07. Bloodstream

Fanfic Finalizada

Capítulo Único

I've been spinning out of time
(Tenho andado sem tempo)
Couple women by my side
(Algumas mulheres ao meu lado)


Now, without her.

Eu estava em um quarto de motel que fedia a suor, bebida e mofo, com duas mulheres nuas deitadas ao meu lado. A cama de casal parecia que iria quebrar a qualquer momento e os lençóis cheiravam a sexo. Na verdade, o cheiro predominava no quarto.
Eu me perguntava como eu teria chegado a essa situação, mas, eu sei muito bem como foi.
Apesar de ter duas mulheres de seios fartos dormindo ao meu lado tudo, o que eu sentia era repulsa e nojo de mim mesmo. Se eu não estivesse completamente chapado, eu não teria tido alucinações com ela e essas alucinações que me levariam a fazer sexo com outras mulheres que não fossem ela. Mas o fato é que eu a vi em cada rosto, eu senti o seu cheiro em cada corpo e me entreguei completamente.
Flashes da noite passada vinham à minha mente e eu me lembrava de sair andando na rua sem rumo e acabar parando no lugar de sempre, o bar do Pitty onde a droga e a bebida eram garantidas.
- Você de novo? - Pitty perguntou, balançando a cabeça para os lados.
- E aí, Pitty! Ótima maneira de ser recebido. – Falei, irônico, me sentando no banco em frente ao balcão. - , cara! Você tá pior do que antes! Aquela garota tava te fazendo tão bem. O que aconteceu? - Ele perguntou, enquanto secava um copo, e eu apenas o ignorei, fazendo um gesto para que ele me desse uma dose forte de Whisky. Minha conta com Pitty com certeza já devia estar grande, mas ele nunca cobrava. Pitty era usuário de cocaína, assim como eu. Fazia tempo que eu o conhecia e ele me tratava como um filho.
- Pitty, você já se perguntou como alguém entra na sua vida, a melhora e depois some? – Perguntei, depois de várias doses de whisky, e não o esperei responder. Apenas levantei e saí do bar com três saquinhos que continham o pó branco que me levaria para o esquecimento. Parei em frente a uma boate e ali fiquei até duas loiras bêbadas virem em minha direção.
- Olá, garotão. A fim de uma diversão? - Uma delas havia perguntado e eu, também bêbado, aceitei. Por que não?
As duas pagaram o taxi em direção ao motel e lá eu só me lembro de cheirar dois saquinhos sozinho, em cima da barriga e seios de ambas, enquanto elas faziam o mesmo comigo. Então tudo ficou certo quando em vez de duas desconhecidas eu enxerguei o sorriso dela, seus olhos pequenos e o nariz arrebitado. Tudo pareceu certo enquanto eu fodia aquelas duas desconhecidas gritando o nome dela. Pensando nela.
A conclusão a que eu cheguei, depois que essas lembranças vieram, foi de que foi o meu vício o que a tirou de mim e era o meu vício que constantemente me levava a ela. Eu me sentia sem tempo para tê-la nos meus braços novamente, como se ela estivesse escapando dos meus dedos, mas eu tinha que tentar. Aquilo não podia ser o fim.
Então eu levantei, vesti minha boxer, minha calça jeans surrada, a camiseta preta, que com certeza eu já estava usando havia uma semana, coloquei munha jaqueta de couro e saí daquele lugar deprimente. Não dei satisfação para as duas garotas que dormiam no quarto e muito menos paguei pela conta, eu simplesmente fui embora.

Before, with her.

Eu ainda me lembro do dia em que a conheci. Ela era uma menina comum que queria diversão e eu... Bem, eu era a diversão. Eu estava bem com isso. Se ela queria fazer coisas erradas com um cara totalmente errado, por uma noite, então eu seria esse cara. tinha uma beleza impossível de não ser notada, seu cabelo era comprido e seus olhos, apesar de pequenos, eram muito expressivos. Ela ficava tão linda quando sorria. Foi isso que eu pensei quando a vi pela primeira vez.
- E aí, ? - Kessy havia me dito naquela noite. Kessy era uma garota bonita que sempre procurava a mim e ao bando quando queria ficar chapada, e não foi nenhuma surpresa quando ela disse que queria um pouco para ela e sua amiga.
- disse que quer experimentar e que também gostaria de te conhecer. - Kessy falou, enquanto a menina ficou completamente envergonhada, mas tentou mascara, me dando um sorriso discreto mas que mostrava suas intenções por trás do que ela realmente queria.
- E aí, Kessy? Seria um prazer conhecer sua amiga. – Falei, sorrindo sugestivamente. - E ela não precisa pagar nada essa noite... Mas você sim, Kessy! – Completei, vendo-a me olhar com uma cara feia e sair bufando, resmungando algo como "não pode ver um rabo de saia". Nós sempre dividiamos a maconha entre nós e Pitty fazia questão que pagassem.
- O que te fez se aventurar essa noite? – Perguntei, enquanto tragava o cigarro.
- A vida. - respondeu, sorrindo e apontando para o cigarro. - Posso?
- Tem certeza? - Falei porque não gostava de induzir ninguém a nada. Eu era um cara legal. Não totalmente. apenas assentiu e eu lhe dei o cigarro. - Você tem que puxar a fumaça profundamente e só depois soltar o ar. - Expliquei para ela. soltou uma baforada de fumaça na minha cara enquanto tossia sem parar.
- Nossa! Acho que fui péssima para uma primeira vez! - falou, rindo, e eu a acompanhei.
- Nem toda primeira vez é ruim. - Sorri maliciosamente para ela e traguei novamente o cigarro.
- E o que não seria ruim? - Ela perguntou, mordendo o lábio e me olhando nos olhos. Eu queria beijá-la e eu realmente teria feito, se Kessy não tivesse aparecido com os olhos completamente vermelhos.
- Chega de chavecar. Vamos nos divertir. - Kessy falou, gargalhando como se tudo fosse muito engraçado, e puxou pela mão na direção de onde o resto do grupo se encontrava. Eu apenas as segui.
Se eu soubesse que aquela noite iria mudar tudo, eu teria feito diferente. Eu teria arrumado uma maneira de me afastar. Uma maneira de não me apaixonar e estragar a vida dela e ferrar de vez com a minha.

I got sinning on my mind, sipping on red wine
(Pecando na minha mente e bebendo vinho tinto)


Now, without her.

Eu estava no mesmo beco de sempre com o mesmo grupo de sempre. O lugar onde eu a conheci. Fazia tempo que eu não vinha aqui. Na verdade fazia três meses, o que, inclusive, corresponde ao tempo exato desde que ela me deixou.
Sim, ela me deixou! Mas não é sobre isso que eu quero pensar ou falar. Aqui estou eu com os meus amigos que não demostraram surpresa e nem fizeram perguntas, mesmo depois de tanto tempo sem me ver. Eles apenas me cumprimentaram e rodaram o baseado pela galera. Mas claro que seria diferente.
- , você tem a branquinha* com você? – Perguntei, enquanto tragava o baseado.
- Tenho um pouco sim, cara! - Ele falou, fazendo uma careta pra mim. - , você não acha que tá exagerando um pouco?
- Não vem qurer me dar lição de moral não, ! - Bufei.
- Tudo bem, cara. Tudo bem! - Ele falou, me dando o saquinho com o pó branco.
- Mas isso não vai trazê-la de volta e muito menos fazer você esquecê-la! - disse, enquanto tragava o baseado que eu tinha entregado a ele.
- Cala a boca, . – Murmurei, irritado, e comecei a arrumar o pó branco em cima do caderno de um dos caras que se encontravam ali e vinham direto da escola para fumar e ficar doidões. Muitos tinham problemas em casa, como , que tinha pais separados e uma mãe que, por falta de dinheiro, trabalhava como prostituta em sua própria casa. Assim como eu que, por mais que tentasse fingir que não tinha problema algum e que me drogava porque queria. Todos sabiam que o fato de ter meus pais assassinados em um assalto ao banco, quando eu tinha acabado de completar dezoito anos, era um motivo e tanto para ser um nada na vida.
- Eu estou preocupado com você! - falou enquanto eu aspirava o pó profundamente, tentando esquecer aquela merda toda que era a minha vida. - Por que você não liga pra ela?
- Ela me deixou, porra! Ela não vai me atender! - Falei batendo o pé nervosamente.
- Você sabe o que tem que fazer se quiser tê-la de volta! Você só tem que querer! - Ele falou, dando um aperto no meu ombro e se sentando novamente onde ele estava antes de vir falar comigo.
Eu sabia exatamente o que ela me pediu. Eu sabia o que fazer pra tê-la novamente, mas – caralho! – eu não conseguia. Eu só preciso esquecê-la, e aí tudo vai ser como era antes.
Eu estava com frio e a minha jaqueta de couro não estava fazendo o seu papel, que seria me esquentar, então, depois de tentar voltar com a minha vida e fazer o social de todas as sextas-feiras, eu murmurei um tchau e caminhei até uma loja de conveniência onde um garoto cheio de espinhas na cara estava fazendo plantão sozinho.
- Ei, você tem que pagar por isso! - O garoto falou para mim, que estava com uma garrafa de vinho na mão e pronto para sair pelas portas duplas.
- Cara, eu não tô com paciência hoje! Então não me enche o saco ou eu vou fazer algo de que provavelmente vou me arrepender depois. - Falei entre dentes, tentando reprimir a raiva que estava me dominando. Com certeza isso era o efeito da cocaína que eu havia cheirado antes de me despedir dos rapazes no beco.
- E o que você faria? Eu posso chamar a policia! - Ele falou, tentando demostrar firmeza, mas a sua voz vacilante mostrou o medo que ele estava sentindo.
- NÃO ME ENCHE PORRA! - Gritei. - OU EU VOU ACABAR COM ESSA TUA CARA CHEIA DE ESPINHA. - Abri a porta e simplesmente saí andando rápido, com a garrafa de vinho na mão, tentando controlar a raiva enquanto respirava rápido, sentindo todo o meu sangue correr nas minhas veias. A sensação de que vários insetos andavam por baixo da minha pele também não estava me ajudando e tudo o que eu queria era ela. Era vê-la. Mas eu sabia que não podia. Não desse jeito. Principalmente desse jeito. Então eu apenas continuei caminhando rápido até finalmente chegar ao meu apartamento, que ficava no bairro mais perigoso, mas que era a única coisa que eu consegui comprar com o dinheiro da herança dos meus pais. Eu não tinha familia, meus pais eram filhos únicos e meus avós morreram antes de eu os conhecer.
- Lar, doce lar! – Falei, irônico, enquanto abria a geladeira e me deparava com... Nada. - Porra! Cadê a comida nessa merda? Se a estivesse aqui, ela não teria deixado isso acontecer! - Falei irritado, sentei no chão e finalmente deixei as lágrimas me dominarem. Depois de três longos meses, finalmente a ficha de que ela havia me deixado tinha caído.
- Muito bonito, . E você acha que se drogando que nem um louco e roubando vai fazer com que ela volte? - Perguntei a mim mesmo, enquanto fitava a garrafa de vinho que estava em cima do balcão. Lavantei daquele chão imundo e peguei o vinho, enquanto limpava as lágrimas do meu rosto.
Você alguma vez já percebeu o quão vermelho o vinho é? Já se tocou de quanto o vermelho remete ao pecado? E o mais engraçado é que o vermelho é também a cor que representa o amor. Então, se amar não é um pecado, por que tudo que o envolve nos faz cometer as piores loucuras e dentre elas vários pecados?
Por mais incrível que possa parecer, esses eram os pensamentos que rondavam a minha mente enquanto, eu abria o vinho e bebia do gargalo. Me senti instantaneamente quente e pensei ter visto correndo pelo apartamento com uma vassoura, enquanto varria o chão.
- , você esta aqui! - Falei. - Você voltou!
Saí correndo até ela, mas, quando cheguei perto, a imagem dela sumiu como fumaça pelo meus braços. Mas então ela apareceu em outro canto e eu comecei a segui-la. Minha correu para o quarto e começou a tirar a roupa, daquele jeito sensual como ela sempre fazia quando nós estávamos juntos e ela queria fazer amor.
- Você me quer? - Perguntei. - Eu também te quero! – Falei, tirando a roupa junto com a minha . Quando eu estava completamente nu, deitei na cama ao seu lado e então ela sumiu novamente como fumaça.
- Merda! Merda! Merda! Para de mexer com a minha cabeça! - Comecei a falar, desesperado. - PORRA DE DROGA DO CARALHO! ERA PRA VOCÊ ME FAZER ESQUECÊ-LA! – Gritei, batendo as mãos em punho no colchão.
A necessidade de tê-la ali comigo, sem roupas da mesma forma como eu me encontrava, era tanta que eu comecei a me lembrar de como ela se mexia quando estava em cima de mim. Comecei a me lembrar de como ela gemia no meu ouvido quando eu estava dentro dela e meu sangue começou a se alojar em apenas uma parte do meu corpo, a parte proibida. Todos aqueles pensamentos e lembranças pecaminosas haviam me deixado com muito tesão. Essa minha mente pecadora a queria. Eu a queria. Mas eu não tinha mais a minha comigo e eu precisava encontrar algum alívio, e eu não iria mais procurar esse alivio com outras mulheres. Então a única saída que eu encontrei foi envolver minha mão no meu membro já ereto e começar a massageá-lo devagar. Espalhei o pré gozo que se encontrava na ponta por toda a minha extensão, imaginando que minhas mãos fossem as dela. Eu me toquei cada vez mais rápido, eu queria que o calor das minhas mãos fossem o interior dela. Massageiei meu membro até que soltei um urro de alívio, chamando por ela, enquanto minha barriga, mão e lençóis ficaram completamente sujos do meu gozo.
- Volta pra mim, porra! Volta! – murmurei, enquanto me encolhi na cama igual a um feto e acabei por dormer, sonhando com uma linda mulher de olhos pequenos e sorriso perfeito.

