Finalizada em: 01/11/2019

Capítulo 1 - Reencontros Inesperados

What a shame we all became
Such fragile broken things
A memory remains
Just a tiny spark
I give it all my oxygen
To let the flames begin
So let the flames begin
Oh, glory, oh, glory


O carro derrapou pela pista molhada e por pouco não atingiu o poste da rodovia, pelo retrovisor, eu consegui ver os faróis dos carros que me perseguiam. Precisava correr, não podia continuar com eles na minha cola ou com certeza todo meu esforço iria por água abaixo. Virei à direita e peguei um atalho que daria na rua da oficina de Joshua, acelerei até que tivesse a certeza que eles haviam perdido meu rastro. Soltei o ar com força e manobrei o Chevelle 69, estacionei na vaga reservada para ele, Joshua estava ocupado mexendo no carburador de um Mustang 68 enquanto comia um pedaço de pizza.
— Dia difícil, gata? - Ouvi o ruivo perguntar enquanto eu saía do carro e me encaminhava para dentro da casa.
— O de sempre, e aí, cadê o Han? - Perguntei para comilona que se diz minha melhor amiga, ainda com a boca ocupada, ela apontou para porta da casa e eu revirei os olhos. Aquele japonês cretino não está sendo uma boa influência para ela. Ri do meu pensamento estúpido e entrei na casa, Han estava mexendo no notebook e comendo, é claro.
—Você e a Mazzieri não cansam de comer, não? - Indaguei, mesmo sabendo a resposta. Ele levantou os olhos para mim e logo voltou para o que fazia, passei por ele e não perdi a oportunidade de roubar o saquinho de amendoins que comia.
—Hey, volta aqui. – Reclamou seguindo-me até a cozinha. Abri a geladeira e peguei uma cerveja qualquer para mim, e outra pra ele. - E aí, como foi o trabalho? - Perguntou depois de recuperar a embalagem da minha mão.
— O de sempre. - Dei um gole e fechei a geladeira, voltando para sala com ele em meu encalço - Quase me mataram, mas isso eu já esperava. - Ele assentiu.
— Quantos carros? – Questionou com curiosidade, franzi a tez na tentativa de me lembrar.
— Cinco, me livrei de dois. - Respondi depois de alguns segundos. - Ah, aqui está. - Entreguei a ele o pequeno pacote com os documentos falsificados que eu havia ido buscar. Han abriu a sacola e conferiu. - Tudo certo? - Ele assentiu, bebendo a cerveja em seguida. - Agora vai me dizer porque eu arrisquei o meu traseiro naquele lugar? - Notei a mudança em sua postura, que eu nem notara a chegada, sentou-se ao lado do namorado.
— Temos um trabalho novo para fazer - Ela respondeu por Han, concordei esperando que - Vamos para França. - Arregalei os olhos. Como assim França? Havia algo que não estava sendo dito ali.
— Por que tão longe? O que é? Quem chamou? - Perguntei rapidamente vendo-a levantar a mão pedindo que eu me calasse.
— Não sabemos bem, um amigo do Han ligou e disse que precisava de reforços. Por isso vamos, se você quiser ir conosco será bem-vinda. – Ponderei, nunca aceitava um trabalho do qual não soubesse detalhes. Se não estava me dizendo, é por que devia ser grave.
— Certo, então, vocês surtaram e vão num trabalho assim, sem mais nem menos? - destilei, vendo-os se entreolharem.
— Olha, , se você não quiser ir não vamos obrigá-la, mas sua ajuda será bem-vinda, a equipe precisa de uma boa atiradora. - Han me estudou por alguns minutos, enquanto minha mente trabalhava. Eu não sabia quem era ou o que queria, e na verdade, não me importava. Eu iria com eles até para o inferno, já havia perdido minha família uma vez e não permitiria que isso acontecesse de novo.
— Partimos quando? - me abraçou e Han piscou para mim, rindo em seguida. Eles eram os meus melhores amigos, e se tinha uma loucura eu estava pronta para enfrentar.
—Vá arrumar sua mala, partimos hoje à meia noite - O japonês respondeu, assenti e me pus de pé. Fui até o quarto e peguei a primeira mala que achei, uma pequena e versátil que transportava em toda viagem maluca que me metia. Peguei as peças mais necessárias, desde roupas comuns até roupas que me dariam alguma vantagem sobre situações remotas e as coloquei lá, seguida das lingeries. Depois de tomar um banho rápido e renovador, me vesti e voltei para sala, atirei a mala no canto do sofá e esperei que os demais dessem sinal de vida.
— Pelo jeito você está nessa doideira, né, gata? - A voz de Joshua me chamou atenção, ele estava parado na soleira da porta da cozinha fitando-me com preocupação. Tentei sorrir para amenizar o clima pesado que eu sabia que ficaria.
— E eu lá perco uma aventura? - Brinquei, ele balançou a cabeça e se aproximou até sentar no sofá ao meu lado.
, eu sei que se você for nessa viagem. eu não vou te ver de novo, então por favor, tome cuidado. - Senti o coração apertar ao ouvir essa frase, fazia tudo parecer definitivo e com certeza, nada disso soava bem.
— Não se preocupe, Josh, eu ainda vou roubar seus biscoitos escondidos em cima do armário. – Confessei, vi o exato momento em que o espanto perpassou seu rosto, em seguida, senti-me abraçada e desatamos a rir. Afastei-me dele. - É sério, ainda vamos nos ver isso eu prometo. - Ele assentiu e me manteve presa num abraço cheio de saudades, talvez Josh soubesse de quem era esse chamado tão importante, entretanto não tive tempo de perguntar, logo o som de passos se fez ouvir, olhei para a porta e me esperava para sairmos.
— Se cuida, gata. – Peguei a bolsa e assenti, mandei um beijo para ele e saí junto com . Han estava nos esperando dentro do Maserati azul.
Depois de colocar minha mala no banco traseiro e praticamente me atirar sobre ela, Han deu partida e manobrou o carro. Suspirei ao notar que talvez as palavras de Joshua estivessem certas e eu tivesse que abandonar mais uma parte de mim para trás.
Passei horas sentada na poltrona desconfortável de um avião, comendo amendoins, cochilando e dividindo meu tempo entre ler uma revista de carros e rir das fotos ridículas que tirava de Han, finalmente pisávamos em solo francês.
— Vamos. - me puxou pela mão; havíamos acabado de pegar nossas malas e agora precisávamos de um táxi. - Han, você pode cuidar aqui enquanto eu... - Antes que ela pudesse terminar de falar, vimos o japonês entrando num táxi e colocando sua mala no veículo. Prendi o riso da cara dela e fiz o mesmo, não demorou muito para que estivéssemos a caminho de sei lá onde, para ver sei lá quem.
— Acho que podemos ficar numa pousada qualquer e descansarmos, mais tarde vamos encontrar os outros. - Sugeriu Han, dei de ombros. Para mim seria ótimo, eu precisava relaxar.
O taxista seguiu até uma pousada discreta e bem decorada próxima ao rio Sena, o ponto mais estratégico que encontramos. Pagamos a corrida e entramos no local. Com os documentos falsos, fizemos nosso check-in e nos dirigimos para o andar superior. Dei um tchau rápido ao casalzinho e entrei no meu quarto. Só precisava de duas coisas: Ducha e cama.

