Capítulo Único
29 dias. Nenhum telefonema, nenhum encontro, nenhuma notícia... Nada. Absolutamente nada. Era como se ele tivesse desaparecido do mundo, o difícil é saber que foi apenas do meu mundo. Perdi as contas de quantas vezes parei nesta mesma posição sentada na varanda do meu apartamento. Olhar para o movimento tranquilo nas ruas tinha se tornado meu programa favorito, ou apenas uma forma para tentar não pensar nele. Suspiros e lágrimas tinham se tornado meus melhores companheiros; a lembrança ainda não me decidi se é a mocinha ou a vilã. Pensei que a raiva me ajudaria a superar, mas eu sinto tanta falta dele que ela se tornou insignificante.
Encarei o céu estrelado, esperando que eu estivesse apenas dentro de um pesadelo e que a qualquer momento acordasse e não visse minha cama vazia. Suspirei novamente e resolvi dar uma volta. Talvez uma caminhada limpasse minha mente e me ajudasse a passar por mais esse dia. Peguei um casaco qualquer e saí sem rumo. Caminhar sempre foi minha maneira de me livrar do estresse do dia, a forma que meu corpo encontrava para relaxar e me permitir ter uma noite de sono. Um sorriso triste tomou conta do meu rosto com a memória que tomou conta de mim.
Flashback On
- Sabe o quão frustrante é tentar te fazer uma surpresa? Preciso ter uma conversinha com o seu lado que adora fazer caminhadas à noite. – apareceu, do nada, caminhando ao meu lado. Ri da sua cara fechada.
- Precisava limpar a mente. – disse apenas e continuei minha caminhada. Ele me acompanhou por um tempo, mas permaneceu em silêncio. Olhei para cima tentando conter as lágrimas que queriam cair, não consegui ser forte o bastante para segurá-las.
- Hey, vem cá. – me pegou pela mão e nos colocou dentro de um pequeno shopping do bairro. Tive quase que correr para acompanhar seus passos apressados. Quando nos colocou dentro do banheiro e trancou a porta, seus braços logo já estavam ao meu redor e meu rosto encaixado em seu pescoço. Ele me abraçou forte e ficou distribuindo beijos pelo meu cabelo. Após minutos incontáveis, me senti um pouco melhor e decidi que sua camisa já estava molhada o suficiente.
- Me descul...
- Nem ouse me pedir desculpas. – ele logo me interrompeu, limpando as lágrimas do meu rosto. – Você sabe que ele vai ficar bem, certo? Eu já liguei pra sua mãe, o médico já passou lá e vai liberá-lo logo. Ele só precisa ficar mais um pouco em observação porque acabou batendo a cabeça quando bateu com a moto.
- Eu sei, mas... Não sei o que faria se alguma coisa acontecesse ao meu irmão, . – fechei os olhos com força, lembrando da notícia que minha mãe me deu mais cedo.
- Já passou, ele está fora de perigo. – ele deu um beijo na minha testa. Respirei fundo, passando meus braços pela sua cintura.
- Não sei o que faria sem você. – disse com o rosto em seu peito e o senti dar uma leve risada.
- Nem eu sei, sou legal demais pra você conseguir viver sem!
- HA-HA. Nossa, tô morrendo de rir. – disse cerrando os olhos, o que só o fez rir mais. Ele me deu um breve beijo e abriu a porta do banheiro.
- Vem, vamos ver o que esse shopping tem a nos oferecer. – me puxou pela mão e seguimos andando sem direção.
- Sério, olha a calça daquela mulher! – arregalou os olhos e apontou sem discrição alguma para uma moça não tão longe da gente.
- , para de apontar! – Falei tentando conter os risos.
- Mas, , olha bem! O que é essa calça rosa choque com a blusa laranja? – ele falava realmente assustado!
- , para de apontar pra mulher! – disse novamente e ele se soltou na cadeira, ainda inconformado.
- Se você um dia sair com uma roupa dessas na rua, eu juro que tá tudo acabado! A quantidade de homens que irá olhar pra você não fará bem pra minha sanidade! – não consegui segurar a gargalhada, fazendo algumas pessoas ao nosso redor nos olharem, nem todos de uma forma legal.
- Até parece. – falei limpando as lágrimas do meu rosto.
- Meu Deus! Olha a outra! – ele apontou para outra mulher, essa com um macacão com estampa de onça e um salto fino de 15 cm. – , acho que a gente acordou no planeta errado! O que deu nessa gente?
- , você tá pior que mulher! Sério, vou começar a duvidar da sua masculinidade. – disse ainda rindo e ele apenas me fez sorrir mais quando fechou a cara para mim.
Ele levantou da cadeira e veio até mim. Estendeu sua mão em minha direção e eu a peguei, me perguntando o que ele pretendia fazer. Fomos na direção de um outro banheiro – o que ele tem com banheiros? -, assim que trancou a porta atrás de nós, não tive tempo de assimilar o que aconteceu, apenas senti minhas costas encostarem na parede e meu corpo ser prensado pelo de . Sua boca logo procurou a minha, fazendo ainda mais pressão sobre mim. Uma de suas mãos desceu para a minha cintura, nos aproximando ainda mais.
Quando a falta de ar ficou insuportável, ele parou o beijo e desceu sua boca para o meu pescoço. Sua mão já estava embaixo da minha blusa, fazendo um carinho que me fez arrepiar toda. Subiu seus beijos pelo meu pescoço, indo em direção ao meu rosto. Respirei fundo quando senti sua língua tocar o lóbulo da minha orelha.
- Ainda está duvidando da minha masculinidade, ? – Falou com a voz um pouco rouca no meu ouvido.
- Ta...Talvez. – foi tudo o que consegui dizer, ele apenas aumentou a pressão sobre meu corpo. Seus lábios voltaram para os meus e senti ainda mais urgência em seus toques.
- Uhm, acho que preciso me esforçar um pouquinho mais para esclarecer tudo então. – disse com um sorriso sacana no rosto, abrindo a porta e praticamente nos arrastando até meu apartamento.
Flashback Off
Tirei meu casaco quando passei pelas portas do meu apartamento. Acho que a caminhada da noite não vai ter resultado algum. Suspirei pesadamente enquanto caminhava para o meu quarto. Duas da manhã. Ótimo. Mais uma noite perdida. Me perguntava quando a exaustão tomaria conta de mim e me permitiria descansar, mesmo que por algumas poucas horas.
Acordei no dia seguinte como se tivesse sido atropelada por um caminhão. Levantei e segui em direção ao banheiro. Enquanto fazia minha higiene matinal, pude ouvir a secretária eletrônica pegando um recado, a essa hora da manhã não podia ser coisa boa.
“- Oi, . Aqui é o Brad, estou ligando pra confirmar sua presença na visita que faremos ao hospital hoje. As crianças estão muito animadas para te ouvir cantando novamente, já faz algum tempo desde a última vez. Bom, é no mesmo horário de sempre, espero te encontrar lá.”
Apoiei minhas mãos na pia e encarei meu reflexo no espelho. Era incrível como ele não desistia. Desde que e eu... Balancei a cabeça e tomei minha decisão: chega de me esconder. A quem eu queria enganar? Eu também sentia falta daquelas crianças e não deixaria que algo que nós... Eu adorava fazer se perdesse.
Saí do banheiro e peguei meu celular, logo ligando para .
- Oi, ! Como está? – minha amiga atendeu já bem humorada.
- Oi, . Tô ligando pra dizer que vou visitar o hospital infantil hoje. – disse sem rodeios.
- Você está falando sério? Nossa, , elas irão ficar tão felizes em te rever!
- ... Ele...
- Mais ou menos. Dá pra contar nos dedos as últimas vezes que ele foi, foram poucas desde que vocês...
- É, eu imagino. Enfim, te vejo lá? – a interrompi antes que ouvisse algo que meu coração ainda se recusa a aceitar.
- Claro! e eu estaremos lá te esperando! – pude ouvir uma alegria genuína na voz da minha amiga.
- Certo, então. Até mais tarde. – desliguei o telefone e decidi dar uma ajeitada na casa. Era sábado, já tinha finalizado todas as minhas tarefas do trabalho e eu precisava ocupar minha mente, não queria ficar pensando que ele poderia estar lá.
O último encontro não havia sido dos melhores. Encarei a janela de meu apartamento enquanto a lembrança me consumia aos poucos.
Flashback On
abriu a porta do seu carro para mim. Assim que entrei pude sentir a tensão que se instalava dentro do carro. Ele deu a volta e entrou pelo lado do motorista. dirigia em silêncio enquanto minha cabeça fervilhava com tantas emoções. Como ele queria que eu me controlasse? Como aceitar aquele bando de mulher lutando pela atenção dele? Eu sei que ele é um jornalista respeitável e que só estava fazendo o trabalho dele cobrindo aquele evento estúpido de moda. Mas, droga, por que tantos sorrisos?
Tentei ao máximo conter as lágrimas que se acumulavam em meus olhos, encarando as ruas que passavam em um borrão pela janela do carro. Chegamos a minha rua. parou o carro em frente ao meu prédio e suspirou.
- Já passou, , não fica remoendo isso.
- Você quer subir? – perguntei, ignorando propositalmente sua fala.
- Não sei se é o melhor a se fazer agora. Acho que a gente precisa de um tempo... A sós.
- Se é isso o que você quer. – disse com a voz embargada.
- Nós vamos realmente ter essa discussão de novo?
- Me diz você. – rebati ainda sem encará-lo.
- Mas que droga, ! – bateu no volante. – Você e essa sua insegurança boba. Eu nunca te dei motivos pra isso, ou dei? – apenas suspirei encarando a rua. – Me diz. – Ele insistiu. – Você age como se estivesse abaixo de todo mundo! Como você quer que alguém te ame se você parece não se amar primeiro?
- Elas pareciam nem me notar. – disse em um sussurro, tentando conter a surpresa que suas palavras causaram em mim. bufou, não aguentando a cena que se repetia.
- Estou cansado disso. Todo evento é assim. – Eu o olhei de lado, o vendo encarar o teto do carro. Olhei de relance para o painel. Duas da manhã. – Eu não posso fazer mais nada. Eu já fiz tudo que estava ao meu alcance, eu tentei de todas as formas te fazer enxergar o quão incrível você é, mas você...
- Onde você tá querendo chegar? – perguntei tão baixo que duvidei se ele conseguiu me ouvir. Ele suspirou e me olhou.
