Finalizada em: 04/05/2021

Capítulo Único

Naquela manhã, estava especialmente com fome. O estômago vazio era bastante incômodo, até que o barulho vindo da mesa da Sonserina atravessou o recinto. A partir dali, os ovos mexidos no prato deixaram de ser interessantes.
! Ei, ! — Lino Jordan passou as mãos na frente dos olhos do ruivo.
A atenção de , no entanto, estava totalmente direcionada à figura que caminhava em direção às portas do salão principal. Os passos eram firmes, em momento algum ela olhou para trás.
— Terra chamando … — Lino persistiu.
abaixou as mãos do amigo, antes que chamasse a atenção dos demais colegas de casa. Era característica dos gêmeos Weasley ter dificuldades de foco, logo, quando algo ou alguém prendia uma dessas mentes inquietas por mais de dois minutos, a situação era séria.
Ao acompanhar o olhar do irmão, deparou-se com os últimos centímetros da capa do uniforme de cruzando as pesadas portas de mogno. O par de cabeças ruivas viraram-se, então, para a mesa de onde a garota veio. Draco Malfoy fazia um comentário aparentemente muito engraçado, arrancando risadas de todos que o cercavam. O lugar no banco à sua frente estava vazio.
Três.
Dois.
Um.

guardou uma maçã no bolso das vestes e levantou-se. Apenas bateu no ombro de seu irmão e partiu, andando despreocupadamente, como se seu coração não estivesse martelando no peito duas vezes mais rápido que o ritmo normal.
Seguiu pelo corredor rumo às escadarias. Subiu um, dois, três lances de escadas, até chegar ao quadro da velha bruxa segurando um lampião, o único naquele canto da parede.
— Onde está sua adaga, senhora? — Questionou ao retrato.
A mão enrugada e magra tocou o cinturão que adornava a cintura fina, tirando de lá uma espada curta, com a qual cortou a tela, sob a qual sua imagem estava magicamente pintada.
atravessou a passagem aberta, certificando-se, logo em seguida, que o tecido se refez à sua entrada.
No fundo do pequeno cômodo, onde não caberia nada além de uma cama de solteiro, estava sentada a razão pela qual ele deixou o café da manhã para trás.
— E aí? Você vem sempre aqui? — Perguntou à jovem de cabelos negros, sentando-se ao lado dela.
— Só quando tenho vontade de sumir. — Deu de ombros.
tirou do bolso a maçã que reservou para ela. Fez o esforço de tentar normalizar a respiração, afinal, ele não veio correndo atrás da garota, apesar desta ser sua vontade. Ah, se ela soubesse de todos os seus desejos…
— Não sei você, mas eu tô com fome. Metade sua, metade minha.
— Obrigada, . Muito gentil da sua parte.
Em silêncio, sentados lado a lado no chão, eles dividiram a fruta.
— Vermelha pra não te lembrar da doninha bípede. — Uma careta surgiu no rosto de .
A risada contida de valia mais que todos os galeões que ele e haviam ganhado naquela semana vendendo seus produtos. Na árdua tarefa de observá-la à distância, notou o quão abatida ela vinha estado nas últimas semanas. Cada vez comendo menos, saindo das aulas sem o rotineiro grupo de amigos, calada, cabisbaixa.
— Tem bastante tempo que não como uma maçã vermelha. Acabo comendo as verdes que o Draco carrega com ele.
tampou-a a boca de supetão, assustando-a.
— Em nome de Merlin, não toque no nome dessa criatura, é um mau agouro. Nem Voldemort fala esse nome!
Dessa vez, o volume das gargalhadas da morena tomou conta do aposento.
O Weasley acomodou-se novamente ao seu lado.