♔ ♛


Já passava das 8 da manhã quando deixei o quarto da pequena pousada, os pombinhos já deviam estar tomando café. Fiz o check-out na recepção e caminhei até um café que havia na esquina, não precisei de esforço para achar os dois comilões.
— Vocês parecem sacos sem fundos. – Comentei, sentando-me ao lado deles. Pedi um café e um croissant.
— Estávamos esperando você, - Han se manifestou, - quando terminar, já podemos ir. - Informou ele, concordei. O garçom entregou-me o pedido e não demorei a comer, a curiosidade estava me matando. Um pressentimento me atingia de forma cruel, eu sabia que algo estava prestes a acontecer, só não poderia imaginar o quê.
Terminei de comer e paguei a conta, saímos do estabelecimento e fomos à procura de um táxi.
— Preciso de um carro, é só o que digo. - Resmungou , troquei um rápido olhar com Han que se afastou deixando uma confusa, enquanto eu ria. - O que ele vai aprontar? - Apontei para o Audi A3 prata que ele conduzia para perto de nós. - Mas...
—Vamos logo. - Arrastei-a para o carro e entrei no banco traseiro.
Enquanto o Audi seguia pelas belas ruas parisienses, eu sentia meu coração acelerar e meu estômago se agitar, Han estava sério e concentrado, se divertia com uma música qualquer enquanto eu tentava não pensar no que me esperava. O carro parou e só então eu voltei a realidade, meus olhos vagaram até pararem em frente a um grupo de pessoas, estávamos em uma espécie de oficina, o que me era bem familiar, porém a sensação de desconforto se tornou uma dor aguda no estômago, uma sensação elétrica de expectativa percorria minhas veias. e Han saíram do carro e foram cumprimentar os demais, havia alguém ali que eu não conseguia distinguir quem era. Abri a porta e saí do automóvel, olhei ao redor e então estanquei no lugar. Havia rostos conhecidos, pessoas que um dia ousei chamar de família, e agora me olhavam como se eu fosse uma estranha naquele ninho, entretanto, nada me prepara para vê-lo. Meus olhos estavam presos na profundidade de seus olhos, escuros, quentes e familiares... Dominic Toretto estava em minha frente, depois de quatro longos anos.
—Você? - Dissemos juntos. Só então notei o motivo da ansiedade que me assolava; era isso, a sintonia que havia entre nós ainda estava intacta.
Ou não.
Assisti Toretto dar três passos largos até estar em minha frente, seu rosto parecia inexpressivo demais, mas a forma como seu corpo irradiava calor me dizia que ele também sentia algo por mim, não sabia se amor ou ódio, mas com certeza não estava imune a minha presença naquele lugar.
- Essa é a...
- Ela mesmo.
Vozes faziam comentários ao nosso redor, porém, nada fazia sentido, todo meu mundo se perdera e se achara naqueles olhos que me engoliam com verdades e dores, o ar não chegava a meus pulmões, meu peito ardia tanto que jurei estar em chamas. Dom soltou o ar de uma vez e levou as mãos à cabeça, um gesto que demonstrava desespero, eu só o vira fazer duas vezes. E nenhuma delas foi uma situação agradável.
- O que faz aqui? Como... Jurei que estivesse morta. – Sua voz era grave, como eu me lembrava, mas o tom de dor e acusação tornavam-na amarga.
- Parece que temos muita coisa pra esclarecer por aqui. - Tej soltou um assovio depois do comentário de Roman. – Não estou querendo atrapalhar esse momento Marimar e Luís Fernando de vocês, não, mas a gente precisa resolver uns lances aqui...
- Roman! – Ouvimos o resmungo de Mia e só então desviei a atenção para a outra Toretto, minha melhor amiga e parceira de loucuras estava crescida e ainda mais bonita. Em sua mão uma aliança brilhava semelhante à de Brian, eles haviam conseguido, por fim.
- Ele está certo, estamos aqui por algum motivo que ainda não foi explicado. – Retomei a palavra, não podia deixar o foco do que quer que tivéssemos para fazer fosse desviado por assuntos inacabados entre mim e Dom. Isso ficaria para mais tarde. O vi assentir com um gesto rígido, indicando o que eu já sabia. Terminaríamos essa conversa depois, apenas nós dois.
- Bom, eu convoquei vocês aqui por que Ninguém entrou em contato comigo mais uma vez. – Franzi o cenho, se ninguém havia falando com ele por que estávamos ali? Han prendeu o riso ao ver minha expressão enquanto parecia compartilhar do mesmo pensamento que eu. – Ele rastreou um dos chips que Syfer usou para forjar o ataque dos mísseis enquanto nos distraía, agora o objeto está dentro de um cofre a caminho da Alemanha onde vai ficar preso dentro de um forte. – Soltei o ar que nem havia notado estar preso. – Como devem imaginar, ele quer isso de volta e sabe que precisa de nós. O navio atracou no porto de Marselha e deve zarpar hoje à noite. – Nos aproximamos da mesa improvisada na qual um grande mapa estava aberto com algumas marcações.
- Isso indica que terão guardas nos perímetros e na entrada do navio. – Brian se pronunciou apontando algumas marcações. – Precisaremos de uma boa distração para tirar parte deles de lá, assim o Ted consegue entrar e decodificar o cofre, se conseguirmos fazer isso em 10 minutos temos a chance de não precisar ir para Alemanha, o Hobbs disse que vai ajudar.
- Quem é Hobbs? Por que ele nos ajudaria, e o mais importante, quem é Ninguém? – finalmente abriu a boca, sua expressão confusa era impagável. Minha cabeça já latejava com tanta informação.
- Longa história, contamos quando chegarmos lá. – Tej respondeu. – Precisamos ir, a viagem daqui pra lá é longa e temos que organizar o esquema de lá.
O nerd da equipe seguiu para um carro cinza escuro com janelas filmadas ao lado de Roman, os dois deixaram o galpão e logo todos os seguiam. Toretto permaneceu parado onde estava, vi meus amigos seguirem para o Audi e buzinarem me chamando, mas eu não conseguia me mover. Havia tanta coisa a ser dita que chegava a soar ridículo aquele silêncio. No instante em que seus olhos voltaram a pousar em mim. não havia dúvidas que dor e mágoa batalhavam dentro de si, ainda assim nada foi dito, ele seguiu para o Mustang que eu tão bem lembrava e partiu, pelo espelho pude vê-lo me analisar. Suspirei pesadamente e me juntei a Han e .
Estar ali não foi uma boa ideia, definitivamente.
This is how we'll dance when
When they try to take us down
This is what will be, oh, glory


♔ ♛



Capítulo 2 - Verdades Cruéis

Somewhere weakness is our strength
And I'll die searching for it
I can't let myself regret
Such selfishness
My pain and all the trouble caused