Before, with her.

tinha se juntado ao nosso pequeno grupo fazia dois meses. Ela vinha com Kessy toda sexta feira à noite e ficava chapada junto com a galera. Nós fumávamos maconha e ficávamos bêbados. Ela era tão pequena e tão bonita que eu ficava pensando no porquê de uma mulher como ela estar andando com fracassados como nós. Eu não conseguia tirar os meus olhos dela e isso era percepvitivel para todos, inclusive para ela. O efeito que ela tinha sobre mim era muito mais poderoso do que qualquer coisa e isso me assustava para caralho.
- Afinal, qual o motivo pra você vir aqui e passar o tempo com esses idiotas? - Perguntei para , sentando ao seu lado. Fazia frio naquela noite, e eu estava com a minha jaqueta de couro que me acompanhava sempre. Ela estava com as bochechas coradas devido ao vento gelado e se abraçava ao casaco de inverno. Ela estava com uma touca branca na cabeça, onde estava escrito em letras pretas "Bad Hair Day", e tragava um cigarro com muita graciosidade. Nem parecia a garota de dois meses atrás, que tinha tido uma crise de tosse.
- Você faz parte dos idiotas? - perguntou, sorrindo e pisando na bituca de cigarro que sobrou.
- Pode-se dizer que sim! – Falei, sorrindo, enquanto tragava profundamente o baseado que havia me passado.
- Então eu acho que é um bom motivo para estar aqui! - Ela falou e chegou perto da minha boca, eu a abri e então ela sugou toda a fumaça para sua própria boca. Aquilo era extremamente sexy.
- Apesar de ser uma boa resposta, eu quero saber o real motivo! - Falei olhando nos olhos dela. Ela bufou.
- Primeiro eu quis vir porque eu estava cansada de fazer o que todo mundo queria, principalmente meus pais. Eu estava cansada de ser certinha e nunca me divertir... - Ela sorriu. - Então eu pedi para a Kessy me trazer até onde ela buscava diversão e ela me trouxe aqui.
- Por que a Kessy falou que você queria me conhecer, se você nunca tinha me visto? – Perguntei, curioso. Eu queria entender aquele nosso primeiro encontro. Eu queria entendê-la.
- Ela não parava de falar de um cara lindo que tinha aqui e que se chamava , que ele tinha uma jaqueta de couro e um sorriso de lado capaz de molhar calcinhas, só de olhar pra ele. - Ela tagarelou tudo aquilo e, quando se deu conta do que tinha falado, suas bochechas ficaram completamente vermelhas. Eu ri.
- Muito obrigado! – Disse, rindo e acendendo um cigarro.
- Então, quando a gente chegou, eu vi você encostado na parede, fumando um cigarro, e eu pensei "eu quero conhecer esse cara" e a Kessy falou que era você...e ...bem ... Foi isso! - falou, sorrindo e arrumando um mecha de cabelo atrás da orelha.
Ao ver aquele sorriso e aquele gesto tão inocente eu não consegui me segurar e me aproximei dela.
- Eu quero tanto te beijar! - Falei tocando em sua bochecha.
- Então por que você não beija? - perguntou, respirando rápido, e eu finalmente atendi ao seu pedido e à minha vontade. Beijei-a primeiro com calma e depois profundamente. Quando minha língua encostou na dela, foi como se um choque ligasse nós dois e eu estava no paraíso.
E foi ali em meio a vaias dos meus amigos que eu tive a certeza que aquela garota seria a minha salvação e a minha ruína.

*branquinha: cocaína.

I've been sitting here for ages
(Estou sentado aqui por eras)
Ripping out the pages
(Arrancando as páginas)
How'd I get so faded, how'd I get so faded
(Como eu fiquei tão acabado, como fiquei tão acabado)


Now, without her.

Você alguma vez já sentiu como se nada na sua vida fizesse sentido? Eu já! Inúmeras e inúmeras vezes, mas nada se compara a como eu me sinto agora. Quando meus pais morreram, eu me senti exatamente assim, eu não sabia o que fazer. Então eu acabei por fazer amizades com quem estava tão fodido quanto eu, às vezes até mais. E foi assim que eu comecei: primeiro era divertido fumar um cigarro e jogar conversa fora, depois um baseado me fazia rir que nem um louco e sentir o meu corpo completamente relaxado, até que chegou um ponto em que não era mais o suficiente e foi assim que eu fui parar no Pitty. Um antigo menino da minha sala com quem eu andava disse que o melhor para ter diversão era cocaína e não esse baseadinho. Eu, burro e influenciado que era, acabei por embarcar nesse barco junto com ele. No princípio, foi legal aquela sensação de autoconfiança e euphoria, mas então as doses pequenas não eram suficientes e aquilo foi se tornando diário, e os efeitos acabaram por se transformar em irritabilidade e todo o tipo de merdas não legais. sempre achou que o meu negócio era o baseado e o cigarro. Ela nunca cogitou o fato de namorar um viciado em cocaína, ela queria apenas se divertir. Eu deveria saber que aquilo era só uma fase, que uma hora ela iria querer um cara real e um relacionamento real.
Então, enquanto eu estou aqui, sentado nesse sofá sujo e cheirando a mofo, a única coisa que passa pela minha cabeça é "Como que eu consegui ficar pior do que eu era?". Mas eu sei a resposta para isso e o mundo inteiro também sabe: . Ela e o seu sorriso me atormentam durante todo o tempo. Não importa quão grandes sejam os meus esforços para esquecê-la: eu simplesmente não consigo. Não importa o quanto eu me jogue na cocaína, não importa o quanto eu fume para tentar relaxar, não importa o quanto eu beba. Eu sempre venho parar aqui, nesse sofa, com esse maldito caderno. Então eu o abro, leio, rasgo e depois pego todos os pedaços do chão e tento juntá-los novamente. O quão doentio é isso? O quão atormentado eu me encontro? O quão acabado eu estou?
Quando decidiu que iria escrever sobre nossos momentos, eu apenas ri e concordei, afinal o sonho de ser escritora era dela, não meu. Mas então ela foi embora da minha vida e não levou a sua escrita com ela. Não levou nossas histórias com ela. Não levou nossos momentos com ela. não levou nada, ela deixou tudo. Deixou seu cheiro comigo, seu sorriso na minha memória, seu beijo nos meus lábios e a sensação de tocar seu corpo nos meus dedos. A única coisa que ela levou com ela foi o meu coração.

Before, with her.

