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Finalizada em: 22/11/2017

Capítulo Único

Um término de relacionamento de anos seria o pontapé para ela perceber como é a vida fora de um casulo.
Como seria viver, depois de anos, fora dessas quatro paredes que se chama o amor?


É, eu acho que nós precisamos terminar. E a culpa não é sua, eu que não sinto mais a mesma emoção de estar ao seu lado. Espero que entenda!
Era isso que estava escrito na pequena tela do celular. Aquele pequeno texto gritava no display e eu não sabia fazer nada além de ficar em estado de choque.
Eu e estamos juntos há, pelas minhas contas, seis anos. Sim, longos seis anos ao lado da mesma pessoa, a mesma que eu amo profundamente e que, bom, pelo menos achei, não seria capaz de me abandonar.
Mas ele me abandonou. Ele me largou na primeira oportunidade, me deixando com um coração partido, pisoteado, atropelado, etc.
Todos sabem pelo menos maior parte, como é ter um coração partido. Como é ter que terminar um relacionamento de anos de uma hora para outra, sem mais nem menos.
Eu e tínhamos uma vida planejada. Estávamos prestes a construir um escritório de advocacia no centro da cidade, num dos prédios mais valorizados da cidade. Tínhamos o apartamento perfeito. A vida perfeita. Até falamos de noivado, mesmo que ele sempre mudava de assunto quando eu falava.
E tudo acabou. Tudo escorreu pelos meus dedos como a água que lava minhas mãos. Como a areia fofinha da praia do litoral. Ele foi embora como o vento vai em todo dia de calor.
Eu peguei meus contatos do celular, discando para aquele que eu sabia que viria no mesmo instante.
O que aconteceu, ?
- Ele, . terminou comigo por mensagem.
Deixa a porta do apartamento encostada que eu já, já chego aí.
E logo ele encerrou a ligação, me deixando sozinha por alguns minutos, que logo foram o suficiente para ouvir a porta da frente bater e dois toques na porta de meu quarto.
E lá estava ele. Meu melhor amigo desde que me entendo por gente. Ele segurava um pote de sorvete, algumas colheres e outros pacotes de biscoito.
- Eu sabia que você iria precisar disso. – ele diz, sorrindo e fechando a porta do quarto, caminhando em minha direção.
- Você acertou em cheio. – sussurrei, sorrindo fraco. Ele beijou minha testa, sentando ao meu lado e nos cobrindo parcialmente com o cobertor. – E... ele…
- É um babaca. E fim. Não vai defendê-lo. E nem diga que eu nunca te avisei! – ele diz, puxando-me para um abraço desajeitado e, ao mesmo tempo, extremamente aconchegante.
E ele avisou. Diversas vezes, até. Quando ele viajou no dia do meu aniversário. Quando ele decidiu me deixar de lado na festa de casamento da minha irmã para sair com seus amigos. Quando eu consegui entregar a tese do meu doutorado.
- Eu sou idiota, não sou? – falei, olhando para os lindos e brilhantes olhos de . – Você tentou abrir meus olhos, mas eu era tão cega. Eu sinto muito, .
- Ei, tudo bem. Afinal, você estava apaixonada. E, mesmo com todos esses bolos, ele voltava no dia seguinte e te fazia esquecer tudo. – ele diz, colocando uma colherada generosa de sorvete em minha boca.
- Você esteve em meu lado esse tempo todo. Até quando você esteve no Japão, você estava presente em minha vida. – falei, sorrindo de lado e beijando seu pescoço, vendo que o mesmo se arrepiou, fazendo minhas bochechas corarem.
- E sempre estarei. Não se esqueça disso, jamais! – diz, bagunçando meu cabelo em seguida.
Houve um tempo, há anos atrás, onde eu sentia algo por . Na infância, o mesmo era meu vizinho e melhor amigo, mas se mudou quando completou onze anos e nunca mais tivemos contato. Não até irmos parar na mesma faculdade e, por obra do destino, na mesma sala.
Eu nunca me senti tão feliz por ter um amigo, logo no início, na faculdade. Foram longos anos juntos, fazendo trabalhos juntos, um curando a ressaca do outro e estudando para provas. Éramos confidentes e todos ao nosso redor respeitam nosso momento juntos.