Levamos quatro horas para chegar ao porto, a viagem que deveria durar sete horas foi, obviamente, abreviada com a velocidade e os atalhos em questão. Han estava calmo como sempre, nesse tempo todo que o conheço jamais o vi irritado ou preocupado com algo, sua expressão serena é sempre a mesma. Diferente a namorada, que praticamente pulava no banco enquanto ouvia a narrativa que Roman lhe mandara pelo celular respondendo as dúvidas que expusera antes de deixarmos o primeiro ponto de encontro.
Enquanto escutava a narrativa, pude ver o quanto perdi nesse meio tempo, perdemos membros da família como Vince, ganhamos outros como Ramsey e o tal Hobbs que para minha total surpresa também era um policial. Ou fora. Não deveria ser novidade, minha família tinha dessas.
Família. Há quanto tempo não me referia a eles assim? Durante todo o tempo que passei fugindo não imaginei reencontrá-los um dia, para ser sincera, jurava que Dom estivesse casado com Letty e sequer lembrasse da minha existência, doía pensar assim, mas reconfortava imaginar que ele tivesse alguém para compartilhar a vida enquanto eu precisava me manter longe. Estar ali era loucura, ouvir o nome dela só comprovava isso. Como, em nome de Deus, eu poderia me meter em uma fria dessas novamente? Roubar carros para Han era uma coisa, voltar para vida dos Toretto e ajudar a roubar um documento que pertencera a causadora de minha fuga era outra completamente diferente.
Pensar nisso me fez entender que não importava o que eu fizesse, passasse 10 ou cem anos, acabaríamos juntos novamente. Syfer e eu havíamos feito um acordo, o trato de eu cumprir suas ordens em troca dela manter distância de todos que eu amava, dando ênfase a Dom, mas como a boa cretina que era ela, não cumpriu o acordo, e um ano atrás fez exatamente o que jurou que não faria. Colocou Dominic no meio do fogo cruzado contra seus amigos, um bebê que descobri existir há menos de 10 minutos, e a mãe da criança que acabou por morrer no confronto. Ela era uma vadia e merecia pagar por isso.
- Você tá muito calada, esse cheiro de queimado são seus neurônios? – A voz de Han me trouxe de volta a realidade. Balancei a cabeça confusa e o fitei mais uma vez, agora com uma careta.
- Não vou nem te responder. – Mostrei-lhe a língua, ele riu.
No ano anterior onde toda essa loucura, aconteceu que Han e estavam no Japão em uma das 30 “Lua-de-mel” que já tiveram. Em cinco anos juntos, eles sempre achavam um jeito de fugir para ficarem a sós, nesse período eu fiquei com Joshua na casa e ajudando nas coisas da oficina. Cumpri os acordos que havia fechado e consegui 10 carros para coleção de Han. Havia parado, anos atrás, de procurar por Dom. Cada vez que o seguia e via como estava sentia meu peito apertar, a saudade gritava quando eu o via sorrindo e abraçando a irmã ou a Letty. Sabia que remoer o passado não era o certo, então sumi. Nunca contei a ninguém sobre minha vida, sabia por alto sobre minha história, mas não fazia comentários e o japonês se limitava a ouvir em silêncio quando eu resolvia contar algo. A verdade que eu não estava pronta para contar em detalhes o que me levara a viver daquela forma, talvez jamais estivesse.
- Vai sair do carro ou quer que eu te leve? – Roman estava parado com a porta do carro aberta, não havia mais ninguém a vista. Balancei a cabeça e saí do veículo.
- Continua engraçadinho. - Constatei. – Nos seus sonhos talvez. – Pisquei enquanto me dirigia para o enorme prédio que minha frente. Não havia identificação e parecia abandonado. Na realidade todo o lugar parecia ser abandonado, com vegetação alta demais em alguns pontos e sem sinal de vida presente.
- Vamos nos dividir, Han, Roman e ficam com as três saídas do Sul. – Brian coordenava a situação. – Mia ficará aqui dando as coordenadas de onde seguir dentro do navio, Toretto, Letty e eu vamos dar um jeito de colocar Tej e Ramsey lá dentro.
Percebi que todos se organizavam em suas posições, mas nada havia sido dito para mim. Pigarreei alto, atraindo atenções. Brian olhou rapidamente para Dom, em seguida para Letty e Mia, o silêncio reinou por alguns segundos enquanto eu me sentia encolher na frente daqueles olhos. Ri descrente e balancei a cabeça, então seria assim, eu fui levada até ali pra nada? Ótimo, podia muito bem voltar para Nova York e retomar o que eu chamava de vida, dei meia volta e segui para fora quando ouvi a voz de Ortiz soar atrás de mim.
- É bom mesmo ir embora, não trabalhamos com traidores. – Parei imediatamente e devagar virei-me para olhá-la, a postura desafiadora ainda era a mesma.