- Se você não consegue aceitar essa parte da minha vida, acho que é melhor... – ele não conseguiu terminar. Eu o encarei, uma lágrima teimosa caía por um dos meus olhos. A sequei rapidamente e abri a porta do carro, saindo correndo em direção ao meu prédio.
Fiquei esperando que a outra porta batesse. Fiquei esperando que descesse do carro e me dissesse que eu tinha entendido errado. Fiquei esperando que ele viesse atrás de mim, mas ele não veio.
Flashback Off
Fui arrancada de minhas lembranças com uma batida à porta.
- É William, o porteiro. – o alegre velhinho disse. Me apressei para atendê-lo.
- Oi, Will! – tentei dizer o mais alegre que pude. – Correspondência para mim?
- Sim, sua revista semanal chegou. – forcei um sorriso, tentando esconder a dor que atingiu meu peito.
- Obrigada. – ele se despediu e seguiu em direção a próxima porta. Olhei para a capa da revista e vi o nome dele ali. Ele conseguiu a matéria da capa. Um sorriso triste tomou conta do meu rosto, era a primeira coisa que lia sobre ele em tanto tempo. Não abri as últimas edições, com medo de perceber que a vida dele seguiu tão facilmente sem mim. Larguei a revista sobre a mesa de centro e continuei minhas tarefas domésticas. Uma parte de mim ficava feliz por vê-lo conquistando seu espaço cada vez mais, mas a outra parte não queria enxergar que ele seguiu em frente, a parte egoísta de mim.
~*~
Às 15h eu estava na porta do hospital, carregando meu violão comigo. Respirei fundo ao encarar aquela fachada. Segui meu caminho em direção à portaria, onde um grupo de jovens já se encontrava para dar início às visitas.
- ! Que bom que você veio! – veio correndo em minha direção, praticamente dando pulinhos.
- Disse que viria, certo? – sorri, acho que foi meu primeiro sorriso sincero em muito tempo. – Vamos? – forcei meus olhos a olharem apenas para a minha amiga na minha frente.
Os grupos foram divididos e seguimos para as respectivas alas. , e eu ficamos no mesmo grupo. Não quis olhar para os lados, com medo que meus olhos o encontrassem ali. Não sabia se ele viria, e também não queria descobrir. Seguimos para o primeiro quarto, assim que entramos, pude sentir aquela sensação boa se apossar de mim.
Brad seguiu a nossa frente e parou com um grupo de crianças.
- Olha só quem apareceu hoje! – ele disse e pude ouvir os gritinhos daqueles meninos e meninas ao nosso redor.
- Desculpa por ter sumido, galerinha. – disse me abaixando e os abraçando.
- Tia , tia ! Você voltou pra gente! – Alana correu em minha direção, pulando em meus braços.
- Voltei, estrelinha, como você está? – perguntei, com um sorriso largo nos lábios.
- Eu estou ótima! Ainda melhor agora! Sabia que você viria! O tio esteve aqui mais cedo, ele não parecia tão bem, mas logo se animou com a gente! Por que vocês não vieram juntos? – desviei meu olhar rapidamente de Alana e suspirei. A coloquei no chão e peguei meu violão.
- É um pouquinho complicado, estrelinha. Qual música quer ouvir hoje? Vamos ver se estou atualizada o suficiente! – forcei um sorriso e me dirigi para o centro da roda que as crianças tinham formado. Alana pareceu perder o interesse e se misturou as outras crianças, também fazendo seu pedido de música.
~*~
- Se sentindo melhor? – parou ao meu lado enquanto fazíamos um lanche após a visita.
- Sim, não sei como consegui ficar tanto tempo longe. – disse enquanto remexia em meu copo sobre a mesa.
- Vocês precisam conversar, sabia? Os dois ficam mal desse jeito, mas nenhum dá o braço a torcer. – suspirei.
- A culpa é toda minha, . Eu desliguei o telefone quando ele tentou se aproximar, mas eu estava tão machucada. As palavras dele doeram muito. Só que hoje eu nem lembro direito sobre o que exatamente estávamos brigando, foram tantas discussões sem sentido, tanta energia gasta com coisa idiota. – apoiei minha cabeça sobre a mesa. – Eu daria tudo pra voltar no tempo, , tudo, mas ele provavelmente acha que eu o odeio agora. – ela sentou ao meu lado e me abraçou.
- No final vai dar tudo certo, . Vocês se amam e irão resolver isso.
- Já faz um mês, . Ele, simplesmente, seguiu em frente. E eu tô feliz por ele, de verdade. Vi que conseguiu uma matéria de capa, ele tá sendo reconhecido pelo brilhante trabalho que ele faz, não poderia estar mais orgulhosa. – sorri, mesmo que triste, ao final.
- Você realmente mudou. – ela disse apenas e se levantou para sentar ao lado de , que chegou à nossa mesa.
- As crianças não paravam de falar que a tia tinha voltado. – falou assim que se sentou. Nem tive tempo para processar o que disse. – Nem conseguiram se conter para o show de mágica. Você é uma sem graça. – ele disse me jogando um biscoitinho que tinha sobre a mesa.
- Sou maravilhosa, o que posso fazer? – disse com um falso ar de superioridade. Nós rimos, mas esse riso cessou quando o sino da porta soou. Meus olhos logo foram atraídos feito um ímã em sua direção. Ele estava tão lindo como eu me lembrava, mas seu olhar era triste. Tive que conter o desejo de levantar correndo e ir em sua direção para fazer o possível e o impossível para que aquele olhar sumisse.
- , respira. – disse baixinho. Meus olhos não conseguiam se desviar dele, nem os dele de mim, como pude notar alguns segundos depois. Ele seguia em nossa direção, afinal, ainda era seu melhor amigo.
- Oi. – ele disse baixinho, ainda sem desviar seu olhar do meu. Abri minha boca, mas nada conseguiu sair.
- Hey, cara, achei que já tivesse ido embora. – se adiantou em dizer, levantando e o cumprimentando. Abaixei meus olhos, encarando minhas mãos em meu colo.
- Senta com a gente, . – disse e rapidamente meus olhos foram suplicantes de encontro ao seu. Eu não sabia o que fazer, apenas respirei fundo.
- Não sei se...
- É, , senta com a gente. Estávamos falando sobre as crianças. – o interrompi, ainda não sabendo de onde essas palavras saíram. Ele arregalou os olhos, mas sentou junto com a gente, na única cadeira vazia que estava ao meu lado, diga-se de passagem.
Senti-me tonta quando seu perfume invadiu minhas narinas. Toda essa proximidade depois de tanto tempo me atingiu forte demais. Lutei para manter minha cabeça erguida e para participar da conversa que se iniciava. e nos olhavam e puxavam assuntos para nos fazer falar, interagir.
Meu corpo estava presente, mas minha mente divagava em lugares ainda desconhecidos por mim. Lugares que continuaram me assombrando mesmo na segurança do meu apartamento, enquanto estava deitada em minha cama, encarando o teto. Nosso pequeno grupo estava reunido como antigamente, mas havia algo diferente. Eu não era a mesma, eu não me escondia na sombra do , ou da . Eu estava falando por mim, independente do que qualquer um deles fosse pensar. Eu tinha, enfim, encontrado a minha voz.
Minha cabeça já doía de tanto pensar em que momento todas aquelas mudanças tinham ocorrido. Quando eu tinha passado a falar por mim? Quando tinha criado essa confiança no que fazia? Bufei encarando o nada.
- Mas que droga, ! – falei para mim mesma e levantei da cama. Acho que estava na hora da minha caminhada.
O dia ainda estava claro, mas logo, logo a noite cairia, me levando a questionar se conseguiria ter uma noite de descanso hoje. Minhas pernas me levaram novamente para o hospital infantil. Aquelas crianças que me fizeram tão bem durante o dia, com certeza mereciam todo carinho e atenção como retribuição.
- Olha só quem voltou, estrelinha! – entrei no quarto onde Alana ficava, encontrando esta deitada e cheia de fios a sua volta. Meu sorriso logo murchou, mas o forcei a permanecer no rosto. Meus olhos foram preocupados na direção dos seus pais, estes apenas me lançaram um olhar triste, balançando a cabeça negativamente.
- Tia ! – Alana tentou falar da forma mais animada que suas forças permitiam. O que raios tinha acontecido nessas poucas horas que transcorreram?
- Oi, meu amor. – falei baixinho, me aproximando dela e pegando sua mão. – Aproveitou bastante seu dia? – perguntei, sentindo minha voz falhar.
- Sim, um tantão assim ó! – ela disse abrindo os braços até onde os fios deixavam. Ri de sua fala. O que tinha acontecido com a minha estrelinha? Por que esse câncer idiota não a deixava em paz? – Tio ! Você também voltou! – segui seus olhar e pude ver entrando pela porta, trazendo consigo uma almofada em formato de estrela.
- Oi, pequena! – ele disse alegre, mas eu podia sentir seus olhos questionando o que havia acontecido. – Olha só o que eu trouxe pra você! – ele lhe entregou o presente, que fazia menção à forma carinhosa que eu a chamava.
- Muito obrigada, é tão linda! A tia é sua estrelinha também, não é, tio ? – ela disse com a voz fraquinha, sua mãe não conseguiu conter um soluço. Alana abraçou sua estrela e pude sentir os olhos de em mim. Ele sentou-se ao meu lado e segurou minha mão, que estava sobre meu colo. Ele sabia o quanto aquela garotinha tinha importância para mim, e vê-la naquela situação estava destruindo o dia bom que tinha tido.
Ficamos os quatro encarando a pequena, que abraçava sua estrela e aos poucos ia caindo no sono. Seus batimentos estavam ficando mais fracos, eu podia sentir suas forças deixando seu pequeno e frágil corpo. Seu pai apertou o botão que chamava a enfermeira e me puxou dali, me impedindo de continuar naquele quarto e presenciar a cena que eu, definitivamente, não estava preparada para ver. Ele escondeu meu rosto em seu pescoço e me levou para longe dali, para longe daquele hospital. Andamos sem rumo enquanto as lágrimas insistiam em cair pelo meu rosto. Não sei quanto tempo passou. Sei apenas que o celular de tocou e as breves palavras ditas do outro lado apenas o fizeram ficar ainda mais cabisbaixo e me abraçar ainda mais forte. Minha estrelinha tinha ido, enfim, para o céu.
