Capítulo Único.
Andava de um lado para o outro pela sala de nossa casa — que no momento era apenas minha casa —, perdido em meus próprios pensamentos e me questionando como poderia ser tão estúpido. Para cada lado que ia, era acompanhado por Panqueca, a nossa westie e a cada gemido frustrado que dava, a cadelinha me encarava assustada, desviando o olhar depois.
era minha vida e eu como o estúpido que era, estraguei com tudo, desde o nosso relacionamento, toda cumplicidade, até a fé que ela tinha em mim como ser humano.
Eu não sabia mais o que fazer e só me restava a certeza de que eu faria alguma coisa para voltar com ela, eu tinha que fazer, não importava o que fosse, mas iria ter comigo e seria o namorado, noivo, cúmplice e marido excelente que ela merecia.
Você é o meu sol, minha primeira e única no mundo.
Nosso namoro durou mais tempo do que se era esperado, sete anos, era inacreditável, ainda mais para uma pessoa imbecil como eu sempre fui, desde nosso primeiro beijo, até o estalar ardido dos dedos de em meu rosto alguns anos atrás, estávamos juntos há quatro anos na época e eu havia sido o idiota de sempre.
Deveria ter acordado ali, nós ainda não morávamos juntos e passou uma semana sem falar comigo antes de voltarmos, quando nos encontramos em uma cafeteria próxima a faculdade que ambos frequentávamos, a convenci de me escutar e fiz juras das quais havia cumprido apenas um por cento tempos depois.
Eu era ridículo, sem duvidas já havia percebido o lixo que eu era, afinal, sempre que ela me pedia para ver um filme qualquer, eu reclamava e a convencia a irmos para um bar ficarmos com nossos amigos, voltava tão bêbado que não tinha capacidade sequer de abrir a porta de minha casa.
Minhas vontades em primeiro lugar, até que o irmão dela sofreu um acidente e faleceu, completariam quatro meses em breve, eu como sempre eu preferi dar prioridade a minhas coisas, havia sumido para ir para praia um dia antes com alguns amigos do trabalho e desliguei meu celular, aproveitando o tempo incomunicável para ser solteiro mais uma vez, acabou que sumi por uma semana inteira, quando escutei a mensagem em minha caixa postal no dia que voltaríamos, sabia que era tarde demais.
Encontrei saindo do trabalho, tentei inventar uma desculpa qualquer, inventei uma viagem de negócios de última hora, mil e umas desculpas para ser cortado por sua voz chorosa me pedindo para parar.
“Você está cheirando álcool e essa marca de batom no seu colarinho está explicando o que estava fazendo durante essa semana muito bem!”
Ela se cansou e não era para menos, o pé na minha bunda foi muito bem dado.
— . — disse já atravessando o hall para chegar até a sala.
Ele havia entrado em casa como sempre, sem avisar que estava vindo, nem batendo a porta, já que estava com a chave de que ela o entregou, porque não queria me ver e ele não me devolveu.
— Vamos sair, tenho ingressos para clássico de hoje, ou você vai continuar a curtir sua depressão sem ?! — questionou se jogando no sofá e começando a brincar com Panqueca.
— Você tem conversado com ela. — afirmei — Você é o melhor amigo dela.
Então meu amigo respirou fundo, ainda sem me encarar, soltou:
— saiu com um cara ontem, nos encontramos em um restaurante perto do escritório que estou estagiando.
— Como é?
— Ah, ela quer a Panqueca de volta também. — completou.
— Namoramos quase oito anos, estou aqui sofrendo e ela está já com outro? — indaguei indignado — E a Panqueca é minha!
— Ela não estava com ele, não de mãos datas, mas era nítido o interesse dele.
— Você não está ajudando!
apenas riu, ele não diria mais nada depois de termos discutido e ele tomado parte da minha mulher, jogando na minha cara que era questão de tempo se cansar das minhas merdas e que se eu estava com ela, deveria a respeitar e não sair com eles achando que tinha as mesmas condições, afinal, eu era o único que namorava no grupo. O outro concentrou sua atenção em Panqueca, mas meus nervos estavam fervendo, eu tinha que agir rápido.
— Vamos sair, deixa ela viver a vida dela e eu vou viver a minha! — argumentei e subi para o quarto.
Se ela podia sair com outros, eu também poderia e não me sentiria culpado por isso, agora eu realmente era solteiro e aproveitaria essa nova fase. Não demorei nada no banho, muito menos me trocando ou arrumando meus cabelos, calcei um tênis que combinasse e arfei emburrado.
Aquela blusa era um presente de no meu aniversário do ano passado, ela sempre dizia que gostava de me ver com camiseta branca e jeans. Troquei apenas a blusa por uma que havia sido eu mesmo a comprar e agora estava tudo certo para sair, esqueceria de uma vez por todas seu nome e esse incomodo de não a ter mais como minha.
Se eu agia como solteiro estando com , agora poderia ser um sem culpa e sem cobranças.
Estava descendo as escadas quando ouvi meu celular tocando na sala e em seguida, o toque parando e a voz de o atendendo sem cerimônia.
— , gatinha. Tudo bem? — ele a cumprimentou enquanto eu chegava ao cômodo e deixava minha presença ser notada — O está aqui sim, vou passar para ele...
Fiz que não com um aceno frenético.
— Atende logo. — sussurrou tampando com uma das mãos a base do aparelho.
Neguei novamente.
— Deixa de ser criança, para fazer as merdas e depois dar as desculpas ridículas que inventava você era homem o bastante. — odiava a sinceridade do outro, mas ele não entendia que se eu falasse com , desistiria do meu plano de a esquecer finalmente, de seguir em frente.
O ditado “só dá valor depois que perde” era completamente valido em meu caso, porque somente depois que percebi que realmente havia terminado comigo, que não importava o que eu dissesse ou prometesse que ela não voltaria atrás com sua decisão, foi que percebi que estava fazendo pro merecer o seu desprezo.
Irônico, porque eu não havia me tocado disso antes de a deixar lidar sozinha durante o momento mais complicado de sua vida.
— Alô. — respondi por fim.
Sai da sala, caminhando para cozinha, precisava me distrair para não me afetar pelo simples som de sua voz.
— , oi.
— Tudo bem, ? — perguntei tentado controlar minha ansiedade.
— Tudo ótimo. Então, eu esqueci alguns livros no quarto, será que posso passar ai para pegar daqui a pouco?
Ela foi direta ao assunto e me senti mal, ela antes enrolava para falar o que queria e alegava que gostava de falar comigo e ouvir minha voz.
— Estou saindo com o agora.
Olhei para a porta e meu amigo estava fazendo alguns gestos estranhos, o encarei confuso e acredito que queria que eu falasse alo além de que estava tocando minha vida para frente. apontou para o relógio.
— Posso esperar um pouco, se não for demorar muito. — falei e o outro fez um sinal de positivo, continuando com a mímica — Nós temos ingressos para uma partida e estamos em cima da hora.
assentiu orgulhoso.
