07. Can't Have You

Última atualização: 05/02/2016

Capítulo Único

— Oi. — Atendi a ligação sem olhar no visor.
— Oi, ! — Era . Ajeitei o celular da melhor forma e continuei encarando a televisão. Qualquer falha poderia ser crucial. Não poderia deixar meu personagem morrer. — me disse que estava na casa do , não queria atrapalhar, amor, mas eu preciso...
— Fala logo, . — disse, impaciente. Ouvi um suspiro do outro lado da linha.
— Eu consegui aquela promoção, ! — falou. Bufei. Não podia ter esperado até mais tarde?
— Que ótimo, amor. A gente comemora mais tarde, agora eu estou um pouco ocupado. — suspirou novamente do outro lado da linha.
— Tudo bem.
— Até mais tarde.
— Adeus, . — Desliguei o celular e voltei para o meu jogo.
— Cara, acabou de me contar que arrasou no trabalho! — entrou na sala, falando.
— Aham. — disse, ainda sem tirar os olhos da televisão.
— Ela não te ligou pra contar os detalhes? Até eu fiquei curioso pra saber como ela superou a outra mulher lá.
— Eu disse que a gente conversaria mais tarde. — colocou-se na frente da televisão. — Qual o seu problema, ? Sai da frente! Viu? Morri, por sua causa! — falei, deixando o controle do videogame de lado.
— Qual é o SEU problema? Você tem uma ótima garota e a trata como menos que nada, ! Vocês namoram há mais de dois anos e ainda a trata assim. — Levantei, irritado.
, cuida do seu namoro, que do meu cuido eu. — disse, indo em direção à porta.
— Espero que você cuide mesmo, porque em algum momento a vai cansar dessa sua palhaçada e seguir em frente. E, quando você cair em si, pode ser tarde demais. — Bati a porta atrás de mim, não querendo ouvir mais uma palavra do que tinha a dizer.

...


Cheguei em casa algumas horas depois. Assim que saí da casa de , parei no primeiro bar que avistei. Eu precisava me acalmar. Não entendia por que as pessoas insistiam em tomar conta da vida das outras.
Abri a porta e logo estranhei o silêncio e as luzes apagadas. A blusa que deixei no sofá quando saí de casa, mais cedo, ainda permanecia ali. Caminhei em direção ao quarto que dividia com , mas ela não estava ali. Encarei a cama bagunçada e a toalha molhada que deixei jogada sobre ela de manhã. Ela sempre brigava comigo por causa disso, mas acabava rindo e dizendo que eu parecia um adolescente.
Olhei ao redor, sentindo como se estivesse deixando algo importante passar. Assim que me dei conta da promoção que havia conseguido no trabalho, lembrei que tinha dito que comemoraríamos mais tarde. Droga, estava fedendo bebida e cigarro do bar e nem tinha trazido nada para ela. Segui em direção à cozinha, encontrando o dinheiro do supermercado intocado sobre o armário. Abri a geladeira e ela estava vazia.
— Mas o que... — falei, não conseguindo entender o que estava acontecendo com a casa. Voltei para o quarto e encarei ao redor com mais atenção. A foto que ficava sobre o criado-mudo no lado em que dormia não estava mais ali. Olhando mais atentamente, notei, enfim, que o quarto estava mais vazio do que da última vez. Abri o guarda-roupa e encontrei o lado dela vazio. Abri suas gavetas, e nada. Entrei no banheiro e todos os seus pertences tinham sumido. Voltei para o quarto e encarei a cama bagunçada.

— Adeus, .

Um envelope branco estava sobre o travesseiro. Meu nome estava escrito ali e eu reconhecia a letra perfeitamente. Peguei o envelope e o encarei, não tendo forças para abri-lo.
Ela tinha me avisado.
Mas eu nunca tinha imaginado que ela realmente fosse fazer isso.
Só que ela fez.
tinha ido embora.

...


