1. Oh My Goodness
A história que vamos lhes contar, se passa a hum tempo em que talvez você nem existe mais, porém terá o privilégio de saber como será o futuro, essa história é sobre mim e minha irmã gêmea.
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O mundo não estava mais o mesmo, e nossa geração nem sabia o que significava a palavra paz, todos estavam enfrentando um longo período de guerra, entre militares e civis. Uma fagulha, que começou em meio uma pequena revolução ao norte da Ásia, acabou se espalhando pelo mundo, iniciando a maior de todas as guerras e resultando em milhares mortes.
Com a diminuição da população global, algumas das grandes cidades foram sendo saqueadas, além de também dizimadas com ataques nucleares. Aquele planeta verde e azul só existia nos poucos livros de geografia que ainda restaram, nossa realidade era diferente e muito escassa.
Enfim, minha história começou no ano de 2037, na Base de Experiências Químicas e Genéticas da Força Militar, mais conhecida como BEQ, onde meu pai, cientista e professor Julius Miller trabalhava dia e noite. Após tantas batalhas e mortes, naquele tempo só havia restado dois lados para escolher, ou você era a favor a ditadura da Força Militar, ou você era contra e se juntava a Resistência.
A BEQ se localizava ao leste do que um dia foi a Coreia do Sul, atualmente o país era somente chamado de Ômega, por ter sido o segundo a conseguir vencer a Resistência e estabelecer a Força Militar da Ásia. Além disso, era o responsável por coordenar pesquisas químicas com os soldados, para modificar sua genética e torná-los mais fortes e menos vulneráveis a dores e ferimentos.
Traduzindo, os militares queriam de alguma forma transformar os soldados em máquinas assassinas e sem sentimentos. E o professor Julius, era responsável pelas pesquisas e testes em cobaias humanas, uma delas se chamava Mary e seria a nossa mãe no futuro.
— Ah. — gritou o professor ao olhar os novos resultados dos teste.
— Deu negativo? Novamente? — perguntou Mary ao se levantar da maca e o olhar — Meu corpo rejeitou novamente?
— Aparentemente sim. — disse ele sem medo de demonstrar sua frustração — Mas não vou desistir, tenho certeza que você é a pessoa certa.
— Sou? — ela sorriu de leve — Ou você quer que eu seja?
— Você é. — afirmou com convicção — Você precisa ser, ou eles te matam.
Ele desviou seu olhar para a janela, não queria imaginar que a Força Militar mataria Mary, ainda mais agora que ambos estavam mantendo seu romance escondidos de todos. Julius amava Mary, mas ela era somente uma cobaia que poderia ser substituída a qualquer momento pelos militares.
— Não deveria ficar tão preocupado comigo, sabemos que minha vida não vale nada para eles. — ela se levantou da cama e caminhou até ele — Mais cedo ou mais tarde, eles vão cobrar os resultados que anseiam, se não for eu.
— Mary. — ele tocou em sua face — Eu farei o que for preciso para dar certo, tem que dar certo.
— Eu confio em você, meu amor.
Julius a beijou de leve, envolvendo-a em seus braços. Poderiam passar muito tempo ali, aninhados um ao outro, porém um barulho de passos vindo do corredor ao lado, os fizeram se afastar. E estavam certos, assim que a maçaneta da porta girou, dois soldados entraram e logo atrás o superior responsável pela base, Major Chang.
— Professor Miller, soube que fez mais testes esta manhã e que estava com os resultados. — disse ele ao entrar com sua tradicional postura superior de um militar.
— Bem, me parece que seus informantes estão fazendo muito bem seu trabalho. — disse Julius a ele.
— Claramente. — ele deu um sorriso irônico — Assim como também me contaram sobre as noites divertidas que anda tendo com nossa cobaia.
Julius engoliu seco. O major deu alguns passos até Mary e a pegou pelos cabelos, a fazendo soltar um grito de dor, em um piscar de olhos os dois soldados seguraram o professor com força, o impedindo de intervir.
— Acho que tenho que lembrá-lo do seu propósito inicial. — continuou o major — Ou prefere da forma mais difícil?!
O major retirou sua arma do coldre e apontou para a cabeça da mulher, ele demonstrou não ter nenhum tipo de remorso em apertar o gatilho.
— Não. — gritou o professor — É ela, o sangue dela é O negativo, o mais raro de todos, se a matar não encontrará outra pessoa facilmente.
— Será?! — ele engatilhou.
— Sabe que estou sendo honesto, ela é doadora universal, seus soldados não poderiam receber transfusão de uma pessoa qualquer.
Chang podia ver a sinceridade nos olhos do professor.
— Hum, acho que posso relevar suas distrações desta vez. — ele jogou a mulher contra o chão — Mas esteja certo professor, que da próxima vez não irei ser tão compreensivo assim.
O major virou se retirando do laboratório e em alguns poucos movimentos, os dois soldados deram alguns socos no professor, então saíram atrás do major. Mary se levantou e correu até o professor, o ajudando a se levantar.
— Você está bem querido? — perguntou ela.
— Estou. — disse ele num tom baixo — Mas preciso voltar às minhas pesquisas, não posso deixar que eles descontam em você.
— Não quero que se mate por mim. — disse ela preocupada.
— Eu morreria por você.
O professor estava decidido, iria sim refazer seus cálculos e rever todas as etapas daquela fórmula, ele precisava mais do que nunca achar a resposta certa.
Foram semanas de trabalho pesado, dormindo apenas algumas horas por noite, era por uma causa nobre, era pela vida de Mary. Novamente Julius estava em frente a sua amada cobaia, injetando em sua corrente sanguínea a nova fórmula que tinha refeito, aparentemente ele transmitia confiança, porém lá no fundo ele temia que aquele teste fosse novamente frustrado.
Ele esperou algumas horas, para que o efeito sobre o organismo dela fosse ainda mais eficaz, até que começou a fazer os testes. Aquele dia pareceu ainda mais longo e cansativo, tanto para o professor como para Mary, que era testada física e psicologicamente. Ao final da tarde, o professor pegou os resultados na impressora, a hora da verdade estava se aproximando.
— Então?! — Mary se levantou da cadeira apoiando-se a bancada, parecia ainda mais ansiosa do que ele.
— Negativo. — sussurrou ele não entendendo o que tinha feito de errado, afinal aquela tinha sido a fórmula mais forte e eficaz, teoricamente falando.
Mary deu um suspiro fraco, sentindo uma leve tontura, seu corpo cambaleou sendo amparado pelo professor.
— Você está bem? — perguntou ele.
— Não sei, estou me sentindo estranha por dentro, como se tivesse uma parte que não pertencesse a mim.
— O que?
O professor não entendia o que poderia estar causando isso nela, o que o fez deitá-la na maca e retirar seu sangue, ele começaria a fazer outros tipos de testes. Tinha que descobrir se a fórmula estava finalmente fazendo efeito, ou se Mary estava tendo alguma reação negativa a ela.
Aquilo tudo ocasionou uma bela e preocupante surpresa, Mary estava grávida de nove semanas e o motivo para todos os resultados darem negativos, era que aparentemente toda a fórmula estava sendo drenada pela placenta, como se fosse seu nutriente. Eles estavam felizes por um lado, porém a segurança deles poderia ficar ainda mais prejudicada, e Mary somente pensava em suas filhas sendo criadas longe daquele lugar de tristeza.
Assim que o major Chang, foi notificado sobre a gravidez e a possível evolução da fórmula, todas as outras Forças Militares começaram a se mobilizar e interessar pelo experimento da Força Asiática. Com isso o poder político do grande General Han aumentaria entre a cúpula dos militares, até do Major Chang ter a chance de ser promovido caso desse certo.
A Força Militar seria mais forte e talvez invencível, porém os planos do professor eram outros, ele não queria que sua agora recém-formada família, ficasse no meio de toda aquela guerra por poder e interesses políticos. Porém, não poderia arriscar a gestação de Mary, já que tinha descoberto a segunda surpresa, ele estava grávida de gêmeos.
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Os meses foram passando, a cada dia a gestação de Mary chegava mais perto do fim, sua barriga tinha crescido muito e ela se sentia sempre cansada. Aquilo era preocupante para o professor, que pensava que sua amada pudesse chegar ainda mais fadigada ao parto e não resistir.
Infelizmente foi o que ocorreu, ao dar a luz a suas duas gêmeas, Mary acabou perdendo muito sangue. Seu coração fraco não resistiu e acabou parando, alguns segundos após ela ver os rostos de suas filhas e poder lhe dar seus nomes. A mais velha se chamaria e a mais nova .
Minutos depois após o último suspiro de Mary, professor Julius desabou no chão em lágrimas, suas filhas estavam nos braços da enfermeira Clair que havia ajudado no parto, após os médicos da base se recusarem a ajudar. O major apareceu com seus soldados, ele parecia nenhum pouco impressionado com a morte de Mary, estava mais interessado nos bebês.
— Meus parabéns professor, me parece que nasceram saudáveis. — disse ele mantendo suas mãos nos bolsos da calça.
— O que quer aqui? — perguntou Julius secando suas lágrimas e se levantando do chão.
— Estou aqui para garantir que as crianças fiquem ainda mais seguras, que nada falte para elas, principalmente treinamento. — assegurou ele.