Abaffiato. Se sua bisavó nos expulsar daqui por atrapalhar o descanso eterno dela... — disse com expressão séria, apontando para a velha bruxa, que transitava também pela face interna da tela onde estava retratada. — Vou me ver obrigado a te levar pra torre da Grifinória comigo.
— Não sei se gostariam da minha presença, sou “inimiga”. — Fez aspas com os dedos.
— Impossível. Você faria mais sucesso que o próprio Harry.
Terminando de mastigar o último pedaço da sua metade da maçã, apoiou a cabeça no ombro do gêmeo, suspirando pesadamente.
— Por que você ainda tá com ele, ? — questionou.
— Não sei. Talvez eu esteja ficando cansada de tentar justificar.
Os dedos compridos de adentraram os fios escuros, acariciando-os. O perfume do shampoo alcançou o nariz do Weasley, levando-o a fechar os olhos por alguns instantes para se deliciar com a sensação de frescor que acompanhava a sonserina. A garota retirou da gola da blusa um delicado cordão de ouro e brincou com a adaga finamente adornada em fios dourados. O grifinório sabia que aquela era a herança mais preciosa para ela e era ao toque do metal que ela recorria para sentir-se acolhida.
Apesar de não ser uma família de grande fama, os tinham seu prestígio. Historicamente, os bruxos que carregam a marca da adaga com eles eram excelentes duelistas e sabiam impregnar os mais diferentes tipos de metais com magia e utilizá-los como extensão de suas varinhas. não era diferente, por isso mesmo chamou a atenção de Draco Malfoy. Era de conhecimento público que o Professor Flitwick a considerava um prodígio em sua aula de feitiços, muitos a evitavam por não conhecerem a doçura da , além da seriedade que assumia suas feições quando empunhava a varinha.
Tê-la na Armada de Dumbledore seria um tremendo trunfo, ponderou o Weasley.
— Nunca precisei vir aqui pra ter paz tantas vezes quanto neste ano. — comentou. — Ele tá cada vez mais distante, mais estranho, é impossível conviver com ele se outras pessoas estiverem por perto. — Sua voz perdia volume conforme seguia o discurso, como se ela estivesse apenas pensando alto. — Quando ficávamos sozinhos era bom, sabe? Às vezes íamos ao campo de quadribol no fim do dia ou esperávamos todo mundo ir dormir e o salão comunal ficar vazio… Ele nunca me assumiu, .
Gotas mornas molharam a camisa do ruivo. Como aquelas lágrimas eram dolorosas, valiosas demais para serem gastas com um lixo como Malfoy. Jamais o perdoaria por fazê-la chorar.
— Você fala como se ele estivesse morto. — comentou com cautela, evitando invadir aquela frágil bolha criada pela confissão da garota.
— É como se estivesse. Um ano nutrindo sentimentos por uma pessoa nas sombras. Sustentando sozinha um relacionamento que nunca existiu. Nossas conversas se tornaram monólogos sobre o Potter, sobre quão recompensador é ser membro da Brigada Inquisitorial da Umbridge, sobre como o pai dele é poderoso e influente.
passou o braço pelos ombros da morena, acolhendo-a em seu peito. Secou as lágrimas que desciam pela face pálida e permitiu que ela se acomodasse.
— Ontem à noite decidi conversar com ele, expor minhas angústias, contar que não sabia por quanto tempo mais eu seria capaz de insistir nessa unilateralidade. Sabe o que ele disse? Que não aceita ser cobrado por conta da minha carência estúpida. Se eu não quero, tem um monte de outras garotas que dariam tudo pra estar no meu lugar. Eu sou uma piada.