- Por que ela teve que ir, ? Por quê? – perguntei com a voz falha, depois do que pareceram horas desde o acontecido. se permitiu apenas me abraçar mais forte e distribuir beijos pelo meu cabelo. Não sei dizer por quanto tempo ficamos ali. Também não sei como cheguei à minha casa, ou como terminei deitada na minha cama. Só sei que uma mão não deixou a minha até que eu, enfim, caísse em um sono profundo, tendo minha tão necessitada noite de sono, ainda que em situação tão triste.
Acordei na manhã seguinte ainda pior do que na anterior. Notei que o outro lado da minha cama estava bagunçado... ... Ele tinha ficado comigo até que eu caísse no sono.
- Bom dia, . – confirmando minhas suspeitas, entrou em meu quarto com uma bandeja contendo o café-da-manhã. – Conseguiu dormir bem? – apenas assenti, não confiando em minha voz. Uma lágrima teimosa escorreu por meu rosto.
rapidamente largou a bandeja sobre uma mesinha e veio para o meu lado na cama.
- Shii, vai ficar tudo bem. – ele dizia enquanto me abraçava forte e beijava meus cabelos. – Ela está num lugar melhor agora. A quimioterapia estava a fazendo sofrer demais. – ele dizia tentando me consolar. Nada disse, apenas o abracei de volta e me permiti sentir todas aquelas sensações que seu corpo junto ao meu me transmitia. Ele se esticou para pegar a bandeja e colocá-la sobre a cama. – Você precisa comer alguma coisa.
- Não quero. – disse feito uma criança birrenta. – Não estou com fome. – falei tentando melhorar. Ele deu um sorriso triste e colocou o copo com suco sobre meus lábios.
- Beba, vai te fazer sentir melhor. – juro que tentei não pensar que ele estava ali comigo. Eu sei que pode parecer egoísta, mas tê-lo tão próximo tanto tempo depois era mais do que eu podia pedir. Era uma situação complicada, eu sabia que ele também estava sofrendo, mas ainda assim estava ali cuidando de mim.
- Obrigada. – disse simplesmente.
- Fiz nada demais. Há quanto tempo não vai ao supermercado hein? – Ele perguntou com a voz um pouco mais severa.
- Não estou agradecendo pelo café-da-manhã. – ele levou os olhos para a minha janela, não querendo me encarar. Não queria desfazer o clima agradável que estava entre a gente, mas eu não sabia mais lidar com o caminhão de emoções dentro de mim. – Acho que a gente tem algumas coisas para conversar. – acabei dizendo sem pensar.
- Nós dois estamos muito abalados, , acho que não é o momento.
- E quando será? – o questionei com o olhar duro. Ele me olhou intensamente, arqueando uma sobrancelha. Quando estava prestes a me responder, entrou que nem furacão pelo meu quarto, se jogando sobre mim.
- Como você está? me ligou logo cedo e vim o mais rápido que pude.
- Vou ficar bem. – relutante, desviei meu olhar de , que me lançava um olhar que ainda não tinha conseguido decifrar. Ele levantou rápido da cama.
- Acho melhor eu ir. Você vai ao velório? – arregalei meus olhos. estava quase voltando correndo para o meu lado quando me tomou em seus braços. Apenas balancei a cabeça. – Eu posso passar aqui pra irmos juntos, se você quiser.
- Seria ótimo, , de verdade. – forcei seu nome pelos meus lábios. Ele se aproximou de mim e me deu um beijo na testa.
- Eu passo aqui então. – ele se virou e foi em direção à porta. Quando estava quase saindo, virou-se. – ... – ele começou, meio sem saber como continuar. – Promete que... – ele suspirou. - Me liga se não estiver se sentindo bem, ok? – apenas assenti e ele foi embora. me encarou e eu balancei a cabeça.
- Nada aconteceu. Sinto como se ele achasse que eu ainda o odeio ou algo assim. Idiota.
- Trouxe chocolate e o dvd do show da Taylor Swift pra gente assistir. – mudou de assunto.
- Estrelinha também era fã dela. – disse com pesar.
- Ela está em um lugar melhor agora. Sei que isso não diminui sua dor, mas ela não gostaria de te ver triste.
- Eu sei. – joguei as cobertas para longe e segui em direção ao banheiro. – Vamos cantar com a Taylor e falar mal do meu ex. – disse e sorriu.
~*~
O velório foi bonito. cumpriu sua promessa e veio para irmos juntos. Entretanto, ele estava distante. Nosso único contato foi quando o caixão estava sendo enterrado e minhas pernas teriam cedido se não tivesse me segurado. Ele me levou para meu apartamento e tivemos uma despedida extremante embaraçosa.
Uma semana tinha passado e e eu tínhamos trocado apenas uma mensagem. “Você está bem?”, “Estou. E você?”, “Também”. Belo diálogo. Fiquei dedilhando meu violão enquanto pensava qual música tocaria no hospital no dia seguinte. Não seria a mesma coisa sem Alana, mas eu sabia que ela gostaria que eu cantasse, eu só não fazia ideia do que cantar.
Peguei meu caderno de composições e fiquei folheando as páginas. Li canções extremamente melosas e apaixonadas. Escritas para o , é claro. Respirei fundo e encarei o teto do meu quarto. Eu queria tanto que ele estivesse aqui... Queria tanto que eu não tivesse desligado aquele maldito telefone, e sim conversado e resolvido tudo com ele. Tentei segurar as lágrimas que se formaram em meus olhos quando uma ideia me surgiu. Peguei o lápis que ficava preso em meu caderno e as palavras foram sendo escritas no papel. Talvez...
~*~
- E então, ? Preparada pra ver as crianças hoje? – me perguntou. Hoje seria um pouquinho diferente das outras visitas. As crianças foram reunidas em um só local e teriam algumas apresentações em um pequeno palco improvisado em uma ala do hospital. Muitas crianças ali ainda eram muito novas para entender o que era a morte, mas muitas estavam bastante tristes por não verem mais Alana. Minha estrelinha era amada por todos.
- Sim. Você sabe se...
- Sim, ele está com terminando de arrumar as coisas.
- Ótimo. – disse, apenas. me lançou um olhar questionador. – Que foi?
- Me diz você. O que está planejando?
- Eu? Nada ué. Acho melhor ir afinar meu violão. – desconversei e segui para um canto mais afastado.
Eu realmente fui afinar o violão, com isso ainda teria um certo tempo para decidir se faria ou não o que tinha planejado. Era arriscado, a situação não era das melhores... Mas é tão cabeça dura que não me deu outra alternativa. Peguei a estrelinha que tinha dado a Alana e que seus pais tinham entregue a mim. Disse que queriam que eu ficasse com ela. Precisei juntar todas as forças que eu tinha para não chorar naquele momento.
Respirei fundo quando notei Brad vindo em minha direção.
- Oi, ! Vai se apresentar hoje, certo?
- Claro, se puder.
- Mas é óbvio! As crianças irão adorar! Colocamos você para se apresentar logo após o show de mágica dos meninos. Tudo bem pra você?
- Sim, tudo ótimo. – que ironia, me apresentaria logo após do número de e . Pelo menos isso me garantiria sua total atenção. Brad se virou e seguiu para começar as apresentações.
Confesso que quanto mais os minutos passavam, mais meu coração acelerava e minhas mãos suavam. Mas minha decisão estava tomada. Respirei fundo quando vi e saindo do palco. Quando passei por eles, me lançou um sorriso tímido.
- Você está bem pra se apresentar? – ele perguntou, preocupado.
- Estou. Você vai assistir? – pedi.
- Perderia por nada. – sorri em resposta e segui para o palco.
- Oi, galerinha. – disse assim que me sentei em um banco no centro do palco improvisado. Testei o microfone e conectei meu violão. – Essa música... Bom, eu meio que a escrevi ontem. Alana sempre gostava de me ouvir cantando, principalmente trechos de canções que eu mesma escrevia. – uma lágrima teimosa caiu. Evitei levar meu olhar até , porque de alguma forma eu sabia que ele logo saberia o que eu estava prestes a fazer. – Espero que esteja ouvindo, estrelinha, onde quer que esteja.
Coloque essa música para tocar.
It's 2AM in your car
Windows down, you pass my street
The memories start
You say it's in the past
And drive straight ahead
You're thinking that I hate you now
'Cause you still don't know what I never said
I wish you would come back
Wish I never hung up the phone like I did
I wish you knew that
I'll never forget you as long as I live
And I wish you were right here, right now
It's all good
I wish you would
Comecei a cantar nossa história e meu olhar, sem minha permissão, foi parar em . Ele me olhava de volta, seus músculos estavam tensionados e seus olhos não desviavam dos meus.
It's 2AM in my room
Headlights pass the window pane
I think of you
We're a crooked love
In a straight line down
Makes you want to run and hide
Then it makes you turn right back around
I wish you would come back
Wish I never hung up the phone like I did
I wish you knew that
I'll never forget you as long as I live
And I wish you were right here, right now
It's all good
I wish you would
I wish we could go back
And remember what we were fighting for
And I wish you knew that
I miss you too much to be mad anymore
And I wish you were right here, right now
It's all good
I wish you would
I wish, I wish, I
I wish, I wish, I
You always knew how to push my buttons
You give me everything and nothing
This mad, mad love makes you come running
To stand back where you stood
I wish you would
I wish you would, I wish you would
I wish you would, I wish you would
Colocar para fora tudo aquilo que estava entalado por tantos dias fez com que meus ombros cedessem. Foi como se tivesse tirado um enorme peso das minhas costas, tentando transmitir para que nada mais importava, que não existia mais raiva alguma, apenas uma saudade tão sufocante que me enlouqueceria a qualquer momento.
2AM, here we are
See your face
Hear my voice in the dark
We're a crooked love
In a straight line down
Makes you want to run and hide
But it made us turn right back around
I wish you would come back
Wish I never hung up the phone like I did
I wish you knew that
I'll never forget you as long as I live
And I wish you were right here, right now
It's all good
I wish you would
I wish we could go back
And remember what we were fighting for
And I wish you knew that
I miss you too much to be mad anymore
And I wish you were right here, right now
It's all good
I wish you would
You always knew how to push my buttons
You give me everything and nothing
This mad, mad love makes you come running
To stand back where you stood
I wish you would
I wish you would, I wish you would
I wish you would, I wish you would
I wish, I wish, I
I wish, I wish, I wish you would
Terminei de cantar e limpei rapidamente as lágrimas que escorriam pelo meu rosto. Com meus olhos presos ao chão, dei apenas um breve sorriso e deixei o palco, seguindo para qualquer direção que apenas me tirasse dali. Eu sabia que não faria diferença para onde eu fosse porque ele estaria bem atrás de mim. Assim que cheguei a um banco em uma área ao ar livre do hospital, logo pude sentir alguém se sentando ao meu lado. Não precisei levantar meu olhar para saber quem era.