— São apenas bebês, são minhas filhas. — questionou ele.
— Não, logo elas serão nossas armas não são simples bebês, e quanto a serem suas filhas, não pense que tem algum direito, elas pertencem a Força Militar Asiática. — retrucou ele — A partir de agora, o você será monitorado vinte e quatro horas por dia, e quando acharmos que está na hora, o treinamento irá começar.
O professor poderia até ter questionado ainda mais, tentado lutar, mas estava tão abalado pela perda e tão fraco, que somente engoliu seco, ele recuaria naquele momento, mas para avançar no futuro e livrar suas filhas se tornarem o que o major queria. Então assentiu de leve com a face, permanecendo em silêncio.
— Ah, acho que devo lamentar pela sua perda, e para não dizer que nunca lhe fiz nada, deixarei que faça um enterro para ela. — disse ao olhar para o corpo de Mary na maca.
Após a saída do major, Julius ajudou Clair a colocar os bebês na incubadora, ele ficou parado olhando suas filhas, sentindo as lágrimas rolarem em sua face.
— Eu lamento professor, elas e Mary, não merecem este destino. — disse Clair se colocando ao seu lado.
— Obrigado por me ajudar. — sussurrou ele voltando seu olhar para ela.
— Confesso que fiquei revoltada quando os médicos negaram seu pedido de socorro. — disse ela demonstrando sua solidariedade — Conte comigo professor, vou ajudá-lo a protegê-las.
— Agradeço, de verdade. — ele deu um sorriso fechado.
Ele respirou fundo e voltou seu olhar para as filhas, que dormiam como anjos. Aparentemente Julius estava sozinho, mas ao seu lado estava uma pessoa a qual podia confiar.
“Eu nunca vou desistir,
Não há tal coisa como suficiente.”
- Never Been Better / Olly Murs
2. Grow Up
Este foi somente o trágico início, o envolvimento de nossos pais resultou em dois bebês, que seriam fortemente cobiçados pelos poderosos da cúpula para esmagar a Resistência no glorioso futuro da Força Militar.
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Passaram dez anos e nós crescemos saudáveis e fortes, estávamos bem longe da BEQ. Segundo o major Chang, manter nosso crescimento em sigilo era bem mais importante para os interesses do general Han. O que nos levou a mudar para uma base secreta, no centro do que tinha restado do bosque de Busan.
Apesar de parecer que teríamos uma certa liberdade, continuávamos sendo monitorados pelos militares, e iniciamos nosso treinamento básico quando completamos sete anos. Era visível que a fórmula do nosso pai, tinha realmente sido um sucesso em nós, ao contrário das crianças normais, eu e conseguíamos suportar o máximo de dor possível.
Em alguns casos, nossos testes de raciocínio lógico conseguia ser mais alto de muitos adultos, nossa evolução psicológica e física eram promissores, graças a ajuda do nosso pai. Que além de não nos deixar chegar no nosso limite, ainda impedia que os instrutores nos forçasse a ir além do que nosso corpo poderia aguentar.
Mesmo internamente sendo tão resistentes e fortes, nossa capacidade física ainda era muito baixa, afinal ainda éramos crianças. Porém a Força Militar não se importava, eles só queriam resultados satisfatórios e a confirmação que nossas habilidades poderiam ser passadas para seus soldados.
— Estou ficando velho. — sussurrou nosso pai ao se sentar em frente ao seu microscópio, para analisar a amostra de sangue que tinha retirado de mim.
— O senhor está bem papai?! — perguntei observando o minúsculo furo que a agulha tinha feito em minha pele.
Ainda era novo para mim, conseguir focar meu olhar em algo e aumentar a resolução do que estava enxergando. Mantive minha atenção no buraco, tentando captar o som da minha corrente sanguínea, era importante para mim conseguir controlar e dominar todos os meus sentidos, não somente para minha defesa, mas para o meu ataque.
— Estou bem sim querida. — ele desviou minha atenção para ele — Só queria que não precisasse passar por isso.
— Eu estou bem. — sorri para ele — Eu gosto disso, gosto dos treinos e a cada dia descubro algo novo que posso fazer.
— Hum, minha pequena. — ele se levantou e veio até mim — Você é realmente o contrário de , e sua evolução física está sendo ainda rápida também.
— Somos gêmeas, mas não somos iguais. — ri um pouco desviando meu olhar para porta, alguém se aproximava do laboratório — Apesar de que mentalmente, ela consegue ser melhor que eu.
— Uma completa a outra. — ele riu — Alguém se aproxima?
— Sim. — assenti me levantando da cadeira — Acho que é a Clair.
Ao fechar minha boca, a porta se abriu e Clair entrou.
— Como sabia que era ela? — perguntou meu pai.
— O perfume. — sorriu para ela — Bom dia, Clair.
— Bom dia querida. — sua respiração estava tranquila e suave.
— Onde está a ? — perguntei.
— Ela disse que precisava ir até o rio, então deixei.
— Hum. — olhei para meu pai — Posso ir também?
— Claro, mas que estejam aqui pontualmente para o treino da tarde.
— Sim papai.
Assenti batendo continência de leve e saí correndo, por mais que eu gostasse dos treinos, era chato ter uma pessoa nos mandando fazer uma série de exercícios e coisas inúteis, eu gostava de correr pelo bosque e escalar alguns dos rochedos que tinham ao redor. Segui pela pequena trilha que tinha feito para o rio, logo a avistei agachada mexendo em algo.
Me abaixei e sorrateiramente me aproximei, focada e preparada como um tigre pronto para atacar sua presa.
— Te peguei. — disse pulando sobre ela.
— Ai, . — ela se assustou de imediato e desequilibrando, seu corpo tombou e caímos na beira do rio.
— Não deveria estar tão desatenta. — disse rindo da cara dela.
— E você não deveria me assustar assim. — ela respirou fundo — Sou sua irmã e você é mais forte que eu, deveria me proteger e não me atacar.
— Temos que fazer isso todos os dias nos treinos. — fiquei séria — O que estava fazendo?
— Estava alimentando os peixes.
— Que peixes? — olhei para o rio.
— Você espantou eles. — ela se levantou um pouco chateada.
— Desculpa. — disse me levantando também — O que posso fazer para me redimir?
— Hum, podemos brincar. — sugeriu ela.
— Brincar de que?
— De pega pega. — ela bateu no meu braço — Está com você, agora tem que me pegar.
saiu correndo em direção às altas árvores.
— Ei, assim não vale. — eu ri um pouco — Ah, eu sempre sou mais rápida que você.
Comecei a correr atrás dela tentando controlar meu fôlego e não rir muito. Aquilo sim eu levava como um treinamento legal, me divertir com minha irmã e ao mesmo tempo aguçar meu sentidos, os controlando da forma mais harmônica e minuciosa possível.
Em poucos minutos avistei , ela tinha se escondido entre alguns arbustos, mas quando viu minha aproximação, saiu correndo em direção a nossa casa. Claro que eu não deixaria que ela ganhar novamente, antes que la conseguisse chegar até o carro que estava estacionado, toquei em seu ombro jogando meu corpo contra o dela.
Caímos novamente, porém desta vez estávamos mais animadas e rindo. Comecei a fazer cócegas nela, nos divertindo ainda mais.
— Estão atrasadas. — disse o tenente Carl, responsável por nosso treinamento.
— Nos desculpe. — disse ao me levantar e ajudar a se levantar também.
— Estávamos nos divertindo e… — abaixou a cabeça.
Eu mantive minha face erguida o olhando sem demonstrar medo, tinha raiva dele por ter castigado minha irmã várias vezes no treino.
— Não existe diversão para vocês duas. — disse ele num tom rígido — Vamos começar o treino.
Assentimos meios desanimadas e fomos trocar de roupa. Como meu pai mesmo tinha percebido, eu sempre senti que era mais forte fisicamente que , o que me fazia controlar em segredo o nível da minha força, assim não a machucaria. Mas de alguma forma, ficava um pouco chateada por isso, mesmo tendo as mesmas habilidades parecia uma menina frágil e delicada, porém seu lado mental e intelectual era bem mais elevado.
— Agora que se aqueceram, quero que corram daqui e subam até o topo daquela árvore. — ele apontou — E que façam isso em menos de um minuto.
— O que? — o olhei para a árvore, ainda não tínhamos força suficiente para isso, pelo menos não minha irmã.
— Mas senhor?! — o olhei com receio — Eu não consigo, não gosto de escaladas.
— Você não tem que gostar, somente me obedeça. — ele alterou um pouco sua voz — Agora vão.
Ao gritar, ele apertou o cronômetro. Corremos até a árvore, estava tão no automático que comecei a escalar ela sem perceber que não estava me acompanhando, quando finalmente cheguei ao topo, olhei para baixo e ela estava pouco abaixo da metade.
— , anda, sobe logo. — gritei.
— Eu não consigo, odeio altura. — gritou ela agarrada a árvore.
O tempo estipulado por ele tinha se esgotado e ela não havia cumprido, não era a primeira vez que tinha permanecido na metade, ela realmente tinha medo de altura. Eu desci da árvore e sorri para ela, que parecia estar com medo do que nosso instrutor poderia fazer daquela vez. Ele se aproximou de nós e pegou pelo braço.
— Como sempre você é uma decepção, no treinamento físico. — disse ele a segurando com força.
