Capítulo Único
Os músculos de , se pudessem, o agradeceriam por finalmente acabar a série de duas horas de exercícios que ele estava fazendo naquela tarde. Depois de tantos compromissos pela manhã – a última reunião com o elenco da nova série estrelada por ele que começaria ser gravada dali a quinze dias, sessão de fotos para a Calvin Klein e almoço com a assessora – a academia era seu refúgio para se distrair, principalmente ao som da sua playlist de Jazz que ele tanto gostava.
Mas, depois de duas horas ali, ele se sentiu esgotado e tudo que desejava era tomar um banho e terminar de decorar as primeiras falas do seu personagem, largado no sofá comendo um sushi que ele tanto gosta.
O trânsito de Los Angeles era terrível no final da tarde – pessoas voltando do trabalho, turistas visitando a cidade e paparazzi atrás de algum famoso que estava caminhando pela praia. Era um caos, para ser sincero; mas, vivendo há mais de 17 anos na cidade, só podia sentir carinho. O bairro que ele vive, Culver City, também é uma mistura do que ele mais gosta na cidade: a arte que respira ali a quatro cantos e o silêncio aconchegante.
Los Angeles abraçou o ator quando ele tinha apenas 19 anos e estava começando sua jornada em busca do estrelato quando saiu de Sheffield, na Inglaterra. percorreu Hollywood inteira atrás de testes em pequenos filmes como figurantes, onde fez uma ou duas pontas. Sua carreira começou ir bem somente três anos depois, quando ele conheceu Amanda, uma atriz que já era conhecida no ramo do teatro, e apresentou a ele uma Los Angeles que não conhecia, mas que anos depois, se tornou seu lar.
Aos 27, um produtor de uma rede de televisão bastante conhecida – CW – o convidou para participar de alguns episódios de sua série que já estava ao ar mas, o que era para ser só uma participação, acabou por se tornar um personagem regular, de tanto que o público gostara dele. atuou lá por mais dois anos, quando a Marvel prestou atenção nele.
Naquele meio tempo, Mandy, a mulher que o ajudou no caminho para o estrelato, o abandonou. Foi um período muito, muito difícil para . Ele foi apaixonado por oito anos simplesmente deixou-lhe um bilhete dizendo que não dava mais, só. Foi inevitável não se sentir insuficiente, ainda mais quando a mulher, duas semanas depois, apareceu com outro ator famoso no tapete vermelho de uma premiação. Aquilo foi um baque total, mas também uma motivação para ele. Ele está há seis anos na Marvel.
No mês seguinte, estava assinando o contrato com para dois filmes que fariam parte de uma sequência de outros de Super Heróis – os Vingadores – e seria o vilão deles. Algo inédito pra sua carreira, e ele temeu um pouco na época. Mas sua atuação foi feita com maestria e nessas produções ele conheceu pessoas que se tornaram seus melhores amigos.
Seus fãs também estavam cada vez mais engajados, pois muitos eram fãs da Marvel e ele atraiu muito mais. Sempre que podia, postava uma foto ou outra no Instagram – não era tão ativo por lá – e tentava responder o máximo de perguntas que os fãs lhe mandavam todos os dias no Twitter. Suas causas também foram ouvidas – defendia a comunidade LGBT+ e o Meio Ambiente, além de ser assumidamente do partido Democrata – e ele começou a cada vez mais participar de protestos em prol.
Quando chegou em casa, refletiu sobre a reunião que teve naquela manhã com o elenco de Midnight Memories, onde ele interpretaria um agente do FBI especializado em observar o perfil dos assassinos mais procurados, mas, ao longo de sua jornada, acaba se apaixonando por uma assassina de aluguel. Seria a primeira série de TV que ele seria o protagonista e estava animado pra ver o que o público acharia. Além disso, precisava também falar com seus pais sobre esse novo trabalho, já que não visitaria a cidade natal tão cedo até que boa parte da série estivesse gravada.
- Boa tarde, Sr. . – ele ouviu a voz de Maggie, a senhora que cuidava de sua casa e estava saindo da cozinha.
- Boa tarde, Mag – respondeu, jogando suas chaves na mesa. Maggie estava saindo da casa quando parou na porta e virou novamente para .
- Sua mãe ligou hoje e pediu que retornasse – a senhora falou.
suspirou e passou as mãos pelos cabelos.
- Ela disse algo?
Maggie balançou a cabeça em negação:
- Ela só disse para o senhor ligar de volta. E lhe aconselho fazer isso logo, ela parecia muito nervosa. – assentiu. – Até semana que vem.
- Até, Mag.
Antes de ligar para sua mãe, tomou um longo banho quente para relaxar os músculos. Meia hora depois, ele estava na cozinha fazendo um suco verde; em seguida, ligou para Penélope:
- Oi, mãe. Como estão as coisas?
- Ai , finalmente. – a voz da mulher era acelerada. – Você precisa vir para Sheffield, logo! Melhor ainda, hoje!
franziu a testa, muito confuso.
- Por que? Aconteceu alguma coisa? Meu pai está bem?
- Sim sim, ele está bem, não aconteceu nada com a gente. – a sra. fez uma longa pausa, emendada com um suspiro cansado. – É sobre sua filha.
🏥🥀🕔
O trabalho como professora, respondia sempre quando alguém a perguntava o porquê dela ter escolhido a profissão, era prazeroso. Com seus 36 anos, a mulher não poderia se imaginar fazendo outra coisa. Seus alunos eram seus pupilos e a arte de se ensinar foi algo que a mulher sonhou desde pequena e ficou muito feliz quando seus pais deram apoio a ela.
Claramente, ficar em Sheffield não era um positivo pois lá não havia faculdade de Letras e a maioria dos professores que lá trabalhavam jamais sairiam de seus postos, e isso não foi ruim porque, ao se mudar para a cidade de Manchester, pôde tanto fazer a faculdade quanto conhecer uma cidade que ela só visitava algumas vezes no ano para visitar os parentes. E, em cinco anos, ela logo conseguiu um trabalho na escola estadual da cidade e foi morar com seu marido, e sua pequena Jackie, fruto de outro relacionamento. E eles já viviam ali há 17 anos.
Foi finalizando uma aula, na manhã de quinta-feira, que ela recebeu a ligação do seu marido: Jackie sofreu um acidente, estamos no St. Jude.
O caminho até o hospital não era longo, mas o trânsito na hora do almoço era caótico e por isso, levou meia hora para chegar ao St. Jude. Ao pisar na recepção do hospital, a mulher se deparou com seu marido, que estava mais branco – algo que ela imaginava ser impossível – do que o normal. O coração de parou uma batida quando ela viu os olhos de cheios de lágrimas.
- O que aconteceu? – ela não conseguiu controlar a voz, que saiu muito baixa.
- Ela tava indo de carona com a Kelly para casa e um caminhão acertou elas na 13 de Setembro. – falou, abraçando sua esposa em seguida, quando viu ela choraria. – A Kelly tá bem, só precisou de um curativo... Mas a nossa menina ela, ela tá...- – a voz do homem falhou e ele segurou um soluço. – Ela foi direto para cirurgia. Levaram-na há quarenta minutos.
Por dez minutos, os dois não se soltaram do abraço. Lágrimas escorriam pelo rosto do casal, que murmuravam a todos os deuses para que a filha ficasse bem logo, mesmo que eles não direito o que acontecera.
saiu para pegar um lanche para assim que ouviu o estômago da mulher roncar, já que ela não havia almoçado. Quando ele voltou, um médico estava falando com .
- ... e para isso, precisaremos uma transfusão de sangue. O máximo que conseguirmos. – finalizou o doutor, que encarou o homem que se aproximava. – Você deve ser o . Sou o doutor Gillian, estou cuidando de sua filha. – ele estendeu a mão em comprimento, que rapidamente apertou.
