Última atualização: 02/12/2017

Capítulo 1

- E o vencedor da categoria Melhor Solo Novo é...
Respira. Um. Dois. Três.

Véspera de Ano Novo - Seul, 1999

“Once upon a time”


O relógio rosa preso na parede no quarto anunciava que faltava menos de 2 minutos para a meia-noite. Dali era possível ouvir a intensa movimentação que acontecia na sala, com o que parecia ser You! My Beloved, de Kim Yong-Im, como música de fundo. A pomposa mansão da família Kim recebia nomes importantes da alta classe sul-coreana para comemorar o início do novo milênio. Enquanto seu marido, o patriarca Kim, tentava angariar mais investimentos para sua empresa, Yoo Na e suas filhas mais velhas faziam sala pra as visitas, sorrindo discretamente quando necessário e falando sobre coisas triviais, como o tempo, o rosto recém-operado da âncora do jornal das 8hrs e suas resoluções para o ano que viria.
Alheia a todo o “espetáculo” que acontecia ali fora, a filha mais nova do casal Kim, a pequena , se apresentava em um pequeno palco improvisado em seu quarto.

- Obrigada! Obrigada! Obrigada! – A menina acenou sorridente para sua pequena plateia de ursos de pelúcia e bonecos, perfeitamente alinhados em suas cadeiras de plástico – Ah, Senhor Urso, o senhor tem um pedido? – Ela se aproximou do velho urso de pelúcia azul, que estava localizado na primeira fila, ouvindo atentamente sua escolha. - O abecedário do Pororo? Mas essa é uma ótima escolha.

Se posicionando para pegar seu microfone de brinquedo na cabeceira da cama, limpou a garganta, como tanto havia visto suas cantoras favoritas fazerem nos programas musicais da TV, pronta para entoar um dos maiores sucessos do famoso pinguim sul-coreano. Do alto dos recém-completos 6 anos, ela já sabia que não queria ser “a esposa do futuro presidente”, como Sunny, ou “ter uma casa repleta de filhos”, como So Hyun. queria ser cantora e um dia, quem sabe, receber um prêmio por isso.


I. Family Business

Daegu, 2015

“Venha, querida, você sabe que é só voltar para casa e seu abeoji cuidará de tudo para você”.

Kim Dong Sun, mais conhecido por Senhor Kim, ou abeoji, adorava se vangloriar de ter passado de um pobre trabalhador braçal para o cargo de CEO de uma das mais renomadas empresas do ramo alimentício da Ásia. Na frente dos amigos e clientes, era o homem mais gentil e amoroso que o mundo já havia visto. Dentro de casa, se transformava no monstro que agredia e subjugava a esposa e as filhas.
Para Dong Sun, era a vergonha da família. Não sonhava em se casar, ter filhos, queria muito mais do que a vida de aparências que sua mãe vivia. Queria ser reconhecida. Ser ouvida. Conhecer outros países. Inglaterra, Grécia, Brasil. Conscientizar as pessoas, ajudar os necessitados, aprender novas culturas. Seu pai nunca conseguiria entender que sua filha estava para uma Yoon Mirae do que para uma Amélia.
Quando pequena, se não estava envolta com as apresentações musicais improvisadas em seu quarto, vivia imersa nos livros da extensa biblioteca da família. Lia dos clássicos da literatura às charges dos jornais matutinos. Na adolescência, enquanto suas irmãs se preocupavam com os compromissos sociais que tinham que cumprir, passava seus dias enfezando Min Ah, a cozinheira da família, com suas imitações dos personagens que conhecia em suas leituras diárias, causando às mais variadas reações à velha senhora, que gostava de dizer que a menina havia nascido para ser artista. Durante as conversas antes do jantar, queria discutir sobre política, reformas e direitos da mulher, para o pavor do patriarca da família.
“Uma tola”, seu pai costumava dizer, “onde já se viu mulher querer se meter em assunto de homem?”
bateu a velha porta de casa, ouvindo-a ranger em desagrado. Os passos lentos em seu caminho da empresa de seu pai até a pequena edícula que vivia com sua mãe haviam sido propositais, como se quisesse atrasá-la de dar mais aquela notícia à sua mãe.
Como dizer a ela que seu ex-marido tinha razão? Que era mesmo uma fracassada, e que as duas não conseguiriam nada sem a ajuda dele, sem seu poder e influência? Que a Coreia do Sul era o país dos homens, e que o papel das mulheres ali era o da submissão?
Não, ela não havia planejado se ajoelhar na frente de sua mãe enferma e implorar pelo seu perdão. Por não ser a filha que Yoo Na havia sonhado, por não ter sido capaz de tirá-las do inferno em que viviam. E, principalmente, por ter sido o motivo dela ter se sujeitado por tantos anos a um relacionamento abusivo com aquele que se recusava a chamar de appa.
Já se passava um ano desde que as duas haviam fugido da casa de seu pai. Agora ele já estava casado com uma ex-modelo 25 anos mais nova, um troféu para sua coleção, mas ainda se permitia infernizar a vida da ex e de sua filha. Ele fazia questão de usar sua influência para fechar as portas para . Suas economias já estavam acabando e, em pouco tempo, ela não teria mais como se sustentar e ainda cuidar da sua mãe, enferma graças aos abusos de seu pai.
Ela ainda não conseguia acreditar que mesmo após tudo, sua mãe se recusava a denunciá-lo.


