Última atualização: 12/06/2015

Capítulo 1

O carro parou em meio à multidão inflamada, sorriu ao meu lado, num claro misto de felicidade e nervosismo. Estendi minha mão e esperei que ela a segurasse. Queria mostrar que estava ali para ela, para ajudá-la a atravessar aquele momento desconhecido e ser seu ajudante no caminho até o sucesso. Porque esse era o seu destino, sempre foi. Ela apertou minha mão, pegando para si a força necessária para sair e brilhar. Seu sorriso se alargou e ela sussurrou um “vamos” ainda meio incerta. Toquei sua mão com meus lábios e lhe respondi com um aceno de cabeça. Sai primeiro, dando a volta no carro para ajuda-la a sair, num singelo gesto de gentileza. Alguns flashs foram desperdiçados comigo, mas isso fazia parte do pacote. Abri a porta do carro e estendi a mão novamente, trazendo para fora e fazendo os fotógrafos irem ao delírio. Seu rosto de tornou vermelho e ela parecia não acreditar que aquilo estava realmente acontecendo. Ela ajeitou o vestido e se preparou para entrar no tapete vermelho, mas, antes de qualquer coisa, ela fez questão se certificar que eu estava ao seu lado, gesticulando para que eu me aproximasse. E assim eu fiz. Suas mãos procuraram as minhas e dessa forma, de mãos dadas, adentramos no red carpet.

Captivated by the way you look tonight
The light is dancing in your eyes
Your sweet eyes


Anos antes.

- , Tá me ouvindo? – sua voz soava apressada e nervosa do outro lado da linha. Incorporei seu estado de espírito, também ficando apreensivo apenas ouvindo essa frase. Havia vozes e um barulho absurdo de trânsito ao fundo, mas eu conseguia ouvir sua embargada.
- Tô, o que aconteceu, você conseguiu? – perguntei, apressado. Às vezes achava que eu estava mais nervoso do que ela, a minha apreensão era quase palpável.
- Eu consegui o papel. – sua voz soou chorosa, como se ela não fosse conseguir segurar as lágrimas. – Eu consegui o papel! – repetiu, um pouco mais alto. Eram tantas emoções distintas numa única frase, que era praticamente impossível enumerar cada uma.
- Eu sabia que você ia conseguir. – falei por fim, ouvindo um barulho que acreditei ser um choro preso. – Eu sempre soube que o seu destino era o mundo, meu bem. – confessei, com uma pontinha de dor no coração, como se o próprio mundo pudesse tirá-la de mim. – Eu queria estar com você agora, te abraçar forte e comemorar esse momento com você.
- Você está comigo, . Você tá sempre comigo. – murmurou, quase num sussurro.
- Ok, então feche os olhos e imagine que eu estou ao seu lado, passando os braços pelos seus ombros e te trazendo para perto. Agora eu estou tocando sua testa com os meus lábios e te prendendo comigo, de forma que nunca soltarei, nem mesmo para que você grave o seu seriado. – ela riu baixo, me fazendo sorri aqui, do outro da linha e o país.
- Eu te amo. – disse, com a saudade transbordando em suas palavras.
- Também te amo. Muito. – respondi, ouvindo-a suspirar do outro lado da linha antes de desligar.


We'll go to Hollywood make you a movie star
I want the world to know how beautiful you are


Sete anos antes

- Vem, . – gritava, enquanto corria enlouquecidamente pelos campos de morango. Ouvíamos os trabalhadores dizendo que estragaríamos a plantação, mas ela não parecia se importar muito. O dia estava quente e o sol deixava uma sensação de ardência na pele. Corri até ela, vendo que parou um pouco mais à frente, perto de uma árvore que deixava uma grande e convidativa sombra no solo. Ela se deitou e eu não tardei a acompanhá-la. ainda estava ofegante e sua respiração, acelerada. Assim que eu deitei ao seu lado, ela virou em minha direção e sorriu, como se quisesse me contar uma coisa. Esperei até que ela estivesse pronta, mesmo sendo consumido internamente pela curiosidade. Ela olhou em meus olhos e finalmente disse:
- Eu me inscrevi para a Escola de Artes Cênicas da capital.
- Eu já sabia, você me contou semanas atrás, quanto enviou os formulários.
- Eu fui aceita. – pelo jeito que me olhava, eu sabia exatamente o que se passava na cabeça dela. teria que ir embora.
- Isso é maravilhoso. – tentei parecer animado, por mais que a animação fosse apenas a menor parte do que eu era feito naquele momento.
- Eu não quero ficar sem você. – confessou, suspirando pesadamente em seguida.
- Você não vai, nós vamos dar um jeito.


