antes de vir ela estava procurando vestidos usados, perguntou o que eu achava de nos casarmos no civil e fazer um almoço para nossos amigos e família.
- E o que tem de errado nisso?
- Ela merece mais, merece o que toda mulher sonha, entrar na igreja, escolher o vestido com a melhor amiga, uma festa em que todo mundo só olhe para ela e eu fique me perguntando onde foi que eu acertei para ter uma mulher como ela como minha esposa.
- A sua mulher quer economizar e você tá bravo porque queria que ela quisesse gastar? - Tim perguntou debochado - Quando ela pode conhecer minha namorada?
- Quando nos conhecemos o sonho dela era se casar no jardim da casa dos pais, com toda sua família e amigos presentes, o Archie, o irmão dela, traria as alianças. O vestido ela disse que usaria o mesmo de sua avó. Ela tinha um sonho e me dói ver que ela desistiu dele por minha causa. O que mais ela não desistiu por mim?
- Eu mal conheço a , mas das vezes que me intrometo em suas conversas eu tenho certeza que ela não se arrepende de ter feito essa troca. No fundo você sabe disso e só está com medo porque agora as coisas ficaram reais, vocês vão se casar, ter filhos e todos nós aqui queremos dar um futuro digno a eles. Estranho seria se você não se preocupasse com essas coisas.

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As noites sem dormir, o buraco no coração, a falta de interesse em qualquer coisa tomavam conta de , ela nunca imaginou que quanto mais o tempo passasse, pior ela se sentiria. Ela queria e muito estar forte e feliz por seu filho, sequer podia imaginar o que poderia estar fazendo ao seu bebê com tanta tristeza dentro de si, mas ela não conseguia evitar, a força que a puxava para baixo era ainda maior do que a que tentava a colocar pra cima.
Quando retornou de sua quarta missão ela estava preocupada, eles já tinham se acertado em algumas das conversas que conseguiram ter enquanto ele estava servindo o país e juntos chegaram a um acordo de como seria o casamento. Agora formada, tinha conseguido um emprego na antiga escola que estudou toda sua vida e estavam indo de volta para casa.
e eram muito apegados aos seus amigos e familiares e queriam ficar próximos a eles, mesmo que tivesse que vez ou outra ver seus pais, voltar significava ver Archie, seu irmão que tanto amava e sentia falta.
Desde seus 19 anos, quando deu as costas a casa que havia crescido e toda sua família, Archie foi sua constante. Havia chegado a um acordo com os pais que o veria sempre que quisesse e devido à distância, durante a época da faculdade ela o veria uma vez ao mês, mantendo o contato por telefone, mas com a mudança, pretendia fazer visitas semanais para a alegria de seu irmão.
Naquele verão ela se casou na igreja da sua cidade, o vestido era o da sua avó. Na noite anterior ao matrimônio uma caixa foi deixada na porta de sua casa e ela não conseguiu evitar as lágrimas ao abri-la pela manhã. Nikki, com a ajuda de sua mãe, passou as primeiras horas do dia o ajustando para que ficasse do tamanho de e entendeu no segundo em que as portas da igreja se abriram o porquê sua noiva tanto queria usar aquele vestido.
Se não era ela a mulher da sua vida, ele não sabia quem era. Ela estava simplesmente deslumbrante, ele não lembrava de algum dia tê-la visto mais bonita. O vestido era simples, mas cheio de rendas e bordados, uma tradução de sua personalidade.
sempre se vestiu com as melhores marcas, joias e todas as férias ia para algum lugar diferente, mas por dentro ela era e se mantinha simples. Por muito tempo o homem acreditou que uma dia ela se cansaria das dificuldades e voltaria para a casa dos pais, mas não teve sequer um minuto desde que ficaram juntos que ele a viu demonstrar nada mais do que felicidade, até nas piores crises ela se mostrava firme em seu propósito e cada passo que ela dava em sua direção ele tinha a certeza de que passaria o resto da sua vida se esforçando para fazê-la feliz, da mesma forma que ela o fazia.
- Realmente é de se perguntar o que uma mulher como ela quis com você. - Matt, seu companheiro de guerra e um de seus padrinhos disse baixinho, o fazendo rir.

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I heard his voice today, I didn't know a single word he said
Now I'm resemblance to the man I met, Just a vague and broken boy instead
But I won't go, I can't do it on my own, If this ain't love, then what is?
I'm willing to take the risk