Uma semana depois

, cadê o relatório que te pedi semana passada? Estou ficando sem desculpas, cara! — Peguei os papéis que tinha acabado de imprimir e coloquei na mesa de .
— Me desculpe. Eu só...
— Você está bem, ?
— Claro, estou ótimo. — disse e virei-me, voltando para a minha mesa.

— O pessoal do escritório vai assistir ao jogo no barzinho aqui da frente. Você vai, certo? — perguntou, meio receoso. Apenas balancei minha cabeça, negando, já recolhendo minhas coisas, preparando-me para deixar o escritório. — ...
— Eu só quero ir pra casa, , por favor. — Meu amigo balançou a cabeça, mas não insistiu. Virei-me e segui para o estacionamento.
Assim que cheguei em casa, o vazio daquele lugar apossou-se de mim mais uma vez. Andei por todos os cômodos, como se a qualquer momento pudesse aparecer por ali.
Há uma semana eu simplesmente aceitei sua decisão.
Hoje, eu apenas conseguia imaginar quando a veria novamente.
Respirei fundo e comecei a recolher as coisas espalhadas pela casa. Estava tudo um caos. As roupas limpas tinham acabado, a geladeira estava vazia... Eu não tinha mexido ou arrumado nada. Eu simplesmente não conseguia.
Segui para o quarto, encarando novamente a toalha sobre a cama.

! Eu já pedi pra não deixar a toalha molhada sobre a cama! O que custa pendurar no varal? — gritou do quarto enquanto eu preparava meu café-da-manhã.
— Eu esqueci, . — falei de volta. Ela apareceu na cozinha, com a toalha nas mãos e um olhar assassino. Prendi o riso, fazendo uma cara inocente.
— Esqueceu, é? Suas desculpas já foram melhores. — Ela não conseguiu se conter e soltou uma gargalhada. Ri junto com ela, a observando enquanto deixava a cozinha e pendurava nossas toalhas no varal. — ... — começou a falar assim que voltou para a cozinha. Encarei-a, esperando que terminasse. — Será que a gente poderia sair hoje? Não sei, ir ao cinema, ou...
— Ah, marquei com o pessoal do trabalho já. Talvez amanhã, ok?


Um amanhã que nunca chegou.
Balancei a cabeça, afastando esse pensamento. Coloquei as roupas na máquina e tomei um banho, logo saindo para o supermercado.

Acho que poucas vezes me senti tão perdido em um lugar. Eu encarava as prateleiras, e não fazia ideia do que eu estava realmente procurando. Eram tantos tipos de cereais, tantas marcas de todos os produtos que eu conseguia imaginar.
Parei em frente a uma prateleira com vários pacotes de pão. Integral, com 7 grãos, 12 grãos, preto, branco...
Uma senhora parou ao meu lado, acredito que havia se compadecido do meu desespero.
— Você deveria dar uma olhada nos de trás, eles costumam estar mais fresquinhos! — ela disse e um sinal de alerta soou dentro de mim. Encarei o carrinho, lembrando que tinha esquecido completamente de verificar o prazo de validade das coisas. Vendo meu desânimo, a senhora deu um sorriso simpático em minha direção.
— Obrigado. — eu disse, já me virando e desistindo de comprar pão.
— Meu filho. — ela chamou. Virei-me em sua direção, a encontrando meio incerta se diria suas próximas palavras ou não. — Aprenda a dar valor às coisas mais simples e não deixe que algo ou alguém tão importante escape sem lutar. — Abri minha boca, mas não consegui dizer nada. Atordoado, peguei o carrinho e segui para qualquer direção, apenas querendo terminar aquilo logo e voltar para casa.