Eu segurei sua mão, entrelaçando nossos dedos e pousando a cabeça em seu ombro.
- Se lembra de quando ficávamos juntos fazendo os trabalhos do Sr. Fletcher? – ele indaga, me fazendo fitar seu rosto. – Que ficamos no meu apartamento, bebendo vinho e conversando até tarde da noite?
- Quando você admitiu que gostava de uma garota na época?! – falei, sorrindo e levantando um pouco meu tronco. – O que tem?
- Você não faz noção de quem seja essa garota? – ele indaga, segurando minhas duas mãos e virando seu corpo para me olhar por completo. – É, . É você.
Meus olhos arregalaram em questão de segundos. Seus olhos não estavam em um lugar fixo, vagando por todo o quarto para que não pudesse me encarar.
- Eu sei, deveria ter admitido há quase doze anos, mas você sabe, eu olhei para você, feliz com o , me deixou feliz. Eu sabia que não seria digno de tal sentimento se eu admitisse, além de que teria medo de perder você mais uma vez. O que me deixava bem era saber que você, de alguma maneira, também estava bem. Saber que você estava com um cara que, mesmo com todas as burradas, te deixava feliz.
- … - comecei, fechando os olhos e suspirando em seguida. – E se, num passado totalmente diferente do que vivemos, tivéssemos ficado juntos?
- Não existiria. Sabe por quê? – ele indaga. – “O passado pode doer, mas você pode fugir ou aprender com ele.”
- Rei Leão. – falei, sorrindo. – Você tem sempre as frases certas, não importa o momento. Mesmo que sejam de filmes infantis.
- Rei Leão deixou de ser filme infantil para ser um clássico do cinema. – diz, puxando meu rosto para perto do dele. – Eu só quero que entenda isso. Não podemos apagar ou mudar nosso passado, mas podemos escolher nosso futuro.
- O que você está tentando dizer? – indago, tentando não me deixar levar por aqueles lindos olhos.
- Que irei te ajudar a superar esse cara. Mas, quando for o tempo certo, quero ter a oportunidade de ter o nosso primeiro encontro. – ele diz, me fazendo sorrir e abaixar a cabeça, negando em seguida. – Você não pode desistir antes de tentar.
- , será que vai dar certo? – indago.
- Nós só iremos saber se um dia tentarmos. E, não me importa que demore seis meses ou um ano, eu estarei aqui com você de qualquer maneira. – fala, balançando os ombros.
Eu o abracei, depositando ali toda confiança que eu sentia, na esperança de, alguma hora, aquele sentimento florescer entre nós dois.
sempre foi o cara dos sonhos de qualquer garota e eu não pude aproveitar. Antes de conhecer , eu o via como meu melhor amigo e, consequentemente, um amor platônico.
Enquanto estávamos abraçados, apenas ouvindo nossos corações baterem, eu pensei no “E se?”. E se tivéssemos admitido um para o outro aquele sentimento? E se nunca tivéssemos nos encontrado naquele primeiro dia na faculdade? E se nunca tivéssemos nos conhecido? E se a gente tivesse namorado durante todos esses anos? E se eu não for digna do sentimento que ele carrega por mim?
Eram perguntas sem respostas. Óbvias, porém vazias. Vivemos anos como dois melhores amigos e, do nada, tudo pode mudar.
Apertei-o contra meu corpo, suspirando e beijando, mais uma vez, seu pescoço. Ele segurava minha cintura, acariciando o local de tempos em tempos.
E foi assim que ficamos o resto do dia. O silêncio entre nós dois não era de desconforto, longe disso. Era um silêncio acolhedor, onde pudemos pensar no que poderia acontecer no futuro. Pudemos assistir filmes, comer todas as porcarias de minha dispensa e entender que não precisamos de ninguém além de nós dois entre aquelas quatro paredes do meu quarto, que guardariam para sempre aquele momento em especial.
Poderia acontecer de tudo. Poderíamos não viver juntos, poderemos ser destinados a viver uma amizade, um romance ou qualquer outra coisa, mas sabia que eu teria sempre ele por perto. E ele sabia de alguma forma, que eu também estaria sempre ao seu lado.