- , mor v ta ai ela? - ouviu do outro lado da linha, por um lado estava aliviada em ouvir a voz do marido, por outro, preocupada, já que não entendia uma palavra do que ele dizia.
- , vem pra casa meu amor, podemos conversar. - implorou, tentando manter sua voz calma.
- Eu tza que am vcu. - foi o que ele disse e desligou.
Aflita, decidiu sair atrás dele, era tarde da noite, ela não poderia simplesmente largar seu marido sem nem saber como e onde ele estava.
A bebida tinha sido o primeiro conforto que procurou ao voltar pra casa de sua quinta missão, o acesso era fácil, ele e adoravam sair com os amigos quando ele estava de volta e passava batido por muitos a real quantidade que ele vinha bebendo. Os pesadelos pareciam estar cada vez mais fortes e a bebida o impedia de sonhar.
Estava feliz, ao menos era o que tentava lembrar nos momentos de crise. Tinha se casado com uma mulher que o amava quase na mesma proporção que ele a amava e estavam finalmente conquistando pequenas coisas, mas que para eles eram verdadeiros objetivos. Mas se ele tinha tudo isso, por que não conseguia tirar de si o senso de solidão, desprendimento, dor e raiva?
Ficava em casa enquanto dava aulas e foi fácil esconder as vezes em que sentiu seu coração começar a bater acelerado, o suor que aparecia repentinamente e o choro que ia e vinha do nada e terminava com ele sem conseguir sair da cama até ouvir a porta de casa se abrir, sinal de que estava bem e segura. Mas conforme os meses foram passando a mulher começou a desconfiar que talvez ele não estivesse assim tão bem, decidida, voltou pra casa mais cedo e o encontrou no chuveiro chorando desesperado.
Certa manhã, estava dormindo quando a mulher lhe deu um beijo e mordeu seu lábio, seu jeito favorito de acordar, mas naquele dia ele não sorriu, ele misturou sonho e realidade e quando seus olhos finalmente se abriram ele estava em cima de , de uma forma que nunca tinha estado antes, estivera a poucos segundos de machucá-la sem nem perceber.
Os olhos assustados e com medo o trouxeram de volta de uma forma que o assombraria por muito tempo. Naquela noite ele foi pro sofá. Apesar das inúmeras tentativas de de dizer a ele que estava tudo bem, que passariam por aquilo juntos, ele se recusou a dormir perto dela. Doía, a saudade que tinha de ter seu corpo junto ao dela todas as noites era enorme. O choro da mulher o castigava ainda mais, mas ele nunca colocaria a segurança da única pessoa que o fazia querer voltar pra casa, em risco.
Sem saber o que fazer e a quem recorrer, afundou ainda mais no álcool e então já não conseguia mais esconder dela ou de quase ninguém o fato de estar perdendo aquela luta.
o encontrou na quadra de basquete, sua silhueta apenas uma lembrança do homem que ela um dia conheceu, ali ele era apenas um menino com traumas, completamente quebrado. Mas apesar de tudo que vinha passando ela jamais o deixaria, o amor que tinha por ele era muito mais forte do que qualquer outra coisa, sabia que nunca seria capaz de simplesmente o deixar no momento em que ele mais precisava dela. Tinham passado por tanto, aquilo era só mais uma coisa a deixarem para trás.
Foi a primeira vez que falaram abertamente sobre o assunto. Dentre as muitas palavras trocadas naquele dia, o homem finalmente lhe contou algumas das coisas que via e outras que não saiam de sua cabeça. Não que ele quisesse, muito pelo contrário, explicar para sua esposa que crianças e mulheres se vestiam com bombas, e que eram elas ou ele, e em todas as vezes ele tinha escolhido viver não era nada fácil, mas o olhar de compaixão, amor, carinho e respeito que sempre o encarava de volta o fazia crer que tudo ficaria bem.
Sabia que por mais que fosse difícil, sem ela seria impossível e se para tê-la significava admitir seus erros, era isso que faria.
tentou não transparecer como se sentiu ao descobrir que o marido vinha mentindo, algo que nunca achou que fosse ser possível, mas lá estava ele contando tudo que vinha passando e fazendo enquanto ela não estava em casa.
Na manhã seguinte, ao chegar na sala, deu de cara com Nathan, Nikki e Marcus. não tinha chamado seus sogros, pois não queria preocupá-los sem antes entender a real extensão do que vinha acontecendo. Envergonhado, ele decidiu aceitar a ajuda de todos e principalmente os conselhos de Nikki para que pudesse lidar com suas crises e pesadelos de forma saudável.
Por precaução, a psicóloga receitou alguns remédios caso alguma crise maior acontecesse, mas acreditou que agora que todos sabiam sua verdade, tudo ficaria bem.
E realmente ficou, com o apoio de todos conseguiu diminuir as saídas e o tanto que bebia, chegou até a ter noites inteiras de sono, mas foi num dia de crise que a esposa o convenceu a tomar um dos remédios, apenas para ver se o ajudariam, que tudo começou pra valer.

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There will be times, we'll try and give it up
Bursting at the seams, no doubt
We almost fall apart and burn up easy
So watch them turn to dust
But nothing will never taint us


Aquele dia estava diferente, acordou com uma disposição que há semanas não tinha, seu bebê estava chutando, o que a fez sorrir. Cada dia que passava sua barriga ficava ainda maior, tinha passado dos sete meses e em breve poderia conhecer a única coisa que ainda conseguia tirar um sorriso de seu rosto.
Vivia imaginando se ele seria branco como ela ou negro como o marido. O casal vivia discutindo, ela queria que ele fosse a cópia fiel de , sonhava com os cortes e penteados que poderia fazer no filho, já o marido queria que ele tivesse alguns traços dela, o olhar, o sorriso, a boca. E agora em pouco tempo, ela saberia quem tinha sido o ganhador.
Ao longo dos meses em que estivera sozinha se permitiu ter diversas fantasias e vivenciar diferentes cenários. E se voltasse naquele dia? Ou no aniversário de 6 anos de seu filho? Talvez certo dia receberia um aviso que ele havia morrido em um acidente de carro.
Todos aqueles pensamentos faziam sua cabeça doer, era uma claustrofobia a qual não se era possível escapar e ela sabia que teria momentos em que se perguntaria isso, mas naquela manhã ela não queria pensar em nada, apenas curtir seu pequeno que parecia jogar basquete dentro de sua barriga, de tanto que ele se mexia.
Foi aquele pensamento que a fez ir até a quadra de basquete, que estava muito mais bonita e bem cuidada do que há alguns meses, uma doação das Indústrias , dizia uma placa que a fez revirar os olhos. Sentou-se na pequena arquibancada e sorriu ao ver algumas crianças, reconhecia-os de sua escola, brincando na quadra.
Vendo aquele local, que significava tanto para os dois, foi impossível não se deixar levar por mais lembranças, tudo ali era ele, a cada rua e esquina, eles tinham uma lembrança, uma memória. Até onde nunca tinham ido juntos, ele sempre vinha em sua mente.

