Capítulo Único
é a personificação de anjo. Os cabelos que caíam por seu rosto; os olhos que eram cobertos pela camada mais longa possível de cílios; as sardas que pareciam estrelas em suas bochechas e testa; o sorriso que poderia ser facilmente colocado em uma moldura num dos mais famosos museus do mundo.
Em resumo, ela era perfeita. Não, ela estava longe de ser perfeita. Mas, para , aquela mulher era o significado mais puro de beleza que ele já viu em 31 anos de vida.
Eles se conheceram nos bastidores de um dos shows da banda. Ele, vocalista e guitarrista, havia encantado a groupie na primeira canção. Ela, encantou o vocalista no primeiro segundo em que entrou em seu camarim naquela noite.
Não, eles não tiveram uma noite de sexo. Na verdade, eles conversaram. E muito. E sobre tudo. contava sobre sua obsessão com astrologia; contou sobre sua coleção de guitarras e sobre suas músicas preferidas. Eles só pararam quando a primeira luz da aurora apareceu no céu, e eles precisaram se despedir. Ela precisava voltar para o seu hotel, e ele precisava descansar para o show daquela noite.
A turnê do Reino Unido seguiu e foi atrás. Ela sabia todas as canções de cor e não demonstrava pudor algum em cantar todas, mesmo na frente dos membros do staff. Antes de tudo, ela adorava a banda, as letras, a melodia e, agora, o vocalista.
Ela era exclusiva dele. não sentia interesse em firmar algo com qualquer outra groupie, sabendo que era o suficiente para ele. Poderia fazer como seus colegas de banda, mas não gostava. Não queria. Estava bem e satisfeito com aquela mulher em seus braços em algumas noites.
- Eu não quero mais ficar aqui. – fala de imediato, desenhando a tatuagem de escorpião no peito nu do homem. – , eu não quero mais.
- Quer ir para o terraço? – ele pergunta, apertando os nós de seus dedos.
- Não. – ela resmunga. – Eu não quero mais ficar aqui, assim.
Aquele foi um baque e tanto para . Ele não esperava ouvir isso dela nem tão cedo, ou talvez, nunca. Odiava pensar como criou uma dependência dela, e que qualquer momento em que ela estivesse longe, seu corpo entrava em uma espécie de abstinência. Era abstinência de .
- , está tudo bem? – questiona enquanto estala os dedos na frente do rosto do astro, que nem percebeu que olhava para o quadro pintado na parede da frente.
Uma belíssima pintura, ele reparou. Mas que, naquele momento, não era importante assim.
- Está. Está sim. – ele responde, mexendo nos longos cabelos. – Quando foi que você pensou nisso?
- Ontem de noite. – murmura, enrolando um de seus cachos na ponta do indicador. – Enquanto você cantava e encantava. Eu estava observando e pensando nisso.
- Eu lhe fiz algo? – pergunta, tentando não demonstrar o desespero na voz, mas em vão. Ela reparou. – Fiz?
- Não, não fez. – ela sorriu. – Eu só sei que não tenho futuro assim, como groupie. Nem todas as groupies vão para o céu.
- Eu discordo. – ele resmunga. – Eu posso te levar, ou tentar.
- Eu fico admirada com a sua autoestima de homem heterossexual! – ela riu. – Mas eu não quero mais isso. Eu acho que não tem mais espaço para mim aqui.
- Mas tem, . – ele responde. – Sempre vai ter. Você é a minha número um.
- Você vai encontrar outra. – beijou o canto da boca do cantor. – Em algum momento, você nem vai se lembrar de mim!
Seria quase impossível, ponderou. Ela tinha um efeito sobrenatural na vida do astro que ela nem mesmo imagina, e, sua ausência, o levaria à ruína. era, ao mesmo tempo, os cabelos de Sansão e o tendão de Aquiles. Sua fortaleza e sua maior fraqueza.