We ran past strawberry fields and smelt the summer time
When it gets dark I'll hold your body close to mine


Depois que se mudou para a capital, nós ficamos cerca de um ano sem nos ver regularmente. Ela estudava de manhã e trabalhava de tarde, porque precisava de dinheiro para se manter. Sempre que podia, e quando meu pai me emprestava o carro, eu dirigia de Boyce até Baton Rouge e passava dois dias maravilhosos ao lado dela. Dois dias seguidos de vários outros de tristeza. Eu tinha prometido que não a deixaria e também não queria, mas nós dois sabíamos que estava difícil continuar daquela forma. Era muita saudade, muitas dificuldades para fazer dar certo. Então, num fim de semana que eu fui vê-la, combinamos a primeira das muitas loucuras que faríamos juntos: da próxima vez que eu viesse até Baton Rouge para vê-la, eu ficaria. Era insano. Era impensado. Mas mesmo assim eu fui. E fiquei.
Os primeiros meses foram bem complicados, o dinheiro que ela ganhava não era o bastante para todas as despesas e contas da casa. Eu tentava a todo custo arrumar um trabalho, mas ninguém estava interessado num rapaz de vinte anos, com apenas o ensino médio e zero de experiência. Empurramos com a barriga, aguentamos até o nosso limite. Confesso que pensei mil vezes em voltar pra casa, mas a ideia ia embora com a mesma velocidade que surgia. Eu não poderia e nem iria deixá-la. Até que consegui um trabalho numa pequena e suja loja mecânica, onde consertavam carros antigos. Não era o melhor salário do mundo, mas não teríamos que vender o almoço para comprar o jantar.
Quando tudo se acalmou um pouco, decidi estudar à noite, depois do trabalho. Da forma que eu estava, ficaria trabalhando como mecânico e com as mãos encardidas de graxa para sempre. Só que esse plano de melhorar o nosso futuro, prejudicou um pouco o nosso presente. Enquanto eu estava trabalhando, estudava e trabalhava também. E na hora que eu estava na faculdade, estava em casa. Não tínhamos muito tempo juntos e nenhum dos dois estava satisfeito com isso, mas só de pensar no que cada um estava abrindo mão e o quanto lutávamos um pelo outro, qualquer pensamento ruim era deixado de lado. E agora nós temos certeza que ficarmos juntos foi a melhor escolha. Choramos a primeira recusa dela. Comemoramos o primeiro papel. Gastamos o primeiro salário. Tornamos a chorar com uma nova recusa. Nossa vida era uma eterna montanha russa, muito altos e baixos. Muitas vezes mais baixos do que altos. Mas a vida seguia, o mundo girava e tudo mudava, menos quem estava ao meu lado.
Tempos depois, ela conseguiu uma audição para gravar um seriado novo em Los Angeles, na Califórnia, e mal acreditava que sairia da Lousiana pela primeira vez na sua vida. Aquela ligação mudou nossa vida para sempre. Ela não apenas conseguiu o papel, como teria que se mudar de cidade. Não gosto de pensar muito que levo minha vida apenas me adequando a dela, como se não tivesse escolha. Porque eu tenho, sempre tive. E sempre escolhi acompanhá-la. Quando lhe disse que ela não ficaria sem mim, eu não estava brincando. Por isso que não pensei duas vezes antes de encaixotar todas as poucas coisas que tínhamos e voamos pelo país. Éramos dois jovens de vinte e cinco anos, ela pronta para ganhar o mundo e eu pronto para acompanhá-la.
Dessa vez, demorei um pouco menos para conseguir um emprego. Meu diploma de administração ajudou a acelerar um pouco todo o processo. Então enquanto ela estava envolvida em suas novidades, eu fazia o meu trabalho e a esperava todas as noites, para amá-la da forma que ela merecia e que eu precisava.


Times like these we'll never forget
Staying out to watch the sunset
I'm glad I shared this with you


Essa era a pré-estreia do primeiro filme da onde ela teria um papel de destaque. A menina saída do interior da Louisiana estava prestes a ganhar o mundo e brilhar mais que todas as estrelas do céu. Seu vestido azul cintilava conforme ela se movia e os flashs eram disparados em sua direção, fazendo com que era realmente parecesse uma estrela, encantando tudo e todos com sua graça e espalhando sua luz a todos ao redor.
Chegando na parte onde os fotógrafos realmente se agrupavam, beijei rapidamente sua mão e me afastei, deixando que ela tivesse o seu momento. Seu sorriso era natural e ela estava tão feliz, que tenho certeza que todos ao seu redor estavam sendo contagiados. Era como se o seu sorriso fosse contagioso. Bem, pelo menos era assim que funcionava comigo.
Seu corpo girou na minha direção e ela pediu que eu me aproximasse. Tentei negar, mas ela insistiu de forma que eu sabia que ela não desistiria. Caminhei contrariado até ela, que me abraçou no exato instante que fiquei ao seu alcance. Passei um dos braços pela sua cintura e tentei parecer confortável, o que era realmente difícil.
- Eu não sei o que fazer. – murmurei, tentando não mexer muito os lábios.
- Olhe para frente e sorria, eu também não sei o que fazer. – respondeu, voltando a manter o sorriso nos lábios.
- Por que você quer que eu fique aqui, é o seu dia. – falei baixo, fazendo com que ela me olhasse.
- Porque eu não estaria aqui se não fosse por você. – ela disse, selando nossos lábios por apenas alguns segundos.
E naquele momento eu vi que aquela conquista não era apenas dela. Era nossa. Nós compartilhávamos tudo na vida. E eu esperava que fosse assim para sempre.

There are no secrets to be told
Nothing we don't already know
We've got no fears of growing old
We've got no worries in the world


Fim.


Nota da autora:
Aff, que música linda! Sou - mais - apaixonada por ela desde o Z Festival, mas sei que não consegui fazer um excelente trabalho, mas não me xinguem. HAHA
Beijo da That.




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