- Ela não é minha filha, mas... – murmurou ele – Ouvi que ela precisa de transfusão, o que está acontecendo?
respirou fundo, ainda tentando absorver o que o médico havia acabado de explicar.
- O doutor estava dizendo que a perna da Jackie... Ela está com hemorragia interna e vão precisar de mais cirurgias.
O Dr. Gillian assentiu.
- E como é uma veia de extrema importância no membro, precisaremos de transfusão. Os pacientes perdem muito sangue quando se trata de hemorragia interna. – completou ele – E, eu estava dando uma olhada no formulário da Jackie, o tipo sanguíneo dela é O. A senhora ou alguém da família possuem o mesmo tipo?
balançou a cabeça.
- Vocês não teriam aqui no hospital?
- Infelizmente o nosso banco de sangue está com pouco estoque, em especial do tipo de sua filha, que é não é tão comum. – disse o médico. – Podemos pegar o que temos, mas ainda sim é pouco. Precisaremos de mais.
abaixou a cabeça para encarar os olhos verdes da esposa, que já olhavam para ele.
- Preciso fazer uma ligação.
🏥🥀🕔
Flashback on, 17 anos atrás
chegara em casa naquela tarde de segunda um tanto desapontada, por mais que ela quisesse esconder. Todos seus colegas, naquele dia, anunciaram, animados, que receberam as cartas de aceitação das faculdades que almejavam. A melhor amiga da jovem, Emily, só faltava soltar fogos de tão feliz que estava com a aprovação em Oxford. estava feliz por ela, já que a amiga era super dedicada e merecia mais que ninguém a vaga na faculdade mas...
Sua carta de aprovação da Universidade de Manchester ainda não tinha dado nem sinal de vida. Era para ter chegado na semana anterior e, por mais confiante que estava quando fez os exames, um pontinho de insegurança se destacava na jovem. Tudo que ela queria era se jogar na cama e ficar deitada se lamentando pelo resto do dia.
Mas não podia. Tinha marcado que comeria uma pizza com o namorado em um restaurante perto da casa dele; era a noite de comemorar para o garoto. Não a aprovação da faculdade – não para ele, que nunca teve esse sonho – mas sim as passagens que havia conseguido para ir para os Estados Unidos. O jovem conseguira duas, uma para ele e outra para . A namorada nunca quis ir embora e largar tudo para seguir o sonho de viver da arte com e, no fundo, ele saiba disso. Mas nunca, desde que começou a ver um futuro em sua vida onde estaria presente, ele deixou de tentar convence-la a ir para Los Angeles com ele.
- Uau, você tá linda!– Melissa Silver disse pra filha ao entrar no quarto da mais jovem. estava com um vestido cor de vinho e terminava de fazer um delineado nos olhos.
- Obrigada mãe. – murmurou, um pouco pra baixo.
Melissa estranhou o tom da filha.
- Tá tudo bem, ? Pensei que fossem comemorar hoje à noite.
- É, mas eu pensaria que comemoraríamos a minha ida à UMC também. – respondeu a garota, pegando seu perfume em cima da penteadeira e borrifou em seu pescoço e punhos.
A mais velha das Silver franziu o rosto ainda olhando para a filha.
- Você viu a caixa de correios hoje, filha?
- Não. Você e o meu pai já tinham chegado então imaginei que já tinham pego as correspondências. – falou ela, virando-se e olhando a mãe.
- E pegamos, mas... Quando vimos a carta, deixamos lá pra você pegá-la. Queríamos fazer uma surpresa. – Melissa falou em seguida. O olhar da filha era de choque e haviam lágrimas nos olhos verdes dela. – Ainda está lá... Se eu fosse vo – antes que a mãe pudesse terminar, a garota saíra correndo do quarto.
**
esperava empolgada em frente de sua casa quando parou sua moto. A loira não podia esconder seu sorriso enquanto caminhava de mãos dadas com o namorado até a pizzaria. Esperaria a hora certa para falar a ele que entrara na Universidade.
- Você tá com um sorrisinho desde que saímos da sua casa, baby... – comentou assim que o garçom saiu com o pedido do casal. Pizza de marguerita e uma garrafa de Coca-Cola, de sempre. – Aconteceu algu..?
- Eu passei na UMC! – não se aguentou e soltou animada a notícia.
travou por um instante, sem reação. O garoto não sabia como responder ao que a namorada falava a ele... Não , que ainda esperava que a namorada fosse com ele para os Estados Unidos. Mas ir para Manchester era o sonho dela, então ele tinha que ficar feliz por . Só ele e os pais da garota sabiam o quão duro ela tinha batalhado nesses últimos anos do Ensino Médio.
- Eu... – a voz do jovem se perdeu ali. – Meu Deus, ! Parabéns! Parabéns, meu amor! – ele se levantou da cadeira e puxou a loira consigo, dando nela um abraço apertado. – Você merece! Estou tão feliz por você, baby!
Dois meses depois
- Ele tá indo, então. – Emily falava enquanto perambulava pelo quarto da amiga. – , você falou pra ele?
- Não tive coragem. – a loira respondeu, jogada na cama. – Eu o vi todos os dias nesse último mês e não tive coragem. O que eu posso fazer, Emi?
A asiática sentou ao lado de na cama.
- Contar, óbvio. – falou ela como se fosse a resolução de todos os problemas. E, bem, era. – , daqui dois dias ele pega um avião para a America e volta sabe-se lá quando. Ele precisa saber.
A outra balançou a cabeça, concordando.
- Você me leva na casa dele?
**
- Tá tudo bem, baby? – perguntou assim que entrou no seu quarto. Emily tinha ficado no carro esperando a amiga.
- Sim sim, tudo perfeitamente bem. – respondeu, observando as malas feitas no quarto do namorado que ela tanto conhecia.
pegou a mão da namorada e a levou até a cama, sentando-se um do lado do outro.
- Estou tão animado, ! Em dois dias eu vou pra Los Angeles e, meu Deus, eu nem sei esconder isso... – ele falava sem parar. – Não vejo a hora de você se formar e ir morar comigo lá. Baby, você tá feliz com isso, não tá?
balançou a cabeça em concordância.
- Muito, você sabe! – ela respirou fundo. – Só tem um problema..
- O que?
A loira abaixou o rosto. Encarar os olhos azuis de para dizer aquilo seria muito difícil.
- Eu estou grávida.
Flashback off
🏥🥀🕔
Quinta
não vinha tanto a Inglaterra quanto gostaria. Ao longo dos anos que vivia nos Estados Unidos, o ator só visitara sua família em ocasiões especiais e eventos que era necessária sua presença, como casamentos, aniversários, bodas... E enterros. A última vez que ele tinha ido a Sheffield, ou em qualquer território Europeu tinha sido há oito meses com a comitiva do filme que estava estrelando: ficara só dois dias, mas com a promessa que visitaria seus pais assim que tivesse tempo.
Não teve, ele precisava admitir. E também não tinha tanta vontade quanto poderia ter. Sua terra natal trazia vários sentimentos que ele pensava que não existiam mais. E ele sentiu todos eles quando sua mãe pediu para ele voltar pra casa. Porque a filha sua filha precisava dele.
Filha
repetiu a palavra inúmeras vezes desde o telefonema da mãe. Quando ele entrou no avião, duas horas depois da ligação, ele repetia a palavra. E repetiu quando, tarde da noite, pegou um táxi na fria Manchester e foi para um hotel. Seus pais estariam o esperando.
Filha
Ele tinha uma filha, e ele sabia daquilo. Sabia que, ao embarcar para Los Angeles, 17 anos atrás, ele ia deixar várias coisas para trás, incluindo uma adolescente grávida por quem foi apaixonado na juventude. Mas, não sabia se era pelo egoísmo ou a alegria de viver um sonho, ele tinha deixado de pensar no bebê. Tinha deixado de pensar em e tudo que havia deixado para trás. E por anos, ele nunca mais havia pensado naquilo.