- Se tem algo pra me dizer é bom que diga na minha cara, Ortiz. – Respondi no mesmo tom, ela estreitou os olhos e se encaminhou para perto de mim. Percebi o clima pesar e todas as atenções estavam presas em nós.
- Tudo bem, você é uma traidora e não merece estar aqui. – Apontou o dedo para mim tocando em meu tórax. – Você não faz mais parte dessa família.
O sangue ferveu rápido o bastante para que eu me aproximasse um passo mais e nossos narizes quase se tocassem.
- Você não deveria falar do que não sabe, Letty. – Sorri cínica, ela fechou ainda mais a expressão. – Talvez eu estar aqui esteja atrapalhando seus planos românticos, mas não se preocupe, eu não vim tirar nada de ninguém. – Cuspi a verdade presa em minha garganta há anos. Letty sempre foi uma excelente corredora, ótima lutadora e uma mulher admirável, éramos amigas e eu a considerava da família, mas seu interesse claro por Dom não ajudava em nada na hora das missões. Quando parti, tive a certeza de que ela tentaria ocupar meu lugar, não a julguei por isso, fora minha escolha partir; mas agora, diante de uma situação de vida ou morte tudo o que eu não precisava era passar por “empata romance”.
- Sua vadia. – No momento em que ela vociferou, sua mão disparou em direção ao meu rosto, afastei-me a tempo e acabei por receber uma cotovelada no estômago. O ar escapou por alguns instantes me deixando desnorteada, vi quando sua mão se fechou novamente em minha direção e girei o corpo prendendo-a numa chave de braço enquanto tentava me esquivar dos golpes que ela dava. Enfiei minhas pernas entre as suas e a empurrei enquanto puxava meu pé para trás, o bastante para derrubá-la e deixa-la ainda mais irritada. Antes que qualquer uma de nós pudesse fazer algo, mãos enlaçaram minha cintura e ergueram-me do chão, Brian prendia Letty enquanto eu era carregada para sabe-se lá onde. Os gritos dela ainda eram audíveis, mas eu estava ocupada demais lutando contra duas barras de ferro que alguém chamava de braços.
- Será que dá pra me largar? – Exclamei pelo que parecia ser a vigésima vez, meus pés tocaram o chão quando passamos por uma porta branca e paramos dentro de um pequeno escritório. Uma mesa no canto em frente a uma cadeira e um monitor desligado mostrava que ali já fora uma sala de negócios algum dia. Passei as mãos pela roupa tentando irar a poeira e enfim me virei dando de cara com Dom que estava com os braços cruzados parado no meio da sala. – O que foi?
- O que foi? – Ele repetiu minha pergunta, descrente. – Primeiro você volta depois de quatro anos onde acreditamos que estivesse morta como se nada tivesse acontecido, depois vem até aqui e espera que nós lhe demos algo da missão e por fim briga com a Letty, o que mais falta? – Seu tom de voz alterado fazia a veia de seu pescoço saltar, cruzei os braços numa postura defensiva.
- Em primeiro lugar, eu não queria estar aqui, Han e me convenceram. – Comecei a falar olhando diretamente para seus olhos, se ele tinha verdades a dizer, ótimo! Eu também tinha. – Segundo, eu não fazia ideia de que reencontraria qualquer um de vocês, por que acredite em mim, se eu soubesse, não teria vindo. – Essa declaração era cruel, mas verdade. A dor que perpassou por seu rosto quase me fez recuar.
- O que fizemos pra você, afinal? – Mágoa, tristeza e dor estavam misturadas naquela pergunta. Engoli em seco.
- Vocês? Nada. – Descruzei os braços e dei-lhe as costas, pronta para ir embora. – Eu é que estou fazendo. – Girei a maçaneta e puxei a porta, mas esta não se mexeu graças a mãos dele espalmada contra a madeira. Seu corpo pressionou o meu e me vi engolindo em seco. A familiaridade de seu calor era uma lembrança que imaginei não ter capacidade de reconhecer. Estava engada, é claro.
- O que quer dizer com isso? – A voz rouca e sussurrada era uma dolorosa lembrança das inúmeras noites vividas juntos. O calor, o suor e os lençóis amassados agora eram meras recordações. Tentei recuperar o máximo de sanidade para dizer o que, com certeza seria nossa verdadeira despedida.
- Já que não precisam de mim, vou continuar longe e mantendo suas preciosas bundas a salvo. – Ríspida e direta, soltei a bomba, com o choque das palavras percebi sua distância. Aproveitei para abrir passagem e sair a passos duros, pegaria o Audi de Han e ele que se virasse depois, me manter longe dali era o melhor a fazer. Não para mim, com certeza. Mas para eles, todos eles.
Travei as portas assim que entrei e acelerei o máximo que pude, fiz uma volta rápida e tomei a direção da rodovia. Aquele caminho me levaria para outo lugar, diferente da pousada em Paris ou da minha vida em Nova York, eu ia resolver pendências.