II. Resistência

Os passos firmes dos coturnos surrados deixavam uma marca na lama que havia se formado no chão. O rosto molhado de a fazia se questionar se era resultado da forte chuva que caía na região, ou se era seu corpo reagindo à raiva que sentia naquele momento. Ela sabia que não podia deixar se abater, não podia desistir. Havia conseguido, com custo, libertar à mãe e a si mesma das garras do Senhor Kim, e não pretendia voltar para lá.
já estava andando sem rumo há algum tempo, até que se deparou com um velho galpão, onde se lia na entrada, com letras pichadas, “Resistência”. Ao ver uma placa na frente do local, que dizia que ali estavam procurando por funcionários, resolveu entrar para averiguar.
Dentro, parecia funcionar uma espécie de bar, com um pequeno palco em seu centro, e mesas espalhadas ao seu redor. Os tons de preto e púrpura tingiam as paredes, com palavras como “resistência”, “luta” e “equidade” podendo ser facilmente lidas nas pichações. O lugar estava vazio, se não fosse por duas pessoas no mínimo curiosas, que estavam dedicadas a limpar o salão, enquanto cantarolavam o que parecia ser uma música de algum grupo de k-pop.
Receosa, resolveu se aproximar da mais velha, que parecia estar em seus quarenta anos e tinha algumas mechas grossas verdes traçando seu cabelo castanho:

- Com licença. – tocou de leve o ombro da mulher, que se virou pelo contato – Meu nome é e vi a placa de vaga de emprego. Vocês ainda estão precisando de garçonetes?
- Olá, garota! Tudo bem? – Ela respondeu no dialeto de Daegu, estendendo a mão em cumprimento – Meu nome é Ji Hyo, Song Ji Hyo. E essa aqui é a Xiu Lim... – A garota de cabelos negros presos em um rabo de cavalo acenou sorridente – ...a chinesa do Resistência. Infelizmente, a nossa querida Xiu se esqueceu de tirar a placa lá de frente, mesmo eu já tendo pedido umas dezenas de vezes – Ji Hyo rolou os olhos em descontento – A vaga foi preenchida na terça-feira.

Vendo a nítida decepção no rosto de , Ji Hyo resolveu ajudar.

- Então... , né? Menina, será que você não sabe cantar?
- Cantar? – Os olhos de brilharam em afirmação.
- Opa, eu acho que isso é um sim. – Ji Hyo abriu um sorriso – Estamos precisando de uma atração para animar nossos clientes no final de semana. E, se você for boa, quem sabe vira fixa na nossa equipe? Suba no palco e nos mostre o que sabe fazer.
- Fighting! – Xiu Lim gritou, fazendo dar um tímido sorriso em seu caminho até o pequeno palco.

O seu coração havia acelerado só de pensar em cantar novamente. Fazia tanto tempo... será que ela conseguiria? Ou ainda, será que seu cantar seria o suficiente para Ji hyo?
subiu no palco, respirando fundo e segurou firme o pedestal que segurava o microfone. Levantando a cabeça, olhou diretamente nos olhos de sua plateia. Diferente dos ursos de pelúcia da sua infância, essa era uma plateia real. Formada por duas pessoas, mas, ainda sim, uma plateia.