- Eu quero que você fique comigo. – ele resmunga enquanto ela caminha para a porta. – Não como groupie, acho que você já deixou de ocupar esse posto, mas como uma amiga. Ou quem sabe, algo mais.
- E o que seria esse algo mais? – pergunta com a sobrancelha arqueada. – Você não me pediria em namoro, pediria?
- Eu... – gagueja. – Eu quero que fique da maneira que você quiser.
- , você pode fazer um pedido decente? – fala. Ela largou a bolsa de crochê na poltrona. – Um pedido e eu permaneço. Eu fico até você querer que eu vá embora.
sentiu a garganta fechar. agarrou as mangas da camisa longa que usava e, de repente, percebeu que estar ali era inútil. Ele não faria aquele pedido jamais. Ele não iria se prender a alguém, podendo ter várias por noite.
pegou sua bolsa e o restante de suas coisas. Uma despedida silenciosa era dolorosa, mas foi necessária. socou seu próprio travesseiro com fúria, não se importando em espalhar dezenas de penas de ganso pelo lençol. Não se importaria de pagar alguma quantia extra de dinheiro pela sua hospedagem por danos patrimoniais.
Odiava sentir o cheiro de em tudo que estava ao seu redor. No travesseiro do seu lado esquerdo, o xampu de camomila; nos lençóis, o cheiro do sabonete de flores; nos seus lábios, o gosto do gloss de framboesa.
Se odiava por ter deixado a mulher escapar por entre seus dedos como areia.
Levantou-se, esperando que ela ainda estivesse no corredor e eles pudessem resolver, mas ela não estava. Apenas dois seguranças estavam ali, e ficaram em alerta ao ver o cantor parado na porta do quarto, nu, com o semblante beirando ao desespero. Ela havia partido mais depressa do que ele havia cogitado.
Pegou a garrafa do uísque mais caro que tinha, dando um gole profundo. A bebida desceu rasgando, e ele sentiu que aquilo estava sendo amargo demais.
Qual seu bloqueio para pedir para ser sua... namorada? Ele já sabia que seus sentimentos por ela ultrapassavam a barreira entre groupie e cantor, mas ele não conseguia. Aquela palavrinha de oito letras o deixava arrepiado, mas, ao mesmo tempo, extasiado. Ele queria, ah, e como queria. sabia que não era uma mulher normal e que jamais seria.
Não muito longe dali, entrou no quarto de hotel em que estava hospedada. Decidiu, por hora, ir para outro lugar que não lembrasse aquele vocalista prepotente e gostoso, querendo por as ideias no lugar.
Ela soube, três noites atrás, que o amava. Não era um sentimento ruim, ela observou. Ela gostava de amar , quase como amava ser uma groupie. Ele era incrível e eles tinham uma relação que incrivelmente boa, não tinham intrigas e eram, acima de tudo, amigos. Talvez, por isso, que ela caiu num sentimento tão forte quanto aquele.
Qual seria a probabilidade de a pedir em namoro? Nula. Ele não se amarraria numa mulher só. E ela odiava isso, pois sabia que era verdade. é um homem que não assumia relacionamentos, e ela nem sabe se ele já teve algum que fosse verdadeiro, ou se eram apenas rumores da mídia.
- Oi, o que foi? – Rachel pergunta assim que entra no quarto.
- Eu o amo. – resmunga, sentada na cama de casal abraçando os próprios joelhos. – E é por isso que eu não posso mais ficar aqui.
- Do que você está falando, ? – a loira perguntou em dúvida, fechando a porta.
- Eu não posso mais ficar aqui, Rach. Eu me apaixonei pelo , eu me recuso a ficar perto dele, tê-lo para mim por horas e depois agirmos como se nada estivesse acontecendo no dia seguinte. Eu não quero tê-lo por metade, por tabela. Ele não é só meu, ele é de várias. Se alguma outra groupie, com peitões aparecer amanhã disposta a lhe dar prazer, ele vai aceitar, porque é assim as coisas. – responde. Ela não chorava, afinal, havia passado da fase de chorar por essas coisas.