- Qual é o seu sonho? - me perguntou, enquanto sentava no meu colo, no sofá do meu apartamento. Tudo estava limpo e cheirando a rosas. Ela disse que não sabia como eu conseguia viver em um ambiente tão sujo, então começou a limpar tudo e me obrigava a mantê-lo assim.
- Meu sonho? - Perguntei com as sobrancelhas arqueadas.
- Sim! Você quer ser padeiro, empresário, engenheiro? - listava nos dedos cada profissão com os olhos brilhando. - Basicamente... O que você quer ser quando crescer?
- Com certeza, não é padeiro. – Falei, rindo, e ela me deu um tapa no braço, rindo comigo. - Até porque eu não sei cozinhar!
- Você vive do que?
Eu com certeza não queria que ela soubesse que o pouco dinheiro que eu ganho consertando carros e indicando a mercadoria do Pitty ia praticamente todo para o meu vício e que eu vivia de sanduíches do bar do Pitty.
- Sou mecânico... Mas, digamos que meu sonho era ser cantor! - Tirei rapidamente o foco do meu trabalho como mecânico. O fato é que falar sobre o meu verdadeiro sonho parecia bobo, sendo que eu não cantava desde os dezoito anos.
- Cantor? - perguntou surpresa. - Você canta?
- Eu tinha uma banda, quando era adolescente. A gente fazia alguns shows e tal, mas acabamos por desistir quando eu completei dezoito anos! - Dei de ombros, como se não fosse grande coisa, mesmo sendo. Afinal eu era o vocalista principal e tinha gravadoras nos rondando.
- E por que você desistiu? - Ela perguntou, com os olhos brilhando de curiosidade.
- Meus pais foram assassinados em um assalto no banco. Eles estavam no lugar errado, na hora errada. - Falei com os olhos em branco.
- Por que você nunca me contou? - me acusou, enquanto passava a mão em minha bochecha. Seus olhos passavam tranquilidade em vez de pena.
- Não é algo que eu goste de falar para todo mundo. – Falei, olhando para o chão, e era verdade. Isso não era algo que eu falava para os quatro cantos. Eu nem sabia porque tinha falado aquilo pra ela.
- Fico feliz que você tenha me contado. - Ela falou, depositando um selinho na minha boca. - Mas não acho que isso seja um motivo pra você desistir dos seus sonhos, não é isso que seus pais iriam querer!
Eu também tinha certeza de que eles não iriam querer um filho envolvido com drogas mas agora era tarde demais para isso.
- Chega de falar sobre mim. - Fingi um sorriso no meu rosto e beijei-a. Eu amava beijá-la. - O que você quer ser quando crescer? - Perguntei e vi sua feição mudar para uma totalmente sonhadora.
- Eu quero ser escritora, e inclusive estou escrevendo uma historia agora.
- Que história? – Perguntei, curioso.
- Sobre uma garota que conhece um cara todo errado em um beco. - falou, divertida.
- Eu acho que eu conheço essa história. - Cocei o queixo e fingi estar pensando.
- Por incrível que pareça, o nome do casal é o mesmo que o nosso. - falou, me entregando um caderno preto com o desenho do pateta.
- Muita coincidência, hein! – Falei, rindo, jogando-a no sofa, começando a fazer cócegas e escutando a gargalhada que ela dava. Nos beijamos até nossos lábios ficarem dormentes e as roupas serem jogadas todas no chão. Se ela queria história para o livro, então eu daria a ela.


Oh, no, no, don't leave me lonely now
(Não, não, não me deixe sozinho agora)
If you loved me how'd you never learn
(Se você me amava como nunca aprendeu)


After, without her.

Quando você fica um grande período de tempo fechado em um apartamento, olhando para a parede, você começa a lembrar de coisas que deveria esquecer, começa a pensar em coisas que deveriam estar fora da sua mente. No meu caso, para não tentar focar nos meus pensamentos, eu pego um dos grandes sacos que tenho guardados no estoque e uso o máximo de cocaína que eu conseguir. Uso quando acordo, uso mais quando acho que o efeito acabou e uso antes de viajar no esquecimento ou no que eu acho que seja o esquecimento. Meu apartamento está quebrado e isso não é nenhuma novidade, afinal, para um cara que fica chapado grande parte do tempo, ficar irritado é normal e, então, tudo de que tenho vontade é quebrar tudo o que vejo pela frente. É melhor me entregar à irritação do que às alucinações. Elas são piores. Eu odeio aquelas alucinações estúpidas, porque em todas elas a está. Nunca pensei que uma mulher fosse capaz de mexer tanto com a cabeça de um homem, mas eu também nunca fiquei apaixonado antes. Cada dia que passa, tudo vai ficando pior, ao invés de melhorar. Eu continuo sonhando com os olhos pequenos que eu tanto amo, continuo lembrando dos beijos apaixonados e do amor que a gente fazia. Será que é possível você esquecer alguém que não quer esquecer? Eu tento falar para minha mente parar de pensar nela, mas, infelizmente ou felizmente... O amor não deixa.
- ? Cadê você? - Escutei me chamando e continuei deitado no chão da sala, na mesma posição em que me encontrava há pelo menos quatro horas. - Cara, o que você tá fazendo aí? Levanta! - se agachou e me colocou sentado. Eu sabia que devia estar com uma aparência deplorável, os cabelos sujos e oleosos, com grandes círculos negros em volta do rosto, nas bochechas. Só os ossos eram visíveis, devido à falta de alimento adequado. Eu com certeza cheirava igual a um sem teto e meu hálito deveria derrubar um ogro. - Você está péssimo!
- Obrigado por constatar o óbvio, . – Falei, com a voz grossa e embolada por não conversar com ninguém durante um bom tempo.
- , faz um mês que eu não tenho notícias suas e que você está fechado nesse lugar horrível! - falava, enquanto me levantava e me levava ao banheiro.
- , eu não vou deixar você tirar as minhas roupas! - Tentei afastá-lo, mas eu estava tão fraco que, se ele me largesse, eu com certeza cairia no chão.
- Cala a boca, porra! - falou irritado e tirou a minha roupa, me jogando debaixo do chuveiro. Assim que eu sentei no chão, ele começou a lavar o meu cebelo como se eu fosse uma criança. - Você não pode continuar assim!
- Me deixa, caralho! ME DEIXA! – Gritei, enquanto lágrimas grossas saiam dos meus olhos. - Só... Me deixa.
- Eu sou seu amigo, não vou te deixar! - Escutei falando, enquanto eu me entregava a um sono profundo.

Before, with her.

No momento em que você está namorando uma garota já há algum tempo, tem coisas que são difíceis de esconder. Como o fato de você ser um viciado. e eu já estavamos juntos há sete meses e ela já estava desconfiando de que havia algo de diferente comigo, com as mudanças constantes do meu comportamento, os meus sumiços de três, às vezes até quarto, dias, ou o dinheiro que vivia desaparecendo misteriosamente. Ela não era idiota, eu sabia disso. me alertou milhões de vezes, dizendo que fazia perguntas que ele não sabia como responder. Eu sabia que esse segredo, que eu tento guardar das pessoas que estão fora do meu círculo errado de amigos, iria vazar um dia. Eu queria mudar, eu sentia que eu precisava mudar. Não por mim. Por ela, principalmente por ela.
Mas não é nada fácil quando você alimenta um vício desde os dezenove anos de idade. Quatro anos, sendo assombrado pela cocaína pode parecer pouco tempo, mas não é. Pode parecer uma droga boba, mas não é. Nenhum tipo de droga é "pouco" ou aceitável, principalmente quando usar passa a ser mais importante e necessário do que estar com a sua namorada, ou então quando você pega o dinheiro dela escondido, para continuar alimentando esse vicio.
Sabe o que é ainda mais difícil? É você estar cheirando uma grande quantidade de pó branco na mesa de centro da sala e sua namorada entrar de surpresa no seu apartamento. É ver os olhos dela arregalados e acumulados de lágrimas ao te ver com o nariz com resíduos de algo repugnante. É ver que você decepcionou quem você mais ama. É saber que você ferrou com tudo e vem ferrando contínuas e contínuas vezes com a melhor pessoa que já apareceu na merda de vida que você tem.
Sabe o que eu queria? Eu queria não magoá-la, eu queria ser bom para ela, por ela. Mas, em vez disso, eu sou só um cara fracassado de vinte e três anos que perdeu a família, mora em um apartamento horroroso no subúrbio e que, quando finalmente encontra alguém para viver e ter um futuro, simplesmente não consegue. Porque tem a porra de um vício que o consome, que corre nas veias, deixa os olhos vermelhos e que acaba por ter um péssimo efeito, quando se é viciado por um longo período de tempo.
- Eu sabia! - Ela falou, deixando a bolsa cair no chão, enquanto eu tentava inutilmente esconder o pó, mesmo sendo em vão já que ela já tinha visto. - Eu acho que eu sempre soube, eu só não quis acreditar que meu namorado não era um cara que fumava maconha para se diverter, mas, na verdade, um drogado. Eu tinha que amar um drogado? Por que, ? Por quê? - Ela perguntou, chorando.
Fiquei um tempo encarando-a, sem reação. Eu não sabia como agir. Eu não queria que fosse assim. Na verdade, eu não queria que ela me visse assim nunca. Se eu pudesse, eu pararia, mas eu não posso. Eu não quero. O desespero foi tomando conta de mim e tudo o que eu queria era que ela entendesse que eu a amava, independente de tudo.
- , amor! Por favor, me desculpe. Eu não queria que fosse assim. – Falei, passando as mãos nos cabelos, tentando fazer com que a irritação não fosse um efeito dessa vez. - Eu amo você, . Você sabe, não é?
- Faz quanto tempo que você usa? - perguntou, enquanto pegava a bolsa do chão, com as mãos tremendo e as lágrimas escorrendo dos olhos.
- Quatro anos. – Falei, sentindo meu nariz arder e passando a mão por ele ao mesmo tempo que aspirava.
- Quatro anos? Oh, meu Deus. Oh, meu Deus... - Ela continuou repetindo, ao mesmo tempo em que enconstava o corpo na parede e se arrastava até o chão. - Eu preciso ir embora! Eu não sei se posso suportar você desse jeito.
- Não! Você não pode ir embora. Você não pode me deixar. – Falei, desesperado, enquanto levantava do chão e ia até ela. Pelo menos foi o que eu tentei.
- NÃO CHEGA PERTO DE MIM. - gritou, levantando do chão e estendendo a mão para me parar. - Eu aprendi a te amar, mesmo com todos os teus defeitos. Eu nunca critiquei você por fumar maconha, até porque, no início do nosso relacionamento, eu também fumava e gostava de me divertir. Mesmo quando eu parei, eu nunca pedi pra você parar, porque eu não queria forçar a barra, mas isso é demais pra mim.
- Você não pode me deixar, se você me ama. - Implorei pateticamente.
- , você não pode me pedir algo egoísta assim. - falou, chorando. - Eu preciso de um tempo pra respirar. Eu preciso assimilar isso tudo. - falava mais para si mesma do que para mim. – Oh, meu Deus. Eu preciso sair daqui. - Ela falou, batendo a porta e me deixando sozinho.


Oh, colour crimson in my eyes
(Oh, a cor vermelha em meus olhos)
One or two could free my mind
(Um ou dois poderia libertar minha mente)


Now, without her.