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A sexta missão era a mais importante de todas, tinha sido promovido a Sargento e não era mais responsável apenas por sua vida, mas por dá de diversos soldados. Sua missão era muito além de combater o inimigo, era proteger seus companheiros de todo e qualquer perigo e na mais importante missão que tivera até então, ele falhou. Falhou de uma forma que nunca conseguiria reparar, Matt, o seu melhor amigo nas Forças Armadas, o cara que começou com ele, que o protegeu, aconselhou, ajudou, que tinha até sido um de seus padrinhos de casamento, estava voltando dentro de um caixão e não havia nada que ele pudesse fazer.
não tinha tido coragem de contar isso a por telefone, que ele era o culpado por mais uma morte, dessa vez de seu melhor amigo, mas assim que chegou em casa ela entendeu, ela já não sabia se um dia teria seu marido de volta.
No começo ele contava sobre suas missões, o que via, ouvia, mas daquela vez ele mal levantava do sofá. Passava as manhãs encarando o nada em silêncio e as noites tendo pesadelos que o faziam suar, gritar e chamar por Matthew.
Sem mais saber o que fazer para ajudá-lo, resolveu ligar para Matt, ele com certeza saberia o que tinha acontecido e poderia ajudar , mas a surpresa da mulher ao ouvir a voz de Terry dizer que o marido havia falecido em combate fez com que ela perdesse o chão.
Agora tudo fazia sentido, tinha perdido sua referência, seu amigo. A pessoa que sempre aparecia fazendo caretas por trás do marido quando eles tentavam conversar. amava Matt o mesmo tanto que amava seus amigos e sua família.
- Por que você não me disse, meu amor? - o abraçou chorando, sentindo a dor do marido, de Terry, a própria.
- Ele deveria estar vivo… Eu falhei com ele, com você, com a Terry. - o homem estava na cama, de costas para a mulher.
- Pare de falar bobagem! Ela me contou que não havia nada que você pudesse ter feito para salvá-lo.
- Poderia ter sido eu ao invés dele, ele estava ao meu lado… Ali, vivo em um segundo, morto em outro - apontou para um local, quase como se pudesse ver o amigo.
- E quem estaria chorando seria eu e não a Terry, não seria um pouco injusto? Quem estaria assim seria o Matt.
- Ele deveria ter sido promovido, não eu.
- Meu amor, você ainda está sofrendo a perda dele, não precisa adicionar toda essa culpa, que não é sua. E todas as medalhas que você trouxe após essa última missão? A Terry me contou que você foi condecorado por trazer seus soldados para um local seguro. Você salvou muitas vidas, sem você eles não teriam voltado para suas famílias.
- E perdi duas, deixei que outros três se ferissem, o Tim…
- O que tem ele? - perguntou, fazendo o marido se virar para ela.
- Ele está traumatizado, essa missão foi a mais brutal que já passamos. Ele estava comigo quando o tiro atingiu o Matt.
- E se eu conseguisse alguns dias na escola para visitarmos ele juntos? Aposto que vai fazer muito bem a ele te ver e a você também. Alguém que esteja passando o mesmo. Eu gostaria de poder fazer mais, mas sei que para isso não sirvo pra nada. - a mulher disse doce, fazendo carinho no rosto assustado do marido.
- Você já faz muito sendo você mesma - se virou para a mulher que tanto fazia por ele, até mesmo de longe - Me amando, sendo a mesma pessoa desde o dia que nos conhecemos até hoje. Acordar e te ver ao meu lado é a coisa mais importante da minha vida, tudo o que eu faço é e sempre será por você , eu te amo.
- Eu também te amo, meu amor, eu só quero te ver feliz.
- Eu gostaria de ser melhor pra você e por você… Prometo que estou tentando, mas, está difícil.
- Eu sei que está, mas também sei que vai conseguir.
Demorou para que conseguisse ver a real extensão das feridas internas que seu marido sofria. Ela podia ver em seus olhos o quanto ele queria não passar por nada daquilo. As semanas que se seguiram o viu ir ao fundo do poço e se reerguer, como ele sempre fazia. Por sua insistência, ligou para Terry, Tim e todos os seus outros companheiros. O viu sorrir como há muito não via. Eram em momentos como aquele que ficava feliz pelo marido, ele tinha pessoas que passavam pelo mesmo e sabiam ajudá-lo como ninguém mais podia. As vezes gostaria de poder voltar ao tempo e o impedir de se alistar, se ele tivesse continuado na loja, ou procurado qualquer outro emprego, eles talvez não tivessem conquistado tudo que conseguiram, mas ao menos teria seu marido por inteiro.
Com o passar das semanas as coisas pareciam mais tranquilas na casa dos , porém certo dia, arrumando a cama, encontrou pílulas escondidas embaixo do colchão, eram diversas, algumas tinham nome, outras estavam misturadas em uma pequena bolsa. Sem saber o que fazer e nem o que elas significavam chamou sua melhor amiga, ela saberia dizer para o que elas todas eram.
Quando a adrenalina passou, a decepção que sentiu era imensurável, não era sua ajuda, amor e esperança que o fizeram melhorar mais uma vez. Eram as malditas pílulas. não saberia afirmar quanto tempo ficou sentada na cama, com as caixas na mão, se perguntando se um dia seria livre de si mesmo.
chegou em casa e chamou por , sem ter resposta. Pensou que ela pudesse estar dormindo ou no banho. Pensou muitas coisas, mas em todos os cenários em nenhum deles ela o encarava daquela forma. Em seis anos de relacionamento, ela nunca havia o olhado assim, um olhar que ele já tinha recebido de muitas pessoas, mas não dela. Naquele momento ele percebeu, ela estava chegando no seu limite. Mesmo sabendo o quanto ela o amava, sabia que era só questão de tempo para que suas mentiras a afastassem para sempre.
Ele tentou se explicar, conversar, pedir desculpas, mas ela nada disse, apenas foi para a sala e esperou que batessem na porta. Ele sabia quem era.
Nikki, ao chegar na casa dos amigos se viu surpresa com a maturidade e liderança que demonstrou ao lidar com o problema do marido, suas perdas, seus medos, as feridas que preenchiam sua alma. Ela mesmo sofria em ver alguém que cresceu com ela, se perder daquela forma.
Assim que Nathan saiu com para espairecer, desabou. Ela não sabia mais o que fazer para ajudá-lo, queria se mostrar forte por ele, mas por dentro estava tão ou mais assustada com tudo que estava acontecendo. Nunca imaginou que um dia não reconheceria o próprio marido, que o olharia da forma que o fez.