Que filho da puta! Normalmente, evitaria proferir xingamentos contra a mãe das pessoas, pois sempre se lembrava da sua e a via claramente erguendo a mão para dar um tapa em sua cabeça por ofender a mãe alheia, mas, neste caso, era impossível. Esse diabo deve ter nascido de uma acromântula com varíola de dragão.
— Eu saí da mesa, porque não conseguia digerir a Parkinson insinuando situações entre eles, que todo mundo sabe que nunca existiram, e ele rindo, soltando indiretas pra mim. , eu juro pra você, ele não era assim! O que tá acontecendo? Quando, nesse ano que estivemos juntos, eu deixei que ele fosse consumido pelas trevas que o cercam? De onde saiu essa pessoa? — O choro tornou-se compulsivo, soluços em sequência dificultariam o entendimento do que a morena dizia, se não fosse pelos corpos colados. — Eu não quero mais isso, ! Prefiro ficar sozinha, prefiro que me rechacem, que cuspam em mim pelos corredores, que prendam minhas coisas no teto como fazem com aquela menina da Corvinal!
— Sempre vou estar aqui pra você, . — Abraçou-a com mais força, depositando um beijo no topo de sua cabeça, enquanto sentia a respiração descompassada dela acalmar-se pouco a pouco. — Mesmo que todos se virem contra você, eu vou estar contigo. também. Posso arranjar reforço com meus irmãos se for preciso, só não conte com o Percy, ele é-
Um pedaço de bosta de dragão. — Disseram em uníssono.
— Isso mesmo. Essa é a minha garota. — O ruivo sorriu, inclinando o rosto para encontrar o olhar da garota, que buscava o seu.
Na lúgubre atmosfera que tomou aquele esconderijo, Weasley viu-se ainda mais encantado por .
Sua?... — a entonação tinha toques tão reflexivos, que tinha dúvidas se ela havia direcionado uma pergunta a ele.
— Claro que sim! Veja se sua bisavó deixa outra pessoa entrar aqui? Isso é um sinal que ela quer que eu entre pra família. — Piscou um olho, sorrindo. — Assim que você se livrar da doninha, corra pros meus braços, bela donzela.
fitou o chão por uma fração de segundo, o suficiente para que o grifinório buscasse reestabelecer a ligação entre seus orbes. A mão morna de tocou a bochecha ligeiramente úmida pelas lágrimas que escorriam, conduzindo o rosto da para próximo do seu. Contemplou os lábios entreabertos pela respiração ainda ofegante, os cílios com minúsculas gotículas presas, transformando as lágrimas de tanta tristeza em um modelo diminuto do céu estrelado.
Merlin, como ele queria beijá-la!
, o que-
— Eu te amo. Não é a melhor hora pra falar isso, mas acho que você já sabe.
— Não é como se você tivesse tentado esconder. — Ela sorriu timidamente.
— Prometo que não vou fazer nada, tenho segurado esse tempo todo, seguro um pouco mais. Sei que você ficaria muito chateada de sacanear a doninha, por mais escroto que ele seja.
A quintanista assentiu em resposta.
— Dê um belo chute na bunda dele.
O ruivo puxou a varinha do bolso e conjurou uma miniatura de tulipa. Vermelha como o brasão de leão que carregava no peito.
— Esqueça o que faz piada com tudo. Nunca falei tão sério na minha vida. Aceite o meu presente e meu coração, . Um desconto vitalício em Gemialidades Weasley também.
A sonserina tocou na diminuta flor com a adaga que carregava no pescoço. Delicados fios prateados circundaram o botão vermelho, cobrindo o presente que recebeu totalmente com metal.
— Ela vai ficar viva aqui pra sempre. — Em seguida, prendeu a flor imortalizada no peito, junto ao brasão de sua casa.
Segurou a mão do ruivo firmemente, levando as costas da mesma aos lábios.
— Você é uma preciosidade, Weasley.