— Oh, claro, não vou atrasar vocês, em uns dez minutos eu consigo chegar ai, se não tiver nada no caminho, pode ser? Eu preciso muito desses livros. — avisou e eu podia jurar que seus lábios estavam sendo mordidos levemente, como era sempre que esperava por uma resposta positiva para algo que queria.
— Dez minutos?
Encarei que recomeçou com sua forma pouco eficaz de me dar uma resposta em silencio. Primeiro um gesto para o relógio, depois fez uma cara de impaciente, fez uma volta com os dedos e depois passou os mesmos pelo pescoço.
— Se for demorar mais que isso, eu não vou poder esperar, porque... Vamos dar uma volta para assassinar alguém?! — falei a última parte mais baixo.
— O que? — e gritaram juntos.
deu uma volta no lugar como se segurasse um volante.
— Temos que ir logo, se não o retorno congestiona e perdemos o jogo! — adivinhei e meu amigo assentiu, soltando o ar aliviado.
— Prometo que não vou te atrasar. — ela garantiu e eu sabia que não iria, tinha o costume de cumprir suas promessas, bem ao contrario de mim.
— Tudo bem, estou esperando.
Encerramos a chamada e senti minhas pernas tremerem, me apoiei na bancada da mesa e respirei fundo algumas muitas vezes seguidas. Ouvi perguntar alguma coisa, mas não prestei atenção, fazia alguns meses que não via pessoalmente, minha última tentativa de conversar com ela fora um mês depois que terminamos, Yoongi estava com ela e quase me expulsou da frente de a socos e pontapés, mas isso doeria menos que o olhar decepcionado da mulher em minha direção.
— ! Cara, você está bem? — a voz de soou alta e ele tocou uma de meus ombros.
— Vou ficar, só que faz tempo...
— Eu sei, quer que eu espere lá fora?
— Não, pode ficar, acho que vai ser melhor assim, acho que ela não se sente bem ainda para ficar sozinha comigo. — revelei — Também acho que não estou bem para isso, iria tentar alguma coisa, talvez.
— Você é um babaca, mas não chega a ser tanto.
me puxou para sala e não demorou nada para que escutássemos o som do motor do carro de , pelo menos isso ela não havia trocado como havia feito com a maioria de suas coisas.
Fui empurrado para porta assim que a campainha soou por toda a casa, não queria abrir, resisti até o ultimo segundo, mas com um amigo que era mais forte e mais alto que eu, foi difícil, ele saiu correndo assim que girei a chave e puxei a maçaneta.
Respirei mais forte que deveria assim que parou de encarar os sapatos e seus olhos se fixaram nos meus. Ela estava linda, linda demais e eu estava me sentindo mais idiota ainda por ter tido a capacidade de deixar uma mulher dessas escapar!
— Oi. — ela disse baixinho.
— Oi, entra.
Dei passagem para que entrasse e seu perfume me fez titubear apoiado com a mão ainda segurando a porta.
A mulher passou para sala e cumprimentou com muito mais euforia, parecia que ele dividia o tempo ficando uma semana ao lado de e outra semana ao meu lado, sabia que fora complicado para nossos amigos, porque foram postos contra parede, parte por ela que falou que todos sabiam de minhas escapadas e concordaram em deixar que fizesse papel de ridículo.
Me coloquei em seu lugar só depois de toda merda feita, eu não tinha coragem de os encarar mais e só mantive contato com quem veio me procurar, o mesmo aconteceu com que cortou quaisquer tipos de amizades, porque segundo a mesma, que deu um show para quem quisesse ver, que amigos como aqueles, ela não precisava.
Realmente, fora o único que era próximo a nós dois que permaneceu, porque fora ele que a contou o que eu havia feito ao longo de tantos anos e fora ele que fez meu papel quando seu irmão morreu, a confortando de minuto em minuto e dizendo que realmente eu não a merecia. Eu deveria me preocupar seriamente se não soubesse cem por cento o quanto torcia para que eu me acertasse com , bem como a nossa amizade e a dele com , estavam acima de qualquer coisa no universo.
— Bem, não vou atrasar vocês dois mais do que já devo ter atrasado. — se pronunciou assim que a libertou do seu abraço de urso, se abaixando para pegar Panqueca no colo, já que a cadelinha pulava em suas pernas e clamava por sua atenção com resmungos e latidos — Oi, meu bebezinho.
— Vem, devem estar no quarto. — disse apontando para escada.
subiu as escadas com Panqueca em seu colo e ter ela em casa, nossa casa, era nostálgico e pesava em minha consciência por ter estragado tudo o que tínhamos.
Nosso quarto continuava da forma que ela o tinha deixado, não tinha coragem de dormir mais ali, não sem a companhia dela, ocupava no momento um quarto e hospedes e quando superasse sua falta, talvez transformasse o cômodo em uma biblioteca ou salão de jogos, mas agora ali se manteria o nosso quarto, meu e dele, não somente meu.
Panqueca foi posta no chão quando alcançou a estante que ia do chão ao teto, a mulher passou por cada curva das capas enfileiradas e tirou apenas cinco das poucas dezenas que havia ali.
— Bem, são apenas esses. — me informou, parado onde estava.
— Certo.
— Tenho que vir buscar os outros dias, me esqueci que tinha tantos. — sorriu minimamente.
— Eles não precisam sair daí se...
— , por favor, não. — fui interrompido — Não vai dar certo mais entre a gente, vamos levar numa boa sem mais discussões.
— Nós ainda precisamos conversar e você sabe disso, . — disse me aproximando com cautela, até que estava próximo de , o suficiente para sentir seu calor próprio.
— Não, .
— Por favor, eu te amo e sei que você ainda me ama também.
— Uma pena que meu amor não era o suficiente para você como a migalha que você me dava era para mim. — soltou, se afastando.
— Eu mudei, .
— Mas agora o nosso tempo já passou, não dá mais, , tente ser bom para a próxima, porque eu não tenho mais tempo e mentalidade para me dar por inteira e receber apenas parcela.
— , o que tivemos não pode ser jogado fora assim. — disse
esfregou os olhos com a mão que tinha livre, claramente cansada e acredito que adiou esse momento por muito tempo, justamente para não termos essa conversa.
— Nós podemos dar certo...
— Não podemos! — soltou em um tom de voz mais alto — Eu não consigo mais confiar em você, . Entende isso de uma vez, o que nós tínhamos podia ser lindo para você, mas para mim era um inferno, esperava o dia que eu ia ser o bastante para você, porque eu te amava, ainda amo, mas não posso mais aceitar, porque eu tinha que lavar suas roupas e sentir o perfume vagabundo de qualquer puta que você dormia quando saía, eu tinha que esfregar as marcas de batom barato presas em suas camisetas.
chegou em segundos onde estávamos, pelo canto dos olhos vi que esperava alguma coisa mais séria acontecer para intervir, sabíamos que precisava falar, porque nunca tínhamos tido aquela conversa e mesmo que agora apenas gritasse comigo, era uma forma de eu saber diretamente como ela se sentia, entender por suas palavras e conseguir absorver o que ela queria para que eu pudesse mudar.