A noite, quando os quatro se reuniam novamente, confessou que depois que os remédios que Nikki tinha receitado acabaram tentou não precisar deles, não queria que nada prejudicasse sua carreira, sua missão e suas responsabilidades, mas no auge de seu desespero, conheceu um veterano que lhe conseguiu alguns remédios e o que começou com uma pílula para ajudá-lo a dormir, passou a ser uma todos os dias de manhã e à noite, e quando o efeito já parecia estar fraco, passou a ir em busca de algo mais forte, não importava o que, ele só queria que tudo sumisse de sua mente.
Nikki já tinha tentando se aproximar de como profissional, Nathan como amigo. Toda sua família havia de alguma forma tentado, mas ele não conseguia se abrir com eles, em sua cabeça eles nunca entenderiam. E de fato nunca entenderiam, mas algo que ele ainda tinha que aprender, era que o amor que eles tinham por ele, era o melhor remédio que poderia encontrar.
Tinha dias que eram fáceis, outros nem tanto, nunca sabia que iria encontrar pela manhã e isso estava acabando com ela, mas mesmo assim, achou que uma boa notícia poderia animar o marido. Ela vinha guardando uma surpresa, esperando o melhor momento para contar, mas enquanto se ocupava de usar a batedeira para fazer o bolo favorito do marido, deu de cara com uma arma apontada em sua direção, a estava segurando e o choque no olhar da mulher só não era maior do que o dele ao se dar conta do que estava fazendo.
Horrorizado com sua própria atitude, baixou a arma, tentando se aproximar de , porém por instinto a mulher deu alguns passos para trás, com medo. O suficiente para que finalmente entendesse que tinha algo de muito errado com ele. Desesperado, bateu a porta de casa e sumiu por horas. já tinha ligado pra todos que conhecia e nada dele aparecer. No final da tarde, já cansada de esperar, ouvir a porta se abrir.
- Eu vou ligar pros seus pais virem te buscar. - disse de uma vez, sem olhar muito para ela.
- O... que? - o encarou confusa, como se a qualquer momento ele fosse cair numa risada, mas ele a encarou sério, decidido. A mulher sentiu sua visão turvar, as lágrimas imediatamente caírem sob seu rosto - Claro que não , ficou maluco?!
- Não dá pra continuar assim, você não vê? Quase te matei hoje de manhã! Eu estou ficando louco , louco. É mais fácil assim.
- Não é!! - a mulher gritou raivosa, o assustando - Não é! Eu não vou deixar você acabar com o nosso casamento assim, vamos nos livrar dessas drogas, pra que precisamos de armas nessa casa? Você sabe como odeio isso. Não estamos em guerra aqui.
- Ah é? Você acha que é isso que me impede de um dia no meio de um flashback te empurrar contra a parede e sua cabeça bater errado? Ou então acordar com minhas mãos no seu pescoço? - dizia raivoso, com as mãos apenas segurando o pescoço da mulher de forma delicada, um alto contraste com o tom de sua voz e a dor em seus olhos - O seu pescoço que eu amo beijar...suas mãos assim pra cima, deixando marcas e não daquelas que você implora no meu ouvido.
- , você só precisa se tratar, vamos passar por isso juntos, como sempre. - a mulher implorou, mesmo ele a prendendo contra si, ela não estava com medo, sabia que aquilo era apenas sua forma de assustá-la.
- Se você não for, vou eu. - disse decidido, a soltando e caminhando para o quarto que dividiam.
- Uau, é tão fácil me dar as costas assim? - o seguiu - Pois eu não vou, eu não consigo e nem quero tentar viver sem você. Não foi isso que nos prometemos desde o primeiro dia? Sempre juntos? Isso que é o amor , em sua forma mais pura e verdadeira. Você está aí tentando me chutar quando você mais precisa de mim e acha que eu vou aceitar?
- E se eu te machucar um dia? Você viu o que aconteceu hoje de manhã. Eu acordei com o barulho e de repente não vi mais nada, um segundo eu estava aqui, no outro em guerra. É essa vida que você escolheu pra você? Ficar com um cara que está ficando louco?
- Eu estou disposta a assumir esse risco. - falou firme - Eu devo ser uma péssima esposa mesmo para ser tratada dessa forma. Depois de tudo que passamos, prestes a completar seis anos juntos...ainda mais agora. - disse acariciando sua barriga num gesto que vinha virando rotina, desde que descobriu a novidade.
- Você tá… grávida? - questionou a esposa chocado.
- Era para você ter visto isso hoje de manhã… - disse indo em direção ao pequeno quarto que tinham extra na casa e abriu a porta - O dia mais feliz da minha vida acaba de se tornar o pior de todos. Se você for mesmo embora, nem precisa se despedir.
Ele não foi.
Se deixar era difícil até quando era para o bem dela, agora que o maior sonho deles estava prestes a se realizar ele não seria capaz de passar um segundo que fosse longe dela.
Tinha tomado aquela decisão absurda no auge de seu pânico e agora nem conseguia entender como conseguiu sequer sugerir aquilo para a mulher da sua vida. era sua essência e só de pensar em uma vida sem ela, sentia seu coração se contorcer, seu pulmão se fechar. Nenhuma de suas crises podia equivaler a dor que sentiria se ela o deixasse. Vê-la levar a mão ao ventre o fez ver que aquele era o ponto em que não haveriam mais tentativas, falhas, ele precisava se curar se quisesse ver seu filho nascer e se quisesse que ela ficasse.
Depois de observar os balões rosa e azul e um mini Air Jordan no chão, ele foi para o seu quarto e puxou a mulher para um abraço onde se permitiu chorar pela primeira vez a morte do amigo. Chorou enquanto acariciava a barriga de sua esposa.
A vida era realmente frágil.
Meses antes, tinha perdido um de seus melhores amigos e não sabia como, nem quando conseguiria se recuperar daquilo. A culpa o consumia de uma forma que preferia a morte a continuar vivendo naquele inferno. Sabia que nunca se esqueceria de Matt, que para sempre o carregaria em seu peito e uniforme, mas estava difícil continuar sabendo que em sua próxima missão eles não estariam juntos, mas um filho. Um filho mudava tudo.
Observando sua esposa dormir, carregando o bem mais precioso do mundo, ele percebeu que a vida estava lhe dando uma última chance de se levantar. Se dependesse só dele, teriam se queimado, virado poeira, mas era sua Fênix, a partir dela, ele ressurgiria das cinzas. A partir da vida que ela gerava em seu ventre, ele faria o que fosse para estar ali para sempre.