, pode me dar uma ajudinha aqui, por favor? — chamou-me da porta assim que chegou do supermercado.
— Já vou. — disse, não tirando os olhos da televisão. — Só vou terminar essa partida. — Ouvi-a bufar, mas ignorei.
— Obrigada. — passou na minha frente, algum tempo depois.
— Eu já estou indo.
— Agora não precisa mais. — Ela seguiu para o nosso quarto, mas parou antes de virar no corredor. — Sabe, em algum ponto você vai precisar me colocar na frente desse seu videogame idiota.


Fui para o quarto depois de guardar toda a compra. O maldito envelope continuava sobre a cama. Eu não tinha conseguido deitar ali desde que partiu. Parecia errado. Peguei o envelope pela milionésima vez naquela semana, seguindo para a sala. Sentei-me no sofá, encarando a carta que ela havia deixado.
Respirei fundo, tentando tomar coragem para, enfim, ler o que estava escrito ali.
Abri o envelope, ainda incerto se conseguiria seguir com aquilo.
Encarei o papel, mas sem realmente enxergá-lo.
Fechei meus olhos e apoiei a cabeça no encosto do sofá. Por algum tempo, eu apenas permaneci nessa posição, livrando minha mente de qualquer pensamento sobre ou qualquer ideia sobre o que ela havia escrito.
Olhei novamente para o papel, notando manchas em algumas partes.
Lágrimas.
Senti um aperto no peito e uma sensação de ânsia tomando conta de mim.

,

Confesso que não sei bem como começar essa carta. Era para ser um simples bilhete te informando que eu estava partindo. Mas isso parecia cruel demais e, talvez, algo que você faria, então eu resolvi fazer do meu jeito, ainda que eu saiba que levará alguns dias para abri-la.
Por favor, leia até o final. É a última coisa que te peço.

Por algum tempo, a forma como você me tratava parecia sua forma meio conturbada de amar alguém. Você nunca foi o cara mais carinhoso do mundo, mas sempre me abraçou quando eu precisei, mesmo que revirasse os olhos e achasse aquilo a maior bobagem.
Por algum tempo, eu acreditei que o meu amor por você pudesse ser capaz de lutar por nós dois. Um amor tão grande e puro que jamais sonhei em sentir por alguém. Mas eu senti por você. Sinto por você.
Por mais algum tempo, eu tive a certeza de que tinha um motivo oculto para sempre ignorar minhas tentativas de “saídas de casal”. Eu tentei me lembrar da última vez que me levou ao cinema, mas eu não consegui. Você lembra a última vez que fez algo para mim? Algo que eu não te implorei que fizesse. Se eu não lembrei, acredito que não se lembrará também.
Por muito tempo, eu aceitei as migalhas que você me oferecia, acreditando que eram um enorme banquete. Foi quando a frase “a gente aceita o amor que acha que merece” passou a fazer algum sentido na minha cabeça.
Eu limpava a casa, eu fazia as compras no supermercado, eu te acompanhava nos eventos da empresa, eu não te perturbava durante suas saídas com seus amigos... Eu ainda te ajudava quando chegava meio alterado pela bebida. Eu fiz tudo, . Eu fiz tudo o que eu pude, eu te dei tudo. Inclusive meu coração.
Mas você não cuidou dele.
Eu fiz tudo o que eu pude.
Eu te amei. Eu te amo.
Mas hoje, quando eu te liguei para contar uma das maiores vitórias da minha vida, quando eu quis compartilhar um dos momentos mais felizes para mim... Você só conseguia pensar no seu jogo de videogame. Você não se animou comigo, você não ficou feliz comigo, você mal me ouviu. E foi nesse momento que eu percebi.
Eu não tinha perdido apenas você (ainda que uma parte de mim acredite que eu nunca tive realmente alguma parte sua), eu perdi a mim mesma, .
E é por isso que eu estou indo embora.
Eu te avisei, mas você nunca levou a sério. Para ser bem sincera, nem eu estava cem por cento certa que conseguiria te virar as costas. Eu não sabia se conseguiria largar o meu mundo: você. E só agora eu entendo e enxergo o quão errado tudo estava. Eu vivia minha vida em sua função. Bastava você me ligar dizendo que precisava de mim que eu largava tudo e ia até você. Não estou te culpando por isso, porque foi a minha decisão. Eu entreguei minha vida em suas mãos. Eu te culpo por não me valorizar. Por me tratar como opção quando eu sempre te tratei como prioridade.
Por algum tempo, eu sei que vai doer. Eu sei que vai ser difícil mudar todos os meus hábitos e as perguntas: o que eu quero? Onde eu quero ir? O que eu quero fazer?
Eu amo você, , e acho que sempre vou amar.
Mas eu quero amar e ser amada. Quero um amor saudável. Um amor bilateral, não um que eu entrego tudo de mim e recebo apenas as migalhas, as sobras.
Eu sei que demorei, mas eu aprendi a lição.
Eu amo você, , e acho que sempre vou amar. Mas agora está na hora de eu traçar um novo caminho e, no final, eu quero encontrar uma pessoa mais importante do que você jamais deveria ter sido. Eu quero e vou me encontrar. E vou aprender a me amar e a me valorizar. Eu sei que não será fácil, mas estou mais do que disposta a correr atrás.
Eu amo você, , e acho que sempre vou amar. Mas não mais permitirei que esse amor seja maior do que o que eu sinto por mim mesma.

