Capítulo Único
- ! ! Desce aqui, filha! - os gritos da minha mãe atrapalharam minha agradável leitura de sábado à noite. Respirei fundo antes de tirar meus pés da cama e andar pelo chão frio até as escadas. Minha mãe estava parada na metade dela e assim que me viu, sorriu. Ela estava arrumada demais para quem estava em casa sem fazer nada às 00:30. - , meu amor. Eu preciso que me compre um remédio na farmácia.
- O QUÊ? - aumentei meu tom de voz e ela permaneceu sorrindo como se tivesse me pedido pra tomar sorvete. - Mãe, você já viu as horas? São meia noite e meia. O tempo tá nublado. A farmácia é longe daqui. Você realmente quer que eu vá sozinha lá? - me controlei para falar tudo calmamente. Minha mãe subiu os degraus que faltavam e ficou frente à frente comigo.
- Eu preciso do remédio para o meu estômago. Você sabe que tenho dores terríveis. E eu estou com dor agora. - eu soltei o ar, bufando, e ela acariciou meus cabelos. - Sei que você vai lá rapidinho.
- Claro que não vou rápido, mãe. É longe. Mas eu vou comprar essa droga de remédio. - me virei de costas para ela, para ir trocar minha roupa. Quando cheguei na porta do meu quarto, lembrei que ainda havia uma coisa que eu não tinha perguntado.
- Por que está arrumada? - virei o rosto para olhá-la e pude ver que ela ficou um pouco nervosa com a pergunta.
- Eu tinha saído, cheguei agora há pouco. - gaguejou e coçou a nuca.
- Eu te vi lá embaixo, mãe. Você não saiu. Mas se quer mentir para mim, tudo bem. Estou acostumada com isso. – sorri, falsa, e bati a porta do meu quarto, sem deixar que ela tivesse chance de responder. Abri meu armário e peguei meu moletom e minha calça jeans. Tirei a roupa de dormir que eu estava e vesti as peças que havia pegado. Me olhei no espelho e vi a imagem de sempre, aquela que eu já estava cansada de ver. Meus cabelos longos presos num rabo de cavalo mal feito, meu corpo escondido nas roupas largas, e meus pés contidos num all star velho. Eu tinha sérios problemas comigo mesma. Eu, de fato, me odiava. Não gostava de meu corpo, de meu rosto, do meu cabelo. Cada detalhe era um problema, e, quanto mais eu pudesse me esconder em casa, melhor. E se eu tivesse que sair de casa, me esconder em roupas era meu plano B.
Puxei o capuz, cobrindo minha cabeça, e desci as escadas correndo, peguei o dinheiro em cima da mesa e saí sem sequer saber onde minha mãe estava. Eu caminhava com certa rapidez, tentando me convencer que chegaria lá logo, sã e salva, mas eu estava tremendo de medo. Uma garota saindo sozinha de madrugada não é uma coisa muito segura, afinal. Depois de longos minutos caminhando, finalmente cheguei na farmácia e comprei o remédio. Enfiei a pequena caixa de comprimidos no meu bolso e me preparei para volta exaustiva.
- Still got that same look that sets me off. - cantarolei baixo, para me distrair. - I guess there's just something about you. I got these feelings, can't let' em show. 'Cause I wouldn’t let you go. - eu me balançava discretamente no ritmo imaginário da música que eu mantinha na minha cabeça. - I shouldn't have let you go. You asked me for closure before, and girl I told ya, it's over, it's over, it's not over, so here we go again. - eu andava mais calmamente que na ida. Eu havia ido tão afobada que nem havia percebido a grande festa que rolava numa casa que estava a uns metros em frente de mim. E eu parei para pensar em como seria a sensação de estar numa festa. Eu nunca havia ido em uma, tinha vergonha. Não era tão bonita quanto aquelas garotas, muito menos, gostosa. Eu não tinha nada que um garoto procurava. Meus pensamentos foram interrompidos pelos pingos de chuva que me tocaram. - Droga, eu sabia que ia chover. - resmunguei e comecei a acelerar meus passos e, na mesma proporção que meu caminhar, a chuva ficou mais forte.
Meu rabo de cavalo começava a pesar e eu soltei meus cabelos. Péssima ideia. O vento forte fazia o cabelo molhado grudar no meu rosto e dificultava minha visão, que já estava terrível pelo temporal. Eu decidi então correr para chegar logo e me livrar daquela situação insuportável, e durante a minha corrida desajeitada, meu cabelo bateu nos meus olhos, pela milésima vez. Só que, dessa vez, isso aconteceu no mesmo momento em que eu pisei numa poça e eu desequilibrei, indo para frente, esbarrando em um garoto e caindo.
A chuva cessou e eu quis xingar os deuses. Levei meus dedos ao meu rosto, afastando meus cabelos para olhar para o garoto que se abaixou, ficando na minha altura. E eu não poderia acreditar. Era . e eu tínhamos uma amizade boa, já que praticamente nossas famílias eram muito amigas e sempre tivemos tempo para conversar um com o outro. Seus olhos eram verde claro, seus cabelos antigamente tinham uma franja que cobria sua testa de lado, mas que agora estavam num topete meio desarrumado e meio molhado, assim como todo seu corpo, mas mesmo assim ainda continuava lindo.
- Você está bem? Eu já te perguntei umas três vezes e você está me encarando. - finalmente acordei do meu transe, havia me perdido no tempo, droga. Senti meu rosto ficar quente quase que instantaneamente. - Agora você está ficando com vergonha. - riu e eu me dei conta de que a perfeição existia. Dei um pequeno sorriso, aflita. Ele segurou minha cintura para me levantar, mas tentei me levantar sozinha e meu braço doeu muito, me fazendo ir ao chão de novo. - Deixa eu te ajudar, . - suas mãos grandes me seguraram em cada lado da cintura e me puxaram pra cima, junto com ele. Por um impulso, coloquei minhas mãos em seu peito. Ele estava quente, contrastando com o tempo frio. Logo tirei as mãos dali e fui buscar forças dentro de mim para falar com ele.
- Obrigada por me levantar. Meu braço está doendo muito. - sussurrei e ele tomou a liberdade de tirar alguns cabelos que ainda estavam grudados no meu rosto.
- Não fiz nada demais. Por que que você estava correndo igual uma maluca pela rua sozinha à uma e vinte da manhã? Sem querer ser intrometido, mas é que isso é bem incomum. - colocou a mão na cintura, esperando uma resposta.
- Minha mãe me pediu um remédio, e, você sabe, eu moro um pouco longe da farmácia. Corri porque estava com medo. - olhei para meus pés e entrelacei minhas mãos uma na outra, mordendo meu lábio, com vergonha.
- Você quer que eu leve você em casa? Minha moto tá aqui. - apontou para casa.
- É a sua casa? - soltei a pergunta sem querer e levei um dedo à boca depois, mordendo discretamente.
- Não, linda. É a casa de um amigo de um amigo meu da faculdade. Ele sempre dá essas festas para galera de lá. - mas é claro que a estranha da nunca é chamada para essas coisas. - Você faz faculdade?
- Hum, sim. Faço psicologia na Eastern.
- Eastern? Eu também fiz faculdade lá! - sorriu abertamente. - Desde que passou o tempo, eu concluí a faculdade de Web Design na Eastern e agora trabalho na empresa com Logan. Já ouviu falar na Cover's Girl? Então... Como nunca te vi por aqui?
- Não tenho muitos amigos, sou tímida, fico lendo nos intervalos. - olhei pela primeira vez em seus olhos naquela conversa.
- Dá para perceber que você é uma boa garota. Mas uma garota como você não deveria ser tão tímida. - me olhou de cima à baixo, me fazendo querer correr e me esconder de vergonha. - Nem usar roupas tão largas. Você sabe disso. - uma pessoa apareceu na porta gritando por ele e ele pediu para que a pessoa esperasse.
- Desculpa ter que acabar com nossa conversa assim, mas eu preciso ir, antes que minha mãe pense que me mataram no caminho. - sorri fraco com certa vergonha pelo seu comentário tão repentino e ele me acompanhou.
- Vou pegar a moto para te levar, .
- Mas.. - eu ia falando, mas ele levou seu dedo indicador à minha boca, me calando.
- Me espere aqui. - e me deu as costas. Eu não sabia o que era melhor, ele de frente, ou de costas. Droga, . Não pense nesse garoto, você sabe que ele não vai passar de uma pessoa que te fez uma gentileza, ele nunca te olharia com outros olhos. - Vamos, ? - ele me chamou, rodando a chave nos dedos, e eu fui até ele. Coloquei o capacete que ele me entregou e subi na moto logo depois dele. Coloquei as mãos delicadamente em sua cintura e ele as segurou, colocando no seu abdômen. - Tem que me segurar firme, . Não precisa ter vergonha, se é isso que está te agoniando.
Minha relação com foi aquela relação de crianças que começam a conversar porque os pais são amigos e de repente são separadas e nunca mais tem aquele contato de antes. Era até estranho ver como ele havia mudado e eu praticamente permanecia da mesma maneira que sempre fui.
Durante o trajeto, ele parecia atento na pista e eu olhava para as casas que pareciam mais vultos, devido a velocidade. Eu ainda me sentia envergonhada pela carona que ele havia me dado e, então, anulei qualquer possibilidade de iniciar algum assunto. Eu só falei para apontar as ruas que levavam até a minha casa. Chegamos lá em aproximadamente 10 minutos, o que eu faria em 20 minutos se fosse caminhando. Desci da moto e esperei que ele descesse. Caminhei até a porta da minha casa, com ele ao meu lado.
- Se quiser, já pode ir, não quero dar muito trabalho. - minha voz saiu em um tom baixo e ele, que estava com a visão fixada no chão, me olhou, saindo do transe.
- Prefiro ter certeza que te deixei dentro de casa. Coisa chata de irmão mais velho. - fez uma careta e eu não contive uma risada tímida. - Eu uma vez deixei a minha irmã mais nova na calçada da casa da amiga e ela fugiu depois que fiz a curva. Namoros escondidos são um problema. - rimos e finalmente chegamos na porta. Rodei a maçaneta e não acreditei no que aconteceu. A porta estava trancada. Forcei a porta mais algumas vezes e nada. me olhava atento e eu olhei ao redor, não achando o carro da minha mãe. Eu não acredito que ela havia me enganado.
- Eu não acredito. - tampei meu rosto com as mãos e segurei a crise de choro de raiva que eu gostaria de ter. - Puta merda, eu realmente não acredito. - passei os dedos nos meus cabelos e olhei para , que esperava alguma explicação.
- O que aconteceu, ? - tocou minha cintura e eu soltei o ar.
- Minha mãe me pediu o remédio só para fugir com o namoradinho ridículo dela. - baixei meu olhar, fixando-o no chão - Ela me fez andar aquilo tudo de madrugada, na chuva e sozinha, para fugir com o namorado sem me avisar. Eu não entendo porque ela faz essas coisas comigo, de verdade. - meus olhos estavam cheios de lágrimas e eu não queria levantar o olhar. Não queria que o garoto que eu não via há anos, que acabou de me dar um pouco de atenção, me visse chorar igual uma retardada. - Ela vive para festinhas e namorinhos, como se ainda tivesse 17 anos. Ela tem uma droga de uma filha, mas parece que ela não se importa muito com isso. - limpei a lágrima que caiu com meu braço e levantei o olhar, com o rosto corado.
- ... Eu sinto muito por sua mãe ser assim. Aposto que você merece e faz por onde ter alguém muito melhor que ela. Você sabe que não precisa ficar passando por isso sozinha. - suas duas mãos seguraram meus quadris, me puxando contra ele, e logo seus braços não tão musculosos me envolveram. Eu precisava muito daquele abraço. Eu vivia muito sozinha, não conversava muito, não via pessoas. Eu vivia no meu mundo particular por temer o mundo real. E ele estava sendo tão bom comigo que eu comecei a reconsiderar o fato de que viver escondida em si mesma é a melhor opção.
- Obrigada. Não sei por que você está, hum, se importando tanto comigo, mas obrigada. De verdade. - falei entre o abraço e ele nos separou.
- Não precisa agradecer. E eu vou ficar aqui até sua mãe chegar. A gente conversa um pouco, se conhece, novamente, melhor e você não fica largada na rua de madrugada sozinha.
- Mas e a sua festa? - argumentei e ele revirou os olhos.
- Prefiro não te deixar sozinha do que ficar na mesma casa que um bando de bêbados. Eu faço isso quase toda semana. - riu e eu tomei fôlego para argumentar de novo. - Não adianta questionar.
- O que você quer saber, exatamente? - mordi meu lábio inferior, um pouco nervosa, e percebi que seus olhos desceram de meus olhos para meus lábios.
- Eu queria saber também porque você é tão tímida... Sei que é uma pergunta bem indiscreta, mas eu sempre fiquei com isso na minha cabeça. Você é tão bonita, é uma garota legal, deveria deixar mais gente te descobrir. - encarou meus olhos e eu suspirei. Eu tentava acreditar nos seus elogios, mas não conseguia.
- Eu sou tímida porque, hum, me acho ridícula. - abracei minhas pernas, mordendo a ponta de meus dedos, volta e meia. - Eu me acho feia. Acho meu corpo feio também. Eu sou bastante desinteressante. Até meus 15 anos eu fui bastante sociável, mas depois, eu comecei a tentar fazer de tudo para chamar a atenção da minha mãe. Eu não entendia porquê ela dava atenção a uns caras que ela nem conhecia e não dava para mim. Eu me sentia insuficiente, sabe? E de tanto tentar ser perfeita para que ela me notasse, eu acabei chegando à conclusão que eu não sou nada. E preferi começar a me esconder do mundo. Parar de sair, de conversar, focar só no meu estudo e no meu mundinho. É menos vergonhoso... - quando terminei de falar, mal acreditava no que havia feito. Há quanto tempo eu não desabafava? Eu só desabafava por meio de textos. E agora tinha uma pessoa me ouvindo. E eu me sentia como uma problemática idiota por encher de meus problemas.
- Entendi. Isso é realmente triste. Você perdeu boa parte da sua vida por um motivo que, eu asseguro, não é real. Você não é nada. Você só não é perfeita, assim como eu não sou. Eu sei que com esse físico maravilhoso e com esse rosto de anjo é difícil acreditar que eu tenho defeitos. - se gabou, rindo, e eu revirei os olhos, lhe dando um tapinha. Desde quando eu me sentia à vontade para dar tapinhas nas pessoas? - Mas eu tenho. E se eu bem sei, ainda me dão defeitos que eu não tenho. - olhou rapidamente para baixo, mas logo voltou a me olhar diretamente. - A pergunta que vai mudar isso é: Você quer viver, ? Quer mostrar para o mundo quem você é? Porque eu sei que você não é só uma garota sozinha carregando seus livros.
Eu pensei. Eu me questionei. Eu listei prós e contras mentalmente. Eu queria viver. Sempre quis.
- Eu só tenho medo de que me julguem. Que não gostem do meu jeito, e que eu acabe sozinha por abandono, e não por opção. - admiti baixo e abaixei a cabeça. Os dedos de tocaram meu queixo, levantando minha cabeça e colocando meu cabelo atrás da minha orelha.