- E o que você vai fazer? – Rachel questiona. – Eu não entendo, você pode lutar. Mas eu respeito sua decisão.
- Eu não vou lutar por um sentimento. Se ele sentisse a mesma coisa, eu não precisaria lutar para ter um espaço dentro do seu coração. – a sorriu ladina. – Eu vou para casa. Quem sabe eu viajo um tempo para ver meus pais. Tenho certeza de que a notícia de que eu sou uma groupie não chegou aos ouvidos deles em Glasgow.
- Manda notícias. – Rachel a abraçou. – E não faça mais burradas.
- Eu quem te peço isso. E cuidado com o Joe! – gargalha da careta que se formou no rosto da melhor amiga.
- , que que você está fazendo? – Joe perguntou assim que abriu a porta do quarto. Foi preciso chamar o zelador, já que estava trancada, e a mensagem preocupante de Rachel em seu celular o obrigou a sair de seu quarto pela madrugada para ir até lá.
- Eu não sei. – resmunga. – Eu só bebi um pouquinho.
- O que você fez? – o baixista pergunta novamente, sentando ao lado do melhor amigo. – Cadê a ?
- Ela foi embora. – responde, olhando para os anéis em seus dedos. – Ela me abandonou.
- Você fez alguma coisa? – o homem de longos cabelos loiros questionou. – Eu acredito que sim, mas quero saber da sua boca. Me fala, você fez alguma coisa?
- Em que sentido? – arqueia a sobrancelha. – Motivo para ela ir embora? Ou motivo para ela permanecer?
- Os dois. – Joe responde. – Me surpreende que você não sabe quando está apaixonado por alguém e eu preciso vir para cá pra colocar alguma coisa nessa sua cabeça oca.
- Eu estou apaixonado? – sente o coração saltar em seu peito, como se ele tivesse feito a maior descoberta de toda sua vida.
Era isso. Ele estava apaixonado. Por isso, só a ideia de ir embora de seu quarto o desesperava.
- Você a ama. Ou você acha que ficaria assim só porque uma groupie foi embora? – Joe indagou entre um sorriso e outro. – Eu ainda fico surpreso que você escreve canções incríveis sobre amores, mas não percebe o amor embaixo do seu próprio nariz.
- Eu amo a . – ele resmungou, como se fosse uma criança que tivesse acabado de descobrir alguma coisa. – Eu não sabia.
- Não, óbvio que você não sabia. – ele rola os olhos. – Anda, faz alguma coisa. Ela vai pra Escócia.
- Como que você sabe? – pergunta, recobrando a consciência de bêbado. Ele conseguiu se equilibrar muito bem para ir até sua mala e tirar uma muda de roupa.
- A Rachel me contou. – Joe balança os ombros. – Aparentemente, eu estou ajudando a unir mais um casal.
- Você é demais, Joseph! – bagunça os cabelos do melhor amigo. – O que seria de mim sem você?
- Um homem morto por alcoolismo. Agora, anda logo! – o baixista empurrou o amigo para dentro do banheiro.
Não tardou muito para que ele estivesse no prédio onde a mulher da sua vida estava hospedada. O relógio no celular marcava quatro e vinte da manhã e estava um vento gelado, o que impossibilitava das pessoas andarem por ali e o reconhecerem.
Qual foi a surpresa em saber que seu nome havia sido liberado pela Rachel? Ele achava que ela iria esganá-lo, ou torturaria da pior forma possível, mas não. Ela estava ajudando.
Ela estava no quinto andar. E, enquanto o elevador fazia o caminho até lá, ele tentou repassar as palavras que tinha em sua mente. Poderia só falar que a ama, mas isso seria pouco. Ele queria mais. Precisava fazer mais.
Mas e se ela não o correspondesse? Ok, isso estava fora de cogitação. Ou nem tanto assim. Vai ver ela foi embora por perceber que ele a amava e que ela não poderia corresponder tais sentimentos. Isso era pior. E muito.