O caminho até os jardins parecia ter aumentado notavelmente, talvez fosse o peso do olhar das pessoas sobre eles. Não era todo dia que se via caminhar de braços dados com Weasley pelo castelo, trocando sorrisos e conversando despretensiosamente.
Para o Weasley, era como se ele tivesse apanhado o pomo de ouro na final da Copa Mundial de Quadribol.
Seu anseio era segurar a mão dela, entrelaçar os dedos e apresentá-la aos seus amigos como sua namorada, contudo, sabia que ainda não era o momento, ela não estava preparada para isto. Os sentimentos por Malfoy ainda a acompanhariam por um tempo, então ele esperaria até que ela tivesse encerrado aquele ciclo para pedi-la em namoro.
Lembrou-se da ocasião em que conheceu a menina, quando ela o cercou para comprar um dos seus protótipos de logros, ainda reles aprimoramentos dos que eram encontrados na Zonko’s de Hogsmead. Aquilo deixou os gêmeos pasmos, jamais imaginaram que venderiam seus produtos para uma aluna da Sonserina. Dois anos se passaram desde então e ela ainda era uma de suas melhores clientes, religiosa compradora de caramelos incha-língua.
Sempre se ouvia pelos corredores reclamações quanto aos acidentes causados pelos doces no salão comunal da Sonserina.
O negócio de venda de logros e brincadeiras tornou-se lucrativo e popular, as encomendas não paravam de chegar e até mesmo os obstáculos colocados pela inquisidora Umbridge não eram suficientes para coibir que as Gemialidades Weasley se espalhassem pelo castelo. Todavia, cada dia era mais insustentável permanecer em Hogwarts. Dividir pequenos momentos de cumplicidade na companhia de , por vezes, era um motivo bom o suficiente para suportar mais um tempo. A promessa que fez a si mesmo de tê-la um dia seria combustível suficiente para que ele voltasse para buscá-la independentemente do que ocorresse.
Os devaneios apaixonados do gêmeo foram interrompidos pelo burburinho dos alunos que paravam para apontar, cochichavam entre si e espalhavam o acontecimento pelos corredores tão rapidamente, que ao chegarem aos jardins, ele já os esperava.
— Cuidado, , a pobreza pode ser contagiosa. Suas roupas podem ficar fedendo a mofo.
— Desde quando você se preocupa comigo, Draco? — encarou-o, sustentando a cabeça erguida e a expressão tranquila.
— Nunca. Apenas não quero ser visto na companhia de traidores do sangue. É isso que você quer se tornar, não é? Uma traidora que nem os vermes dos Weasleys. — O asco em sua face dava a impressão que ele estava em frente a um cadáver com semanas em avançada composição.
Com a visão periférica, o ruivo e a morena avistaram , Ron e outros grifinórios se aproximarem. Os dedos trêmulos de aquietaram-se sob o braço de e delicadamente escorregaram para alcançar a mão dele.
— Ótimo, não ande comigo, então. Não fale comigo. Não olhe pra mim. Pode avisar seu pai, a Umbridge, o Snape, a Murta-que-Geme, quem você quiser. Espalhe por cada canto desse castelo que acabou, Malfoy. Acabou.
— Do que ela tá falando, Draquinho? — Pansy Parkinson questionou.
— Nada importante. Fique quieta. — O loiro rebateu.
— Nada importante, não é mesmo, Draco? Você sabe muito bem do que eu estou falando. Fique à vontade, Parkinson. Se você quiser ocupar o meu lugar, a partir de agora tá vago. Não é isso que você busca há tanto tempo? Pois conseguiu. Só tome cuidado, ele nunca vai te deixar contar a ninguém que vocês estão juntos. Depois de um tempo você se cansa. — prosseguiu, sustentando-se branda. — Suportei por um ano inteiro.
— Cale a boca, . — Malfoy ergueu a voz.
— Epa, epa. Pode ir parando por aqui, doninha. — ergueu a varinha, apontando-a para o sonserino. — Grite com seus capachos, não com a .
— Você não ousa-
— E como não, seu bosta? Tô doido pra amassar essa sua cara. — respondeu com um sorriso no rosto. — Só não fiz ainda, porque tenho que te agradecer, Malfoy.
— Como é? — A varinha de Draco também foi sacada. — Sai do meu caminho, Weasley, ou vou pisar em você como faço com os outros insetos de esgoto.
— Isso mesmo: obrigado, Malfoy. Você foi o pior namorado pra garota mais incrível do mundo bruxo, magoou ela, a deixou escapar. Agora é a minha vez de ser o homem que ela precisa.
Todos ao redor tinham as bocas abertas e demais expressões de surpresa em seus rostos.
— Já chega da sua ceninha, Draco. Você perdeu. Acabou de vez.
— Ora, sua… — Malfoy olhava repetidamente de um lado para o outro, observando quantas pessoas estavam ali para ver aquela situação constrangedora.
Milésimos de segundo antes de movimentar sua varinha num ataque covarde, um raio vermelho atingiu-o. Cada músculo do corpo esguio enrijeceu-se e Draco Malfoy tombou para trás, petrificado.
— Draquinho! — Parkinson gritou.
— Chamem Madame Pomfrey antes que os pombos inaugurem o novo banheiro. — bateu nos ombros de Crabbe e Goyle, que assistiam a tudo estupefatos, seguindo em direção ao irmão e à sonserina.
— Já posso escrever pra mamãe contando a novidade? — Gina perguntou, surgindo entre os gêmeos.
— Por favor, dê essa alegria àquela santa mulher! — respondeu, radiante.
Os dedos longos entrelaçaram-se aos de , deixando um leve aperto.
— Você foi muito corajosa, minha cara. — Cumprimentou a amada.
— Oh, obrigada. — riu afetadamente. — O desconto em Gemialidades Weasley é válido a partir de quando?
gargalhou com tanto gosto, que jogou a cabeça para trás.
— Calma, meu amor, não fique nervosa. Me encontre na Torre de Astronomia depois do jantar e nós acertamos isso.



FIM!



Nota da autora: Olá,
obrigada por ter chegado até aqui! Espero que tenha gostado e derretido tanto quanto eu. Sinta-se muito amada <3
Beijos de luz!

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