- A vida é bastante complicada. As pessoas vão julgar você, uma hora ou outra, não vou mentir. - respirou fundo. - Mas a gente não pode se basear no que acham da gente. A gente tem que tentar ser feliz porque, poxa, a vida é uma só. E eu duvido que alguém tenha a capacidade de te deixar sozinha. - seus dedos se dirigiam para minha bochecha, mas ele interrompeu o ato na metade.
- Por que duvida? - meu olhar sobre ele era curioso.
- Porque mesmo que a gente não tenha se falado por tanto tempo, já quero ter certeza que vou te ver de novo amanhã. - piscou e eu sorri. - Mas voltando ao ponto principal, vai sair do seu quarto, ? Tem um mundo te esperando.
- Eu já me acostumei, não sei o que é auto estima, não tenho roupas muito bonitas. Nem dinheiro suficiente para renovar meu guarda-roupa. Eu não sei me maquiar direito, nem conversar com garotos. A última vez que fiz isso, foi com 15 anos. - levei minhas mãos ao rosto, tapando o nariz e a boca, com vergonha.
- Você já beijou, né? Mais de uma vez? - assenti com a cabeça e então ele continuou a falar. - Você só precisa se descobrir. Eu posso te ajudar nisso, você tem tudo que uma mulher precisa, só precisa saber usar isso ao seu favor.
- Você me ajudar? Não precisa... - olhei para os lados, querendo fugir dali. Ele se levantou e me estendeu a mão, me levantando também. Foi para trás de mim e eu prendi a respiração.
- Eu vou saber te ajudar. Eu prometo. Você vai começar a se ver exatamente como você é. - sua voz baixa perto do meu ouvido me fez prender o lábio entre os dentes, e pela primeira vez em muito tempo, não foi por vergonha ou nervosismo.
- E como eu sou? - não sei de onde tomei coragem para conversar com ele naquela situação.
- Você é linda, garota. E eu vou te ajudar a ver isso e fazer os outros verem isso, porque, por
enquanto, eu sou o único privilegiado. - senti seu corpo se distanciar do meu e me virei, o vendo sentar. Sentei junto com ele.
Até pensei em reconsiderar e chegar a uma conclusão: o mundo aqui fora, com certeza, era muito mais divertido do que o de dentro do meu quarto.
O relógio apontava quatro da manhã e minha mãe ainda não havia dado sinal de vida, ou seja, eu ainda estava com sentada naquele chão frio. As horas com ele passaram divertidamente rápidas. Ele era um cara bom. Conversamos sobre música, filmes, séries, livros, futebol, faculdade... Nós tínhamos tantos assuntos e eu estava tão feliz em conversar que eu queria me beliscar para ver se era um sonho. Eu já havia adquirido certa leveza para conversar com ele, não estava mais extremamente envergonhada de cada sílaba que eu dizia e me arrisco a dizer que conversar com ele me fez lembrar bastante de como eram as coisas antigamente.
- Quem sabe a gente não se vê na faculdade, . - levantou-se do chão onde estávamos sentados e me deu um abraço, logo caminhando tranquilamente até sua moto e eu não pude evitar de sorrir. E fiquei sorrindo igual uma idiota até o ronco do motor da sua moto me assustar.
- Oi, filha. Eu sinto muito pelo que eu fiz. Eu.. - minha mãe tentou me abraçar e eu a impedi. Eu estava cansada de desculpas. De promessas falsas. Eu não iria mais me machucar com aquilo, eu iria mudar meu foco. Agora eu iria pensar em mim. Eu iria buscar minha felicidade, onde quer que ela estivesse.
- Não precisa falar nada. Só abre a porta para eu tomar banho e dormir, estou cansada.
- E o garoto gatinho que estava aqui? - me cutucou com o cotovelo e eu revirei os olhos. - Quem era? - abriu a porta e eu entrei antes dela, escutando-a fechar e me seguir pelas escadas.
- Era da faculdade. - entrei no meu quarto e fechei a porta, mas ela continuou falando.
- Não vai me dar detalhes? - berrou pela porta.
- Você não me fala nada da sua vida e das suas decisões, por que eu falaria algo para você? - berrei de volta e ela se calou. E com a paz do sossego, tomei meu banho e fui dormir.
Eu nunca havia ficado tão ansiosa para ir para faculdade. Saber que agora eu não ia mais passar despercebida como uma sombra, pelo menos para , me deixava aflita. Eu olhava para minhas roupas todas jogadas na minha cama, procurando alguma que fosse um pouco menos folgada e larga, mas essa era uma tarefa difícil. Não havia nenhuma, a não ser minha roupa de dormir. Coloquei a calça jeans mais justa que tinha, que ainda assim era um pouco larga, e uma blusa de mangas compridas que tinha um desenho da mulher maravilha no centro. Diferente do usual, deixei meus longos cabelos soltos. Eles não eram tão feios assim. Ou eram? Não importa, . Você quer mudar, não quer? Então, coragem. Minha pele nunca havia me dado problemas com espinhas ou algo assim, então só passei um rímel. Eu com maquiagem, mesmo que pouca, era algo raro. Passei meu perfume 212 e me olhei a última vez no espelho antes de descer as escadas, peguei minha bolsa no sofá da sala e me dirigi até a porta.
- Já vai para faculdade, filha? - minha mãe disse da cozinha.
- Sim, vou. Tchau. - e fui embora. Eu ainda estava com raiva da situação de ontem, quando de fato deveria agradecê-la. Se não fosse a merda que ela fez, não me ajudaria a viver. Andei por uns minutos até o ponto de ônibus e, sem muita demora, peguei um e esperei que me deixasse na faculdade. Enquanto eu caminhava tranquilamente pelo estacionamento, ouvi um barulho de uma moto estacionando próxima a mim.
- , que honra ser a primeira pessoa a te encontrar. - desceu da moto enquanto falava e sorriu. Eu sorri de volta e ele se colocou ao meu lado, caminhando comigo.
- Ah, , preciso dizer que é estranho ser notada. - me encolhi um pouco.
- Você merecia mais atenção que muitas pessoas daqui. Todas vazias que se acham o centro do mundo. Eu não sei por que estou dizendo isso, mas fiquei muito feliz em ter te encontrado de novo. Você é diferente das pessoas que estou acostumado a lidar. - me encarou, sério, e eu respirei fundo, mordendo o lábio. - Às vezes eu me pergunto como você consegue ser tão sexy sem querer. - ele disse e eu me segurei para não rir do fato de termos pensado a mesma coisa. - Essa sua mordida no lábio. - ele suspirou. - Você deveria parar com isso, a não ser que queira outra pessoa mordendo no seu lugar.
- Ninguém quer morder meu lábio, . Não seja bobo. - balancei a cabeça em negação e nós agora estávamos dentro da faculdade, e não no estacionamento. Senti sua boca próxima ao meu ouvido.
- Não me leve a mal, mas eu adoraria. - meu rosto provavelmente ficou vermelho quase que instantaneamente. Ele só poderia estar brincando.
- Para de me zoar. - fiz bico e ele riu.
- Mas não estou. Passamos pelo corredor da minha sala e ele me levou até lá. - Está entregue. Se comporte, mocinha. - fez uma pose de mandão e eu ri.
- Eu sou a imagem da obediência. - passei a língua pelos meus lábios, umedecendo-os.
- Boa garota. - piscou e se dirigiu para um corredor que eu julguei levar para algum trabalho que ele estava fazendo ali.
Sentei no fundo da sala, como de costume, e assisti às aulas que vinham antes do intervalo. Dali do fundo, em dado momento, eu parei para observar as pessoas. Cada uma delas. Todas tão diferentes que, ironicamente, se tornavam iguais por isso. E eu era igual a todos eles. Eu era um ser humano, eu tinha o direito de viver, não tinha? Eu sempre vi várias dessas pessoas marcando de saírem para festas, cinemas, para a casa uns dos outros, e eu sempre tinha encontro marcado com minha solidão. Mas havia me feito pensar. E eu percebi que se até no inverno o sol tem seu dia de brilhar, eu poderia brilhar um pouco também.
De repente, todos começaram a se levantar e eu me dei conta de que o intervalo havia chegado. Abri minha bolsa e olhei para o livro que estava ali. Eu deveria deixá-lo ali uma vez, não deveria? Hoje eu não iria ficar lendo em algum canto da faculdade. Me levantei, atravessei a porta e me senti um pouco deslocada por andar naquele corredor lotado sem meu melhor amigo de papel.
Mesmo que eu quisesse e estivesse disposta a querer mudar, ainda havia muitas barreiras a serem quebradas diante de toda aquela situação, e uma delas era estar, por exemplo, andando pela faculdade sem me importar com os olhares para cima de mim. Talvez tudo aquilo fosse coisa da minha cabeça, ou talvez realmente estivessem falando de mim ou me olhando com outros olhos, mas se fosse para que eu pudesse viver da maneira como eu queria, valia um esforço.
Infelizmente não tive qualquer contato com , mas gostaria, já que de umas cinco frases, umas oito eram inspiradoras e não era nada chato, era até engraçado e fofo. Decidi que iria passar todo o meu dia com aquela “personagem” que havia criado para que pudesse saber se realmente valeria a pena lutar por aquilo que para alguns poderia parecer algo extremamente fútil.
Depois de mais algumas horas dentro da sala de aula, finalmente fomos liberados. Eu não sabia se deveria esperar na minha sala ou no estacionamento, mas mesmo assim peguei minhas coisas e me dirigi para a saída da faculdade. Assim que coloquei os pés lá fora, ele parou a moto na minha frente.
- Pronta, srta. ? - eu sorri e ele fez sinal para que eu subisse na moto. Assim eu fiz. - Se agarre em mim como se eu fosse o cara daquela banda que você gosta e ficarei tranquilo quanto a sua segurança. - riu e eu o abracei.
- O que vamos fazer no shopping?
- Vamos comprar suas roupas, linda. - ele ligou a moto e deu a partida. Eu não tinha dinheiro para pagar roupas. Não mesmo.
- Mas eu não tenho dinheiro para comprar roupas. Melhor não irmos. - apertei levemente suas costelas.
- São presentes meus, . - a simplicidade em sua fala me surpreendeu. Ele dava roupas de presente para todas as garotas que conhecia?
- Mas você vai pagar roupas para mim... Isso não é muito correto. Voltamos a conversar praticamente ontem. - argumentei e pude o ouvir bufar. Era nítido que ele odiava meus questionamentos.
- , eu quero. Eu vou te pagar todas as roupas que você quiser e não quero que você discuta comigo nem mais um segundo. Estamos entendidos? Mania chata essa sua de questionar tudo. - riu fraco no final do que disse e eu balancei a cabeça em afirmação, como se ele pudesse me ver.
O shopping era próximo dali então, em poucos minutos, havíamos chegado lá. Adentramos o shopping e eu me senti extremamente envergonhada. Eu só estava acostumada com a sala de aula, com as pessoas quietas e vestidas adequadamente para um ambiente acadêmico. O shopping era diferente. Havia milhares de pessoas, andando pra lá e pra cá, distribuindo um pouco de seu humor com cada um que os cruzava. Grupos de amigos riam, casais se beijavam e garotas solitárias andavam no que deveriam ser seus melhores saltos em busca de um par. A liberdade de um shopping parecia deixar as pessoas felizes. Mas eu estava acanhada. Provavelmente todos os olhares que se direcionavam a nós dois, eram exclusivos para . Ele era um loiro bonito, atraente. Já eu, só queria correr e me esconder no quarto para chorar por não ser tanto quanto deveria. Eu sentia como se todos ali fossem superiores a mim, como se nem que fosse em um detalhe, eles me superassem com facilidade.
- Você tá bem? Seu rosto... - tocou minha bochecha quando percebeu meus olhos cheios de lágrimas, que eu lutava para manter aprisionadas.
- Eu quero ir embora. Eu não gosto de ficar junto de muita gente, me sinto muito inferior. Não sou tão bonita, nem tão feliz... Eu prefiro ficar sozinha no meu quarto. - ele passou seu braço pelo meu pescoço, enterrando meu rosto no seu peito e acariciou meu cabelo, me levando para um corredor. Encostou-me na parede e segurou minha mão. Ele estava sendo muito cuidadoso com uma menina chata.
- Olha, se quiser chorar, chore. Mas me abrace e chore. Não preciso que ninguém fique vendo você chorar. - e num impulso, foi isso que fiz. Chorei com o rosto escondido no seu pescoço. Eu podia o ouvir suspirar e passar a ponta dos dedos por minhas costas. Passei alguns minutos ali, fingindo que estava dentro do meu quarto, isolada de tudo. De tudo menos dele. - Agora já chega, linda. - entrelaçou os dedos delicadamente nos meus cabelos, puxando-os devagar para que eu o encarasse. - Eu estou aqui para ajudar você. E você precisa se acostumar a enfrentar o mundo. Você não é inferior a ninguém. A gente precisa trabalhar muito sua autoestima, ein? - riu fraco e eu mordi meu lábio. - Qualquer coisa, se você se sentir mal de novo, só segurar minha mão. Eu tô com você nessa. - beijou minha testa e eu sorri. - Agora vamos! Você ainda tem que desfilar para mim com as roupas que a gente escolher. - sua mão fez um carinho na minha cintura e sua língua passou rapidamente e discretamente pelo seu lábio inferior.
- Desfilar? - olhei para meus pés, envergonhada só de pensar.
- Você já está na faculdade e não se acostumou que os alunos mostram suas qualidades e os professores aprovam ou não? - sorriu de lado e eu coloquei meus braços pelos seus ombros, aproximando minha boca de seu ouvido.
- Obrigado por tudo. Espero que você me aprove. - ri pelo nariz e ele apertou minha cintura levemente. - Em que loja vamos primeiro?
- A que você quiser, baby. - ele andava com a mão na minha cintura e qualquer uma daquelas pessoas poderia jurar que éramos um casal.
- Entra nessa aqui, minha mãe e as amigas compram tudo aqui. - me colocou em sua frente e me impulsionou a andar na direção da entrada da loja pelos quadris. Assim que entramos, passei o olhar por toda a loja e fiquei perdida. Eu não sabia mais escolher nada sem ser moletons e camisetas de algodão.
- Não sei escolher roupas... São todas lindas, mas será que vão ficar bonitas em mim? - falei baixinho, buscando os olhos de .
- Vão ficar bonitas sim. Você precisa mostrar mais esse corpo. Você tem algo contra isso? - perguntou, atencioso.
- Não. Só fico um pouco insegura - ri falso e ele revirou os olhos.
- Vamos acabar com essa insegurança. - pegou na minha mão e adentramos ainda mais a loja. O loiro pegava umas roupas para me dar, eu escolhia outras e no final tínhamos mais de 20 peças. A maioria eram vestidos justos e provavelmente curtos. Havia shorts, camisetas do meu tamanho e calças jeans skinny. Fomos ao provador e ele se sentou no sofá que havia do lado de fora. - Você vai vir aqui me mostrar todas as roupas. Tente não demorar, linda. - colocou as mãos atrás da cabeça, se acomodando no sofá.