- Vamos ser juradas como naquele programa do YG? – Os olhos da apaixonada por televisão, Xiu Lim, brilharam só de imaginar.
- Sim! – Ji Hyo confirmou – Só que nós somos muito mais legais do que o chato do YG. Vamos lá, , dê o seu melhor.

Limpando a garganta e tentando controlar o nervosismo dentro de si, a garota começou a cantar Home, parceria de Ailee com a rapper Yoon Mirae:

- Hello yojeum eotteoni, jal jinaena bwa...

Pouco a pouco o nervosismo de foi passando e ela conseguiu até rir de sua plateia entusiasmada, que mexia os braços no ritmo da música.

- Haengbokhaetdeon uri durui home. – Terminando a música, a ansiedade que sentia voltou com força total.
- Menina... – Ji Hyo finalmente se pronunciou.

mordeu os lábios de nervoso. Seu canto nunca havia sido avaliado e ela tinha medo da resposta, afinal era isso que ela mais gostava de fazer.

-... que tal se apresentar no Resistência para um bando de velhos tatuados, indies, fumantes e viciados em jogatina?

não conseguia acreditar. Ji Hyo a estava contratando, mesmo?

- Eu adoraria! – abriu um imenso sorriso, ainda não acreditando no que estava acontecendo.
- Então... seja bem-vinda ao Resistência. – A mais velha deu um rápido abraço na mais nova – Aliás, parece que além de cantora, também temos uma rapper. Gostei da sua versatilidade.
- Rapper? – Xiu Lim abriu um imenso sorriso – Parece que você nos será muito útil.


~*~



Já fazia alguns meses que trabalhava no Resistência, fazendo as vezes de cantora e rapper nos finais de semana. Também ajudava a limpar o salão e servir os clientes quando não era sua vez de se apresentar. A garota havia feito ali boas amigas, Xiu Lim estava lhe ensinando algumas palavras em cantonês, e Ji Hyo, que havia sido cantora nos anos 80, a ajudava com a técnica vocal e exercícios de respiração. Ela se apaixonava cada vez mais pela música, assim como se apaixonava pelo Resistência. Aquele havia se tornado o seu segundo lar.
Naquela noite, até sua mãe havia ido ao Resistência ver sua apresentação. Quando cantou uma balada dos anos 90, podia jurar ter visto algumas lágrimas escorrerem do rosto de Yoo Na, mas a mesma prontamente negou, dizendo que a vermelhidão era de uma gripe que ela supostamente havia contraído. A filha fingiu acreditar, enquanto dançava alguma música dos anos 80 que Ji Hyo cantava animadamente no palco.
havia conquistado alguns fãs ali, que lhe davam boas gorjetas que lhe ajudavam a se manter em casa. Um desses fãs era Tae Hyun, So Tae Hyun, um homem de setenta anos, tatuado e com cara de mal, mas que no fundo tinha um coração gigante. Tae Hyun se aproximou da bancada onde assistia o show de Ji Hyo, juntamente com uma senhora de cabelos coloridos e piercing na sobrancelha. O casal à sua frente era no mínimo curioso.
A garota deixou sua mãe com Xiu Lim, com quem ela conversava animadamente sobre um ator chinês que parecia estar fazendo uma ponta em um drama coreana e as duas amavam, e foi cumprimentá-lo.

- Ei, harabeoji. – colocou a mão na cintura, fazendo bico – O senhor não veio hoje ver minha apresentação. Logo hoje que cantei um dos seus trots favoritos.

Tae Hyun abriu um sorriso para a menina que ele amava como a sua neta. Ela já estava ali há quase seis meses e havia conquistado todos com sua personalidade incrível. Ele queria fazer alguma coisa para ajudá-la a realizar seu sonho, e talvez havia conseguido. Esperava que sim.
Tae Hyun virou-se para a mulher ao seu lado, dizendo:

