07. No Pressure

Finalizada em: 15/04/2017.

Capítulo Único

O ano havia começado bem. Nada poderia dar errado desta vez. null havia finalmente superado o mau que fizera para null, era uma nova garota em um velho corpo, estava crescida e ainda mais decidida. null começara o ano ao lado de null. Não eram namoradas assumidas, mas 

null não conseguia negar o sentimento que sentia pela amiga, e saber que era recíproco a fazia se sentir bem. Seu ex namorado se mudou de cidade, foi para bem longe dali, finalmente as deixando em paz. Na virada do ano, null permitiu que null a desse um beijo de verdade, como aquele na casa dela, na frente de todos os amigos. Elas ficaram alguns meses sem se ver, o plano de ir embora de null fora cancelado depois da insistência da garota, e elas poderiam ficar juntas. Sem pressa.

null sabia de todo o medo de null. Magoar pessoas deve ser uma tarefa difícil. Estava disposta a esperar o tempo da amiga, nem que fosse mais cinco meses.

null sentia falta de null. Foram três meses árduos sem sua melhor amiga. null lembra-se de ligar para a amiga e ser ignorada diversas vezes, e todo dia fechava os olhos para dormir pensando nela, pensando em seu bem-estar. No dia seguinte, acordava e tentava novamente. Pedia para que o tempo fosse a cura das dores da amiga. null a ignorava, por mais se sentisse mau, por puro capriche. Acreditava que null fora o pivô do fim de seu quase relacionamento sério. Mesmo que null não tivesse falado sobre. Como o temporal, a dor passara.

Você não responde nenhuma das minhas chamadas
Eu acredito que um dia você vai atender
Não quero acrescentar nada a sua dor
Rezo para que o tempo faça uma mudança em sua vida
Percebo o quanto você mudou minha vida

Joseph era o nome do namorado de null. Eles namoravam naquela época ainda. null sempre batia de frente com ele, sempre por motivos banais ou quando ele se achava superior a null. Quando finalmente fora embora, deixou bem claro que null não passava de uma jovem problemática carente que ninguém merecia. null, com todo o amor que sentia, disse ao contrário:

—Você é a pessoa mais importante de minha vida.

Não era um "eu te amo", mas era o suficiente para null se sentir especial, amada, com o coração repleto de amor e bondade. Estava confusa novamente, com medo de tudo se repetir como fizera com null, logo agora que estava se reerguendo.

E não quero passar a vida com mais ninguém
Me escutou? Ninguém mais me merece
Oh, não, querida, o que quero dizer é
Você não precisa se decidir agora

2017 era um novo ano. As duas juntas, sem Joseph ou null para atrapalhar elas. Devagar, elas tocavam relacionamento. Não era algo assumido para as famílias, apenas para alguns amigos próximos. Levavam como lição a famosa frase "o que ninguém sabe, ninguém estraga". Ficavam de mãos dadas o tempo todo; não apenas mãos dadas, mas alguns abraços, carinhos, e arriscavam selinhos de vez em quando pelos corredores da escola.

null não gostava disso. Pediu o final de ano inteiro para que a mãe a mudasse de escola, queria sentir novos ares, novos amores. A mãe, dura como sempre fora, se negou. Disse que a escola era ótima, não tinha porquê se mudar, estava errada! null tinha dois grandes motivos para se mudar de escola. Ela prometeu desapegar da ex namorada, null, quem disse que funcionou? Com as cenas constantes das novas possíveis pombinhas sua imaginação ia longe. Imaginava sua menina de mãos dadas com ela, dando selinhos escondidos, e até a apresentando como amiga. Imaginava também a moça no ciclo de amigos dela, fazendo novas amizades e a causando ciúme. Tudo o que acontecia entre null e null, ela imaginava entre ela e null. Não gostava daquele sentimento, queria que tivesse evaporado junto com a amizade entre elas, todavia, era inevitável.

null falta uma semana. null sente-se preocupada, com a língua coçando para perguntar onde diabos sua ex namorada está. null está isolada, os amigos dizem que ela está abalada com os acontecimentos recentes, fala pouco, chora muito. null não sabia contar quantas vezes a vira chorando até se aproximar, e perguntar o que houve. Se arrependimento matasse...:

—Ela está muito doente. Pediu para que eu não contasse para ninguém, mas... mas eu não consigo.— soluçava forte, com lágrimas grossas sujando sua face. 

—Doente de que?

