Capítulo Único
Going out tonight
Changes into something red
Her mother doesn't like that kind of dress
Reminds her of the missing piece of innocence she lost...
Everything she never had, she's showing off
terminou de enxugar os cabelos com uma toalha, deixando-os naturalmente bagunçados, como os preferia, e colocou a calcinha e o vestido que tinha separado alguns minutos antes. Calçou uma sandália de saltos altíssimos e gostou do que viu no espelho, resolvendo acrescentar ao visual apenas um pouco de lápis preto e rímel, para dar destaque aos olhos. Estava preparada para sair naquela noite, e fechar com chave de ouro aquele dia que tinha sido, sem sombra de dúvidas, o melhor de toda a sua vida.
Desceu as escadas sorrindo, mas não havia sequer alcançado o último degrau quando escutou a voz da mãe e as palavras em tom severo que, normalmente, tinham o poder de diminuir consideravelmente sua empolgação. Eram invariavelmente as mesmas e respondidas quase sempre apenas com seu silêncio, seguido da batida da porta, mas talvez tivesse, finalmente, chegado a hora em que seria mais direta.
“Aonde você pensa que vai assim, mocinha?” Indagou a senhora , examinando a filha dos pés à cabeça e não gostando de vê-la em um vestido vermelho, justo, curto e decotado, que parecia colocar em um letreiro luminoso que sua menina já não era mais uma garotinha inocente.
Não que fosse novidade. Não que ela já não imaginasse que a filha não era mais virgem, apesar de jamais ter apresentado um namorado à família. Não que ela já não tivesse precisado engolir que a filha tinha uma carreira que a fazia ficar cercada de homens, o tempo todo, mas aquela roupa, aquela maquiagem, aquele salto que devia ter quase uns dez centímetros eram um desplante! Eram um descaramento!
Como podia ousar expor a toda a família daquele modo? Como uma garota que tinha saído de dentro dela podia ousar ser tudo que ela nunca fora, que ela abrira mão de ser, por respeito à própria família, ao amor, a Deus?
“Eu vou à minha festa, mãe.” Respondeu a garota, impaciente. “À festa que você sabe muito bem que está acontecendo em comemoração à minha vitória.”
“E você sabe que eu não me refiro ao lugar aonde você vai, mas a esse seu jeito...” Ela engoliu seco, não querendo realmente terminar a frase.
“Vulgar? Jeito de vagabunda?” Questionou, desafiadora, como há muito tempo já queria – e provavelmente deveria – ter falado com a conservadora mãe. “Você pode dizer, com todas as letras, e eu não vou me incomodar. Talvez eu queira mesmo sair como uma vagabunda e deixar claro, de uma vez por todas, que eu não concordo com a hipocrisia que impera aqui dentro dessa casa.” Declarou, decidida a colocar os pingos nos is.
Há muito tempo tinha ciência de que o pai, o respeitado pastor da comunidade pobre onde viviam, e a mãe, uma mulher que não conhecia do mundo nada mais do que sua pequena casa, a igreja e um mercado de bairro, tinham um casamento de fachada. Sabia onde ficava a mansão em que viviam a amante dele e os filhos que o Sr. tivera fora do casamento, e não ignorava que, enquanto sua mãe se escondia do mundo, a outra se mostrava por aí, com joias, roupas extravagantes e um carro de luxo, e não chegava nem mesmo perto do templo para ouvir os sermões do homem que sustentava seus caprichos.
“, você...” A mãe trincou os dentes, fechou os olhos, bem apertados, e cerrou os punhos ao lado do corpo, controlando-se, como sempre. Nunca tinha batido em um filho e não o faria agora, e nem gostava de levantar a voz. “Você pode já ser maior e vacinada, mas, gostando ou não, eu sou sua mãe e você ainda vive sob o mesmo teto que eu, e me deve satisfações e respeito.”
“Não, mãe.” Falou, com a voz calma e triste, balançando a cabeça, negativamente. “Eu não te devo satisfações, porque eu só moro aqui ainda pra não deixar o Will aguentar tudo isso sozinho!” Referiu-se ao irmão mais novo, que, com apenas quatorze anos, não poderia se mudar com ela, ainda que assim desejasse. “E quanto ao meu respeito, você o perdeu quando eu deixei de te ver como uma pessoa sofrida, e percebi que você escolheu se submeter a ser a santa e devotada mulher do pastor... Que preferiu viver essa personagem da esposa perfeita, da mãe rigorosa, da voluntária mais dedicada de todas aos necessitados a ser você mesma, a assumir que tem vontades, sonhos... Desejos!”
“Você não sabe o que tá falando. A vida vai te mostrar, .” A mãe retrucou, mas agora tinha perdido a altivez. Sua voz estava fraca e a cabeça baixa. Talvez a filha soubesse bem mais sobre sua personalidade reprimida do que ela poderia ter imaginado. Ela não era mesmo um poço de virtudes, se invejava as fendas e brilhos dos vestidos, e imaginava em sua boca cada tom de batom vermelho usado pelas atrizes, quando assistia, escondido, à transmissão televisiva da chegada das celebridades aos tapetes vermelhos de cada um dos grandes eventos.
“Pode ser que ela me mostre, mãe. Pode ser que eu quebre a cara. Todo mundo pode quebrar!” Observou. “Mas eu vou viver a minha vida do meu jeito! Eu vou sair dessa casa assim que eu puder tirar o meu irmão daqui! E, hoje, assim como em todas as outras noites, eu vou sair com a roupa que eu quiser, mesmo que você, o meu pai e todos aqueles pobres coitados carolas a quem ele engana, e de quem ele toma dinheiro, achem que eu to que nem uma puta!” Afirmou. “Boa noite, mãe.” Desejou, quando já fechava a porta atrás de si.
O sorriso tinha desaparecido de seu rosto, pois, apesar de tudo, amava os pais, e não queria ter perdido toda a admiração que uma dia tivera por eles. Não perderia, porém, sua festa de campeã por nada. Tinha certeza que o primeiro cumprimento de algum amigo ou de alguém da equipe faria aquela cena toda sumir de sua cabeça.
E, no final, se congratulações não fossem suficientes, ela sempre teria algumas doses de tequila para se anestesiar.
Driving too fast
Moon is breaking through her hair
She's heading for something that she won't forget
Em uma garagem alugada, a quatro casas de distância da sua, encontrou seu maravilhoso e bem cuidado carro esporte, comprado logo que tinha começado a ganhar o suficiente para investir tanto em um automóvel. Passou uma das mãos por ele, quase como se acariciasse um bichinho de estimação, afinal ele tinha um valor afetivo inestimável, e havia certa melancolia em pensar em trocá-lo. Imaginou que, talvez, mesmo tendo dinheiro o bastante agora, para investir em um modelo novíssimo, ainda mais potente e glamoroso, pudesse guardá-lo como um tesouro ou amuleto da sorte.
Decidiria sobre isso depois, então afinal entrou no carro. Saiu da garagem, virou duas ou três esquinas, e aproveitou que àquela hora da noite as ruas já estavam praticamente desertas para enfiar o pé, com vontade, no acelerador. Pelo vidro completamente aberto do veículo, o vento entrava, despenteando ainda mais seu cabelo – que brilhava com a luz da lua refletida nele. A sensação de poder e liberdade fez com que respirasse fundo e, enfim, um novo sorriso surgisse em seu rosto.
Havia esquecido que, antes mesmo de ver qualquer semblante conhecido ou de colocar umas boas doses de álcool em seu sangue, correria pelas ruas da cidade até o seu destino – e que correr, há muito tempo, tinha se tornado o melhor de todos os remédios para qualquer mal que, eventualmente, lhe acometesse. Correr era sua vida e carros, sob seu controle, se tornavam uma extensão dela mesma. A velocidade fazia com que se sentisse mais viva!
Mesmo quando ainda era uma menina ingênua, que frequentava a igreja e acreditava em tudo que seus pais diziam, já tinha um lado rebelde, que era justamente a paixão por carros e, especialmente, por corridas, herdada de seu irmão mais velho. Depois de ir à escola e ao culto, e de fazer os deveres de casa, fugia para visitar Noah, que era mecânico da Nascar Xfinity Series, e passava horas observando os pilotos fazendo seu trabalho.
Foi exatamente no dia em que descobriu que o pai tinha outra família, que ela aproveitou uma distração do irmão e entrou em um dos carros pela primeira vez, extravasando todo o seu ressentimento com uma pisada funda no acelerador. Deixou o rapaz louco, com medo que ela se machucasse, com receio de perder o emprego e também por tê-lo obrigado a lidar com o drama familiar, que acontecia bem debaixo do nariz de todos, e ele tinha se recusado a encarar até então.
Também foi nesse dia, no entanto, que ambos foram pegos de surpresa quando o chefe da montadora para a qual ele trabalhava não somente não o demitiu, como também convidou a garota a entrar para a equipe e substituir um piloto de testes, que passaria a competir alguns meses depois. E foi apenas após uma temporada trabalhando escondido, por saber que os pais não gostariam de vê-la exercendo uma “função masculina”, que ela teve que revelar tudo a eles e “comprar a briga”, ao acabar sendo convidada a assumir o lugar do segundo corredor da equipe, promovido quando o primeiro deixou a categoria para correr na Sprint Cup.
Mike Bretton era o nome dele e, três temporadas depois, o rapaz continuava na categoria principal, tendo sido campeão em algumas etapas, mas, na modesta opinião de , não tinha a corrida no sangue como ela. Provavelmente, até o final da temporada, acabaria perdendo seu lugar como principal piloto da Hendrick Motorsports para ninguém menos que a própria , que finalmente estava na Sprint e era sua parceira de equipe. A primeira vitória da equipe, naquele ano, tinha sido dela e não dele, no final das contas!
A garota, que crescera ouvindo falar que ambição e vaidade eram pecados, há muito tempo tinha percebido que justamente o pai era uma das pessoas mais ambiciosas e vaidosas que conhecia, e, por isso, não tinha nem um pouco de vergonha ou medo de dizer que queria, sim, conquistar muito mais do que uma vitória no circuito Watkins Glen International de Nova Iorque. Seu maior desejo na vida era um dia subir no pódio e receber o troféu de campeã da temporada.
E sua vontade naquela noite era comemorar muito o primeiro e inesquecível passo que ela tinha acabado de dar rumo ao seu maior – e na verdade único – sonho, até aquele momento.