- Eu não lhe disse que ela era encantadora? Minha mugunghwa, esta é Tae Lee Hi. Lee Hi, esta é a minha , que tanto lhe falei. – acenou, em forma de cumprimento.
- Olá, querida. Tae Hyun é um velho amigo meu. Quando ele me falou que neste lugar tinha uma linda pedra a ser lapidada, vim correndo conferir. – A mais velha abriu um sorriso, mostrando uma covinha em sua bochecha.
- Perdão, senhora, mas eu não entendi.
- Deixe eu explicar... – Tae Hyun se adiantou – , lembra que te falei que tinha uma amiga que trabalhava na indústria musical? A Lee Hi é dona de uma pequena empresa, a Tae X – engoliu saliva quando ouviu o nome. A Tae X era uma empresa alternativa, conhecida por tratar seus contratados com respeito e onde não havia casos de trabalho escravo, o que era comum em empresas conhecidas, principalmente na tão falada tríade da indústria musical sul-coreana. Era pequena, mas sonhava em trabalhar para eles. – Eu falei com ela que seu sonho era ser uma cantora conhecida, e ela se interessou e quer ouvir o seu trabalho.
- É sério, harabeoji? – Ela virou-se para Lee Hi, abrindo um imenso sorriso – A senhora realmente quer me ouvir?
- Tem alguma dúvida, menina? Tae Hyun já me mostrou gravações das suas apresentações e eu gostei bastante. Agora vamos marcar um dia para que você venha até a empresa fazer um teste. O que você acha?
- Eu adoraria.


III. O começo

já havia roído todas as unhas da mão enquanto aguardava na sala de espera da Tae X. Ela havia feito o teste no dia anterior, e agora esperava para falar com Lee Hi em sua sala. Sua mãe estava do seu lado, com a aparência muito mais saudável do que apresentava há seis meses. Ela havia até se permitido passar uma maquiagem e estava ali, segurando suas mãos, com um tímido sorriso no seu rosto. Yoo Na também estava apreensiva, assim como estava. Enquanto isso, Ji Hyo e Xiu Lim estavam à sua frente discutindo sobre qual era o ator mais bonito, Song Joong Ki ou Park Bo Gum. Ela amava o quão aleatórias as suas amigas conseguiam ser, mesmo em momentos como aquele.

- Senhorita Kim ! – A secretária falou – Pode entrar.

A sala da CEO da Tae X era repleta de quadros dos artistas da empresa, que variavam entre os mais diversos gêneros, de rappers a cantores de trot. Realmente, ela e o senhor Tae Hyun devem ser grandes amigos. Lee Hi estava sentada na grande cadeira, olhando para uma pilha de papéis à sua frente. Ao ver entrar, abriu um sorriso, pedindo para que ela se sentasse.

- Como vai? – Lee Hi largou a pilha de lado, olhando diretamente para . - Nervosa?
- Um pouco. – esboçou um sorriso. - Devo dizer que fiquei muito impressionada com sua apresentação de ontem. Você escolheu uma música muito difícil de ser cantada, e, apesar de alguns erros técnicos, você cantou com emoção. – As mãos de Lee Hi seguraram as de , passando um pouco da confiança que ela precisava naquele momento – Minha menina, eu estou nesse ramo há quase 40 anos. Já vi muitos artistas sentarem nessa mesma cadeira que você está sentada, carregando consigo os seus sonhos, mas se tem uma coisa que eu aprendi em todo esse tempo é que a técnica pode ser aprendida, mas o dom... o dom já nasce contigo.

tinha certeza que Lee Hi conseguia sentir o quão gelada suas mãos estavam naquele momento.

- E você nasceu com esse dom. – Lee Hi soltou as mãos de para cumprimentá-la – Bem-vinda à Tae X.

Sem conseguir sem controlar, deu um abraço apertado em Lee Hi, esboçando um inaudível obrigada, enquanto lágrimas rolavam pelo seu rosto. Ela havia passado. Mal podia acreditar.

- Vá lá comemorar com elas. – Lee Hi disse, enquanto limpava as lágrimas teimosas que escorriam pelo rosto de – Tenho certeza que elas estão tão nervosas como você estava.
- Senhora Tae, muito, mas muito obrigada. Eu prometo trabalhar bem duro para recompensar a confiança que a senhora está tendo em mim.
- Eu não duvido que você vá. – Lee Hi abriu um sorriso, deixando novamente sua covinha à mostra, o que a rejuvenesceu uns 30 anos – Lembre-se. Se estou aqui agora, é porque lá atrás alguém me ajudou. Ninguém consegue nada nessa vida sozinho. Bom trabalho e novamente bem-vinda ao Tae X.