— Apesar de todo sentimento que ainda tenho por você, não dá mais, . Eu não posso me abaixar assim e ficar a mercê do que você quer, aceitar todas as merdas que você faz e ser a namorada otária. — continuou — Meu amor por você estava sendo maior do que o por mim mesma, você estava me destruindo e isso eu não podia mais aceitar.
Todos me dizem que acabou, mas eu não consigo parar
respirou fundo, se recompondo.
— Você consegue ser maravilhoso quando quer e era obvio que não queria ser mais para mim, terminar o nosso namoro foi o melhor para nós dois, porque nem amigos éramos mais. — concluiu.
— ... — chamei e então percebi que estava chorando.
— E vou levar a Panqueca comigo, tudo bem? — assenti, era obvio que ela cuidaria melhor da cadela do que eu que mal sabia cuidar de mim mesmo — Não chora, , está tudo bem, logo você se acostuma com a minha ausência na sua vida...
E ai estava a primeira não verdade que dizia, eu nunca me acostumaria à falta que ela faria na minha vida e não tinha nada no momento que eu pudesse fazer para isso mudar.
Essa noite, foi embora e eu deitei em nossa cama, pela primeira vezem 4 meses, chorando como nunca tinha feito na vida.
ficou do meu lado, como ficou do lado de , ele algumas vezes soltava alguma coisa que fez com ela, onde foram ou uma piada que ela o contou e assim os meses se passaram. E então os anos.
Dois anos desde que havia por fim dado fim em tudo entre nós, um definitivo que me fez entender que ela não voltaria para mim.
Estava em um bar tailandês que tinha aberto recentemente com e , os dois conversavam sobre um tipo de bebida exótica que viam no cardápio e eu mexia no celular, esperando uma mensagem de minha irmã para que eu fosse a buscar.
— Vamos pedir esse. — disse empolgado olhando para o garçom que ia com uma bebida que parecia cerveja — É o mais seguro, porque parece familiar.
Concordamos com ele e no tempo que escolhíamos os três o que iríamos comer, mandou mensagem avisando que havia chego na estação de metrô que havia combinado com ela e que era próxima de onde estávamos e realmente era perto, tanto que sequer havia necessidade de pegar o carro até lá.
— E ai, . — cumprimentei assim que me aproximei e ela pulou em meu pescoço no instante seguinte.
— , me traz para morar com você, pelo amor. Sua mãe vai me deixar louca, nem parece que sou mais velha que você! — resmungou me apertando — Ai, que saudade.
Voltei para o restaurante com ao meu lado ainda a tempo de o que fosse que os outros dois tivessem pedido ainda não ter chego, aproveitei o tempo para apresentar para , já era quase da família e conhecia todos meus parentes há muito tempo.
A conversa era tranquila, desde que minha mãe fora diagnosticada com Alzheimer, se mudou da cidade para o litoral para cuidar da senhora, com ela tinha mais flexibilidade de horário que eu, ela mesma optou por ser qual de nós dois iria se mudar, mas os estagio não estavam avançados, então os remédios surtiam efeito e minha mãe continuava sendo a mesma em tudo que fazia.
Desconfiamos que havia alguma coisa quando em seu ultimo aniversário ela perguntou que horas iria chegar, porque não gostaria de cortar o bolo sem a presença da nora tão querida. Nos dias que se seguiram, levei a senhora que tinha pouco mais de meia idade para alguns exames e então recebemos um diagnostico, por sorte estava no inicio e poderiam tentar algumas coisas menos agressivas em seu tratamento.
— Acho que estou apaixonado por comida tailandesa. — soltei, comendo mais um camarão.
— Somos dois. — emendou.
Nossa mesa era repleta de gargalhadas, estávamos nos divertindo com histórias do e suas aventuras na cozinha e praticando alguns esportes que precisavam de uma coordenação motora que ia além demais de sua capacidade. Nosso assunto não dava pausa, realmente aquela sexta estava valendo muito mais a pena do que ir para um clube qualquer e ter somente o mesmo de antes, bebidas que já não me deixavam mais bêbado e mulheres que seriam apenas para uma noite.
Estava entretido com uma história que contava de uma aventura de cabular aula no colégio, acabou que ficamos presos no banheiro, sendo que nosso plano original era pular o muro e ir para um PC bang quando a voz de subiu alguns tons.
— Ai céus, ?! — Paralisei no meu lugar, me encarou, claramente buscando qualquer sinal que eu iria desmaiar, acenei para ele que estava tudo bem, ou quase.
Eu realmente não sabia o que fazer como amor que ainda nutria por , mas era ainda pior quando se tratava de minha mãe e minha irmã, as duas eram loucas por minha ex e quando ideia noticia que havíamos rompido, ambas me largaram na cozinha com um “você é um idiota, a era perfeita, além de um anjo para aturar tudo o que faz, ou melhor, não faz por ela” e correram para a sala para telefonarem para a mulher e perguntarem como ela estava, se precisava de alguma coisa.
— Nossa, como você está linda. — disse soltando da cadeira e abraçando a outra.
— Você que está linda, morar na praia te fez muito bem. — respondeu alegre e então se virou para o restante da mesa — Olá, boa noite.
não demorou a se levantar e abraçar a amiga, apresentando para e então a mulher se virou para mim, o sorriso diminuindo em seus lábios.
— Tudo bem, ?
— Tudo ótimo e com você, ?
Então antes que respondesse, foi interrompida por um cara a chamando, mas não era de qualquer maneira, ele emitiu um sonoro e apaixonado “meu bem”, meu estomago deu um pulo e girou.
— Já vou. — respondeu com um aceno de mão — Bem, foi muito bom ver vocês, espero te encontrar mais vezes, como sua mãe está?
— Ela está bem, dando trabalho como sempre, está com pressa também de fazer várias coisas antes da doença avançar para onde não dê mais para se virar sozinha. — informou.
— Está certa, mande um beijo meu para ela.
Então se despediu de todos e somente percebeu que todo meu humor havia ido para o ralo.
— Que simpática e bonita. — soltou.
então acrescentou para o outro que era minha ex, a única com quem tive algo próximo de sério, não demorando para o assunto seguir por um caminho que a muito eu havia deixado de lado e decidido não percorrer mais.
Pedi um minuto para os três que me encararam em um misto de pena e “essa situação está assim por culpa exclusiva sua”, caminhei para o banheiro e lavei meu rosto, mesmo com a água congelante e deixei escorrer um tempo, antes de me recompor e secar com alguns papéis pendurados ao meu lado.
Respirei fundo antes de abrir a porta e marchar pelo corredor estreito, mas minha sorte era surreal, quando eu queria proximidade com , eu nunca tive o prazer em esbarra na mulher sequer na porta da casa dela, agora que estou na tentativa de me reerguendo sem a ter ao meu lado e não precisava de sua presença por perto, trombo com ela e quase vamos ao chão.
— Machucou? — perguntou segurando seu corpo junto ao meu.
— Não...