— Pare, o senhor está me machucando. — disse ela se segurando para não chorar daquela vez.
— Desta vez sua punição será bem pior. — ele lançou seu corpo contra o chão, a fazendo cair.
Eu senti meu corpo queimar por dentro, uma revolta grande cresceu em meu coração, olhei ao meu redor procurando por algo que nem imaginava o que poderia ser, até que encontrei um tronco apodrecido de árvore que tínhamos usado no treino da manhã. Sem pensar em mais nada, peguei o tronco e correndo na direção do tenente Carl, lancei o troco sobre seu corpo, o fazendo cair.
Assim que seu corpo recebeu o impacto, ele cambaleou e caiu, batendo sua cabeça em uma pedra que estava próximo.
— O que você fez?! — disse ainda jogada ao chão.
— Eu. — sussurrei deixando o tronco escorregar de minhas mãos, também estava tão assustada quanto ela.
Em instantes, a porta da nossa cabana se abriu e nosso pai saiu acompanhado por Clair.
— O que houve aqui? — perguntou ele vindo em nossa direção — O que aconteceu com o tenente?!
Nem eu, menos ainda tínhamos voz para dizer algo, paralisadas com o que eu tinha feito. Clair se aproximou também e examinou o corpo dele, checando sua pulsação.
— Ele está morto. — contatou ela.
— Não. — meu pai olhou para ainda caída e depois desviou para mim — , você…
— Ele queria me castigar novamente papai. — explicou tentando me defender — A só queria me ajudar.
— Eu não consegui me controlar dessa vez, me desculpe papai. — disse mantendo meu olhar nele, nem mesmo naquele momento eu abaixava minha cabeça.
— Eu entendo querida. — ele me abraçou com carinho — Mas agora, teremos que fazer algo, para que você não seja punida.
— Os outros soldados sempre ficam longe quando é a hora do treino. — disse Clair — Eles vão demorar para voltar.
— O que está sugerindo?! — meu pai a olhou.
— Esta é a oportunidade que precisávamos. — reforçou ela — Vamos fugir daqui.
— Mas, eles podem nos alcançar. — disse .
— Não. — afirmei — Nós podemos fugir, não podemos papai?!
— Claro querida. — assentiu ele.
Enquanto eu e separamos nossas coisas e colocamos nas nossas mochilas, Clair colocou dentro da caminhonete tudo que possivelmente poderíamos precisar para sobreviver. Mesmo fugindo para me proteger, eu conseguia perceber que estávamos também indo em busca da nossa liberdade.
Mas até quando estaríamos livre do nosso destino? Até quando nos manteríamos longe, daquela guerra infinita entre a Força Militar e a Resistência?
“Queima do céu,
Não há nenhuma gravidade.”
- Never Been Better / Olly Murs
3. Dear Darlin’
A paz na nossa vida duro por um longo tempo, o suficiente para que a desejássemos ainda mais, de forma tão profunda e singela. Porém como poderíamos conseguiríamos viver tranquilamente, em meio as cobras?!
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Não foi fácil conseguir encontrar um lugar para ficar, mas felizmente Clair tinha um vasto conhecimento do território asiático, por ser enfermeira já havia estado em quase todas as bases da Força Militar. Eu a tinha como uma mãe, e era minha única amiga, além de , o que a tornava da família também.
Com sorte e as memórias dela, conseguimos um lugar ao sul da ilha de Jeju que havia sido isolado por causa de radiação. Era um risco a se correr, porém felizmente os níveis de radiação estavam mais baixos que se podia imaginar, o que era uma boa notícia e não seriam prejudiciais a nós.
Tudo que tínhamos juntado pelo caminho, cheio de perseguições e fugas seria agora usado em nossa nova casa. O lugar ficava bem em frente ao mar da China, muito espaço e vegetação por perto, mesmo não gostando tanto de localização e sempre desconfiando de estarmos sendo perseguidos, eu curtia cada momento ali.
Foi assim pelos oito anos que permanecemos escondidos e seguros. Porém uma névoa de conspiração estava pairando sobre nós, ouvimos algumas explosões ao longe, que foi crescendo com o barulho de tiros e gritos. Talvez não éramos só nós naquela parte da ilha.
A surpresa maior foi quando nossa casa ficou cercada por militares, todos fortemente armados e mirando em nós. Eu fiquei um pouco assustada com aquilo, desejava não vê-los novamente, menos ainda correr o risco de voltar para aquela rotina cansativa de treinos e tormentos.
Foi quando nosso pai saiu acompanhado de Clair com as mãos para cima, encarando todos os soldados. Tanto eu, como elevamos nossos sentidos para conseguir ouvir e ver melhor tudo que acontecia do lado de fora da casa, nos mantivemos atrás das cortinas.
— Ora, ora, professor. — disse um homem ao se aproximar.
— Como nos encontrou aqui? — perguntou meu pai.
— Acha mesmo que ficaria invisível aos olhos do general Han?! — ele deu um sorriso de deboche — Ainda mais tendo a mais leal agente disfarçada ao seu lado?!
Naquele momento, Clair abaixou sua mão e caminhou até o homem de forma natural.
— Não foi fácil me mostrar amiga o tempo todo, mas consegui enganá-los muito bem. — ela sorriu também com deboche — Professor, me deixe apresentá-lo o major Dimitri, ele serve nas Forças Armadas da Europa.
Eu olhei para o lado e vi fechando seus punhos, percebi que ela estava com tanta raiva quanto eu. Em alguns instantes, o major retirou sua arma do coldre e apontou para o professor, movendo seu olhar para a casa onde estávamos deu um sorriso superior.
— Eu sei que podem me ouvir nitidamente. — disse ele para nós duas — Se não querem que eu aposente o professor, melhor se renderem.
— Filho da… — respirou fundo se movendo para a porta.
— Espera. — segurei em seu braço — O que está pretendendo fazer?
— Se ele nos quer, ele que venha nos buscar.
Ela se soltou de mim e deu alguns passos até a porta, então a abriu permanecendo escondida ao lado, esticando sua mão direita, fez um breve sinal para que ele viesse até nós. Eu olhei para a janela e alguns soldados já estavam se movendo até a casa, desviei meu olhar para , conseguia ver um certo brilho em seus olhos, como se estivesse ansiando por aquele momento.
Fechei meu olhos tentando controlar minha respiração e ficar calma, eu não gostava de brigas, menos ainda de ter que usar minha força. Inspira, expira... A cada segundo eles se aproximavam ainda mais e eu conseguia ouvir seus passos com precisão, assim que eles entraram invadindo, não deu nem mesmo tempo para que eles pudessem nos atacar.
Sua raiva era tão grande que iria descontar em todos eles sozinha, e foi o que aconteceu, não consegui nem me mover vendo minha irmã quebrar os membros do corpo de todos. Eu lancei meu olhar para a janela e outros já estavam se aproximando, logo senti me puxar pelo braço e me arrastando até a parede falsa que ficava atrás do quadro.
Eu não queria que ela fizesse isso, éramos irmãs e eu queria lutar ao seu lado.
— Eu não vou ficar aqui, enquanto você luta. — disse tentando me soltar dela.
— Eu sou a mais velha e mais forte, eu tenho que te proteger. — ela piscou de leve para mim — Sempre foi assim.
— Não. — tentei retrucar.
Ela se afastou de mim e fechou a parede colocando uma trava disfarçada nela, então levantou um parte do tapete que estava no chão, revelando a entrada do alçapão que tínhamos criado em baixo da casa para emergência. A sorte é que conseguiria ver tudo através do quadro que estava pendurado na parede, para disfarçar.
Já imaginava o que ela queria com aquilo, jamais deixaria que eles conseguissem me encontrar, mas queria entender por que ela estava se sacrificando assim. De certo, não era somente por mim. Assim que os outros soldados entraram, ela levantou as mãos e sorriu debochadamente, eles a cercaram apontando suas armas para ela.
— Então, o quão forte vocês são? — perguntou ela no seu tom irônico dando uma risada rápida.
— Ora, ora, se não é uma das gêmeas. — disse Dimitri ao entrar — Estou ansioso para saber o quão habilidosa você e sua irmã são.
— Quer experimentar isso agora? — num tom irônico, nunca baixava sua face para os outros.
— Sempre se sentindo superior. — comentou Clair ao entrar apontando uma arma para ela — Mas agora vamos ver se você tem um ponto fraco.
— Vaca. — disse em um sussurro.
Assim que ela engatilhou e atirou, um dardo tranquilizante acertou seu pescoço.
— O que? — colocou a mão no dardo e o arrancou do pescoço — Acha mesmo que isso vai me parar?
— Não acho, tenho certeza. — ela desviou o olhar para o chão — Todos você entrei aí e sigam pelo túnel, tenho certeza que a outra deve estar em fuga.
— Você nunca vai achá-la. — já estava demonstrando sinais estranhos.
— Quer apostar. — Clair sorriu.
— Vocês dois, levem ela para o carro, o resto vá atrás da outra. — Dimitri deu a ordem, saindo pela porta.
Não demorou muito até que o lugar se esvaziasse novamente, eu gritei por alguns instantes tentando abrir a parede, mas estava muito bem travada. Foi então que ao longe, ouvi o som de um tiro, senti meu corpo gelar de imediato juntamente com meu coração que estava ficando ainda mais aflito e apertado.