- Sim, senhor. - passei a língua pelos lábios e ele sorriu, logo depois entrei na cabine para uma maratona de troca de roupas. Parada em frente ao enorme espelho iluminado em suas laterais, eu me observei da cabeça aos pés. Aquela sempre era uma parte muito complicada. Meus pequenos dedos se enrolaram no tecido da camiseta e eu a retirei, logo em seguida fazendo a mesma coisa com a calça e os sapatos. Eu odiava o que via naquele pedaço de vidro inocente. Ele parecia me ofender profundamente, mesmo sem sequer ser algo vivo. Peguei o primeiro vestido e respirei fundo antes de começar a colocá-lo mesmo que não me agradasse.
Quando estava já pronta, parei na frente de que mexia em seu celular, parecia estar escrevendo uma mensagem de texto gigante e julguei a ser para Logan, já que sempre conversavam demais pelo o que havia me contado antes. Eu o encarava com um sorriso tímido, não sabendo qual seria a reação correta e mais apropriada para se ter naquele momento diante dele. Ele se levantou no mesmo momento jogando o celular no sofá e deu um passo para trás, analisando de cima até embaixo, piscando algumas vezes. Poderia até ousar em dizer que ele levava jeito para encontrar algo que realmente ficasse legal em mim.
- ... Caralho. Você tá linda demais! Eu disse! Você não tem que esconder isso tudo aí. Olha só para você... Olha essas pernas... – murmurou, mordendo o lábio sem perceber, o que me fez ficar um pouco envergonhada.
- ... Obrigada pelos elogios. – sorri, mordendo o lábio, dando um sorriso largo, e dei uma volta para que eu a pudesse ver melhor. – Eu não acho que branco realmente combine comigo. – abaixei a cabeça. Mesmo que tivesse ficado bonito, não era algo que eu estivesse acostumada a usar.
- Gatinha... É claro que combina com você. Você pode usar até um verde da cor daqueles chicletes de menta que o pessoal coloca embaixo das mesas da faculdade. – colocou uma de suas mãos em minha cintura e levou a outra até meu queixo, levantando meu rosto para me encarar. – Acredite em mim, se eu digo que ficou bonito, é porque realmente ficou.
- Acho que... Obrigada? – ri de sua referência sobre o chiclete, achando realmente engraçado.
- Isso foi um elogio, de nada. E lembre-se de não colocar as mãos embaixo das mesas e das cadeiras da faculdade, docinho. As coisas lá não são boas. – sorriu, se afastando de mim e voltando a se sentar. – Agora é a vez de você colocar o resto do que pegamos para você. Vou estar aqui te esperando.
Eu ainda não entendia muito bem o porquê de estar me ajudando com tudo aquilo, já que ele poderia muito bem ter muitas coisas para fazer além de estar aqui, cuidando de uma garota com alguns problemas de autoestima e que nem sequer tinha algo para oferecer em troca. Por incrível que pareça, cada peça escolhida por ele e com a ajuda de uma das vendedoras, ficaram perfeitas em mim e por um momento eu estava gostando daquilo. Não a parte de ser mimada, mas a parte que eu estava conhecendo um lado meu que eu não fazia ideia que existia, mas como sempre, aquilo era passageiro, assim como deveria ser na minha vida também. Por isso, apenas aproveitei o momento.
Com várias sacolas em mãos, camisas, vestidos, calças e sapatos, chegava até ser difícil de imaginar como chegaríamos em minha casa com ele pilotando sua moto, mas com uma calma que eu invejei e um equilíbrio espetacular, finalmente chegamos no destino. Infelizmente eu gostaria de convidar para que ele entrasse, mas minha mãe estava com seu namorado novo e aquilo me deixava desconfortável, ainda mais perto das visitas. já estava me ajudando demais e não queria ter que colocá-lo no meio de outro problema que eu tinha em minha vida, e apesar dele ser insistente acabei sendo salva por uma mensagem de Logan em seu celular, pedindo que ele o encontrasse logo, parecia uma coisa urgente, mas que com certeza ele daria conta.
All Over Again tocava em meus fones enquanto eu me balançava na cama encarando o teto com o pensamento tão distante. Meu pensamento tinha um nome, uma personificação, um cheiro, uma cor, um modo de vestir, um modo de falar... Meu pensamento ainda estava com todas as forças em , junto de minhas inúmeras dúvidas. A primeira era: quando ele se tornou tão bonito? Tão cheiroso? Tão… Sei lá? Qualquer tipo de menina que passava ao seu lado o encarava de uma forma tão descarada que eu me perguntava se aquele homem ao meu lado era a mesma pessoa que eu conheci quando criança. De fato as pessoas mudam, amadurecem, mas tinha uma mistura de um cara fofo com uma pegada mais… Madura, talvez? E o que ele viu tanto em mim para que pudesse me ajudar sem poder contestá-lo? Foram alguns anos sem nos falar e justo agora tudo mudou num passe de mágica. O que ele tem na cabeça? Em meio aos pensamentos alheios e duvidosos acabei adormecendo sem nenhuma conclusão boa o suficiente para tirar essa dúvida da cabeça.
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Um dia de sábado era o momento perfeito para poder dormir até tarde sem que ter ninguém para encher seu saco, certo? Mas essa pequena regra não se aplicava a mim. Bem cedo eu já estava de pé para arrumar casa, principalmente porque minha mãe trabalhava de manhã e na maioria das vezes, agora que havia arranjado um namorado, estava passando mais tempo com ele a noite, ou seja, tudo cai sobre . Seja sua nova versão ou sua antiga versão. Quartos arrumados, banheiros lavados, cozinha limpa, sala arrumada, quintal arrumado, roupas secas, recolhidas, dobradas e guardadas, comida feita e uma garota exausta jogada no sofá enquanto buscava por alguma coisa que fosse a distrair pelas redes sociais.
Havia uma festa na faculdade novamente, algo como Sigma Sigma que nunca havia entendido bem o que era e muito menos de onde tiravam tanta disposição para fazerem tantas festas assim e ainda continuarem a estudar. Talvez eu fosse a estranha no caso. Pensei comigo mesmo que seria mais uma festa que eu não iria e já estava me programando para me entupir de batata frita, refrigerante e uns bons chocolates enquanto procurava uma comédia romântica aleatória pela internet, mas foi aí que recebi uma mensagem de , que fez com que eu sentisse um pequeno frio na barriga.
Imaginei que não seria algo sério e só de passar os olhos rapidamente por cima de sua mensagem, comecei a rir, já que envolvia nada mais nada menos do que indo a uma das festas da faculdade. estava ficando louco e eu tinha certeza disso dessa vez. Neguei com a cabeça várias vezes como se ele pudesse ver e joguei o celular sobre o sofá sem ter uma resposta para ele. Tudo bem que ele estava tentando me ajudar a ser outra pessoa, mas aquilo já era um pedido que estava totalmente fora da minha zona de conforto. A maioria do povo da faculdade se achava por terem dinheiro e todas as meninas pareciam ter ganhado de aniversário de dezoito anos um kit de silicone, preenchimento labial e lipoaspiração, coisa que eu estava totalmente longe de ter esse padrão.
Antes que eu pudesse resolver fazer alguma coisa e ignorar , meu celular começou a tocar. Comecei a rir quando a imagem na tela era a foto do loiro mostrando a língua em uma careta, que por sinal, eu nem me lembrava dele ter tirado essa foto. Provavelmente havia pegado meu celular enquanto eu não estava olhando. Sua chamada foi finalizada sem que eu atendesse e várias mensagens sobre a festa estavam chegando.
: A festa.
: Você vai.
: Comigo.
: Eu tenho uma roupa perfeita.
: Para mim, no caso.
: Mas você tem roupas perfeitas também.
: Você precisa ir.
: Vai ser legal.
: Eu prometo.
: Você não vai fazer nada hoje.
: Vamos nos divertir.
: Se der errado, vamos comer batata frita.
: Vamos colocar a nova em ação.
: Você consegue.
: Te pego às oito.
: Você não me escapa. 😉
Era só o que me faltava: eu não iria conseguir dizer não para . Não porque ele havia insistido tanto, mas por tudo o que ele estava fazendo por mim para que eu pudesse me enturmar e ser uma nova versão minha. Eu daria uma chance para ele, e do fundo do coração? Esperava que essa escolha me trouxesse frutos bons…
Inúmeras fotos foram mandadas para na procura de um look perfeito até que ele resolveu escolher entre um vestido que ele mesmo tinha pegado na loja e uma bota de cano curto super confortável que me fazia parecer até um pouco mais alta do que o normal e aquilo era até bom, considerando minha altura perto do loiro, que sempre esteve na vantagem. Quis marcar e desmarcar aquela saída umas dez mil vezes, mas havia prometido que eu iria tentar e não poderia me desapontar e desapontar também , que estava me ajudando bastante nessa nova busca da minha melhor versão. Às oito em ponto lá estava ele buzinando em frente de minha casa, o que me fez rir já que ele realmente era mesmo pontual, talvez um charme a mais para ele. Ele usava uma camisa xadrez por cima de uma camisa lisa branca, uma calça preta e seus cabelos estavam penteados para cima, o que me fez parar e analisá-lo por alguns momentos me perguntando: quando ele ficou tão lindo assim?
— Terra chamando, . — estalou os dedos na frente de meu rosto, o que me fez acordar do transe. — Cadê sua maquiagem?
— Não sei usar maquiagem. Na verdade, eu tenho preguiça. — ajeitei minha bolsa no ombro, fugindo do seu olhar.
— Ah, não para cima de mim. — tirou o capacete e saiu de cima da moto, segurando em minha mão e me puxando. — Vou fazer uma coisa, você vai gostar.
insistiu que eu deveria deixá-lo me maquiar, pedindo para que eu confiasse novamente nos seus instintos. O que poderia dar errado? Eu já estava ali praticamente montada por ele, um toque a mais não seria ideal negar. Foram uma sombra marrom em degradê com preto, um blush ideal para minha cor, um rímel que achei que seria a parte mais difícil para ele, mas que acabou fazendo com delicadeza e para finalizar um batom nude no qual eu sempre gostei, mas nunca consegui uma ocasião para usá-lo.
— Contemple a nova versão de por inteiro. — disse, abrindo a câmera frontal do celular e me entregando para que eu pudesse ver.
Gostaria de entender porque tudo o que aquele homem encostava ficava ótimo, talvez ele fosse minha fada madrinha e eu nem estava me tocando.
— Você existe? É de verdade? Onde aprendeu isso? — o belisquei de brincadeira, rindo de sua reação exagerada à dor do meu beliscão.
— Não posso te contar, isso é segredo, linda. Quem sabe te conto depois. — piscou em minha direção e passou o braço por meus ombros. — E vamos para festa. Você vai arrasar.
A positividade que me trazia acabava por fazer com que um pingo de confiança pairasse sobre mim naquele momento, e por um tempo cheguei até mesmo acreditar que eu era tudo o que ele falava e mais um pouco. Talvez eu fosse mesmo, mas não percebia direito.
A festa era completamente diferente do que eu imaginava, imaginava uma coisa mais pesada, mas até que no momento estava algo que até mesmo eu, que nunca fui de sair, curtiria sem qualquer problema. segurava em minha mão enquanto andávamos pelo meio da multidão até que pudéssemos estar em um lugar completamente confortável para ficar parados, conversar, beber e até mesmo comer alguma coisa. Irônico, achei que nessas festas só havia bebidas e drogas. Erro meu.
Além de mim, também tinha algumas amigas que me receberam super bem, me oferecendo um copo com alguma coisa. Olhei para apenas para saber se podia confiar e ele concordou com a cabeça enquanto eu aceitava, dando um gole daquela bebida meio amarga e gaseificada. Cerveja. Não é que eu nunca tenha bebido, eu só não estava acostumada. Sempre gostei de algo mais doce, como uma vodka com refrigerante… Talvez eu pudesse fazer um copo para mim, mas só se estivesse bem louca para isso. Por incrível que pareça, quase toda minha idealização das meninas que frequentavam ali estavam erradas. Havia meninas assim como eu, que não tinha o perfil das Barbies mas também havia as Barbies que se exibiam com suas amigas e vários homens. Coitado de quem teria que aguentar aquilo a noite inteira.
Foram alguns copos de cerveja até que eu me sentisse um pouco mais leve em relação ao nervosismo que estava sentindo por sair da minha zona de conforto. segurou em meu braço de uma forma delicada quando começaram a fazer uma roda de dança e me convidou para que pudesse me divertir mais do que já estava conseguindo me divertir, e eu, como uma boa oportunista da noite, não poderia deixar de aceitar o seu convite.
Rain On Me da Lady Gaga ecoava pelo lugar, fazendo com que todos ali dançassem de uma maneira tão descontraída que dava inveja a qualquer um. estava na minha frente, fazendo movimentos com suas mãos no compasso da música enquanto eu repetia os mesmos movimentos, às vezes me permitindo me movimentar com meu quadril numa descida e subida sem me importar com os olhares alheios.
— Rain. On. Me.
Falamos os dois juntos antes de começarmos a pular e cantar a música em nossos microfones imaginários, sorrindo em meio à toda besteira que estávamos fazendo. Na verdade, eu estava sendo eu mesma naquela noite, sem nenhuma máscara, sem nenhum fingimento, e estava sendo melhor do que eu imaginava. sorria para mim enquanto dançava e pude notar como suas covinhas só faziam com que ele ficasse ainda mais bonito do que ele já era. Tudo nele parecia se destacar: seus olhos verdes, sua barba que estava crescendo, seu sorriso, e suas covinhas que o deixavam ainda mais atraente. Talvez eu esteja prestando atenção demais nele, ou ele que chama atenção mais do que devia. Em meio aos meus pensamentos alheios, senti um corpo atrás de mim, não entendendo muito bem do que se tratava já que estava em minha frente e também não faria isso comigo, logo, acreditei que era falta de espaço e dei um passo para frente, mas a pessoa continuou atrás de mim, o que fez com que logo fosse me puxar, mas a pessoa atrás de mim foi mais rápida e fez com que ficássemos cara a cara. A figura em minha frente fedia a vodka e eu me perguntava como alguém assim não estava em coma o algo do tipo somente pelo cheiro forte.
— E aí, gatinha. Vamos dar uma volta comigo. — o garoto mesmo com o tanto de álcool no sangue parecia estar bem demais.
— Não, obrigada. Estou curtindo minha noite. — disse num tom amigável, o que realmente era verdade.
— Você não entendeu. Eu disse para darmos uma volta. — ele disse, dessa vez em um tom mais agressivo.
— E eu disse que agradeço seu convite. — o encarei sem entender muito aonde ele queria chegar com aquilo.
— Você sabe com quem está falando, docinho? — ele segurou em meu braço, o que fez com que instintivamente viesse para cima, mas apenas estendi a mão para que ele parasse, o que fez com que o garoto sorrisse.
— Desculpa, eu não me dei conta… Pelo visto estou falando com um cara que não sabe ser rejeitado por uma mulher. - sorri e puxei meu braço de volta antes que ele pudesse fazer alguma coisa. — Você deveria aprender a lidar com mulheres em vez de tentar ser o troglodita em busca de uma presa. Se continuar assim, não vai conseguir ninguém essa noite, e se conseguir, infelizmente eu terei pena de quem vai ter que te aguentar. Ou vai deixar a garota na mão por dormir devido ao tanto de álcool no sangue ou vai acabar broxando com a menina por estar tão bêbado que não consegue se concentrar. No demais... — me aproximei dele e joguei o líquido que estava meu copo inteiro em seu rosto. — Que você aprenda que NÃO é NÃO. Passar bem.