Chasing it tonight
Doubts are running around her head
He's waiting, hides behind a cigarette
Heart is beating loud, and she doesn't want it to stop
Parando o carro em frente a uma das mais badaladas casas noturnas da Big Apple, tudo em que ela pensou foi em ver e abraçar Noah – que já não era mais mecânico da Stock Car e não pôde estar presente na corrida porque estava trabalhando em sua própria oficina naquela manhã – e em relaxar e esquecer-se da mágoa que tinha dos pais e de suas enormes preocupações com Will. Tudo o que ela procurava era diversão: beber, dançar a noite toda e talvez passar parte da madrugada na cama com algum fã interessante, mesmo que ainda achasse engraçada a ideia de ter seus próprios fãs.
Foi recebida com aplausos quando entrou no local, o que também não era nenhuma surpresa, e levantada do chão pelo irmão e por algumas das pessoas que trabalhavam junto à equipe. Ganhou uma quantidade enorme de abraços e elogios, e até o agradecimento de um dos chefes, mas o que ela não esperava encontrar, em sua visão periférica, era um de seus maiores adversários, sentado em um banco de bar e olhando-a fixamente, enquanto ela recebia todos aqueles cumprimentos, como se esperasse a vez dele de se aproximar.
a deixava desconcertada com sua presença, quando ela o encontrava nos boxes, e não poderia ser diferente ali, por mais que ela fosse a dona da festa, a estrela do momento. Ele tinha sido o maior ídolo dela pelos últimos quatro anos, sendo vice duas vezes e depois bicampeão, dentro do grupo que formava a elite do esporte, enquanto ela ainda fazia uma espécie de estágio bem remunerado. Ele era exatamente o que ela queria ser na profissão, e ainda era extremamente atraente, mas todo mundo tem pelo menos um defeito, e o dele parecia ser o fato de ter plena noção de que era tudo isso.
Ele tinha ficado em segundo lugar na corrida daquela manhã, não costumava aparecer em comemorações que não fossem relativas às conquistas dele e não tinha amizade com ela ou com qualquer pessoa de sua equipe. Sua presença naquele lugar, desacompanhado de amigos ou mesmo de uma garota, já tinha deixado bem curiosa, e ela ficou ainda mais confusa quando o viu receber duas taças de champanhe das mãos de um garçom e fazer um sinal, oferecendo-lhe uma delas.
“Parabéns, campeã.” Ele disse, entregando uma das taças a ela e, então, levantando a outra, em um brinde. Como ele não tinha sido nada discreto ao lhe acenar com o drink, ela não tivera outra saída senão se aproximar.
“Eu acho que devo dizer obrigada, né?” Respondeu ela, batendo a taça na dele e tomando um bem-vindo gole da bebida.
“Me parece educado.” Ele riu.
“Então, obrigada.” Repetiu a garota, tentando sorrir e não se mostrar nervosa, mas, depois de mais um gole, não conseguiu conter a própria língua. “Mas é... Me desculpa, mas eu tenho que te dizer que é bem estranho te ver aqui!” Declarou, sincera, arrancando risos dele novamente.
“Eu gosto de festas.” Ele deu de ombros.
“Você nunca foi a nenhuma comemoração, quando não ganhou, e já tivemos três corridas em que isso aconteceu.” Ela esvaziou a taça e a colocou no balcão.
“Então, não sei... talvez eu não tivesse nada melhor pra fazer.” Respondeu, com ar de desdém, mas continuou simplesmente ali, sentado, encarando a garota com um sorriso torto no rosto, que fazia com que ela não soubesse como agir, o que dizer ou onde colocar as mãos. Para piorar as coisas, não havia ninguém com quem ela tivesse o mínimo de intimidade por perto naquele momento, além do irmão, que por sua vez, estava aos beijos com a namorada, Grace.
“Tem fogo?” Ela perguntou, tendo decidido que pegar um cigarro na bolsa e fumar, depois de vê-lo pedir mais duas taças de Moet Chandon, seria uma boa maneira de “se esconder”, visto que fugir não parecia viável. Muitas dúvidas sobre o porquê daquele comportamento inesperado dele rondavam sua cabeça, mas o que mais ela poderia perguntar?
“Isso faz mal à saúde, garota.” Foi a resposta dele.
“Você fuma, .” Ela devolveu, sem paciência.
“E você sabe bastante sobre mim, não é, ?” Ele inclinou o corpo em direção ao dela e mostrou o isqueiro que tirou do bolso.
“Obrigada.” Ela falou, no tom mais neutro possível, e deu uma forte tragada em seu Marlboro Light, depois que ele, cavalheirescamente, o acendeu. “Eu costumava ser sua fã. Sei algumas coisas.” Completou a moça, tentando se mostrar indiferente.
“E porque é minha adversária agora, não é mais minha fã?” Inquiriu, mordendo o lábio inferior. “Eu custo um pouco a acreditar que seu interesse em mim era puramente no meu talento pras corridas.” Flertou, descaradamente, pegando ainda mais de surpresa.
“Você é bem convencido.” Respondeu, apenas porque estava sendo petulante, mas intimamente reconhecia que ele tinha toda a razão. A proximidade entre os dois estava fazendo o coração dela acelerar, de um modo que só a adrenalina das pistas conseguia fazer.
“Com certeza, eu pareço bem convencido. Só que eu não sou, porque o que eu to falando é a verdade.” Afirmou, acendendo um cigarro para si também e tragando algumas vezes. “E outra coisa, que vai me fazer parecer convencido também, mas que você sabe que é verdade, é que você só ganhou hoje porque o me atrapalhou.”
“Ah, é?” Ela riu, de forma debochada. “Olha aqui: eu não vou deixar você tirar os meus méritos, ok? Eu não tenho culpa se você fica por aí, colecionando inimigos, e alguns deles têm coragem de tentar te jogar pra fora da pista só pra te sacanear, mesmo não ganhando nada com isso. Eu só aproveitei a minha oportunidade e fiz a ultrapassagem. Qual é o problema? Não admite perder pra mulher, ?”
“Não se trata disso, gata! Você só tem que admitir que eu fui prejudicado.”
“E você tem que admitir que eu poderia ganhar de qualquer jeito!” Retrucou, irritada, começando a achar que estava entendendo as razões para ele ter ido até ali, e não gostando nada delas. Não ia deixar que ninguém desmerecesse a sua vitória!
“Me prova? Eu e você, na pista, e mais ninguém?” Desafiou. “Mas eu posso pedir o que eu quiser, se eu cruzar a linha de chegada antes de você.” Determinou.
“Eu não vou te dar o meu troféu, . E nem posso te dar o dinheiro que eu...”
“!” Ele interrompeu, sorridente. “Eu tenho prateleiras de troféus e dinheiro... Não, eu não quero a sua grana. O que eu quero de você, você pode me dar. E só você pode me dar.” Esclareceu, deixando bem claro do que se tratava, ao segurar o rosto dela com uma das mãos e deslizar o polegar por sua bochecha. “E é claro que você pode pedir o que quiser também, caso seja mesmo tão boa e ganhe mais essa!” Completou, encarando os lábios dela, que, instintivamente, passou a língua entre eles.
“Mas a gente não teria como fazer isso.” Ela respirou fundo e tentou disfarçar as reações que o toque dele estava provocando em seu corpo. Afastou-se, apagando o cigarro que já tinha queimado praticamente inteiro, sem que tivesse fumado quase nada dele. “E eu não vou bater um pega com você na rua. De jeito nenhum!”
“Eu consigo a pista. Com gente lá pra garantir a nossa segurança e tudo, mas sem plateia.” Asseverou. “Eu só não faço isso agora, porque você merece curtir a sua festa, .” Disse, deslizando a mão esquerda pela direita dela, disfarçadamente.
“Fechado, .” Ela disse, quase sem fôlego, sentindo como se o coração estivesse na garganta, e não na caixa torácica. Ele apenas abriu um imenso sorriso, colocou o próprio cigarro no cinzeiro e secou sua segunda taça, antes de beijar o rosto dela, demoradamente, e ir embora. Ela já não sabia se efetivamente conseguiria curtir a festa. Só sabia que a excitação que estava sentindo era boa demais! Sabia apenas que não queria que aquela aceleração dentro do seu peito parasse nunca mais.
She's falling, doesn't even know it yet
Having no regrets is all that she really wants
Não demorou para que a celebrada da noite recebesse uma mensagem de seu desafiante, marcando para o dia seguinte, no autódromo, no finalzinho da tarde, a disputa entre os dois. E, como ela voltara bem tarde da festa e só acordara depois que os demais moradores da casa já tinham almoçado, conseguindo evitar novas reclamações da mãe ou, no mínimo, a situação de desconforto constante que era estar com os pais, não demorou muito para que chegasse o momento de se preparar, e ir ao encontro do que aquele jogo entre ela e lhes reservava.
Vestiu um short jeans e uma blusinha simples, e calçou uma sandália rasteira qualquer, pois a roupa não faria muita diferença, já que ele tinha avisado que os dois se preparariam, no box da equipe dele, para correr vestidos e paramentados, exatamente como nas competições oficiais. Contudo, não deixou de retocar a maquiagem, usando o espelho retrovisor interno de seu carro, mesmo xingando a si própria por estar tão preocupada em ficar bonita aos olhos de um pedante como .
Encontrou-o já preparado ao chegar, e ele, de repente, lhe pareceu mais lindo do que nunca, ainda que ela já o tivesse visto naquele macacão vermelho, que combinava com o carro que ele pilotava dezenas de vezes! O sorriso dele tinha algo de diferente e não pareceu pretensioso, mesmo com ele preferindo se manter enigmático em relação a como tivera acesso ao autódromo e como tinha conseguido que alguns mecânicos e uma equipe de paramédicos tivessem vindo ao local em um dia de folga, para ajudá-los com um embate pessoal.
Christopher Granter nunca contava a ninguém que era filho do principal sócio capitalista de uma das equipes, porque não queria que julgassem sua carreira com base nisso. Não merecia que o fizessem, pois jamais tinha se aproveitado do pai e de seus contatos, e fazia questão de representar, inclusive, outra equipe nas pistas. Aquela tinha sido a primeira vez em que ele havia pedido alguma coisa ao velho Granter , e não era pela carreira, mas por um motivo pelo qual ele faria bem mais do que algumas ligações internacionais. Uma razão pela qual ele sentia ímpetos de mover céu e Terra!