O que tinha acontecido com minha família?!
Eu fiquei ali encolhida no chão por longas horas, sem saber o que fazer e para onde ir, não conseguia pensar em mais nada a não ser em e no nosso pai. Queria muito saber para onde levaram eles, o que havia acontecido, aquele tiro, eu estava com raiva da Clair, mais ainda com raiva da por ter se deixado ser capturada.
Perdi tanto a noção de tempo que acabei adormecendo ali mesmo, fui acordando aos poucos ouvindo vozes vindo do outro lado da parede, e neste momento a parede se abriu, eu me levantei de imediato, a primeiro momento temia que fossem os militares novamente. Sob um feixe de luz da lua, que entrava pela janela e iluminava a face do homem que estava em minha frente, mesmo apontando uma arma para mim, seu olhar era bem diferente do que já havia visto em alguém.
— Quem é você? — perguntou ele.
— Sou eu quem deveria perguntar, é você que está invadindo minha casa. — disse mantendo minhas mãos levantadas.
— Essa casa?! — ele ficou um pouco confuso — Sua casa foi atacada?
— Sim. — assenti meu pai e minha irmã foram levados.
— , encontrou algumas coisa? — perguntou uma mulher entrando na casa.
— Sim. — ele se virou para ela — Uma sobrevivente.
— Só ela? — perguntou a mulher se referindo a minha.
Ele voltou seu olhar para mim.
— Sim. — respondeu a mulher — Por favor, Kate nos espere lá fora e diga a todos para se preparar, vamos voltar a base.
— Sim senhor. — mesmo demonstrando estar desconfiada, a mulher acatou a ordem dele e saiu.
— Quem são vocês? — perguntei vendo que sua roupa era totalmente diferente da roupa dos militares.
— Somos da Resistência. — respondeu ele dando um sorriso suave — Pode vir conosco se quiser, podemos protegê-la.
— Não podem. — respondi — Mas podem me ajudar a resgatar meu pai e minha irmã.
— Você não me disse o seu nome. — disse ele já mostrando interesse.
— Meu nome é Miller. — respondi.
— Você é filha do professor Julius Miller?!
— Você conhece meu pai?! — agora eu estava intrigada.
— Não pessoalmente, mas a história dele e de ter duas filhas especiais, é uma lenda entre todos, Força Militar e Resistência, há anos todos estão atrás de vocês.
— Acredito que sim, e a lenda é real.
— Então, vocês são mesmo super habilidosas?! — ele parecia um pouco admirado.
— Sim, mentalmente e fisicamente. — confirmei — Mas, eu não gosto de usar isso, não me sinto bem, já minha irmã.
— Como conseguiram levar ela?
— Não sei, eles injetaram algo nela que a fez ficar fraca. — respondi.
— Venha conosco, eu prometo que te ajudarei a resgatar sua família. — com convicção ele esticou a mão demonstrando sinceridade em querer ajudar.
— Aceitarei a ajuda. — disse pegando em sua mão.
— Bem, agora faz sentido você não querer nossa proteção. — ele riu de leve — Mas farei o possível para protegê-la mesmo assim.
— Obrigada pela sinceridade.
Ele estava mesmo sendo honesto, bem, aquela era mais uma habilidade que eu poderia explorar, analisar as pessoas e descobrir quando mente ou não, já estava decepcionada por ter acreditado em Clair. Depois de anos ter traído nossa confiança sem remorso, se eu conhecia minha irmã como eu conhecia, estava certa de que não deixaria essa traição impune, talvez poderia ser um dos motivos dela ter se entregado.
A caminhada durou cerca de duas horas e meia, até que chegamos ao que nomeiam de Quinta Base da Resistência, onde era o segundo comandante responsável. Ele me contou que todos da resistência estavam se mobilizando para fazer um grande ataque ao comando central das Forças Militares, onde provavelmente poderiam ter levado minha família.
Eu me acomodei em uma tenda que estava disponível, era de uma senhora que havia falecido a pouco tempo, eles não tiveram coragem de desmontar a tenda dela, pois era amada por muitos da base. Segundo uma senhora que tinha me instalado, chamada Charlie, eu talvez pudesse estranhar dormir em um colchonete no chão, mas ela nem imaginava que isso era a menor das minhas preocupações.
— quero que conheça James Small, meu superior. — disse ao entrar na minha tenda acompanhado a um homem grisalho e de semblante abatido.
— Prazer. — disse esticando a mão em cumprimento.
— me contou quem você é. — disse ele permanecendo com suas mãos no bolso da calça — Disse que sua irmã e o professor foram levados pela Força Militar.
— Sim. — assenti recolhendo minha mão — Preciso de ajuda, para achá-los e resgatá-los.
— Não podemos ajudar. — disse o homem com seu tom sério.
— Como assim senhor? — perguntou confuso — Estamos planejando nosso ataque a tanto tempo, se a ajudarmos, ela poderá nos ajudar.
— Sim. — confirmei.
— O que me garante que ela está sendo sincera?! — o homem me lançou um olhar intimidador — O que me garante que você não é um cavalo de Tróia aqui?!
— Nada pode te garantir, mas tenha em mente que eu odeio os militares tanto quanto o senhor, posso sentir todos os músculos do seu corpo se contraindo agora. — disse começando minha análise sobre ele — Você quer pulverizar todos eles por terem tirando o que mais amava de você.
Desci meu olhar para a marca da aliança em seu dedo, depois voltei meu olhar para sua face.
— Você não foi o único que perdeu sua família. — disse com convicção — E não é o único que quer vingança.
— Acha que suas palavras vão me fazer confiar em você?! — ele retirou as mãos dos bolsos e cruzou os braços.
— Todos temos o benefício da dúvida, assim como preciso da ajuda de vocês, em troca lhes ofereço todas as minhas habilidades, da mais eficaz até a mais descartável. — retruquei demonstrando estar aberta a uma talvez breve aliança.
— Senhor?! — insistiu .
— Talvez. — consentiu ele se virando e saindo da tenda.
— Obrigado. — disse dando um sorriso singelo.
— Eu que agradeço. — sorri de volta para ele, sentia que nele eu realmente poderia confiar, apesar de não conhecer direito.
“Todo mundo chora,
Mas não hoje, não hoje,
Porque eu não vou deixar.”
- Never Been Better / Olly Murs
TroubleMaker
Dizem que a vingança é um prato que se come frio, mas no meu caso eu iria cozinhá-la muito bem, até chegar o momento certo de saborear da melhor forma possível. Acho que até poderia fazer uma sobremesa para celebrar minha vitória!
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Não sabia onde estava, não sabia nem mesmo como eu tinha perdido a consciência, só me lembrava daquele veneno correndo em minhas veias paralisando meu corpo. Como aquilo tinha sido feito? De onde aquela traidora tinha tirado? Não importava, naquele momento eu só precisava voltar a minha sanidade e traçar minha rota, pelo menos sentia que estava em segurança.
Assim que meus sentidos foram voltando, comecei a perceber que estava sentada a uma cadeira com meus braços para trás aparentemente algemados. Tinha um leve cheiro de mofo, misturado a sensação de molhado, ainda de olhos fechados continuei fingindo que estava desacordada, ao longe o som de passos começou a surgir aumentando o volume a cada segundo.
Então veio o barulho de uma porta que certamente estava enferrujada, se abrindo com mais algumas respirações um pouco temerosas e uma suave. O que me chamou a atenção, alguém ali não tinha medo de mim, e estava querendo saber quem era, fui abrindo meus olhos bem devagar.
No início minha visão ainda estava embaçada, mas aos poucos fui fazendo com que se recuperasse logo e focasse no homem que estava diante de mim. De braços cruzados, boa postura, olhar intenso e face séria, obviamente era ele o dono da respiração tranquila, e atrás havia mais três soldados que me olhavam receosos.
— Miller, a gêmea primogênita. — sua voz parecia impor respeito, grossa e um pouco rouca, porém firme.
— E você é?! — deixei minha cabeça erguida focando meu olhar somente nele.
— Capitão Lee . — respondeu ele — Sou responsável por você a partir de agora.
— Hum. — sorri de canto —Responsável por mim, estão com medo que eu cause problemas? Acho que sim.
— Ao contrário dos outros, não tenho medo de você. — afirmou ele com uma entonação invejável.
— Estou vendo, acho que terei que mudar isso. — sussurrei mordendo meus lábios inferiores.
— Formalmente eu deveria lhe dar boas-vindas a base, mas acho que desta forma é melhor, você parece confortável onde está. — comentou ele.
— Ah, sim. — eu ri — Então é assim que você trata as mulheres?
— Agradeça esse tratamento ao major Dimitri, não a mim. — ele olhou para um dos soldados — Tire as algemas e leve-a para seu quarto.
— Não deveria dizer cela? — retruquei olhando para o soldado também.
— Defina como preferir. — ele me olhou — Apesar de que a forma em que trato uma mulher, não ser da sua conta.
Ele se virou em direção a porta.
— Onde está meu pai?! — perguntei. — No lugar onde nunca deveria ter saído. — ele deu alguns passos até a porta — O laboratório.