Meu corpo estava num estado de euforia completamente louco, algo que jamais tinha experimentado na vida, o que fez com que eu apenas corresse dali em direção a algum lugar com menos pessoas para que pudesse tomar um ar e voltar minha cabeça para a Terra. Enquanto eu tomava um ar, apareceu em minha frente com um sorriso que eu ainda estava tentando decifrar, mas minha reação foi apenas abraçá-lo, antes de começar a me deixar levar pelas lágrimas. Por que eu estava chorando? Por que agora todo meu corpo estava queimando? Por que eu estava me sentindo daquele jeito?
— Linda, o que foi? O que aconteceu? - ele perguntou, preocupado, enquanto passava as mãos em minhas costas em um carinho reconfortante.
— Eu não sei. Eu só… Não sei. — sussurrei em meio aos soluços que saiam com facilidade.
— Quer sair daqui? Tomar uma água? Comer algo? Ir para casa?
— Podemos comer algo na minha casa? — tomei a liberdade de falar, depois de permanecer apenas fungando em seu abraço, e ele apenas concordou.
Tudo aquilo havia sido um misto de emoções que eu não consegui decifrar, talvez fosse muito para que eu pudesse assimilar em questão de tempo e acabei entrando em pane, mas pelo menos eu tinha uma pessoa comigo que estava me apoiando em tudo. E saber disso era... Ótimo.
A casa estava somente para nós dois, mas como dois idiotas que somos, acabamos por comprar no caminho batatas fritas e um refrigerante de todo tamanho para comermos enquanto conversávamos. Em meu quarto, tomei a liberdade de retirar toda maquiagem e troquei a roupa no banheiro, colocando um dos meus pijamas preferidos antes de sentarmos em minha cama e comermos. Estávamos com bastante fome, tendo em vista o tempo que dançamos e ficamos apenas bebendo, por mais que eu quisesse mesmo ter ficado ao lado da comida que havia na festa, mas não queria me mostrar tão esfomeada assim na frente dos outros, porém com eu tinha essa liberdade.
Nossa conversa fluía por todos os tipos de assunto possíveis, até que finalmente nossa comida acabou e nossa única alternativa foi deitar na cama enquanto ainda conversávamos sobre algo aleatório. estava deitado com um dos braços atrás de sua cabeça enquanto eu estava deitada em seu peitoral, sendo acariciada nos cabelos por sua outra mão, achando aquele contato nosso um máximo. Tão gostoso. Simples. Íntimo. Há poucos dias, eu não acreditaria que me encontraria naquela situação com um garoto e principalmente com meu amigo de infância que havia retornado das cinzas como uma fênix. Oportunidades como aquela não se encontrariam em nenhum lugar e principalmente para mim era uma raridade, e eu não iria passar despercebida. Eu podia ser boba, mas não era santa. Estava me sentindo mais do que a vontade para fazer qualquer coisa com ele ali e agora, e se acontecesse algo, eu não estaria me importando, afinal, estava aproveitando minha vida, certo? Um pequeno silêncio tomou conta do recinto, mas logo aquele silêncio foi quebrado graças ao barulho de nossos lábios grudados um no outro, se transformando em um beijo. Nossas bocas se encaixavam em um beijo completamente lento, porém intenso à medida que nossas línguas se encontravam. Um misto de sensações novas estavam invadindo meu corpo, como, por exemplo, borboletas no estômago em estar provando um beijo tão bom ou meu corpo se acender em chamas pelo toque de seus dedos em minha pele exposta e tão vulnerável aos seus toques.
Quando me dei conta, estava sentada por cima de seu colo enquanto ainda continuávamos a nos beijar. Nosso beijo começou a tomar um rumo um pouco mais avançado, onde estávamos agora conseguindo ouvir os sons que fazíamos misturado com alguns ofegos que, devido aos nossos movimentos, acabavam acontecendo involuntariamente.
Os dedos de adentraram de uma forma delicada a parte da camiseta de meu pijama, entrando em contato com minha pele, o que fez com que eu me arrepiasse e mordesse meu próprio lábio em resposta. Estava sendo a primeira vez que alguém ultrapassava esses limites impostos por mim mesma, e aquilo estava sendo melhor do que eu imaginava. De repente, os beijos cessaram, mas logo voltaram em outro sentido. Cada beijo depositado em minha pele era como se uma corrente elétrica percorresse desde o meu primeiro fio de cabelo até o dedo do pé, causando uma sensação de querer mais e mais.
Seus lábios percorriam desde o meu pescoço até meus lábios, fazendo outra trilha dos meus lábios até meus ombros, o que fazia com que ao mesmo tempo em que me sentisse completamente excitada, me sentisse…. Desejada. Ao olhar para baixo, me deparei com uma visão tão linda, mas que ao mesmo tempo fez com que eu me envergonhasse. Seus olhos verdes estavam me encarando sobre uma pequena fresta de luz que vinha do lado de fora devido à lua cheia, fazendo com que aquilo fosse fofo e sensual ao mesmo tempo, da mesma maneira como eu o via.
— Você é maravilhosa. Nunca deixe que alguém te diga o contrário. Lembre-se disso.
Essas palavras inesperadas me fizeram querer chorar. Chorar não por tristeza, mas por alegria de alguém achar aquilo de mim e estar disposto a me lembrar daquilo sempre que pudesse. Aquilo de longe já havia feito com que minha noite fosse a melhor noite que já tive na vida inteira e eu estava pronta para que fosse uma noite mais do que especial. Quando me dei conta, estava por cima de mim na cama, ainda me beijando, mas agora seus beijos desciam até o meu busto e voltavam, antes de me encarar novamente, esperando minha resposta. Minha resposta era sim, mil vezes sim. Concordei com a cabeça e logo ele havia entendido antes de voltar a beijar cada parte de meu corpo até que subiu minha camiseta por completo, mas não a tirou, apenas deixou meus seios expostos, o que me fez corar. Porém, no momento em que senti sua boca em contato com a parte sensível dos meus seios, esqueci completamente o que estava acontecendo. Em resposta ao seu estímulo, minhas costas se arquearam na cama em sua direção, querendo mais contato. Gemidos baixos começaram a tomar conta do quarto, porém, acordei daquele transe ao ouvir alguém me chamar. Era minha mãe. Merda. Merda. Merda. Minha mãe tinha o costume de sempre vir até meu quarto ver se eu estava realmente em casa ou dormindo quando chegava de suas noitadas com o novo namorado, e aquele dia não era diferente.
— Se você quer que isso aconteça de novo, por favor, finge que tá dormindo. — sussurrei para enquanto arrumava minha roupa e o abraçava novamente, deitando a cabeça em seu peitoral e fechando os olhos.
Antes que ele pudesse ter respondido alguma coisa sobre aquilo, ele fechou seus olhos na melhor imitação e minha mãe abriu a porta, trazendo uma pequena claridade para dentro do quarto, mas nada que nos fizesse “acordar”.
— Bobos… Ainda esquecem do cobertor. — comentou enquanto abria uma gaveta e pegava um cobertor, jogando em cima de nós e saindo do quarto.
Um alívio tomou conta de meu corpo quando a porta foi fechada e quis rir daquela situação toda, mas acho que meu corpo não estava reagindo da mesma maneira. me chamava, mas eu estava sonolenta demais para alguma coisa ou para falar algo, tentei até murmurar uma frase inteira, mas tenho certeza que me embolei antes de realmente pegar no sono abraçada com .
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Eu havia dormido com , mas não da maneira como eu realmente queria. Tudo bem, eu nunca havia dormido com ninguém dessa forma, mas me deixava de uma maneira na qual eu não sabia muito bem como responder, mas na realidade a única coisa que eu deveria fazer, era me deixar levar pelo momento que eu havia gostado. Acima de tudo, aquilo tinha sido ótimo, eu me senti super confortável, mas não saberia se ele iria querer alguma coisa de volta ou repetir o que fizemos. Infelizmente, uma boa parte de mim ainda era insegura e eu estava me descobrindo graças a , e eu ficava imaginando como minha vida estava mudando apenas com sua volta e mesmo com toda essa insegurança eu ainda estava disposta a continuar o que fizemos. Continuar de onde paramos. Mais uma festa estava programada para o final de semana, mas dessa vez eu tomei a liberdade de convidá-lo para que pudéssemos nos divertir juntos. Essa seria a grande noite e eu nada iria me atrapalhar.
Era uma das festas que eu mais estava gostando de estar, para ser sincera. A companhia de me trazia algo que eu não conseguia explicar, me trazia uma confiança na qual eu não tinha com ninguém e aquilo me mostrava que eu podia ser muito mais do que eu já era. Dessa vez, eu havia me arrumado bem, mas não porque eu queria aparecer para alguém ou para os outros, mas para que eu me sentisse melhor comigo mesma, e eu estava me sentindo bem e radiante como nunca havia me sentido antes. Eu havia descoberto uma versão minha que há pouco tempo eu nem sabia que existia e aquilo só me motivava a ser melhor a cada dia que passava, sem receio algum em mostrar quem eu era.
As luzes piscavam, os feixes de luz passavam em todos os lugares e a música estava alta, mas de uma maneira agradável. , com sua impagável camisa de flanela, estava mais lindo que nunca, e nossa sintonia estava uma das melhores, me deixando completamente à vontade para tomar até um copo de cerveja junto dele enquanto dançávamos cada música que era tocada. A próxima música que estava ecoando pelo lugar falava sobre festejar como se fosse o fim do mundo... Como se desse uma oportunidade de recomeçar tudo, uma grande noite para aproveitar tudo o que tinha a oferecer, e aquilo se encaixava muito bem na maneira como eu estava me sentindo, sendo assim tomei a liberdade de segurar no rosto de e o beijar. Sim, eu tomei a iniciativa e dei um dos melhores beijos da minha vida. Nossas bocas geladas pela cerveja e o leve gosto amargo da bebida só deixavam que o beijo se tornasse ainda mais único e gostoso da sua maneira. Era como se aquele beijo anulasse completamente todas as coisas alheias ao nosso lado, e se estivéssemos em um desenho, provavelmente fogos de artifício estariam saindo atrás de mim, indicando a intensidade das maravilhas que eu sentia diante daquele beijo.
Eu segurei sua mão, depois que nosso beijo foi cortado pela necessidade de ar de ambos, e sorri em sua direção, indicando com a cabeça para cima. Ele sabia muito bem o que eu estava querendo e eu não precisava ser mais explícita nos meus desejos ou em minhas feições. Caminhando de mãos dadas, subimos até um dos quartos que havia na casa e fechamos a porta atrás de nós mesmos. Agora eu não tinha mais vergonha, muito pelo contrário, estava me sentindo a vontade para me entregar a alguém que havia me mostrado o quão poderosa eu sou, sem precisar me esconder. O empurrei gentilmente contra a cama, fazendo com que ele se sentasse e logo sentei em seu colo, voltando a beijá-lo.
Dessa vez, estávamos em uma situação diferente da que havia acontecido em meu quarto, mas a única coisa que havia permanecido era o nosso desejo. Naquele momento, percebi que tínhamos todo tempo do mundo para nós dois. Em meio aos nossos beijos, , me pegando de surpresa, me virou na cama, me deixando por baixo e aquilo nos arrancou várias risadas que foram cessadas logo por beijos. Beijos que eram bem distribuídos em minha boca, meu pescoço e meus ombros nus.
Suas mãos percorriam meu corpo, tirando a única peça de roupa que eu usava que era meu vestido, me deixando apenas de sutiã. Seu olhar sobre mim não me deixava com vergonha, mas me fazia arder em desejo por saber que alguém me olhava daquela forma, na verdade, por saber que ele me olhava daquela forma. Estiquei-me apenas para que pudesse levantar a barra de sua camisa e a tirar, exibindo seu corpo e suas tatuagens que particularmente sempre achei que eram o seu charme. Novamente ele estava por cima de mim, depositando seus beijos numa carícia sem fim, o que me fazia ansiar ainda mais por ele.
Meus dedos passeavam por suas costas num carinho involuntário, tanto pelo cuidado que ele estava tendo comigo, mas também pelo carinho que eu tinha com ele. Quando seus beijos chegaram à barra de minha calcinha, eu aí tive a certeza do que estava prestes a acontecer, o que me deu um leve frio na barriga, não de vergonha, mas de ansiedade, pois queria aquilo desde a última vez do nosso pequeno acontecido. Minha calcinha foi retirada com o maior cuidado do mundo e, olhando seu rosto, eu tive a certeza que ele estava gostando. tinha uma cara de anjo, mas ele não me enganava, na verdade, não enganava ninguém. Ele voltou a me beijar, mas dessa vez seus dedos tomavam conta de minha intimidade, me masturbando de uma maneira tão gostosa que meus gemidos eram abafados por conta de seus lábios colados nos meus. Eu queria mais. Eu o queria.
Em um suspiro, o encarei, dizendo que estava pronta. A parte mais engraçada no sexo era de esperar a pessoa colocar a camisinha, e lá estava eu, tentando não olhar algo que me fizesse rir, mas na altura do campeonato, quem estava rindo era , que me encarava olhar para o teto como se estivesse contando estrelas. Com um beijo seu na ponta de meu nariz, eu fui acordada do meu pequeno sonho, o encarando com um sorriso no rosto, o ouvindo dizer algo como “Se te machucar, você pode falar comigo.” Eu apenas assenti com a cabeça, sabendo o que estava por vir, e para ser sincera, pela excitação que estava sentindo em ter aquele homem na cama comigo, eu não ligaria para dor alguma, e foi aí que o senti, de pouco em pouco, estar dentro de mim.
Seus olhos estavam fixos nos meus e eu apenas mordi meu lábio inferior, sentindo um ardor que levou um pouco de tempo para que eu pudesse me acostumar. Achava fofa a maneira como ele me perguntava se estava doendo ou se queria que ele parasse, mas eu não queria nada disso. Ele começou a se movimentar dentro de mim, fazendo com que eu me acostumasse com aquela sensação nova, e aos poucos aquela dor foi diminuindo, mas não sumindo completamente. Eu não estava ligando para aquilo, a sensação era gostosa mesmo que a princípio fosse dolorosa. Meus lábios novamente estavam nos dele, colado enquanto agora ele se movimentava sem qualquer preocupação comigo, e eu estava gostando.
Nossos gemidos eram abafados pela boca um do outro e nossos corpos se chocavam, misturados ao som da música que tinha de fora do quarto. Eu estava feliz. Pela primeira vez, eu estava feliz com tudo o que estava acontecendo em minha vida em muito tempo. Se eu pudesse me dar um conselho desde o início de tudo, era que eu pudesse viver minha vida como se fosse o fim do mundo: sem medo de ser quem você é, e aproveitando as oportunidades que o mundo te dá. A vida é muito curta para se prender em inseguranças do dia a dia, e, se sentir vontade, peça ajuda. Ajuda nunca é demais quando você é a prioridade. E como diria minha grande fada madrinha (ou fado): Você é maravilhosa. Nunca deixe que ninguém te diga o contrário. Lembre-se disso.