Certo, já posso soltar , mas sentir sua pele outra vez é confortável, a droga para o dependente, a água para o desidratado, não resisto em correr minhas mãos por um trecho de seus braços e quando por fim, me digo que fui longe demais, sinto meu estomago torcer, então a seguro firme.
— ?
— Estou bem.
Me afastei de seu corpo de uma vez, caminhando decidido para onde meus amigos estão e volto como se nada tivesse acontecido. Eu tenho que superar , a própria já estava com outro, fazendo sua vida e eu me sentindo feliz por ter uma chance se poder a tocar.
Terminamos nossas bebidas entre alguns assuntos aleatórios que puxava e agradeci apor um amigo me conhecer tão bem. Assim que o garçom se aproximou, todos decidiram por uma sobremesa que pudéssemos dividir, ninguém aguentaria um prato do doce que fosse para comer sozinho, estávamos bem satisfeitos.
Sem dúvidas repetiria a dose, estava seriamente cogitando a ideia de levar alguma coisa para comer em casa, já que a dispensa estava vazia e a preguiça de ir ao mercado, estratosférica. Paguei minha conta, aproveitaria a companhia de para irmos ao mercado, seria mais saudável ir com ela e evitar encher meus armários somente com macarrão instantâneo.
Meu estomago pulou mais uma vez.
Talvez fosse mais seguro ir direto para casa, pensei esperando meus amigos pagarem sua parte. Estávamos quase levantando quando se aproximou de nós novamente, mas dessa vez, seu acompanhante ao seu lado.
— Só vim me despedir. — respondeu quando a olhou com a pergunta estampada em seus olhos — Tchau, , se for ficar mais tempo, me liga para sairmos um dia, estou de férias por uma semana.
— Sério? Vou te ligar com toda certeza!
— É só isso, tchau e até mais. — se retirou depois de um sorriso cordial a todos nós.
saiu a nossa frente, esperamos apenas pagar sua parte. Gastamos uns minutos a mais antes de sairmos do interior do restaurante para a rua, fez questão de escrever em um dos post it disponíveis, elogiando tanto o lugar que a senhora do balcão de doces a entregou uma sacolinha cheia de diversas guloseimas.
Saímos rindo quando disse que votaria para escrever um post it também e como era toda vez que via , não foi diferente quando a vi se despedir do homem que a acompanhava com um beijo em sua bochecha, carinhosa, limpou a marca do batom que ficou e então ele saiu andando na direção oposta a sua, que paralisou os passos quando me pegou no flagra a encarando.
Dei um leve aceno que foi retribuído, então a viu também, se aproximando a amiga.
— Está indo para onde? Se está de férias, vamos para alguma boate aproveitar a noite.
— Eu estou indo para casa dormir. — respondeu e riu — Sai de férias hoje, preciso recarregar minhas baterias antes de aguentar ir em uma boate com você.
— Onde você está morando?
— Um apartamento em Namsan, maravilhoso. — se aproximou e respondeu por — Sério, estou procurando um para alugar no mesmo prédio, se não conseguir, vou morar com você, .
— Tenho um quarto vago, quem sabe. — a mulher entrou na brincadeira — Bom, tenho que ir agora.
— Vai como, ? — questionou.
— Taxi, meu carro quebrou ontem, acho que estou destinada a ficar em casa esses dias de férias.
— Ah, , vamos comigo e com o , passamos por Namsan em nosso caminho. — disse praticamente jogando dentro de meu carro.
A mulher sorriu, constrangida, sabia que ela não queria proximidade comigo e eu também preferia evitar, não queria forçar minha convivência com , eu sabia que tinha feito muito mal a ela imaginava que minha presença a machucava, ou a incomodava, porque a dela sem duvidas iria reviver todo o sentimento que ainda tinha guardado, como estava fazendo a cada sorriso tímido e ajeitada na franja.
estava perfeita, só se tronou ainda mais linda com o tempo.
— Está tudo bem, eu pego um taxi, não quero incomodar. — a mulher falou, recusando educadamente, como sempre fora.
— , vamos, não precisa fazer cerimônia porque você e o não estão mais juntos, ele não se importa em te dar uma carona, não é?!
Respondi que não e era a verdade, passaria por Namsan de qualquer forma, só tinha em mente não a ferir mais, ainda que o caminho seria longo e não sabia como interagir cm depois de tanto tempo.
— É ecologicamente mais correto. — falei como se aquele fosse o argumento que faltava.
Vi segurar um sorriso, abaixando a cabeça antes de finalmente me encarar diretamente.
— Se não for incomodo, tudo bem.
Andamos nós três até meu carro depois que nos despedimos de e , entrou atrás do banco do passageiro e foi ao meu lado. Manobrei o veiculo e logo estávamos em absoluto silencio, nenhum assunto durava tanto se era esperado e via ficar sem opções, até que se cansou de tentar ser uma pessoa contida que respeita a privacidade alheia.
— Quem era aquele cara, ? Ele é bonito...
— Um amigo.
— Só amigo? — insistiu sugestiva, me encarando de soslaio e sorrindo, eu segurava o volante com força a espera da resposta de , esta que demorou.
Achei que não responderia mais, até que escutei respirar fundo do banco de trás.
— Só um amigo mesmo, na verdade, nem se eu quisesse aconteceria alguma coisa, Matt é gay.
Meus ombros relaxaram e riu ao meu lado, puxando outro assunto qualquer que não teve como escapar, já que envolvia sua área e se não falasse tanto quanto gostaria, sabia que ouviria cada vez mais perguntas.
— Aquele cara lindo sabe o significado de magenta?! Isso é horrível. — minha irmã disse e eu não fiz força para entender, permanecendo quieto.
— Pois é, uma pena, né? Poderia apresentar ele para você até, vocês dois combinariam. — disse rindo minimente e gargalhou.
— Aposto que sim...
Ao entrarmos na avenida principal em Hongdae, eu suava frio, o assunto entre as duas mulheres fluía e eu não queria interromper, mas dessa vez eu estomago soou mais alto ao ponto das duas voltarem sua atenção para mim.
Minhas bochechas se incendiaram e me remexi incomodado pela atenção das duas em mim em um momento que não era propicio para isso.
— ? — chamou — Está tudo bem?
— Sim!
observou por mais alguns segundos minha irmã preocupada comigo e eu desviando o assunto, talvez meu amor recém declarado a culinária tailandesa teria que ser suspenso. Outro som grotesco saiu de meu estomago e não teve como conter mais um gemido, atraindo a atenção de que, felizmente, ainda me conhecia bem.
— , o que foi que vocês comeram lá?
— que escolheu. — respondi, dando os ombros.
— Como era o prato?
descreveu o prato em mínimos detalhes, lembrei que tirei uma foto para enviarmos para minha mãe, puxei o aparelho do bolso e entreguei para .
— Qual a senha?
— A mesma, seu aniversário. — abri a janela ao meu lado e deixei o vento fresco da noite tomar conta.