As portas de metal se abriram e ele caminhou para a porta do 503. Bateu duas vezes, sentindo seu estômago ficar revirado e uma ansiedade não muito desconhecida.
Quando ela abriu, ele quase caiu para trás. Que Deus tenha misericórdia, mas estava magnífica naquelas roupas. Um vestido tão curto e apertado que marcava suas curvas que ele tanto idolatrava. Os cabelos soltos e selvagens que ele tanto apreciava.
sentiu seu coração bater mais depressa ao ver aquele homem na sua frente. Os cabelos penteados para trás; os olhos que diziam muito mais do que sua boca; ah, e aquela boca, que ela já devorou e sentiu ser devorada por ela em tantos lugares, por tantas noites. Suas pernas estavam tremendo quando ele sorriu e, finalmente, olhou em seus olhos. O cheiro de uísque ainda estava ali, inebriante, forte, assim como o cheiro de seu perfume.
- Eu... tudo bem? – ele pergunta em gaguejos.
- Eu estou bem, . E você? – ela pergunta, fingindo costume. Eles nunca fizeram isso. Ele nunca foi atrás dela; sempre fora o oposto. E eles estavam acostumados.
- Eu não estou bem. – ele sussurra. – Eu estou aqui para ver você. Te pedir para...
- Voltar pro seu quarto e agir como uma groupie? – pergunta com a voz abalada. Não havia derramado uma lágrima até aquele instante, mas estava perto de fazer isso. E o pior, na frente dele. – Para termos somente sexo e nada mais?
- Não, não é só isso. – segura em sua mão. – Eu não quero que você faça só isso. Eu não quero que você volte pra lá como groupie. Quero que você volte como a mulher que manda aqui.
Ele apontou para o lado esquerdo do peito, onde seu coração batia descompassado.
- Você manda nisso tudo aqui, . Mais do que qualquer outra coisa. Ele é seu. Você pode fazer tudo que ele sempre vai ser seu. Cada batida acelerada é sua. – colocou a mão dela em seu peito. – Ele sempre vai bater só por você. Eu me apaixonei por você naquela primeira noite, quando você me contou sobre astrologia com muita propriedade. Quando você me encantou com esse seu jeito tão delicado e decidido. Quando você permaneceu comigo. Eu descobri que te amava tem uma hora, mas o meu amor por você será eterno, enquanto dura.
sorriu e puxou o homem para um beijo. Eles haviam se separado há algumas horas, mas sentiam saudade. Não era a saudade de todas as noites, quando eles sabiam que iriam se encontrar no dia seguinte, mas era uma saudade diferente. Era uma saudade incerta, de dois corações apaixonados que só queriam voltar um para o outro. E eles voltaram. E, se dependesse deles, nunca mais se desgrudariam.
- Eu percebi que te amava três noites atrás, quando você não pediu comida com bacon, pois sabe que eu não como carne. Ali eu percebi que queria você pra mim, mas seria egoísta em contar. Você é de todas. – resmunga.
- Eu nunca fui de todas, . – beija seu pescoço. – Eu só estava esperando você aparecer na minha vida para ir pro meu lugar. Você é a minha casa. E eu nunca quero ficar longe de você.
- Ah, você vai ter de ficar. – ela sussurra. – Uma semana. Eu vou visitar meus pais. E nem você pode me impedir.
- Eu não vou te impedir. Mas eu vou morrer de saudade até nosso próximo encontro. – ele beijou a bochecha dela. – Eu amo você, namora comigo e nunca mais vamos ficar afastados. Exceto na sua ida para Glasgow.
- Eu amo você, meu roqueiro favorito. – ela responde. – E quando você for fazer turnês mundiais?
- Eu te levo na minha mala. – ele brinca. – Nós daremos um jeito.
E ela assentiu, puxando-o para dentro do quarto e trancando a porta, deixando bem claro que a noite não acabaria da forma como eles pensaram. E quando, na primeira luz da aurora eles terminaram de assistir ao filme que passava na TV, eles dormiram agarrados, com seus corações unidos e batendo um pelo outro.