- O QUÊ? - aumentei meu tom de voz e ela permaneceu sorrindo como se tivesse me pedido pra tomar sorvete. - Mãe, você já viu as horas? São meia noite e meia. O tempo tá nublado. A farmácia é longe daqui. Você realmente quer que eu vá sozinha lá? - me controlei para falar tudo calmamente. Minha mãe subiu os degraus que faltavam e ficou frente à frente comigo.
- Eu preciso do remédio para o meu estômago. Você sabe que tenho dores terríveis. E eu estou com dor agora. - eu soltei o ar, bufando, e ela acariciou meus cabelos. - Sei que você vai lá rapidinho.
- Claro que não vou rápido, mãe. É longe. Mas eu vou comprar essa droga de remédio. - me virei de costas para ela, para ir trocar minha roupa. Quando cheguei na porta do meu quarto, lembrei que ainda havia uma coisa que eu não tinha perguntado.
- Por que está arrumada? - virei o rosto para olhá-la e pude ver que ela ficou um pouco nervosa com a pergunta.
- Eu tinha saído, cheguei agora há pouco. - gaguejou e coçou a nuca.
- Eu te vi lá embaixo, mãe. Você não saiu. Mas se quer mentir para mim, tudo bem. Estou acostumada com isso. – sorri, falsa, e bati a porta do meu quarto, sem deixar que ela tivesse chance de responder. Abri meu armário e peguei meu moletom e minha calça jeans. Tirei a roupa de dormir que eu estava e vesti as peças que havia pegado. Me olhei no espelho e vi a imagem de sempre, aquela que eu já estava cansada de ver. Meus cabelos longos presos num rabo de cavalo mal feito, meu corpo escondido nas roupas largas, e meus pés contidos num all star velho. Eu tinha sérios problemas comigo mesma. Eu, de fato, me odiava. Não gostava de meu corpo, de meu rosto, do meu cabelo. Cada detalhe era um problema, e, quanto mais eu pudesse me esconder em casa, melhor. E se eu tivesse que sair de casa, me esconder em roupas era meu plano B.
Puxei o capuz, cobrindo minha cabeça, e desci as escadas correndo, peguei o dinheiro em cima da mesa e saí sem sequer saber onde minha mãe estava. Eu caminhava com certa rapidez, tentando me convencer que chegaria lá logo, sã e salva, mas eu estava tremendo de medo. Uma garota saindo sozinha de madrugada não é uma coisa muito segura, afinal. Depois de longos minutos caminhando, finalmente cheguei na farmácia e comprei o remédio. Enfiei a pequena caixa de comprimidos no meu bolso e me preparei para volta exaustiva.
- Still got that same look that sets me off. - cantarolei baixo, para me distrair. - I guess there's just something about you. I got these feelings, can't let' em show. 'Cause I wouldn’t let you go. - eu me balançava discretamente no ritmo imaginário da música que eu mantinha na minha cabeça. - I shouldn't have let you go. You asked me for closure before, and girl I told ya, it's over, it's over, it's not over, so here we go again. - eu andava mais calmamente que na ida. Eu havia ido tão afobada que nem havia percebido a grande festa que rolava numa casa que estava a uns metros em frente de mim. E eu parei para pensar em como seria a sensação de estar numa festa. Eu nunca havia ido em uma, tinha vergonha. Não era tão bonita quanto aquelas garotas, muito menos, gostosa. Eu não tinha nada que um garoto procurava. Meus pensamentos foram interrompidos pelos pingos de chuva que me tocaram. - Droga, eu sabia que ia chover. - resmunguei e comecei a acelerar meus passos e, na mesma proporção que meu caminhar, a chuva ficou mais forte.
Meu rabo de cavalo começava a pesar e eu soltei meus cabelos. Péssima ideia. O vento forte fazia o cabelo molhado grudar no meu rosto e dificultava minha visão, que já estava terrível pelo temporal. Eu decidi então correr para chegar logo e me livrar daquela situação insuportável, e durante a minha corrida desajeitada, meu cabelo bateu nos meus olhos, pela milésima vez. Só que, dessa vez, isso aconteceu no mesmo momento em que eu pisei numa poça e eu desequilibrei, indo para frente, esbarrando em um garoto e caindo.
A chuva cessou e eu quis xingar os deuses. Levei meus dedos ao meu rosto, afastando meus cabelos para olhar para o garoto que se abaixou, ficando na minha altura. E eu não poderia acreditar. Era . e eu tínhamos uma amizade boa, já que praticamente nossas famílias eram muito amigas e sempre tivemos tempo para conversar um com o outro. Seus olhos eram verde claro, seus cabelos antigamente tinham uma franja que cobria sua testa de lado, mas que agora estavam num topete meio desarrumado e meio molhado, assim como todo seu corpo, mas mesmo assim ainda continuava lindo.
- Você está bem? Eu já te perguntei umas três vezes e você está me encarando. - finalmente acordei do meu transe, havia me perdido no tempo, droga. Senti meu rosto ficar quente quase que instantaneamente. - Agora você está ficando com vergonha. - riu e eu me dei conta de que a perfeição existia. Dei um pequeno sorriso, aflita. Ele segurou minha cintura para me levantar, mas tentei me levantar sozinha e meu braço doeu muito, me fazendo ir ao chão de novo. - Deixa eu te ajudar, . - suas mãos grandes me seguraram em cada lado da cintura e me puxaram pra cima, junto com ele. Por um impulso, coloquei minhas mãos em seu peito. Ele estava quente, contrastando com o tempo frio. Logo tirei as mãos dali e fui buscar forças dentro de mim para falar com ele.
- Obrigada por me levantar. Meu braço está doendo muito. - sussurrei e ele tomou a liberdade de tirar alguns cabelos que ainda estavam grudados no meu rosto.
- Não fiz nada demais. Por que que você estava correndo igual uma maluca pela rua sozinha à uma e vinte da manhã? Sem querer ser intrometido, mas é que isso é bem incomum. - colocou a mão na cintura, esperando uma resposta.
- Minha mãe me pediu um remédio, e, você sabe, eu moro um pouco longe da farmácia. Corri porque estava com medo. - olhei para meus pés e entrelacei minhas mãos uma na outra, mordendo meu lábio, com vergonha.
- Você quer que eu leve você em casa? Minha moto tá aqui. - apontou para casa.
- É a sua casa? - soltei a pergunta sem querer e levei um dedo à boca depois, mordendo discretamente.
- Não, linda. É a casa de um amigo de um amigo meu da faculdade. Ele sempre dá essas festas para galera de lá. - mas é claro que a estranha da nunca é chamada para essas coisas. - Você faz faculdade?
- Hum, sim. Faço psicologia na Eastern.
- Eastern? Eu também fiz faculdade lá! - sorriu abertamente. - Desde que passou o tempo, eu concluí a faculdade de Web Design na Eastern e agora trabalho na empresa com Logan. Já ouviu falar na Cover's Girl? Então... Como nunca te vi por aqui?
- Não tenho muitos amigos, sou tímida, fico lendo nos intervalos. - olhei pela primeira vez em seus olhos naquela conversa.
- Dá para perceber que você é uma boa garota. Mas uma garota como você não deveria ser tão tímida. - me olhou de cima à baixo, me fazendo querer correr e me esconder de vergonha. - Nem usar roupas tão largas. Você sabe disso. - uma pessoa apareceu na porta gritando por ele e ele pediu para que a pessoa esperasse.
- Desculpa ter que acabar com nossa conversa assim, mas eu preciso ir, antes que minha mãe pense que me mataram no caminho. - sorri fraco com certa vergonha pelo seu comentário tão repentino e ele me acompanhou.
- Vou pegar a moto para te levar, .
- Mas.. - eu ia falando, mas ele levou seu dedo indicador à minha boca, me calando.
- Me espere aqui. - e me deu as costas. Eu não sabia o que era melhor, ele de frente, ou de costas. Droga, . Não pense nesse garoto, você sabe que ele não vai passar de uma pessoa que te fez uma gentileza, ele nunca te olharia com outros olhos. - Vamos, ? - ele me chamou, rodando a chave nos dedos, e eu fui até ele. Coloquei o capacete que ele me entregou e subi na moto logo depois dele. Coloquei as mãos delicadamente em sua cintura e ele as segurou, colocando no seu abdômen. - Tem que me segurar firme, . Não precisa ter vergonha, se é isso que está te agoniando.
Minha relação com foi aquela relação de crianças que começam a conversar porque os pais são amigos e de repente são separadas e nunca mais tem aquele contato de antes. Era até estranho ver como ele havia mudado e eu praticamente permanecia da mesma maneira que sempre fui.
Durante o trajeto, ele parecia atento na pista e eu olhava para as casas que pareciam mais vultos, devido a velocidade. Eu ainda me sentia envergonhada pela carona que ele havia me dado e, então, anulei qualquer possibilidade de iniciar algum assunto. Eu só falei para apontar as ruas que levavam até a minha casa. Chegamos lá em aproximadamente 10 minutos, o que eu faria em 20 minutos se fosse caminhando. Desci da moto e esperei que ele descesse. Caminhei até a porta da minha casa, com ele ao meu lado.
- Se quiser, já pode ir, não quero dar muito trabalho. - minha voz saiu em um tom baixo e ele, que estava com a visão fixada no chão, me olhou, saindo do transe.
- Prefiro ter certeza que te deixei dentro de casa. Coisa chata de irmão mais velho. - fez uma careta e eu não contive uma risada tímida. - Eu uma vez deixei a minha irmã mais nova na calçada da casa da amiga e ela fugiu depois que fiz a curva. Namoros escondidos são um problema. - rimos e finalmente chegamos na porta. Rodei a maçaneta e não acreditei no que aconteceu. A porta estava trancada. Forcei a porta mais algumas vezes e nada. me olhava atento e eu olhei ao redor, não achando o carro da minha mãe. Eu não acredito que ela havia me enganado.
- Eu não acredito. - tampei meu rosto com as mãos e segurei a crise de choro de raiva que eu gostaria de ter. - Puta merda, eu realmente não acredito. - passei os dedos nos meus cabelos e olhei para , que esperava alguma explicação.
- O que aconteceu, ? - tocou minha cintura e eu soltei o ar.
- Minha mãe me pediu o remédio só para fugir com o namoradinho ridículo dela. - baixei meu olhar, fixando-o no chão - Ela me fez andar aquilo tudo de madrugada, na chuva e sozinha, para fugir com o namorado sem me avisar. Eu não entendo porque ela faz essas coisas comigo, de verdade. - meus olhos estavam cheios de lágrimas e eu não queria levantar o olhar. Não queria que o garoto que eu não via há anos, que acabou de me dar um pouco de atenção, me visse chorar igual uma retardada. - Ela vive para festinhas e namorinhos, como se ainda tivesse 17 anos. Ela tem uma droga de uma filha, mas parece que ela não se importa muito com isso. - limpei a lágrima que caiu com meu braço e levantei o olhar, com o rosto corado.
- ... Eu sinto muito por sua mãe ser assim. Aposto que você merece e faz por onde ter alguém muito melhor que ela. Você sabe que não precisa ficar passando por isso sozinha. - suas duas mãos seguraram meus quadris, me puxando contra ele, e logo seus braços não tão musculosos me envolveram. Eu precisava muito daquele abraço. Eu vivia muito sozinha, não conversava muito, não via pessoas. Eu vivia no meu mundo particular por temer o mundo real. E ele estava sendo tão bom comigo que eu comecei a reconsiderar o fato de que viver escondida em si mesma é a melhor opção.
- Obrigada. Não sei por que você está, hum, se importando tanto comigo, mas obrigada. De verdade. - falei entre o abraço e ele nos separou.
- Não precisa agradecer. E eu vou ficar aqui até sua mãe chegar. A gente conversa um pouco, se conhece, novamente, melhor e você não fica largada na rua de madrugada sozinha.
- Mas e a sua festa? - argumentei e ele revirou os olhos.
- Prefiro não te deixar sozinha do que ficar na mesma casa que um bando de bêbados. Eu faço isso quase toda semana. - riu e eu tomei fôlego para argumentar de novo. - Não adianta questionar.
- O que você quer saber, exatamente? - mordi meu lábio inferior, um pouco nervosa, e percebi que seus olhos desceram de meus olhos para meus lábios.
- Eu queria saber também porque você é tão tímida... Sei que é uma pergunta bem indiscreta, mas eu sempre fiquei com isso na minha cabeça. Você é tão bonita, é uma garota legal, deveria deixar mais gente te descobrir. - encarou meus olhos e eu suspirei. Eu tentava acreditar nos seus elogios, mas não conseguia.
- Eu sou tímida porque, hum, me acho ridícula. - abracei minhas pernas, mordendo a ponta de meus dedos, volta e meia. - Eu me acho feia. Acho meu corpo feio também. Eu sou bastante desinteressante. Até meus 15 anos eu fui bastante sociável, mas depois, eu comecei a tentar fazer de tudo para chamar a atenção da minha mãe. Eu não entendia porquê ela dava atenção a uns caras que ela nem conhecia e não dava para mim. Eu me sentia insuficiente, sabe? E de tanto tentar ser perfeita para que ela me notasse, eu acabei chegando à conclusão que eu não sou nada. E preferi começar a me esconder do mundo. Parar de sair, de conversar, focar só no meu estudo e no meu mundinho. É menos vergonhoso... - quando terminei de falar, mal acreditava no que havia feito. Há quanto tempo eu não desabafava? Eu só desabafava por meio de textos. E agora tinha uma pessoa me ouvindo. E eu me sentia como uma problemática idiota por encher de meus problemas.
- Entendi. Isso é realmente triste. Você perdeu boa parte da sua vida por um motivo que, eu asseguro, não é real. Você não é nada. Você só não é perfeita, assim como eu não sou. Eu sei que com esse físico maravilhoso e com esse rosto de anjo é difícil acreditar que eu tenho defeitos. - se gabou, rindo, e eu revirei os olhos, lhe dando um tapinha. Desde quando eu me sentia à vontade para dar tapinhas nas pessoas? - Mas eu tenho. E se eu bem sei, ainda me dão defeitos que eu não tenho. - olhou rapidamente para baixo, mas logo voltou a me olhar diretamente. - A pergunta que vai mudar isso é: Você quer viver, ? Quer mostrar para o mundo quem você é? Porque eu sei que você não é só uma garota sozinha carregando seus livros.
Eu pensei. Eu me questionei. Eu listei prós e contras mentalmente. Eu queria viver. Sempre quis.
- Eu só tenho medo de que me julguem. Que não gostem do meu jeito, e que eu acabe sozinha por abandono, e não por opção. - admiti baixo e abaixei a cabeça. Os dedos de tocaram meu queixo, levantando minha cabeça e colocando meu cabelo atrás da minha orelha.