O silêncio estava instalado entre nós, mas eu não seria a primeira a quebrá-lo.
- Eu... – começou. Suspirou pesadamente e apoiou os cotovelos sobre os joelhos. – Eu fui tão duro com você. – ele, enfim, soltou. – Você não faz ideia de quantas vezes eu quis me socar por ter dito tudo aquilo, eu fui um idiota. Me perdoa, , por favor. Você me fez parecer o mocinho da história toda quando, na verdade, eu fui o babaca. – ele riu sem humor algum.
- Ter dito aquilo tudo foi a melhor coisa que você poderia ter feito. – falei sem pensar, mas assim que as palavras saíram da minha boca, eu sabia que elas eram a mais pura verdade. – Acredite, não pensei que fosse te agradecer por ter dito todas aquelas palavras, você não faz ideia das noites que eu passei chorando tentando esquecer cada uma delas. – levantei meu olhar para , que me encarava, seus olhos refletiam a dor dos meus. Suspirei. – Só que... Elas me fizeram encarar a realidade, me fizeram crescer como pessoa e aceitar que você não é demais pra mim, e muito menos que eu sou “de menos” pra você. Cada noite que a gente passava separados eu só ficava imaginando o quão insegura e infantil eu estava sendo agindo daquela forma.
- Para, não fala assim de você, por favor. – ele estava se sentindo extremamente culpado. Eu sorri para ele.
- Não posso dizer que nunca mais vou dar meus ataques de ciúmes, não posso garantir que não vou te perguntar milhões de vezes se determinada roupa está boa, mas agora eu percebi que não é por insegurança, é apenas porque... Eu quero ficar bonita pra você. Porque eu quero ficar bonita pra mim. Porque eu quero me sentir feliz comigo mesma, coisa que eu já estou sentindo, porque você me ensinou isso. – desviei meu olhar do seu e respirei fundo. – Sei que não terminamos da melhor forma, sei que fui ainda mais infantil recusando suas ligações...
- Eu deveria ter tentado mais, mas eu realmente achei que tivesse estragado tudo, que você me odiava e não queria me ver nem pintado de ouro. Você falando essas coisas está me fazendo me sentir ainda pior com isso tudo, ainda mais culpado!
- Não estou falando isso pra tentar aliviar ou piorar qualquer coisa que esteja sentindo. – segurei sua mão. – Estou apenas dizendo a verdade, algo que demorei muito pra concluir, mas que estou imensamente grata por ter me levado a acreditar em mim.
Antes que pudesse dizer mais qualquer coisa, agarrou minha nuca e me puxou de encontro aos seus lábios. O choque inicial foi desfeito assim que toda a saudade foi, enfim, colocada de lado. Passei meus braços sobre seus ombros e sua outra mão veio de encontro a minha cintura.
- Eu amo tanto você, eu não sei se aguentaria outro mês infernal como esse. Eu juro que não demoraria muito mais pra invadir seu apartamento e implorar pra que me perdoasse e que voltasse pra mim. – disse enquanto distribuía beijos por todo o meu rosto e pescoço.
- Você realmente precisou de um mês todo? Mas que droga, ! – falei em tom de brincadeira e ele apenas me agarrou novamente. Quando interrompeu o beijo e colou nossas testas, apenas um olhar foi necessário para que levantássemos dali e seguíssemos para o meu apartamento, que era o mais próximo dali.
Nós praticamente corríamos pelas ruas, quanto mais andávamos era como se o prédio ficasse ainda mais distante. Quando coloquei a chave na porta, logo nos colocou para dentro, trancando a porta, colocando meu violão sobre o sofá e me pegando em seus braços, seguindo em direção ao meu quarto.
Nossas peças de roupas foram sendo lançadas em qualquer direção, a necessidade que tínhamos de nos unir, de tocar pele com pele era absurda. Quando nada mais estava em nosso caminho, olhou fundo em meus olhos e iniciou um beijo calmo, porém intenso. Nele, toda a necessidade e o amor que sentíamos estava sendo transmitido. Quando nos tornamos apenas um, nossos gemidos e emoções turbulentas foram dando lugar ao prazer que nos privamos por tanto tempo. Nossas mãos não sabiam onde ficar, nossas bocas não sabiam onde tocar primeiro... , enfim, uniu nossas mãos ao lado de minha cabeça sobre a cama. Olhou fundo em meus olhos quando atingimos nosso ápice, sentindo todo o nosso amor e saudade fluírem entre nós.
Ele saiu de cima de mim e me puxou para seus braços assim que se deitou ao meu lado. Coloquei minha cabeça sobre seu peito e tentava acalmar minha respiração enquanto ouvia seu coração bater acelerado. Nada falamos, porque palavras não seriam capazes de expressar cada toque e carinho que trocávamos.
Quando acordei horas depois, senti um carinho em meu cabelo e lábios em minha testa. Não tinha sido um sonho, afinal. Me aconcheguei ainda mais a , sorrindo por tê-lo novamente comigo.
- Eu te amo tanto, tanto, . – o senti suspirar e me apertar ainda mais a si.
- Eu também te amo, . – beijei seu peito e logo o senti sobre mim, começando a distribuir beijos em todos os lugares. Rimos feito adolescentes apaixonados. Ok, adolescentes não, mas apaixonados, com certeza. – Para, para! Tá fazendo cosquinha, ! – suas mãos começaram a passear pelo meu corpo e os toques antes inocentes, agora demonstravam segundas, terceiras, quartas... infinitas intenções! – De novo? – perguntei, risonha.
- Até o dia raiar!
- Olha que eu vou cobrar.
Dois meses depois...
- Como estou? – perguntei a enquanto alisava meu vestido.
- Maravilhosa. – seus olhos brilhavam enquanto percorriam todo o meu corpo. – Espero do fundo do meu coração que ele seja bem fácil de tirar. – piscou para mim enquanto mantinha um sorriso sacana no rosto. Aproximei-me dele, passando meus braços por seus ombros e levando meus lábios até seu ouvido.
- Isso você só poderá descobrir mais tarde. – disse com uma tentativa de voz sedutora, que acho que deu certo quando senti suas mãos apertarem minha cintura, e o soltei, seguindo em direção a porta. – Vamos, ou iremos nos atrasar! – balançou a cabeça e me seguiu.
- Isso é maldade. – disse fazendo bico enquanto fechava a porta atrás de nós.
Seguimos rindo em direção a um evento que cobriria para a revista a qual trabalhava. Tirei o dia de folga no escritório para poder me preparar para esse dia. Era a primeira festa que íamos desde que reatamos.
O caminho foi tranquilo, ríamos e cantávamos as músicas que tocavam no rádio. Quando estacionou em frente ao local, desceu do carro e abriu a porta para mim. Assim que desci, me prensou contra o carro e olhou bem no fundo dos meus olhos.
- Você está tão linda que eu estou pensando seriamente em largar tudo isso e voltar para o apartamento, eu posso ouvir a cama nos chamando. – ele beijou meu pescoço. Ri de sua atitude, mas sabia exatamente onde ele queria chegar.
- Não precisa se preocupar, acredite em mim. – disse e ele me apertou.
- Da última vez isso não terminou bem.
- Da última vez eu era outra pessoa, vamos logo que eu quero dançar a noite inteira! – o puxei pela mão e seguimos para o salão.
Assim que entramos, várias pessoas já vieram em sua direção, inclusive aquelas modelos altas, magras e lindas, que me lançaram um olhar nada legal. Sorri largamente e me aproximei ainda mais de , sussurrando em seu ouvido.
- Nem acredito que toda essa gostosura é apenas para mim. – disse e o beijei brevemente em seu pescoço. Vi o local arrepiar e comemorei internamente. As modelos se aproximaram e eu não saí do lado do . Ele estava feliz me apresentando para todo mundo e fiz meu melhor para manter uma conversa agradável com todos.
Quando precisou me deixar para percorrer o salão e fazer suas anotações, segui na direção da pista de dança juntamente com uma das namoradas de um dos amigos de , que o acompanhou. Nós ríamos e dançávamos. Eu podia sentir vários olhares sobre mim, mas eu nem estava ligando. Eu estava me sentindo linda, estava me sentindo bem e eu confiava em . Confiava no que ele sentia por mim e sabia que não importava o quão belas aquelas modelos fossem, ele me amava.
Senti braços ao redor da minha cintura quando uma música mais lenta começou a tocar. Os arrepios causados por seu toque logo entregaram quem era. colou nossos corpos, beijando-me como se apenas nós dois existíssemos ali.
- Uhm, alguém estava com saudade. – brinquei quando nossos lábios se separaram. não estava com a cara muito boa. – O que foi? – perguntei, alarmada.
- Connor não parava de ficar tirando fotos suas, ele é um dos fotógrafos novos e achou que estava aqui como uma das modelos, e não como minha namorada. – ri de seu tom possessivo.
- Depois quero essas fotos, eu realmente adorei esse vestido. – bufou.
- Eu criei um monstro, e nem posso me culpar por isso. – ri alto de seu comentário. – Você está tão linda, mas tão linda. Não tem uma pessoa que passe por você sem realmente parar pra te olhar. – ele bufou novamente.
- Acho que alguém está com ciúmes. – disse em um tom leve, apenas me apertou ainda mais junto a si.
- Não gosto desse bando de marmanjos te encarando. Aposto que estão todos te despindo mentalmente!
- Deixa eles olharem, só você que terá o prazer de fazer isso. – disse enquanto o beijava novamente. riu.
- Acho que está na hora de eu testar se esse vestido é fácil ou não de tirar. O que me diz? – arqueou uma sobrancelha e desceu uma de suas mãos sutilmente até apertar minha bunda.
- Acho uma excelente ideia.