(...)


Estacionei o carro na entrada do casarão que estava totalmente iluminado com pequenas lâmpadas de LED, misturado com as flores naturais.
Dei meu nome para a recepcionista, que me entregou uma pulseirinha e disse qual era minha mesa, me fazendo sorrir agradecida e caminhar para dentro do local onde ocorreria a cerimônia.
Sete meses se passaram desde que eu terminei com e, como o esperado, eu consegui superar muito mais rápido do que realmente imaginei. Trabalhávamos juntos desde então, o que era mais fácil do que eu realmente imaginava.
Sei o que estão pensando. “Você deu uma chance para ?”. Bom, mais ou menos. Tivemos nosso primeiro encontro há alguns dias e posso dizer que foi um desastre, mas um desastre dos bons.
Tudo começou quando eu fui para seu apartamento. Ele disse que iria cozinhar para mim e eu, como uma boa amiga e date, fui. Cheguei no horário combinado, fui agraciada com uma imagem dele cozinhando de avental e sem camisa, além de ter um verdadeiro Pinot Grigio na mesa e James Brown cantando suas melhores músicas na caixa de som, deixando o ambiente leve e convidativo.
Até que ele surgiu, me chamando para dançar e lá fui eu, completamente entorpecida pelo cheiro que emanava de seu corpo, deixando o meu em total estado de choque.
Estava completamente perdida em seus braços fortes e no seu perfume que mal tive tempo de sentir o cheiro de queimado vindo do outro cômodo, mais precisamente da cozinha. A fumaça era em grande quantidade e só vi correr para longe de mim, me fazendo correr atrás dele.
E lá estava a panela, totalmente carbonizada. segurava um extintor que tinha na cozinha e eu tentava fazer algo, além de ficar gritando e pedindo para que apague.
E, em quinze minutos e muito extintor, o fogo foi apagado e lá estávamos nós, observando tudo com um sorriso no rosto e o estômago roncando. Por fim, decidimos pedir uma pizza e assistir uns filmes, enquanto proferia seu milésimo pedido de desculpas acariciando meus cabelos.
Ali, naquele exato momento, com a luz da TV iluminando a sala, a caixa de pizza portuguesa, refrigerante e sorvete na mesa de centro, que eu percebi que eu o queria perto de mim. Não naquele momento somente, e não pela manhã do dia seguinte, eu o queria aqui para sempre.
E aqui estou eu, entrando no casamento de uma de suas irmãs, sentindo o coração apertado e o nervosismo a flor da pele. Mas, era por um bom motivo.
- E não é que você veio? – Sra. diz, sorrindo e beijando minha bochecha. – Sinta-se a vontade, querida! Sabe qual é a sua mesa, não sabe?
- Sei, sim. Cadê ? – indago, rodando meus olhos por toda a pequena capela.
- Ele está com Lindsay. Ela pediu para que ele entrasse com ela. – a mais velha diz, sorrindo e arrumando seu cabelo. – Irei falar com alguns outros convidados, sente-se ao meu lado durante a cerimônia. Sabe que eu adoraria e mais ainda.
Assenti com a cabeça, sorrindo de lado e indo para o primeiro banco, que estava destinado somente para a família.
Fiquei ali por, mais ou menos, quarenta minutos. Ora mexia no celular, outra observava o noivo no altar. O mesmo que parecia estar nervoso e demonstrava para quem quisesse ver, o que me fez sorrir.
Estava sentada quando ouço uma música, o que me fez virar o corpo e observar. O noivo caminhava, cumprimentando alguns convidados e segurando a mão de sua mãe, que estava com o rosto vermelho de tanto chorar.
Logo a Sra. entrou de braços dados com o pai do noivo. A mesma acenou para mim com um sorriso no rosto, subindo no altar.
Os casais de padrinhos entraram. Segundo minhas contas, havia seis casais, o que não deixava nada longo.
Quando começou a tocar a marcha nupcial, levantei rapidamente e virei meu corpo, observando a noiva aparecer no campo de visão. Ela estava lindíssima e um tanto nervosa, o que fazia também estar nervoso.
Quando estava perto do altar, ele me fitou e mandou uma piscadela, entregando sua irmã para o noivo, vindo em minha direção em seguida.
- Você está linda demais! Que bom que veio. – ele sussurra, beijando minha bochecha em seguida.
- Eu não perderia esse casamento por nada. – falei, sorrindo e retribuindo seu beijo.
A cerimônia foi linda. Eu chorei em alguns momentos, acompanhada da Sra. , que tomava cuidado para não borrar sua maquiagem impecável.
Quando a cerimônia acabou, fomos para onde seria a festa. Como era na fazenda, a maior parte era descoberta, o que dava para ver as estrelas, que não eram poucas.