A pessoa que ele estava esperando estava linda quando chegou, e conseguiu continuar estranhamente sexy dentro de um macacão azul turquesa, que cobria quase tudo. Ele percebeu, naquele momento, que nunca tinha sentido tanto medo de perder uma corrida em sua vida, e que isso não se devia à sua vaidade de piloto, mas ao prêmio que aquela aposta maluca poderia lhe render. Era um prêmio que há meses ele desejava, mas sem saber alcançá-lo de fato, quando tudo de mais importante em sua vida, até então, ele havia conseguido com uma habilidade incrível para conduzir automóveis, que provavelmente já tinha nascido com ele.
Garotas se ofereciam aos montes, por causa da exposição que ele tinha na Stock Car, e era com elas que ele costumava ir para a cama, jamais tendo precisado tomar a iniciativa com alguma! Na verdade, já era bastante surpreendente que ele tivesse decidido comparecer à festa de , conversar com ela e propor a aposta, mas, depois daquele primeiro passo, ele imediatamente soube que precisava dar o seu máximo. Tinha certeza de que valeria a pena!
Os dois entraram em seus respectivos carros, depois de apenas desejar uma boa corrida um ao outro e, dada a bandeirada por um dos mecânicos, partiram em alta velocidade, correndo retas e curvas, na maior parte do tempo um ao lado do outro. Normalmente, não pensava em nada enquanto corria, além de pisar cada vez mais fundo e fazer os adversários comerem poeira, mas naquela tarde, durante as várias voltas dadas no circuito, muito mais do que a vitória passava por sua cabeça.
O que ela pediria como prêmio? Um troféu especialmente confeccionado? Uma grande quantia em dinheiro? O carro novo que ela queria? Uma viagem de luxo? Várias sacolas repletas de roupas de grife? Certamente, ele tinha grana para cada uma dessas coisas, ou até todas, e não tinha colocado nenhuma limitação no que ela poderia pedir. O problema, todavia, era que nenhuma dessas coisas importava e, enquanto ela guiava o carro, prestes a começar sua última volta, a garota acabou se perguntando se teria coragem de pedir o que realmente queria.
era corajosa, mas sabia que também era orgulhosa e que jamais diria a ele, com todas as letras, que o prêmio que lhe interessava de verdade não eram barras de ouro, uma mala cheia de dólares ou um cheque com muitos zeros, ou mesmo um jatinho particular, ou um iate, mas sim o próprio adversário. Não pronunciaria uma frase sequer assumindo a que queria ter estado no lugar de muitas das fãs que viu entrarem no carro dele. Não diria que queria que ele fizesse com ela todas as coisas que fazia com aquelas garotas e que deixavam todas loucas por mais, correndo atrás dele, para ouvir “nãos” e desculpas educadas.
Se ela fizesse isso, se, podendo pedir qualquer coisa, sua opção fosse por uma noite com ele, provavelmente ele ficaria com o ego ainda mais inflado, e ela se arrependeria amargamente pelo resto da vida! No entanto, se perdesse a oportunidade de ficar com ele, e depois não houvesse outra, seu arrependimento possivelmente seria ainda maior! O desejo pelo homem cujo carro estava um pouco atrás do seu naquele momento, só crescia e crescia, e ela já nem sabia mais se era só desejo.
E foi então que, bem próximo à linha de chegada, a campeã simplesmente tirou o pé do acelerador.
Does it ever drive you crazy?
Just how fast the night changes...
Everything that you've ever dreamed of
Disappearing when you wake up
“Parece que, de fato, eu te subestimei em algo, apesar de também estar certo sobre uma coisa.” Ele disse, aproximando-se dela, depois de terem voltado com seus carros para o box após a bandeirada que deu a vitória a ele.
“Você ganhou, não foi, ? Então, diz logo o que você quer como prêmio por essa aposta boba. Eu não to com paciência pra conversinhas.” Ela respondeu, se fazendo de boba e durona, e ele deu uma gargalhada gostosa.
“Entendo que você não queira perder tempo com conversas, gata.” Falou, com a voz mansa, chegando ainda mais perto e fazendo com que ela tivesse que se encostar a seu automóvel de corrida. “Você é mesmo boa, como disse, e pode, sim, ganhar de mim quando quiser, sem a ajuda do ou de qualquer outro.” Ele tocou o rosto dela da mesma forma que tinha feito na noite anterior, e se inclinou tanto, que ela podia sentir o calor da respiração dele em seus próprios lábios, enquanto ele falava. “Mas me deixou ganhar, porque o seu interesse em mim não é mesmo só no meu talento pra corrida... E você sabe o que eu quero, e quer me dar o meu prêmio, tanto quanto eu quero receber.”
“Você é louco! Eu nunca perderia de propósito.” Ela ainda tentou não dar o braço a torcer, mas não só não o afastou, como, sem perceber, agarrou o macacão dele, na altura da cintura.
“Você perdeu, sim. Só pra não precisar me dizer que essa aposta, na verdade, era desnecessária.” Ele afirmou, beijando o pescoço dela, o queixo, o canto dos lábios e perto do ouvido.
“.” Ela sussurrou, apertando ainda mais o tecido do uniforme do rapaz.
“Toma um banho e troca de roupa.” Ele disse, segurando o rosto dela entre as mãos. “Eu e você vamos ter a melhor noite das nossas vidas hoje.” Completou e saiu, indo se livrar do macacão e vestir uma camiseta branca e um jeans claro que, apesar de casuais, fizeram-na ficar insegura por ter escolhido uma roupa tão simplória, quando o encontrou, minutos depois, fora dos boxes.
Ela o seguiu até o hotel em que ele tinha ficado hospedado por causa da corrida e estranhou que ele a tivesse levado até lá, quando poderia haver pessoas conhecidas no saguão e pelos corredores, uma vez que muitos pilotos não tinham o costume de voltar para casa depois das provas, e ficavam alguns dias descansando no local de realização da última antes de seguir para a próxima. Porém não falou nada, pois um hotel era impessoal o suficiente, e aquele “Cinco Estrelas”, sem sombra de dúvidas, era bem mais confortável que qualquer motel que ela conhecia.
ainda provou a sua falta de preocupação com qualquer fofoca sobre os dois ao agarrar a mão dela e praticamente arrastá-la consigo para o elevador, depois de pegar o cartão magnético que servia de chave do quarto no balcão do saguão. , por sua vez, até sentiu um pouco de receio de ser vista com um dos mais famosos dentre seus rivais das pistas, mas o desejo estava falando mais alto do que qualquer instinto de preservação.
Quando o elevador se fechou atrás de ambos, ela sentiu o corpo dele grudar no seu, fazendo suas costas colarem em uma das paredes espelhadas. Sentiu um arrepio percorrer sua espinha, sem saber se ele fora causado pela temperatura fria da superfície contra a qual estava pressionada, ou por uma das mãos dele segurando sua nuca enquanto a outra deslizava por uma das coxas, e o nariz acariciava, sutilmente, o seu.
desviou o olhar, rapidamente, e apertou o botão que ostentava o número 7, apenas para finalmente colar os lábios nos dela, iniciando um beijo cheio de intensidade, mas que não durou muito, por logo terem chegado a seu andar de destino. Ele a guiou em direção ao quarto 701, agarrado a seu quadril e beijando seu pescoço repetidas vezes, sem parar de trocar carinhos com ela nem mesmo para abrir a porta, que fechou, em seguida, empurrando com um dos pés.
foi levantada do chão, entrelaçou as pernas na cintura de e beijos sedentos foram trocados. Ele tinha o cabelo dela entre os dedos e segurava forte, mas a intensidade das unhas dela cravadas nos ombros dele não era menor. Seus quadris se movimentavam e ela podia sentir – e provocar – a excitação dele, mesmo que o atrito ainda não fosse de pele com ele, havendo duas barreiras grossas de jeans a serem removidas.
Ela tocou o membro dele por sobre a calça, de um jeito que fez com que já não tivesse mais ar para continuar beijando sua boca. Parou, respirando fundo, e aproveitou para arrancar a própria camiseta, antes de levantar a dela devagar, distribuindo beijos por seu colo macio. Fez uma nova pausa, apenas para se livrar da peça de roupa de uma vez, e a encostou em uma porta de armário, tocando, lambendo, sugando seus seios, enquanto ela abria os zíperes da calça dele e de seu próprio short.
A garota desceu do colo do rapaz e jogou as sandálias para o lado, tirando também o short, enquanto ele apenas a observava, parado a sua frente, com as mãos apoiadas na madeira do armário em volta dela. Revelou uma calcinha de renda branca minúscula, que o fez se ajoelhar em frente a ela, com um sorriso safado no rosto, tocando, suavemente, com as costas dos dedos, até que ela gemesse e pedisse por mais.
Muito menos apressado que nas pistas, ele a despiu completamente, beijando suas coxas e a virilha, para só então chegar à sua intimidade, levantando uma das pernas dela e apoiando-a em seu ombro para ter melhor acesso, provando dela com lábios e língua até que seu corpo estremecesse de prazer.
Percebendo as pernas da mulher fraquejarem, carregou-a para a cama no colo, e então ficou, finalmente, do jeito que veio ao mundo, deitando-se ao lado dela. Muitos beijos foram trocados entre os dois, enquanto roçavam seus corpos e se tocavam, mutuamente, até ela também sucumbir à tentação de se lambuzar no prazer dele.
Transaram pela primeira vez, olhando nos olhos um do outro, durante todo o tempo. Ele começou por cima, dominador, segurando os braços dela sobre a cabeça e ditando o ritmo, mas logo girou, fazendo com que ela ficasse por cima e deixando que os levasse até o clímax do seu jeito, antes de fazerem uma pausa para um jantar leve, durante o qual conversaram e acabaram conhecendo bem mais um do outro, de um jeito bastante natural.
Uniram seus corpos de novo, pouco depois, não se deixando vencer ou transparecendo qualquer traço de cansaço. Ela colocou um preservativo nele, antes de sentar em seu colo e moveu os quadris, criando um atrito gostoso entre o corpo dele e o seu clitóris. Ele a fez ficar de quatro e puxou os cabelos dela, enquanto a penetrava com força, e a chamava de gostosa ao pé do ouvido. Gozaram intensamente, mais uma vez, antes de tomarem banho juntos e, então, caírem nos braços de Morfeu, completamente saciados fisicamente, mas principalmente com os corações plenos de alguma coisa que ainda não sabiam – ou não ousavam - reconhecer.
acordou, horas depois, sentindo-se totalmente renovada. O quarto ainda estava escuro, porque havia cortinas grossas e bem fechadas que possibilitavam pleno conforto para os hóspedes dormirem até a hora que bem quisessem, mas havia um relógio digital próximo à aparelhagem de som que mostrava que já passava do meio dia. E não havia mais ninguém deitado na cama com ela. O lado oposto da cama estava frio.