Encarei o céu estrelado, esperando que eu estivesse apenas dentro de um pesadelo e que a qualquer momento acordasse e não visse minha cama vazia. Suspirei novamente e resolvi dar uma volta. Talvez uma caminhada limpasse minha mente e me ajudasse a passar por mais esse dia. Peguei um casaco qualquer e saí sem rumo. Caminhar sempre foi minha maneira de me livrar do estresse do dia, a forma que meu corpo encontrava para relaxar e me permitir ter uma noite de sono. Um sorriso triste tomou conta do meu rosto com a memória que tomou conta de mim.
Flashback On
- Sabe o quão frustrante é tentar te fazer uma surpresa? Preciso ter uma conversinha com o seu lado que adora fazer caminhadas à noite. – apareceu, do nada, caminhando ao meu lado. Ri da sua cara fechada.
- Precisava limpar a mente. – disse apenas e continuei minha caminhada. Ele me acompanhou por um tempo, mas permaneceu em silêncio. Olhei para cima tentando conter as lágrimas que queriam cair, não consegui ser forte o bastante para segurá-las.
- Hey, vem cá. – me pegou pela mão e nos colocou dentro de um pequeno shopping do bairro. Tive quase que correr para acompanhar seus passos apressados. Quando nos colocou dentro do banheiro e trancou a porta, seus braços logo já estavam ao meu redor e meu rosto encaixado em seu pescoço. Ele me abraçou forte e ficou distribuindo beijos pelo meu cabelo. Após minutos incontáveis, me senti um pouco melhor e decidi que sua camisa já estava molhada o suficiente.
- Me descul...
- Nem ouse me pedir desculpas. – ele logo me interrompeu, limpando as lágrimas do meu rosto. – Você sabe que ele vai ficar bem, certo? Eu já liguei pra sua mãe, o médico já passou lá e vai liberá-lo logo. Ele só precisa ficar mais um pouco em observação porque acabou batendo a cabeça quando bateu com a moto.
- Eu sei, mas... Não sei o que faria se alguma coisa acontecesse ao meu irmão, . – fechei os olhos com força, lembrando da notícia que minha mãe me deu mais cedo.
- Já passou, ele está fora de perigo. – ele deu um beijo na minha testa. Respirei fundo, passando meus braços pela sua cintura.
- Não sei o que faria sem você. – disse com o rosto em seu peito e o senti dar uma leve risada.
- Nem eu sei, sou legal demais pra você conseguir viver sem!
- HA-HA. Nossa, tô morrendo de rir. – disse cerrando os olhos, o que só o fez rir mais. Ele me deu um breve beijo e abriu a porta do banheiro.
- Vem, vamos ver o que esse shopping tem a nos oferecer. – me puxou pela mão e seguimos andando sem direção.
- Sério, olha a calça daquela mulher! – arregalou os olhos e apontou sem discrição alguma para uma moça não tão longe da gente.
- , para de apontar! – Falei tentando conter os risos.
- Mas, , olha bem! O que é essa calça rosa choque com a blusa laranja? – ele falava realmente assustado!
- , para de apontar pra mulher! – disse novamente e ele se soltou na cadeira, ainda inconformado.
- Se você um dia sair com uma roupa dessas na rua, eu juro que tá tudo acabado! A quantidade de homens que irá olhar pra você não fará bem pra minha sanidade! – não consegui segurar a gargalhada, fazendo algumas pessoas ao nosso redor nos olharem, nem todos de uma forma legal.
- Até parece. – falei limpando as lágrimas do meu rosto.
- Meu Deus! Olha a outra! – ele apontou para outra mulher, essa com um macacão com estampa de onça e um salto fino de 15 cm. – , acho que a gente acordou no planeta errado! O que deu nessa gente?
- , você tá pior que mulher! Sério, vou começar a duvidar da sua masculinidade. – disse ainda rindo e ele apenas me fez sorrir mais quando fechou a cara para mim.
Ele levantou da cadeira e veio até mim. Estendeu sua mão em minha direção e eu a peguei, me perguntando o que ele pretendia fazer. Fomos na direção de um outro banheiro – o que ele tem com banheiros? -, assim que trancou a porta atrás de nós, não tive tempo de assimilar o que aconteceu, apenas senti minhas costas encostarem na parede e meu corpo ser prensado pelo de . Sua boca logo procurou a minha, fazendo ainda mais pressão sobre mim. Uma de suas mãos desceu para a minha cintura, nos aproximando ainda mais.
Quando a falta de ar ficou insuportável, ele parou o beijo e desceu sua boca para o meu pescoço. Sua mão já estava embaixo da minha blusa, fazendo um carinho que me fez arrepiar toda. Subiu seus beijos pelo meu pescoço, indo em direção ao meu rosto. Respirei fundo quando senti sua língua tocar o lóbulo da minha orelha.
- Ainda está duvidando da minha masculinidade, ? – Falou com a voz um pouco rouca no meu ouvido.
- Ta...Talvez. – foi tudo o que consegui dizer, ele apenas aumentou a pressão sobre meu corpo. Seus lábios voltaram para os meus e senti ainda mais urgência em seus toques.
- Uhm, acho que preciso me esforçar um pouquinho mais para esclarecer tudo então. – disse com um sorriso sacana no rosto, abrindo a porta e praticamente nos arrastando até meu apartamento.
Flashback Off
Tirei meu casaco quando passei pelas portas do meu apartamento. Acho que a caminhada da noite não vai ter resultado algum. Suspirei pesadamente enquanto caminhava para o meu quarto. Duas da manhã. Ótimo. Mais uma noite perdida. Me perguntava quando a exaustão tomaria conta de mim e me permitiria descansar, mesmo que por algumas poucas horas.
Acordei no dia seguinte como se tivesse sido atropelada por um caminhão. Levantei e segui em direção ao banheiro. Enquanto fazia minha higiene matinal, pude ouvir a secretária eletrônica pegando um recado, a essa hora da manhã não podia ser coisa boa.
Apoiei minhas mãos na pia e encarei meu reflexo no espelho. Era incrível como ele não desistia. Desde que e eu... Balancei a cabeça e tomei minha decisão: chega de me esconder. A quem eu queria enganar? Eu também sentia falta daquelas crianças e não deixaria que algo que nós... Eu adorava fazer se perdesse.
Saí do banheiro e peguei meu celular, logo ligando para .
- Oi, ! Como está? – minha amiga atendeu já bem humorada.
- Oi, . Tô ligando pra dizer que vou visitar o hospital infantil hoje. – disse sem rodeios.
- Você está falando sério? Nossa, , elas irão ficar tão felizes em te rever!
- ... Ele...
- Mais ou menos. Dá pra contar nos dedos as últimas vezes que ele foi, foram poucas desde que vocês...
- É, eu imagino. Enfim, te vejo lá? – a interrompi antes que ouvisse algo que meu coração ainda se recusa a aceitar.
- Claro! e eu estaremos lá te esperando! – pude ouvir uma alegria genuína na voz da minha amiga.
- Certo, então. Até mais tarde. – desliguei o telefone e decidi dar uma ajeitada na casa. Era sábado, já tinha finalizado todas as minhas tarefas do trabalho e eu precisava ocupar minha mente, não queria ficar pensando que ele poderia estar lá.
O último encontro não havia sido dos melhores. Encarei a janela de meu apartamento enquanto a lembrança me consumia aos poucos.
Flashback On
abriu a porta do seu carro para mim. Assim que entrei pude sentir a tensão que se instalava dentro do carro. Ele deu a volta e entrou pelo lado do motorista. dirigia em silêncio enquanto minha cabeça fervilhava com tantas emoções. Como ele queria que eu me controlasse? Como aceitar aquele bando de mulher lutando pela atenção dele? Eu sei que ele é um jornalista respeitável e que só estava fazendo o trabalho dele cobrindo aquele evento estúpido de moda. Mas, droga, por que tantos sorrisos?
Tentei ao máximo conter as lágrimas que se acumulavam em meus olhos, encarando as ruas que passavam em um borrão pela janela do carro. Chegamos a minha rua. parou o carro em frente ao meu prédio e suspirou.
- Já passou, , não fica remoendo isso.
- Você quer subir? – perguntei, ignorando propositalmente sua fala.
- Não sei se é o melhor a se fazer agora. Acho que a gente precisa de um tempo... A sós.
- Se é isso o que você quer. – disse com a voz embargada.
- Nós vamos realmente ter essa discussão de novo?
- Me diz você. – rebati ainda sem encará-lo.
- Mas que droga, ! – bateu no volante. – Você e essa sua insegurança boba. Eu nunca te dei motivos pra isso, ou dei? – apenas suspirei encarando a rua. – Me diz. – Ele insistiu. – Você age como se estivesse abaixo de todo mundo! Como você quer que alguém te ame se você parece não se amar primeiro?
- Elas pareciam nem me notar. – disse em um sussurro, tentando conter a surpresa que suas palavras causaram em mim. bufou, não aguentando a cena que se repetia.
- Estou cansado disso. Todo evento é assim. – Eu o olhei de lado, o vendo encarar o teto do carro. Olhei de relance para o painel. Duas da manhã. – Eu não posso fazer mais nada. Eu já fiz tudo que estava ao meu alcance, eu tentei de todas as formas te fazer enxergar o quão incrível você é, mas você...
- Onde você tá querendo chegar? – perguntei tão baixo que duvidei se ele conseguiu me ouvir. Ele suspirou e me olhou.
- Se você não consegue aceitar essa parte da minha vida, acho que é melhor... – ele não conseguiu terminar. Eu o encarei, uma lágrima teimosa caía por um dos meus olhos. A sequei rapidamente e abri a porta do carro, saindo correndo em direção ao meu prédio.
Fiquei esperando que a outra porta batesse. Fiquei esperando que descesse do carro e me dissesse que eu tinha entendido errado. Fiquei esperando que ele viesse atrás de mim, mas ele não veio.
Flashback Off
Fui arrancada de minhas lembranças com uma batida à porta.
- É William, o porteiro. – o alegre velhinho disse. Me apressei para atendê-lo.
- Oi, Will! – tentei dizer o mais alegre que pude. – Correspondência para mim?
- Sim, sua revista semanal chegou. – forcei um sorriso, tentando esconder a dor que atingiu meu peito.