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Will he, will he still remember me? Will he still love me even when he's free
Or will he go back to the place where He will choose the poison over me?
When we spoke yesterday
He said to hold my breath, to sit and wait
I'll be home soon, I won't be late


- Você acha que ele pode ter você sabe...esquecido de mim já? - perguntou a Nikki, as duas tinham ido para uma outra cidade comprar algumas poucas coisas que faltavam para o bebê, com o pouco dinheiro que tinham.
- Nunca, eu prometi ao Nathan que não diria nada, mas talvez a gente tenha conseguido alguma coisa.
- O quê? - se virou para a amiga assustada - Nikki, me fala!
- Você não quer se sentar? - a amiga se arrependeu de ter aberto a boca - Você sabe que todo stress que tem passado está afetando o crescimento do nosso pequeno.
- AgoraNikki -
- O tem ligado pro Nathan. - sentiu tudo escurecer e antes que desabasse, se sentou no sofá da loja - Eu não sei como tudo começou, ele vinha recebendo uma ligação que a pessoa sempre ficava sem falar nada. No começo ele desligava, mas um dia ele teve essa intuição de quem era e ao invés de desligar, também ficou em silêncio, esperando ver se a pessoa do outro lado diria algo, mas nunca nada acontecia. Um certo dia ele se irritou e falou algumas boas verdades e então pela primeira vez a pessoa do outro lado desligou primeiro que ele.
- E vocês não me contaram, por quê?
- Eu só descobri semana passada amiga, não queria te dar falsa esperança. Eu estava na casa do Nate quando ele ligou e acabei descobrindo, foi a minha vez de lhe dizer algumas verdades, perguntei se ele se lembrava de você, do próprio filho. Se ele sequer imaginava o que tinha causado ao ir embora assim, do nada. Se tudo aquilo que ele estava nos fazendo passar, escolhendo o veneno ao invés de você, meu afilhado, se tudo aquilo realmente valia a pena.
- Ele disse alguma coisa?
- Pra que eu parasse de dizer aquelas coisas e esperasse.
- Esperasse o quê?
- Eu não sei, eu fiquei nervosa e disse a ele que eu te ajudaria a esquecê-lo, nem que fosse a última coisa que eu faria em vida.
- Nikki…
- Eu fiquei nervosa, tá? - assentiu, sabia que a amiga tinha a melhor das intenções. - Mas falei com o Marcus, ele vai tentar ver se acha alguém que pode dar uma pista de onde essas ligações estão vindo.
- Promete que me conta o que descobrir? Qualquer coisa?
- Eu prometo.
- ? - as duas amigas se viraram assustadas.
- Mãe?! O que vocês estão fazendo aqui?
- Eu não sabia se era você, vi a Nikki de longe, mas… - E então os olhos de Cindy e Mark caíram na barriga da filha. - Oh, você está grávida?
- Acho que essa pergunta é um pouco óbvia. - respondeu se levantando, sentindo uma ponta de dor e raiva ao ver os dois na sua frente.
- Quanto tempo? - a mais velha tinha lágrimas presas nos olhos.
- Ela tá entrando no oitavo mês - Nikki respondeu, já que a amiga estava em silêncio, tentando esconder a barriga.
- E o pai? - seu pai perguntou, sem demonstrar qualquer reação a novidade. - É o moreninho?
- Negro Sr. , o é negro e ele tem nome E sobrenome, igual o meu, .
- Era só o que me faltava, ainda bem que você trocou de sobrenome. - o homem deu um sorriso debochado.
- Mark!! - Cindy chamou a atenção do marido - Filha, será que...
- Nós vamos indo. - Nikki tomou a iniciativa ao ver o estado que a amiga se encontrava.
No carro, desabou.
- Eu larguei tudo, minha vida, meus amigos, minha família, pela única certeza que eu tive na vida e ele me deixou...ele fez o que o meu pai disse que ele faria. Meu pai ganhou Nikki, aquele ser repugnante ganhou.

🌟

He won't go , He can't do it on his own
If this ain't love, then what is?
He's willing to take the risk