Depois que me encontrou daquela forma, ele decidiu que era minha mãe e passava todos os dias na minha casa, depois do trabalho, para ver se eu tinha me alimentado e tomado banho. Como um cara que tinha problemas piores que o meu acabou tomando conta de mim? Eu sinceramente não sei. Confesso que era humilhante, mas eu simplesmente não conseguia fazer com que eu ficasse bem. Uma angústia e tristeza me acompanhavam constantemente, e todos os recursos que eu julgava serem suficientes para me ajudar, simplesmente não funcionavam. Era como se eu me encontrasse em uma depressão profunda, um poço sem fim. Como se eu estivesse caindo, caindo e caindo sem rumo. Era assim que eu me sentia quando o torpor e a dopamina liberada pelo cérebro, após o uso da cocaína, acabavam. Eu me sentia muito mais triste e isso fazia com que a vontade de usar mais e mais crescesse dentro de mim.
Maconha já não fazia mais efeito para mim há muito tempo. Eu fumava ocasionalmente, mas se desconfiasse que o que, na verdade, nós fumávamos quando ela não estava presente era merla*, aí eu não queria nem saber o que ela iria pensar. Quando eu comecei com a branquinha era sempre de vez em quando. Eu cheirava só quando queria ficar alto e tirar uma pira, mas então eu fui mudando para o estágio moderado até que aquilo acabou se tornando algo habitual. Eu sempre fui muito influenciado e impulsivo e acho que por esse motivo, quando me deixou, eu acabei me jogando de vez na droga. O torpor que ela me dava me fazia esquecer por minutos todos os problemas. O pior foi quando o que começou a despertar em mim com mais frequência foram as alucinações e a irritação. Cheirar cocaína e esperar dois minutos até fazer efeito já não era suficiente, eu queria mais rápido. Me picar nunca tinha sido algo que eu quisesse fazer, mas eu sabia que com cocaína misturada com líquido e injetada na veia surgia um efeito muito mais rápido. Então, depois de um mês sem , eu acabei virando um toxicômano* assumido, pelo menos pela sociedade.
- Você está um lixo. - Falei para a minha aparência, enquanto me olhava no espelho. Eu estava magro, muito magro. Minhas calças não serviam mais em meus quadris, a falta de apetite era cada vez pior e meus olhos vermelhos eu já nem sabia se eram por causa da droga ou das lágrimas. Eu estava em um estado horrível e ainda bem que conseguia reconhecer isso no espelho. - Isso tem que parar!
- Eu também acho! - falou atrás de mim. Não senti sua presença e nem me assustei. Emoção era algo que eu não fazia questão de demostrar, pelo menos nenhum outro tipo de emoção que não seja tristeza e saudade.
Que saudade da minha !
- , preciso que você consiga umas coisas pra mim. - Eu tinha tomado uma decisão e pretendia seguir em frente com ela.
- , eu não vou atrás de droga pra você! - resmungou e segurou meus ombros, me virando de frente pra ele. - Você está acabado. Você acabou virando um toxicômano, cara! Sabe o que é isso? - Os olhos do meu amigo imploravam que eu entendesse a gravidade do assunto, e eu já entendia. - Você vendeu metade do seu apartamento pra comprar pó!
- Eu sei, ! Não é pó que eu quero.
- Não? - Ele perguntou, surpreso e confuse, sem entender. - Então, o que é?
- Eu quero pegolida, topuramato, mandrix, efedrina, Valium*... E todo comprimido que você conseguir. - Olhei para o meu amigo que me soltou, com os olhos arregalados.
- , você vai...
- Sim, ! Eu vou me tratar! Eu vou ficar limpo... Você vai ver. - Falei confidante, mas não era como eu me sentia.
- Cara, você sabe como deve ser difícil sair das drogas sem ajuda de um professional! - tentava me explicar, mas eu não queria ouvir.
- SÓ CONSIGA ESSA MERDA TODA PARA MIM! - Gritei e então abaixei o tom de voz. - Só me traz pelo menos um ou dois comprimidos, e minha mente vai se livrar de tudo isso e então ela vai voltar pra mim.
- , você tem que se limpar por você, não por ela. - falou sério.
- Mas ela é tudo o que eu quero! – Falei, suplicante, e então assentiu e saiu pela porta, enquanto eu peguei o único saquinho que havia sobrado na gaveta e injetei no meu braço, após dissolver com líquido todo o pó.
Uma última dose não teria problema, afinal eu iria parar de usar.

Before, with her. .

Fazia três dias que tinha saído por aquela porta, ela disse que precisava de um tempo e eu estava dando aquele tempo a ela, mas eu queria esquecer toda aquela ansiedade e angústia que eu sentia. Eu já não me sentia bem sem estar sob o efeito da cocaína e todo o prazer que ela me oferecia. Eu me sentia grato por tê-la, sem ela minha vida seria uma merda. Não, isso estava errado! O que eu fazia era errado, mas eu precisava de só uma dose, só o bastante pra me fazer esquecer que ela não estava aqui. Assim que levantei para ir até o estoque que eu tinha na minha gaveta, escutei a porta sendo aberta e ela entrando.
Minha .
Apesar de não se parecer nem um pouco com a menina sempre sorridente que eu tinha conhecido. Seus olhos estavam vermelhos e com manchas escuras em volta dele, seu cabelo todo embolado, como se ela tivesse ficado deitada na cama, durante todo o tempo, e tivesse apenas se levantado para estar aqui, sua boca estava pálida e ela me encarava com raiva, mas ao mesmo tempo com amor. Amor? Ela me amava, eu sabia.
- ... - Falei baixinho, e assim que ela escutou minha voz lágrimas grossas caíram dos seus olhos, como se ela não aguentasse mais segurá-las.
- ... - Ela sussurrou de volta. - Me prometa que você vai parar, ao menos tentar! - Ela suplicou. Como eu poderia recusar? Eu amava aquela mulher, eu queria ser melhor por ela.
- Sim, meu amor! Eu prometo! – Falei, correndo até ela e segurando seu rosto, enquanto a fitava. Era tão bom estar sóbrio, porque assim seria tudo mais intenso, principalmebte o amor que a gente faria. Agora.
- Eu preciso de você. - Ela sussurrou contra meus lábios e então suas pernas abraçaram minha cintura e eu a lavei para o quarto, enquanto a beijava.
Eu conseguia sentir a dor naquele beijo. Ela estava chorando e eu pretendia tirar todo aquele peso que ela carregava. Eu queria fazer com que ela se sentisse bem. Levei-a para o meu quarto e coloquei seu pequeno corpo na cama, beijei cada pedaço de pele enquanto tirava suas peças de roupa. era tão linda. Tudo o que eu queria era mostrar para aquela mulher o quanto eu a amava e o quanto estava disposto a fazer qualquer loucura por ela. Quando estávamos ambos nus e eu finalmente dentro dela, eu me movimentei lentamente, ela gemia baixinho no meu ouvido e nossos corpos se encontravam sensualmente em uma lentidão tortuosa e prazerosa. Nós estávamos fazendo amor, completamente entregues um ao outro, com ou sem defeitos. Só eu e ela, como nunca antes.
- Eu te amo, minha .
- Eu também te amo, .
Eu só não tinha avisado a ela que algumas promessas simplesmente não são cumpridas.

*merla: Subproduto da cocaína, pode ser fumada pura ou misturada ao tabaco comum ou à maconha (bazuca).
*toxicômano: dependente químico.
*Mandrix (sonífero fortíssimo); Topuramato (anticonvulsivante); Pegolida (comprimido para tratar parkinson)

This is how it ends
(É assim que termina)
I feel the chemicals burn in my bloodstream
(Sinto os produtos químicos queimarem em minhas veias)
.

Now, without her..

Você nunca está preparado para se tornar um viciado. Tudo o que eu queria era ser aceito em um grupo que tinha a mesma merda de vida que a minha e principalmente esquecer os problemas. Isso funcionou por um tempo, até que a vontade se tornou maior do que qualquer outra necessidade. Aquilo se transformou na minha necessidade.
ainda não havia voltado e já fazia mais de vinte e quatro horas. Conseguir comprimidos que são praticamente impossíveis de conseguir sem receita médica não era fácil e eu sabia disso. O efeito da droga já havia passado há algum tempo e eu já estava começando a ficar nervosa. Meus pensamentos se misturavam com a depressão profunda que eu sentia ao pensar nela, sem estar entorpecido pela cocaína, e isso fazia com que eu lembrasse das inúmeras tentativas que eu fiz de ficar completamente isento de qualquer química nas minhas veias, enquanto estava presente. Ela parecia saber o que se passava. Com certeza ela leu bastante sobre o assunto. O ponto não é esse: o que eu estou querendo dizer é que os pensamentos constantes em só faziam com que a vontade de me entregar para qualquer outra coisa fosse muito maior do que ficar sem a droga.
não estava ali para me dizer o quanto aquilo era errado e muito menos... .
- Pitty, preciso que você envie um pacotinho aqui pra casa. – Falei, batendo os dedos nervosamente no sofa, enquanto falava com Pitty ao telefone.
- De novo, moleque? - Pitty perguntou, pigarreando. - Você já acabou com tudo?
- Sim... Caso contrario, eu não estaria pedindo? Estaria, Pitty? - Perguntei com grosseria.
- Fala direito comigo, ou não vai ter pra você! - Pitty disse, nervoso.
- Desculpa, desculpa, cara! – Falei, arrependido, tentando mudar meu comportamento nervoso.
- Ok, mas, dessa vez, você vai pagar. Já estou tendo muito prejuízo com você.
- Tudo bem, tudo bem! Só vem logo. - Pitty desligou, dizendo que alguém iria trazer o suficiente para uma noite.
O suor já estava se acumulando em meu corpo e minha respiração entrecortada não me deixava pensar em nada sensato. Eu precisava da cocaína. Era só isso que eu tinha na minha mente.
Meia hora depois, alguém bateu na porta e eu corri para pegar a mercadoria, jogando umas notas para o cara magro que estava na porta. Assim que a fechei, corri para a mesinha de centro da sala e tratei logo de arrumar o pó em duas carreiras, sem paciência nenhuma para injetar com a tremedeira que eu sentia nas minhas mãos. Aspirei o pó e fiquei um tempo completamente entorpecido pelo prazer e pelo alívio. Finalmente eu estava sentindo aquela química queimar por todo o meu ser.

Before, with her.