- O que você deseja nesse momento? – indaga ao se sentar ao meu lado.
- Somente a sua companhia. – falei, sorrindo e apoiando minha cabeça em seu ombro.
- Cuidado, eu posso acabar colocando fogo no seu vestido. O que, de fato, não seria uma má ideia. – ele diz, me fazendo rolar os olhos e bater em seu ombro. – Estou sendo sincero.
- Eu sei. Até demais. – falei, fitando seu rosto tão próximo do meu.
Sabe quando tudo desaparece? Quando tudo o que você vê é o rosto daquela pessoa, a mesma que te faz suspirar a cada momento?
Foi isso que aconteceu. Eu, no auge dos meus 31 anos, estava agindo como uma adolescente de dezesseis com uma paixonite.
Mas, ao contrário do que eu esperava, não era uma paixonite. Não era alguém que eu iria gostar por meses e largar quando aparecer alguém melhor. era totalmente diferente e havia demonstrado neste tempo em que passamos juntos. Como quando ele apareceu quando eu sofri por . Quando eu fui apresentar a tese do meu doutorado e ele estava presente. Quando eu estava no casamento de minha irmã, sem , mas ele estava lá. Quando eu fiz minha festa de aniversário e não apareceu, estava lá, sendo o primeiro a me dar parabéns.
Eu percebi que nunca foi . Ele não esteve em meus momentos de necessidade, ele esteve somente nos bons, sempre comemorando minha vitória como se fosse sua.
Sempre foi o . O mesmo que ficou no Skype comigo durante uma noite inteira, pois eu não conseguia dormir de maneira alguma sozinha. O mesmo que, enquanto eu estava doente na faculdade, internada e tudo o mais, ele apresentava meus trabalhos e vinha me visitar.
Segurei seu rosto com uma das mãos, sentindo os pêlos da barba espetar meus dedos e a palma de minha mão, mas eu não me importei.
Sabia que ele esperava aquele momento tanto quanto eu. Não dizíamos nada, além de trocarmos olhares significativos e carícias.
Foi quando eu tomei a iniciativa. Juntei nossos lábios, sentindo meu corpo inteiro entrar em festa. Seus dedos desceram de minha nuca para minha cintura, acariciando as minhas costas nuas por causa do vestido. Passei meus braços ao redor de seus ombros, parando logo atrás de sua nuca e puxando alguns fios de cabelo.
Eu estava entorpecida em como seus lábios eram deliciosos e macios, que mal tive tempo de perceber que havíamos platéia. Lindsay gritava, batendo palmas, enquanto a Sra. dizia algumas coisas para outras pessoas ao nosso redor.
Quando me soltei dele, olhei ao redor, sorrindo envergonhada e abaixando a cabeça.
- Não sabíamos que tinha uma platéia aqui. – diz, mesclando o tom entre nervoso e sarcástico, mas logo um sorriso surge em seu rosto. – Bom pelo menos agora tem testemunhas de que foi você que me beijou, e não eu. Vocês viram, não é?
- Para de ser palhaço! – exclamei, batendo em seu braço.
- Eu só vim avisar que iria jogar o buquê. – Lindsay diz, balançando as flores em sua mão.
- Eu dispenso buquê. – falei, vendo a mesma rolar os olhos. – Eu não vou me matar para pegar um bocado de flores no meio de mulheres loucas.
- Você é uma estraga prazer, isso sim. – ela diz, dando de ombros e saindo de perto.
- O que você fez? – indaga. – Por que me beijou? Digo, eu que deveria fazer isso, afinal, eu que gosto de você nisso tudo.
- Você tem total certeza disso? – indago, puxando-o para mais um beijo.
- O que você quer dizer com isso? – ele indaga após nos separarmos.
- Pensei que você fosse mais inteligente, . – falei, sorrindo. – Eu também gosto de você.
- Gosta? Digo, gosta mesmo? – ele indaga. Seus olhos estavam arregalados e um sorriso surge no seu rosto. – Droga, , você não tinha que fazer isso comigo!
- O quê? – indago.
- Isso. Se você soubesse o quanto eu esperei para que isso acontecesse. – ele diz, puxando-me para perto dele. – Eu esperei. Eu fui paciente. Eu te ajudei com tudo em todo esse tempo, e agora… Eu estou nervoso demais.
- Não tem motivo para ficar nervoso. – falei, dando um selinho em seus lábios. – Nós vamos viver um dia de cada vez. Uma novidade de cada vez.
- Droga, já ia perguntar onde iríamos fazer nosso casamento. – ele diz, rindo em seguida. – Mas, sim, um dia de cada vez.
E ele logo me beijou, fazendo qualquer dúvida de que eu realmente gostava dele desaparecer, como se fosse a água que lava minhas mãos, a areia fofinha da praia do litoral e o vento que desaparece no dia de calor.


Fim.



Nota da autora: Sem nota.



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