♔ ♛


Dominic Toretto

Porto de Maselha, 20h40 – Uma rua paralela qualquer.
O carro derrapou ao virar em mais uma esquina, três tiros disparados em minha direção, abaixei e por pouco não fui atingido. Xinguei enquanto fazia outra curva fechada, avistei Brian se aproximando, com a arma em mãos, ele mirou no motorista e o acertou em cheio. Ramsey e Tej já estavam dentro do navio, Letty estava supervisionando a parte leste enquanto Brian e eu despistávamos os bandidos do lado norte. Esse fora o último, dei meia volta e o acompanhei para retornarmos ao porto. Pelo fone conseguia ouvir as coordenadas que minha irmã dava aos dois dentro da embarcação.
- Tem uma sala à direita de Ramsey, entrem aí, o cofre está atrás de duas portas.
- Você vai falar sobre isso ou vai continuar fingindo que nada aconteceu? – Brian perguntou assim que encostamos numa rua afastada e começamos a andar para perto do porto. Olhei-o de lado e balancei a cabeça, não era o momento e nem o lugar, tudo o que eu não precisava era lembrar disso agora. – Tudo bem.
Quando demos o assunto por encerrado, o barulho de tiros foi ouvido, corremos em direção ao navio, o porto estava quase vazio devido ao horário. Adentramos a embarcação e nos deparamos com uma sala isolada por uma porta de ferro maciço, nem um tanque moveria aquilo. – Droga!
- Eles precisam de ajuda, tem outra saída, Mia? – Ouvi O’Conner perguntar e a negativa o deixou ainda mais desesperado. Olhei ao redor em busca de um objeto para tentar abrir aquilo quando uma voz dolorosamente conhecida ressoou pelos alto-falantes presentes na antessala.
- Ora, ora, ora... Se não é o meu soldadinho favorito. – A entonação falsamente tranquila não deixava dúvidas de que era Syfer. – Você acreditou mesmo que tudo ficaria como estava? – Ela fez um barulho como se estalasse a língua, meu sangue fervilhou. – Tão ingênuo quanto a namoradinha. – Essa frase me fez parar. – A propósito, você tem um gosto peculiar para mulheres, não? Primeiro a mãe do seu filho, uma policial, depois a Letty... Agora, essa... Você gosta de mulheres fortes, não é Toretto?
- Eu vou acabar com você, sua cretina, assim que eu colocar as minhas mãos no seu pescoço magrelo! – A voz irritada de soou pela sala, ela havia encontrado Syfer e agora estava presa lá. Que maravilha.
- Solte ela, Syfer, não tem nada a ver com essa história. – Vociferei, sentindo meu corpo tremer de raiva. Brian estava lutando com a porta enquanto os hackers faziam o melhor com os computadores portáteis, eles precisariam de um pouco mais de tempo.
Sua risada debochada irritou-me ainda mais, eu sabia que todos conseguiam ouvir aquela conversa graças aos fones ligados, todavia isso não importava, não naquele momento. estava presa nas mãos daquela psicopata.
- Ela não te contou, não foi?
- Contou o quê? – Perguntei, cedendo a curiosidade, ela riu mais uma vez. Ouvi gritar algo como “Não ouse”, mas foi prontamente ignorada. – O que você quer dizer com isso?
- Que ela deixou vocês por um acordo. – Syfer tinha um tom venenoso, quase sibilante na voz. – os abandonou para viver uma vida longe dos perigos que era ter vocês por perto.
- Cala a boca, sua vadia! – Os gritos de ressoavam tão altos quanto a própria voz da outra mulher. – Eu vou matar você assim que sair daqui, anote isso! – O som de algo se quebrando em seguida de outro que parecia ser um corpo sendo arremessado no chão fez meu peito doer. Eles a estavam torturando, é claro.
- Syfer, o que você quer? – Perguntei tentando manter o controle, notei que Tej havia conseguido destrancar a porta e poderíamos dar o fora dali.
- Sempre tão apressado... Não se preocupe, querido, você já vai descobrir. – No momento seguinte, um solavanco nos arremessou para as paredes, o navio estava em movimento. Os gritos de Letty e Roman foram ouvidos ao longe, corremos em direção ao leme, mas este estava travado. A hacker tinha total controle da embarcação. – Vamos nos ver em breve, querido.