Minha relação com ia de mal a pior. Nós estávamos tendo brigas constants. Ela fazia muitas perguntas do tipo onde eu estava, reclamava do meu cheiro de álcool e dos meus olhos vermelhos. Então nós voltamos ao início do relacionamento: eu saía e cheirava Escondido, e ficava um tempo sem aparecer, mas o diferencial é que, dessa vez, ela sabia e tinha certeza do que eu fazia. Eu tentei parar, mas foi completamente idiota e não durou nem um dia inteiro.
disse que não iria desistir e por esse motivo ela havia decidido vir morar comigo. Seus pais, a essa altura, já sabiam o que estava acontecendo e tantaram convencê-la do contrário, mas foi inútil. não sairia de perto de mim, e eu não deixaria ela ir embora. Nosso relacionamento poderia parecer estar se desfazendo, desgastado e muito difícil, mas nós ainda nos amávamos e era isso que continuava nos mantendo juntos.
- Não acho certo você estar faltando a faculdade e o trabalho para estar aqui comigo. - Eu havia dito pra ela, um dia, e ela apenas deu de ombros, dizendo que eu era mais importante. Eu me senti péssimo naquele dia.
Fazia três dias que estava morando comigo e nós estávamos deitados no sofa, assistindo a um filme qualquer, ao qual eu não conseguia prestar atenção porque a abstinência estava começando a fazer efeito. Eu senti o suor brotar por todo o meu corpo. Gotas grossas pingavam no chão e eu levantei, andando de um lado para o outro, nervosamente. Um frio incontrolável começou por todo o meu corpo e o nervosismo era perceptível. olhou pra mim, com os olhos arregalados. Ela finalmente tinha entendido o que estava acontecendo e me olhava com receio. Eu comecei a socar a parede e a ficar nervoso com a luz da televisão, que fazia meus olhos doerem. A coriza me deixava ainda mais irritado e tudo o que eu queria era dar uma cheirada.
- , amor... Você está bem? - Ouvi a voz suave de , que ainda estava sentada no sofa, enrolada na coberta, me olhando.
- Eu pareço bem? – Perguntei, nervosa, e me agachei no chão. - Eu não aguento mais!
- Aguenta sim, ! - levantou e veio até mim. - Por favor, amor. Tenta mais um pouco.
- PORRA! EU TÔ TENTANDO! - gritei. - EU JURO PRA VOCÊ! EU TE AMO. VOCÊ NÃO VÊ?
- Sim, eu vejo! Eu tô vendo, amor... - falava, chorando ao meu lado. Ela passou a mão por minha testa suada. - Onde tem?
- O que? – Perguntei, confuso. - , amor, tá doendo.
- A droga. Onde está?
- Na gaveta do meu quarto. – Respondi, sem protestar. Vi ir ate o meu quarto e voltar com o saquinho. Respirei aliviado, achando que ela iria jogar aquilo fora e torcendo para que eu não fizesse nada com ela quando isso acontecesse. Mas o que ela fez me surpreendeu. Ela sentou no chão com a mão tremendo e começou a arrumar duas carreiras e então me olhou, chorando.
- Eu não consigo te ver assim... Só faça!
- Não!
- Só faça... Vamos, ! - repetiu, me olhando duramente.
- Eu vou conseguir, ! – Falei, tentando olhar para ela, mas desviando meu olhar para o pó branco que se encontrava tão próximo. Fechei os olhos fortemente. - Olha pra lá! NÃO OLHA AQUI! - Assim que falei isso, ela prontamente me obedeceu, e então eu cheirei aquele pó, me sentindo a pior pessoa do mundo.
Fui até minha , que estava encolhida no chão perto do sofa, e a abracei. Nós dois choramos juntos, até que não houvesse mais lágrimas.
Será que é assim que termina?


Fading out again
(Desaparecendo novamente)
I feel the chemicals burn in my bloodstream
(Sinto os produtos químicos queimarem em minhas veias)
So tell me when it kicks in
(Então me avise quando fizer efeito)

Now, without her.

Eu me odiava. Eu me odiava. Eu me odiava. Cada vez que eu pensava em todas as promessas, todas as tentativas fracassadas, eu me odiava cada vez mais, e olhar para aquele caderno novamente só me deixava pior. Sim, eu gostava de sofrer. Só podia ser isso! Por qual outro motivo eu estaria me torturando novamente?
O caderno estava todo surrado, devido aos rasgos e colagens que eu fazia. Eu ainda não havia ganhado coragem para ler o que ela escreveu a partir do momento em que descobriu o fracasso que eu era, mas eu estava tão ferrado que não faria sentido mesmo. Folheei o caderno até as poucas páginas que se mantinham intactas e que eu ainda não havia lido. A letra de forma redonda de estava ali, todos os sentimentos dela expostos para mim, esfregados na minha cara.
Escolhi um trecho aleatório e decidi ler: "Meus pais me pressionavam para saber por que eu chorava encolhida na cama, todas as noites. Eu não queria contar, mas minha mãe me pressionava e continuou me pressionando até que eu me abri com ela. Eu contei a ela os problemas dele, os meus problemas. Achei que ela iria me abraçar, me dar um beijo na testa e dizer que tudo iria ficar bem. Mas não. Ela me olhou horrorizada e disse para eu desistir dele, disse que não era vida para uma menina como eu, disse que ele não teria jeito e me proibiu de voltar a vê-lo. Eu não podia ficar sem ! Ele precisava de mim, eu precisava dele. A única solução que eu encontrei foi ir viver com ele... Eu só queria que nossa lua de nel tivesse durado mais que três dias."
Aquilo tinha sido demais para mim. Eu não deveria ter lido. Comecei a rasgar o papel, nervosa, e então, arrependido, me joguei no chão, como sempre fazia, e comecei a colá-lo novamente. Nada poderia ficar pior, eu já estava na merda mesmo. Peguei o que havia sobrado do pó que Pitty mandou e dissolvi com líquido. Coloquei o produto na seringa e estava pronto para me entregar. Pronto para desaparecer dessa realidade dolorida. Eu só queria que aquilo fizesse efeito e eu fosse para o esquecimento.
- , nem pense nisso! - falou, chegando perto de mim para me impedir.
- , decidiu aparecer? – Perguntei, irritado.
- Você sabe o quanto é difícil conseguir todos esses comprimidos? - Ele falou, jogando as cartelas na mesa e me olhando. - Vamos, cara! Agora você pode se tratar!
- Eu não vou desperdiçar isso... E vai ser uma despedida! – Falei, injetando a química em minhas veias.
- Eu espero que seja uma despendida, ... Eu espero que seja.
Essas foram as últimas palavras que ouvi dizendo, antes de me entregar a um sono profundo onde atormentava meus sonhos.

Before, with her.

Depois da minha fatídica recaída, depois de ter entregado as pontas, nós estávamos na pior. Ela não era forte o suficiente para me ver sofrer e eu simplesmente não era forte o suficiente para nada. Pedi para que ela chamasse o . Ele ficaria comigo e me ajudaria. Ela não precisava ficar ali, mas ela continuava repetindo que não podia ir para casa. Eu achei que ela tinha brigado com os seus pais e nunca me perdoaria se fosse por minha causa, mas ela não queria me falar.
- VOCÊ NÃO PRECISA FICAR AQUI TORRANDO A PORRA DA MINHA PACIÊNCIA! – gritei, irritado, quando começou a resmungar que eu não conseguia ficar um dia sequer sem cheirar. - É SÓ VOCÊ IR EMBORA E NÃO VOLTAR MAIS!
- É ISSO QUE VOCÊ QUER, SEU FILHO DA PUTA? - Ela gritava de volta. - ENTÃO PODE TER CERTEZA DE QUE UM DIA EU SAIREI POR AQUELA PORTA E, QUANDO ISSO ACONTECER, VOCÊ NUNCA MAIS VAI ME VER!
- ENTÃO, VAI LOGO! - Passei as mãos nervosamente pelo cabelo. - Vai viver a tua vida, se formar, conhecer um cara que preste. – Falei, baixando o tom e sentando no sofá.
- Eu não quero outro cara... - Ela sussurou. - Eu quero você! - Eu também não quero que você fique com outro cara! Só de pensar nisso eu fico morrendo de raiva. - Olhei diretamente nos olhos dela, que estavam cheios de lágrimas.
- EU TE ODEIO, CARALHO! - Ela gritou e foi até mim, sentou do meu lado, e começou a socar o meu peito. - EU TE ODEIO. ODEIO. ODEIO. ODEIO.
- Xiu, calma meu amor. - Segurei seus pulsos e a embalei em meu colo.
me olhou desesperada e começou a tirar a própria roupa, e a rasgar a minha. Ela me beijou duramente, enfiado sua lingua na minha boca. Fui pego de surpresa, mas tentava retribuir aquele beijo tão selvagem e desesperado. Passei a mão delicadamente por sua cintura e coloquei minhas mãos em sua bochecha, tentando beijá-la delicadamente. Já estávamos ambos apenas de roupas íntimas e eu tentava ser o mais delicado possível com ela, mas ela continuava mordendo o meu lábio e me beijando agressivamente.
- Eu não quero fazer amor hoje. - Ela falou, arranhando as minhas costas.
- Não? - Perguntei confuso.
- Não!
- E o que você quer? - Olhei para ela seminua no meu colo e pensamentos borbulhavam em minha mente. Se ela não quer fazer amor, então o que ela quer?
- Eu quero que você me foda! - Depois que essas palavras saíram da doce boca da minha namorada, qualquer sanidade que eu ainda tinha simplesmente se esvaiu.
Arranquei o sutiã de e joguei em qualquer canto, rasgando sua calcinha com a boca logo em seguida. Se era duro que ela queria, então duro iria ser. Puxei suas pernas grosseiramente e a coloquei deitada no sofa, abrindo ambas o máximo que consegui, logo enfiando minha lingua em seu clitóris, mordi e suguei sem parar. gemia sem pudor algum e forçava minha cabeça para que eu não paresse. Assim que ela estava molhada o suficiente, eu arranquei minha boxer e, sem esperar qualquer movimento ou palavra dela, eu a penetrei profundamente. gritou, surpresa, e seu sexo pulsante me puxava cada vez mais para dentro dela. O prazer era tanto que eu tinha medo de gozar antes do tempo.
- Não para, ... - gemia cada vez mais, se mexendo contra mim. - Mais... Eu quero mais...
Atendendendo ao seu pedido, eu comecei a me movimentar cada vez mais rápido, não parando em nenhum momento. Quando senti que não aguentaria durante muito tempo, eu tirei meu membro completamente de dentro dela. - Fica de quatro! Vamos, ! - Ordenei e ela prontamente me obedeceu, virando-se, apoiando as mãos no sofá e empinando a bunda na minha direção.
- Isso! Linda... - Sorri maliciosamente e dei um tapa em sua bunda, masseagebdo a vermelhidão em seguida. - Você quer ser fodida?
- Sim... - suspirou.
- Então, eu vou te foder, meu amor! – Falei, enquanto a penetrei novamente. Naquela posição, eu consegui ir ainda mais fundo que antes. Segurei em sua cintura mantendo-a próxima a mim, enquanto estocava em um ritmo frenético. Seu sexo começou a me apertar ainda mais e eu soube que ela estava próxima. Fui diminuindo a velociado, torturando-a.
- Não... Eu tô quase! - Ela resmungou. - Mais, por favor!
Assim que ouvi aquela súplica sair de sua boca, não consegui me segurar e introduzi todo o meu membro novamente, e só parei quando ambos havíamos chegado ao ápice.