Assim que se retirou, eu tinha dois caminhos. Ou matava os soldados pegava meu pai e saia daquele lugar, ou permanência e preparava minha vingança da melhor forma possível. Apesar de querer muito encontrar novamente, minha segunda opção estava um pouco mais atraente, eu queria somente uma oportunidade para arrastar a cara de Clair no asfalto.
Me mantive tranquila deixando o soldado me desprender e o acompanhei até meu quarto, que para minha surpresa era realmente um quarto. Esperei o soldado sair e caminhei até a janela me espreguiçando, olhei para o lado de fora e avistei dando algumas ordens a dois soldados.
Aparentemente o quarto onde estava tinha uma vista maravilhosa que quase todo a base militar, e parecia estar no terceiro andar do prédio. Um carro apareceu ao longe vindo em direção ao portão central, passou pela portaria e seguiu até estacionar ao lado de uma pilha de caixas de papelão.
Clair saiu de dentro do carro acompanhada de outro soldado, respirei fundo fechando meus punhos, tinha me controlar, me afastei da janela e me voltei para dentro do quarto, comecei a socar a parede para aliviar a raiva. Em poucos minutos um buraco já havia se formado e eu estava um pouco mais relaxada, entrei para o banheiro e vi uma toalha dobrada com uma roupa ao lado.
Aceitei de bom grado aquela sugestão, estava mesmo precisando de um banho e roupas limpas. O tempo foi passando comigo naquele quarto, comecei a me sentir tão entediada, que comecei a meditar um pouco, foi quando a maçaneta de mexeu e a porta abriu. Era meu capitão favorito.
— Veio me trazer o jantar, senhor Lee? — perguntei mantendo meus olhos fechados.
— Não é minha função fazer isso. — respondeu ele naturalmente.
— Você não é o responsável por mim? — brinquei.
— Em tese sim.
— Estou entediada, poderia me ajudar com isso. — comentei.
— Não tenho tempo para brincar com crianças. — retrucou ele se mantendo sério.
— Acha mesmo que sou uma criança.
— Sim. — admitiu — A propósito, como sabia que era eu?
— Sua respiração. — respondi — É a única que não se altera perto de mim, ao contrário de sua acompanhante, pelo que posso sentir do perfume desagradável, é a traidora do século.
Assim abri meus olhos e os foquei em Clair.
— Olá, veio se certificar que eu estaria amarrada em uma cela?! — perguntei com deboche.
— Bem que eu queria isso, mas é muito cavalheiro para isso. — respondeu ela.
— Desviei meu olhar para ele, então você gosta de jantar com aquelas que possam lhe dar veneno misturado ao vinho? — perguntei a ele.
— Não vou participar desta troca de amores de vocês duas. — ele desviou seu olhar para a parede — Este buraco não estava aí.
— Como eu disse, estou entediada. — sorri com deboche para ele.
— Não se preocupe, amanhã terá lhe farei gastar todas as suas energias, da forma mais cansativa possível. — disse ele se voltando para a porta — Quanto ao seu jantar, será enviado em breve.
— Pensei que me convidaria. — dei de ombros virando meu olhar para a janela.
— Muito prepotente de sua parte. — comentou Clair saindo primeiro.
— Quem sabe. — disse ele sorrindo de canto — Se me derrotar em uma luta justa.
— Hum, eu gosto de yakissoba com muito frango, não se esqueça. — ri de leve fechando os olhos novamente.
Meu corpo estava tão energizado que não conseguiria dormir, então passei a noite lutando contra minha hiperatividade enquanto meditava. Infelizmente em alguns momentos meus pensamentos se prendiam a e se ela estava bem ou não, desejava que sim, e que ela se mantivesse segura e afastada de toda aquela guerra.
Na manhã seguinte, assim que o sol apareceu no horizonte, fui acordada pelo meu responsável. Passei alguns segundos me perguntando em que momento da madrugada eu tinha conseguido dormir, até que finalmente minha mente se focou em acordar os músculos do meu corpo e eu levantei da cama.
Coloque o uniforme de treino que ele tinha levado para mim, o segui até a área de treinos que tinha sido reservada especialmente para mim. Havia muitas pessoas em volta, talvez curiosos para saber se realmente eu era tudo que as falsas lendas e boatos diziam, já de minha parte, estava mesmo curiosa para ver o grau de força e persuasão que o capitão Lee tinha.
— Aqui estamos. — disse ao para alguns passos atrás dele.
— Clair me contou que você continuou a treinar, mesmo sem um instrutor. — disse ele se virando para mim — Sua força deve ter aumentado.
— Sim. — mantive meu olhar nele, porém atenta aos curiosos ao nosso redor — O que tem?
— Vamos começar os testes básicos. — explicou ele — Eles ainda querem saber se seu sangue é a evolução que tanto queriam.
— Seus superiores acham que podem pegar meu sangue para fazerem soldados mais fortes?
— Sim, mas antes, veremos até onde você aguenta.
— Então é assim que você trata uma mulher.
— Não se preocupe, serei o mais cavalheiro possível. — ele piscou de leve para mim.
Aquilo me impressionou.
Perturbador imaginar que ele possuía um certo charme.
Até onde eu iria? O quão forte eu era? Aquilo era uma incógnita até mesmo para mim, mas começaria meus testes da forma mais divertida possível para mim. Ao longo de todas as barreiras físicas que eu tive que enfrentar aquele dia, descobri que meu corpo estava um pouco mais resistente às dores, além de ágil.
Porém o que me impressionou mais, foi a forma em que alguns pequenos arranhões que se formaram em meu braço começaram a cicatrizar com precisão e rapidez. Ao final do dia, meu pai me examinou, aquela era a primeira vez que tinha o visto após acordar, ele parecia aliviado em me ver, porém triste por eu estar ali, no lugar onde ele sempre lutou para me manter afastada juntamente com .
— E como está se sentindo? — perguntou ele.
— Bem, na medida do possível. — disse olhando para a agulha que ele injetava em meu braço — Meu corpo parece quer ficar dolorido, mas meus músculos estão em uma espécie de paralisação, como uma anestesia, não sinto nada, nem mesmo essa agulha.
— Talvez possa ser uma forma de proteção, sua mente não quer sentir dor para poder focar em como pode recolocar seu corpo em ordem.
— Ou o corpo dela pode estar agindo sem o comando do cérebro, para que sua mente possa se manter relaxada e focada para curar as partes mais afetadas. — concluiu parado na porta de braços cruzados.
— Olha, alguém andou frequentando as aulas de biologia. — brinquei desviando meu olhar para ele — Veio se certificar de que eu e meu pai não planeje uma fuga?
— Como disse, sou o seu responsável, estou aqui para ver se está tudo bem com você. — reforçou ele.
— Hum. — resmunguei.
— Mas o que disse pode ter razão. — disse meu pai retirando a agulha do meu braço — Seu corpo tem evoluído constantemente, principalmente a parte interna, seus órgãos realmente podem começar a se proteger individualmente para não sobrecarregar o cérebro, é uma possibilidade a ser considerada.
— E qual o lado positivo e negativo? — perguntei.
— Positivo, você poderá se manter focada em uma luta sem ter que se preocupar com a parte danificada do seu corpo caso houver… — meu pai foi interrompido.
— Lado negativo, dependendo de onde você se machucar, não conseguirá se curar com rapidez, seu corpo ficará em proteção, seu cérebro poderá entrar em colapso, sem saber qual decisão tomar.
— Estou começando a achar que se formou na feira de ciências. — brinquei mantendo meu olhar nele — Não se preocupem, meu corpo consegue aguentar qualquer coisa, além do mais meu responsável jamais me deixaria chegar ao limite.
— O que te faz pensar nisso?
— O momento em que encerrou nosso treino hoje. — desviei meu olhar para a janela — Eu ainda conseguia correr mais alguns quilômetros.
— Aposto que sim. — ele se virou — Vamos colocar que eu não queria que batesse meu recorde.
Ele saiu do laboratório.
— Você estava mesmo chegando ao seu limite. — alertou meu pai — Que pessoa corre por tanto tempo sem parar para beber água pelo menos.
— Eu sei. — o olhei — Prometo que vou me cuidar da próxima vez.
— Espero que sim. — ele deu um leve beijo em minha testa — Agora vá descansar, tenho que examinar seu sangue.
— O que acha de ficarmos aqui, por mais um tempo? — perguntei — está mesmo longe de toda essa confusão, eles tendo a mim, não procurarão por ela.
— Está pensando em algo? — ele me olhou intrigado.
— Bem, além de acertar minhas contas com uma certa traidora, talvez eu esteja interessada em continuar meus treinos.
— Isso se deve ao capitão Lee?
— Talvez. — sorri de leve — Quero ver se sua força é equivalente a sua inteligência.
Tinha que admitir que eu estava me sentindo um pouco atraída por ele.
“Diga-me agora que eu chamar sua atenção?
Você ouviu a resposta para sua pergunta?”
- Never Been Better / Olly Murs
5. Look At The Sky
Em toda a história da humanidade, tempos de guerra nunca foram bons e este não seria diferente, talvez pudesse fornecer mais brilhos de esperança, mais abraços reconfortantes, mais sorrisos calorosos. Apesar de estar entre pessoas que queriam me ajudar e se mostravam gentis, um certo olhar me chamava a atenção, o que me deixava ainda mais intrigada.