Mas, com o telefonema da mãe, tudo voltou, como uma onda.
Quando chegou ao hotel, enorme – diga-se de passagem, no centro da cidade, logo pegou a chave do quarto que tinha reservado e subiu pelo elevador, sem se preocupar em acordar os pais naquele horário. Na manhã do seguinte falaria com eles.
Sexta
- Eu tenho algumas perguntas. – falou ao encontrar os pais no restaurante do hotel, prontos para tomar café. – Mas preciso de um abraço antes, senti falta de vocês. – a mãe solta um murmúrio e se levanta da cadeira para abraçar o filho. O cheiro de Sheffield estava impregnado na mulher e no pai, quando o abraçou.
Instantes depois, os três estavam sentados a mesa, comendo e falando de amenidades quando Penélope limpou a garganta e começou a falar:
- Sei que uma das suas perguntas é “o que estamos fazendo em Manchester?”. veio morar aqui assim que começou a faculdade e nunca saiu da cidade. – falou direto, sem dar brecha para o filho falar algo. – E não podiam transferir a menina. O caso dela é muito instável.
- E o que, exatamente, aconteceu com ela?
- Sofreu um acidente ontem à tarde. Estava com uma amiga no carro e um caminhão as acertou, bem no lado da sua filha. – a mãe respondeu. – nos ligou assim que ouviu que a filha precisa de transfusão. E, como o sangue dela não é compatível...
- Eles precisam do meu. – sussurrou, estendendo as costas na cadeira.
O pai, que até então estava calado, falou:
- , filho, eu sei que é difícil pra você. Você não vê a há anos e não conhece sua filha, sabemos disso, nem nós a conhecemos muito bem. nos manteve afastados o máximo. – ao lado do marido, Penélope concordou. – Mas o estado da garota é muito crítico. Ela tem o risco de perder a perna e. estava desesperada no telefone. Elas precisam de você.
🏥🥀🕔
- Vou pegar um café, tudo bem? – avisou quando se levantou da cadeira ao lado da esposa. – Quer alguma coisa pra comer?
- Meu estômago não aceita nada, . – falou , deixando os olhos castanhos do marido encontrarem os verdes dela. – Mas vá. Eles já devem estar chegando, então...
assentiu, dando um beijo na testa da loira e saindo em seguida.
soltou a respiração enquanto observava a filha acamada do outro lado do vidro, cheia de fios e aparelhos por todo o lado. Sua perna machucada estava enfaixada, só aguardando a cirurgia. E, pelos deuses, não queria nem saber como seriam os próximos passos depois de tudo aquilo.
A primeira de todas, era um dos mais difíceis: encarar depois de tantos anos. nunca ia esquecer-se de quando o vira pela última vez, de como foi tratada pelo ex-namorado quando o disse que estava grávida. Ter que falar com ele depois de dezessete anos era algo que ela não queria ter que precisar.
Ah, Emily, você devia estar na cidade, pensou ela, passando as mãos pelo cabelo que estava solto em suas costas. Emily, sua melhor amiga desde o colegial, tinha o mesmo tipo sanguíneo de Jackie e fora ela a primeira pessoa pra quem tinha ligado na quinta, mas a amiga ainda não retornara da Austrália, onde estava se dedicando a pesquisas da Universidade de Oxford há algumas semanas. ainda se lembrava dos pedidos de desculpas de Emi, por mais que repetira que não tinha problema e que daria um jeito.
🏥🥀🕔
gostaria de saber o que ia fazer quando encontrasse Silver depois de tantos anos. Sentado no banco traseiro do carro dos pais – coisa que o fazia lembrar-se da adolescência – o ator observava as ruas movimentadas de Manchester, vendo os carros passar em alta velocidade naquela hora da manhã, imerso nos pensamentos.
- Como ela tá? – perguntou ele, encontrando os olhos azuis da mãe pelo retrovisor.
- Falamos poucas vezes com ela ao longo dos anos. Mas ela está bem. Casou-se, é professora no ensino fundamental. – respondeu Penélope. – Ela está feliz, .
Ele assentiu, voltando a pensar novamente. Era um alívio pra saber que a antiga namorada nunca tinha desistido do sonho de virar professora, ele ainda se recordava das madrugadas que passava em claro estudando para entrar na UMC. O ator se sentia feliz por ela.
Em alguns minutos, os integrantes da família saiam do carro, caminhando para a entrada do St. Jude. estava com óculos escuros e um boné para não chamar atenção de algum possível paparazzi que seguia ele e sua família o tempo todo.
- Viemos para ver Jackie.. – sua voz se perdeu no meio do caminho, já que o homem não sabia o sobrenome de casada de .
- Bennet. – o pai logo se apressou e falou à recepcionista, que assentiu.
- Quarto 290, no segundo andar.
🏥🥀🕔
andava de um lado para o outro quando ouviu o barulho do elevador, indicando que alguém chegara ao andar. Com pensamento que fosse , a mulher tentou abrir um sorriso que foi imediatamente parando no meio do caminho quando ela viu quem estava caminhando pelo corredor. Com sua jaqueta de couro preta, uma calça jeans estampa militar e um boné que cobria seus fios castanhos, podia ser qualquer coisa, menos irreconhecível.
- ! Quanto tempo! – a voz de Penélope tirou a mulher dos devaneios quando a abraçou.
- Penny, oi! – foi tudo que a loira conseguiu dizer a ex-sogra, que a apertava em seus braços.
- Sinto muito pela sua filha. – sussurrou a mais velha em seu ouvido. – Vamos melhorar isso.
assentiu e sorrindo genuinamente para a morena.
- . – Mike, o mais velho dos , falou, dando um leve aceno com a cabeça. – Você está ainda mais bonita.
- Obrigada Mike. Obrigada mesmo.
não sabia o que dizer. Não quando seus olhos encontraram os verdes de por trás dos óculos que ele usa. A primeira coisa que passou por sua cabeça foi um sinto muito mas, quando o pai comentou que a mulher estava ainda mais bonita, não podia discordar e pensar em outra coisa. estava tão bonita quanto a dezessete anos atrás. A única diferença eram os cabelos loiros que estavam mais curtos, batendo nos ombros. Tirando isso, o tempo não havia passado para Silver.
- Bom te ver, . – ele falou, tirando os óculos finalmente.
- Você também. – murmurou . – O doutor Gillian está te esperando para fazer a coleta. Seu médico já mandou seus outros exames para cá, não é?
- Sim, tudo certo. - assentiu o ator.
- Ótimo! – suspirou ela aliviada. – Vai ser tudo muito rápido. Eu vou contigo no consultório. Se tudo der certo, amanhã será a cirurgia. – essa era a única coisa que aliviava o coração da loira naquele momento. – já deve estar chegando.. Enquanto isso – ela virou-se para Penélope e Mike – Vocês querem vê-la? – perguntou, apontando para a porta atrás do outro lado do corredor. – Não precisam entrar, se não quiserem, tem um vidro que separa. Mas, vocês me ajudaram tanto... Se quiserem. – sorriu de lado.
Mike e Penny se entreolharam e depois viraram-se para o filho, que disse:
- Posso ir também?
- Não. – respondeu sem encara-lo.
🏥🥀🕔
- A gente pode conversar? – pediu no momento que a mulher apertou o botão do elevador.
- Não temos nada pra conversar, . Não temos há muito tempo. – falou , soltando um suspiro cansado em seguida. – Eu só quero que tudo isso acabe logo.
- Eu também, acredite. Mas quando minha mãe falou que a minha filha precisava de mim, eu esqueci completamente dos meus problemas e corri pra cá. – soltou ele, relaxando seus ombros na parede de metal.