~*~



O Resistência estava em festa. Ji Hyo havia resolvido fechar o bar para que só os amigos chegados de pudessem comemorar com a sua entrada na Tae X. O que significava que havia ao menos trinta pessoas no velho galpão, já que o carisma da garota havia contribuído para que ela fizesse algumas boas amizades ali. Enquanto todos se divertiam bebendo, conversando ou cantando no karaokê, havia se afastado um pouco, para tentar pôr a mente para funcionar.
Seu medo de acordar no dia seguinte e perceber que tudo aquilo era um sonho a impedia de raciocinar. Assim, aproveitou que seus amigos estavam distraídos para sair um pouco dali e pegar um pouco de ar puro. As estrelas estavam tão brilhantes e a temperatura tão agradável, que ela se permitiu fechar os olhos e relaxar.

- Tá tudo bem, minha filha? – Ouviu a voz melódica de sua mãe e abriu os olhos.
- Tá tudo ótimo, mãe. Finalmente está.
- Sabe... quando estávamos naquela sala de espera, eu tive medo. – Encostada no muro, com a cara pensativa, Yoo Na havia envelhecido alguns bons anos – Não que eu não esperasse que você não conseguisse. Eu sabia que você tinha talento. Mesmo pequena, quando fazia aquelas suas apresentações. Você nasceu para ser uma artista, minha filha. – Sua mãe se aproximou, acariciando seu rosto suavemente – Mas a vida não foi fácil para você. Teve que assumir as responsabilidades muito cedo, deixar seu sonho de lado para nos manter. Eu tive medo que seu pai novamente a impedisse de realizar seu sonho, eu tive... – A voz dela estava embargada, enquanto lutava para prosseguir – Eu tive medo que ele te fizesse mal. Mas você estava certa, minha filha. Sempre esteve. Se você não tivesse lutado por nós duas, não tivesse nos tirado daquela casa, nada disso teria acontecido. – soluçava, enquanto sua mãe a puxava para os seus braços – Eu tenho tanto orgulho de você, minha menina. Eu te amo tanto. Tenho certeza que este é apenas o começo para você. Tenho certeza que um dia a menina que fazia apresentações para os seus ursos de pelúcia, vai se apresentar para uma multidão.

Mães sempre tem razão.


~*~



!
!
!”

- Você está ouvindo? – Xiu Lim estava extasiada enquanto maquiava – Eu não consigo acreditar que você vai se apresentar no Seoul Olympic Hall lotado. , minha amiga, virou uma popstar.
- Besta! – abriu um sorriso, enquanto tentava respirar. A ansiedade a matava, principalmente enquanto ouvia a multidão lá fora gritar o seu nome – São quantas pessoas?
- 3.500 pessoas. Para um debut concert, é muita gente. Logo, logo você vai estar esgotando o Tokyo Dome.
- Você sonha demais, Mulan. – Chamou a amiga por seu apelido carinhoso.
- Eu confio em você, . E tenho certeza que se tivesse como, você lotaria shows até em Marte.

A garota abraçou sua amiga, enquanto ainda tentava se acalmar. Logo Xiu lim saiu do camarim, dizendo que iria pegar alguma coisa para comer. Ela agradeceu, por estar faminta e não ter conseguido comer nada de manhã de tanta ansiedade e nervosismo que estava sentindo no momento.
Depois de dois anos trabalhando duro, dia e noite, e participando de programas de variedade sul-coreanos, como o Master Key e o Running Man, havia conquistado uma popularidade considerável na Coreia do Sul e em alguns países asiáticos, e o que contribuiu para o Seoul olympic Hall lotado onde ela se encontrava. A garota estava em êxtase, sem acreditar que tudo aquilo realmente estava acontecendo com ela. Se aquilo fosse um sonho, não queria jamais acordar dele.
ouviu a porta abrir e se virou pronta para encontrar Xiu Lim com sua preciosa comida. Infelizmente, o que viu no lugar a fez sentir um embrulho no estômago.