- Obrigada. – ele se despediu e seguiu em direção a próxima porta. Olhei para a capa da revista e vi o nome dele ali. Ele conseguiu a matéria da capa. Um sorriso triste tomou conta do meu rosto, era a primeira coisa que lia sobre ele em tanto tempo. Não abri as últimas edições, com medo de perceber que a vida dele seguiu tão facilmente sem mim. Larguei a revista sobre a mesa de centro e continuei minhas tarefas domésticas. Uma parte de mim ficava feliz por vê-lo conquistando seu espaço cada vez mais, mas a outra parte não queria enxergar que ele seguiu em frente, a parte egoísta de mim.
Às 15h eu estava na porta do hospital, carregando meu violão comigo. Respirei fundo ao encarar aquela fachada. Segui meu caminho em direção à portaria, onde um grupo de jovens já se encontrava para dar início às visitas.
- ! Que bom que você veio! – veio correndo em minha direção, praticamente dando pulinhos.
- Disse que viria, certo? – sorri, acho que foi meu primeiro sorriso sincero em muito tempo. – Vamos? – forcei meus olhos a olharem apenas para a minha amiga na minha frente.
Os grupos foram divididos e seguimos para as respectivas alas. , e eu ficamos no mesmo grupo. Não quis olhar para os lados, com medo que meus olhos o encontrassem ali. Não sabia se ele viria, e também não queria descobrir. Seguimos para o primeiro quarto, assim que entramos, pude sentir aquela sensação boa se apossar de mim.
Brad seguiu a nossa frente e parou com um grupo de crianças.
- Olha só quem apareceu hoje! – ele disse e pude ouvir os gritinhos daqueles meninos e meninas ao nosso redor.
- Desculpa por ter sumido, galerinha. – disse me abaixando e os abraçando.
- Tia , tia ! Você voltou pra gente! – Alana correu em minha direção, pulando em meus braços.
- Voltei, estrelinha, como você está? – perguntei, com um sorriso largo nos lábios.
- Eu estou ótima! Ainda melhor agora! Sabia que você viria! O tio esteve aqui mais cedo, ele não parecia tão bem, mas logo se animou com a gente! Por que vocês não vieram juntos? – desviei meu olhar rapidamente de Alana e suspirei. A coloquei no chão e peguei meu violão.
- É um pouquinho complicado, estrelinha. Qual música quer ouvir hoje? Vamos ver se estou atualizada o suficiente! – forcei um sorriso e me dirigi para o centro da roda que as crianças tinham formado. Alana pareceu perder o interesse e se misturou as outras crianças, também fazendo seu pedido de música.
- Se sentindo melhor? – parou ao meu lado enquanto fazíamos um lanche após a visita.
- Sim, não sei como consegui ficar tanto tempo longe. – disse enquanto remexia em meu copo sobre a mesa.
- Vocês precisam conversar, sabia? Os dois ficam mal desse jeito, mas nenhum dá o braço a torcer. – suspirei.
- A culpa é toda minha, . Eu desliguei o telefone quando ele tentou se aproximar, mas eu estava tão machucada. As palavras dele doeram muito. Só que hoje eu nem lembro direito sobre o que exatamente estávamos brigando, foram tantas discussões sem sentido, tanta energia gasta com coisa idiota. – apoiei minha cabeça sobre a mesa. – Eu daria tudo pra voltar no tempo, , tudo, mas ele provavelmente acha que eu o odeio agora. – ela sentou ao meu lado e me abraçou.
- No final vai dar tudo certo, . Vocês se amam e irão resolver isso.
- Já faz um mês, . Ele, simplesmente, seguiu em frente. E eu tô feliz por ele, de verdade. Vi que conseguiu uma matéria de capa, ele tá sendo reconhecido pelo brilhante trabalho que ele faz, não poderia estar mais orgulhosa. – sorri, mesmo que triste, ao final.
- Você realmente mudou. – ela disse apenas e se levantou para sentar ao lado de , que chegou à nossa mesa.
- As crianças não paravam de falar que a tia tinha voltado. – falou assim que se sentou. Nem tive tempo para processar o que disse. – Nem conseguiram se conter para o show de mágica. Você é uma sem graça. – ele disse me jogando um biscoitinho que tinha sobre a mesa.
- Sou maravilhosa, o que posso fazer? – disse com um falso ar de superioridade. Nós rimos, mas esse riso cessou quando o sino da porta soou. Meus olhos logo foram atraídos feito um ímã em sua direção. Ele estava tão lindo como eu me lembrava, mas seu olhar era triste. Tive que conter o desejo de levantar correndo e ir em sua direção para fazer o possível e o impossível para que aquele olhar sumisse.
- , respira. – disse baixinho. Meus olhos não conseguiam se desviar dele, nem os dele de mim, como pude notar alguns segundos depois. Ele seguia em nossa direção, afinal, ainda era seu melhor amigo.
- Oi. – ele disse baixinho, ainda sem desviar seu olhar do meu. Abri minha boca, mas nada conseguiu sair.
- Hey, cara, achei que já tivesse ido embora. – se adiantou em dizer, levantando e o cumprimentando. Abaixei meus olhos, encarando minhas mãos em meu colo.
- Senta com a gente, . – disse e rapidamente meus olhos foram suplicantes de encontro ao seu. Eu não sabia o que fazer, apenas respirei fundo.
- Não sei se...
- É, , senta com a gente. Estávamos falando sobre as crianças. – o interrompi, ainda não sabendo de onde essas palavras saíram. Ele arregalou os olhos, mas sentou junto com a gente, na única cadeira vazia que estava ao meu lado, diga-se de passagem.
Senti-me tonta quando seu perfume invadiu minhas narinas. Toda essa proximidade depois de tanto tempo me atingiu forte demais. Lutei para manter minha cabeça erguida e para participar da conversa que se iniciava. e nos olhavam e puxavam assuntos para nos fazer falar, interagir.
Meu corpo estava presente, mas minha mente divagava em lugares ainda desconhecidos por mim. Lugares que continuaram me assombrando mesmo na segurança do meu apartamento, enquanto estava deitada em minha cama, encarando o teto. Nosso pequeno grupo estava reunido como antigamente, mas havia algo diferente. Eu não era a mesma, eu não me escondia na sombra do , ou da . Eu estava falando por mim, independente do que qualquer um deles fosse pensar. Eu tinha, enfim, encontrado a minha voz.
Minha cabeça já doía de tanto pensar em que momento todas aquelas mudanças tinham ocorrido. Quando eu tinha passado a falar por mim? Quando tinha criado essa confiança no que fazia? Bufei encarando o nada.
- Mas que droga, ! – falei para mim mesma e levantei da cama. Acho que estava na hora da minha caminhada.
O dia ainda estava claro, mas logo, logo a noite cairia, me levando a questionar se conseguiria ter uma noite de descanso hoje. Minhas pernas me levaram novamente para o hospital infantil. Aquelas crianças que me fizeram tão bem durante o dia, com certeza mereciam todo carinho e atenção como retribuição.
- Olha só quem voltou, estrelinha! – entrei no quarto onde Alana ficava, encontrando esta deitada e cheia de fios a sua volta. Meu sorriso logo murchou, mas o forcei a permanecer no rosto. Meus olhos foram preocupados na direção dos seus pais, estes apenas me lançaram um olhar triste, balançando a cabeça negativamente.
- Tia ! – Alana tentou falar da forma mais animada que suas forças permitiam. O que raios tinha acontecido nessas poucas horas que transcorreram?
- Oi, meu amor. – falei baixinho, me aproximando dela e pegando sua mão. – Aproveitou bastante seu dia? – perguntei, sentindo minha voz falhar.
- Sim, um tantão assim ó! – ela disse abrindo os braços até onde os fios deixavam. Ri de sua fala. O que tinha acontecido com a minha estrelinha? Por que esse câncer idiota não a deixava em paz? – Tio ! Você também voltou! – segui seus olhar e pude ver entrando pela porta, trazendo consigo uma almofada em formato de estrela.
- Oi, pequena! – ele disse alegre, mas eu podia sentir seus olhos questionando o que havia acontecido. – Olha só o que eu trouxe pra você! – ele lhe entregou o presente, que fazia menção à forma carinhosa que eu a chamava.
- Muito obrigada, é tão linda! A tia é sua estrelinha também, não é, tio ? – ela disse com a voz fraquinha, sua mãe não conseguiu conter um soluço. Alana abraçou sua estrela e pude sentir os olhos de em mim. Ele sentou-se ao meu lado e segurou minha mão, que estava sobre meu colo. Ele sabia o quanto aquela garotinha tinha importância para mim, e vê-la naquela situação estava destruindo o dia bom que tinha tido.
Ficamos os quatro encarando a pequena, que abraçava sua estrela e aos poucos ia caindo no sono. Seus batimentos estavam ficando mais fracos, eu podia sentir suas forças deixando seu pequeno e frágil corpo. Seu pai apertou o botão que chamava a enfermeira e me puxou dali, me impedindo de continuar naquele quarto e presenciar a cena que eu, definitivamente, não estava preparada para ver. Ele escondeu meu rosto em seu pescoço e me levou para longe dali, para longe daquele hospital. Andamos sem rumo enquanto as lágrimas insistiam em cair pelo meu rosto. Não sei quanto tempo passou. Sei apenas que o celular de tocou e as breves palavras ditas do outro lado apenas o fizeram ficar ainda mais cabisbaixo e me abraçar ainda mais forte. Minha estrelinha tinha ido, enfim, para o céu.
- Por que ela teve que ir, ? Por quê? – perguntei com a voz falha, depois do que pareceram horas desde o acontecido. se permitiu apenas me abraçar mais forte e distribuir beijos pelo meu cabelo. Não sei dizer por quanto tempo ficamos ali. Também não sei como cheguei à minha casa, ou como terminei deitada na minha cama. Só sei que uma mão não deixou a minha até que eu, enfim, caísse em um sono profundo, tendo minha tão necessitada noite de sono, ainda que em situação tão triste.
Acordei na manhã seguinte ainda pior do que na anterior. Notei que o outro lado da minha cama estava bagunçado... ... Ele tinha ficado comigo até que eu caísse no sono.
- Bom dia, . – confirmando minhas suspeitas, entrou em meu quarto com uma bandeja contendo o café-da-manhã. – Conseguiu dormir bem? – apenas assenti, não confiando em minha voz. Uma lágrima teimosa escorreu por meu rosto.
rapidamente largou a bandeja sobre uma mesinha e veio para o meu lado na cama.