- E o que você quer? – a loira pediu ao levantar a cabeça para encarar aqueles olhos azuis. – Quer que eu rasteje em seus pés, agradecendo por ter saído da sua vida de luxo só pra doar o sangue pra Jackie? É isso? – falou ela furiosa.
abriu a boca para revidar, mas a porta do elevador abriu naquele momento.
prontamente de recompôs pra sair dali, mas antes disse:
- E nunca mais, nunca mais , chame-a de filha.
A conversa com o médico havia sido rápida, com algumas informações dadas à e a sobre como seria o procedimento e a quantidade de sangue que seria retirado do ator. A coleta seria logo após o almoço.
🏥🥀🕔
Quando a loira saiu do elevador, agora novamente no andar do quarto da filha, os pais de estavam conversando com , sentados. Os olhos escuros do homem encontraram imediatamente os verdes de , que apressou os passos até lá e deu um abraço de lado no marido.
- Como foi? – perguntou Penélope quando o filho se pôs ao lado dela.
- A colegta do sangue vai ser feita logo depois do almoço. A cirurgia foi marcada para as três. – foi quem respondeu, um tanto aliviada. – Vai dar tudo certo. – ela virou-se de novo para . – A nossa menina vai ficar bem logo.
Naquele momento, Mike observou o filho, que olhava a cena. Ele sabia que, no fundo do coração do mais novo, havia uma pontada de dor.
- Você não quer ir pra casa, tomar um banho? – a voz de tirou os dois dos devaneios. – Ainda vai levar um tempo para o almoço. Eu fico aqui com a Jackie.
sorriu, talvez a primeira vez que ela sorria com gosto naqueles dias. A loira precisava de um banho e fazer aquilo sabendo que sua filha ficaria melhor logo só ajudava e a aliviava.
- Vou sim! – disse ela.– Não vou demorar, tá bem? Prometo. – e, após dar um selinho no marido, se despediu de todos e seguiu em direção ao elevador.
Segundos depois, disse para os pais:
- Vou comer alguma coisa. Vocês querem?
- Estamos bem, filho. – Penny respondeu e assentiu, optando para descer rapidamente pelas escadas. Ele tinha que encontrar lá em baixo.
🏥🥀🕔
Don't blame the drunk caller
Wasn't ready for it all
Ao descer do elevador que havia a levado até ao estacionamento no subsolo, deu de cara com escorado em uma parede com os braços cruzados.
- Eu não vou conversar com você, . Eu já disse. – falou a mulher, que começou a caminhar entre os carros. apressava os pés atrás dela.
- Eu só quero falar sobre a minha filha, . É só isso!
A loira parou imediatamente no meio do caminho e virou o rosto furioso para o homem.
- Ela. Não. É. A. Sua. Filha. – falou pausadamente. – Quantas vezes eu vou ter que repetir isso, ? Você deixou de ser pai dela no momento que você me tratou como lixo há dezessete anos!
respirou fundo, tirando o boné e começou a passar a mão nos fios castanhos.
- Qual o problema em eu querer fazer parte da vida dela agora? – ele vinha pensando nisso desde a noite que a mãe ligou. Ao ver a foto de Jackie enviada por Penny, chorou por alguns minutos. – Eu quero fazer ela feliz, . Você não pode me negar isso... Não depois de tudo que a gente viveu.
O coração de errou uma batida naquele momento e ela sentiu lágrimas de ódio invadir seus olhos. Mas a mulher respirou fundo, tentando controlar seus pensamentos e sentimentos, e encarou os olhos azuis de .
- Não! Não, , você tá querendo passar pano nos seus erros! É isso que você quer fazer! Hoje em dia, tudo que a gente não viveu não significa mais nada pra mim. – esbravejou. - Antes de eu encontrar o , eu passei por um período difícil. – ela não sabia por que estava contado aquilo ao homem, mas, de alguma forma, sentia que ele precisava ouvir. – Até o quinto mês de gravidez eu sofria toda a semana de vômitos e dores, o tempo todo.
- Você deveria ter me ligado, .
- E você acha que eu não pensei nisso? Que fiquei noites sem dormir por que eu sabia que eu precisava te ligar! Mas eu não podia, . Você estava lá e eu aqui, nossas vidas estavam tão diferentes, tão. Quando a gente se despediu você foi grosso comigo e deixou claro que não queria nenhuma relação com o bebê. – soltou ela, se lembrando quando viu pela última vez há dezessete anos. Na ocasião, ela se lembrava bem das palavras, falou que todas as letras que não queria saber dela nem do bebê nunca mais. – Na verdade, teve uma noite que eu tava com o telefone na mão pra te ligar. Mas, de repente, ele tocou e foi a sua voz que soou do outro lado da linha. Eu não sabia como você, , tinha conseguido meu número... Na verdade eu só soube meses depois que a sua mãe tinha te passado. Mas... Na ligação – respirou fundo. – Você tava bêbado, . Completamente. E ficou por minutos, incontáveis minutos, me pedindo desculpa. Falava que sentia minha falta, do meu beijo... Que estava arrependido. “Me desculpa, baby" era o que você me dizia. Eu fiquei por uma hora só ouvindo sua voz, e nós dois chorando... Você chorando de arrependimento e eu chorando porque me sentia sozinha naquele apartamento novo, apreensiva do que as pessoas achariam de uma estudante do primeiro semestre grávida. Chorando porque eu sentia sua falta, . – começou a limpar as lágrimas que saltavam de seus olhos. Na sua frente, o coração de estava esmagado ouvindo o relato da mulher.
- Eu sinto muito, . Eu me arrependo demais. – murmurou ele. – Eu era só... Só um garoto.
A loira, depois de instantes em silêncio, voltou a falar:
- Eu sei. Mas me ajudou, sabe? A sua ligação. – algumas lágrimas teimosas ainda saiam dos olhos, mas daquela vez mais calma. – Até o nascimento da minha filha e, mesmo já estando com o , eu não conseguia te esquecer. Eu não conseguia jogar três anos de relacionamento fora por mais canalha que você fora no nosso último encontro. Mas aos poucos eu fui superando, e eu superei. Eu sou mais feliz com a minha família do que eu jamais podia desejar. E a Jackie é feliz. – falou. – Então não, , eu não vou deixar você entrar na vida dela agora. Não depois de tantos anos longe. Você é feliz também, eu sei disso. Os sites de fofocas mostram e sua mais faz questão de postar toda hora no Facebook. A presença da Jackie na sua vida vai apenas suprir algo que você devia ter feito há muito tempo e não fez. Não vou deixar a minha menina no meio disso, nem pensar. – ao terminar, a mulher virou as costas e voltou o caminho para o carro.
- ! – gritou para ela. – , por favor! – a súplica na voz dela era evidente.
Mas a loira não voltou a olhar pra trás.
Cause I miss the shape of your lips
Your wit, it's just a trick
This is it, so I'm sorry
🏥🥀🕔
- Prontinho, sr. . – a enfermeira anunciou após mais de uma hora que estava ali fazendo a coleta. O homem se levantou da cadeira, movendo o braço direito que estava completamente dormente. – Não se esqueça de tomar muita água e se alimentar muito bem quando sair. – ele assentiu e se encaminhou pra porta, parando ali.
- Ela vai ficar bem? Jackie?
A enfermeira assentiu.
- A quantidade de sangue que o Sr. doou foi de extrema ajuda, sem dúvidas a paciente ficará bem.
agradeceu e saiu para o corredor, onde os pais o esperavam.
- Então? – Mike questionou.
- Tudo certo. – sorriu minimamente. - Podemos ir? – Penélope já ia concordando quando uma voz chamou pelo nome do ator. Do fim do corredor, vinha correndo até eles, parando ofegante ao lado dos .
- Oi! Então, deu tudo certo? – perguntou ele o para .
- Sim, agora só a cirurgia. – respondeu, estranhando a presença do homem ali.