- Pai? – Ela não o via há quase três anos, apesar de receber constantes ameaças por meio de seu secretário particular.
- Para você, é Senhor Kim. – Dong Sun respondeu friamente – Só vim aqui para ver você novamente manchando o nome da família. Não estava satisfeita com tudo que fez? Depois de ter destruído a nossa reputação, ainda foi capaz de virar uma cantorazinha de merda? O que pensa que está fazendo? – Ele segurou seu rosto com força, fazendo com que a garota gemesse de dor – Olha só, toda maquiada. Você só chegou aonde chegou porque eu permiti. Porque basta eu mover um dedo e tudo isso que você conseguiu, virará pó. Está me ouvindo, :? – As grossas lágrimas rolavam pelo rosto da mais nova, sendo dominada pelo pânico e claustrofobia de estar novamente sobre o julgo do pai.
- Pa-pa-pai...
- Você e sua mãe são duas moscas mortas mesmo. – Ao vê-la submissa à sua frente. Dong Sun gargalhou – Foi divertido achar que estavam livres de mim? Pois foi divertido para mim ver esse teatrinho todo. Mas isso vai acabar agora. – prendeu a respiração ao ver seu pai levantar a mão para repreendê-la, como tantas vezes fizera quando ela era mais nova, seja porque “não agira como uma mocinha” ou porque “discutir sobre política não ensina a ser uma boa dona de casa”.

se preparava para fechar os olhos e esperar, como sempre fazia durante as correções do Senhor Kim, quando a porta do camarim foi aberta violentamente e os seguranças entraram no local, junto com Xiu Lim, Ji Hyo, Lee Hi e Yoo Na. Apesar de suas mãos estarem tremendo, Yoo Na se aproximou de seu ex-marido, que se debatia nas mãos dos seguranças. Após cuspir em seu rosto, gritou:

- SEU DESGRAÇADO! VOCÊ NUNCA MAIS VAI ENCOSTAR UM DEDO NELA, ENTENDEU? EU TE DENUNCIEI! DEPOIS DE TUDO QUE VOCÊ ME FEZ, EU FINALMENTE TE DENUNCIEI. - Se sentindo novamente como uma criança de seis anos, fechou os olhos, escorregando no chão frio do camarim e começando a chorar compulsivamente. A cena à sua frente acontecia em flashes, enquanto sua mente ainda estava fora de órbita. Ela tinha sonhado com aquilo por tanto tempo, que não podia acreditar que sua mãe finalmente estava se libertando e enfrentando de uma vez por todas seu pai.

Dong Sun ainda teve a coragem de gargalhar, mesmo preso pelos seguranças.

- Você esqueceu a influência que eu tenho nesse país, querida Yoo Na?
- Ninguém vai querer fazer negócios com um agressor, Dong Sun. A polícia te espera lá fora.

Os olhos de Dong Sun arregalaram, enquanto os seguranças o arrastavam pelo extenso corredor até o lado de fora da casa de shows. Mesmo com tudo aquilo, ele ainda tentava manter a pose.
Com o ambiente mais calmo, Lee Hi, Xiu Lim e Ji Hyo ajudaram a se levantar do chão e a sentar no sofá, enquanto Yoo Na pegava um copo d’água para a filha.

- Se quiser, podemos adiar o show. – Lee Hi disse, o rosto demonstrando preocupação.

A garota respirou fundo, enquanto bebia a água que sua mãe havia buscado para ela. não poderia permitir que seu pai estragasse um dia tão especial para ela, como sempre havia feito. Aquele era o seu sonho e ela iria realizá-lo. Seu pai seria apenas uma fumaça do seu passado.

- Eu vou me apresentar. – A mais nova abriu um sorriso, tentando tranquilizá-las. – Xiu Lim, refaça a minha maquiagem, que hoje eu vou colocar essa casa de shows no chão.
- É assim que eu gosto, menina. É assim que eu gosto. – Lee Hi abriu um sorriso, enquanto saía do camarim para prosseguir com os ajustes do show.


~*~



O show havia sido um sucesso e virado notícia nas principais mídias do país. O nome de havia ficado por 2 dias no topo dos sites de buscas sul-coreanos e as vendas do seu mini álbum eram um sucesso absoluto. Os críticos e o grande público não paravam de elogiá-la e ninguém nunca tinha visto Lee Hi sorrir tanto quanto naquele ano. A garota não estava rica, mas estava realizando seu sonho e com uma conta bancária muito boa, obrigada. Sua mãe, Ji Hyo e Xiu Lim moravam com ela em uma casa que havia comprado em Seul com a primeira boa quantia que havia recebido de seus direitos de imagem.