.”



Encarei o papel em minhas mãos, completamente entorpecido por suas palavras. A força de cada frase escrita por ela nocauteou cada parte de mim, não me permitindo nem mesmo chorar.
Uma angústia apossou-se de mim, uma necessidade de encolher-me sobre a cama e chorar como se aquilo não passasse de um pesadelo sem fim. Eu estava tão cego que não percebi que eu tinha quebrado seu coração. Estava tão concentrado em mim mesmo que destruí a única coisa boa da minha vida.
Dobrei, com cuidado, a carta e coloquei no bolso da jaqueta. Eu precisava sair.
Saí em qualquer direção e vi-me sentado em um balcão de um bar qualquer. Um copo de uísque foi colocado na minha frente e, em pouco tempo, eu já havia perdido a conta de tudo o que tinha consumido.
— Não acha que está na hora de parar, cara? — Apenas levantei o copo em direção ao bartender, indicando que era para encher o copo novamente.
O bolso no qual a carta de estava queimava meu peito. A bebida descendo rasgando pela minha garganta era nada perto disso. Apoiei minha cabeça sobre o balcão, não tendo mais forças para levar o copo a boca.
Senti alguém passando o braço ao meu redor, levando-me para casa.
Mas a única coisa que eu conseguir ver era uma borrão.

...