- A vida é bastante complicada. As pessoas vão julgar você, uma hora ou outra, não vou mentir. - respirou fundo. - Mas a gente não pode se basear no que acham da gente. A gente tem que tentar ser feliz porque, poxa, a vida é uma só. E eu duvido que alguém tenha a capacidade de te deixar sozinha. - seus dedos se dirigiam para minha bochecha, mas ele interrompeu o ato na metade.
- Por que duvida? - meu olhar sobre ele era curioso.
- Porque mesmo que a gente não tenha se falado por tanto tempo, já quero ter certeza que vou te ver de novo amanhã. - piscou e eu sorri. - Mas voltando ao ponto principal, vai sair do seu quarto, ? Tem um mundo te esperando.
- Eu já me acostumei, não sei o que é auto estima, não tenho roupas muito bonitas. Nem dinheiro suficiente para renovar meu guarda-roupa. Eu não sei me maquiar direito, nem conversar com garotos. A última vez que fiz isso, foi com 15 anos. - levei minhas mãos ao rosto, tapando o nariz e a boca, com vergonha.
- Você já beijou, né? Mais de uma vez? - assenti com a cabeça e então ele continuou a falar. - Você só precisa se descobrir. Eu posso te ajudar nisso, você tem tudo que uma mulher precisa, só precisa saber usar isso ao seu favor.
- Você me ajudar? Não precisa... - olhei para os lados, querendo fugir dali. Ele se levantou e me estendeu a mão, me levantando também. Foi para trás de mim e eu prendi a respiração.
- Eu vou saber te ajudar. Eu prometo. Você vai começar a se ver exatamente como você é. - sua voz baixa perto do meu ouvido me fez prender o lábio entre os dentes, e pela primeira vez em muito tempo, não foi por vergonha ou nervosismo.
- E como eu sou? - não sei de onde tomei coragem para conversar com ele naquela situação.
- Você é linda, garota. E eu vou te ajudar a ver isso e fazer os outros verem isso, porque, por
enquanto, eu sou o único privilegiado. - senti seu corpo se distanciar do meu e me virei, o vendo sentar. Sentei junto com ele.
Até pensei em reconsiderar e chegar a uma conclusão: o mundo aqui fora, com certeza, era muito mais divertido do que o de dentro do meu quarto.
O relógio apontava quatro da manhã e minha mãe ainda não havia dado sinal de vida, ou seja, eu ainda estava com sentada naquele chão frio. As horas com ele passaram divertidamente rápidas. Ele era um cara bom. Conversamos sobre música, filmes, séries, livros, futebol, faculdade... Nós tínhamos tantos assuntos e eu estava tão feliz em conversar que eu queria me beliscar para ver se era um sonho. Eu já havia adquirido certa leveza para conversar com ele, não estava mais extremamente envergonhada de cada sílaba que eu dizia e me arrisco a dizer que conversar com ele me fez lembrar bastante de como eram as coisas antigamente.
- Quem sabe a gente não se vê na faculdade, . - levantou-se do chão onde estávamos sentados e me deu um abraço, logo caminhando tranquilamente até sua moto e eu não pude evitar de sorrir. E fiquei sorrindo igual uma idiota até o ronco do motor da sua moto me assustar.
- Oi, filha. Eu sinto muito pelo que eu fiz. Eu.. - minha mãe tentou me abraçar e eu a impedi. Eu estava cansada de desculpas. De promessas falsas. Eu não iria mais me machucar com aquilo, eu iria mudar meu foco. Agora eu iria pensar em mim. Eu iria buscar minha felicidade, onde quer que ela estivesse.
- Não precisa falar nada. Só abre a porta para eu tomar banho e dormir, estou cansada.
- E o garoto gatinho que estava aqui? - me cutucou com o cotovelo e eu revirei os olhos. - Quem era? - abriu a porta e eu entrei antes dela, escutando-a fechar e me seguir pelas escadas.
- Era da faculdade. - entrei no meu quarto e fechei a porta, mas ela continuou falando.
- Não vai me dar detalhes? - berrou pela porta.
- Você não me fala nada da sua vida e das suas decisões, por que eu falaria algo para você? - berrei de volta e ela se calou. E com a paz do sossego, tomei meu banho e fui dormir.
Eu nunca havia ficado tão ansiosa para ir para faculdade. Saber que agora eu não ia mais passar despercebida como uma sombra, pelo menos para , me deixava aflita. Eu olhava para minhas roupas todas jogadas na minha cama, procurando alguma que fosse um pouco menos folgada e larga, mas essa era uma tarefa difícil. Não havia nenhuma, a não ser minha roupa de dormir. Coloquei a calça jeans mais justa que tinha, que ainda assim era um pouco larga, e uma blusa de mangas compridas que tinha um desenho da mulher maravilha no centro. Diferente do usual, deixei meus longos cabelos soltos. Eles não eram tão feios assim. Ou eram? Não importa, . Você quer mudar, não quer? Então, coragem. Minha pele nunca havia me dado problemas com espinhas ou algo assim, então só passei um rímel. Eu com maquiagem, mesmo que pouca, era algo raro. Passei meu perfume 212 e me olhei a última vez no espelho antes de descer as escadas, peguei minha bolsa no sofá da sala e me dirigi até a porta.
- Já vai para faculdade, filha? - minha mãe disse da cozinha.
- Sim, vou. Tchau. - e fui embora. Eu ainda estava com raiva da situação de ontem, quando de fato deveria agradecê-la. Se não fosse a merda que ela fez, não me ajudaria a viver. Andei por uns minutos até o ponto de ônibus e, sem muita demora, peguei um e esperei que me deixasse na faculdade. Enquanto eu caminhava tranquilamente pelo estacionamento, ouvi um barulho de uma moto estacionando próxima a mim.
- , que honra ser a primeira pessoa a te encontrar. - desceu da moto enquanto falava e sorriu. Eu sorri de volta e ele se colocou ao meu lado, caminhando comigo.
- Ah, , preciso dizer que é estranho ser notada. - me encolhi um pouco.
- Você merecia mais atenção que muitas pessoas daqui. Todas vazias que se acham o centro do mundo. Eu não sei por que estou dizendo isso, mas fiquei muito feliz em ter te encontrado de novo. Você é diferente das pessoas que estou acostumado a lidar. - me encarou, sério, e eu respirei fundo, mordendo o lábio. - Às vezes eu me pergunto como você consegue ser tão sexy sem querer. - ele disse e eu me segurei para não rir do fato de termos pensado a mesma coisa. - Essa sua mordida no lábio. - ele suspirou. - Você deveria parar com isso, a não ser que queira outra pessoa mordendo no seu lugar.
- Ninguém quer morder meu lábio, . Não seja bobo. - balancei a cabeça em negação e nós agora estávamos dentro da faculdade, e não no estacionamento. Senti sua boca próxima ao meu ouvido.
- Não me leve a mal, mas eu adoraria. - meu rosto provavelmente ficou vermelho quase que instantaneamente. Ele só poderia estar brincando.
- Para de me zoar. - fiz bico e ele riu.
- Mas não estou. Passamos pelo corredor da minha sala e ele me levou até lá. - Está entregue. Se comporte, mocinha. - fez uma pose de mandão e eu ri.
- Eu sou a imagem da obediência. - passei a língua pelos meus lábios, umedecendo-os.
- Boa garota. - piscou e se dirigiu para um corredor que eu julguei levar para algum trabalho que ele estava fazendo ali.
Sentei no fundo da sala, como de costume, e assisti às aulas que vinham antes do intervalo. Dali do fundo, em dado momento, eu parei para observar as pessoas. Cada uma delas. Todas tão diferentes que, ironicamente, se tornavam iguais por isso. E eu era igual a todos eles. Eu era um ser humano, eu tinha o direito de viver, não tinha? Eu sempre vi várias dessas pessoas marcando de saírem para festas, cinemas, para a casa uns dos outros, e eu sempre tinha encontro marcado com minha solidão. Mas havia me feito pensar. E eu percebi que se até no inverno o sol tem seu dia de brilhar, eu poderia brilhar um pouco também.
De repente, todos começaram a se levantar e eu me dei conta de que o intervalo havia chegado. Abri minha bolsa e olhei para o livro que estava ali. Eu deveria deixá-lo ali uma vez, não deveria? Hoje eu não iria ficar lendo em algum canto da faculdade. Me levantei, atravessei a porta e me senti um pouco deslocada por andar naquele corredor lotado sem meu melhor amigo de papel.
Mesmo que eu quisesse e estivesse disposta a querer mudar, ainda havia muitas barreiras a serem quebradas diante de toda aquela situação, e uma delas era estar, por exemplo, andando pela faculdade sem me importar com os olhares para cima de mim. Talvez tudo aquilo fosse coisa da minha cabeça, ou talvez realmente estivessem falando de mim ou me olhando com outros olhos, mas se fosse para que eu pudesse viver da maneira como eu queria, valia um esforço.
Infelizmente não tive qualquer contato com , mas gostaria, já que de umas cinco frases, umas oito eram inspiradoras e não era nada chato, era até engraçado e fofo. Decidi que iria passar todo o meu dia com aquela “personagem” que havia criado para que pudesse saber se realmente valeria a pena lutar por aquilo que para alguns poderia parecer algo extremamente fútil.
Depois de mais algumas horas dentro da sala de aula, finalmente fomos liberados. Eu não sabia se deveria esperar na minha sala ou no estacionamento, mas mesmo assim peguei minhas coisas e me dirigi para a saída da faculdade. Assim que coloquei os pés lá fora, ele parou a moto na minha frente.
- Pronta, srta. ? - eu sorri e ele fez sinal para que eu subisse na moto. Assim eu fiz. - Se agarre em mim como se eu fosse o cara daquela banda que você gosta e ficarei tranquilo quanto a sua segurança. - riu e eu o abracei.
- O que vamos fazer no shopping?
- Vamos comprar suas roupas, linda. - ele ligou a moto e deu a partida. Eu não tinha dinheiro para pagar roupas. Não mesmo.
- Mas eu não tenho dinheiro para comprar roupas. Melhor não irmos. - apertei levemente suas costelas.
- São presentes meus, . - a simplicidade em sua fala me surpreendeu. Ele dava roupas de presente para todas as garotas que conhecia?
- Mas você vai pagar roupas para mim... Isso não é muito correto. Voltamos a conversar praticamente ontem. - argumentei e pude o ouvir bufar. Era nítido que ele odiava meus questionamentos.
- , eu quero. Eu vou te pagar todas as roupas que você quiser e não quero que você discuta comigo nem mais um segundo. Estamos entendidos? Mania chata essa sua de questionar tudo. - riu fraco no final do que disse e eu balancei a cabeça em afirmação, como se ele pudesse me ver.
O shopping era próximo dali então, em poucos minutos, havíamos chegado lá. Adentramos o shopping e eu me senti extremamente envergonhada. Eu só estava acostumada com a sala de aula, com as pessoas quietas e vestidas adequadamente para um ambiente acadêmico. O shopping era diferente. Havia milhares de pessoas, andando pra lá e pra cá, distribuindo um pouco de seu humor com cada um que os cruzava. Grupos de amigos riam, casais se beijavam e garotas solitárias andavam no que deveriam ser seus melhores saltos em busca de um par. A liberdade de um shopping parecia deixar as pessoas felizes. Mas eu estava acanhada. Provavelmente todos os olhares que se direcionavam a nós dois, eram exclusivos para . Ele era um loiro bonito, atraente. Já eu, só queria correr e me esconder no quarto para chorar por não ser tanto quanto deveria. Eu sentia como se todos ali fossem superiores a mim, como se nem que fosse em um detalhe, eles me superassem com facilidade.
- Você tá bem? Seu rosto... - tocou minha bochecha quando percebeu meus olhos cheios de lágrimas, que eu lutava para manter aprisionadas.
- Eu quero ir embora. Eu não gosto de ficar junto de muita gente, me sinto muito inferior. Não sou tão bonita, nem tão feliz... Eu prefiro ficar sozinha no meu quarto. - ele passou seu braço pelo meu pescoço, enterrando meu rosto no seu peito e acariciou meu cabelo, me levando para um corredor. Encostou-me na parede e segurou minha mão. Ele estava sendo muito cuidadoso com uma menina chata.
- Olha, se quiser chorar, chore. Mas me abrace e chore. Não preciso que ninguém fique vendo você chorar. - e num impulso, foi isso que fiz. Chorei com o rosto escondido no seu pescoço. Eu podia o ouvir suspirar e passar a ponta dos dedos por minhas costas. Passei alguns minutos ali, fingindo que estava dentro do meu quarto, isolada de tudo. De tudo menos dele. - Agora já chega, linda. - entrelaçou os dedos delicadamente nos meus cabelos, puxando-os devagar para que eu o encarasse. - Eu estou aqui para ajudar você. E você precisa se acostumar a enfrentar o mundo. Você não é inferior a ninguém. A gente precisa trabalhar muito sua autoestima, ein? - riu fraco e eu mordi meu lábio. - Qualquer coisa, se você se sentir mal de novo, só segurar minha mão. Eu tô com você nessa. - beijou minha testa e eu sorri. - Agora vamos! Você ainda tem que desfilar para mim com as roupas que a gente escolher. - sua mão fez um carinho na minha cintura e sua língua passou rapidamente e discretamente pelo seu lábio inferior.
- Desfilar? - olhei para meus pés, envergonhada só de pensar.
- Você já está na faculdade e não se acostumou que os alunos mostram suas qualidades e os professores aprovam ou não? - sorriu de lado e eu coloquei meus braços pelos seus ombros, aproximando minha boca de seu ouvido.
- Obrigado por tudo. Espero que você me aprove. - ri pelo nariz e ele apertou minha cintura levemente. - Em que loja vamos primeiro?
- A que você quiser, baby. - ele andava com a mão na minha cintura e qualquer uma daquelas pessoas poderia jurar que éramos um casal.
- Entra nessa aqui, minha mãe e as amigas compram tudo aqui. - me colocou em sua frente e me impulsionou a andar na direção da entrada da loja pelos quadris. Assim que entramos, passei o olhar por toda a loja e fiquei perdida. Eu não sabia mais escolher nada sem ser moletons e camisetas de algodão.
- Não sei escolher roupas... São todas lindas, mas será que vão ficar bonitas em mim? - falei baixinho, buscando os olhos de .
- Vão ficar bonitas sim. Você precisa mostrar mais esse corpo. Você tem algo contra isso? - perguntou, atencioso.
- Não. Só fico um pouco insegura - ri falso e ele revirou os olhos.
- Vamos acabar com essa insegurança. - pegou na minha mão e adentramos ainda mais a loja. O loiro pegava umas roupas para me dar, eu escolhia outras e no final tínhamos mais de 20 peças. A maioria eram vestidos justos e provavelmente curtos. Havia shorts, camisetas do meu tamanho e calças jeans skinny. Fomos ao provador e ele se sentou no sofá que havia do lado de fora. - Você vai vir aqui me mostrar todas as roupas. Tente não demorar, linda. - colocou as mãos atrás da cabeça, se acomodando no sofá.