A menina ainda teve esperança de ouvir algum barulho vindo do banheiro, mas isso não aconteceu e, quando ela finalmente tomou coragem para se levantar, confirmou a ausência de ou de qualquer coisa dele na suíte, antes de, bastante desanimada, resolver tomar um banho e se vestir, para deixar o quarto também.
Somente quando já estava no hall de entrada, andando depressa, sem jeito pelo modo como estava vestida e receando encontrar algum conhecido, recebeu notícias do homem com quem passara a noite em forma de um bilhete, onde ele dizia, não de forma grosseira, mas também não tão carinhosa quanto ela gostaria, que precisara “voltar mais cedo para casa, por causa de uma emergência familiar”, mas que ligaria para ela logo que pudesse, e que a noite tinha sido “realmente a melhor de todas. Ainda melhor do que poderia ter imaginado, mesmo já tendo sonhado com isso tantas vezes”.
Ele estava certo sobre aquela ter sido a noite mais fantástica da vida dela, mas tinha passado rápido demais, como era quando um adversário a ultrapassava, e ela não podia fazer aquele segundo voltar. E isso a estava deixando louca!
Pouco mais de vinte e quatro horas antes, pensava que tudo o que queria na vida era correr, se divertir e sair da casa dos pais, levando Will assim que pudesse. E, agora, ela tinha percebido que também queria muito uma outra coisa... Que queria muito alguém! Que, no fundo, como toda garota, ela também sempre tinha sonhado em conhecer um cara que fizesse momentos fora da pista serem tão emocionantes e épicos quanto os que vivia dentro dela.
Ela tinha achado esse cara... Mas a noite tinha passado rápido demais! E, exatamente como acontece com os sonhos, ele tinha desaparecido quando ela acordou.
But there's nothing to be afraid of
Even when the night changes
A mãe de não mencionou o fato de a filha não ter dormido em seu próprio quarto, nem o tamanho do short que ela estava usando quando adentrou a sala de casa naquela tarde de segunda-feira. Will quis saber detalhes da festa de comemoração de seu título, pois não tinha falado com a irmã no começo do dia, antes de ir para a escola. E, felizmente, o pai de ambos não estava em casa, porque, entre o almoço e o sermão do começo da noite na igreja, era hora de visitar a outra família, que não tinha seu nome, mas recebia muito mais dele que os próprios .
As coisas estavam calmas e a garota só não estava completamente em paz por não ter recebido qualquer notícia de , já que, por mais que o fato de ele não entrar em contato depois de apenas uma noite de sexo não fosse propriamente uma surpresa, isso não deixava de incomodá-la e entristecê-la, de uma maneira que ela não confessaria a ninguém.
Os problemas em casa começaram na quarta-feira, depois de uma visita de Noah em que Will escutou mais do que deveria e ficou sabendo da existência da outra família do pai. Então, diante da tristeza constante do irmão mais novo e da recusa da mãe em ir embora – como o caçula implorava -, e da postura do pai, que continuava exigindo que a mulher e o filho agissem como uma família feliz na frente das pessoas, acabou sendo um alívio viajar na quinta-feira para a Carolina do Norte, onde aconteceria a próxima etapa da temporada no domingo seguinte. Mesmo que ela estivesse com medo de encarar pela primeira vez, depois de tanta coisa ter mudado dentro dela, sua família era um caso perdido, enquanto sua vida e vitórias estavam apenas começando!
Foi no treino de sexta-feira que ela descobriu que ele não treinaria e só chegaria a tempo de disputar a corrida, porque estava na Califórnia com a mãe, que tinha ido cuidar do funeral de um irmão. Teria que largar em último, mas, do jeito que ele era talentoso, ela não duvidava de que ele ultrapassaria a maior parte dos corredores, e talvez ainda conseguisse um pódio! Sorriu, pensando nisso, mas ficou séria e irritada consigo mesma ao perceber que tinha gostado da notícia, porque suas esperanças estavam renovadas.
Pelo amor de Deus, era uma vida humana perdida! Não havia motivo para ficar feliz, mesmo que esta tivesse sido a única razão para ele ficar ocupado demais para sequer lembrar de ligar! Além disso, ter esperanças era tudo de que ela não precisava. Tinha que colocar na cabeça que fora uma noite apenas. Uma noite maravilhosa, mas uma noite que passou como o carro de um de seus ídolos da Fórmula 1, tão rápido que era quase como uma ilusão dos sentidos.
Então, ela tentou esquecer do começo daquela semana e se concentrou em treinar muito, em largar em uma ótima posição e em ensaiar um semblante indiferente para quando ele chegasse: uma reação controlada, a demonstração de uma indiferença que não havia de fato. Toda uma personagem que caiu por terra quando ele apareceu, já vestido para a corrida, no box da equipe dela, nitidamente procurando à sua volta, até achá-la e caminhar em sua direção, enquanto ela rezava para que um buraco se abrisse sob seus pés.
“!” Ele disse, com um sorriso torto nos lábios, bem diferente do sorrisinho que dava quando alguma fã se aproximava e que ela sempre julgara convencido e cínico.
“... É... Você tá bem? Eu soube do seu tio. Eu sinto muito. Eu nem sei como você consegue estar aqui hoje. Eu sei que as corridas são importantes pra você, mas...” Ela começou a tagarelar e ele percebeu que ela estava nervosa. Isso era bom, porque assim pelo menos ele não era a única pessoa tensa ali, com a mão gelada e suada, e o coração apertado de medo do que viria em seguida.
“Tá tudo bem, .” Ele falou, mais calmo. “Eu quase nunca tive nem contato com esse meu tio. Eu só precisei mesmo ficar com a minha mãe. O meu pai tinha negócios.” Deu de ombro. “Eu quero conversar com você sobre...”
“Não precisa.” Ela interrompeu, pensando que ele iria tentar deixar bem claro que o que tinha acontecido entre os dois não tinha sido nada, para que não ficasse um clima estranho entre eles.
“Não precisa ou você não quer?” Indagou, hesitante.
“Não tem necessidade de você me dizer que foi só uma noite e não significou nada, . Você é envolvente, mas eu não sou tonta pra me apaixonar por você. Fica tranquilo!” Declarou, falhando tanto como atriz que nada poderia deixar mais claro que o que ela negava era justamente o que tinha acontecido.
“É?” Ele perguntou, controlando o riso.
“É... É claro que sim. Você pode ficar totalmente tranquilo, !” Repetiu.
“Ok, então.” Falou, fingindo acreditar. “Boa corrida, !” Completou, surpreendendo a menina com um beijo rápido nos lábios, antes de se afastar e ir em direção a seu carro.
Como ela tinha previsto, ele fez ultrapassagens que ficariam para a história da Stock Car e, faltando quatro voltas para o final, ocupava a terceiro posição. Ela e estavam à frente dele, o que tornava tudo ainda mais complicado e emocionante, e ela sorriu ao ver pelo retrovisor todo o embate entre os dois, com levando a melhor dessa vez, e o carro de rodando na pista e indo parar na grama.
Quando voltou à pista, já estava na quinta colocação, e , por sua vez, tinha o carro quase encostado no de . Teve tempo e oportunidade para ultrapassar a garota, e nem ela, nem ninguém de ambas as equipes entendeu por que ele não o fez, e deixou que ela cruzasse a linha de chegada primeiro, terminando mais uma corrida em segundo lugar.
Eles saíram de seus carros, próximos aos boxes, e receberam alguns cumprimentos, mas ela mantinha os olhos nele. Sabia que ele, provavelmente, estava sendo questionado pelo que (não) fizera, mas ele não parecia nem um pouco preocupado com isso. Ela precisava entender tudo aquilo e, por isso, logo que se desvencilhou de jornalistas, chefes e colaboradores, a primeira coisa que fez foi ir até onde ele estava.
“O que foi aquilo? Aquele beijo?” Perguntou, tentando vencer todo o barulho que o pessoal fazia em volta. “E o que foi isso, agora? Você me deixou ganhar!”
“Você é louca! Eu nunca perderia de propósito.” Riu. “Por que eu faria isso? Eu nem quero levar você pra comemorar na minha suíte de hotel essa noite! Eu nem pensei em você a semana toda! Eu nem... Acho que to me apaixonando por você!” Declarou, segurando o rosto dela com as duas mãos.
“O que...” Ela começou a perguntar, boquiaberta. Era possível que ele estivesse falando sério? apaixonado? apaixonado por ela? Mas ela nem teve tempo de ter dúvidas porque, de repente, no meio de toda aquela gente, sem cerimônia nenhuma, ele colou os lábios dele nos dela, puxou o corpo dela para perto do seu, e eles trocaram um beijo demorado, que só foi interrompido quando eles sentiram um líquido gelado sendo jogado neles.
Normalmente, as garrafas de champanhe ficavam para a hora do pódio, mas o sócio capitalista de uma das equipes estava por lá, e ele achou que valia a pena gastar uma delas com o momento romântico do filho e da campeã da etapa.
Houve uma festa naquela noite, como sempre, mas a comemoração não contou com a homenageada.
Ela estava nos braços de alguém e seria novamente uma noite linda, que passaria rápido, como todo bom momento. Só que dessa vez ela sabia: o final daquela noite não mudaria o que eles tinham agora.
Even when the night changes
It will never change me and you
Changes into something red
Her mother doesn't like that kind of dress
Reminds her of the missing piece of innocence she lost...
Everything she never had, she's showing off
terminou de enxugar os cabelos com uma toalha, deixando-os naturalmente bagunçados, como os preferia, e colocou a calcinha e o vestido que tinha separado alguns minutos antes. Calçou uma sandália de saltos altíssimos e gostou do que viu no espelho, resolvendo acrescentar ao visual apenas um pouco de lápis preto e rímel, para dar destaque aos olhos. Estava preparada para sair naquela noite, e fechar com chave de ouro aquele dia que tinha sido, sem sombra de dúvidas, o melhor de toda a sua vida.
Desceu as escadas sorrindo, mas não havia sequer alcançado o último degrau quando escutou a voz da mãe e as palavras em tom severo que, normalmente, tinham o poder de diminuir consideravelmente sua empolgação. Eram invariavelmente as mesmas e respondidas quase sempre apenas com seu silêncio, seguido da batida da porta, mas talvez tivesse, finalmente, chegado a hora em que seria mais direta.