- Ótimo. – disse e notou o olhar de sobre ele. – Eu só vim te agradecer por estar fazendo isso pela Jackie. Sei que a pode não demonstrar tanto, mas ela sente que ficará em dívida pra sempre com você. Com todos vocês.
Todos eles concordaram.
- Fale para ela que a forma de pagar a dívida é nos dando notícias sobre a filha. – Penny falou. – Esperamos que ela fique bem, . Tudo que desejamos.
- Nós também. – ele sorriu para a mais velha. – Mandaremos notícias pra vocês, não se preocupem. – garantiu. – Foi um prazer conhece-los.
- Nosso também. – quem respondeu. – Obrigado... Obrigada por cuidar delas. – ele encarou com aqueles olhos azuis. – Vou ser grato pra sempre.
assentiu e sorriu de lado para o ator.
- Esse é o meu dever, . Eu as amo. – disse ele. – Bem, eu tenho que voltar. Vão preparar a Jackie logo, logo. Tenham boa viagem. – e sem esperar que os demais respondessem, voltou a andar pelo corredor.
Após uns segundos em silêncio, Mike murmurou:
- Ele é um bom homem.
🏥🥀🕔
A cirurgia de Jackie foi um sucesso e tudo estava certo com a perna quando a garota fora embora do hospital, três dias depois. Ela teria que fazer fisioterapia por algumas semanas, mas tirando aquilo, estava tudo em perfeito estado. voltaria para o trabalho na semana seguinte, assim como .
No outro continente, voltaria aos trabalhos da série em alguns dias. Ele estava animado. De certa forma, ir à Inglaterra fez bem pra ele, mesmo que não tivesse conseguido melhor a situação com – não que a mulher estivesse errada – nem o fato de não ter visto sua filha. Olhando para aquela casa enorme vazia, enquanto bebia seu vinho, se perguntava como estaria aquele lugar se ele tivesse formado uma família, se ele tivesse aceitado naquela época.
Ele não saberia responder, tinha que ser sincero, mas sentia que aquele seria um de seus maiores arrependimentos da vida. estava sozinho há muito tempo. Mas talvez, só talvez, ele quisesse mudar aquilo. Ficar sozinho por uma vida inteira era tempo demais.
To be so lonely, to be so
To be so lonely
Mas, depois de duas horas ali, ele se sentiu esgotado e tudo que desejava era tomar um banho e terminar de decorar as primeiras falas do seu personagem, largado no sofá comendo um sushi que ele tanto gosta.
O trânsito de Los Angeles era terrível no final da tarde – pessoas voltando do trabalho, turistas visitando a cidade e paparazzi atrás de algum famoso que estava caminhando pela praia. Era um caos, para ser sincero; mas, vivendo há mais de 17 anos na cidade, só podia sentir carinho. O bairro que ele vive, Culver City, também é uma mistura do que ele mais gosta na cidade: a arte que respira ali a quatro cantos e o silêncio aconchegante.
Los Angeles abraçou o ator quando ele tinha apenas 19 anos e estava começando sua jornada em busca do estrelato quando saiu de Sheffield, na Inglaterra. percorreu Hollywood inteira atrás de testes em pequenos filmes como figurantes, onde fez uma ou duas pontas. Sua carreira começou ir bem somente três anos depois, quando ele conheceu Amanda, uma atriz que já era conhecida no ramo do teatro, e apresentou a ele uma Los Angeles que não conhecia, mas que anos depois, se tornou seu lar.
Aos 27, um produtor de uma rede de televisão bastante conhecida – CW – o convidou para participar de alguns episódios de sua série que já estava ao ar mas, o que era para ser só uma participação, acabou por se tornar um personagem regular, de tanto que o público gostara dele. atuou lá por mais dois anos, quando a Marvel prestou atenção nele.
Naquele meio tempo, Mandy, a mulher que o ajudou no caminho para o estrelato, o abandonou. Foi um período muito, muito difícil para . Ele foi apaixonado por oito anos simplesmente deixou-lhe um bilhete dizendo que não dava mais, só. Foi inevitável não se sentir insuficiente, ainda mais quando a mulher, duas semanas depois, apareceu com outro ator famoso no tapete vermelho de uma premiação. Aquilo foi um baque total, mas também uma motivação para ele. Ele está há seis anos na Marvel.
No mês seguinte, estava assinando o contrato com para dois filmes que fariam parte de uma sequência de outros de Super Heróis – os Vingadores – e seria o vilão deles. Algo inédito pra sua carreira, e ele temeu um pouco na época. Mas sua atuação foi feita com maestria e nessas produções ele conheceu pessoas que se tornaram seus melhores amigos.
Seus fãs também estavam cada vez mais engajados, pois muitos eram fãs da Marvel e ele atraiu muito mais. Sempre que podia, postava uma foto ou outra no Instagram – não era tão ativo por lá – e tentava responder o máximo de perguntas que os fãs lhe mandavam todos os dias no Twitter. Suas causas também foram ouvidas – defendia a comunidade LGBT+ e o Meio Ambiente, além de ser assumidamente do partido Democrata – e ele começou a cada vez mais participar de protestos em prol.
Quando chegou em casa, refletiu sobre a reunião que teve naquela manhã com o elenco de Midnight Memories, onde ele interpretaria um agente do FBI especializado em observar o perfil dos assassinos mais procurados, mas, ao longo de sua jornada, acaba se apaixonando por uma assassina de aluguel. Seria a primeira série de TV que ele seria o protagonista e estava animado pra ver o que o público acharia. Além disso, precisava também falar com seus pais sobre esse novo trabalho, já que não visitaria a cidade natal tão cedo até que boa parte da série estivesse gravada.
- Boa tarde, Sr. . – ele ouviu a voz de Maggie, a senhora que cuidava de sua casa e estava saindo da cozinha.
- Boa tarde, Mag – respondeu, jogando suas chaves na mesa. Maggie estava saindo da casa quando parou na porta e virou novamente para .
- Sua mãe ligou hoje e pediu que retornasse – a senhora falou.
suspirou e passou as mãos pelos cabelos.
- Ela disse algo?
Maggie balançou a cabeça em negação:
- Ela só disse para o senhor ligar de volta. E lhe aconselho fazer isso logo, ela parecia muito nervosa. – assentiu. – Até semana que vem.
- Até, Mag.
Antes de ligar para sua mãe, tomou um longo banho quente para relaxar os músculos. Meia hora depois, ele estava na cozinha fazendo um suco verde; em seguida, ligou para Penélope:
- Oi, mãe. Como estão as coisas?
- Ai , finalmente. – a voz da mulher era acelerada. – Você precisa vir para Sheffield, logo! Melhor ainda, hoje!
franziu a testa, muito confuso.
- Por que? Aconteceu alguma coisa? Meu pai está bem?
- Sim sim, ele está bem, não aconteceu nada com a gente. – a sra. fez uma longa pausa, emendada com um suspiro cansado. – É sobre sua filha.
O trabalho como professora, respondia sempre quando alguém a perguntava o porquê dela ter escolhido a profissão, era prazeroso. Com seus 36 anos, a mulher não poderia se imaginar fazendo outra coisa. Seus alunos eram seus pupilos e a arte de se ensinar foi algo que a mulher sonhou desde pequena e ficou muito feliz quando seus pais deram apoio a ela.
Claramente, ficar em Sheffield não era um positivo pois lá não havia faculdade de Letras e a maioria dos professores que lá trabalhavam jamais sairiam de seus postos, e isso não foi ruim porque, ao se mudar para a cidade de Manchester, pôde tanto fazer a faculdade quanto conhecer uma cidade que ela só visitava algumas vezes no ano para visitar os parentes. E, em cinco anos, ela logo conseguiu um trabalho na escola estadual da cidade e foi morar com seu marido, e sua pequena Jackie, fruto de outro relacionamento. E eles já viviam ali há 17 anos.