Em resumo, ela era perfeita. Não, ela estava longe de ser perfeita. Mas, para , aquela mulher era o significado mais puro de beleza que ele já viu em 31 anos de vida.
Eles se conheceram nos bastidores de um dos shows da banda. Ele, vocalista e guitarrista, havia encantado a groupie na primeira canção. Ela, encantou o vocalista no primeiro segundo em que entrou em seu camarim naquela noite.
Não, eles não tiveram uma noite de sexo. Na verdade, eles conversaram. E muito. E sobre tudo. contava sobre sua obsessão com astrologia; contou sobre sua coleção de guitarras e sobre suas músicas preferidas. Eles só pararam quando a primeira luz da aurora apareceu no céu, e eles precisaram se despedir. Ela precisava voltar para o seu hotel, e ele precisava descansar para o show daquela noite.
A turnê do Reino Unido seguiu e foi atrás. Ela sabia todas as canções de cor e não demonstrava pudor algum em cantar todas, mesmo na frente dos membros do staff. Antes de tudo, ela adorava a banda, as letras, a melodia e, agora, o vocalista.
Ela era exclusiva dele. não sentia interesse em firmar algo com qualquer outra groupie, sabendo que era o suficiente para ele. Poderia fazer como seus colegas de banda, mas não gostava. Não queria. Estava bem e satisfeito com aquela mulher em seus braços em algumas noites.
- Eu não quero mais ficar aqui. – fala de imediato, desenhando a tatuagem de escorpião no peito nu do homem. – , eu não quero mais.
- Quer ir para o terraço? – ele pergunta, apertando os nós de seus dedos.
- Não. – ela resmunga. – Eu não quero mais ficar aqui, assim.
Aquele foi um baque e tanto para . Ele não esperava ouvir isso dela nem tão cedo, ou talvez, nunca. Odiava pensar como criou uma dependência dela, e que qualquer momento em que ela estivesse longe, seu corpo entrava em uma espécie de abstinência. Era abstinência de .
- , está tudo bem? – questiona enquanto estala os dedos na frente do rosto do astro, que nem percebeu que olhava para o quadro pintado na parede da frente.
Uma belíssima pintura, ele reparou. Mas que, naquele momento, não era importante assim.
- Está. Está sim. – ele responde, mexendo nos longos cabelos. – Quando foi que você pensou nisso?
- Ontem de noite. – murmura, enrolando um de seus cachos na ponta do indicador. – Enquanto você cantava e encantava. Eu estava observando e pensando nisso.
- Eu lhe fiz algo? – pergunta, tentando não demonstrar o desespero na voz, mas em vão. Ela reparou. – Fiz?
- Não, não fez. – ela sorriu. – Eu só sei que não tenho futuro assim, como groupie. Nem todas as groupies vão para o céu.
- Eu discordo. – ele resmunga. – Eu posso te levar, ou tentar.
- Eu fico admirada com a sua autoestima de homem heterossexual! – ela riu. – Mas eu não quero mais isso. Eu acho que não tem mais espaço para mim aqui.
- Mas tem, . – ele responde. – Sempre vai ter. Você é a minha número um.
- Você vai encontrar outra. – beijou o canto da boca do cantor. – Em algum momento, você nem vai se lembrar de mim!
Seria quase impossível, ponderou. Ela tinha um efeito sobrenatural na vida do astro que ela nem mesmo imagina, e, sua ausência, o levaria à ruína. era, ao mesmo tempo, os cabelos de Sansão e o tendão de Aquiles. Sua fortaleza e sua maior fraqueza.
- Eu quero que você fique comigo. – ele resmunga enquanto ela caminha para a porta. – Não como groupie, acho que você já deixou de ocupar esse posto, mas como uma amiga. Ou quem sabe, algo mais.