Segundo depois, pediu para que eu entrasse em um shopping que havia por ali e então explicou o que estava acontecendo, o prato que eu havia comida era conhecido como Tom Kha Gai, um prato feito com leite de coco e eu tinha alergia, havia dado isso em um exame de anual que havia feito quando estávamos junto, me lembrei de jogando no lixo tudo que tinha leite de coco e com não tinha costume de variar o cardápio, fugindo a regra somente horas atrás, não tinha como ter um conhecimento prévio sobre o que estava acontecendo com meu corpo.
Estacionei em uma vaga na rua mesmo, disse que correria na farmácia para comprar algum antialérgico, enquanto isso, me acompanhava mais devagar, para chegarmos até uma conveniência e eu poder tomar algumas garrafas de água e esperar que parasse de suar como um porco, bem como o remédio que saiu atrás.
— Está sentindo alguma coisa a mais que dor no estomago? — perguntou cautelosa e então encostou as costas da mão em minha testa — Acho que não está com febre.
Vergonha conta como sintoma?!
— Obrigado, pode acontecer comigo caso coma e leite de coco sem saber outra vez? — questionei.
— Sua crise não parece ser grave, mas tem casos que pode causar a morte.
— Isso é mal.
— Isso é muito mal. — Ela corrigiu e então sorri, relaxando e isso foi minha condenação.
Se eu achava que estar suando e o estomago roncando tão alto quanto um motor com escapamento aberto, agora eu sabia o que realmente era sentir vergonha.
Senti minhas calças se molharem, seguido por aquele líquido escorrendo por minhas pernas e vazar para o chão.
Estava a meio caminho de tudo que estava a minha volta, não dava para voltar para meu carro, nem ir para conveniência, me restando apenas o shopping que eu não conseguia ver a entrada por estar com os olhos fixos na poça que se formava em meus pés.
não tinha reação e eu tão pouco, o movimento a nossa volta não era grande para minha sorte, mas ainda assim algumas pessoas passavam, mas não me importava com elas, nunca mais as veria na vida, o problema era , com a boca semi aberta em choque por mim, a mulher da minha vida estava presenciando eu me cagar descontroladamente em público!
— ...
— Vamos para o banheiro.
assentiu rapidamente e me puxou pelo pulo, andei como se não fosse comigo que aquilo estava acontecendo. Ela subiu na escada rolante na minha frente, querendo passar na frente de um senhor que ocupava toda passagem e nos obrigava a parar e esperar o trajeto ser completado somente pelo equipamento, o mesmo instante depois nos encarou e como por solidariedade tampava meu corpo com o seu, impediu que o homem encontrasse a origem do fedor que tomava ao nosso redor.
— Estão sentindo esse cheiro?
— Ai senhor, me desculpa, somos nós. — encarei espantado, seu semblante era sério — Um mendigo nos atacou na rua, quando eu disse que não lhe daria nenhum dinheiro, ele jogou coco na gente.
— Minha nossa!
— Meu amigo aqui que levou a pior, mas estava somente me protegendo.
Concordei com um aceno e meus olhos quase saltando de meu rosto, estava sem palavras e continuaria dessa forma até que fosse restaurado um pingo da minha dignidade.
— Onde esse mundo vai parar, bem, o banheiro fica a esquerda, é o mais próximo que temos daqui. Eu vou ligar para policia reforçar a guarda por aqui. — o velho disse convicto.
— Muito obrigada, avise sim porque nós fomos os primeiros, mas pode acontecer com qualquer um. — disse numa seriedade absurda, ninguém diria que aquela história estranha era completamente inventada na hora.
— Vamos! — puxei a mulher assim que o senhor saiu de nossa frente e foi para o lado oposto ao nosso, nós corremos alguns poucos metros antes de entrar e puxar junto comigo para o banheiro masculino.
Me tranquei na cabine assim que passe pela porta, mas voltei para o lado de no instante seguinte, então vi box por box e assim que me certifiquei que não tinha mais ninguém além de nós dois, entrei novamente em uma cabine e comecei tirar minhas roupas.
— ? — me chamou e eu respondi — Eu tranquei a porta, se quiser sair...
Eu estava morto de vergonha, agora que eu tinha noção maior do estrago, porque até então eu não tive coragem que abaixar meu olhar, estava trincando por dentro e por fora, sentia minhas bochechas ainda mais quentes que antes e no momento eu queria que fosse qualquer outra pessoa ali dentro comigo, menos a mulher que eu sonhava em um dia reconquistar.
— , posso ir comprar uma calça se você quiser, acho melhor do que tentar lavar essa na pia. — ainda me conhecia, sabia que eu estava roxo de vergonha e sem eu pedir, se ofereceu para sair.
Não éramos mais nada para ela estar fazendo tudo isso por mim e pela primeira vez, de verdade, eu me senti envergonhado pelo que fiz a ela, as traições, egoísmos e tratamento, ela deveria ter sido tratada como uma rainha desde nosso primeiro beijo e não quando eu tinha que pedir desculpas para conseguir a trazer de volta para mim, podendo enfim, estar entre suas pernas.
Ouvi a tranca soar duas vezes, provavelmente levara a chave consigo, evitando que mais alguém fosse presenteado com o odor de merda, literalmente, que tomava o ambiente. Eu não tinha o que fazer além de juntar todas minhas roupas que estavam da minha cintura para baixo e jogar no lixo, cara, meu tênis novo talvez fosse o único que seria salvo.
Apoiei meu celular e minha carteira na tampa do sanitário e tentava não sujar o que tinha a minha volta mais do que o necessário.
retornou uns bons minutos depois, eu já tinha ido até a pia e lavado o que podia do meu corpo e agora estava de volta a uma cabine me secando, estava com meus pensamentos quase beirando a achar que a mulher tinha me abandonado ali, mas aquela não seria que eu conhecia, porém agora ela estava na companhia de minha irmã e a segunda fazia questão de me ver ainda mais envergonhado.
A risada de tomava o banheiro enquanto passava a sacola por cima da porta, murmurei um obrigado e então ouvi as duas saindo, mas não antes de perguntar se eu não precisava de uma frauda também.
— Idiota. — resmunguei alto o bastante para que ouvisse.
Apesar de ter encharcando boa parte do chão, ainda não estava limpo o bastante, tentava ficar ao menos aceitável depois de ter jogado a calça suja, bem como minha cueca e meias no lixo. Gastei quase que o rolo inteiro de papel para me secar e tirar os vestígios de coco que via ainda em minha pele, abri a sacola que havia me entregue para puxar a calça e me surpreendi com um pacote de lenços umedecidos, uma cueca, meias e um chinelo.
Me limpei de uma forma mais decente, aliviado, e me troquei coma roupa que havia escolhido, lavei meu tênis como pude na pia e quando achei que estava razoável para aguentar chegar até em casa e não ter o fedor impregnado no tecido, os coloquei dentro da sacola que tinham as compras de .
Me aproximei da porta do banheiro e antes de tocar na maçaneta para sair daquele lugar empesteado, escutei e conversando, recuei o toque quando escutei meu nome surgir e esperei conseguir ouvir mais do assunto.
— É obvio assim que eu ainda gosto dele? — ouvi a voz de sair de forma leve — Eu me importo com o , me preocupo com ele, mas estávamos em páginas diferentes...