- Sim, senhor. - passei a língua pelos lábios e ele sorriu, logo depois entrei na cabine para uma maratona de troca de roupas. Parada em frente ao enorme espelho iluminado em suas laterais, eu me observei da cabeça aos pés. Aquela sempre era uma parte muito complicada. Meus pequenos dedos se enrolaram no tecido da camiseta e eu a retirei, logo em seguida fazendo a mesma coisa com a calça e os sapatos. Eu odiava o que via naquele pedaço de vidro inocente. Ele parecia me ofender profundamente, mesmo sem sequer ser algo vivo. Peguei o primeiro vestido e respirei fundo antes de começar a colocá-lo mesmo que não me agradasse.
Quando estava já pronta, parei na frente de que mexia em seu celular, parecia estar escrevendo uma mensagem de texto gigante e julguei a ser para Logan, já que sempre conversavam demais pelo o que havia me contado antes. Eu o encarava com um sorriso tímido, não sabendo qual seria a reação correta e mais apropriada para se ter naquele momento diante dele. Ele se levantou no mesmo momento jogando o celular no sofá e deu um passo para trás, analisando de cima até embaixo, piscando algumas vezes. Poderia até ousar em dizer que ele levava jeito para encontrar algo que realmente ficasse legal em mim.
- ... Caralho. Você tá linda demais! Eu disse! Você não tem que esconder isso tudo aí. Olha só para você... Olha essas pernas... – murmurou, mordendo o lábio sem perceber, o que me fez ficar um pouco envergonhada.
- ... Obrigada pelos elogios. – sorri, mordendo o lábio, dando um sorriso largo, e dei uma volta para que eu a pudesse ver melhor. – Eu não acho que branco realmente combine comigo. – abaixei a cabeça. Mesmo que tivesse ficado bonito, não era algo que eu estivesse acostumada a usar.
- Gatinha... É claro que combina com você. Você pode usar até um verde da cor daqueles chicletes de menta que o pessoal coloca embaixo das mesas da faculdade. – colocou uma de suas mãos em minha cintura e levou a outra até meu queixo, levantando meu rosto para me encarar. – Acredite em mim, se eu digo que ficou bonito, é porque realmente ficou.
- Acho que... Obrigada? – ri de sua referência sobre o chiclete, achando realmente engraçado.
- Isso foi um elogio, de nada. E lembre-se de não colocar as mãos embaixo das mesas e das cadeiras da faculdade, docinho. As coisas lá não são boas. – sorriu, se afastando de mim e voltando a se sentar. – Agora é a vez de você colocar o resto do que pegamos para você. Vou estar aqui te esperando.
Eu ainda não entendia muito bem o porquê de estar me ajudando com tudo aquilo, já que ele poderia muito bem ter muitas coisas para fazer além de estar aqui, cuidando de uma garota com alguns problemas de autoestima e que nem sequer tinha algo para oferecer em troca. Por incrível que pareça, cada peça escolhida por ele e com a ajuda de uma das vendedoras, ficaram perfeitas em mim e por um momento eu estava gostando daquilo. Não a parte de ser mimada, mas a parte que eu estava conhecendo um lado meu que eu não fazia ideia que existia, mas como sempre, aquilo era passageiro, assim como deveria ser na minha vida também. Por isso, apenas aproveitei o momento.
Com várias sacolas em mãos, camisas, vestidos, calças e sapatos, chegava até ser difícil de imaginar como chegaríamos em minha casa com ele pilotando sua moto, mas com uma calma que eu invejei e um equilíbrio espetacular, finalmente chegamos no destino. Infelizmente eu gostaria de convidar para que ele entrasse, mas minha mãe estava com seu namorado novo e aquilo me deixava desconfortável, ainda mais perto das visitas. já estava me ajudando demais e não queria ter que colocá-lo no meio de outro problema que eu tinha em minha vida, e apesar dele ser insistente acabei sendo salva por uma mensagem de Logan em seu celular, pedindo que ele o encontrasse logo, parecia uma coisa urgente, mas que com certeza ele daria conta.
All Over Again tocava em meus fones enquanto eu me balançava na cama encarando o teto com o pensamento tão distante. Meu pensamento tinha um nome, uma personificação, um cheiro, uma cor, um modo de vestir, um modo de falar... Meu pensamento ainda estava com todas as forças em , junto de minhas inúmeras dúvidas. A primeira era: quando ele se tornou tão bonito? Tão cheiroso? Tão… Sei lá? Qualquer tipo de menina que passava ao seu lado o encarava de uma forma tão descarada que eu me perguntava se aquele homem ao meu lado era a mesma pessoa que eu conheci quando criança. De fato as pessoas mudam, amadurecem, mas tinha uma mistura de um cara fofo com uma pegada mais… Madura, talvez? E o que ele viu tanto em mim para que pudesse me ajudar sem poder contestá-lo? Foram alguns anos sem nos falar e justo agora tudo mudou num passe de mágica. O que ele tem na cabeça? Em meio aos pensamentos alheios e duvidosos acabei adormecendo sem nenhuma conclusão boa o suficiente para tirar essa dúvida da cabeça.
Um dia de sábado era o momento perfeito para poder dormir até tarde sem que ter ninguém para encher seu saco, certo? Mas essa pequena regra não se aplicava a mim. Bem cedo eu já estava de pé para arrumar casa, principalmente porque minha mãe trabalhava de manhã e na maioria das vezes, agora que havia arranjado um namorado, estava passando mais tempo com ele a noite, ou seja, tudo cai sobre . Seja sua nova versão ou sua antiga versão. Quartos arrumados, banheiros lavados, cozinha limpa, sala arrumada, quintal arrumado, roupas secas, recolhidas, dobradas e guardadas, comida feita e uma garota exausta jogada no sofá enquanto buscava por alguma coisa que fosse a distrair pelas redes sociais.
Havia uma festa na faculdade novamente, algo como Sigma Sigma que nunca havia entendido bem o que era e muito menos de onde tiravam tanta disposição para fazerem tantas festas assim e ainda continuarem a estudar. Talvez eu fosse a estranha no caso. Pensei comigo mesmo que seria mais uma festa que eu não iria e já estava me programando para me entupir de batata frita, refrigerante e uns bons chocolates enquanto procurava uma comédia romântica aleatória pela internet, mas foi aí que recebi uma mensagem de , que fez com que eu sentisse um pequeno frio na barriga.
Imaginei que não seria algo sério e só de passar os olhos rapidamente por cima de sua mensagem, comecei a rir, já que envolvia nada mais nada menos do que indo a uma das festas da faculdade. estava ficando louco e eu tinha certeza disso dessa vez. Neguei com a cabeça várias vezes como se ele pudesse ver e joguei o celular sobre o sofá sem ter uma resposta para ele. Tudo bem que ele estava tentando me ajudar a ser outra pessoa, mas aquilo já era um pedido que estava totalmente fora da minha zona de conforto. A maioria do povo da faculdade se achava por terem dinheiro e todas as meninas pareciam ter ganhado de aniversário de dezoito anos um kit de silicone, preenchimento labial e lipoaspiração, coisa que eu estava totalmente longe de ter esse padrão.
Antes que eu pudesse resolver fazer alguma coisa e ignorar , meu celular começou a tocar. Comecei a rir quando a imagem na tela era a foto do loiro mostrando a língua em uma careta, que por sinal, eu nem me lembrava dele ter tirado essa foto. Provavelmente havia pegado meu celular enquanto eu não estava olhando. Sua chamada foi finalizada sem que eu atendesse e várias mensagens sobre a festa estavam chegando.
: Você vai.
: Comigo.
: Eu tenho uma roupa perfeita.
: Para mim, no caso.
: Mas você tem roupas perfeitas também.
: Você precisa ir.
: Vai ser legal.
: Eu prometo.
: Você não vai fazer nada hoje.
: Vamos nos divertir.
: Se der errado, vamos comer batata frita.
: Vamos colocar a nova em ação.
: Você consegue.
: Te pego às oito.
: Você não me escapa. 😉
Era só o que me faltava: eu não iria conseguir dizer não para . Não porque ele havia insistido tanto, mas por tudo o que ele estava fazendo por mim para que eu pudesse me enturmar e ser uma nova versão minha. Eu daria uma chance para ele, e do fundo do coração? Esperava que essa escolha me trouxesse frutos bons…
Inúmeras fotos foram mandadas para na procura de um look perfeito até que ele resolveu escolher entre um vestido que ele mesmo tinha pegado na loja e uma bota de cano curto super confortável que me fazia parecer até um pouco mais alta do que o normal e aquilo era até bom, considerando minha altura perto do loiro, que sempre esteve na vantagem. Quis marcar e desmarcar aquela saída umas dez mil vezes, mas havia prometido que eu iria tentar e não poderia me desapontar e desapontar também , que estava me ajudando bastante nessa nova busca da minha melhor versão. Às oito em ponto lá estava ele buzinando em frente de minha casa, o que me fez rir já que ele realmente era mesmo pontual, talvez um charme a mais para ele. Ele usava uma camisa xadrez por cima de uma camisa lisa branca, uma calça preta e seus cabelos estavam penteados para cima, o que me fez parar e analisá-lo por alguns momentos me perguntando: quando ele ficou tão lindo assim?
— Terra chamando, . — estalou os dedos na frente de meu rosto, o que me fez acordar do transe. — Cadê sua maquiagem?
— Não sei usar maquiagem. Na verdade, eu tenho preguiça. — ajeitei minha bolsa no ombro, fugindo do seu olhar.
— Ah, não para cima de mim. — tirou o capacete e saiu de cima da moto, segurando em minha mão e me puxando. — Vou fazer uma coisa, você vai gostar.
insistiu que eu deveria deixá-lo me maquiar, pedindo para que eu confiasse novamente nos seus instintos. O que poderia dar errado? Eu já estava ali praticamente montada por ele, um toque a mais não seria ideal negar. Foram uma sombra marrom em degradê com preto, um blush ideal para minha cor, um rímel que achei que seria a parte mais difícil para ele, mas que acabou fazendo com delicadeza e para finalizar um batom nude no qual eu sempre gostei, mas nunca consegui uma ocasião para usá-lo.
— Contemple a nova versão de por inteiro. — disse, abrindo a câmera frontal do celular e me entregando para que eu pudesse ver.
Gostaria de entender porque tudo o que aquele homem encostava ficava ótimo, talvez ele fosse minha fada madrinha e eu nem estava me tocando.
— Você existe? É de verdade? Onde aprendeu isso? — o belisquei de brincadeira, rindo de sua reação exagerada à dor do meu beliscão.
— Não posso te contar, isso é segredo, linda. Quem sabe te conto depois. — piscou em minha direção e passou o braço por meus ombros. — E vamos para festa. Você vai arrasar.
A positividade que me trazia acabava por fazer com que um pingo de confiança pairasse sobre mim naquele momento, e por um tempo cheguei até mesmo acreditar que eu era tudo o que ele falava e mais um pouco. Talvez eu fosse mesmo, mas não percebia direito.
A festa era completamente diferente do que eu imaginava, imaginava uma coisa mais pesada, mas até que no momento estava algo que até mesmo eu, que nunca fui de sair, curtiria sem qualquer problema. segurava em minha mão enquanto andávamos pelo meio da multidão até que pudéssemos estar em um lugar completamente confortável para ficar parados, conversar, beber e até mesmo comer alguma coisa. Irônico, achei que nessas festas só havia bebidas e drogas. Erro meu.
Além de mim, também tinha algumas amigas que me receberam super bem, me oferecendo um copo com alguma coisa. Olhei para apenas para saber se podia confiar e ele concordou com a cabeça enquanto eu aceitava, dando um gole daquela bebida meio amarga e gaseificada. Cerveja. Não é que eu nunca tenha bebido, eu só não estava acostumada. Sempre gostei de algo mais doce, como uma vodka com refrigerante… Talvez eu pudesse fazer um copo para mim, mas só se estivesse bem louca para isso. Por incrível que pareça, quase toda minha idealização das meninas que frequentavam ali estavam erradas. Havia meninas assim como eu, que não tinha o perfil das Barbies mas também havia as Barbies que se exibiam com suas amigas e vários homens. Coitado de quem teria que aguentar aquilo a noite inteira.
Foram alguns copos de cerveja até que eu me sentisse um pouco mais leve em relação ao nervosismo que estava sentindo por sair da minha zona de conforto. segurou em meu braço de uma forma delicada quando começaram a fazer uma roda de dança e me convidou para que pudesse me divertir mais do que já estava conseguindo me divertir, e eu, como uma boa oportunista da noite, não poderia deixar de aceitar o seu convite.
Rain On Me da Lady Gaga ecoava pelo lugar, fazendo com que todos ali dançassem de uma maneira tão descontraída que dava inveja a qualquer um. estava na minha frente, fazendo movimentos com suas mãos no compasso da música enquanto eu repetia os mesmos movimentos, às vezes me permitindo me movimentar com meu quadril numa descida e subida sem me importar com os olhares alheios.
Falamos os dois juntos antes de começarmos a pular e cantar a música em nossos microfones imaginários, sorrindo em meio à toda besteira que estávamos fazendo. Na verdade, eu estava sendo eu mesma naquela noite, sem nenhuma máscara, sem nenhum fingimento, e estava sendo melhor do que eu imaginava. sorria para mim enquanto dançava e pude notar como suas covinhas só faziam com que ele ficasse ainda mais bonito do que ele já era. Tudo nele parecia se destacar: seus olhos verdes, sua barba que estava crescendo, seu sorriso, e suas covinhas que o deixavam ainda mais atraente. Talvez eu esteja prestando atenção demais nele, ou ele que chama atenção mais do que devia. Em meio aos meus pensamentos alheios, senti um corpo atrás de mim, não entendendo muito bem do que se tratava já que estava em minha frente e também não faria isso comigo, logo, acreditei que era falta de espaço e dei um passo para frente, mas a pessoa continuou atrás de mim, o que fez com que logo fosse me puxar, mas a pessoa atrás de mim foi mais rápida e fez com que ficássemos cara a cara. A figura em minha frente fedia a vodka e eu me perguntava como alguém assim não estava em coma o algo do tipo somente pelo cheiro forte.
— E aí, gatinha. Vamos dar uma volta comigo. — o garoto mesmo com o tanto de álcool no sangue parecia estar bem demais.
— Não, obrigada. Estou curtindo minha noite. — disse num tom amigável, o que realmente era verdade.
— Você não entendeu. Eu disse para darmos uma volta. — ele disse, dessa vez em um tom mais agressivo.
— E eu disse que agradeço seu convite. — o encarei sem entender muito aonde ele queria chegar com aquilo.
— Você sabe com quem está falando, docinho? — ele segurou em meu braço, o que fez com que instintivamente viesse para cima, mas apenas estendi a mão para que ele parasse, o que fez com que o garoto sorrisse.
— Desculpa, eu não me dei conta… Pelo visto estou falando com um cara que não sabe ser rejeitado por uma mulher. - sorri e puxei meu braço de volta antes que ele pudesse fazer alguma coisa. — Você deveria aprender a lidar com mulheres em vez de tentar ser o troglodita em busca de uma presa. Se continuar assim, não vai conseguir ninguém essa noite, e se conseguir, infelizmente eu terei pena de quem vai ter que te aguentar. Ou vai deixar a garota na mão por dormir devido ao tanto de álcool no sangue ou vai acabar broxando com a menina por estar tão bêbado que não consegue se concentrar. No demais... — me aproximei dele e joguei o líquido que estava meu copo inteiro em seu rosto. — Que você aprenda que NÃO é NÃO. Passar bem.