chegou em casa cansada, estava sonhando com sua cama há horas. Iria comer a salada que tinha feito na noite anterior e assistir a qualquer bobeira que estivesse passando na TV. Há algumas semanas seu padrão de sono tinha mudando drasticamente e passava o dia fora para se cansar ao máximo e conseguir dormir a noite toda. Odiava acordar cedo, mas há três semanas sua vida tinha virado de cabeça pra baixo e agora, acordar a hora que fosse, a enchia de alegria.
Com o celular e sacolas em mãos, largou tudo no balcão da cozinha, iria se livrar de suas roupas antes de servir sua janta. Tudo parecia igual em sua casa, mas algo a estava incomodando, quase como se estivesse sendo vigiada. Ao passar pela sala, o que viu parado em frente ao sofá, a fez gritar e deixar o aparelho cair no chão.
Poderia ter passado segundos, minutos ou horas, não conseguia acreditar que ele estava na sua frente de novo, tão ou ainda mais lindo do que ela podia se lembrar. deu um passo à frente preocupado, a mulher não se movia há algum tempo e ele ficou com medo que poderia ser demais fazer isso com uma mulher grávida. Desde sempre tentou imaginar como seria o reencontro deles, por muito tempo não se permitiu sonhar que um dia aquilo aconteceria, mas agora que estavam frente a frente de novo, depois de quatro meses longe, ele não sabia como agir.
Conforme ele se aproximou, o cheiro dele a invadiu, fazendo com que piscasse e entendesse que sim, aquilo estava acontecendo.
estava de volta e eles estavam frente a frente novamente. Aquilo não era um sonho, era realidade.
- NÃO! - disse firme, embora suas ações mostrassem o exato oposto. - Não, você não pode. - a mulher disse se exaltando - Você não pode voltar assim, não pode. - gritou sentindo as lágrimas caírem e se aproximou dele socando seu peito com a pouca força que tinha, se comparada com a dele.
- . - implorou, deixando que ela liberasse um pouco de cada coisa que ele sabia que a havia feito passar.
Ele passou os últimos quatro meses pedindo a Deus todos os dias que tivesse força o suficiente para se curar, para poder voltar e ser o homem que sua mulher precisava.
- Você foi embora e eu te superei . - ainda se debatia contra o corpo dele chorando, angustiada, feliz, triste, desacreditada. a abraçou forte - Eu te superei. - a mulher parecia dizer mais a si mesma do que ao homem que também chorava em seu ombro, apenas por ter a chance de tê-la em seus braços, mesmo que ela o estivesse odiando. - Eu te superei… - disse uma última vez quase em um murmúrio, ao parar de se debater.
fez menção de soltá-la, mas o impediu, o abraçando desesperada, como se mesmo estando envolvida por todo seu corpo ainda precisava acreditar que ele estava realmente ali. Enquanto a mulher chorava, ele se permitiu ter aquele momento só deles. Foi só quando a abraçou ainda mais forte, que notou algo diferente.
- … - a afastou, encarando sua barriga ao mesmo tempo em que passava a mão no local - Não me diz que… - o homem se ajoelhou no chão se amaldiçoando, a barriga dela estava muito menor do que ele esperava encontrar - Fui eu, não foi?
- Do que você está falando? - a mulher o encarou em dúvida, se afastando.
- Nosso filho...ele não está aqui.
- Ele nasceu , faz três semanas - disse dura, recobrando sua sanidade.
- Mas como, ele está bem? Onde ele está? Eu…eu perdi o nascimento dele? - viu o homem processar a informação e não podia negar que sentiu uma pontada de vingança ao vê-lo preocupado.
- Você perdeu muitas coisas. - respondeu, sem medir as palavras - O que você esperava? Que ia me largar sem dizer nada, grávida, e eu daria uma festa por dia? Você sabia que fui internada algumas vezes porque ele não estava crescendo como deveria? Que fiquei de repouso olhando pro teto por dias para que ele ficasse aqui dentro o máximo possível? Que por sua causa ele nasceu seis semanas antes e vai ficar internado na UTI para crescer e ganhar peso?
-
- não, , você foi embora, você fez o que prometeu que nunca faria, me largou depois de tudo que eu fiz por você. O dia que eu saí de casa porque meu pai falou coisas absurdas a seu respeito você disse que faria sua missão de vida me fazer feliz. Eu estive ao seu lado por seis anos. Seis anos, . Aguentei a saudade e o perigo que você corria, te ajudei todas as vezes que você chegou em casa mal, ou bêbado, ou quando teve milhões de pesadelos. Todos os seus momentos bons e ruins eu estive aqui e quando eu mais precisei de você, você foi embora sem motivo algum.
- Eu precisava ir , eu precisava me curar e eu não sabia como fazer isso aqui. Ver seu olhar de decepção, te fazer passar por tudo isso. Colocar sua vida em perigo por causa dos meus problemas.
- Era uma escolha minha , você decidiu o que era melhor pra você sem perguntar o que era melhor pra mim. Você ficou com tanto medo de colocar minha vida em perigo que acabou arriscando a do próprio filho.
- Quando eu posso vê-lo?
- Amanhã. Ele só pode receber visitas algumas vezes ao dia. - suspirou pensativa antes de pegar o aparelho no chão - Eu tenho algumas fotos dele aqui, se quiser ver. - deu de ombros entregando o aparelho para o homem, que aceitou prontamente.
queria mais do que tudo dar as costas ao marido e ir para o seu quarto quebrar tudo que encontrasse pela frente, mas ela precisava ver a reação de ao ver pela primeira vez a cara do filho.
- Ele é tão pequeno, e perfeito. - ele disse entre as lágrimas. - Meus pais já o conheceram? O Marcus?
- Todo mundo, incluindo minha mãe. - comentou, fazendo o homem a encarar surpreso - Dias antes dele nascer eu encontrei com eles sem querer, meu pai ficou horrorizado ao descobrir que teria um neto negro. Digamos que nosso encontro me afetou mais do que eu esperava e minha pressão acabou subindo demais.
- O que ele te disse? - o homem podia sentir a raiva começando a dominar seu corpo.
- Não foi culpa dele , foi sua. Quando meu pai sorriu aliviado que eu não era mais uma , mas sim uma , eu tive que te defender, mesmo que você não merecesse, fiz pelo nosso filho. Quando você colocou os pés pra fora daquela porta, você permitiu que ele ganhasse. Mesmo que ele não soubesse que você me abandonou, eu sabia. Nada do que eu passei com eles, se compara com a dor que eu senti quando descobri que você tinha ido embora. - a mulher disse sem dó e sabia que merecia cada palavra - Minha mãe quando ficou sabendo que ele tinha nascido foi me visitar, ver se eu estava bem. Não quis segurar o neto, disse que não conseguia, mas que iria tentar mudar. Mas seus pais, a Nikki, os pais dela, e até o Nathan tem me ajudado, sem eles eu não teria conseguido.
- Eu te amo tanto , eu espero que você saiba que você e nosso filho são as únicas coisa que me importam nessa vida. - ele disse se aproximando com calma - Posso não ter feito as coisas da forma correta, mas no estado em que eu me encontrava, eu fiz o que julguei ser o certo para nós três.
- E eu espero que entenda que não é porque você decidiu voltar seja lá de onde você foi, que eu vou simplesmente esquecer o que você me faz passar. - rebateu, tomando o celular da mão do marido e indo para o seu quarto. O barulho que ela fez ao fechar a porta, um sinal claro que ele não devia segui-la.
- Eu não sei o que seria da minha vida sem você, . - disse do outro lado da porta, repetindo o que havia dito quando a pediu em casamento - Eu quero ficar com você até estarmos velhinhos, cheios de cabelos brancos e com meus quinze netos correndo pelo jardim. Eu sei que te decepcionei, te magoei e fiz coisas que prometi que não faria, mas quando você estiver pronta pra ouvir meus motivos, eu vou estar aqui. E mesmo se você não conseguir me perdoar, eu nunca mais vou te deixar acreditar que eu não estou aqui por você e pelo nosso filho, pra sempre.
- Então é verdade? - se virou assustado ao ouvir a voz de Nathan atrás de si.
- Nate… - ele deu um passo à frente para abraçar o amigo, mas a única coisa que viu foi o punho de Nathan se fechando contra seu rosto.