I've been looking for a lover
(Estou procurando por um amor)
Thought I'd find her in a bottle
(Achei que a acharia em uma garrafa)
God make me another one
(Deus, faça mais uma para mim)
I'll be feeling this tomorrow
(Eu sentirei isso amanhã)


Now, without her.

Caminhar até o Pitty em um frio congelante não era algo agradável. Decidir parar de usar cocaína só com a ajuda de comprimidos e vinho, fechado em casa com gritando no meu ouvido, também não era algo que eu queria. Aproveitei que meu amigo estava dormindo e fui até o bar. Eu sabia que lá era muito mais fácil eu cair na tentação, mas eu estava indo bem. Estava limpo fazia quatro dias e isso era um recorde na situação em que eu me encontrava.
- Olha quem resolveu aparecer. - Pitty falou do balcão, assim que me viu entrando. - Por onde você estava?
- Eu estava em processo de desintoxicação. – Falei, sorrindo orgulhoso.
- Dá pra perceber. Você não está tão destruído que nem da ultima vez, mas também não está cem por cento, e eu aposto que isso tem nome e um lindo sorriso encantador. - Fechei a cara no momento em que Pitty falou aquilo. Algo dentro de mim se acendeu, assim como sempre acontecia quando eu pensava nela. .
- Estou procurando um novo amor, Pitty! - Sentei em frente ao balcão e observei, enquanto ele fechava os olhos e dava uma gargalhada enorme.
- É impossível você encontrar e amar alguém que nem você ama aquela garota. - Ele falou sério e me olhou com pena. Eu estava cansado de receber aquele olhar das pessoas, mas eu sabia que Pitty tinha razão.
- Nada é impossível! Inclusive eu já tenho um novo amor... - Sorri pra ele.
- E qual é?
- Se chama whisky!
- Eu já imaginava que seria algo assim. - Pitty falou, balançando a cabeça. - Fico feliz que não seja a branquinha!
Fechei os olhos fortemente, tentando afastar da minha mente o quanto eu queria aquela substância. Se eu desse só uma cheirada não iria fazer mal, não é? Não, foco ... Eu vou ficar aqui com o meu whisky e só isso. Pensar na minha , como sempre, e planejar como será nosso encontro, quando eu for até ela completamente limpo. Observei um cara sair do banheiro fungando e passando a mão freneticamente pelo nariz. Eu sabia o que ele tinha feito e eu queria... Nossa como eu queria. Bebi em um gole toda a dose de whisky que tinha no meu copo e rapidamente pedi outra.
Ficar naquele lugar, tão perto de algo que eu queria, estava me deixando nervoso e eu sentia uma nova crise de abstinência querendo aparecer. O suor já estava começando a brotar na minha testa. Quando percebi, já estava bebendo o whisky do gargalo e nada me parava. Acabei por engolir um Valium, para poder pelo menos ter algum entorpecimento e com o álcool tudo fez efeito muito mais rápido. Comecei a me acalmar. Tudo iria ficar bem, eu iria conseguir.

Before, with her.

Você já imaginou viver em um mundo sem problemas? Um mundo onde tudo é mais fácil, um mundo onde você pudesse fazer as regras daquilo que quer? Todo mundo diz que faz o quer da vida, mas isso não é verdade. Eu sei disso e as pessoas também. Viver em um mundo sem cocaína, eu consigo pensar nisso. Agora viver em um mundo sem ... Ah, isso é impossível. E foi justamente por esse motivo que eu resolvi tentar de novo.
- , dessa vez vai dar tudo certo! – Falei, deitado na cama ao lado dela. Nós tínhamos acabado de acordar e eu tinha resolvido fazer uma nova tentativa para deixar as drogas. - Eu sei que é difícil, mas eu preciso que você seja forte e que, se precisar de ajuda, chame o !
- Você tem certeza? - Ela perguntou, receosa. Suas sombrancelhas estavam arqueadas em uma expressão triste e duvidosa. - Eu não gosto de ver você sofrendo e sentindo dor.
- Eu também detesto ver você sofrendo e eu sei que isso está acabando com você! - Apoiei meu braço no colchão e me ergui o suficiente para depositar um selinho molhado em sua boca. - Me prometa que, se algo der errado, você vai chamar o !
- Ok... Eu prometo! - Ela falou, sorrindo e montando em cima de mim. - Eu já disse que te amo?
- Hoje não! - Sorri para ela, olhando em seus olhos e pensando no quão bonita ela era.
- Eu te amo, ! - falou séria e então me beijou calmamente, mordiscou meu lábio e deitou a cabeça no meu peito nu.
- Eu também te amo, muito!
- Me ama quanto? - Ela murmurou contra meu peito depositando um beijo.
- Infinito!
- Que gay! - disse, rindo, e eu não pude deixar de gargalhar.
- Eu estava sendo romântico. - Ouvimos alguém batendo na porta e então entrou em um rompante.
- Desculpe pela minha entrada, mas eu vim tirar vocês dessa cama para irmos ao Pitty!
- Você tá louco! Não podemos ir ao Pitty. - Falei com uma expressão nervosa. Eu acabei de dizer para minha namorada que quero parar de usar e então nos chama para ir ao Pitty. Isso está errado.
- Ué, por que não? Estamos precisando sair um pouco mesmo! - falou e então levantou, dizendo que iria tomar um banho e se arrumar. Eu apenas olhei de cara feia para meu amigo, que me olhou confuso.
- O que eu fiz? - perguntou, olhando ao redor.
- Merda. Você fez merda.
Enquanto se arrumava, eu contei ao a minha decisão e ele me apoiou, pedindo desculpas por sugerir a ida ao Pitty, mas agora já estava feito e nós já estávamos a caminho do bar, com caminhando animada de mãos dadas comigo e ao nosso lado. Eu já tinha falado do Pitty para ela. Minha namorada só não sabia que quem me fornecia o maior motivo de nossas brigas era ele.
- E aí, Pitty? - falou, assim que entramos pelas portas duplas.
- Olá, rapazes. Finalmente resolveram aparecer. - Pitty falou, saindo de trás do balcão e nos cumprimentando com um meio abraço. - E quem é essa moça bonita?
- Meu nome é , mas por favor me chame de !
- Prazer, . Eu sou o Pitty! - Ele a cumprimentou educadamente, com um beijo na bochecha, e olhou para nossas mãos unidas. – Então, você é a moça que roubou o coração de gelo desse moleque!
- Pitty! – Resmunguei, envergonhado.
- O que? Só disse verdades! - Ele falou, voltando para o balcão. - Então, o que vão querer?
Pedi uma dose de whisky, enquanto e ficaram na vodka. Conversamos durante muito tempo. Estava super bem e fiquei feliz por não sentir necessidade de estar drogado para me sentir bem, até porque eu tinha uma droga muito mais forte comigo e ela se chamava .


Lord forgive me for the things I've done
(Senhor, me perdoe pelas coisas que fiz)
I was never meant to hurt no one
(Eu nunca quis machucar ninguém)


Now, without her.

Entrei em casa completamente bêbado e entorpecido dos comprimidos que havia ingerido. Quando saí do bar do Pitty, estava tão chapado, que deitei em um beco qualquer e acabei dormindo por lá mesmo. Acordei assustado, sem saber onde estava, e, depois de assimilar o que tinha acontecido, levantei e andei até meu apartamento. Uma vontade de chorar tinha se apoderado de mim e eu estava me fodendo se estava em casa, provavelmente ainda dormindo. O caminho todo até o apartamento, eu só conseguia pensar no quão fracassado eu era, só conseguia pensar em todas as merdas que eu fiz, principalmente de quando me deixou. Eu sabia que tinha sido a última gota para ela no momento em que, além do meu vício, eu acabei atingindo a única pessoa que me amava. Sentei no sofá e as lágrimas rolaram pelos meus olhos, um grito rouco escapou da minha garganta, um grito de raiva e saudade, principalmente saudade. Tudo estava me irritando, pensar nela principalmente. Levantei irritado e chutei a mesinha de centro, que acabou por ceder e espalhar cacos de vidro pelo chão. Não satisfeito com o estrago que eu tinha feito, comecei a jogar todos os objetos que estavam no balcão da cozinha no chão e então soquei a parede, até meus punhos ficarem em carne viva.
- FODA-SE ESSA MERDA TODA! - Gritei.
- ? - perguntou, aparecendo na sala sem camisa e confuso, ao olhar toda aquela bagunça que eu tinha feito. - Cara, o que você tá fazendo?
- Tô cansado disso, ! Me diz por que eu tenho que ser um idiota? – Falei, sem olhar para o meu amigo e voltando a socar a parede. - Eu tinha a melhor garota do mundo do meu lado e eu consegui ferrar com tudo... Eu sou um burro mesmo!
- Sim, você é! Mas você está tentando novamente e vai dar tudo certo. Ela vai estar nos seus braços novamente... Você vai ver!
Eu só esperava que aquilo fosse verdade porque eu não tinha certeza se seria capaz de passar mais um mês sem ela.

Before, with her.

Não demorou muito para mais uma tentativa de deixar a cocaína falhar completamente. Depois que voltamos do bar do Pitty, eu estava feliz por ter conseguido ficar sem pensar na droga, mas nada é perfeito e, enquanto dormia, eu acabei por voltar ao bar e cheirar uma pequena quantia que Pitty me ofereceu. Voltei completamente chapado e deitei na cama de qualquer jeito, ao lado de . Assim que acordei, percebi que ela chorava baixinho, encolhida no lado dela da cama, me senti um merda, como sempre, e então decidi que, a partir daquele dia, não usaria nunca mais aquela droga que continuava acabando com a nossa vida. E então eu entrei novamente em uma tentativa que podia ou não ser fracassada. Já fazia uma semana que eu não usava nada e por esse motivo estava sempre irritado, querendo descontar a minha raiva na primeira pessoa que estivesse na minha frente. Infelizmente essa pessoa era sempre a única pessoa que não merecia nada disso.
- Quem tanto te liga? – Perguntei, irritado, para , que recebia ligações no cellular, sem parar. Ela sempre recusava.
- Não é ninguém! - Ela respondeu, mordendo a unha do dedão da mão, nervosamente.
- Como não é ninguém? Você está me traindo? É isso, sua putinha? - Sentei ao lado dela no sofá e segurei seu pulso com força.
- Você tá louco? Olha o jeito que fala comigo! - Ela falou, tentando puxar a mão, e eu depositei mais força, sentindo a irritação só aumentar. - Você está me machucando.
- QUEM ERA NO TELEFONE? – Gritei, a empurrando para o chão. - FALA LOGO, PORRA!
- Você tá me assustando, ! - falava, chorando, e eu só conseguia ver vermelho. Estava no meu limite sem a cocaína. Eu já havia passado por uma dessas crises de raiva, mas sempre esteve presente para ajudar. Não dessa vez.
- QUEM ERA? - Gritei novamente e dei um tapa no rosto dela, que logo ficou com a marca da minha mão pesada.
- Para.. - falava, chorando com a mão no rosto, o canto do lábio dela sangrava e ela estava com uma expressão de puro medo.
Quando olhei para , tão indefesa no chão, chorando e sangrando, um pedaço de consciência se apoderou de mim e eu percebi o que estava fazendo. O problema é que eu percebi tarde demais.
- Oh, meu Deus! – Falei, andando para trás, até bater com as costas na parede. - , amor! Desculpa, eu não sei o que me deu... Eu... Eu... Desculpa. - Passei a mão no rosto, desesperado para fazê-la entender que não sabia o que tinha acontecido e demostrar o quanto estava arrependido, mas ela apenas me encarava com medo e nada mais que isso.