“Aonde você pensa que vai assim, mocinha?” Indagou a senhora , examinando a filha dos pés à cabeça e não gostando de vê-la em um vestido vermelho, justo, curto e decotado, que parecia colocar em um letreiro luminoso que sua menina já não era mais uma garotinha inocente.
Não que fosse novidade. Não que ela já não imaginasse que a filha não era mais virgem, apesar de jamais ter apresentado um namorado à família. Não que ela já não tivesse precisado engolir que a filha tinha uma carreira que a fazia ficar cercada de homens, o tempo todo, mas aquela roupa, aquela maquiagem, aquele salto que devia ter quase uns dez centímetros eram um desplante! Eram um descaramento!
Como podia ousar expor a toda a família daquele modo? Como uma garota que tinha saído de dentro dela podia ousar ser tudo que ela nunca fora, que ela abrira mão de ser, por respeito à própria família, ao amor, a Deus?
“Eu vou à minha festa, mãe.” Respondeu a garota, impaciente. “À festa que você sabe muito bem que está acontecendo em comemoração à minha vitória.”
“E você sabe que eu não me refiro ao lugar aonde você vai, mas a esse seu jeito...” Ela engoliu seco, não querendo realmente terminar a frase.
“Vulgar? Jeito de vagabunda?” Questionou, desafiadora, como há muito tempo já queria – e provavelmente deveria – ter falado com a conservadora mãe. “Você pode dizer, com todas as letras, e eu não vou me incomodar. Talvez eu queira mesmo sair como uma vagabunda e deixar claro, de uma vez por todas, que eu não concordo com a hipocrisia que impera aqui dentro dessa casa.” Declarou, decidida a colocar os pingos nos is.
Há muito tempo tinha ciência de que o pai, o respeitado pastor da comunidade pobre onde viviam, e a mãe, uma mulher que não conhecia do mundo nada mais do que sua pequena casa, a igreja e um mercado de bairro, tinham um casamento de fachada. Sabia onde ficava a mansão em que viviam a amante dele e os filhos que o Sr. tivera fora do casamento, e não ignorava que, enquanto sua mãe se escondia do mundo, a outra se mostrava por aí, com joias, roupas extravagantes e um carro de luxo, e não chegava nem mesmo perto do templo para ouvir os sermões do homem que sustentava seus caprichos.
“, você...” A mãe trincou os dentes, fechou os olhos, bem apertados, e cerrou os punhos ao lado do corpo, controlando-se, como sempre. Nunca tinha batido em um filho e não o faria agora, e nem gostava de levantar a voz. “Você pode já ser maior e vacinada, mas, gostando ou não, eu sou sua mãe e você ainda vive sob o mesmo teto que eu, e me deve satisfações e respeito.”
“Não, mãe.” Falou, com a voz calma e triste, balançando a cabeça, negativamente. “Eu não te devo satisfações, porque eu só moro aqui ainda pra não deixar o Will aguentar tudo isso sozinho!” Referiu-se ao irmão mais novo, que, com apenas quatorze anos, não poderia se mudar com ela, ainda que assim desejasse. “E quanto ao meu respeito, você o perdeu quando eu deixei de te ver como uma pessoa sofrida, e percebi que você escolheu se submeter a ser a santa e devotada mulher do pastor... Que preferiu viver essa personagem da esposa perfeita, da mãe rigorosa, da voluntária mais dedicada de todas aos necessitados a ser você mesma, a assumir que tem vontades, sonhos... Desejos!”
“Você não sabe o que tá falando. A vida vai te mostrar, .” A mãe retrucou, mas agora tinha perdido a altivez. Sua voz estava fraca e a cabeça baixa. Talvez a filha soubesse bem mais sobre sua personalidade reprimida do que ela poderia ter imaginado. Ela não era mesmo um poço de virtudes, se invejava as fendas e brilhos dos vestidos, e imaginava em sua boca cada tom de batom vermelho usado pelas atrizes, quando assistia, escondido, à transmissão televisiva da chegada das celebridades aos tapetes vermelhos de cada um dos grandes eventos.
“Pode ser que ela me mostre, mãe. Pode ser que eu quebre a cara. Todo mundo pode quebrar!” Observou. “Mas eu vou viver a minha vida do meu jeito! Eu vou sair dessa casa assim que eu puder tirar o meu irmão daqui! E, hoje, assim como em todas as outras noites, eu vou sair com a roupa que eu quiser, mesmo que você, o meu pai e todos aqueles pobres coitados carolas a quem ele engana, e de quem ele toma dinheiro, achem que eu to que nem uma puta!” Afirmou. “Boa noite, mãe.” Desejou, quando já fechava a porta atrás de si.
O sorriso tinha desaparecido de seu rosto, pois, apesar de tudo, amava os pais, e não queria ter perdido toda a admiração que uma dia tivera por eles. Não perderia, porém, sua festa de campeã por nada. Tinha certeza que o primeiro cumprimento de algum amigo ou de alguém da equipe faria aquela cena toda sumir de sua cabeça.
E, no final, se congratulações não fossem suficientes, ela sempre teria algumas doses de tequila para se anestesiar.
Driving too fast
Moon is breaking through her hair
She's heading for something that she won't forget
Em uma garagem alugada, a quatro casas de distância da sua, encontrou seu maravilhoso e bem cuidado carro esporte, comprado logo que tinha começado a ganhar o suficiente para investir tanto em um automóvel. Passou uma das mãos por ele, quase como se acariciasse um bichinho de estimação, afinal ele tinha um valor afetivo inestimável, e havia certa melancolia em pensar em trocá-lo. Imaginou que, talvez, mesmo tendo dinheiro o bastante agora, para investir em um modelo novíssimo, ainda mais potente e glamoroso, pudesse guardá-lo como um tesouro ou amuleto da sorte.
Decidiria sobre isso depois, então afinal entrou no carro. Saiu da garagem, virou duas ou três esquinas, e aproveitou que àquela hora da noite as ruas já estavam praticamente desertas para enfiar o pé, com vontade, no acelerador. Pelo vidro completamente aberto do veículo, o vento entrava, despenteando ainda mais seu cabelo – que brilhava com a luz da lua refletida nele. A sensação de poder e liberdade fez com que respirasse fundo e, enfim, um novo sorriso surgisse em seu rosto.
Havia esquecido que, antes mesmo de ver qualquer semblante conhecido ou de colocar umas boas doses de álcool em seu sangue, correria pelas ruas da cidade até o seu destino – e que correr, há muito tempo, tinha se tornado o melhor de todos os remédios para qualquer mal que, eventualmente, lhe acometesse. Correr era sua vida e carros, sob seu controle, se tornavam uma extensão dela mesma. A velocidade fazia com que se sentisse mais viva!
Mesmo quando ainda era uma menina ingênua, que frequentava a igreja e acreditava em tudo que seus pais diziam, já tinha um lado rebelde, que era justamente a paixão por carros e, especialmente, por corridas, herdada de seu irmão mais velho. Depois de ir à escola e ao culto, e de fazer os deveres de casa, fugia para visitar Noah, que era mecânico da Nascar Xfinity Series, e passava horas observando os pilotos fazendo seu trabalho.
Foi exatamente no dia em que descobriu que o pai tinha outra família, que ela aproveitou uma distração do irmão e entrou em um dos carros pela primeira vez, extravasando todo o seu ressentimento com uma pisada funda no acelerador. Deixou o rapaz louco, com medo que ela se machucasse, com receio de perder o emprego e também por tê-lo obrigado a lidar com o drama familiar, que acontecia bem debaixo do nariz de todos, e ele tinha se recusado a encarar até então.
Também foi nesse dia, no entanto, que ambos foram pegos de surpresa quando o chefe da montadora para a qual ele trabalhava não somente não o demitiu, como também convidou a garota a entrar para a equipe e substituir um piloto de testes, que passaria a competir alguns meses depois. E foi apenas após uma temporada trabalhando escondido, por saber que os pais não gostariam de vê-la exercendo uma “função masculina”, que ela teve que revelar tudo a eles e “comprar a briga”, ao acabar sendo convidada a assumir o lugar do segundo corredor da equipe, promovido quando o primeiro deixou a categoria para correr na Sprint Cup.
Mike Bretton era o nome dele e, três temporadas depois, o rapaz continuava na categoria principal, tendo sido campeão em algumas etapas, mas, na modesta opinião de , não tinha a corrida no sangue como ela. Provavelmente, até o final da temporada, acabaria perdendo seu lugar como principal piloto da Hendrick Motorsports para ninguém menos que a própria , que finalmente estava na Sprint e era sua parceira de equipe. A primeira vitória da equipe, naquele ano, tinha sido dela e não dele, no final das contas!
A garota, que crescera ouvindo falar que ambição e vaidade eram pecados, há muito tempo tinha percebido que justamente o pai era uma das pessoas mais ambiciosas e vaidosas que conhecia, e, por isso, não tinha nem um pouco de vergonha ou medo de dizer que queria, sim, conquistar muito mais do que uma vitória no circuito Watkins Glen International de Nova Iorque. Seu maior desejo na vida era um dia subir no pódio e receber o troféu de campeã da temporada.
E sua vontade naquela noite era comemorar muito o primeiro e inesquecível passo que ela tinha acabado de dar rumo ao seu maior – e na verdade único – sonho, até aquele momento.
Chasing it tonight
Doubts are running around her head
He's waiting, hides behind a cigarette
Heart is beating loud, and she doesn't want it to stop
Parando o carro em frente a uma das mais badaladas casas noturnas da Big Apple, tudo em que ela pensou foi em ver e abraçar Noah – que já não era mais mecânico da Stock Car e não pôde estar presente na corrida porque estava trabalhando em sua própria oficina naquela manhã – e em relaxar e esquecer-se da mágoa que tinha dos pais e de suas enormes preocupações com Will. Tudo o que ela procurava era diversão: beber, dançar a noite toda e talvez passar parte da madrugada na cama com algum fã interessante, mesmo que ainda achasse engraçada a ideia de ter seus próprios fãs.