Foi finalizando uma aula, na manhã de quinta-feira, que ela recebeu a ligação do seu marido: Jackie sofreu um acidente, estamos no St. Jude.
O caminho até o hospital não era longo, mas o trânsito na hora do almoço era caótico e por isso, levou meia hora para chegar ao St. Jude. Ao pisar na recepção do hospital, a mulher se deparou com seu marido, que estava mais branco – algo que ela imaginava ser impossível – do que o normal. O coração de parou uma batida quando ela viu os olhos de cheios de lágrimas.
- O que aconteceu? – ela não conseguiu controlar a voz, que saiu muito baixa.
- Ela tava indo de carona com a Kelly para casa e um caminhão acertou elas na 13 de Setembro. – falou, abraçando sua esposa em seguida, quando viu ela choraria. – A Kelly tá bem, só precisou de um curativo... Mas a nossa menina ela, ela tá...- – a voz do homem falhou e ele segurou um soluço. – Ela foi direto para cirurgia. Levaram-na há quarenta minutos.
Por dez minutos, os dois não se soltaram do abraço. Lágrimas escorriam pelo rosto do casal, que murmuravam a todos os deuses para que a filha ficasse bem logo, mesmo que eles não direito o que acontecera.
saiu para pegar um lanche para assim que ouviu o estômago da mulher roncar, já que ela não havia almoçado. Quando ele voltou, um médico estava falando com .
- ... e para isso, precisaremos uma transfusão de sangue. O máximo que conseguirmos. – finalizou o doutor, que encarou o homem que se aproximava. – Você deve ser o . Sou o doutor Gillian, estou cuidando de sua filha. – ele estendeu a mão em comprimento, que rapidamente apertou.
- Ela não é minha filha, mas... – murmurou ele – Ouvi que ela precisa de transfusão, o que está acontecendo?
respirou fundo, ainda tentando absorver o que o médico havia acabado de explicar.
- O doutor estava dizendo que a perna da Jackie... Ela está com hemorragia interna e vão precisar de mais cirurgias.
O Dr. Gillian assentiu.
- E como é uma veia de extrema importância no membro, precisaremos de transfusão. Os pacientes perdem muito sangue quando se trata de hemorragia interna. – completou ele – E, eu estava dando uma olhada no formulário da Jackie, o tipo sanguíneo dela é O. A senhora ou alguém da família possuem o mesmo tipo?
balançou a cabeça.
- Vocês não teriam aqui no hospital?
- Infelizmente o nosso banco de sangue está com pouco estoque, em especial do tipo de sua filha, que é não é tão comum. – disse o médico. – Podemos pegar o que temos, mas ainda sim é pouco. Precisaremos de mais.
abaixou a cabeça para encarar os olhos verdes da esposa, que já olhavam para ele.
- Preciso fazer uma ligação.
Flashback on, 17 anos atrás
chegara em casa naquela tarde de segunda um tanto desapontada, por mais que ela quisesse esconder. Todos seus colegas, naquele dia, anunciaram, animados, que receberam as cartas de aceitação das faculdades que almejavam. A melhor amiga da jovem, Emily, só faltava soltar fogos de tão feliz que estava com a aprovação em Oxford. estava feliz por ela, já que a amiga era super dedicada e merecia mais que ninguém a vaga na faculdade mas...
Sua carta de aprovação da Universidade de Manchester ainda não tinha dado nem sinal de vida. Era para ter chegado na semana anterior e, por mais confiante que estava quando fez os exames, um pontinho de insegurança se destacava na jovem. Tudo que ela queria era se jogar na cama e ficar deitada se lamentando pelo resto do dia.
Mas não podia. Tinha marcado que comeria uma pizza com o namorado em um restaurante perto da casa dele; era a noite de comemorar para o garoto. Não a aprovação da faculdade – não para ele, que nunca teve esse sonho – mas sim as passagens que havia conseguido para ir para os Estados Unidos. O jovem conseguira duas, uma para ele e outra para . A namorada nunca quis ir embora e largar tudo para seguir o sonho de viver da arte com e, no fundo, ele saiba disso. Mas nunca, desde que começou a ver um futuro em sua vida onde estaria presente, ele deixou de tentar convence-la a ir para Los Angeles com ele.
- Uau, você tá linda!– Melissa Silver disse pra filha ao entrar no quarto da mais jovem. estava com um vestido cor de vinho e terminava de fazer um delineado nos olhos.
- Obrigada mãe. – murmurou, um pouco pra baixo.
Melissa estranhou o tom da filha.
- Tá tudo bem, ? Pensei que fossem comemorar hoje à noite.
- É, mas eu pensaria que comemoraríamos a minha ida à UMC também. – respondeu a garota, pegando seu perfume em cima da penteadeira e borrifou em seu pescoço e punhos.
A mais velha das Silver franziu o rosto ainda olhando para a filha.
- Você viu a caixa de correios hoje, filha?
- Não. Você e o meu pai já tinham chegado então imaginei que já tinham pego as correspondências. – falou ela, virando-se e olhando a mãe.
- E pegamos, mas... Quando vimos a carta, deixamos lá pra você pegá-la. Queríamos fazer uma surpresa. – Melissa falou em seguida. O olhar da filha era de choque e haviam lágrimas nos olhos verdes dela. – Ainda está lá... Se eu fosse vo – antes que a mãe pudesse terminar, a garota saíra correndo do quarto.
esperava empolgada em frente de sua casa quando parou sua moto. A loira não podia esconder seu sorriso enquanto caminhava de mãos dadas com o namorado até a pizzaria. Esperaria a hora certa para falar a ele que entrara na Universidade.
- Você tá com um sorrisinho desde que saímos da sua casa, baby... – comentou assim que o garçom saiu com o pedido do casal. Pizza de marguerita e uma garrafa de Coca-Cola, de sempre. – Aconteceu algu..?
- Eu passei na UMC! – não se aguentou e soltou animada a notícia.
travou por um instante, sem reação. O garoto não sabia como responder ao que a namorada falava a ele... Não , que ainda esperava que a namorada fosse com ele para os Estados Unidos. Mas ir para Manchester era o sonho dela, então ele tinha que ficar feliz por . Só ele e os pais da garota sabiam o quão duro ela tinha batalhado nesses últimos anos do Ensino Médio.
- Eu... – a voz do jovem se perdeu ali. – Meu Deus, ! Parabéns! Parabéns, meu amor! – ele se levantou da cadeira e puxou a loira consigo, dando nela um abraço apertado. – Você merece! Estou tão feliz por você, baby!
Dois meses depois
- Ele tá indo, então. – Emily falava enquanto perambulava pelo quarto da amiga. – , você falou pra ele?
- Não tive coragem. – a loira respondeu, jogada na cama. – Eu o vi todos os dias nesse último mês e não tive coragem. O que eu posso fazer, Emi?
A asiática sentou ao lado de na cama.
- Contar, óbvio. – falou ela como se fosse a resolução de todos os problemas. E, bem, era. – , daqui dois dias ele pega um avião para a America e volta sabe-se lá quando. Ele precisa saber.
A outra balançou a cabeça, concordando.
- Você me leva na casa dele?
- Tá tudo bem, baby? – perguntou assim que entrou no seu quarto. Emily tinha ficado no carro esperando a amiga.
- Sim sim, tudo perfeitamente bem. – respondeu, observando as malas feitas no quarto do namorado que ela tanto conhecia.
pegou a mão da namorada e a levou até a cama, sentando-se um do lado do outro.
- Estou tão animado, ! Em dois dias eu vou pra Los Angeles e, meu Deus, eu nem sei esconder isso... – ele falava sem parar. – Não vejo a hora de você se formar e ir morar comigo lá. Baby, você tá feliz com isso, não tá?
balançou a cabeça em concordância.