O contato foi encerrado, não havia qualquer outro som além das águas embaixo do barco. Ramsey discutia sobre como retomar o controle com um dispositivo que ela havia criado com a ajuda de Tej, enquanto Brian falava com Mia, um outro estrondo foi ouvido, o barulho vindo do lado oposto em que estávamos. Nos preparamos para um possível ataque quando a figura de Hobbs surgiu.
- Mas já começaram sem mim? – Cumprimentei-o rapidamente e os demais fizeram o mesmo. – Rapaz, que loucura, consegui um submarino emprestado da marinha francesa. – Arqueei a sobrancelha em descrença. – Na verdade, eu roubei, mas não acho que vão se importar, por enquanto. – A risada de Mia pelo fone me fez relaxar um pouco. – Shaw está tentando localizar Syfer enquanto Letty, , Han e Roman estão amordaçando alguns policiais.
- Eles vieram? – Tej questionou parando de mexer na máquina para olhar ao redor.
- E a gente ia perder a festa, rapaz? – Roman apareceu com um sorriso gigante e abraçou Brian de lado, seguido de perto pelo casal. Mais atrás, Letty se aproximou devagar, medindo o território. Além de ser um traço característico de sua personalidade, era a forma indireta de mostrar seu desconforto. Ela sabia que eu jamais deixaria de amar , ainda que os anos se passassem, então quando nos envolvemos eu fui claro e honesto, ela garantiu que sabia disso e das consequências. Na realidade, eu torcia para que Letty achasse alguém que a amasse de verdade, com sua personalidade forte e briguenta, os sorrisos sinceros e a vontade de ir em frente sempre.
Com esse repentino aparecimento da , meus sentimentos, que nunca adormeceram, estavam ligados nos 220 volts, cada palavra dela me atingia como facas. A saudade, as lembranças, o amor, a tristeza e o luto se embolavam como uma gigantesca avalanche de neve pronta para me soterrar. Eu queria saber a verdade, descobrir os segredos que a levaram para longe de mim e da nossa família, mas aparentemente sua precipitação estava prestes a tirar isso de nós. Se Syfer cumprisse suas ideias sádicas, teria um fim tão cruel quanto o de Helena. Esse pensamento me fez ter calafrios.
A morte da mãe do pequeno Brian ainda pesava em minha mente, vê-la morrer enquanto meu filho gritava, era uma imagem que eu não conseguia apagar da memória. Esse fora um dos motivos que me fizera rever diversas vezes a possibilidade de trazer Brian e Mia para essa vida novamente, eles tinham meu sobrinho para cuidar, e outra criança a caminho, eu jamais me perdoaria se algo acontece a algum dos dois.
- Conseguimos, estamos a meio caminho para... O porto de Nápoles? – Tej fez uma careta confusa. – Isso não é na Itália? O que ela está fazendo lá?
- Faz sentido, uma ditadora sempre busca inspirações. – Hobbs palpitou.
- Vamos atrás dessa vadia de uma vez. – Letty tomou a iniciativa. – Podemos ir com o submarino, trazemos os soldados para cá e vamos direto para o porto, ela não sabe que estamos com mais um veículo. – Sugeriu a morena, concordei. Era uma excelente ideia, saquei o celular e liguei para o “Senhor Ninguém” avisando onde estava o chip, ele viria buscar o cofre e Tej o abriria depois com a ajuda de Ramsey, o mais importante era manter o objeto seguro. Partimos em direção ao fundo do navio onde o submarino estava precariamente ancorado, trouxemos os dois reféns desmaiados e os deixamos na cabine de comando apoiados em cadeiras.
Assim que entramos no apertado meio de transporte, ouvi as portas se fecharem e logo estávamos embaixo da água.
- Vamos salvá-la e acabar de vez com essa palhaçada. – Brian assegurou. – Teremos todas as respostas assim que ela estiver conosco. – Sua mão pousou em meu ombro num gesto de irmandade que eu compreendia e agradecia. Com aceno de cabeça me mantive em silêncio enquanto o objeto se deslocava com rapidez pela água.
Era hora de colocar os pingos nos is.