Foi recebida com aplausos quando entrou no local, o que também não era nenhuma surpresa, e levantada do chão pelo irmão e por algumas das pessoas que trabalhavam junto à equipe. Ganhou uma quantidade enorme de abraços e elogios, e até o agradecimento de um dos chefes, mas o que ela não esperava encontrar, em sua visão periférica, era um de seus maiores adversários, sentado em um banco de bar e olhando-a fixamente, enquanto ela recebia todos aqueles cumprimentos, como se esperasse a vez dele de se aproximar.
a deixava desconcertada com sua presença, quando ela o encontrava nos boxes, e não poderia ser diferente ali, por mais que ela fosse a dona da festa, a estrela do momento. Ele tinha sido o maior ídolo dela pelos últimos quatro anos, sendo vice duas vezes e depois bicampeão, dentro do grupo que formava a elite do esporte, enquanto ela ainda fazia uma espécie de estágio bem remunerado. Ele era exatamente o que ela queria ser na profissão, e ainda era extremamente atraente, mas todo mundo tem pelo menos um defeito, e o dele parecia ser o fato de ter plena noção de que era tudo isso.
Ele tinha ficado em segundo lugar na corrida daquela manhã, não costumava aparecer em comemorações que não fossem relativas às conquistas dele e não tinha amizade com ela ou com qualquer pessoa de sua equipe. Sua presença naquele lugar, desacompanhado de amigos ou mesmo de uma garota, já tinha deixado bem curiosa, e ela ficou ainda mais confusa quando o viu receber duas taças de champanhe das mãos de um garçom e fazer um sinal, oferecendo-lhe uma delas.
“Parabéns, campeã.” Ele disse, entregando uma das taças a ela e, então, levantando a outra, em um brinde. Como ele não tinha sido nada discreto ao lhe acenar com o drink, ela não tivera outra saída senão se aproximar.
“Eu acho que devo dizer obrigada, né?” Respondeu ela, batendo a taça na dele e tomando um bem-vindo gole da bebida.
“Me parece educado.” Ele riu.
“Então, obrigada.” Repetiu a garota, tentando sorrir e não se mostrar nervosa, mas, depois de mais um gole, não conseguiu conter a própria língua. “Mas é... Me desculpa, mas eu tenho que te dizer que é bem estranho te ver aqui!” Declarou, sincera, arrancando risos dele novamente.
“Eu gosto de festas.” Ele deu de ombros.
“Você nunca foi a nenhuma comemoração, quando não ganhou, e já tivemos três corridas em que isso aconteceu.” Ela esvaziou a taça e a colocou no balcão.
“Então, não sei... talvez eu não tivesse nada melhor pra fazer.” Respondeu, com ar de desdém, mas continuou simplesmente ali, sentado, encarando a garota com um sorriso torto no rosto, que fazia com que ela não soubesse como agir, o que dizer ou onde colocar as mãos. Para piorar as coisas, não havia ninguém com quem ela tivesse o mínimo de intimidade por perto naquele momento, além do irmão, que por sua vez, estava aos beijos com a namorada, Grace.
“Tem fogo?” Ela perguntou, tendo decidido que pegar um cigarro na bolsa e fumar, depois de vê-lo pedir mais duas taças de Moet Chandon, seria uma boa maneira de “se esconder”, visto que fugir não parecia viável. Muitas dúvidas sobre o porquê daquele comportamento inesperado dele rondavam sua cabeça, mas o que mais ela poderia perguntar?
“Isso faz mal à saúde, garota.” Foi a resposta dele.
“Você fuma, .” Ela devolveu, sem paciência.
“E você sabe bastante sobre mim, não é, ?” Ele inclinou o corpo em direção ao dela e mostrou o isqueiro que tirou do bolso.
“Obrigada.” Ela falou, no tom mais neutro possível, e deu uma forte tragada em seu Marlboro Light, depois que ele, cavalheirescamente, o acendeu. “Eu costumava ser sua fã. Sei algumas coisas.” Completou a moça, tentando se mostrar indiferente.
“E porque é minha adversária agora, não é mais minha fã?” Inquiriu, mordendo o lábio inferior. “Eu custo um pouco a acreditar que seu interesse em mim era puramente no meu talento pras corridas.” Flertou, descaradamente, pegando ainda mais de surpresa.
“Você é bem convencido.” Respondeu, apenas porque estava sendo petulante, mas intimamente reconhecia que ele tinha toda a razão. A proximidade entre os dois estava fazendo o coração dela acelerar, de um modo que só a adrenalina das pistas conseguia fazer.
“Com certeza, eu pareço bem convencido. Só que eu não sou, porque o que eu to falando é a verdade.” Afirmou, acendendo um cigarro para si também e tragando algumas vezes. “E outra coisa, que vai me fazer parecer convencido também, mas que você sabe que é verdade, é que você só ganhou hoje porque o me atrapalhou.”
“Ah, é?” Ela riu, de forma debochada. “Olha aqui: eu não vou deixar você tirar os meus méritos, ok? Eu não tenho culpa se você fica por aí, colecionando inimigos, e alguns deles têm coragem de tentar te jogar pra fora da pista só pra te sacanear, mesmo não ganhando nada com isso. Eu só aproveitei a minha oportunidade e fiz a ultrapassagem. Qual é o problema? Não admite perder pra mulher, ?”
“Não se trata disso, gata! Você só tem que admitir que eu fui prejudicado.”
“E você tem que admitir que eu poderia ganhar de qualquer jeito!” Retrucou, irritada, começando a achar que estava entendendo as razões para ele ter ido até ali, e não gostando nada delas. Não ia deixar que ninguém desmerecesse a sua vitória!
“Me prova? Eu e você, na pista, e mais ninguém?” Desafiou. “Mas eu posso pedir o que eu quiser, se eu cruzar a linha de chegada antes de você.” Determinou.
“Eu não vou te dar o meu troféu, . E nem posso te dar o dinheiro que eu...”
“!” Ele interrompeu, sorridente. “Eu tenho prateleiras de troféus e dinheiro... Não, eu não quero a sua grana. O que eu quero de você, você pode me dar. E só você pode me dar.” Esclareceu, deixando bem claro do que se tratava, ao segurar o rosto dela com uma das mãos e deslizar o polegar por sua bochecha. “E é claro que você pode pedir o que quiser também, caso seja mesmo tão boa e ganhe mais essa!” Completou, encarando os lábios dela, que, instintivamente, passou a língua entre eles.
“Mas a gente não teria como fazer isso.” Ela respirou fundo e tentou disfarçar as reações que o toque dele estava provocando em seu corpo. Afastou-se, apagando o cigarro que já tinha queimado praticamente inteiro, sem que tivesse fumado quase nada dele. “E eu não vou bater um pega com você na rua. De jeito nenhum!”
“Eu consigo a pista. Com gente lá pra garantir a nossa segurança e tudo, mas sem plateia.” Asseverou. “Eu só não faço isso agora, porque você merece curtir a sua festa, .” Disse, deslizando a mão esquerda pela direita dela, disfarçadamente.
“Fechado, .” Ela disse, quase sem fôlego, sentindo como se o coração estivesse na garganta, e não na caixa torácica. Ele apenas abriu um imenso sorriso, colocou o próprio cigarro no cinzeiro e secou sua segunda taça, antes de beijar o rosto dela, demoradamente, e ir embora. Ela já não sabia se efetivamente conseguiria curtir a festa. Só sabia que a excitação que estava sentindo era boa demais! Sabia apenas que não queria que aquela aceleração dentro do seu peito parasse nunca mais.
She's falling, doesn't even know it yet
Having no regrets is all that she really wants
Não demorou para que a celebrada da noite recebesse uma mensagem de seu desafiante, marcando para o dia seguinte, no autódromo, no finalzinho da tarde, a disputa entre os dois. E, como ela voltara bem tarde da festa e só acordara depois que os demais moradores da casa já tinham almoçado, conseguindo evitar novas reclamações da mãe ou, no mínimo, a situação de desconforto constante que era estar com os pais, não demorou muito para que chegasse o momento de se preparar, e ir ao encontro do que aquele jogo entre ela e lhes reservava.
Vestiu um short jeans e uma blusinha simples, e calçou uma sandália rasteira qualquer, pois a roupa não faria muita diferença, já que ele tinha avisado que os dois se preparariam, no box da equipe dele, para correr vestidos e paramentados, exatamente como nas competições oficiais. Contudo, não deixou de retocar a maquiagem, usando o espelho retrovisor interno de seu carro, mesmo xingando a si própria por estar tão preocupada em ficar bonita aos olhos de um pedante como .
Encontrou-o já preparado ao chegar, e ele, de repente, lhe pareceu mais lindo do que nunca, ainda que ela já o tivesse visto naquele macacão vermelho, que combinava com o carro que ele pilotava dezenas de vezes! O sorriso dele tinha algo de diferente e não pareceu pretensioso, mesmo com ele preferindo se manter enigmático em relação a como tivera acesso ao autódromo e como tinha conseguido que alguns mecânicos e uma equipe de paramédicos tivessem vindo ao local em um dia de folga, para ajudá-los com um embate pessoal.
Christopher Granter nunca contava a ninguém que era filho do principal sócio capitalista de uma das equipes, porque não queria que julgassem sua carreira com base nisso. Não merecia que o fizessem, pois jamais tinha se aproveitado do pai e de seus contatos, e fazia questão de representar, inclusive, outra equipe nas pistas. Aquela tinha sido a primeira vez em que ele havia pedido alguma coisa ao velho Granter , e não era pela carreira, mas por um motivo pelo qual ele faria bem mais do que algumas ligações internacionais. Uma razão pela qual ele sentia ímpetos de mover céu e Terra!
A pessoa que ele estava esperando estava linda quando chegou, e conseguiu continuar estranhamente sexy dentro de um macacão azul turquesa, que cobria quase tudo. Ele percebeu, naquele momento, que nunca tinha sentido tanto medo de perder uma corrida em sua vida, e que isso não se devia à sua vaidade de piloto, mas ao prêmio que aquela aposta maluca poderia lhe render. Era um prêmio que há meses ele desejava, mas sem saber alcançá-lo de fato, quando tudo de mais importante em sua vida, até então, ele havia conseguido com uma habilidade incrível para conduzir automóveis, que provavelmente já tinha nascido com ele.
Garotas se ofereciam aos montes, por causa da exposição que ele tinha na Stock Car, e era com elas que ele costumava ir para a cama, jamais tendo precisado tomar a iniciativa com alguma! Na verdade, já era bastante surpreendente que ele tivesse decidido comparecer à festa de , conversar com ela e propor a aposta, mas, depois daquele primeiro passo, ele imediatamente soube que precisava dar o seu máximo. Tinha certeza de que valeria a pena!