Ouvi meu telefone tocar em algum lugar, mas minha cabeça doía tanto que não consegui mexer-me para procurá-lo. Após algum tempo, o toque cessou. Ajeitei-me melhor na cama e estava quase pegando no sono novamente quando o celular voltou a tocar. Bufei e sentei, tonto. Comecei a tatear os lugares ao meu redor e encontrei o aparelho no criado-mudo.
— Oi. — disse, com a voz grossa, sentindo minha garganta arranhar de tão seca. Deitei novamente, tampando meus olhos com meu braço.
, você está bem? — Era . Se não fosse tão doloroso, eu estaria revirando meus olhos.
— Uhum. — resmunguei. Ouvi meu amigo bufar do outro lado da linha.
— Levanta, bebe uma garrafa de água e toma um banho. Preciso de você sóbrio. — Eu ri.
— Eu só quero voltar pro bar, cara, me deixa. — estava impaciente.
— Quer saber, faz o que quiser. Eu te liguei pra te falar uma coisa, mas a estava certa. Tchau, .
— Espera, ! — Um desespero tomou conta de mim. Se a estava no meio, era porque tinha a ver com a . — O que foi? A está bem? — Levantei em um impulso, mas logo sentei-me na cama, tonto demais para conseguir manter-me de pé. suspirou do outro lado da linha, e eu sabia que não queria ouvir suas próximas palavras. Levantei com calma, dessa vez, e fui em direção à janela. A chuva caía forte, o céu estava negro. E eu só conseguia imaginar que as coisas estavam prestes a piorarem.
— A está indo embora. — Prendi a respiração assim que me dei conta de suas palavras.
— C-como a-assim? — gaguejei, completamente atônito.
— Graças a promoção que ela conseguiu, ofereceram dela trabalhar em outra sede, em outro estado. — disse com calma, sabendo que eu não estava preparado para ouvir isso.
— Mas... Mas e aqui? O escritório daqui? — perguntei, assustado demais.
— Ela preferiu se mudar, . — Larguei o telefone e mal ouvi quando ele caiu no chão. Segui para o banheiro e tomei um banho rápido, pegando a primeira roupa que vi pela frente. Tomei uma garrafa de água, voltei para o banheiro para escovar os dentes e peguei a chave do carro.
Desci apressadamente, com um único destino em mente. só poderia estar na casa da .
A chuva estava dificultando bastante a visão, mas poucos carros estavam nas ruas. Assim que avistei a casa da , estacionei o carro de qualquer jeito e corri para a porta. Toquei a campainha repetidas vezes. Meu coração estava acelerado, minha respiração, falha. atendeu.
— Eu preciso falar com a . — eu disse, em um tom baixo e agoniado.

(Coloque essa música para tocar)