- Shii, vai ficar tudo bem. – ele dizia enquanto me abraçava forte e beijava meus cabelos. – Ela está num lugar melhor agora. A quimioterapia estava a fazendo sofrer demais. – ele dizia tentando me consolar. Nada disse, apenas o abracei de volta e me permiti sentir todas aquelas sensações que seu corpo junto ao meu me transmitia. Ele se esticou para pegar a bandeja e colocá-la sobre a cama. – Você precisa comer alguma coisa.
- Não quero. – disse feito uma criança birrenta. – Não estou com fome. – falei tentando melhorar. Ele deu um sorriso triste e colocou o copo com suco sobre meus lábios.
- Beba, vai te fazer sentir melhor. – juro que tentei não pensar que ele estava ali comigo. Eu sei que pode parecer egoísta, mas tê-lo tão próximo tanto tempo depois era mais do que eu podia pedir. Era uma situação complicada, eu sabia que ele também estava sofrendo, mas ainda assim estava ali cuidando de mim.
- Obrigada. – disse simplesmente.
- Fiz nada demais. Há quanto tempo não vai ao supermercado hein? – Ele perguntou com a voz um pouco mais severa.
- Não estou agradecendo pelo café-da-manhã. – ele levou os olhos para a minha janela, não querendo me encarar. Não queria desfazer o clima agradável que estava entre a gente, mas eu não sabia mais lidar com o caminhão de emoções dentro de mim. – Acho que a gente tem algumas coisas para conversar. – acabei dizendo sem pensar.
- Nós dois estamos muito abalados, , acho que não é o momento.
- E quando será? – o questionei com o olhar duro. Ele me olhou intensamente, arqueando uma sobrancelha. Quando estava prestes a me responder, entrou que nem furacão pelo meu quarto, se jogando sobre mim.
- Como você está? me ligou logo cedo e vim o mais rápido que pude.
- Vou ficar bem. – relutante, desviei meu olhar de , que me lançava um olhar que ainda não tinha conseguido decifrar. Ele levantou rápido da cama.
- Acho melhor eu ir. Você vai ao velório? – arregalei meus olhos. estava quase voltando correndo para o meu lado quando me tomou em seus braços. Apenas balancei a cabeça. – Eu posso passar aqui pra irmos juntos, se você quiser.
- Seria ótimo, , de verdade. – forcei seu nome pelos meus lábios. Ele se aproximou de mim e me deu um beijo na testa.
- Eu passo aqui então. – ele se virou e foi em direção à porta. Quando estava quase saindo, virou-se. – ... – ele começou, meio sem saber como continuar. – Promete que... – ele suspirou. - Me liga se não estiver se sentindo bem, ok? – apenas assenti e ele foi embora. me encarou e eu balancei a cabeça.
- Nada aconteceu. Sinto como se ele achasse que eu ainda o odeio ou algo assim. Idiota.
- Trouxe chocolate e o dvd do show da Taylor Swift pra gente assistir. – mudou de assunto.
- Estrelinha também era fã dela. – disse com pesar.
- Ela está em um lugar melhor agora. Sei que isso não diminui sua dor, mas ela não gostaria de te ver triste.
- Eu sei. – joguei as cobertas para longe e segui em direção ao banheiro. – Vamos cantar com a Taylor e falar mal do meu ex. – disse e sorriu.
O velório foi bonito. cumpriu sua promessa e veio para irmos juntos. Entretanto, ele estava distante. Nosso único contato foi quando o caixão estava sendo enterrado e minhas pernas teriam cedido se não tivesse me segurado. Ele me levou para meu apartamento e tivemos uma despedida extremante embaraçosa.
Uma semana tinha passado e e eu tínhamos trocado apenas uma mensagem. “Você está bem?”, “Estou. E você?”, “Também”. Belo diálogo. Fiquei dedilhando meu violão enquanto pensava qual música tocaria no hospital no dia seguinte. Não seria a mesma coisa sem Alana, mas eu sabia que ela gostaria que eu cantasse, eu só não fazia ideia do que cantar.
Peguei meu caderno de composições e fiquei folheando as páginas. Li canções extremamente melosas e apaixonadas. Escritas para o , é claro. Respirei fundo e encarei o teto do meu quarto. Eu queria tanto que ele estivesse aqui... Queria tanto que eu não tivesse desligado aquele maldito telefone, e sim conversado e resolvido tudo com ele. Tentei segurar as lágrimas que se formaram em meus olhos quando uma ideia me surgiu. Peguei o lápis que ficava preso em meu caderno e as palavras foram sendo escritas no papel. Talvez...
- E então, ? Preparada pra ver as crianças hoje? – me perguntou. Hoje seria um pouquinho diferente das outras visitas. As crianças foram reunidas em um só local e teriam algumas apresentações em um pequeno palco improvisado em uma ala do hospital. Muitas crianças ali ainda eram muito novas para entender o que era a morte, mas muitas estavam bastante tristes por não verem mais Alana. Minha estrelinha era amada por todos.
- Sim. Você sabe se...
- Sim, ele está com terminando de arrumar as coisas.
- Ótimo. – disse, apenas. me lançou um olhar questionador. – Que foi?
- Me diz você. O que está planejando?
- Eu? Nada ué. Acho melhor ir afinar meu violão. – desconversei e segui para um canto mais afastado.
Eu realmente fui afinar o violão, com isso ainda teria um certo tempo para decidir se faria ou não o que tinha planejado. Era arriscado, a situação não era das melhores... Mas é tão cabeça dura que não me deu outra alternativa. Peguei a estrelinha que tinha dado a Alana e que seus pais tinham entregue a mim. Disse que queriam que eu ficasse com ela. Precisei juntar todas as forças que eu tinha para não chorar naquele momento.
Respirei fundo quando notei Brad vindo em minha direção.
- Oi, ! Vai se apresentar hoje, certo?
- Claro, se puder.
- Mas é óbvio! As crianças irão adorar! Colocamos você para se apresentar logo após o show de mágica dos meninos. Tudo bem pra você?
- Sim, tudo ótimo. – que ironia, me apresentaria logo após do número de e . Pelo menos isso me garantiria sua total atenção. Brad se virou e seguiu para começar as apresentações.
Confesso que quanto mais os minutos passavam, mais meu coração acelerava e minhas mãos suavam. Mas minha decisão estava tomada. Respirei fundo quando vi e saindo do palco. Quando passei por eles, me lançou um sorriso tímido.
- Você está bem pra se apresentar? – ele perguntou, preocupado.
- Estou. Você vai assistir? – pedi.
- Perderia por nada. – sorri em resposta e segui para o palco.
- Oi, galerinha. – disse assim que me sentei em um banco no centro do palco improvisado. Testei o microfone e conectei meu violão. – Essa música... Bom, eu meio que a escrevi ontem. Alana sempre gostava de me ouvir cantando, principalmente trechos de canções que eu mesma escrevia. – uma lágrima teimosa caiu. Evitei levar meu olhar até , porque de alguma forma eu sabia que ele logo saberia o que eu estava prestes a fazer. – Espero que esteja ouvindo, estrelinha, onde quer que esteja.
Coloque essa música para tocar.
Windows down, you pass my street
The memories start
You say it's in the past
And drive straight ahead
You're thinking that I hate you now
'Cause you still don't know what I never said
I wish you would come back
Wish I never hung up the phone like I did
I wish you knew that
I'll never forget you as long as I live
And I wish you were right here, right now
It's all good
I wish you would
Comecei a cantar nossa história e meu olhar, sem minha permissão, foi parar em . Ele me olhava de volta, seus músculos estavam tensionados e seus olhos não desviavam dos meus.
Headlights pass the window pane
I think of you
We're a crooked love
In a straight line down
Makes you want to run and hide
Then it makes you turn right back around
I wish you would come back
Wish I never hung up the phone like I did
I wish you knew that
I'll never forget you as long as I live
And I wish you were right here, right now
It's all good
I wish you would
I wish we could go back
And remember what we were fighting for
And I wish you knew that
I miss you too much to be mad anymore
And I wish you were right here, right now
It's all good
I wish you would
I wish, I wish, I
I wish, I wish, I
You always knew how to push my buttons
You give me everything and nothing
This mad, mad love makes you come running
To stand back where you stood
I wish you would
I wish you would, I wish you would
I wish you would, I wish you would
Colocar para fora tudo aquilo que estava entalado por tantos dias fez com que meus ombros cedessem. Foi como se tivesse tirado um enorme peso das minhas costas, tentando transmitir para que nada mais importava, que não existia mais raiva alguma, apenas uma saudade tão sufocante que me enlouqueceria a qualquer momento.
See your face
Hear my voice in the dark
We're a crooked love
In a straight line down
Makes you want to run and hide
But it made us turn right back around
I wish you would come back
Wish I never hung up the phone like I did
I wish you knew that
I'll never forget you as long as I live
And I wish you were right here, right now
It's all good
I wish you would
I wish we could go back
And remember what we were fighting for
And I wish you knew that
I miss you too much to be mad anymore
And I wish you were right here, right now
It's all good
I wish you would
You always knew how to push my buttons
You give me everything and nothing
This mad, mad love makes you come running
To stand back where you stood
I wish you would
I wish you would, I wish you would
I wish you would, I wish you would
I wish, I wish, I
I wish, I wish, I wish you would
Terminei de cantar e limpei rapidamente as lágrimas que escorriam pelo meu rosto. Com meus olhos presos ao chão, dei apenas um breve sorriso e deixei o palco, seguindo para qualquer direção que apenas me tirasse dali. Eu sabia que não faria diferença para onde eu fosse porque ele estaria bem atrás de mim. Assim que cheguei a um banco em uma área ao ar livre do hospital, logo pude sentir alguém se sentando ao meu lado. Não precisei levantar meu olhar para saber quem era.
O silêncio estava instalado entre nós, mas eu não seria a primeira a quebrá-lo.
- Eu... – começou. Suspirou pesadamente e apoiou os cotovelos sobre os joelhos. – Eu fui tão duro com você. – ele, enfim, soltou. – Você não faz ideia de quantas vezes eu quis me socar por ter dito tudo aquilo, eu fui um idiota. Me perdoa, , por favor. Você me fez parecer o mocinho da história toda quando, na verdade, eu fui o babaca. – ele riu sem humor algum.