- E o que seria esse algo mais? – pergunta com a sobrancelha arqueada. – Você não me pediria em namoro, pediria?
- Eu... – gagueja. – Eu quero que fique da maneira que você quiser.
- , você pode fazer um pedido decente? – fala. Ela largou a bolsa de crochê na poltrona. – Um pedido e eu permaneço. Eu fico até você querer que eu vá embora.
sentiu a garganta fechar. agarrou as mangas da camisa longa que usava e, de repente, percebeu que estar ali era inútil. Ele não faria aquele pedido jamais. Ele não iria se prender a alguém, podendo ter várias por noite.
pegou sua bolsa e o restante de suas coisas. Uma despedida silenciosa era dolorosa, mas foi necessária. socou seu próprio travesseiro com fúria, não se importando em espalhar dezenas de penas de ganso pelo lençol. Não se importaria de pagar alguma quantia extra de dinheiro pela sua hospedagem por danos patrimoniais.
Odiava sentir o cheiro de em tudo que estava ao seu redor. No travesseiro do seu lado esquerdo, o xampu de camomila; nos lençóis, o cheiro do sabonete de flores; nos seus lábios, o gosto do gloss de framboesa.
Se odiava por ter deixado a mulher escapar por entre seus dedos como areia.
Levantou-se, esperando que ela ainda estivesse no corredor e eles pudessem resolver, mas ela não estava. Apenas dois seguranças estavam ali, e ficaram em alerta ao ver o cantor parado na porta do quarto, nu, com o semblante beirando ao desespero. Ela havia partido mais depressa do que ele havia cogitado.
Pegou a garrafa do uísque mais caro que tinha, dando um gole profundo. A bebida desceu rasgando, e ele sentiu que aquilo estava sendo amargo demais.
Qual seu bloqueio para pedir para ser sua... namorada? Ele já sabia que seus sentimentos por ela ultrapassavam a barreira entre groupie e cantor, mas ele não conseguia. Aquela palavrinha de oito letras o deixava arrepiado, mas, ao mesmo tempo, extasiado. Ele queria, ah, e como queria. sabia que não era uma mulher normal e que jamais seria.
Não muito longe dali, entrou no quarto de hotel em que estava hospedada. Decidiu, por hora, ir para outro lugar que não lembrasse aquele vocalista prepotente e gostoso, querendo por as ideias no lugar.
Ela soube, três noites atrás, que o amava. Não era um sentimento ruim, ela observou. Ela gostava de amar , quase como amava ser uma groupie. Ele era incrível e eles tinham uma relação que incrivelmente boa, não tinham intrigas e eram, acima de tudo, amigos. Talvez, por isso, que ela caiu num sentimento tão forte quanto aquele.
Qual seria a probabilidade de a pedir em namoro? Nula. Ele não se amarraria numa mulher só. E ela odiava isso, pois sabia que era verdade. é um homem que não assumia relacionamentos, e ela nem sabe se ele já teve algum que fosse verdadeiro, ou se eram apenas rumores da mídia.
- Oi, o que foi? – Rachel pergunta assim que entra no quarto.
- Eu o amo. – resmunga, sentada na cama de casal abraçando os próprios joelhos. – E é por isso que eu não posso mais ficar aqui.
- Do que você está falando, ? – a loira perguntou em dúvida, fechando a porta.
- Eu não posso mais ficar aqui, Rach. Eu me apaixonei pelo , eu me recuso a ficar perto dele, tê-lo para mim por horas e depois agirmos como se nada estivesse acontecendo no dia seguinte. Eu não quero tê-lo por metade, por tabela. Ele não é só meu, ele é de várias. Se alguma outra groupie, com peitões aparecer amanhã disposta a lhe dar prazer, ele vai aceitar, porque é assim as coisas. – responde. Ela não chorava, afinal, havia passado da fase de chorar por essas coisas.
- E o que você vai fazer? – Rachel questiona. – Eu não entendo, você pode lutar. Mas eu respeito sua decisão.