- ! ! ! LIGA AGORA NA SBS. – Ji Hyo chegou em casa gritando, o que fez com que despertasse assustada de seu cochilo no sofá da sala.
- Que isso, menina, para que essa gritaria? – A garota sentou no sofá, ainda sonolenta – Até parece que a casa tá pegando fogo.

Ji Hyo, afoita, arrancou o controle da mão de e colocou no bendito canal. Xiu Lim e Yoo Na chegaram assustadas do quarto principal, com a gritaria de Ji Hyo, onde estavam assistindo algum drama chinês do tal ator Shim-não-sei-quem que elas amavam.
- Que aconteceu, quem morreu? – Sua mãe perguntou, confusa.
- O que é tão importante para interromperem nossa maratona de “Fei, my first love”?– Xiu Lim rolou os olhos, querendo voltar logo para seu quarto e seu amado Shim.

estava congelada olhando para a televisão, tentando se situar se realmente aquilo estava acontecendo. As letras pareciam se distorcer enquanto ela tentava focar na tela. De repente, sentiu três corpos se jogando em cima dela e a gritaria triplicou.
Ali, no meio daquele mundaréu de mãos e pernas a sufocando, sussurrou:

- Meu Deus, eu fui indicada ao MAMA.


4. Consagração

O que tiver que ser, será. O que tiver que ser, será. O que tiver que ser, será.


repetia seu mantra, enquanto So Ji Sub e Gong Hyo Jin subiam ao palco do Mnet Music Awards para apresentar os nomeados à categoria Melhor Solo Novo. Em um exagero digno de cartunistas, ela podia dizer que naquele momento sentia que seus olhos poderiam a qualquer instante pular para fora de seu rosto. Sua mãe, ao seu lado, acariciava suas mãos suadas, abrindo um pequeno sorriso que passava toda a confiança que ela precisava. Por ela, sempre por ela.
sabia que seria difícil de ganhar aquela categoria, disputada com novos artistas de empresas bem maiores do que a pequena Tae X que ela fazia parte. Mas só de ter lutado para estar ali, por tudo que havia passado... havia conquistado muito mais do que sequer poderia imaginar.

- E o vencedor da categoria Melhor Solo Novo é...

Respira. Um. Dois. Três.

- Kim . Parabéns! – Disseram Ji Sub e Hyo Jin em uníssono, seguidos do som de milhares de aplausos no recinto.

parecia ter congelado no tempo. Sentiu-se levantar da cadeira e receber um abraço de sua mãe e tapinhas nas costas de suas amigas. Em sua caminhada até o palco, foi cumprimentada por diversas pessoas, mas não sabia dizer quem fora. Ela estava em seu mundinho particular. Subiu ao palco, cumprimentando Ji Sub e Hyo Jin e, finalmente, recebeu o prêmio em suas mãos.
Clareou a garganta antes de pegar o microfone e fazer seu discurso.

- Primeiramente, eu quero agradecer à minha mãe, por ter sido meu exemplo e minha fortaleza e por nunca ter me deixado desistir dos meus sonhos. Apesar dos pesares. – A voz começava a embargar conforme ela prosseguia com seu discurso – Às minhas amigas, ou melhor, minhas irmãs da vida, Ji Hyo e Xiu Lim, por me incentivarem, me ensinarem e me permitirem fazer parte desse grupo. – Respirou fundo, enquanto sentia as lágrimas rolarem pelo seu rosto – A Tae X, e em especial a Lee Hi e Tae Hyun, que acreditaram em mim e investiram no meu projeto. – Tomando coragem, resolveu falar o que estava engasgado por todos esses anos – E, por fim, eu quero falar com você, que está ouvindo esse discurso. Quando eu era apenas uma garotinha, eu ouvia que mulheres não podiam chegar ao topo. Mulheres não serviam para negócios, não serviam para nada a não ser cuidar da casa e dos filhos. Muitos tentaram me impedir de chegar aqui, mas eu lutei e não desisti dos meus sonhos. Por favor, não desista dos seus. Seja ele ser uma dona de casa, a bailarina principal do Bolshoi ou uma rapper louca de cabelo colorido. Não ouça a opinião dos outros. Ouça seu coração. “Did you see my bag”? - gritou – Obrigada, MAMA. Obrigada, vocês. Muito obrigada! – Eu consegui.





Fim



Nota da autora: Sem nota.





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