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As semanas foras se passando. Eu ainda permanecia preocupada com minha irmã e sem saber se meu pai ainda estava vivo, não podia sair da base da Resistência sozinha e estava sempre sendo vigiada, algo que me deixava um pouco incomodada.
— Ah, nada contra as pessoas daqui, mas seu superior ainda acha que eu sou uma inimiga. — reclamei ao entrar na minha tenda.
— Se acalme um pouco, de certa forma ele está certo, não podemos sair a luz do dia como se não houvesse perigos. — entrou atrás de mim, tentando me acalmar — Se formos pegos, não sabemos o que poderiam fazer conosco.
— Eu sei de devemos ser cautelosos, mas… — respirei fundo — Estou aqui há semanas com vocês e até agora não tenho notícias da minha família.
— Se acalme um pouco. — ele tocou em meu ombro — Você disse que sua irmã era importante para eles e sabendo sobre o professor Julius, tenho certeza que a Força Militar não faria nenhum mal a eles.
— Pode ser que esteja certo, mas dentro de mim não consigo ficar em paz. — me afastei um pouco dele e me sentei na cadeira — Me lembrar que minha irmã se deixou ser pega, para que eu pudesse ficar livre.
— Imagino que seja doloroso ficar longe dela. — disse ele colocando as mãos nos bolsos — Eu também tenho um irmão mais velho, não o vejo há muito tempo.
— Você foram separados também? — perguntei.
— Digamos que sim, ele defende os militares, porém eu não concordo com a soberania dos Generais da Força Militar, principalmente o general Han.
— General Han?!
— É ele quem governa a Força Militar da Ásia. — explicou .
me contou sobre o tempo em que esteve no exército da Força Militar junto com seu irmão, sobre o momento em que ele se deparou com um massacre que os soldados do leste tinham causado em um pequeno vilarejo de refugiados de Xangai, e começou a repudiar as ações da Força Militar.
Segundo ele, seu irmão não havia acreditado em seu relato, e era uma pessoa extremamente leal ao major Chang, pois tinha salvado ambos, quando eram crianças de uma explosão causada em um confronto entre a Resistência e a Força Militar. Eles tinham somente sete anos, quando os pais foram mortos nesse confronto, eles acabaram órfãos no meio do fogo cruzado.
Porém o major Chang os salvou, os levou para a base central em Seul. Eles cresceram em meios aos treinamentos e se tornaram militares de alta patente, de certa forma sua infância lembrava a minha. Em muitas coisas se parecia comigo, principalmente em odiar a guerra e querer a todo custo, que tudo aquilo acabasse.
Era bom conversar com ele, eu me sentia em paz e leve, como se toda aquela situação de tensão e perigo que vivíamos, não existisse. Quando estávamos dentro da minha tenda conversando, todos os problemas e incertezas ficavam do lado de fora, eu me esquecia de toda aquela guerra.
— É triste saber que a maior causa dessa guerra é a sede pelo poder. — comentou esticando uma xícara de chá para mim.
— Sim. — assenti pegando a xícara — Triste.
— , você disse que em uma parte da sua infância foi feliz, fiquei curioso.
— Hum, aquele lugar que me encontraram, foi a melhor parte da minha infância, desde os meus dez anos. — expliquei — Antes disso morávamos em outro lugar sob a vigilância dos militares.
— O que aconteceu? Como conseguiram fugir?
— Em um dia de treinamento básico, o tenente que era nosso instrutor de agrediu, então a bateu em sua cabeça com um tronco de árvore. — suspirei fraco — Foi tão forte que a pancada o matou, então tivemos que fugir.
— Nossa.
— De alguma forma eu agradeço por isso, tivemos uma vida normal por alguns anos. — pensei por um tempo — Bem, meio normal.
— Por que?
— sempre gostou desse nosso lado especial, além do mais ela sempre foi mais forte que eu. — ri de leve.
— Mas você também é forte. — comentou ele — Eu te vi treinando um pouco ontem há noite.
— Só ontem? — o olhei.
— Confesso que tenho te vigiado, mas não por que não confiou em você.
— Tudo bem, não precisa se explicar. — sorri para ele — Já te agradeço por não olhar para mim como se eu fosse uma aberração.
— Lamento por isso. — ele respirou fundo — Algumas pessoas daqui ainda sentem medo de você.
— Sim, mas existem outras que me tratam muito bem. — desviei meu olhar para a tenda — Não posso culpá-las, teoricamente eu sou um arma de laboratório.
— Eu te acho bem mais do que isso. — sua face estava tranquila.
Seu olhar era singelo e sereno, algo que me deixava ainda mais calma e em paz ao seu lado, o que me fazia querer olhá-lo a todo momento.
— Sério?
— Sim. — ele sorriu — Te acho uma pessoa maravilhosa, bonita, inteligente e gentil.
— Agradeço a sinceridade. — sorri para ele.
era mesmo muito gentil.
Três dias se passaram e para minha surpresa, o senhor James estava organizando uma invasão que faríamos em uma base da Força Militar, que tinha se instalado recentemente em um território estratégico. Além de muitas armas, eles também possuíam suprimentos que seriam de grande ajuda para nós.
Aquela seria a primeira operação em que eu estava oficialmente convidada a participar, já que nas duas últimas eu tinha ido escondida e acabei salvando o dia, literalmente.
— Obrigada por ter me deixado no seu grupo. — disse ao me aproximar de .
— Eu sei que você não se dá muito bem com a Kate. — explicou ele — Além do mais, suas intuições são muito boas.
— Ah, está dizendo isso pelo que falei, sobre entrarmos pela lateral?
— Sim. — assentiu.
— Bem, digamos que não é somente minha força que seja uma das minhas habilidades. — ri baixo — Aliás, sempre foi mais forte que eu, porém em outras qualidades eu sou melhor que ela.
Ele me olhou surpreso, então toquei em seu braço o fazendo parar, me abaixei e mostrei uma linha que estava estrategicamente atravessada naquela passagem, engatilhada a uma granada. assentiu e fez o gesto para todos os outros quatro que estavam atrás de nós, para que ficassem atentos.
Naquele momento eu tomei a dianteira e comecei a guiá-los, entrar pela lateral do prédio era sim uma boa estratégia, porém muito arriscada. Afinal, todo o espaço estava minado e muito bem equipado com armadilhas que poderiam ser fatais para nós. Um simples movimento brusco colocaria tudo a perder e todos morreriam.
Mesmo que minha visão estivesse a cem por cento, não era o suficiente, então respirei fundo e me concentrei para que todos os outros sentidos se despertassem e fossem ativados ao seu máximo. Aquela sim era a minha habilidade mais que especial, enquanto os músculos do corpo de era dez vezes mais fortes e resistentes que os meus, meu cérebro era capaz de manipular meus sentidos e raciocinar dez vezes mais rápido que o dela.
Engraçado, que apesar de ambas sermos geneticamente modificadas, nossos níveis de habilidades eram inconstantes o que nos faziam ser incompletas, quando estávamos uma sem a outra.
— Aposto que tudo o que precisamos está bem naquele galpão ao centro. — sussurrei para .
— O que te faz pensar assim? — perguntou ele.
— Por que é o lugar mais cercado daqui. — disse de forma óbvia.
— Tem alguma sugestão de como vamos entrar?
— Não, mas já sei como vamos sair. — disse apontando para a caminhonete que estava estacionada ao lado de algumas caixas — Você sabe por onde o grupo da Kate iria entrar?
— Segundo ela, pelo sul. — respondeu ele — O que me deixou preocupado, geralmente ao sul de toda base fica o alojamento dos soldados.
Assim que ele fechou a boca, uma explosão se deu ao sul, o que indicava que nosso elemento surpresa tinha sido deletado. Logo uma nuvem de fumaça pairou sobre o lugar e o som de tiros começou, era a nossa deixa para entrar e fazer nossa parte, pegar os suprimentos e as armas.
Em um breve momento eu me afastei de , precisava aproveitar naquela oportunidade para obter respostas, e foi o que fiz. Corri em direção a parte em que os responsáveis pela base provavelmente estavam, por sorte todos ainda se encontravam no prédio principal se organizando para o contra-ataque.
Porém fui mais rápida que eles, assim que entrei no prédio avancei contra eles, mesmo não sendo tão forte e resistente quanto , eu ainda tinha uma força surpreendente, que me dava vantagem contra eles. Assim que os rendi, aproveitei para fazer minhas perguntas.
“Estou 100% e não tem medo de cair,
Eu vou arriscar tudo.”
- Never Been Better / Olly Murs
6. Seasons
Podemos chamar a guerra de um ciclo vicioso, quanto mais você lutar pela paz, mais guerra você gera para consegui-la. Era isso que estávamos enfrentando naquele momento, porém nossa luta agora estava sendo para nossa sobrevivência.
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Em meio às explosões, tiros, correria e gritos, lá estava ela saindo do prédio principal em estado de choque. Com um pouco de dificuldade e muitos obstáculos pelo caminho, consegui chegar até ela, estava com um rosto pálido, como se tivesse visto um fantasma.
— , estava tudo bem? — perguntei.
— Não. — sussurrou ela, seus olhos relutava em não lacrimejar.
— Eles conseguiram. — sussurrou ela — Conseguiram.
— Quem conseguiu? — insisti sem entender nada.
— Eles transformaram minha irmã na arma que queriam. — sussurrou ela — Estou usando ela.