- Eu não vou lutar por um sentimento. Se ele sentisse a mesma coisa, eu não precisaria lutar para ter um espaço dentro do seu coração. – a sorriu ladina. – Eu vou para casa. Quem sabe eu viajo um tempo para ver meus pais. Tenho certeza de que a notícia de que eu sou uma groupie não chegou aos ouvidos deles em Glasgow.
- Manda notícias. – Rachel a abraçou. – E não faça mais burradas.
- Eu quem te peço isso. E cuidado com o Joe! – gargalha da careta que se formou no rosto da melhor amiga.
- , que que você está fazendo? – Joe perguntou assim que abriu a porta do quarto. Foi preciso chamar o zelador, já que estava trancada, e a mensagem preocupante de Rachel em seu celular o obrigou a sair de seu quarto pela madrugada para ir até lá.
- Eu não sei. – resmunga. – Eu só bebi um pouquinho.
- O que você fez? – o baixista pergunta novamente, sentando ao lado do melhor amigo. – Cadê a ?
- Ela foi embora. – responde, olhando para os anéis em seus dedos. – Ela me abandonou.
- Você fez alguma coisa? – o homem de longos cabelos loiros questionou. – Eu acredito que sim, mas quero saber da sua boca. Me fala, você fez alguma coisa?
- Em que sentido? – arqueia a sobrancelha. – Motivo para ela ir embora? Ou motivo para ela permanecer?
- Os dois. – Joe responde. – Me surpreende que você não sabe quando está apaixonado por alguém e eu preciso vir para cá pra colocar alguma coisa nessa sua cabeça oca.
- Eu estou apaixonado? – sente o coração saltar em seu peito, como se ele tivesse feito a maior descoberta de toda sua vida.
Era isso. Ele estava apaixonado. Por isso, só a ideia de ir embora de seu quarto o desesperava.
- Você a ama. Ou você acha que ficaria assim só porque uma groupie foi embora? – Joe indagou entre um sorriso e outro. – Eu ainda fico surpreso que você escreve canções incríveis sobre amores, mas não percebe o amor embaixo do seu próprio nariz.
- Eu amo a . – ele resmungou, como se fosse uma criança que tivesse acabado de descobrir alguma coisa. – Eu não sabia.
- Não, óbvio que você não sabia. – ele rola os olhos. – Anda, faz alguma coisa. Ela vai pra Escócia.
- Como que você sabe? – pergunta, recobrando a consciência de bêbado. Ele conseguiu se equilibrar muito bem para ir até sua mala e tirar uma muda de roupa.
- A Rachel me contou. – Joe balança os ombros. – Aparentemente, eu estou ajudando a unir mais um casal.
- Você é demais, Joseph! – bagunça os cabelos do melhor amigo. – O que seria de mim sem você?
- Um homem morto por alcoolismo. Agora, anda logo! – o baixista empurrou o amigo para dentro do banheiro.
Não tardou muito para que ele estivesse no prédio onde a mulher da sua vida estava hospedada. O relógio no celular marcava quatro e vinte da manhã e estava um vento gelado, o que impossibilitava das pessoas andarem por ali e o reconhecerem.
Qual foi a surpresa em saber que seu nome havia sido liberado pela Rachel? Ele achava que ela iria esganá-lo, ou torturaria da pior forma possível, mas não. Ela estava ajudando.
Ela estava no quinto andar. E, enquanto o elevador fazia o caminho até lá, ele tentou repassar as palavras que tinha em sua mente. Poderia só falar que a ama, mas isso seria pouco. Ele queria mais. Precisava fazer mais.
Mas e se ela não o correspondesse? Ok, isso estava fora de cogitação. Ou nem tanto assim. Vai ver ela foi embora por perceber que ele a amava e que ela não poderia corresponder tais sentimentos. Isso era pior. E muito.
As portas de metal se abriram e ele caminhou para a porta do 503. Bateu duas vezes, sentindo seu estômago ficar revirado e uma ansiedade não muito desconhecida.