- Ter dito aquilo tudo foi a melhor coisa que você poderia ter feito. – falei sem pensar, mas assim que as palavras saíram da minha boca, eu sabia que elas eram a mais pura verdade. – Acredite, não pensei que fosse te agradecer por ter dito todas aquelas palavras, você não faz ideia das noites que eu passei chorando tentando esquecer cada uma delas. – levantei meu olhar para , que me encarava, seus olhos refletiam a dor dos meus. Suspirei. – Só que... Elas me fizeram encarar a realidade, me fizeram crescer como pessoa e aceitar que você não é demais pra mim, e muito menos que eu sou “de menos” pra você. Cada noite que a gente passava separados eu só ficava imaginando o quão insegura e infantil eu estava sendo agindo daquela forma.
- Para, não fala assim de você, por favor. – ele estava se sentindo extremamente culpado. Eu sorri para ele.
- Não posso dizer que nunca mais vou dar meus ataques de ciúmes, não posso garantir que não vou te perguntar milhões de vezes se determinada roupa está boa, mas agora eu percebi que não é por insegurança, é apenas porque... Eu quero ficar bonita pra você. Porque eu quero ficar bonita pra mim. Porque eu quero me sentir feliz comigo mesma, coisa que eu já estou sentindo, porque você me ensinou isso. – desviei meu olhar do seu e respirei fundo. – Sei que não terminamos da melhor forma, sei que fui ainda mais infantil recusando suas ligações...
- Eu deveria ter tentado mais, mas eu realmente achei que tivesse estragado tudo, que você me odiava e não queria me ver nem pintado de ouro. Você falando essas coisas está me fazendo me sentir ainda pior com isso tudo, ainda mais culpado!
- Não estou falando isso pra tentar aliviar ou piorar qualquer coisa que esteja sentindo. – segurei sua mão. – Estou apenas dizendo a verdade, algo que demorei muito pra concluir, mas que estou imensamente grata por ter me levado a acreditar em mim.
Antes que pudesse dizer mais qualquer coisa, agarrou minha nuca e me puxou de encontro aos seus lábios. O choque inicial foi desfeito assim que toda a saudade foi, enfim, colocada de lado. Passei meus braços sobre seus ombros e sua outra mão veio de encontro a minha cintura.
- Eu amo tanto você, eu não sei se aguentaria outro mês infernal como esse. Eu juro que não demoraria muito mais pra invadir seu apartamento e implorar pra que me perdoasse e que voltasse pra mim. – disse enquanto distribuía beijos por todo o meu rosto e pescoço.
- Você realmente precisou de um mês todo? Mas que droga, ! – falei em tom de brincadeira e ele apenas me agarrou novamente. Quando interrompeu o beijo e colou nossas testas, apenas um olhar foi necessário para que levantássemos dali e seguíssemos para o meu apartamento, que era o mais próximo dali.
Nós praticamente corríamos pelas ruas, quanto mais andávamos era como se o prédio ficasse ainda mais distante. Quando coloquei a chave na porta, logo nos colocou para dentro, trancando a porta, colocando meu violão sobre o sofá e me pegando em seus braços, seguindo em direção ao meu quarto.
Nossas peças de roupas foram sendo lançadas em qualquer direção, a necessidade que tínhamos de nos unir, de tocar pele com pele era absurda. Quando nada mais estava em nosso caminho, olhou fundo em meus olhos e iniciou um beijo calmo, porém intenso. Nele, toda a necessidade e o amor que sentíamos estava sendo transmitido. Quando nos tornamos apenas um, nossos gemidos e emoções turbulentas foram dando lugar ao prazer que nos privamos por tanto tempo. Nossas mãos não sabiam onde ficar, nossas bocas não sabiam onde tocar primeiro... , enfim, uniu nossas mãos ao lado de minha cabeça sobre a cama. Olhou fundo em meus olhos quando atingimos nosso ápice, sentindo todo o nosso amor e saudade fluírem entre nós.
Ele saiu de cima de mim e me puxou para seus braços assim que se deitou ao meu lado. Coloquei minha cabeça sobre seu peito e tentava acalmar minha respiração enquanto ouvia seu coração bater acelerado. Nada falamos, porque palavras não seriam capazes de expressar cada toque e carinho que trocávamos.
Quando acordei horas depois, senti um carinho em meu cabelo e lábios em minha testa. Não tinha sido um sonho, afinal. Me aconcheguei ainda mais a , sorrindo por tê-lo novamente comigo.
- Eu te amo tanto, tanto, . – o senti suspirar e me apertar ainda mais a si.
- Eu também te amo, . – beijei seu peito e logo o senti sobre mim, começando a distribuir beijos em todos os lugares. Rimos feito adolescentes apaixonados. Ok, adolescentes não, mas apaixonados, com certeza. – Para, para! Tá fazendo cosquinha, ! – suas mãos começaram a passear pelo meu corpo e os toques antes inocentes, agora demonstravam segundas, terceiras, quartas... infinitas intenções! – De novo? – perguntei, risonha.
- Até o dia raiar!
- Olha que eu vou cobrar.
Dois meses depois...
- Como estou? – perguntei a enquanto alisava meu vestido.
- Maravilhosa. – seus olhos brilhavam enquanto percorriam todo o meu corpo. – Espero do fundo do meu coração que ele seja bem fácil de tirar. – piscou para mim enquanto mantinha um sorriso sacana no rosto. Aproximei-me dele, passando meus braços por seus ombros e levando meus lábios até seu ouvido.
- Isso você só poderá descobrir mais tarde. – disse com uma tentativa de voz sedutora, que acho que deu certo quando senti suas mãos apertarem minha cintura, e o soltei, seguindo em direção a porta. – Vamos, ou iremos nos atrasar! – balançou a cabeça e me seguiu.
- Isso é maldade. – disse fazendo bico enquanto fechava a porta atrás de nós.
Seguimos rindo em direção a um evento que cobriria para a revista a qual trabalhava. Tirei o dia de folga no escritório para poder me preparar para esse dia. Era a primeira festa que íamos desde que reatamos.
O caminho foi tranquilo, ríamos e cantávamos as músicas que tocavam no rádio. Quando estacionou em frente ao local, desceu do carro e abriu a porta para mim. Assim que desci, me prensou contra o carro e olhou bem no fundo dos meus olhos.
- Você está tão linda que eu estou pensando seriamente em largar tudo isso e voltar para o apartamento, eu posso ouvir a cama nos chamando. – ele beijou meu pescoço. Ri de sua atitude, mas sabia exatamente onde ele queria chegar.
- Não precisa se preocupar, acredite em mim. – disse e ele me apertou.
- Da última vez isso não terminou bem.
- Da última vez eu era outra pessoa, vamos logo que eu quero dançar a noite inteira! – o puxei pela mão e seguimos para o salão.
Assim que entramos, várias pessoas já vieram em sua direção, inclusive aquelas modelos altas, magras e lindas, que me lançaram um olhar nada legal. Sorri largamente e me aproximei ainda mais de , sussurrando em seu ouvido.
- Nem acredito que toda essa gostosura é apenas para mim. – disse e o beijei brevemente em seu pescoço. Vi o local arrepiar e comemorei internamente. As modelos se aproximaram e eu não saí do lado do . Ele estava feliz me apresentando para todo mundo e fiz meu melhor para manter uma conversa agradável com todos.
Quando precisou me deixar para percorrer o salão e fazer suas anotações, segui na direção da pista de dança juntamente com uma das namoradas de um dos amigos de , que o acompanhou. Nós ríamos e dançávamos. Eu podia sentir vários olhares sobre mim, mas eu nem estava ligando. Eu estava me sentindo linda, estava me sentindo bem e eu confiava em . Confiava no que ele sentia por mim e sabia que não importava o quão belas aquelas modelos fossem, ele me amava.
Senti braços ao redor da minha cintura quando uma música mais lenta começou a tocar. Os arrepios causados por seu toque logo entregaram quem era. colou nossos corpos, beijando-me como se apenas nós dois existíssemos ali.
- Uhm, alguém estava com saudade. – brinquei quando nossos lábios se separaram. não estava com a cara muito boa. – O que foi? – perguntei, alarmada.
- Connor não parava de ficar tirando fotos suas, ele é um dos fotógrafos novos e achou que estava aqui como uma das modelos, e não como minha namorada. – ri de seu tom possessivo.
- Depois quero essas fotos, eu realmente adorei esse vestido. – bufou.
- Eu criei um monstro, e nem posso me culpar por isso. – ri alto de seu comentário. – Você está tão linda, mas tão linda. Não tem uma pessoa que passe por você sem realmente parar pra te olhar. – ele bufou novamente.
- Acho que alguém está com ciúmes. – disse em um tom leve, apenas me apertou ainda mais junto a si.
- Não gosto desse bando de marmanjos te encarando. Aposto que estão todos te despindo mentalmente!
- Deixa eles olharem, só você que terá o prazer de fazer isso. – disse enquanto o beijava novamente. riu.
- Acho que está na hora de eu testar se esse vestido é fácil ou não de tirar. O que me diz? – arqueou uma sobrancelha e desceu uma de suas mãos sutilmente até apertar minha bunda.
- Acho uma excelente ideia.
FIM
Nota da autora: Oi, gente! Tudo certinho com vocês? ^^ Essa música foi a minha preferida desde a primeira vez que ouvi o álbum!
Assim que falaram desse Ficstape, não pude não participar! hahahaha
Espero do fundo do meu coração que tenham gostado, tentei fazer o melhor! :)
Críticas, elogios, ou qualquer coisa que queiram falar comigo, venham aqui que eu adoro conversar! hahaha
Beijos e até a próxima! <3
Larys
Outras Fanfics:
- 11. Kiss Me - Ficstape #008 (/ficstape/11kissme.html)
- 08. The Heart Never Lies - Ficstape #011 (/ficstape/08theheartneverlies.html)
- É só você sorrir - Especial Música Brasileira (/ffobs/e/esovocesorrir.html)
- 05. Lightweight - Ficstape #017 (/ficstape/05lightweight.html)
- 11. Never Been Hurt - Ficstape #018 (/ficstape/11neverbeenhurt.html)
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Espero do fundo do meu coração que tenham gostado, tentei fazer o melhor! :)
Críticas, elogios, ou qualquer coisa que queiram falar comigo, venham aqui que eu adoro conversar! hahaha
Beijos e até a próxima! <3
Larys
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- 11. Never Been Hurt - Ficstape #018 (/ficstape/11neverbeenhurt.html)
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