Meu corpo estava num estado de euforia completamente louco, algo que jamais tinha experimentado na vida, o que fez com que eu apenas corresse dali em direção a algum lugar com menos pessoas para que pudesse tomar um ar e voltar minha cabeça para a Terra. Enquanto eu tomava um ar, apareceu em minha frente com um sorriso que eu ainda estava tentando decifrar, mas minha reação foi apenas abraçá-lo, antes de começar a me deixar levar pelas lágrimas. Por que eu estava chorando? Por que agora todo meu corpo estava queimando? Por que eu estava me sentindo daquele jeito?
— Linda, o que foi? O que aconteceu? - ele perguntou, preocupado, enquanto passava as mãos em minhas costas em um carinho reconfortante.
— Eu não sei. Eu só… Não sei. — sussurrei em meio aos soluços que saiam com facilidade.
— Quer sair daqui? Tomar uma água? Comer algo? Ir para casa?
— Podemos comer algo na minha casa? — tomei a liberdade de falar, depois de permanecer apenas fungando em seu abraço, e ele apenas concordou.
Tudo aquilo havia sido um misto de emoções que eu não consegui decifrar, talvez fosse muito para que eu pudesse assimilar em questão de tempo e acabei entrando em pane, mas pelo menos eu tinha uma pessoa comigo que estava me apoiando em tudo. E saber disso era... Ótimo.
A casa estava somente para nós dois, mas como dois idiotas que somos, acabamos por comprar no caminho batatas fritas e um refrigerante de todo tamanho para comermos enquanto conversávamos. Em meu quarto, tomei a liberdade de retirar toda maquiagem e troquei a roupa no banheiro, colocando um dos meus pijamas preferidos antes de sentarmos em minha cama e comermos. Estávamos com bastante fome, tendo em vista o tempo que dançamos e ficamos apenas bebendo, por mais que eu quisesse mesmo ter ficado ao lado da comida que havia na festa, mas não queria me mostrar tão esfomeada assim na frente dos outros, porém com eu tinha essa liberdade.
Nossa conversa fluía por todos os tipos de assunto possíveis, até que finalmente nossa comida acabou e nossa única alternativa foi deitar na cama enquanto ainda conversávamos sobre algo aleatório. estava deitado com um dos braços atrás de sua cabeça enquanto eu estava deitada em seu peitoral, sendo acariciada nos cabelos por sua outra mão, achando aquele contato nosso um máximo. Tão gostoso. Simples. Íntimo. Há poucos dias, eu não acreditaria que me encontraria naquela situação com um garoto e principalmente com meu amigo de infância que havia retornado das cinzas como uma fênix. Oportunidades como aquela não se encontrariam em nenhum lugar e principalmente para mim era uma raridade, e eu não iria passar despercebida. Eu podia ser boba, mas não era santa. Estava me sentindo mais do que a vontade para fazer qualquer coisa com ele ali e agora, e se acontecesse algo, eu não estaria me importando, afinal, estava aproveitando minha vida, certo? Um pequeno silêncio tomou conta do recinto, mas logo aquele silêncio foi quebrado graças ao barulho de nossos lábios grudados um no outro, se transformando em um beijo. Nossas bocas se encaixavam em um beijo completamente lento, porém intenso à medida que nossas línguas se encontravam. Um misto de sensações novas estavam invadindo meu corpo, como, por exemplo, borboletas no estômago em estar provando um beijo tão bom ou meu corpo se acender em chamas pelo toque de seus dedos em minha pele exposta e tão vulnerável aos seus toques.
Quando me dei conta, estava sentada por cima de seu colo enquanto ainda continuávamos a nos beijar. Nosso beijo começou a tomar um rumo um pouco mais avançado, onde estávamos agora conseguindo ouvir os sons que fazíamos misturado com alguns ofegos que, devido aos nossos movimentos, acabavam acontecendo involuntariamente.
Os dedos de adentraram de uma forma delicada a parte da camiseta de meu pijama, entrando em contato com minha pele, o que fez com que eu me arrepiasse e mordesse meu próprio lábio em resposta. Estava sendo a primeira vez que alguém ultrapassava esses limites impostos por mim mesma, e aquilo estava sendo melhor do que eu imaginava. De repente, os beijos cessaram, mas logo voltaram em outro sentido. Cada beijo depositado em minha pele era como se uma corrente elétrica percorresse desde o meu primeiro fio de cabelo até o dedo do pé, causando uma sensação de querer mais e mais.
Seus lábios percorriam desde o meu pescoço até meus lábios, fazendo outra trilha dos meus lábios até meus ombros, o que fazia com que ao mesmo tempo em que me sentisse completamente excitada, me sentisse…. Desejada. Ao olhar para baixo, me deparei com uma visão tão linda, mas que ao mesmo tempo fez com que eu me envergonhasse. Seus olhos verdes estavam me encarando sobre uma pequena fresta de luz que vinha do lado de fora devido à lua cheia, fazendo com que aquilo fosse fofo e sensual ao mesmo tempo, da mesma maneira como eu o via.
— Você é maravilhosa. Nunca deixe que alguém te diga o contrário. Lembre-se disso.
Essas palavras inesperadas me fizeram querer chorar. Chorar não por tristeza, mas por alegria de alguém achar aquilo de mim e estar disposto a me lembrar daquilo sempre que pudesse. Aquilo de longe já havia feito com que minha noite fosse a melhor noite que já tive na vida inteira e eu estava pronta para que fosse uma noite mais do que especial. Quando me dei conta, estava por cima de mim na cama, ainda me beijando, mas agora seus beijos desciam até o meu busto e voltavam, antes de me encarar novamente, esperando minha resposta. Minha resposta era sim, mil vezes sim. Concordei com a cabeça e logo ele havia entendido antes de voltar a beijar cada parte de meu corpo até que subiu minha camiseta por completo, mas não a tirou, apenas deixou meus seios expostos, o que me fez corar. Porém, no momento em que senti sua boca em contato com a parte sensível dos meus seios, esqueci completamente o que estava acontecendo. Em resposta ao seu estímulo, minhas costas se arquearam na cama em sua direção, querendo mais contato. Gemidos baixos começaram a tomar conta do quarto, porém, acordei daquele transe ao ouvir alguém me chamar. Era minha mãe. Merda. Merda. Merda. Minha mãe tinha o costume de sempre vir até meu quarto ver se eu estava realmente em casa ou dormindo quando chegava de suas noitadas com o novo namorado, e aquele dia não era diferente.
— Se você quer que isso aconteça de novo, por favor, finge que tá dormindo. — sussurrei para enquanto arrumava minha roupa e o abraçava novamente, deitando a cabeça em seu peitoral e fechando os olhos.
Antes que ele pudesse ter respondido alguma coisa sobre aquilo, ele fechou seus olhos na melhor imitação e minha mãe abriu a porta, trazendo uma pequena claridade para dentro do quarto, mas nada que nos fizesse “acordar”.
— Bobos… Ainda esquecem do cobertor. — comentou enquanto abria uma gaveta e pegava um cobertor, jogando em cima de nós e saindo do quarto.
Um alívio tomou conta de meu corpo quando a porta foi fechada e quis rir daquela situação toda, mas acho que meu corpo não estava reagindo da mesma maneira. me chamava, mas eu estava sonolenta demais para alguma coisa ou para falar algo, tentei até murmurar uma frase inteira, mas tenho certeza que me embolei antes de realmente pegar no sono abraçada com .
Eu havia dormido com , mas não da maneira como eu realmente queria. Tudo bem, eu nunca havia dormido com ninguém dessa forma, mas me deixava de uma maneira na qual eu não sabia muito bem como responder, mas na realidade a única coisa que eu deveria fazer, era me deixar levar pelo momento que eu havia gostado. Acima de tudo, aquilo tinha sido ótimo, eu me senti super confortável, mas não saberia se ele iria querer alguma coisa de volta ou repetir o que fizemos. Infelizmente, uma boa parte de mim ainda era insegura e eu estava me descobrindo graças a , e eu ficava imaginando como minha vida estava mudando apenas com sua volta e mesmo com toda essa insegurança eu ainda estava disposta a continuar o que fizemos. Continuar de onde paramos. Mais uma festa estava programada para o final de semana, mas dessa vez eu tomei a liberdade de convidá-lo para que pudéssemos nos divertir juntos. Essa seria a grande noite e eu nada iria me atrapalhar.
Era uma das festas que eu mais estava gostando de estar, para ser sincera. A companhia de me trazia algo que eu não conseguia explicar, me trazia uma confiança na qual eu não tinha com ninguém e aquilo me mostrava que eu podia ser muito mais do que eu já era. Dessa vez, eu havia me arrumado bem, mas não porque eu queria aparecer para alguém ou para os outros, mas para que eu me sentisse melhor comigo mesma, e eu estava me sentindo bem e radiante como nunca havia me sentido antes. Eu havia descoberto uma versão minha que há pouco tempo eu nem sabia que existia e aquilo só me motivava a ser melhor a cada dia que passava, sem receio algum em mostrar quem eu era.
As luzes piscavam, os feixes de luz passavam em todos os lugares e a música estava alta, mas de uma maneira agradável. , com sua impagável camisa de flanela, estava mais lindo que nunca, e nossa sintonia estava uma das melhores, me deixando completamente à vontade para tomar até um copo de cerveja junto dele enquanto dançávamos cada música que era tocada. A próxima música que estava ecoando pelo lugar falava sobre festejar como se fosse o fim do mundo... Como se desse uma oportunidade de recomeçar tudo, uma grande noite para aproveitar tudo o que tinha a oferecer, e aquilo se encaixava muito bem na maneira como eu estava me sentindo, sendo assim tomei a liberdade de segurar no rosto de e o beijar. Sim, eu tomei a iniciativa e dei um dos melhores beijos da minha vida. Nossas bocas geladas pela cerveja e o leve gosto amargo da bebida só deixavam que o beijo se tornasse ainda mais único e gostoso da sua maneira. Era como se aquele beijo anulasse completamente todas as coisas alheias ao nosso lado, e se estivéssemos em um desenho, provavelmente fogos de artifício estariam saindo atrás de mim, indicando a intensidade das maravilhas que eu sentia diante daquele beijo.
Eu segurei sua mão, depois que nosso beijo foi cortado pela necessidade de ar de ambos, e sorri em sua direção, indicando com a cabeça para cima. Ele sabia muito bem o que eu estava querendo e eu não precisava ser mais explícita nos meus desejos ou em minhas feições. Caminhando de mãos dadas, subimos até um dos quartos que havia na casa e fechamos a porta atrás de nós mesmos. Agora eu não tinha mais vergonha, muito pelo contrário, estava me sentindo a vontade para me entregar a alguém que havia me mostrado o quão poderosa eu sou, sem precisar me esconder. O empurrei gentilmente contra a cama, fazendo com que ele se sentasse e logo sentei em seu colo, voltando a beijá-lo.
Dessa vez, estávamos em uma situação diferente da que havia acontecido em meu quarto, mas a única coisa que havia permanecido era o nosso desejo. Naquele momento, percebi que tínhamos todo tempo do mundo para nós dois. Em meio aos nossos beijos, , me pegando de surpresa, me virou na cama, me deixando por baixo e aquilo nos arrancou várias risadas que foram cessadas logo por beijos. Beijos que eram bem distribuídos em minha boca, meu pescoço e meus ombros nus.
Suas mãos percorriam meu corpo, tirando a única peça de roupa que eu usava que era meu vestido, me deixando apenas de sutiã. Seu olhar sobre mim não me deixava com vergonha, mas me fazia arder em desejo por saber que alguém me olhava daquela forma, na verdade, por saber que ele me olhava daquela forma. Estiquei-me apenas para que pudesse levantar a barra de sua camisa e a tirar, exibindo seu corpo e suas tatuagens que particularmente sempre achei que eram o seu charme. Novamente ele estava por cima de mim, depositando seus beijos numa carícia sem fim, o que me fazia ansiar ainda mais por ele.
Meus dedos passeavam por suas costas num carinho involuntário, tanto pelo cuidado que ele estava tendo comigo, mas também pelo carinho que eu tinha com ele. Quando seus beijos chegaram à barra de minha calcinha, eu aí tive a certeza do que estava prestes a acontecer, o que me deu um leve frio na barriga, não de vergonha, mas de ansiedade, pois queria aquilo desde a última vez do nosso pequeno acontecido. Minha calcinha foi retirada com o maior cuidado do mundo e, olhando seu rosto, eu tive a certeza que ele estava gostando. tinha uma cara de anjo, mas ele não me enganava, na verdade, não enganava ninguém. Ele voltou a me beijar, mas dessa vez seus dedos tomavam conta de minha intimidade, me masturbando de uma maneira tão gostosa que meus gemidos eram abafados por conta de seus lábios colados nos meus. Eu queria mais. Eu o queria.
Em um suspiro, o encarei, dizendo que estava pronta. A parte mais engraçada no sexo era de esperar a pessoa colocar a camisinha, e lá estava eu, tentando não olhar algo que me fizesse rir, mas na altura do campeonato, quem estava rindo era , que me encarava olhar para o teto como se estivesse contando estrelas. Com um beijo seu na ponta de meu nariz, eu fui acordada do meu pequeno sonho, o encarando com um sorriso no rosto, o ouvindo dizer algo como “Se te machucar, você pode falar comigo.” Eu apenas assenti com a cabeça, sabendo o que estava por vir, e para ser sincera, pela excitação que estava sentindo em ter aquele homem na cama comigo, eu não ligaria para dor alguma, e foi aí que o senti, de pouco em pouco, estar dentro de mim.
Seus olhos estavam fixos nos meus e eu apenas mordi meu lábio inferior, sentindo um ardor que levou um pouco de tempo para que eu pudesse me acostumar. Achava fofa a maneira como ele me perguntava se estava doendo ou se queria que ele parasse, mas eu não queria nada disso. Ele começou a se movimentar dentro de mim, fazendo com que eu me acostumasse com aquela sensação nova, e aos poucos aquela dor foi diminuindo, mas não sumindo completamente. Eu não estava ligando para aquilo, a sensação era gostosa mesmo que a princípio fosse dolorosa. Meus lábios novamente estavam nos dele, colado enquanto agora ele se movimentava sem qualquer preocupação comigo, e eu estava gostando.
Nossos gemidos eram abafados pela boca um do outro e nossos corpos se chocavam, misturados ao som da música que tinha de fora do quarto. Eu estava feliz. Pela primeira vez, eu estava feliz com tudo o que estava acontecendo em minha vida em muito tempo. Se eu pudesse me dar um conselho desde o início de tudo, era que eu pudesse viver minha vida como se fosse o fim do mundo: sem medo de ser quem você é, e aproveitando as oportunidades que o mundo te dá. A vida é muito curta para se prender em inseguranças do dia a dia, e, se sentir vontade, peça ajuda. Ajuda nunca é demais quando você é a prioridade. E como diria minha grande fada madrinha (ou fado): Você é maravilhosa. Nunca deixe que ninguém te diga o contrário. Lembre-se disso.
Fim!
Nota da autora: Sem nota.
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