Quando ela abriu, ele quase caiu para trás. Que Deus tenha misericórdia, mas estava magnífica naquelas roupas. Um vestido tão curto e apertado que marcava suas curvas que ele tanto idolatrava. Os cabelos soltos e selvagens que ele tanto apreciava.
sentiu seu coração bater mais depressa ao ver aquele homem na sua frente. Os cabelos penteados para trás; os olhos que diziam muito mais do que sua boca; ah, e aquela boca, que ela já devorou e sentiu ser devorada por ela em tantos lugares, por tantas noites. Suas pernas estavam tremendo quando ele sorriu e, finalmente, olhou em seus olhos. O cheiro de uísque ainda estava ali, inebriante, forte, assim como o cheiro de seu perfume.
- Eu... tudo bem? – ele pergunta em gaguejos.
- Eu estou bem, . E você? – ela pergunta, fingindo costume. Eles nunca fizeram isso. Ele nunca foi atrás dela; sempre fora o oposto. E eles estavam acostumados.
- Eu não estou bem. – ele sussurra. – Eu estou aqui para ver você. Te pedir para...
- Voltar pro seu quarto e agir como uma groupie? – pergunta com a voz abalada. Não havia derramado uma lágrima até aquele instante, mas estava perto de fazer isso. E o pior, na frente dele. – Para termos somente sexo e nada mais?
- Não, não é só isso. – segura em sua mão. – Eu não quero que você faça só isso. Eu não quero que você volte pra lá como groupie. Quero que você volte como a mulher que manda aqui.
Ele apontou para o lado esquerdo do peito, onde seu coração batia descompassado.
- Você manda nisso tudo aqui, . Mais do que qualquer outra coisa. Ele é seu. Você pode fazer tudo que ele sempre vai ser seu. Cada batida acelerada é sua. – colocou a mão dela em seu peito. – Ele sempre vai bater só por você. Eu me apaixonei por você naquela primeira noite, quando você me contou sobre astrologia com muita propriedade. Quando você me encantou com esse seu jeito tão delicado e decidido. Quando você permaneceu comigo. Eu descobri que te amava tem uma hora, mas o meu amor por você será eterno, enquanto dura.
sorriu e puxou o homem para um beijo. Eles haviam se separado há algumas horas, mas sentiam saudade. Não era a saudade de todas as noites, quando eles sabiam que iriam se encontrar no dia seguinte, mas era uma saudade diferente. Era uma saudade incerta, de dois corações apaixonados que só queriam voltar um para o outro. E eles voltaram. E, se dependesse deles, nunca mais se desgrudariam.
- Eu percebi que te amava três noites atrás, quando você não pediu comida com bacon, pois sabe que eu não como carne. Ali eu percebi que queria você pra mim, mas seria egoísta em contar. Você é de todas. – resmunga.
- Eu nunca fui de todas, . – beija seu pescoço. – Eu só estava esperando você aparecer na minha vida para ir pro meu lugar. Você é a minha casa. E eu nunca quero ficar longe de você.
- Ah, você vai ter de ficar. – ela sussurra. – Uma semana. Eu vou visitar meus pais. E nem você pode me impedir.
- Eu não vou te impedir. Mas eu vou morrer de saudade até nosso próximo encontro. – ele beijou a bochecha dela. – Eu amo você, namora comigo e nunca mais vamos ficar afastados. Exceto na sua ida para Glasgow.
- Eu amo você, meu roqueiro favorito. – ela responde. – E quando você for fazer turnês mundiais?
- Eu te levo na minha mala. – ele brinca. – Nós daremos um jeito.
E ela assentiu, puxando-o para dentro do quarto e trancando a porta, deixando bem claro que a noite não acabaria da forma como eles pensaram. E quando, na primeira luz da aurora eles terminaram de assistir ao filme que passava na TV, eles dormiram agarrados, com seus corações unidos e batendo um pelo outro.
Fim
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