🌟

So I won't go, I can't do it on his own,
If this ain't love, then what is?
I'm willing to take the risk


Meus olhos estavam presos em , ela ninava Matt, tentando fazer ele dormir depois do longo dia que tivemos. Eu poderia olhar para os dois pro resto da minha vida e nunca me cansar.
No exército temos turnos que duram 20 horas, às vezes o dobro, e em nenhum momento podemos dormir. Se somos pegos dormindo por um de nossos superiores acredite, teremos consequências seríssimas. Para se manter acordado os soldados usam de diversas técnicas - exercícios físicos, café, esfregar pimenta embaixo dos olhos, cantar, contar até cem...centenas de vezes. Mas chega um ponto em que você não aguenta mais, seu corpo começa a desligar e fica difícil se manter são. Quando eu chegava naquele ponto, sem saber se estava acordado ou sonhando, eu pensava em e nos filhos que um dia teríamos. Ela sempre foi o meu norte, o meu guia que me mantinha focado no objetivo, voltar pra casa vivo. Voltar para a mulher que eu amava.
Quando eu decidi sair de casa sem olhar pra trás foi ela quem eu tive em mente nos 100 dias que fiquei internado para me livrar do meu vício em álcool e remédios, além de tratar do meu transtorno de estresse pós-traumático. Não era segredo pra minha família e amigos e no fundo até mesmo para mim, que desde a minha segunda missão eu comecei a me perder entre a realidade que vivia em guerra e a realidade segura que tinha em casa.
Mesmo passando por tudo que passei, dia após dia vendo os sintomas crescerem, eu gostava de enganar a mim mesmo e a todas as pessoas que me amavam que aquilo era passageiro e eu conseguiria me curar sem pedir ajuda de ninguém.
Por muito tempo convenci eles e a mim mesmo que era possível. Uma das muitas vezes que não sabia mais o que fazer para me ajudar, ela pediu para que eu a deixasse ligar para o meu Tenente ou Sargento em busca de ajuda, mas uma coisa que não te contam quando você se alista no exército é que se você desistir de sua profissão, não há emprego no mundo real para nossas poucas habilidades. Eu não queria ser segurança de alguém importante e muito menos voltar a trabalhar em lojas de esportes, não agora que eu era casado e tinha minha própria família para me preocupar.
Nas Forças Armadas, se descobrem o menor sinal de que seus pesadelos, ataques de pânico e todos os outros sintomas que a maioria dos meus colegas de profissão vivenciam em algum momento da vida, estão se tornando constantes, você é colocado em licença médica e isso significa o início do fim de sua carreira. Mas se você aguenta firme e faz tudo corretamente, é promovido e pode até virar um Tenente, e então sua vida está salva e o seu salário e aposentadoria garantidos.
Era com esse foco de poder dar a uma vida igual a que ela teve crescendo, que eu deixei me perder dentro de minha própria mente, mas desde o dia que acordei com as mãos em seu pescoço, ou o dia que apontei uma arma para ela, que eu tive que aprender que nada disso me importaria se ela estivesse morta.
Aquele também foi o dia que eu descobri que meu filho viria ao mundo e foi então que eu tracei um plano para melhorar de vez e poder dar a ele e sua mãe a melhor vida que eu poderia dar. Como sempre, no começo tudo parecia bem, mas minhas mãos tremiam, a falta de ouvir a voz de Matt me machucava e a ligação que me fez ter a certeza que eu precisaria tomar uma decisão drástica aconteceu, Tim tinha tirado a própria vida por não conseguir esquecer os horrores que tínhamos vivenciado na missão que acabou resultando na morte de Matt.
estava dando aulas na escola e eu não queria incomodá-la. Meus pais e amigos estavam todos trabalhando e embora eu tentasse me convencer que estava tudo bem, minha mente me puxava para o álcool e as pílulas, qualquer coisa que me fizesse esquecer, que tirasse de mim as memórias e a dor.
Naquela noite chegou em casa com náusea, resultado dos primeiros meses de gravidez e eu cuidei dela até que dormisse, eu tinha o dia seguinte para lhe contar o que tinha acontecido. Eu já tinha mentido e omitido muitas coisas dela, mas agora mais do que nunca eu precisava dela tanto quanto ela precisava de mim.
Em algum momento da madrugada eu ouvi um som de tiro, acordei assustado olhando pelas janelas e não encontrei nada, fui até a sala e podia jurar ter ouvido o silêncio que antecede a explosão de um míssil. Em um segundo eu estava em casa, no outro em guerra e no terceiro, eu quase matei , de novo.
Ela tinha se levantado para ir ao banheiro e ao sair da cama nem reparei que ela não estava lá, mas quando a porta do banheiro se abriu minha arma estava apontada mais uma vez em sua direção. Ela não me viu, as luzes estavam apagadas, mas quando ela saiu da minha mira, minhas mãos tremiam de forma violenta. chamou por meu nome e eu entrei no banheiro para me recompor, ao olhar no espelho eu mal pude me reconhecer e foi ali que tomei minha decisão, eu precisava ir embora.
No dia seguinte ela apareceu na sala, sem nem saber que aquele seria talvez o último dia que nos veríamos. Se dependesse da minha vontade não seria, mas se dependesse da minha mente, eu não poderia fazer promessas.
- Eu te amo, - eu disse quando ela se despediu para ir ao trabalho.
- Nós também, meu amor. - ela respondeu sorrindo.
Quando fechei a porta de casa naquele dia, eu prometi a mim mesmo a única coisa que sabia que era capaz de cumprir. Eu voltaria se conseguisse me curar.