I saw scars upon a broken hearted lover
(Eu vi cicatrizes em uma amante de coração partido)


Now, without her.

Dormi durante dois dias inteiros, depois de tomar três comprimidos de Mondrian, e quando acordei, na manhã do dia seguinte, e vi a bagunça que tinha feito, nada me atingiu. Não senti vontade de limpar nada e muito menos de cuidar dos meus punhos, que ardiam e estavam roxos.
Tinha um bilhete ao lado da cama, dizendo que tinha ido trabalhar. Se ele achava que vender drogas para o Pitty era um trabalho, então eu estava bem com isso. Olhei ao redor do quarto e uma coragem se apoderou de mim. Mesmo depois de cinco meses sem notícias de , eu ainda não tinha conseguído parar de pensar nela e me recusava a acreditar que ela já tinha me esquecido. No impulse, acabei por pegar o celular e digitar o número dela, como tantas outras vezes fiz, só que, dessa vez, eu apartei o botãozinho verde que tornava a ligação real. Escutar o som que o telefone fazia, enquanto eu aguardava alguém attender, me deixava ainda mais nervosa. Eu não sabia se torcia para ela atender ou para ela simplesmente me ignorer. Depois de alguns segundos com o celular no ouvido, eu finalmente ouvi a voz que assombrava os meus sonhos desde que ela se foi e tornou tudo ainda mais complicado.
- ?
- ? – Sussurrei, sem acreditar que ela realmente tinha atendido.
- Por que você está me ligando? - Ela perguntou, ríspida. - Eu disse pra você me deixar em paz, não foi?
- Eu sei, mas...
- Mas o que? - Ela me cortou, bufando.
- Eu só liguei pra dizer que eu estou limpo novamente e dessa vez é pra valer! - Falei sorrindo, orgulhoso, sem me importar com a forma como ela falava comigo.
- E quem me garante que você não vai cair na tentação, como em todas as outras vezes? - Ela gargalhou. - Você é um fraco, .
- Não, . Dessa vez é pra sempre! Tudo por você, meu amor! – Falei, sorrindo nervosa, enquanto levantava da cama e andava de um lado para o outro no quarto.
- Quando você vai aprender que você tem que parar por você mesmo, e não por mim, hein, ? - falou por fim e então desligou.

Before, with her.

Tinham se passado três dias desde que eu tinha perdido a cabeça completamente e agredido fisicamente . Eu tinha desistido de todas aquelas tentativas frustradas e não havia um momento em que eu não estivesse chapado. Minha namorada não queria me ver nem pintado de ouro e não me deixava tocá-la mais. tentou conversar com ela e explicar o que tinha acontecido, mas aquilo não tinha explicação e, comigo entregue à cocaína novamente, também não ajudava muito. Eu só queria ficar longe daquela situação toda e principalmente esquecer o que tinha feito e, quando eu estava sob o efeito das drogas, eu não pensava no mal que tinha sido bater nela, eu só pensava em coisas que me deixavam calmo e sorrindo o tempo todo, e acho que foi isso que acabou por deixá-la ainda mais irritada. Ela parecia estar esperando me encontrar pelo menos um pouco sóbrio, para poder falar comigo, e eu tentava ao máximo nunca aparecer sóbrio, para não ter que enfrentar aquela possível discussão, mas, no fim daquele dia, foi praticamente impossível. estava com as malas feitas, todas empilhadas perto da porta e me esperava sentada no sofa.
- O que está acontecendo? – Perguntei, mesmo sabendo a resposta. Eu só não queria acreditar que era aquilo mesmo.
- Eu estou indo embora, ! - Ela falou, sem me encarar. não me encarava desde aquele dia e eu não fazia questão que ela me olhasse, porque olhar diretamente para o machucado que eu tinha feito nela só me fazia sentir pior.
- Vai ser melhor mesmo, você esfria a cabeça e eu também... E então tudo volta ao normal, certo? - Atropelei as palavras, tentando convencer a mim mesmo de que era isso que ela queria.
- Não, . Eu vou finalmente atender a todas as ligações que meus pais vêm me fazendo. - Ela me olhou profundamente quando disso isso e eu senti como um tapa na cara. - E vou voltar para casa, viver a minha vida... Não a sua... Porque essa vida que a gente vive não é nossa. Ela é só sua!
- Claro que não, . - Me aproximei dela, mas ela levantou, me repelindo totalmente, com medo. Nunca pensei que ela teria medo de mim.
- Sim, ! E eu não quero que você me procure mais... - Ela falou, tentando parecer séria, mas lágrimas grossas escorriam dos seus olhos.
- Mas eu amo você, ! – Falei, usando o único argumento que eu tinha.
- Às vezes o amor não é suficiente. - falou e então seu pai apareceu na porta, me olhando com uma expressão de puro ódio. Eu queria que ele me socasse, mas apenas lhe deu um olhar e ele desceu com as malas, sem dizer uma palavra. - Adeus, !
foi embora e eu me sentia um completo babaca por fazê-la ir com o coração partido e cheio de cicatrizes incuráveis.

This is how it ends
(É assim que termina)
I feel the chemicals burn in my bloodstream
(Sinto os produtos químicos queimarem em minhas veias)

Now, without her.

Joguei o celular na parede, quebrando-o em mil pedaços, exatamente da forma como meu coração se encontrava. Eu sabia que tinha feito aquela mulher sofrer. Ah, eu sabia! Como eu fui burro o suficiente para achar que era só ligar, dizer "Ei, tô limpo" e pronto: ela voltaria para mim, em um estalar de dedos? sempre fez tudo por mim e eu sempre ferrava com tudo no final. Eu senti como se nada fosse possível para fazê-la voltar novamente para os meus braços. Eu estava indo tão bem nessa desintoxicação! O processo de abstinência tinha sido muito menos doloroso do que das outras vezes e isso só provava que eu tinha feito tentativas demais, o que queria dizer que a dor não tinha mais a mesma intensidade. Será que é assim que eu termino? Sozinho? Sem ela? Sem a minha ? Um drogado fadado ao fracasso na vida, é isso que eu sou?
Soquei a parede novamente, sentindo a dor se espalhar por meu punho já dolorido e aquilo me fez sentir bem: eu merecia sentir dor. Eu merecia sofrer, eu merecia minha doce me tratando com desprezo e, principalmente, eu merecia meu destino, que era ser um drogado o resto da vida. Coloquei minha jaqueta de couro e saí pelas ruas, com a visão embaçada pelas lágrimas que se acumulavam nos meus olhos.
- Eu não vou chorar. - Falei entre dentes, limpando as lágrimas com o antebraço. Eu não iria chorar, não porque eram por , mas sim porque eu tinha que viver com a dor, e derramar lágrimas era derramar dor e eu queria ela comigo, para me lembrar do idiota que eu sou.
Andei até o bar do Pitty e implorei por um pouco de pó. Era óbvio que o tinha advertido para que não me desse nem um pouco mais. Acontece que no mundo da droga ninguém é amigo, o dinheiro para comprar mais é o que fala mais alto e, assim que mostrei uma grande quantia a Pitty, ele logo cedeu, me olhando com pesar e se desculpando. Desculpar para quê?
achava que era tudo muito fácil no mundo da droga, mas isso foi porque ele apenas a vendia. nunca foi para algo mais forte que maconha e alguns comprimidos. Ele era um dos únicos que se safou do grupo do beco. Todos os outros estavam perdidos, assim como eu.
Entrei no banheiro, fiz duas carreiras, arrumando-as com o papel alumínio que eu tinha na minha mão, e então fiz uma espécie de canudinho enrolando um pedaço de papel que eu tinha no bolso. Coloquei o canudinho no nariz e aspirei as duas carreiras profundamente, sentindo o entorpecimento me acalmar completamente. Nem um pingo de culpa e nem tristeza na mente, e muito menos no pensamento. Abri a porta e saí do banheiro, tonto e chapado, mas eu ainda não estava satisfeito: eu queria mais. Apesar de ter conseguido subornar Pitty, eu sabia que não teria a mesma sorte novamente. Andei até uma rua onde todos os tipos de drogados se encontravam. Eu nunca tinha ido até lá porque ali era o ponto onde os usuários de heroína se encontravam, meninas novas se prostituíam, para poder comprar a droga, e meninos faziam o mesmo. Se tem uma coisa que eu sempre falei que não faria era usar heroína, mas a minha vida era uma merda mesmo e agora que eu sabia que não voltaria, o que mais eu tinha? Eu não tinha nada.

All the voices in my mind
(Todas as vozes em minha mente)
Calling out across the line
(Me chamando, do outro lado)

Conhecendo .