, ela não quer... — começou a dizer, mas eu a interrompi.
— Por favor. — implorei. Eu estava todo molhado, mas nada além de importava. Por favor, que não seja tarde demais.
Após mais de uma semana, lá estava ela.
estava atrás de , e eu não conseguia desviar meu olhar. Eu sentia tanta necessidade de olhar para ela, que correntes elétricas passavam pelo meu corpo a cada novo pedacinho seu que eu conseguia enxergar.
— Pode deixar, . — ela disse e eu recuei um passo, colocando-me ainda mais na chuva. Sua voz estava triste e uma dor lancinante tomou conta do meu coração, porque eu sabia que era a minha culpa.
... — Eu comecei a dizer, mas ela interrompeu-me.
— O que você quer, ? — ela perguntou. Seu controle estava, aos poucos, esvaindo-se.
— A gente precisa conversar. — falei, tentando soar firme.
— E você esperou uma semana pra me procurar porque... — Ela deixou a frase morrer, incentivando-me a explicar o motivo de não ter ido antes. Suspirei, porque a verdade era que eu não sabia. Permaneci em silêncio, apenas a encarando. — Como eu imaginei. Acho melhor você ir embora, , você vai acabar ficando resfriado, está todo molhado.
— Eu não me importo. — eu disse, baixo.
— O quê? Eu não consigo te ouvir com todo esse barulho. Olha, é melhor...
— Eu não me importo. — disse mais forte, a interrompendo. — Eu queria acreditar que não me importava por você estar me deixando, mas a verdade é que eu não me importo com a chuva ou que o mundo acabe. Eu só me importo com você. — riu, triste. Ela fechou os olhos com força, como se não acreditasse em minhas palavras.
— Vai embora, .
— Não. — falei, dando um passo para a frente. recuou dois para trás. Senti uma pontada no meu peito, ela nunca havia fugido de mim. Nunca. — Não se afasta de mim, por favor. — Ela permaneceu em silêncio, mas eu podia ver a fúria em seus olhos. Dei alguns passos para trás, abalado pela intensidade do seu olhar. avançou em minha direção, agora, também, sob a chuva.
— O QUE VOCÊ QUER DE MIM? — ela gritou, dando socos no meu peito. Eu apenas firmei minhas pernas, absorvendo todos os seus golpes. Após algum tempo, a força foi diminuindo, até que ela afastou-se. — Vai embora, eu não quero mais falar com você.
— Por favor, . — Estiquei o braço em sua direção, mas ela afastou-se dele, como se seu corpo se queimasse só por eu estar próximo a ela.
— Por favor? Você acha que tem esse direito? Eu dei dois anos da minha vida para você, , e nunca tive reconhecimento algum. Nunca fui valorizada e reconhecida por quem eu sou. Eu encontrei alguns colegas seus, uma vez. Eles sabiam nada sobre mim. Só o meu nome e olhe lá. Você não faz ideia do quanto aquilo me destruiu, do quão pequena eu me senti. Eu nunca fui nada pra você, não venha me pedir por favor. Só... Só vai embora. — passou os braços ao seu redor, ela já estava toda molhada e o frio estava cortante.
— Me diz pelo que a gente está brigando, porque eu já não sei! Eu sei de mais nada desde que você foi embora, ...
— NÃO ME CHAMA ASSIM! — Ela explodiu novamente.
— O QUE VOCÊ QUER QUE EU FAÇA? QUE EU IMPLORE? EU IMPLORO, EU FAÇO O QUE VOCÊ QUISER! Só... Só não vai embora. — Quando dei por mim, as lágrimas que não tinham caído durante toda essa semana vieram em peso. Mesmo sob a chuva, eu conseguia sentir as lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto. pareceu notar também, seu olhar suavizou um pouco, mas logo sua armadura estava de volta.
— Eu não quero mais nada, . Eu quis, por muito tempo. Mas agora não faz mais diferença. — Suas palavras acertaram-me em cheio. Atordoado, passei as mãos pelo meu rosto, tentando clarear um pouco a mente.
— Eu amo você, . Eu não consigo mais deitar na nossa cama porque parece errado. Eu não quero dormir, porque eu não sei se vou conseguir levantar no dia seguinte. Eu não quero soar dramático, mas... eu não estou mais sabendo como lidar sem você... Sem o seu amor. — encarava-me, mas nada dizia. — Por favor, fala comigo. Diz que me ama também, eu sei que a gente pode fazer isso dar certo... Porque eu prefiro ficar sozinho se eu souber que eu não posso ter você. — Eu avancei em sua direção e parei a sua frente, olhando no fundo dos seus olhos.
... — ela começou, mas não deixei que continuasse.
— Eu daria tudo o que eu ainda tenho só pra provar tudo o que eu disse. Eu sei que eu fui um idiota, mas... eu não posso viver sem você. — Eu não conseguia controlar meu choro, soluços já impediam-me de falar com tanta clareza. — Por favor, você é a única pessoa que me entende, você é a parte de mim que está faltando, assim como eu posso ser tudo o que você precisa. Não vai embora, me dá mais uma chance. — Pedi, mas deu um passo para trás, como se acordasse.
— Esse é o problema, . Eu já te dei várias chances, não tenho mais nada pra te dar. Eu não quero alguém que me complete, mas alguém que me transborde. Tudo o que você fez foi tirar partes de mim. — perdeu toda a sua postura, o choro intenso também tomando conta dela. — Eu nunca tive você, . Eu sempre acreditei que você era meu tudo e que eu nunca seria capaz de encontrar alguém que me amasse, eu não me achava digna. Por isso eu aceitava qualquer migalha que você jogava para mim. Só que eu não quero mais migalhas, eu quero mais, . — Ela respirou fundo, ainda encarando-me. Eu só conseguia chorar. Eu estava em um estado entorpecido, como se estivesse preso em outra dimensão e não tivesse forças para impedir o que estava acontecendo bem diante dos meus olhos.
— Você é tudo para mim, . Me deixa provar isso pra você. — Tentei mais uma vez. — Não diga que...
— Acabou, , é tarde demais. Eu vou começar um novo capítulo da minha vida, eu vou me procurar, me descobrir. Você foi o meu tudo, mas agora não tem mais espaço pra você. — Estendi meu braço novamente em sua direção, mas virou as costas e seguiu de volta para a casa. — Adeus, .
A porta bateu.
Não sei por mais quanto tempo permaneci ali, na chuva.
Quando consegui mover minhas pernas em direção ao carro, um único pensamento estava em minha mente: era tarde demais.