Os dois entraram em seus respectivos carros, depois de apenas desejar uma boa corrida um ao outro e, dada a bandeirada por um dos mecânicos, partiram em alta velocidade, correndo retas e curvas, na maior parte do tempo um ao lado do outro. Normalmente, não pensava em nada enquanto corria, além de pisar cada vez mais fundo e fazer os adversários comerem poeira, mas naquela tarde, durante as várias voltas dadas no circuito, muito mais do que a vitória passava por sua cabeça.
O que ela pediria como prêmio? Um troféu especialmente confeccionado? Uma grande quantia em dinheiro? O carro novo que ela queria? Uma viagem de luxo? Várias sacolas repletas de roupas de grife? Certamente, ele tinha grana para cada uma dessas coisas, ou até todas, e não tinha colocado nenhuma limitação no que ela poderia pedir. O problema, todavia, era que nenhuma dessas coisas importava e, enquanto ela guiava o carro, prestes a começar sua última volta, a garota acabou se perguntando se teria coragem de pedir o que realmente queria.
era corajosa, mas sabia que também era orgulhosa e que jamais diria a ele, com todas as letras, que o prêmio que lhe interessava de verdade não eram barras de ouro, uma mala cheia de dólares ou um cheque com muitos zeros, ou mesmo um jatinho particular, ou um iate, mas sim o próprio adversário. Não pronunciaria uma frase sequer assumindo a que queria ter estado no lugar de muitas das fãs que viu entrarem no carro dele. Não diria que queria que ele fizesse com ela todas as coisas que fazia com aquelas garotas e que deixavam todas loucas por mais, correndo atrás dele, para ouvir “nãos” e desculpas educadas.
Se ela fizesse isso, se, podendo pedir qualquer coisa, sua opção fosse por uma noite com ele, provavelmente ele ficaria com o ego ainda mais inflado, e ela se arrependeria amargamente pelo resto da vida! No entanto, se perdesse a oportunidade de ficar com ele, e depois não houvesse outra, seu arrependimento possivelmente seria ainda maior! O desejo pelo homem cujo carro estava um pouco atrás do seu naquele momento, só crescia e crescia, e ela já nem sabia mais se era só desejo.
E foi então que, bem próximo à linha de chegada, a campeã simplesmente tirou o pé do acelerador.
Does it ever drive you crazy?
Just how fast the night changes...
Everything that you've ever dreamed of
Disappearing when you wake up
“Parece que, de fato, eu te subestimei em algo, apesar de também estar certo sobre uma coisa.” Ele disse, aproximando-se dela, depois de terem voltado com seus carros para o box após a bandeirada que deu a vitória a ele.
“Você ganhou, não foi, ? Então, diz logo o que você quer como prêmio por essa aposta boba. Eu não to com paciência pra conversinhas.” Ela respondeu, se fazendo de boba e durona, e ele deu uma gargalhada gostosa.
“Entendo que você não queira perder tempo com conversas, gata.” Falou, com a voz mansa, chegando ainda mais perto e fazendo com que ela tivesse que se encostar a seu automóvel de corrida. “Você é mesmo boa, como disse, e pode, sim, ganhar de mim quando quiser, sem a ajuda do ou de qualquer outro.” Ele tocou o rosto dela da mesma forma que tinha feito na noite anterior, e se inclinou tanto, que ela podia sentir o calor da respiração dele em seus próprios lábios, enquanto ele falava. “Mas me deixou ganhar, porque o seu interesse em mim não é mesmo só no meu talento pra corrida... E você sabe o que eu quero, e quer me dar o meu prêmio, tanto quanto eu quero receber.”
“Você é louco! Eu nunca perderia de propósito.” Ela ainda tentou não dar o braço a torcer, mas não só não o afastou, como, sem perceber, agarrou o macacão dele, na altura da cintura.
“Você perdeu, sim. Só pra não precisar me dizer que essa aposta, na verdade, era desnecessária.” Ele afirmou, beijando o pescoço dela, o queixo, o canto dos lábios e perto do ouvido.
“.” Ela sussurrou, apertando ainda mais o tecido do uniforme do rapaz.
“Toma um banho e troca de roupa.” Ele disse, segurando o rosto dela entre as mãos. “Eu e você vamos ter a melhor noite das nossas vidas hoje.” Completou e saiu, indo se livrar do macacão e vestir uma camiseta branca e um jeans claro que, apesar de casuais, fizeram-na ficar insegura por ter escolhido uma roupa tão simplória, quando o encontrou, minutos depois, fora dos boxes.
Ela o seguiu até o hotel em que ele tinha ficado hospedado por causa da corrida e estranhou que ele a tivesse levado até lá, quando poderia haver pessoas conhecidas no saguão e pelos corredores, uma vez que muitos pilotos não tinham o costume de voltar para casa depois das provas, e ficavam alguns dias descansando no local de realização da última antes de seguir para a próxima. Porém não falou nada, pois um hotel era impessoal o suficiente, e aquele “Cinco Estrelas”, sem sombra de dúvidas, era bem mais confortável que qualquer motel que ela conhecia.
ainda provou a sua falta de preocupação com qualquer fofoca sobre os dois ao agarrar a mão dela e praticamente arrastá-la consigo para o elevador, depois de pegar o cartão magnético que servia de chave do quarto no balcão do saguão. , por sua vez, até sentiu um pouco de receio de ser vista com um dos mais famosos dentre seus rivais das pistas, mas o desejo estava falando mais alto do que qualquer instinto de preservação.
Quando o elevador se fechou atrás de ambos, ela sentiu o corpo dele grudar no seu, fazendo suas costas colarem em uma das paredes espelhadas. Sentiu um arrepio percorrer sua espinha, sem saber se ele fora causado pela temperatura fria da superfície contra a qual estava pressionada, ou por uma das mãos dele segurando sua nuca enquanto a outra deslizava por uma das coxas, e o nariz acariciava, sutilmente, o seu.
desviou o olhar, rapidamente, e apertou o botão que ostentava o número 7, apenas para finalmente colar os lábios nos dela, iniciando um beijo cheio de intensidade, mas que não durou muito, por logo terem chegado a seu andar de destino. Ele a guiou em direção ao quarto 701, agarrado a seu quadril e beijando seu pescoço repetidas vezes, sem parar de trocar carinhos com ela nem mesmo para abrir a porta, que fechou, em seguida, empurrando com um dos pés.
foi levantada do chão, entrelaçou as pernas na cintura de e beijos sedentos foram trocados. Ele tinha o cabelo dela entre os dedos e segurava forte, mas a intensidade das unhas dela cravadas nos ombros dele não era menor. Seus quadris se movimentavam e ela podia sentir – e provocar – a excitação dele, mesmo que o atrito ainda não fosse de pele com ele, havendo duas barreiras grossas de jeans a serem removidas.
Ela tocou o membro dele por sobre a calça, de um jeito que fez com que já não tivesse mais ar para continuar beijando sua boca. Parou, respirando fundo, e aproveitou para arrancar a própria camiseta, antes de levantar a dela devagar, distribuindo beijos por seu colo macio. Fez uma nova pausa, apenas para se livrar da peça de roupa de uma vez, e a encostou em uma porta de armário, tocando, lambendo, sugando seus seios, enquanto ela abria os zíperes da calça dele e de seu próprio short.
A garota desceu do colo do rapaz e jogou as sandálias para o lado, tirando também o short, enquanto ele apenas a observava, parado a sua frente, com as mãos apoiadas na madeira do armário em volta dela. Revelou uma calcinha de renda branca minúscula, que o fez se ajoelhar em frente a ela, com um sorriso safado no rosto, tocando, suavemente, com as costas dos dedos, até que ela gemesse e pedisse por mais.
Muito menos apressado que nas pistas, ele a despiu completamente, beijando suas coxas e a virilha, para só então chegar à sua intimidade, levantando uma das pernas dela e apoiando-a em seu ombro para ter melhor acesso, provando dela com lábios e língua até que seu corpo estremecesse de prazer.
Percebendo as pernas da mulher fraquejarem, carregou-a para a cama no colo, e então ficou, finalmente, do jeito que veio ao mundo, deitando-se ao lado dela. Muitos beijos foram trocados entre os dois, enquanto roçavam seus corpos e se tocavam, mutuamente, até ela também sucumbir à tentação de se lambuzar no prazer dele.
Transaram pela primeira vez, olhando nos olhos um do outro, durante todo o tempo. Ele começou por cima, dominador, segurando os braços dela sobre a cabeça e ditando o ritmo, mas logo girou, fazendo com que ela ficasse por cima e deixando que os levasse até o clímax do seu jeito, antes de fazerem uma pausa para um jantar leve, durante o qual conversaram e acabaram conhecendo bem mais um do outro, de um jeito bastante natural.
Uniram seus corpos de novo, pouco depois, não se deixando vencer ou transparecendo qualquer traço de cansaço. Ela colocou um preservativo nele, antes de sentar em seu colo e moveu os quadris, criando um atrito gostoso entre o corpo dele e o seu clitóris. Ele a fez ficar de quatro e puxou os cabelos dela, enquanto a penetrava com força, e a chamava de gostosa ao pé do ouvido. Gozaram intensamente, mais uma vez, antes de tomarem banho juntos e, então, caírem nos braços de Morfeu, completamente saciados fisicamente, mas principalmente com os corações plenos de alguma coisa que ainda não sabiam – ou não ousavam - reconhecer.
acordou, horas depois, sentindo-se totalmente renovada. O quarto ainda estava escuro, porque havia cortinas grossas e bem fechadas que possibilitavam pleno conforto para os hóspedes dormirem até a hora que bem quisessem, mas havia um relógio digital próximo à aparelhagem de som que mostrava que já passava do meio dia. E não havia mais ninguém deitado na cama com ela. O lado oposto da cama estava frio.
A menina ainda teve esperança de ouvir algum barulho vindo do banheiro, mas isso não aconteceu e, quando ela finalmente tomou coragem para se levantar, confirmou a ausência de ou de qualquer coisa dele na suíte, antes de, bastante desanimada, resolver tomar um banho e se vestir, para deixar o quarto também.
Somente quando já estava no hall de entrada, andando depressa, sem jeito pelo modo como estava vestida e receando encontrar algum conhecido, recebeu notícias do homem com quem passara a noite em forma de um bilhete, onde ele dizia, não de forma grosseira, mas também não tão carinhosa quanto ela gostaria, que precisara “voltar mais cedo para casa, por causa de uma emergência familiar”, mas que ligaria para ela logo que pudesse, e que a noite tinha sido “realmente a melhor de todas. Ainda melhor do que poderia ter imaginado, mesmo já tendo sonhado com isso tantas vezes”.