Uma vez, quando eu tinha uns doze anos, eu lembro de uma briga horrível que meus pais tiveram. Eles gritavam um com o outro, não medindo as palavras e muito menos as coisas maldosas que falavam um para o outro. Meu pai tinha um sério problema com a bebida, e minha mãe não aguentava aquela situação toda. Todo fim de semana, meu pai chegava de madrugada completamente embriagado e dormia no sofa, roncando de boca aberta. No outro dia, minha mãe gritava com ele, meu pai dizia estar arrependido e que aquela seria a última vez. Minha mãe o perdova e fazia planos de uma vida melhor, durante toda a semana, e então o fim de semana chegava e tudo se repetia.
Nesse dia, a briga foi muito mais bruta. Meu pai, irritado com toda a gritaria e "cobrança" da minha mãe, acabou por perder o controle e bateu nela. Minha mãe ficou em choque e sem reação. Depois disso, o verdadeiro inferno começou: meu pai se tornou extremamente agressivo e começou a bater nela e em mim. Minha mãe já não brigava e muito menos sorria. Quando eu fiz quinze anos, acordei um dia e meu pai tinha ido embora, ele nunca mais voltou.
Vivemos bem durante um ano, com o salario da minha mãe, mas então tudo ficou muito mais complicado e a falta de dinheiro fez com que minha mãe achasse que se prostituir dentro de casa seria um bom negócio. Tudo virou uma bela merda, e eu me joguei na maconha e nos comprimidos. Nunca tive interesse em experimentar drogas mais fortes que isso, então Pitty viu que investir em mim para seu mais novo traficantezinho era uma boa e tudo o que eu fazia era vender drogas para os viciados. Foi assim que eu conheci .
sempre foi um cara divertido e brincalhão, se preocupava com os amigos e muitas vezes foi com ele que desabafei sobre como a minha mãe tinha se transformado em uma puta mal amada. Eu vi com os meus próprios olhos ele se destruindo e sem poder fazer nada para ajudar. Ele já estava completamente acabado quando conheceu , mas eu vi uma ponta de esperança naquele amor. Ele começou a cheirar com menos frequência e até tentou parar, tudo sempre em vão.
Nunca achei que fosse possível ele piorar, mas foi o que aconteceu quando ela se foi. Um dia depois de ter ido, me ligou e pediu para que eu fosse ver como ele estava. Disse que tinha ido embora porque ele tinha batido nela. Ela parecia estar muito assustada e não sabia se iria conseguir esquecer aquilo. Eu quis gritar com ela e dizer que ela estava desistindo dele, mas não é todo mundo que aguenta o que ela aguentou. estava um caco, quando eu o encontrei, e só piorou, mas agora ele estava disposto a parar e eu realmente acreditava nele. Só esperava que fosse verdade.
Minha esperança logo foi por água abaixo, quando um sentimento horrível me tomou por inteiro, no momento em que coloquei o pé no apartamento de . O ambiente se encontrava em total silêncio, uma cadeira caída no chão como se alguém tivesse chegado com muita pressa. Andei devagar até o banheiro, que estava com a porta entreaberta e, quando me dei conta da cena que ali se encontrava, um medo que eu nunca senti antes se espalhou pelo meu corpo.
- ! – Gritei, vendo-o desacordado, com a cabeça encostada no vaso e uma seringa presa no braço. - , acorda! – Falei, tirando a seringa e esperando alguma reação, mas seu braço caiu mole ao seu lado. – Alô! Emergência... Preciso uma ambulância... Não, pro meu amigo... - Desliguei o telefone e finalmente tomei coragem para olhar para a cara do , que estava com uma cor acizentada e os lábios azuis. Coloquei meu ouvido em seu peito para escutar seus batimentos, mas tudo o que eu escutei foi a minha respiração pesada e nervosa. O coração não estava batendo.

Tell me when it kicks in
(Me avise quando fizer efeito)
I saw scars upon her
(Eu vi cicatrizes nela)


Now, POV .

Eu sou mesmo uma estúpida não sou? Sim, eu sei que sou. Eu acho que fiquei tão assustada com o entrando em contato comigo, depois de tanto tempo, que a única defesa que eu encontrei foi falar com ele daquela forma no telefone. É claro que depois que eu desliguei, comecei a pensar em como era uma pessoa impulsiva que fazia a primeira coisa que vinha à cabeça quando estava nervoso. E eu tinha sido extremamente grossa, quando tudo o que ele queria era o meu apoio. Eu fui uma idiota com ele, isso é fato.
Meus meses sem não foram nada senão pura e simplesmente tristeza. Esse foi o único sentimento que predominou. Fiquei um bom tempo sem ir à faculdade, até que meus pais começaram a me obrigar a ir. Minha mãe me acordava e meu pai me levava. Isso funcionou para eles durante um tempo, mas não para mim. Eu sempre fugia e acabava na rua do apartamento de , observando-o. Eu me sentia patética fazendo aquilo, mas pelo menos assim eu conseguiria vê-lo. Meu pais acabaram por descobrir e, desde então, eu vivo trancada dentro de casa. Foi a forma que eles encontraram de me manter "salva".
Esses cinco meses foram uma merda. Eu provavelmente devo estar parecendo um esqueleto ambulante de tanto que emagreci e, para ajudar, a única saída que eu encontrei foi fumar compulsivamente, pelo menos um maço e meio por dia. Cigarro meio que acabou virando minha pequena válvula de escape, nessa situação toda. Quando eu sentia saudades, eu fumava. Quando eu lembrava de tudo o que aconteceu, eu fumava, e, principalmente quando eu lembrava de quando ele me bateu e do tanto eu sofri, eu fumava. sempre foi super cuidadoso e carinhoso comigo e acho que eu o aguentaria chapado, todos os dias, aguentaria todas as suas tentativas frustradas de parar de usar, mas eu não iria aguentar viver com medo dele e eu estava morrendo de medo. Aquele homem que me agrediu não era mais o meu , ele era um desconhecido. Eu sabia que o que o fez agir daquela forma foi a droga, mas eu não estava mais preparada para aquela vida e acho que nunca estaria.
Eu já tinha derramado lágrimas demais, e mesmo assim elas não paravam. Eu chorava todos os dias, meus olhos estavam com olheiras profundas e eu não sabia se eu seria capaz de me recuperar algum dia. Eu amava aquele homem, com todo o meu coração. Ele pode ter o quebrado e deixado várias cicatrizes para eu cuidar sozinha, mas eu ainda o amava e muito.
Deitei na cama, olhando para o teto e pedindo para que aquele pressentimento horrível que eu tinha fosse embora. Meu sangue gelou na hora, pensando no que ele poderia fazer depois daquele telefonema, mas resolvi esperar ele me ligar novamente e isso não aconteceu.
Eu estava implorando para que esse pressentimento não fosse nada e então meu celular começou a tocar, e eu rezei para que fosse , dizendo que estava bem. Mas não era.
- Alô? – Atendi, completamente confusa e nervosa, quando vi que era quem me ligava.
- Oi, ... - Ele falou com uma voz embargada.
- O que aconteceu com ele, ? Ele está bem? – Perguntei, imediatamente sentindo meu corpo inteiro arrepiar de medo daquela resposta.
- Não, ele... Ele. Ele não tá bem! - falou com uma voz assustada.
- O que aconteceu? Me fala! – Implorei, sentindo meus olhos encheram de lágrimas.
- Ele teve uma overdose!

Tell me when it kicks in
(Me avise quando fizer efeito)
Broken heart
(Coração partido dela)


Now.

Acordei, me sentindo um pouco grogre. Minha cabeça latejava e minha boca estava seca. O cheiro de hospital invadiu minha narina, e eu me dei conta de que me encontrava deitado em uma maca, ligado a todo o tipo de coisas hospitalares. Estava recebendo soro e uma máquina ligada ao meu coração mostrava o tum tum que ele fazia. Isso significava que eu estava vivo, não era?
Então eu tinha tido uma overdose e essa era a sensação? Sinceramente não faço ideia se estou feliz por estar vivo, depois da minha ideia idiota de experimentar heroína. Deu para perceber o quanto ela deu errado, não foi?
A última coisa de que eu me lembro foi de ir andando sozinho para casa, depois de comprar uma grande quantidade, achando que aguentaria. Eu queria me sentir alto o suficiente para voltar ao normal, muito, muito, muito tempo depois. Mas não foi isso o que aconteceu. Eu sabia muito bem como funcionava o processo para usar heroína e então peguei a colher, limão, a droga e por fim um esqueiro. Coloquei a droga na colher, misturando-a com o suco de limão, e depois esquentei a colher com o esqueiro. Então coloquei o liquido na seringa, com todo o cuidado para não entupir, e injetei no meu braço.
Eu só tinha esquecido ou feito questão de esquecer de toda a cocaína que havia ingerido antes de usar aquela enorme quantidade de heroína. Depois daquilo, tudo era um borrão. Minha cabeça começou a pesar e minha perna direita ficou completamente paralisada. Eu desmaiei e achei que aquele era o meu fim. Deitado no chão do apartamento morrendo de overdose.
- E aí, garotão? Você me deu um susto enorme! - falou, entrando no quarto e sentando na poltrona ao lado da maca. - Ainda bem que eu cheguei a tempo! - Devo agradecer por ter me encontrado? Eu sinceramente não sei se queria ser salvo.
- Você deveria ter me deixado pra morrer! – Falei, com a voz rouca. Olhei lá fora e vi a chuva torrencial que caía. “Que belo dia para estar vivo”, pensei.
- Eu já disse, ... Eu sou seu amigo. Não vou te abandonar! - Ele falou, levantando e me dando um aperto no ombro. - Fica bem, depois eu volto!
- E eu vou ficar aqui sozinho? – Perguntei, sentindo um medo se apoderar de mim. Eu não queria ficar sozinho naquele quarto branco, comendo uma comida que provavelmente iria ser horrível. Mas apenas sorriu e foi embora.
Depois que meu amigo se foi e me deixou ali, minha vontade era de levantar e correr atrás dele, e lhe dar um belo de um soco na cara, mas então a porta se abriu novamente e uma linda mulher de olhos pequenos e sorriso perfeito entrou. Ela estava muito mais magra e parecia extremamente cansada, mas me olhou com alivio e um pequeno sorriso apareceu no canto dos seus lábios. Ah, eu a amava! O que será que ela estaria fazendo aqui? O que será que o meu amor de coração partido estava fazendo nesse quarto de hospital? Olhando pra mim e se dirigindo a mim?
- ? – Perguntei, confuso, achando que estava vendo uma alucinação, mas então ela segurou na minha mão e eu senti o quanto aquilo era real.
- Olá, .




Fim?



Nota da autora: Primeiro eu queria dizer que estou muito feliz por participar dessa ficstape, pelo simples fato de ser do Edinho <3 e ainda mais feliz porque fiquei com a minha música preferida do "X" e que se tornou minha preferida de toooooodas as músicas do ruivo!
Vamos aos agradecimentos, ou caso contrario eu apanho. Obrigada Julia toba, Fran diva, Lidi maravilhosa e como sempre Emi linda... Eu amo vocês!
Espero que vocês tenham gostado porque esse é um tema muito delicado e difícil, as meninas que me acompanharam viram o tanto de coisas que eu li nos sites, fora que li e assisti "Christiane F" de tão obcecada que fiquei, mas mesmo assim eu não sou nenhuma especialista no assunto e peço desculpas qualquer coisa.
Devido ao curto prazo de entrega, o fim da fic foi adiantado, logo as ideias não estão espostas da maneira planejada.
Só isso mesmo, beijos e comentem pra me deixar feliz! <3





Outras Fanfics:
Love is not a sin - Especial de Agosto.
Can't Fight With You - Atualização especial do dia do sexo.
Bônus: Wild Ones - Ficstape #007



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