Por um piscar de olhos, senti algo vindo em nossa direção, joguei meu corpo para frente e a derrubei no chão junto comigo. Logo uma granada explodiu ao nosso lado, olhei em sua face e ela parecia estática com tudo aquilo, tanto que não estava reagindo a tudo que estava acontecendo atualmente.
Peguei pela mão e a puxei comigo, saímos correndo pelas laterais até que finalmente chegamos perto da parte mais baixa do muro. Meu grupo provavelmente já estava reunido com os que sobraram do grupo de Kate, o plano estava seguindo o curso que deveria.
Minha preocupação naquele momento era com , tinha que tirá-la dali antes que toda aquela distração e explosões planejadas acabassem. Pulamos o muro e seguimos por uma trilha que levava à praia, caminhamos por um longo tempo pela orla, até que parei em frente uma cabana velha.
A levei para lá, ainda parecia abalada não físico, mas mentalmente.
— O que realmente descobriu? — perguntei a sentando na escada da varanda.
— Os superiores que estavam no prédio, um deles era capitão. — disse ela pausando um pouco — Disse que e meu pai, estão vivos e muito bem, nunca foram tratados como prisioneiros.
— O que quer dizer? Eles estão do lado dos militares? — perguntei um tanto confuso.
— Sim, conseguiram transformar minha irmã na grande arma deles. — sussurrou ela — se transformou na segunda, no comando da base central.
— Quem é o primeiro? — perguntei.
— Não sei, capitão Lee, eu acho. — ela me olhou — Você o conhece?
— Sim, é o meu irmão. — confirmei.
Engoli seco, imaginando no que a Força Militar poderia planejar contra a Resistência, caso fosse realmente verdadeira esta informação.
— Passei todo esse tempo achando que eles poderiam estar sofrendo. — disse ela — Me sentindo culpada por terem levado da forma que a levaram, mas agora vejo que ela realmente queria isso.
— O poder às vezes cega as pessoas. — tentei consolá-la sem sucesso — Mas no caso do meu irmão, é lealdade e gratidão, talvez no caso da sua irmã seja isso também, ou outro motivo.
— Ela disse que iria por vingança, por Clair ter nos traído, fingindo ser da família, mas acabou sendo por outra coisa, só não sei o que. — retrucou ela.
— Bem, agora pelo menos sabemos onde estão. — eu estendi a mão para ela — Acho que está mais do que na hora de fazermos uma visita a eles.
— Sério? — ela me olhou surpresa.
— Você tem ajudado a Resistência a semanas, a única coisa que pediu em troca era ajuda para localizar a sua família, mas acabou fazendo isso sozinha. — admiti — Então, nada mais justo que te ajudar a rever sua família.
— Mas, o senhor James não irá concordar. — sibilou ela.
— Tenho certeza que sim, vou convencê-lo. — afirmei com segurança — Eu também quero fazer uma pequena visita ao meu irmão.
Ela sorriu de leve e pegando em minha mão se levantou. Seu rosto não estava mais estático, nem triste, parecia um pouco mais serena, o que me deixou aliviado e despreocupado, minha super garota estava em equilíbrio novamente.
Permanecemos por um longo tempo caminhando pela orla da praia, quanto mais eu ficava em seu lado, mais eu queria mantê-la a salvo dos militares. Meu coração estava batendo um pouco acelerado por ela, porém em meio a guerra, eu me preocupava se era prudente ou não me aproximar mais.
Assim que chegamos a base, fui diretamente até a tenda de James, iria cumprir minha palavra.
— O que? Não. — disse James ao discordar de meu pedido.
— James, estamos preparando este ataque há tempos, este é o melhor momento.
— Melhor momento por que? Por que ela descobriu onde está sua irmã? — retrucou ele alterando o tom da sua voz — Como mesmo me disse, a irmã dela agora está definitivamente do lado inimigo.
— Mas isso pode ser revertido, tenho certeza que pode convencer a irmã a se juntar a nós. — eu o olhei sério, respirei fundo tentando não me deixar enfurecer — James olhe ao seu redor, estamos na defensiva a anos, nos arrastando e sacrificando para manter essas pessoas a salvo e com suprimentos, perdemos três amigos nessa última operação.
— E você acha que essas aberrações podem nos ajudar.
— Não fale assim delas. — gritei fechando meus punhos — Exijo que respeite e sua irmã. — respirei fundo — Se não quer participar, não o obrigarei, mas vou reunir todos os que querem lutar de verdade.
— Você não pode passar por cima das minhas ordens. — gritou ele.
— Quer apostar? — o enfrentei com o olhar — Se esta base está de pé, sabe a quem deve isso.
Eu me virei e saí da tenda dele, estava do lado de fora, de certo tinha ouvido tudo.
— Agradeço, por tudo que está fazendo por mim. — disse ela dando um sorriso fechado.
— Acredite, não é só a sua família que está do lado errado. — retribui o sorriso — Além do mais, todos sabemos que a melhor defesa é o ataque.
— Verdade. — concordou ela.
— Querendo ou não, a Resistência já ficou tempo demais na defensiva, chegou nossa hora de atacar.
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— Estava enganada. — disse jogando um pasta amarela em cima da mesa.
— O que é isso? — perguntou levantando da banheira de espumas e se enrolando na toalha.
— Isso é a prova que sua outra metade nunca se manteve longe da guerra. — a expliquei me sentando na cadeira — O que tem a me dizer?
— Não está achando que tenho algo com isso?! Está? — ela abriu a pasta e analisou superficialmente as fotos e informações.
— Me diz você, não é a mulher maravilha? — disse de forma irônica.
— Odeio quando fala assim. — ela fechou a pasta e me olhou séria — Não sei o que minha irmã está tramando, mas acho que não deveria descontar em mim.
— E em quem devo descontar? — cruzei os braços.
— jamais faria mal a alguém, ela odeia essa guerra. — se espreguiçou — Aposto que minha irmãzinha não seria mentora de um ataque.
— Este foi o terceiro que ela possivelmente estava envolvida. — retruquei.
— Possivelmente. — enfatizou ela — Nos dois primeiros, a foto dela não estava legível e mesmo que fosse... Acha que é um aviso?
— Não sei, de diga você. — suspirei fraco.
— Acha mesmo que tenho cara de adivinho? — ela bufou — Vamos supor que seja mesmo um aviso, teoricamente, seu próximo alvo seria a base central.
— Faz sentido.
Eu me virei e o para o quarto, minha cabeça estava uma mistura de preocupação com pensamentos desnecessários, o que me causava dores frequentes. Não era somente que me preocupava, mas também meu irmão que havia aparecido naquelas fotos, mesmo estando do lado oposto, continuava sendo meu irmão.
Eu já havia dado uma ordem de reconhecimento, nenhum soldado tinha a permissão me matá-lo, mas em uma invasão como as que haviam sido reportadas a mim, era difícil controlar esta ordem. Levando em consideração que todas as bases da Força Militar eram consideradas campos minados.
— Não é somente com minha irmã que está preocupado, não é?! — perguntou ela saindo do banheiro ainda enrolada na toalha — O que mais te incomoda?
— Preocupações à toa. — desviei meu olhar para a janela.
— O nome dessa preocupação é ?! — perguntou ela se aproximando de mim — Ainda se preocupa com seu irmão.
— Tão óbvio. — suspirei mantendo meu olhar para o horizonte — Mal de irmão mais velho.
Ela riu um pouco, parecia concordar.
— De certa forma, me sinto mais aliviada em saber que está em segurança com seu irmão, mas me pergunto até quando.
— Ambos devem querer nos salvar de nós mesmos. — fiz uma breve suposição, desviando meu olhar para ela — Onde estão sua roupas senhora?
— Está tão incomodado assim? — ela deu um sorriso malicioso.
— Não deveria estar aqui no meu quarto.
— Ainda quer manter nossa união em sigilo? — ela cruzou os braços — Ou ainda precisamos assinar papéis para formalizar?
— Cautela, esta é a palavra. — disse respirando fundo — Não quero que utilizam disso para benefício militar.
— Pensei que fizesse tudo por eles. — sibilou ela surpresa.
— Parte da minha vida eu dedico a Força Militar, mas você não está no pacote. — respondi com segurança — Apesar de acharem o contrário, não te vejo como uma arma.
— Já percebi isso. — ela sorriu — Já senti também.
— Então espero que entenda, não quero dar o mínimo de possíveis ideias para eles, relacionado a você. — aquele era meu tom sério de preocupação.
era sim forte e excepcional, mas ainda era humana, eu sempre a vi desta forma. O que se intensificou, quando ela se seduziu por completo, me fazendo apaixonar por ela, algo que me deixou um pouco desnorteado no início. Eu voltei meu olhar para a janela, enquanto ela se trocou, colocando minhas roupas.
Na manhã seguinte após o café da manhã, e eu decidimos correr um pouco pela orla do rio Han. Era comum nossa corrida matinal em meio aos treinos, era esse o tempo em que aproveitávamos para nos distanciar da base o máximo que podíamos.
— Então, não é somente pelo treino que me trouxe aqui. — disse ela após me derrubar no chão pela terceira vez — Além do mais, você não está muito concentrado hoje.
— Preciso admitir isso? — perguntei sorrindo de canto.