— Agora você acha que podem estar no mesmo capítulo?
— Sinceramente, , eu acho que não estamos nem no mesmo livro mais. — senti um aperto em meu peito — E nem sei se gostaria de estar, porque posso avançar a leitura e ele continuar preso em um capítulo atrasado.
Foram poucas as vezes que sai com alguma outra mulher depois que terminou comigo e nenhuma era tão bom quanto antes ou melhores que , não que alguma antes fosse, era somente pela aventura e não trocaria minha namorada por qualquer uma delas. Eu precisava de uma chance, ter algo para me agarrar e ser o cara certo para , porque ela era, com toda certeza do mundo, a mulher certa para mim.
— Ele é maravilhoso, mas ele tem que querer ser assim, se não ele é apenas mais um cara bonito que não vale a pena o cansaço. — concluiu.
Respirei fundo, então fiz um barulho para anunciar que iria abrir a porta e disfarçar que estava escutando a conversa, me mediu de baixo a cima e soltou em seguida que estava aliviada por ter se lembrado de minhas medidas.
— É... Me fala depois quanto foi para transferir o valor para você. — pedi e a mulher assentiu, comecei a caminhar sendo o acompanhado pelas duas mulheres.
Levei um cotovelada de segundos depois, tínhamos andado alguns poucos metros, minha irmã me segurou e quando notou que não havia parado, percebi que ela esperou a outra se afastar alguns metros antes de sussurrar para mim, questionando se eu tinha algum problema em dizer apenas um obrigado.
— Você é um idiota, .
Com isso apressou os passos para se aproximar de e as duas iam logo a minha frente, uma cena completamente nostálgica pois sempre andaram de tal forma quando se encontravam, como se fosse guarda costas de ambas e eu de verdade não me importava, principalmente agora que tinha consciência do quanto as duas eram pessoas preciosas para mim e uma eu não tinha mais presente em minha vida.
Chegamos ao carro e eu ri, parecia que a vida estava de brincadeira com a minha cara em uma noite que era para ser comum e igual a de milhares de pessoas que fariam o mesmo que eu, sair para jantar fora com os amigos.
A viatura policial estava estacionada na frente para meu carro, faziam guarda ali e observavam o movimento, aposto que procura do mendigo atirador de cocô que inventara para o velho da escada. Respirei fundo, estagnando meus passos, como entrar no meu carro e sair dali sem uma multa absurda por ser dirigir de chinelos?!
— , você ainda não tem carta? — questionou, percebendo o momento.
Eu não poderia dirigir meu próprio carro, nem até a esquina sem perder alguns pontos que já eram poucos por conta de irresponsabilidade e desejo de chegar rápido onde quer que estivesse indo.
— Ainda não, ... ?!
— Podemos esperar um pouco. — sugeriu já recuando alguns passos.
— Você pode dirigir, se estiver tudo bem. — falei dando os ombros.
— Se estiver bem para você...
sabia que eu tinha ciúmes de meu carro e eu deduzia que tinha viva em sua memória o meu surto quando não achou as chaves de seu carro e fora com o meu até o mercado, seus olhos naquele infeliz dia só demonstravam decepcionados e não era para menos. Estava tudo bem e eu criei caso para nada!
Entreguei a chave em suas mãos depois de abrir o veículo, tomando cuidado como se fosse a machucar se tocasse em sua pele, foram poucos segundos entre se acomodar no banco do motorista um tanto apreensiva, eu tomar lugar ao seu lado e se sentar atrás da amiga com um sorriso que quase não cabia em sua cara.
O motor do meu SUV soou potente quando girou a chave na ignição, meu maravilhoso carro. A mulher pisou no acelerador suavemente, dando seta para seu lado e então um dos policias parou o trânsito para que pudéssemos sair, recebendo um sorriso pela gentileza.
Assim que viramos a esquina, a pouca velocidade que atingimos se tornou nula quando estacionou novamente e já tirava seu cinto de segurança quando disse que ela poderia continuar até chegar casa.
Ela sabia o que eu era antes, todos minhas manias e hábitos, do que eu gostava e como eu era em meus mínimos detalhes, eu tinha que mudar porque esse eu fora o que perdeu a mulher incrível que estava ao meu lado.
— Você dirige bem. — soltei tentando soar desinteressado.
Eu nunca sequer dei uma palavra de incentivo para que tivesse sua habilitação e quando me contou que havia tirado, minha reação foi apenas um “que legal” estúpido e nunca deixar que uma pessoa novata tivesse a oportunidade de arramar a belezura que era meu carro.
— Tem certeza? Eu não me incomodo também de pegar um táxi daqui também, caso estiver com pressa, não passa de 20 minutos. — indagou, já desligando o carro e abrindo a porta.
Eu praticamente passei por cima de seu corpo, esticando o meu máximo para minha mãe chegar até a lataria e puxar novamente, fechando a mesma e mantendo por perto.
— Tenho certeza, pode dirigir. — garanti e tentei aliviar um pouco o incomodo que se formava em seu semblante — Acho que os movimentos fariam meu estomago pular outra vez e acredito que ninguém mais vai acreditar na história de um mendigo atirador de cocô a solta.
— Como é? — perguntou se colocando entre os bancos da frente.
Mantive meu olhar preso ao de por tempo bastante para me desligar do que havia a minha volta, ignorando até , pois sabia que a mulher buscava indícios de alguma trama de minha parte e a única que poderia encontrar era meu desejo ter alguns minutos a mais do seu lado.
ligou o carro outra vez e respirei aliviado antes de contar a a história que a outra havia inventado, fazendo minha irmã chorar de rir e não conter um sorriso, ainda tímido.
O carro seguiu pela avenida principal até chegarmos ao limite da cidade e então fez um retorno e virou em uma ruazinha. Via seu olhar me encarar de soslaio a cada curva e eu reprimida um arfar, eu confiava em , mesmo estando a tanto tempo distante.
Quando a mulher estacionou o carro, ainda falava sobre uma de suas últimas viagens, assentia para ela e quando por fim minha irmã calou a boca, a outra fez um comentário sobre e então avisou que tínhamos chegado.
— Novamente, foi um prazer te rever, . — um beijo foi deixado por ambas em suas bochechas — Você também, .
Mas comigo o tratamento ainda era distante, interpessoal demais para o que eu desejava que fosse.
Eu não tinha notado até o momento o quanto senti falta de sua companhia, era divertida, inteligente e qualquer assunto que fosse posto em debate, rendia por horas, tanto por sua curiosidade quando não conhecia o tema, como por seu entusiasmo quando tinha propriedade quando podia opinar.
A mulher saiu do carro e tanto eu, como a acompanhamos, mas minha irmã deu a volta completa e entrou outra vez no veículo, se acomodando dessa vez no banco que eu ocupava segundos atrás.
Dei a volta no carro me preparado para assumir e parei de frente para , que estendeu as chaves do carro de volta para mim.
— Então... — soltei sem ter muita ideia do que dizer além — Até mais.
Não mexi um musculo sequer.
— Até.
— Espero que fique bem, estou feliz que está bem.