Epílogo

Dois anos depois...

e eu nunca mais nos falamos, ou nos vimos. Entretanto, isso não significa que eu deixei de pensar nela em todo instante nesses últimos anos.
Assim que me dei conta de tudo que havia acontecido, que tudo tinha realmente acabado, eu vendi o apartamento e pedi que entregasse o cheque com o valor obtido. Poucos dias depois, um cheque com a metade do valor voltou para mim. Esse foi o mais perto de “contato” que tivemos. Eu quase nem depositei o cheque porque não queria perder algo que ela tinha tocado tão recentemente. Patético, eu sei.
Eu recomecei minha vida, mudando antigos hábitos e a forma como eu enxergava o mundo. Passei mais tempo com meus amigos, foquei no trabalho e em viver. Aprendi que o que dizem sobre só dar valor quando perde é algo bem real, e doloroso. Os meses seguintes à partida de foram os piores. Eu chorava em nossa cama, os lençóis só foram trocados porque e invadiram meu novo apartamento e colocaram tudo para lavar.
Depois de um ano, eu também deixei a cidade. Eu não conseguia mais encarar os lugares, eu só conseguia enxergar possibilidades que deixei passar, besteiras que não evitei, ou mesmo pedi desculpas. Tudo era sobre ela.
Não precisei pensar duas vezes quando recebi a proposta. Eu não sabia para onde tinha ido, nunca perguntei e pedi que não me falassem. Eu a amava demais, mas sabia que seria fraco e iria atrás dela na primeira oportunidade. Então, a mudança foi providencial, novos ares, novas pessoas, um novo lar.
Eu tinha acabado de arrumar todas as minhas coisas no apartamento que comprei assim que cheguei, mas que só ficara pronto há pouco. Tomei um banho e segui para o supermercado mais perto. Eu aprendi a fazer as compras, eu não deixava mais a toalha molhada sobre a cama... Eu aprendi o valor das pequenas coisas, ainda que tenha sido necessário perder o que eu tinha de mais valioso.
Entrando na seção de higiene, eu parei abruptamente.
Meu coração acelerou e senti minha visão embaçar. Não podia ser real.
Era ela.
Seus cabelos estavam mais compridos, ela estava um pouco mais magra, sua aparência era saudável e parecia que tinha um refletor em cima dela. Foi quando eu me dei conta de que eu não podia ir até lá. Eu não podia fazer isso com ela. merecia mais que isso, muito mais. Nem que isso significasse vender meu novo apartamento e mudar do país. Ela não merecia perder toda a alegria que eu sentia emanando dela.
Mas antes que eu pudesse me virar, ela me viu. Seus olhos arregalaram-se, a vi prender a respiração. Eu apenas assenti e virei-me, empurrando o carrinho para o mais longe o possível. Parei em frente a seção de congelados, eu precisava acalmar minha respiração.
Eu não estava preparado para vê-la tão bem... sem mim.
Não que eu não quisesse vê-la feliz, mas... doía em mim saber que toda aquela tristeza era causada por mim.
Antes que eu pudesse seguir para o caixa e ir embora dali, eu senti sua presença. Eu sabia que ela estava observando-me, por mais bizarro que isso possa soar. Eu apenas... sabia.
Virei-me e a encontrei parada, olhando-me. Encarei-a, aproveitando todos os segundos que eu podia olhar para ela, sanando um pouquinho da necessidade que eu sentia de saber que ela estava bem.
fez menção de falar alguma coisa, mas sua voz não saiu. Respirei fundo, não sabendo se devia sair dali ou não.
— Eu... Eu não sabia, eu juro que não sabia. — eu disse, com a voz baixa.
— Eu sei. — ela falou, mas seus olhos estavam ansiosos, não tristes ou furiosos por me ver ali.