—Ela está com dengue. Eu não sei bem, ela parece que está muito mau e não consegue nem andar.

Após o sinal que finalizava a última aula, null guardou rapidamente o material e saiu mais rápido ainda da escola. A casa de null era na rua de cima da escola, então foi fácil chegar lá. A chamou no portão, uma mulher de cabelos negros enormes atendeu. Perguntou se podia a ver, que era uma grande amiga, e mesmo estranhando, a mulher a autorizou que entrasse.
null dormia tranquilamente. Sua irmã, a mulher que atendeu null, disse que era o efeito dos vários remédios que estava tomando. Estava com dengue forte, não conseguia andar e estava inchada. Seu nariz totalmente vermelho, a região do pescoço machucada, seus olhos arroxeados. 

null sabia que aquilo não era dengue. null acordou assustada, sem conseguir falar direito. Olhou para a moça na ponta da cama e deu um longo suspiro. Sua dor se fez presente em suas lágrimas. Diferente do que null pensava, null não chorava por ela, chorava por alguém estar vendo o que aconteceu.

—Dengue, é? Não está parecendo.

—Eu estava na frente de casa quando papai me mandou entrar, falou que queria conversar comigo. Com o cinto na mão, ele conversou. Ele está decepcionado por criar uma filha bissexual, e descontou a decepção em mim.— deu uma leve pausa para mostrar alguns hematomas.— Eu não posso ir para escola assim, então digo a todo mundo que é dengue e cansaço, apenas.

Estava sendo sincera, deixando a voz ser embargada pela voz. Chorar na frente de null seria aterrorizante, as duas não se falavam há muitos meses, e voltar a se falar assim não era o que ela queria.

Longos minutos null passou a observando. null tinha voltado a dormir alguns segundos depois de dar as informações a amiga, mas ela não teve coragem de ir embora. Queria abraçá-la, dizer que tudo ficaria bem, todavia, esse era o papel de null, e ela se negaria a fazer. Queria a ver feliz, a ver amada, a ver renovada depois de tudo o que sofrera, porque sabia que a ex namorada sofrera também.

Quando null soube o que realmente havia acontecido, não deu outra, foi visitá—la no mesmo dia. Fez com que null ficasse o tempo inteiro acordada, fofocando, as vezes null se dispunha a deitar ao seu lado apenas para conseguir a dar carinhos. null contou toda a confusão de uma vez, sem enrolar, em um fôlego só. null, mesmo surpresa, falou que tudo ficaria bem, a abraçou.
—Eu te amo.— null disse em lágrimas. Estava com medo de seu pai entrar ali e fazer tudo aquilo denovo.

—Eu também te amo.— respondeu receosa e baixo, ao pé do ouvido da amiga.

Na luta dentro de null, a bandeira de paz era null.

Estou perdendo a cabeça, estou delirando
E eu vou lutar por isso
Nunca vou desistir de um amor como esse
Finalmente eu achei alguém
Que me faz bem, como mais ninguém faz
Estou falando com minha consciência
Eu cometi alguns erros
Eu mesmo que cometi
Sou o único culpado
Eu  preciso de um tempo para acreditar de novo
Para amar de novo

Os tempos seguintes foram tranquilos. null voltou da escola, se recuperou da falsa Dengue. Os professores estavam feliz em vê—la ativa novamente, mais conversadeira que nunca. A diretora, que parecia a amar, foi a primeira a dar boas-vindas para a ex aluna nova. Tudo ocorria bem, se não fosse por uma coisa.

null estava em um conflito familiar. O pai de null queria a guarda da moça, que até então estava com a avó por parte de mãe, e a avó não queria dar. Afinal, não abriria mão da menina que cuidara a vida inteira e a daria para um maconheiro que mau cuidava de si mesmo. Deixou se convencer uma vez, mas não duas. null ia para escola apenas para ver null, a namorada a fazia bem; a fazia rir até a barriga doer, ou a deixava chorar tudo o que tinha que chorar em seu ombro, e depois dava um abraço bem apertado. 

Passavam por maus olhares, principalmente por uma amiga de null, que estava de olho em null, porém, invejosos não passarão. null sofria um conflito interno. Eram muitas coisas que estava passando em sua cabeça.

null e null reataram a amizade. Não se falavam como antes, para o bem de null, mas ainda assim eram grandes amigas. null se sentia insegura perto de null. Sabia que a namorada tinha uma consideração e admiração enorme na moça. E sabia que null daria o que null deixava a desejar. null se sentia atraída por null, mas não era lésbica nem bissexual. Não sabia se fazia diferença para null, mas para ela fazia. Como apresentaria null para a família?  Uma namorada era um letreiro neon dizendo "sou lésbica" para a família, mas ela não era. Desta vez, quem estava confusa era ela. Não sabia exatamente sobre o que, mas era insuficiente. Tanto quanto null era para si mesma.