— Sim. — ela caiu ajoelhada ficando por cima de mim, e apontando a barra de madeira que estava em suas mãos — Diga, o que está tomando sua atenção.
— Poderia falar que é sua beleza, mas ando pensando em outra coisa. — confessei.
— O que seria? — ela tombou o corpo para a direita se sentando ao meu lado — Não me disse que está pensando em nossos irmãos?
— Não, desta vez estou pensando em seu pai. — respondi — A última vez que vimos o professor, ele foi enviado para BEQ com várias amostras do seu sangue.
— O que está presumindo? — perguntou.
— Ando tendo alguns questionamentos por muito tempo, mas prefiro não pensar em coisas desnecessárias. — desviei meu olhar para o rio.
— Acha que eles retomaram as pesquisas? — indagou ela — Não creio que meu pai aceitaria fazer a tal vacina com a base do meu sangue, ainda mais depois de tudo o que passamos.
— Ele aceitou voltar a BEQ, não aceitou?
— Sim, mas ele me garantiu que jamais faria isso. — confirmou ela segura em suas palavras — Essa experiência se encerrou em mim e na .
Assenti, mantendo minha atenção no rio. Instantes depois ouvimos um estrondo seguindo de explosão vindo da base, naquele momento algo me confirmava que estava envolvido.
“Apenas começando a obter tudo o que eu quero,
Nada pode me segurar.”
- Never Been Better / Olly Murs
7. Never Been Better
Sempre nos disseram que quando enxergamos uma luz no final do túnel, significava que tudo estava acabado, porém só existe uma meia verdade nessas palavras. Em raros momento, o final é apenas o início.
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Estava tudo saindo como planejado, não chegaríamos em silêncio desta vez, afinal queríamos mesmo deixá-los desestabilizados, enquanto arrastaríamos nossa família para longe dali. Uma ideia louca e mais mesmo tempo audaciosa.
— Não me diga que foi para isso que te deixei naquela parede?! — disse uma voz vinda de trás de mim.
— . — eu me virei — Está viva.
— Era para você estar longe daqui. — disse ela.
— Não. — aumentei meu tom de voz — Vim para te levar comigo.
— Jura?! — ela sorriu de canto — Venham me obrigar então, quero ver o quanto a minha irmãzinha cresceu.
Se aquilo era um jogo dela eu não sabia, mas estava decidida a forçá-la a sair daquele lugar comigo. Eu nunca tinha lutado contra ela, não de verdade, deixei minha mente limpa e vazia de pensamentos inúteis, mesmo sabendo de era sim mais forte que eu, uma luta não se vencia somente pela força, eu usaria todas as formas que poderia para vencê-la.
No ápice do nosso confronto, minha atenção se desviou dela indo para em que estavam bem distante de nós, lutando com outro homem. Logo eu senti ao atingir meu corpo, me fazendo cair no chão, quando voltei minha atenção para , ela estava com alguns próximo a algumas toras de madeira.
Eu não podia me deixar enfraquecer, não naquele momento, foi quando começaram a atirar em minha direção, eu me desviei como pude me escondendo atrás de algumas caixas. Mais estrondos e explosões foram surgindo, meio aos tiros que vinham em minha direção, em um piscar de olhos localizou de onde vinham.
Ao pegar uma lâmina de madeira que estava junto das toras, ela lançou na direção da pessoa que atirava em mim, em segundo um corpo caiu do telhado do prédio principal. Desviei meu olhar para ela, que estava sorrindo com naturalidade.
— Sou sua irmã mais velha, lembra?! — sussurrou ela.
— , cuidado. — gritei.
Seis soldados estavam se aproximando dela. Tudo estava ficando ainda mais embaçado por causa das explosões, eu corri para a direção de que lutava contra os soldados militares que me aproximavam dela. Talvez por ela ter matado um deles, para me proteger, não me importava mais, eu iria lutar ao lado da minha irmã.
Em um certo momento, em que finalmente ficamos frente a frente novamente, segurou em meu braço me jogando no chão. Eu fechei os olhos no susto ao sentir uma granada explodindo próximo a nós, porém assim que abri meus olhos e a olhei, meu corpo gelou.
— . — gritei me aproximando dela, que já estava ajoelhada.
— Eu estou bem. — sussurrou ela — Só estava protegendo minha irmãzinha.
— Não. — seu corpo cambaleou — , fica acordada, por favor.
— Eu estou bem, já disse. — escorreu um pouco de sangue de sua boca.
Só ali eu tinha me dado conta, ela havia me empurrado para o chão, por que estavam mirando em mim.
— . — disse um homem ao seu aproximar de nós em aflição — Não, fala comigo.
— Oh. — se colocou ao meu lado e me fez levantar — Temos que ir.
— Não. — sussurrei voltando meu olhar para o homem que a segurava em seus braços — Não vou deixar minha irmã desta vez, foram eles que fizeram isso.
— O que? — o homem me olhou — Quem atirou nela?
— Seus amigos militares. — disse com amargura.
— Temos que ir agora. — o olhou — Venha conosco , cuidaremos dela.
Ele assentiu, parecia ainda mais abalado e desnorteado do que eu, o que tinha me deixado confusa e intrigada. Será que ele gostava da minha irmã?!
o ajudou a se levantar e carregar , mais do que para entrar e causar toda a confusão, foi difícil conseguirmos um transporte para sair daquela base. A maioria dos carros estavam incendiados ou explodindo por causa da gasolina deles, o que nos fez seguirmos para a direção do rio Han. mantinha um carro de fuga reserva escondido, em um ponto bem estratégico da orla.
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Eu não sabia definir o quão inconsciente eu estava, submersa em meio a escuridão e dor, em alguns momentos senti o perfume de , até mesmo o calor do seu corpo abraçando o meu, além da voz de gritando meu nome. Porém não conseguia dizer se era realidade ou minha mente afundada reproduzindo lembranças passadas.
Meu corpo estava imóvel, minhas pálpebras pesas, não conseguia obter nenhuma reação, era como seu nenhum músculo do meu corpo conseguisse se conectar com meu cérebro. Porém mesmo não conseguindo reagir, havia um sentido meu que ainda me mantinha em contato com o mundo externo, minha audição.
— Ah, não sabia que ainda estavam aqui. — disse uma voz desconhecida, após o barulho da porta se abrindo.
— Doutor. — a segunda voz era uma mistura de com .
— Estávamos esperando por mais informação. — aquela provavelmente era de .
— Bem. — o médico fez uma breve pausa — Nem mesmo eu tenho as respostas, fisicamente ela está cem por cento curada, como sabemos a regeneração celular de é muito rápida, todo o seu corpo está funcionando bem.
— Então por que ela não acorda? — perguntou .
— Não sabemos ainda, talvez seu corpo esteja em conflito com sua mente, ou não esteja conseguindo se conectar. — ele suspirou — Acontece que este tipo de coisa é inteiramente nova para mim como médico.
— Quer dizer que ela pode permanecer assim para sempre? — perguntou Jiyong, seu tom de preocupação era visível.
— Ainda não podemos afirmar nada. — respondeu o médico demonstrando cautela — Mas acho que devemos ser positivos, ela ter se recuperado fisicamente já é um progresso, agora só depende de sua mente.
— A mente, eu sempre fui mais forte que ela mentalmente. — disse , também estava preocupada.
— Vamos manter a esperança. — encorajou .
Após minutos de conversa ali onde eu estava, finalmente o médico os convenceram a se retirar do quarto onde eu estava. Segundo o profissional, eu precisava de descanso e silêncio para conseguir me reconectar, talvez ele estivesse certo, e era o que eu faria naquele momento.
Daria cem por cento de mim para controlar minha mente e fazê-la se encaixar em meu corpo novamente. Senti uma agulha picando meu braço, aquilo já indicava alguma coisa, o que me forçou ainda mais a me concentrar.
Então, assim que abri meus olhos, deu um sorriso satisfatório, lá no fundo estava me sentindo pronta para me vingar daqueles que ousaram contra minha vida e da minha irmã.
“Todo mundo morre,
Mas não hoje, não eu,
Porque eu nunca estive melhor.”
- Never Been Better / Olly Murs
Fim
Me desculpem qualquer de gramática ou betagem, não desistam de mim, kkkk...
Críticas e elogios sempre serão bem-vindos!!
Outras fics no FFOBS:
| 07. Never Been Better (ficstape Olly Murs) | 13. I Won't (Ficstape Little Mix) | 14. Goodnight Gotham (Ficstape Rihanna) | 17. Trust (Ficstape Justin Bieber) |
| Beauty and the Beast (Contos Dia dos Namorados) | Beauty and the Beast II | Coffee House | Cold Night | Crazy Angel | Destiny's |
| Electrick Shock (Especial Challenge #18) | Evidências (Especial: Arraiá) | First Sensibility | Genie | I Am The Best (mixtape Girl Power) | I Need You... Girl |
| Love of My Life (mixtape Classic Rock) | My Little Thief | Piano Man (mixtape Girl Power) | Photobook | Promise (Contos de Halloween) | Smooth Criminal |
| The Boys (mixtape Girl Power) | TVXQ: Tohoshinki | Wind Of Change (mixtape Classic Rock) |
Bjinhos...
By: Pâms!!!!
*Ps.: o link das fics vocês encontram na minha página da autora!!
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