♔ ♛



Capítulo 3 - Que Comecem as Chamas

No matter how long
I believe that there's hope
Buried beneath it all and
Hiding beneath it all and
Growing beneath it all


Eu já estava farta de toda aquela palhaçada, os capangas de Syfer já haviam me batido mais do que eu apanhara em toda minha vida. Mas o que realmente me preocupava não era dor no corpo, mas o que ela estava planejando com tudo aquilo. No pouco tempo em que estivera ali, pude ouvir algumas das coisas que aquela maluca fora capaz de fazer com Toretto e aos nossos amigos, por que ainda que eles desconfiassem de mim, eu ainda os considerava minha família. Uma vez família, sempre família.
Tentei puxar os punhos mais uma vez, e novamente senti as cordas repuxarem meus braços cortando-os ainda mais.
- Não adianta, mocinha. – Um homem alto e careca surgiu em minha frente, olhos claros e uma expressão fechada ele parecia concentrado em algo que não estava a vista. – Syfer não facilitaria pra você, ainda mais com o acordo que tem. – Arregalei os olhos, como ele poderia saber disso? Ela andava falando sobre isso com seus comparsas? – Não, querida, eu não trabalho pra Syfer. – Ele sacou um estilete e cortou uma das cortas. – Eu vim para acabar com ela. – Após piscar para mim ele cortou a outra e eu estava livre. – Vamos sair daqui, a festa já vai começar.
- Festa? Que festa? – Não houve resposta, ele já havia sumido. Estávamos em uma fábrica esquisita na rua do porto de Nápoles, ela havia estabelecido um forte aqui, sua passagem pela Grécia foi apenas para despistar seus inimigos. Segui por um extenso corredor que levaria a sala de comando e a de reuniões, onde ela provavelmente estaria.
Os sons de luta me fizeram acelerar o passo, cheguei à sala de reunião e vi uma verdadeira batalha entre a equipe de Toretto e os capangas de Syfer. Olhei ao redor e não a encontrei, dei meia volta e corri para sala fechada que havia passado mais cedo ao ser carregada para cá. Conhecia bem aquele prédio, fora ali que fizéramos o acordo, e seria ali que eu daria fim a tudo. Tomei distância e corri em direção a porta, atirei meu corpo contra a mesma que atingiu o chão com estrondo.
A hacker, que digitava furiosamente num computador altamente tecnológico, se assustou e virou-se para mim com uma pistola em punhos. Desviei dos tiros, entrando embaixo da grande mesa de madeira que ocupava o centro da sala, me aproximei de onde ela estava e a puxei para baixo, atingi-a na altura da fonte e a vi perder o sentidos momentaneamente e largar a arma, aproveitei para atingi-la mais algumas vezes antes de ter o corpo jogado para trás. Seu joelho acertou meu rosto e eu senti o sangue escorrer pelas bochechas onde havia um corte, urrei com a dor e me coloquei de pé num salto, ela desferiu uma sequência de golpes entre socos e chutes bem cronometrados, e eu me ocupei em defender. No momento em que ela girou para me acertar num golpe fatal, eu abaixei e a puxei mais uma vez pela perna, deferi dois ganchos seguidos e quando ela acertou o chão aproveitei para dar o último golpe fazendo-a desmaiar.
Neste exato momento, Dom passou pela porta, o rosto suado e o supercílio ferido, a blusa manchada com sangue e fuligem, seus olhos foram para hacker e em seguida para meu rosto, em uma rápida avaliação de meu estado atual, acenei com a cabeça indicando que estava tudo bem quando o vi arregalar os olhos e gritar, virei-me rapidamente a tempo de ver e ouvir o estouro da bala deixando o cano da arma em minha direção, graças a tontura de Syfer, o tiro passou de raspão por meu braço. Arfei com o susto e a dor, e sem pensar, chutei sua mão para derrubar o revólver, ela lutou para pegar a arma, mas eu corri e a peguei primeiro, mirei em seu rosto e quando ela sorriu e sussurrou um “covarde”, meu dedo pressionou o gatilho. O estampido tampou minha audição por alguns segundos enquanto minha visão embaçava com o sangue que escorria dela, o sorriso macabro ainda no rosto pálido. Ela perdera, mas não sem antes destruir minha vida.
This is how we'll dance when
When they try to take us down
This is how we'll sing, oh
This is how we'll stand when
When they burn our houses down
This is what will be, oh, glory



Senti as mãos de Toretto em meus braços, erguendo-me do chão e me afastando daquela cena horrenda. Senti meu rosto sendo pressionado sobre seu peito, meu próprio coração acompanhou o ritmo do seu, e só então me permiti cair.