Vida que segue. Por mais que null odiasse admitir, null estava distante. Ia para escola raramente, em dias de provas ou de entrega de trabalho. Ela ficava em casa o dia inteiro, só saia quando null ou null fossem lá, mas ia apenas até o portão de casa. Sua feição está diferente, null nota; ela está mais fechada, parece mais triste, com o olhar distante e quase sempre parece estar chorando. Seu corpo ganhou alguns quilos, seu bumbum está consideravelmente maior. Ela está com catorze anos, seu corpo está passando por várias mudanças, é normal que ela fique mais cheinha nessa época. Para ela, era um defeito. O real motivo dela não querer ir para a escola é o uniforme. Está marcando sua barriga não saliente, e a calça leggie deixa seus glúteos ainda mais expostos. Ela tem vergonha do próprio corpo, assim como tem vergonha de falar aquilo.

Coloco minha chave na ignição
Não tenha pressa garota, alongue-se para mim
Eu sei que você não tem intenção de partir
Garota eu preciso da sua atenção
E toda vez que eu te vejo fazer essa cara
Eu quero te amar em todos os lugares
Não faça isso, amor

Ela precisa estudar. Afinal, você faz sua própria sorte. Ela volta para a escola, não tão animada quanto antes. Algo impede que sua felicidade seja vista, e apenas ela sabe porquê. null diz que elas precisam conversar sério, elas marcam de conversar no beco de sempre depois da aula. Ela sabe o que é. O "namoro" não era um namoro; era um caso qualquer, elas ficavam e depois agiam como amigas. null, mesmo distante, impede null a começar outro relacionamento. A verdade é que ela ainda estava quebrada. Não tanto quanto null, mas estava. Ela tinha medo de enganar e iludir alguém de novo, o pior se alguém fosse null.

Elas saem da escola, vão ao beco em silêncio. Não era incomodo, era confortante. O silêncio fazia com que null pudesse sentir as emoções da outra. O beco estava vazio, era um lugar afastado das ruas. Com as pernas bambas e um sorriso envergonhado, null procurava o que falar. Pela primeira vez os ensaios não estavam em sua mente. Sua língua não se movimentava conforme seus pensamentos. null continuava quieta, olhando os próximos movimentos da outra.

—Precisamos conversar.— null fala. Os leves batimentos cardíacos da outra dá uma falhada. Era agora.— Eu não quero apressar seus sentimentos. null, eu sei o que se passa dentro da sua cabeça. Mas eu preciso que você fale comigo, que você seja completa aqui.—ela falava baixinho, quase sussurrava.— null, deixa eu te ajudar!— null continuou intacta, sem dizer uma palavra

Eu sei que você não quer falar, certo?
Nós estamos indo e vindo como faróis
Quando eu te toco, eu congelo
Garota você é tão fria, tão fria, tão fria
Como somos tão jovens vivendo como velhos?
Juntos na cama mas dormimos sozinhos

Aquele era o pedido oficial. Não haveria o verbo "namorar" na frase, null agradeceu mentalmente. Com tantos problemas psicológicos que estava passando, era difícil acreditar que alguém queria a ajudar. Era difícil imaginar alguém a amando quando o sentimento de insuficiente dominava seu coração.

Você não precisa se decidir agora
Eu vou estar esperando por você

null, eu só quero... um lugar para descansar.—ela não desabava em lágrimas, mas contê—las era impossível.— Eu aceito.

"Me ajuda a viver" era o real significado daquele beijo. Parecia um beijo qualquer para alguém que visse de fora. Todavia, para mim que sentia a energia das duas, era o beijo mais sincero que eu já vi.


 Inspirado em fatos reais.



FIM



Nota da autora: Você faz sua própria sorte. Lembro de ter ouvido isso de um grande ídolo meu. Bom, eu não sabia como terminar essa fic, porque a história real não teve um fim ainda, quando tiver eu volto para contar como foi. Depois de tanto drama, até que teve um finalzinho feliz, não acham? Então, deixem comentário, não custa nada, e você é sempre bem-vinda na nossa caixinha de correio denominada "caixa de comentários" haha


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