— Você parece... bem. Mais que bem. — Eu encarei qualquer ponto acima dela, como se a qualquer momento um namorado aparecesse e esfregasse na minha cara que ele cuidava dela da maneira certa.
— Eu estou ótima. Pela primeira vez em muito tempo, eu me sinto bem. — Eu sorri, ainda que sentisse meus olhos marejando.
— Como vai o trabalho? — perguntei. não conseguiu conter o espanto. Eu nunca perguntei sobre o seu trabalho, e tinha consciência de que todas as suas acusações foram mais do que certas.
— Tudo bem, também. Eu comando um departamento inteiro. — Ela desviou o olhar. — Soube que também conseguiu uma promoção, só não sabia que era... aqui.
— Eu me mudei faz um ano, mas o apartamento aqui no bairro só ficou pronto agora. — voltou seu olhar para mim. Era estranho conversar com ela ali. Éramos pessoas completamente diferentes, falando sobre um passado que parecia de uma vida passada. — Mundo pequeno esse. — ela disse, mas não como se fosse algo ruim. Eu continuava a olhar por sobre seu ombro, esforçando-me para reprimir o impulso de simplesmente perguntar.
— Você está esperando alguém? Não quero te atrapalhar...
— Não, não. Eu estou sozinho. — eu afirmei, olhando fundo em seus olhos. Eu até tentei sair com algumas mulheres, mas chegou um ponto que eu apenas desisti e aceitei que tinha perdido minha chance de amar e ser amado de verdade. — Eu... Eu só estava... olhando. — disse o óbvio, quase dando-me um soco por falar tamanha besteira. Um sorriso tímido apareceu nos lábios dela, e isso aqueceu meu coração de uma maneira que eu nunca mais voltaria a sentir.
— Não tem ninguém, não precisa ficar esperando. — Meu corpo relaxou tão visivelmente, que o sorriso nos lábios de aumentou. Foi quando eu tive a ideia. Eu não tinha mais nada a perder.
Andei em sua direção. apenas encarava-me, não sabendo o que esperar.
— Oi. Eu sou o . Acabei de me mudar para a vizinhança. — Estendi meu braço em sua direção. encarou minha mão. Era preciso toda a minha concentração para que o tremor não ficasse tão evidente. Ela olhava-me com expectativa, mas um certo receio ainda permanecia em seu olhar. Mantive minha posição por mais algum tempo. Quando estava prestes a desistir e pedir desculpas, eu senti sua mão na minha. Soltei a respiração, que eu não sabia que estava prendendo, quando choques percorreram todo o meu corpo.
— Oi, meu nome é . Eu moro aqui perto também. Você vai adorar morar aqui! — ela disse, sorrindo para mim. Permiti-me sorrir também, segurando-me para não correr em sua direção e abraçá-la e beijá-la por ter me perdoado e dado-me mais essa chance.
Eu a amava. E nunca mais seria aquele idiota egocêntrico que não sabia dar valor a cada detalhe maravilhoso dela.
— Tenho certeza de que sim.
Quando deixamos o supermercado, um único pensamento passava pela minha mente: eu não poderia mais viver sem ela.

“Ela o perdeu. Mas encontrou a si mesma e, de alguma forma, isso foi tudo.” — Taylor Swift


Fim.



Nota da autora: Oi, pessoas! Como estão? ^^
Essa short me deu certo trabalho porque escrever algo tão sofrido assim me dói o coração! Hahahahaha
Além da pressão de ser uma das minhas músicas preferidas dos Jonas Brothers (vulgo minha banda preferida que eu ainda não sei se perdoei por ter acabado!)
Espero do fundo do meu coração que gostem, a fiz com muito carinho.

Bom, é isso. Beijos e até a próxima!
Larys



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