Reaching as I sink down into light (into light)
Reaching as I sink down into light (into light)



♔ ♛

Dominc Toretto
Algum lugar na República Dominicana, casa dos Toretto.
estava apagada há mais de 10 horas, segundo Shaw, que para meu completo espanto, tinha treinamento médico na época em que serviu no exército, ela estava em estado de choque com tudo o que acontecera. As horas de tortura misturadas a todo lado emocional e mais algumas coisas que não compreendi a deixaram completamente exausta. Nada podia ser feito, a não ser esperar.
Nesse meio tempo, conversei com Mia e Brian, que decidiram ficar por aqui até que acordasse e pudesse explicar o que havia acontecido. Letty e eu já havíamos conversado também, sabíamos que não havia qualquer chance de continuarmos o quer que tivéssemos tido. A verdade é que nosso quase relacionamento durou apenas dois meses, mas nossa amizade era de anos, não queríamos jogar fora algo tão antigo. Ela era minha melhor amiga, e continuaria assim.
Ouvi vozes vindas do corredor e levantei do sofá para saber o que se passava, pela soleira da porta, surgiu, com os cabelos molhados e uma camiseta que caberia três dela. Os olhos sempre tão brilhantes me mediram com atenção, a porta dos fundos bateu e eu soube que Letty, e Mia haviam saído para nos dar privacidade.
- Eu sei que você tem mil motivos pra querer que eu vá embora, mas deixa eu explicar tudo antes de ir. – Foram suas primeiras palavras, não havia chances de negar esse pedido. Indiquei a poltrona em que estivera sentado minutos antes e ela sentou. Apontei para cozinha, e ainda sem dizer nada, fui para o cômodo ao lado, peguei a bandeja que havia preparado para ela, servi o suco em um copo e levei até a mesa de centro. parecia pequena diante daquela situação, mas vê-la ali, sentada observando o noticiário era como se sempre tivesse pertencido aquele lugar.
Talvez realmente pertencesse.
- A Mia me ajudou a preparar isso pra você, achamos que teria fome depois de 10 horas apagada. – Ela assentiu e se esticou para pegar a maçã que havia ali, mordeu e eu esperei. A ansiedade já havia ido e voltado tantas vezes que não sabia mais o que fazer, agradeci a Deus por minha irmã cuidar do pequeno Marcos durante esse tempo.
- Há quatro anos Syfer me encontrou num café em Londres, quando fui ver aquele leilão de carros que planejávamos roubar. – Ela começou a falar, eu assenti indicando que ela prosseguisse. – Ela tinha vídeos seus, de Mia, Brian e todos os nossos amigos. Ela sabia seus nomes, endereços, profissões, e o pior... De nossos passados. – Vi a maçã parcialmente mordida ser depositada sobre a bandeja mais uma vez. – Quando perguntei o que ela queria, tudo o que tive como resposta foi um vídeo com instruções. Syfer queria os códigos nucleares que o presidente da Rússia havia levado para um cofre na Espanha durante uma reunião de Chefes de Estado, eu não imaginava o que ela poderia fazer com aquilo, mas para proteger vocês, eu concordei. – Engoli em seco, havíamos provado de perto o que a hacker fizera ao ter os artefatos em mãos. – Na noite da corrida que participamos, aquela que sofri o acidente e sumi... Fui para Espanha, me infiltrei e consegui cinco dos sete que ela queria, mas a polícia começou a me perseguir e eu tive que fingir minha morte mais uma vez. Ela tinha tudo o que queria e deveria deixá-los em paz, mas não deu certo.
Permaneci em silêncio enquanto ouvia o relato de tudo.
- Dom, eu nunca tive a intenção de ferir ninguém... – Ela não conseguia mais falar, e eu estava completamente perdido.
A mulher que eu jurava que havia morrido voltou pra minha vida viva, mudada e cheias de segredos. E cada um deles era para proteger a minha vida e da minha família.
- Eu não vou dizer que tudo o que aconteceu pode ser esquecido, . – Ela assentiu e suspirou colocando-se de pé, me aproximei para poder pegar suas em mãos. – Mas você é família, e a gente nunca deixa a família, mesmo que ela deixe a gente. – Vi a primeira lágrima cair, sendo seguida por outras, limpei seu rosto e a puxei para mais perto. – Mia e eu conversamos, não é segredo pra ninguém que eu te amo, e você ter voltado para cá é uma bênção. Eu te amo, e tenho certeza de que o pequeno Brian vai te amar também.
Ela sorriu, como se soubesse que falávamos dele, o bebê gritou do quarto. Sorrimos e nos encaminhamos para lá.
- Brian Marcos Toretto, essa é a , a nossa nova moradora e a mulher da minha vida.
O sorriso que ela abriu refletiu o meu. A família estava completa, agora, nada nos separaria.

This is how we'll dance when
When they try to take us down
This is how we'll sing, oh
This is how we'll stand when
When they burn our houses down
This is what will be, oh, glory





Fim.



Nota da autora: Gente do céu, nos últimos minutos, finalizei. Peço perdão pelos erros, espero de coração que tenham gostado. Obrigada por me permitirem fazer parte desse projeto lindo. Nos vemos em breve.
Xx Mary.



Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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