— Igualmente, .
Assenti e era aquilo, nos despediríamos e acabaria por ai, porque duvidava que encontraria com ao acaso com fora hoje.
Mesmo sem conseguir alcançar você, eu estou bem feliz
Esse destino tolo me amaldiçoa
— Será que é muito idiota pedir seu número novamente? — perguntei arriscando — Talvez a Panqueca queira falar comigo depois de tanto tempo...
Sorri acanhado, já pensando que viraria as costas e me deixaria falando sozinho, poderia muito bem pegar seu número com ou , mas seria covarde demais de minha parte e depois de tudo, eu tinha que mostrar que ao longo desses dois anos eu estava diferente e maduro.
Me surpreendi quando a mulher tirou o celular da bolsa e depois de alguns instantes tateando a tela do mesmo, vi meu aparelho brilhando sobre o painel e sorri.
— Tchau, .
Então fora tudo muito rápido quando se aproximou e deixou um beijo, simples e rápido, em minha bochecha.
Eu tinha uma chance, eu sentia e não a perderia, eu faria tudo certo dessa vez e que não fosse nunca mais feliz se fizesse alguma coisa, por mais pequena que fosse, que machucasse outra vez.
Fui o caminho todo sendo zoando por que a cada dez segundos soltava algum comentário que deveria me deixar constrangido, mas estava tão inerte, ainda com a sensação tão saudosa dos lábios de contra minha pele que não me importava com o me era dito.
— , você sabe o que é magenta?
— Não...
— Menos mal.
Então desandou a contar uma história que eu estava estranho e que se eu soubesse o que magenta significava, ela deduziria que eu estava jogando para os dois times.
— Pelo amor, , estou em um momento complicado e você está dizendo que sou bi? — indaguei e arfei, segurando o riso.
Chegamos em casa em poucos minutos e com meus pensamentos a mil, corri para meu banheiro clamando por um banho.
[...]
Depois de três dias tendo como colega de quarto, estava a levando para a rodoviária, detestava despedidas e desde a noite anterior, estava com um mal humor tenebroso, parte por conta que sentia falta de minha irmã e outra por estar me ignorando desde quando nos revemos.
Sai do banho e não demorei em mandar uma mensagem, perguntando os dados de sua conta para que eu pudesse transferir o valor das roupas e calçado, a mulher me enviou os dados juntos com os comprovantes e desde então não respondeu a mais nada que havia mandado.
— Sei que me ama, mas você precisa melhorar essa cara. — soltou e eu relaxei os ombros minimamente — Se um anjo passar e disser “amém”, você vai ficar assim para sempre.
— Vou sentir sua falta, idiota. — disse a encarando e abrindo um sorriso.
Já estava atrasado para o trabalho e essa tática de sair em cima da hora para evitar choros já era falha, me olhava do lado de fora do carro com os olhos repletos de lágrimas e iniciou um discurso de mil recomendações, terminando com um “se cuida, babaca”.
— ! — Chamei e a mais velha se aproximou do carro — Tem alguma dica para eu voltar com a ?
— Seja esse você de agora, responsável, ou quase.
— Acha que temos chances?
— Eu não sei. Você fez muito mal a . — soltou sincera e fora a vez de meus olhos se encherem de lágrimas, amargurado por tudo que não fiz por meu relacionamento quando tive chance — Ela ainda gosta de você, aquela mulher realmente te amava demais para ainda conseguir ter algum sentimento bom por você depois de tudo.
— O que eu preciso fazer?
— O primeiro passo você já deu, deixando ela dirigir e não dando outro chilique de mocinha. — alfinetou e continuou quando me viu me fazendo uma careta e abrindo a boca para a responder, mas não podendo por ela voltar a falar — Acho que o pode mais com isso do que eu, peça para ele perguntar onde costuma ir e então você aparece lá como quem não quer nada. Ela gosta de surpresas, lembra?
Assenti e agradeci, me despedindo como uma pessoa normal que sentiria falta da irmã e amiga.
[...]
estava em minha casa e assistíamos a final da Champions com uma lata na mão e os olhos focados na TV, pelo menos ele estava assim, já que eu me distraia facilmente e montava mil diálogos em minha mente sobre o que fazer para convencer a me falar algumas coisas da rotina de .
— ... — chamei ainda não sabendo como tocar no assunto, optando por fim em ser direto — Você tem conversado com a ?
Em um segundo, ficou seu olhar em mim.
— O que você quer com a ?
— Nada. — menti porcamente.
— Acha mesmo que sou idiota, ? Que merda você quer com a ? Seja sincero e eu penso se te digo o que quer saber, porque não vou deixar você acabar com ela outra vez. — ele foi sucinto e me encarava sem hesitar, mudando da calmaria para uma tormenta.
— Eu preciso de ajuda para pelo menos tentar, cara. — indaguei me levanto e indo para cozinha pegar mais uma cerveja — Eu sei que dei mancada com a antes.
— Você a traia e depois voltava para casa querendo que ela aceitasse sua vontade de ser solteiro sendo que não era, tratava a mulher como um lixo, você deu mais do que uma mancada, . — ele escorou no batente da porta e ficou me observando enquanto eu ia de um lado para o outro.
Além da cerveja, resolvi pegar alguma coisa para comer, que se resumia entre salgadinho ou amendoins.
— A está linda, não é? É por isso que agora resolveu dar valor ao que tinham? — ele perguntou.
— Eu a amava. De um jeito todo errado mais eu amava, ainda amo. — soltei de uma vez e era a verdade, pois assim que tal confissão saiu por minha boca, me senti leve e então repeti mais duas vezes, relaxado — Eu estraguei tudo com a , mas gostaria de ter uma chance de a fazer feliz como ela merece, pensei muito em tudo o que aconteceu e foi por tanto tempo, mentia para todo mundo que estava saindo com outras mulheres por babaquice, não queria perder meu status e olha para mim agora, sou infeliz, era infeliz e rever me mostrou que eu tinha tudo, mas era babaca demais para não perceber o que estava do meu lado.
Respirei fundo e esperei que falasse alguma coisa, mas ele continuou calado e então emendei.
— Só você pode me ajudar porque é o único amigo que tenho em comum com a , por favor, se só preciso de um encontro, um café que seja, mas não acho que por mim mesmo ela aceite sair.
Então contei a ele que pedi o número de e a mulher realmente fez o que era combinado para ser, me mandar o número de sua conta junto com o valor que tinha gasto comigo e apenas isso quando pareceu que estava disposta a pelo menos me responder.
— Porque comprou roupas para você? — fui questionado e respondi que um pequeno acidente havia acontecido, se ela não havia contato, não seria eu que me auto degradaria conhecendo bem meu amigo e sabendo o quanto seria zoado quando desse com a língua nos dentes.
— Então, por favor, me ajuda. — pedi e o encarei, por tudo que fosse mais sagrado, era minha luz no fim do túnel, se esse recusasse, eu não saberia mais o que fazer, não tinha plano B para esse momento.
andou de um lado para o outro quando terminei com minha tese de defesa improvisada, ora fazia gestos negativos e então parava para reiniciar a caminhada, era o jeito de meu amigo de pensar em algo que considerava importante e aquilo era caso de vida ou morte, pelo menos para mim.