Ele estava certo sobre aquela ter sido a noite mais fantástica da vida dela, mas tinha passado rápido demais, como era quando um adversário a ultrapassava, e ela não podia fazer aquele segundo voltar. E isso a estava deixando louca!
Pouco mais de vinte e quatro horas antes, pensava que tudo o que queria na vida era correr, se divertir e sair da casa dos pais, levando Will assim que pudesse. E, agora, ela tinha percebido que também queria muito uma outra coisa... Que queria muito alguém! Que, no fundo, como toda garota, ela também sempre tinha sonhado em conhecer um cara que fizesse momentos fora da pista serem tão emocionantes e épicos quanto os que vivia dentro dela.
Ela tinha achado esse cara... Mas a noite tinha passado rápido demais! E, exatamente como acontece com os sonhos, ele tinha desaparecido quando ela acordou.
But there's nothing to be afraid of
Even when the night changes
A mãe de não mencionou o fato de a filha não ter dormido em seu próprio quarto, nem o tamanho do short que ela estava usando quando adentrou a sala de casa naquela tarde de segunda-feira. Will quis saber detalhes da festa de comemoração de seu título, pois não tinha falado com a irmã no começo do dia, antes de ir para a escola. E, felizmente, o pai de ambos não estava em casa, porque, entre o almoço e o sermão do começo da noite na igreja, era hora de visitar a outra família, que não tinha seu nome, mas recebia muito mais dele que os próprios .
As coisas estavam calmas e a garota só não estava completamente em paz por não ter recebido qualquer notícia de , já que, por mais que o fato de ele não entrar em contato depois de apenas uma noite de sexo não fosse propriamente uma surpresa, isso não deixava de incomodá-la e entristecê-la, de uma maneira que ela não confessaria a ninguém.
Os problemas em casa começaram na quarta-feira, depois de uma visita de Noah em que Will escutou mais do que deveria e ficou sabendo da existência da outra família do pai. Então, diante da tristeza constante do irmão mais novo e da recusa da mãe em ir embora – como o caçula implorava -, e da postura do pai, que continuava exigindo que a mulher e o filho agissem como uma família feliz na frente das pessoas, acabou sendo um alívio viajar na quinta-feira para a Carolina do Norte, onde aconteceria a próxima etapa da temporada no domingo seguinte. Mesmo que ela estivesse com medo de encarar pela primeira vez, depois de tanta coisa ter mudado dentro dela, sua família era um caso perdido, enquanto sua vida e vitórias estavam apenas começando!
Foi no treino de sexta-feira que ela descobriu que ele não treinaria e só chegaria a tempo de disputar a corrida, porque estava na Califórnia com a mãe, que tinha ido cuidar do funeral de um irmão. Teria que largar em último, mas, do jeito que ele era talentoso, ela não duvidava de que ele ultrapassaria a maior parte dos corredores, e talvez ainda conseguisse um pódio! Sorriu, pensando nisso, mas ficou séria e irritada consigo mesma ao perceber que tinha gostado da notícia, porque suas esperanças estavam renovadas.
Pelo amor de Deus, era uma vida humana perdida! Não havia motivo para ficar feliz, mesmo que esta tivesse sido a única razão para ele ficar ocupado demais para sequer lembrar de ligar! Além disso, ter esperanças era tudo de que ela não precisava. Tinha que colocar na cabeça que fora uma noite apenas. Uma noite maravilhosa, mas uma noite que passou como o carro de um de seus ídolos da Fórmula 1, tão rápido que era quase como uma ilusão dos sentidos.
Então, ela tentou esquecer do começo daquela semana e se concentrou em treinar muito, em largar em uma ótima posição e em ensaiar um semblante indiferente para quando ele chegasse: uma reação controlada, a demonstração de uma indiferença que não havia de fato. Toda uma personagem que caiu por terra quando ele apareceu, já vestido para a corrida, no box da equipe dela, nitidamente procurando à sua volta, até achá-la e caminhar em sua direção, enquanto ela rezava para que um buraco se abrisse sob seus pés.
“!” Ele disse, com um sorriso torto nos lábios, bem diferente do sorrisinho que dava quando alguma fã se aproximava e que ela sempre julgara convencido e cínico.
“... É... Você tá bem? Eu soube do seu tio. Eu sinto muito. Eu nem sei como você consegue estar aqui hoje. Eu sei que as corridas são importantes pra você, mas...” Ela começou a tagarelar e ele percebeu que ela estava nervosa. Isso era bom, porque assim pelo menos ele não era a única pessoa tensa ali, com a mão gelada e suada, e o coração apertado de medo do que viria em seguida.
“Tá tudo bem, .” Ele falou, mais calmo. “Eu quase nunca tive nem contato com esse meu tio. Eu só precisei mesmo ficar com a minha mãe. O meu pai tinha negócios.” Deu de ombro. “Eu quero conversar com você sobre...”
“Não precisa.” Ela interrompeu, pensando que ele iria tentar deixar bem claro que o que tinha acontecido entre os dois não tinha sido nada, para que não ficasse um clima estranho entre eles.
“Não precisa ou você não quer?” Indagou, hesitante.
“Não tem necessidade de você me dizer que foi só uma noite e não significou nada, . Você é envolvente, mas eu não sou tonta pra me apaixonar por você. Fica tranquilo!” Declarou, falhando tanto como atriz que nada poderia deixar mais claro que o que ela negava era justamente o que tinha acontecido.
“É?” Ele perguntou, controlando o riso.
“É... É claro que sim. Você pode ficar totalmente tranquilo, !” Repetiu.
“Ok, então.” Falou, fingindo acreditar. “Boa corrida, !” Completou, surpreendendo a menina com um beijo rápido nos lábios, antes de se afastar e ir em direção a seu carro.
Como ela tinha previsto, ele fez ultrapassagens que ficariam para a história da Stock Car e, faltando quatro voltas para o final, ocupava a terceiro posição. Ela e estavam à frente dele, o que tornava tudo ainda mais complicado e emocionante, e ela sorriu ao ver pelo retrovisor todo o embate entre os dois, com levando a melhor dessa vez, e o carro de rodando na pista e indo parar na grama.
Quando voltou à pista, já estava na quinta colocação, e , por sua vez, tinha o carro quase encostado no de . Teve tempo e oportunidade para ultrapassar a garota, e nem ela, nem ninguém de ambas as equipes entendeu por que ele não o fez, e deixou que ela cruzasse a linha de chegada primeiro, terminando mais uma corrida em segundo lugar.
Eles saíram de seus carros, próximos aos boxes, e receberam alguns cumprimentos, mas ela mantinha os olhos nele. Sabia que ele, provavelmente, estava sendo questionado pelo que (não) fizera, mas ele não parecia nem um pouco preocupado com isso. Ela precisava entender tudo aquilo e, por isso, logo que se desvencilhou de jornalistas, chefes e colaboradores, a primeira coisa que fez foi ir até onde ele estava.
“O que foi aquilo? Aquele beijo?” Perguntou, tentando vencer todo o barulho que o pessoal fazia em volta. “E o que foi isso, agora? Você me deixou ganhar!”
“Você é louca! Eu nunca perderia de propósito.” Riu. “Por que eu faria isso? Eu nem quero levar você pra comemorar na minha suíte de hotel essa noite! Eu nem pensei em você a semana toda! Eu nem... Acho que to me apaixonando por você!” Declarou, segurando o rosto dela com as duas mãos.
“O que...” Ela começou a perguntar, boquiaberta. Era possível que ele estivesse falando sério? apaixonado? apaixonado por ela? Mas ela nem teve tempo de ter dúvidas porque, de repente, no meio de toda aquela gente, sem cerimônia nenhuma, ele colou os lábios dele nos dela, puxou o corpo dela para perto do seu, e eles trocaram um beijo demorado, que só foi interrompido quando eles sentiram um líquido gelado sendo jogado neles.
Normalmente, as garrafas de champanhe ficavam para a hora do pódio, mas o sócio capitalista de uma das equipes estava por lá, e ele achou que valia a pena gastar uma delas com o momento romântico do filho e da campeã da etapa.
Houve uma festa naquela noite, como sempre, mas a comemoração não contou com a homenageada.
Ela estava nos braços de alguém e seria novamente uma noite linda, que passaria rápido, como todo bom momento. Só que dessa vez ela sabia: o final daquela noite não mudaria o que eles tinham agora.
Even when the night changes
It will never change me and you
FIM
Nota da autora: Muito obrigada por ler!! Se tiver gostado, comente, ok? Ter retorno dos leitores significa muito pra mim!! De coração!!
Outras Fanfics:
De ficstapes:
03. The guy who turned her down (Memory Lane)
03. Earned it (50 shades of Grey)
05. All You Had To Do Was Stay (1989)
05. Up all night (Up all night)
06. All I have to give (Backstreet boys)
07. Night changes (Four)
07. In your pocket (V)
09. Fire Starter (Demi)
10. Better than revenge (Speak now)
11. This Moment (Prism)
12. I want to write you a song (Made In The A.M.)
14. Blue (Beyoncé)
15. Starlight (Red)
15. Do it (For You)
Outras shorts:
A bruxa tá solta, Insane Mardi Gras e Easter Game (em continuidade)
Corações em pedaços
Fly me to the moon e Moonlight Serenade (continuação)
Nem tudo é relativo
Provocadora gratidão
Season of love
Longas (e médias capituladas):
A Chave Para O Coração e Momentos chave de nossas vidas (continuação)
Dos Tons Pastel Ao Vermelho
Herança De Grego
No teu corpo
Quando nossos corpos falam
Segura, peão
Um (nada) santo remédio e O que não tem remédio (continuação)
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Outras Fanfics:
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03. The guy who turned her down (Memory Lane)
03. Earned it (50 shades of Grey)
05. All You Had To Do Was Stay (1989)
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07. Night changes (Four)
07. In your pocket (V)
09. Fire Starter (Demi)
10. Better than revenge (Speak now)
11. This Moment (Prism)
12. I want to write you a song (Made In The A.M.)
14. Blue (Beyoncé)
15. Starlight (Red)
15. Do it (For You)
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A bruxa tá solta, Insane Mardi Gras e Easter Game (em continuidade)
Corações em pedaços
Fly me to the moon e Moonlight Serenade (continuação)
Nem tudo é relativo
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A Chave Para O Coração e Momentos chave de nossas vidas (continuação)
Dos Tons Pastel Ao Vermelho
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Um (nada) santo remédio e O que não tem remédio (continuação)
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