🌟


- Terra para ? - me fez voltar ao mundo real, me olhando como se eu fosse um doido. - Você estava longe.
- Estava pensando no tempo que estive fora. - pisquei para ela, que abriu um sorriso tímido.
Nós não estávamos juntos, não que eu esperasse nada diferente, se eu tive que lutar nove meses para reconquistá-la quando nos conhecemos, depois de seis anos eu sabia que apenas uma explicação e meu amor incontestável não seriam suficientes.
Após levar um soco de meu melhor amigo, abriu a porta assustada, mas quando me viu no chão, ela simplesmente riu, riu como há muito tempo eu não via e pelo visto nem Nathan, pois em um segundo ele estava pronto para me atacar e no outro ele a abraçava, também rindo.
Aquela noite Nikki veio nos ver e não é preciso dizer que levei um tapa na cara da melhor amiga da minha esposa. Quando finalmente as agressões físicas cessaram os três se sentaram no sofá e eu, mesmo cansado, passei as próximas horas da noite e madrugada contando onde estive e tentando explicar o que me levou a sair de casa sem me despedir de ninguém.
- Ele aguentou bem, não? - perguntou quando coloquei nosso filho dentro do pequeno berço que tinha ao lado de sua cama.
- Ele foi um mini soldado com a quantidade de gente que o pegou no colo. - respondi acariciando de leve os pequenos dedinhos de sua mão - Ele é tão pequeno.
- A Terry me preocupou um pouco, você acha que ela está bem?
- A mim também, eu vou ligar pra ela amanhã. - disse dando um beijo no topo da cabeça de meu filho, enquanto acendia o pequeno abajour que ficava em seu quarto.
Matt estava em casa há quase um mês, depois de ficar outras cinco semanas internado e nós decidimos que seria um bom momento para apresentá-lo aos meus amigos do exército. Eles vieram de diversas partes do estado e nossa casa e quintal foram tomadas por meus companheiros, mulheres e crianças correndo por todos os lados. Marcus, minha cunhada e sobrinha também vieram, assim como meus pais e Nathan e Nikki, que apareceu com um médico do hospital com quem vinha saindo há algum tempo.
Durante todo o churrasco eu procurava por e Matt, sabia que eles estavam bem e seguros, mas depois de tanto tempo longe dela, eu só precisava confirmar que tudo aquilo não era um sonho.
- Amanhã eu volto pra te ajudar com essa bagunça, tudo bem? - perguntei ao voltarmos pra sala vendo a quantidade de copos, talheres e garrafas de cervejas espalhadas pela cozinha.
- … - me chamou baixinho e levei meus olhos ao dela - Você pode ficar aqui essa noite?
- Nada me faria mais feliz - respondi rápido, antes que ela pudesse mudar de opinião.
Mesmo a contragosto, eu aceitei quando não deixou que eu voltasse para casa, eu ficaria com meus pais até que ela estivesse pronta para me perdoar, ou não.
Os primeiros dias foram um misto de sentimentos, ela me queria a todo tempo perto para se certificar que eu realmente estava ali, mas eu podia ver em suas ações e palavras o quanto eu a tinha machucado. Não que eu não soubesse, mas vivenciar aquilo era ainda pior do que eu tinha imaginado. Sabendo que toda a culpa era minha eu apenas dei tempo ao tempo, eu gostava de acreditar que algum dia ela seria capaz de me perdoar e entender que tudo que eu fiz foi por amor.
Por isso que ao ouvir seu pedido para que eu passasse a noite em nossa casa, nem que fosse no sofá, me fez ter mais um flashback, não dos meus tempos em guerra, mas dos últimos seis anos ao lado da mulher maravilhosa que eu tinha ali, bem à minha frente.
- Dança comigo! - eu disse animado, procurando nossa música no meu celular para conectar a caixa de som.
- , está maluco, eu estou exausta e o Matt já está dormindo.
- Só uma, por favor ?! - pedi, estendendo minha mão a ela, que mesmo contrariada a pegou.
Sua cabeça foi automaticamente para meus ombros e eu sorri, sorri porque mesmo sabendo o quanto a magoei e machuquei eu conseguia sentir o amor dela todos os dias da minha vida. é o tipo de mulher que você acorda e pensa, onde foi que eu acertei? E eu nunca saberia responder, a única coisa que eu podia fazer era agradecer por ela ter me encontrado.
Parecia até que desde o dia que ela me viu jogando na quadra de basquete ela sabia o que eu ia passar, porque se teve uma coisa que eu aprendi em todos os anos de exército e todos os dias que passei na reabilitação é que se não fosse por ela e seu amor, eu não teria voltado. Nos meus piores dias, quando eu estava prestes a desistir eu me lembrava de seu sorriso, seus gestos, nossas memórias, e assim como ela me mantinha acordado durante as missões, ela me fez lutar para voltar pra casa, para onde eu pertencia, nela.
- Você consegue estar ainda mais bonita do que eu me lembrava . Eu sei que o que fiz pode ser imperdoável, mas eu cumpri minha promessa, eu não te abandonei, eu voltei pra você da forma que você merecia, da forma que você me conheceu. O que eu estava me tornando não merecia ter uma mulher como você. - disse a fazendo me encarar e senti meu coração se quebrar ao vê-la chorando. Conseguia ver em seu olhar a dor que lhe causei - Eu sei que você pensa diferente e deve estar pensando em mil respostas pra me dar. - complementei e a vi rir um pouco nasalado.
- Vejo que você ainda me conhece, Sargento .
- Só você é capaz de me fazer sentir assim, eu te amo tanto. - disse segurando em seu rosto e mesmo receoso fiz o que queria ter feito no segundo em que a reencontrei, a beijei. A beijei com a saudade de 180 dias sem tê-la em meus braços, mas com a memória de seis anos juntos cravadas em minha mente.
- Você tem a sorte que é só você , só você consegue me fazer com que eu me sinta assim, segura, amada. Muita gente perguntou como eu aguentei tudo o que passamos, mas eu acho que não há dúvidas quando se tem amor.
- Você esteve ao meu lado nos momentos que mais precisei de você e eu sei que falhei, acredite, eu sei. Mas nunca mais , nunca mais eu vou escolher voltar para o que passei, se posso voltar pra casa e pra você. Eu vou te amar até o meu último sopro de vida e nem quando eu morrer eu acho que vou ser capaz de deixar de te amar.
- Agora você já está ficando brega, . - deu a gargalhada que eu mais amava e acabei acompanhando ela - Só me promete que você nunca mais vai nos deixar.
- Eu não vou. Eu posso ter ido do céu ao inferno em minhas missões, mas depois de tudo que passamos longe, eu não conseguiria viver mais um dia sem vocês.
Eu jamais poderia viver sem e Matt. O amor que tinha pelos dois era tão profundo que eu faria o que fosse para poder ser o marido e o pai que eles mereciam.
Por eles eu tomaria todos os riscos, balas e socos.
Por eles, eu ficaria para sempre.

🌟






Fim.



Nota da autora: Olá meninas, mais um ficstape finalizado. Não foi fácil chegar nesse final, mas espero que tenham gostado do resultado, assim como eu.
Se quiser ficar por dentro do que mais eu escrevo, segue o link para o meu grupo no Facebook:






Outras Fanfics:
12.Truth e a continuação 09. Heart’s Don’t Break Around here
03. Beautiful to Me
09. Coconut Tree
04.Losing my mind e a continuação 06.My Gospel
08.Walls


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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