— ...
— Vai me ajudar?
— Se você magoar a novamente, seja por simplesmente não abrir a porta do carro quando ela esperava que sim, eu juro que te mato. — disse sério e sabia que ele seria capaz de chegar perto disso.
Não pensei no que fiz a seguir, só abracei e agradeci, garantindo em seguida que não iria decepcionar, nem ele e muito menos .
Voltamos para sala e eu parecia outro ser humano, gritei junto com o gol no Real Madrid ao final do jogo e depois de me despedir do meu amigo, deitei e dormi a melhor noite da minha vida, porque sentia que minha vida descarrilhada estava voltando aos trilhos.
Acordei com uma mensagem de , dizendo que havia conversado com e a resposta dela foi um talvez e que segundo a psicóloga dela, a qual eu não sabia que ela ainda frequentava, instruiu ela adiasse esse encontro pois não estava bem o suficiente para me encarar.
— Ela dirigiu meu carro, saiu de dentro numa boa e até se despediu de mim com um beijo em minha bochecha! — argumentei.
— Cara, eu não sei porque a gosta dessa médica, mas ela escuta mais aquela velha do que a mim. — respondeu — Vamos fazer assim, passa aqui na hora do seu almoço, disse que viria aqui, talvez consiga alguma coisa para te ajudar se estiverem cara a cara.
E durante a manhã inteira meu trabalho não rendeu tanto quando era considerável normal, diversas vezes jogava um clip em mim para que parasse de divagar e me concentrasse na tediosa reunião com o diretor geral do setor que assim que encerrou o que tinha para falar, nos dispensou e eu voei para a rua, andando a passadas apresadas até chegar até .
Entrei em sua sala e peguei a sua frase no meio, ele me encarou com alguns instantes antes de voltar seu olhar para .
— Enfim, eu acredito que vocês têm o que conversar, sim, muita coisa não foi resolvida e enquanto era recente, vocês apenas queriam impor suas vontades e não ouvir um ao outro de verdade. — ele aprontou de maia mim e voltou para mulher — Mas também, isso não precisa ser agora que se reencontraram.
— ...
— . — ele a interrompeu — Eu sei que esse passo é muito mais difícil para você do que para o , mas precisa tentar, nem que só escute o que o ele tem para dizer, sem necessidade de responder nada.
— Eu sabia há um bom tempo que ele fazia fora e era cada vez mais decepcionante saber que eu não era o bastante, mesmo tentando mostrar que poderia dar tanto quanto as outras, ou até mais. — soltou e nos pegou de surpresa — Eu cansei de só ouvir, ouvi tanto, por muitos anos.
Eu despenquei da base que me sentia seguro, uma frase e me quebrou, estava me achando ainda mais estúpido, eu acreditei por um momento que poderíamos colocar uma pedra em cima do que aconteceu, mas as feridas que percebia que ainda existiam em eram profundas e necessitavam muito mais que tempo para que fossem curadas, entendendo enfim o porquê dela não ter me atendido nos últimos dias.
— Era horrível ficar em casa o final de semana inteiro sozinha, só esperava pelo dia que ele não voltaria por ter se metido em alguma confusão. — a mulher se levantou, ajeitando o vestido florido que emoldurava seu corpo — Eu aceito um café, pode ser?
— Agora? — questionou.
— Algum problema? — rebateu — Vocês dois estão armando, não tentem mentir para mim, por favor.
A mulher respirou fundo e depois de um instante, pegou sua bolsa e disse que me esperaria no elevador.
Deixei que saísse da sala e quando me virei para agradecer , mesmo que nosso plano tenha sido descoberto, de alguma forma o que disse a surtiu efeito, ele estava se pondo em pé e se aproximou de mim.
— Não toque nela ao menos que ela te peça, não desvie o olhar para qualquer outra mulher e o mais importante, a trate como ela merece. — fui alertado — Se não vou ser o primeiro a incentivar a sair com outros caras e garanto que ela tem pretendentes melhores que cinco de você.
Sabia que agora era comigo, eu tinha que mostrar que tinha mudado e mesmo que me sentisse despreparado para a expor a mulher o que eu queria, sabendo de seus pensamentos que mantinham a parte ruim do que vivemos no passado ainda vivo, eu tinha que seguir em frente, assumir meus erros e passar a certeza que jamais voltaria a comete-los.
— Eu não vou pisar na bola, .
— A questão não é essa. — ele bagunçou o cabelo e então voltou a falar — Sabe o porquê da fazer terapia? Ela não se sente confiante o bastante mais para estar com alguém, pode sozinho achar o culpado disso.
— Ela faz terapia por causa de mim?
— Por causa do que você fez. — ele me corrigiu — Não estrague tudo outra vez.
Sai do escritório de meu amigo um tanto aéreo, sabia que tinha feito mal a , mas não imaginava que ela levava feridas ainda tão abertas.
Me aproximei e onde a mulher ainda esperava o elevador para que pudéssemos descer.
— disse alguma coisa? Estava quase voltando para perguntar se íamos mesmo.
— Me desculpa. — falei.
Os olhos de se abriram um pouco, por surpresa.
O amor é uma mentira
Não me diga adeus
— Me desculpa. — pedi novamente, quando ela fez menção de dizer alguma coisa, eu continuei — Eu estou mal, , nunca senti minha consciência pesar tanto, muito menos meu peito doer dessa forma, mas não só pelo que falou, mas por minha atitude com você durante todo tempo que estávamos juntos, a dor que vi em seus olhos quando seu irmão morreu, céus, eu queria arrancar ela com minhas próprias mãos, mas não estava lá quando ela foi mais intensa, que direito tinha para fazer qualquer coisa depois?! Eu tive a chance de a impedir tanta coisa de acontecer, mas deixei que passasse e hoje sou o cara mais arrependido do mundo, contudo, não justifica como eu agi ao longo dos anos com você... ― eu comecei a me atropelar nas palavras, fechei os olhos, uma prece silenciosa para que ela entendesse o significado de tudo isso ― Agora, pensando, talvez fosse meu inconsciente tomando o controle te defendendo de mim, de alguma forma, eu mesmo te protegendo do horror que sou, , eu não mereço alguém igual a você, por que meu amor só se tornou intenso, equivalente ao seu quando não podia mais te ter.
Não esperava os braços de envolverem meu pescoço e me puxar parra si, em um abraço que foi retribuído com vontade, desejo.
— Eu te amo.
Eu não consigo dizer se isso é suor ou lágrimas
O meu amor é resistente
Fim.
Espero muito que tenha se divertido lendo, acima de qualquer outro sentimento, pq é para isso que estamos aqui, brazel.
Detalhezinho, essa parte de não conseguir controlar o chamado na natureza em público é veridico, aconteceu com uma parente minha, tomem cuidado com o que come na rua hahahah
É isso pessoas, muito obrigada por ler mais uma fic minha e vamos correr para as outras.
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