- Muito, você sabe! – ela respirou fundo. – Só tem um problema..
- O que?
A loira abaixou o rosto. Encarar os olhos azuis de para dizer aquilo seria muito difícil.
- Eu estou grávida.
Flashback off
Quinta
não vinha tanto a Inglaterra quanto gostaria. Ao longo dos anos que vivia nos Estados Unidos, o ator só visitara sua família em ocasiões especiais e eventos que era necessária sua presença, como casamentos, aniversários, bodas... E enterros. A última vez que ele tinha ido a Sheffield, ou em qualquer território Europeu tinha sido há oito meses com a comitiva do filme que estava estrelando: ficara só dois dias, mas com a promessa que visitaria seus pais assim que tivesse tempo.
Não teve, ele precisava admitir. E também não tinha tanta vontade quanto poderia ter. Sua terra natal trazia vários sentimentos que ele pensava que não existiam mais. E ele sentiu todos eles quando sua mãe pediu para ele voltar pra casa. Porque a filha sua filha precisava dele.
Filha
repetiu a palavra inúmeras vezes desde o telefonema da mãe. Quando ele entrou no avião, duas horas depois da ligação, ele repetia a palavra. E repetiu quando, tarde da noite, pegou um táxi na fria Manchester e foi para um hotel. Seus pais estariam o esperando.
Filha
Ele tinha uma filha, e ele sabia daquilo. Sabia que, ao embarcar para Los Angeles, 17 anos atrás, ele ia deixar várias coisas para trás, incluindo uma adolescente grávida por quem foi apaixonado na juventude. Mas, não sabia se era pelo egoísmo ou a alegria de viver um sonho, ele tinha deixado de pensar no bebê. Tinha deixado de pensar em e tudo que havia deixado para trás. E por anos, ele nunca mais havia pensado naquilo.
Mas, com o telefonema da mãe, tudo voltou, como uma onda.
Quando chegou ao hotel, enorme – diga-se de passagem, no centro da cidade, logo pegou a chave do quarto que tinha reservado e subiu pelo elevador, sem se preocupar em acordar os pais naquele horário. Na manhã do seguinte falaria com eles.
Sexta
- Eu tenho algumas perguntas. – falou ao encontrar os pais no restaurante do hotel, prontos para tomar café. – Mas preciso de um abraço antes, senti falta de vocês. – a mãe solta um murmúrio e se levanta da cadeira para abraçar o filho. O cheiro de Sheffield estava impregnado na mulher e no pai, quando o abraçou.
Instantes depois, os três estavam sentados a mesa, comendo e falando de amenidades quando Penélope limpou a garganta e começou a falar:
- Sei que uma das suas perguntas é “o que estamos fazendo em Manchester?”. veio morar aqui assim que começou a faculdade e nunca saiu da cidade. – falou direto, sem dar brecha para o filho falar algo. – E não podiam transferir a menina. O caso dela é muito instável.
- E o que, exatamente, aconteceu com ela?
- Sofreu um acidente ontem à tarde. Estava com uma amiga no carro e um caminhão as acertou, bem no lado da sua filha. – a mãe respondeu. – nos ligou assim que ouviu que a filha precisa de transfusão. E, como o sangue dela não é compatível...
- Eles precisam do meu. – sussurrou, estendendo as costas na cadeira.
O pai, que até então estava calado, falou:
- , filho, eu sei que é difícil pra você. Você não vê a há anos e não conhece sua filha, sabemos disso, nem nós a conhecemos muito bem. nos manteve afastados o máximo. – ao lado do marido, Penélope concordou. – Mas o estado da garota é muito crítico. Ela tem o risco de perder a perna e. estava desesperada no telefone. Elas precisam de você.
- Vou pegar um café, tudo bem? – avisou quando se levantou da cadeira ao lado da esposa. – Quer alguma coisa pra comer?
- Meu estômago não aceita nada, . – falou , deixando os olhos castanhos do marido encontrarem os verdes dela. – Mas vá. Eles já devem estar chegando, então...
assentiu, dando um beijo na testa da loira e saindo em seguida.
soltou a respiração enquanto observava a filha acamada do outro lado do vidro, cheia de fios e aparelhos por todo o lado. Sua perna machucada estava enfaixada, só aguardando a cirurgia. E, pelos deuses, não queria nem saber como seriam os próximos passos depois de tudo aquilo.
A primeira de todas, era um dos mais difíceis: encarar depois de tantos anos. nunca ia esquecer-se de quando o vira pela última vez, de como foi tratada pelo ex-namorado quando o disse que estava grávida. Ter que falar com ele depois de dezessete anos era algo que ela não queria ter que precisar.
Ah, Emily, você devia estar na cidade, pensou ela, passando as mãos pelo cabelo que estava solto em suas costas. Emily, sua melhor amiga desde o colegial, tinha o mesmo tipo sanguíneo de Jackie e fora ela a primeira pessoa pra quem tinha ligado na quinta, mas a amiga ainda não retornara da Austrália, onde estava se dedicando a pesquisas da Universidade de Oxford há algumas semanas. ainda se lembrava dos pedidos de desculpas de Emi, por mais que repetira que não tinha problema e que daria um jeito.
gostaria de saber o que ia fazer quando encontrasse Silver depois de tantos anos. Sentado no banco traseiro do carro dos pais – coisa que o fazia lembrar-se da adolescência – o ator observava as ruas movimentadas de Manchester, vendo os carros passar em alta velocidade naquela hora da manhã, imerso nos pensamentos.
- Como ela tá? – perguntou ele, encontrando os olhos azuis da mãe pelo retrovisor.
- Falamos poucas vezes com ela ao longo dos anos. Mas ela está bem. Casou-se, é professora no ensino fundamental. – respondeu Penélope. – Ela está feliz, .
Ele assentiu, voltando a pensar novamente. Era um alívio pra saber que a antiga namorada nunca tinha desistido do sonho de virar professora, ele ainda se recordava das madrugadas que passava em claro estudando para entrar na UMC. O ator se sentia feliz por ela.
Em alguns minutos, os integrantes da família saiam do carro, caminhando para a entrada do St. Jude. estava com óculos escuros e um boné para não chamar atenção de algum possível paparazzi que seguia ele e sua família o tempo todo.
- Viemos para ver Jackie.. – sua voz se perdeu no meio do caminho, já que o homem não sabia o sobrenome de casada de .
- Bennet. – o pai logo se apressou e falou à recepcionista, que assentiu.
- Quarto 290, no segundo andar.
andava de um lado para o outro quando ouviu o barulho do elevador, indicando que alguém chegara ao andar. Com pensamento que fosse , a mulher tentou abrir um sorriso que foi imediatamente parando no meio do caminho quando ela viu quem estava caminhando pelo corredor. Com sua jaqueta de couro preta, uma calça jeans estampa militar e um boné que cobria seus fios castanhos, podia ser qualquer coisa, menos irreconhecível.
- ! Quanto tempo! – a voz de Penélope tirou a mulher dos devaneios quando a abraçou.
- Penny, oi! – foi tudo que a loira conseguiu dizer a ex-sogra, que a apertava em seus braços.
- Sinto muito pela sua filha. – sussurrou a mais velha em seu ouvido. – Vamos melhorar isso.
assentiu e sorrindo genuinamente para a morena.
- . – Mike, o mais velho dos , falou, dando um leve aceno com a cabeça. – Você está ainda mais bonita.
- Obrigada Mike. Obrigada mesmo.
não sabia o que dizer. Não quando seus olhos encontraram os verdes de por trás dos óculos que ele usa. A primeira coisa que passou por sua cabeça foi um sinto muito mas, quando o pai comentou que a mulher estava ainda mais bonita, não podia discordar e pensar em outra coisa. estava tão bonita quanto a dezessete anos atrás. A única diferença eram os cabelos loiros que estavam mais curtos, batendo nos ombros. Tirando isso, o tempo não havia passado para Silver.
- Bom te ver, . – ele falou, tirando os óculos finalmente.
- Você também. – murmurou . – O doutor Gillian está te esperando para fazer a coleta. Seu médico já mandou seus outros exames para cá, não é?
- Sim, tudo certo. - assentiu o ator.
- Ótimo! – suspirou ela aliviada. – Vai ser tudo muito rápido. Eu vou contigo no consultório. Se tudo der certo, amanhã será a cirurgia. – essa era a única coisa que aliviava o coração da loira naquele momento. – já deve estar chegando.. Enquanto isso – ela virou-se para Penélope e Mike – Vocês querem vê-la? – perguntou, apontando para a porta atrás do outro lado do corredor. – Não precisam entrar, se não quiserem, tem um vidro que separa. Mas, vocês me ajudaram tanto... Se quiserem. – sorriu de lado.
Mike e Penny se entreolharam e depois viraram-se para o filho, que disse:
- Posso ir também?
- Não. – respondeu sem encara-lo.
- A gente pode conversar? – pediu no momento que a mulher apertou o botão do elevador.
- Não temos nada pra conversar, . Não temos há muito tempo. – falou , soltando um suspiro cansado em seguida. – Eu só quero que tudo isso acabe logo.
- Eu também, acredite. Mas quando minha mãe falou que a minha filha precisava de mim, eu esqueci completamente dos meus problemas e corri pra cá. – soltou ele, relaxando seus ombros na parede de metal.
- E o que você quer? – a loira pediu ao levantar a cabeça para encarar aqueles olhos azuis. – Quer que eu rasteje em seus pés, agradecendo por ter saído da sua vida de luxo só pra doar o sangue pra Jackie? É isso? – falou ela furiosa.
abriu a boca para revidar, mas a porta do elevador abriu naquele momento.
prontamente de recompôs pra sair dali, mas antes disse:
- E nunca mais, nunca mais , chame-a de filha.
A conversa com o médico havia sido rápida, com algumas informações dadas à e a sobre como seria o procedimento e a quantidade de sangue que seria retirado do ator. A coleta seria logo após o almoço.
Quando a loira saiu do elevador, agora novamente no andar do quarto da filha, os pais de estavam conversando com , sentados. Os olhos escuros do homem encontraram imediatamente os verdes de , que apressou os passos até lá e deu um abraço de lado no marido.
- Como foi? – perguntou Penélope quando o filho se pôs ao lado dela.
- A colegta do sangue vai ser feita logo depois do almoço. A cirurgia foi marcada para as três. – foi quem respondeu, um tanto aliviada. – Vai dar tudo certo. – ela virou-se de novo para . – A nossa menina vai ficar bem logo.
Naquele momento, Mike observou o filho, que olhava a cena. Ele sabia que, no fundo do coração do mais novo, havia uma pontada de dor.
- Você não quer ir pra casa, tomar um banho? – a voz de tirou os dois dos devaneios. – Ainda vai levar um tempo para o almoço. Eu fico aqui com a Jackie.
sorriu, talvez a primeira vez que ela sorria com gosto naqueles dias. A loira precisava de um banho e fazer aquilo sabendo que sua filha ficaria melhor logo só ajudava e a aliviava.
- Vou sim! – disse ela.– Não vou demorar, tá bem? Prometo. – e, após dar um selinho no marido, se despediu de todos e seguiu em direção ao elevador.
Segundos depois, disse para os pais:
- Vou comer alguma coisa. Vocês querem?
- Estamos bem, filho. – Penny respondeu e assentiu, optando para descer rapidamente pelas escadas. Ele tinha que encontrar lá em baixo.
Wasn't ready for it all
Ao descer do elevador que havia a levado até ao estacionamento no subsolo, deu de cara com escorado em uma parede com os braços cruzados.
- Eu não vou conversar com você, . Eu já disse. – falou a mulher, que começou a caminhar entre os carros. apressava os pés atrás dela.
- Eu só quero falar sobre a minha filha, . É só isso!
A loira parou imediatamente no meio do caminho e virou o rosto furioso para o homem.
- Ela. Não. É. A. Sua. Filha. – falou pausadamente. – Quantas vezes eu vou ter que repetir isso, ? Você deixou de ser pai dela no momento que você me tratou como lixo há dezessete anos!
respirou fundo, tirando o boné e começou a passar a mão nos fios castanhos.
- Qual o problema em eu querer fazer parte da vida dela agora? – ele vinha pensando nisso desde a noite que a mãe ligou. Ao ver a foto de Jackie enviada por Penny, chorou por alguns minutos. – Eu quero fazer ela feliz, . Você não pode me negar isso... Não depois de tudo que a gente viveu.
O coração de errou uma batida naquele momento e ela sentiu lágrimas de ódio invadir seus olhos. Mas a mulher respirou fundo, tentando controlar seus pensamentos e sentimentos, e encarou os olhos azuis de .
- Não! Não, , você tá querendo passar pano nos seus erros! É isso que você quer fazer! Hoje em dia, tudo que a gente não viveu não significa mais nada pra mim. – esbravejou. - Antes de eu encontrar o , eu passei por um período difícil. – ela não sabia por que estava contado aquilo ao homem, mas, de alguma forma, sentia que ele precisava ouvir. – Até o quinto mês de gravidez eu sofria toda a semana de vômitos e dores, o tempo todo.
- Você deveria ter me ligado, .
- E você acha que eu não pensei nisso? Que fiquei noites sem dormir por que eu sabia que eu precisava te ligar! Mas eu não podia, . Você estava lá e eu aqui, nossas vidas estavam tão diferentes, tão. Quando a gente se despediu você foi grosso comigo e deixou claro que não queria nenhuma relação com o bebê. – soltou ela, se lembrando quando viu pela última vez há dezessete anos. Na ocasião, ela se lembrava bem das palavras, falou que todas as letras que não queria saber dela nem do bebê nunca mais. – Na verdade, teve uma noite que eu tava com o telefone na mão pra te ligar. Mas, de repente, ele tocou e foi a sua voz que soou do outro lado da linha. Eu não sabia como você, , tinha conseguido meu número... Na verdade eu só soube meses depois que a sua mãe tinha te passado. Mas... Na ligação – respirou fundo. – Você tava bêbado, . Completamente. E ficou por minutos, incontáveis minutos, me pedindo desculpa. Falava que sentia minha falta, do meu beijo... Que estava arrependido. “Me desculpa, baby" era o que você me dizia. Eu fiquei por uma hora só ouvindo sua voz, e nós dois chorando... Você chorando de arrependimento e eu chorando porque me sentia sozinha naquele apartamento novo, apreensiva do que as pessoas achariam de uma estudante do primeiro semestre grávida. Chorando porque eu sentia sua falta, . – começou a limpar as lágrimas que saltavam de seus olhos. Na sua frente, o coração de estava esmagado ouvindo o relato da mulher.
- Eu sinto muito, . Eu me arrependo demais. – murmurou ele. – Eu era só... Só um garoto.
A loira, depois de instantes em silêncio, voltou a falar:
- Eu sei. Mas me ajudou, sabe? A sua ligação. – algumas lágrimas teimosas ainda saiam dos olhos, mas daquela vez mais calma. – Até o nascimento da minha filha e, mesmo já estando com o , eu não conseguia te esquecer. Eu não conseguia jogar três anos de relacionamento fora por mais canalha que você fora no nosso último encontro. Mas aos poucos eu fui superando, e eu superei. Eu sou mais feliz com a minha família do que eu jamais podia desejar. E a Jackie é feliz. – falou. – Então não, , eu não vou deixar você entrar na vida dela agora. Não depois de tantos anos longe. Você é feliz também, eu sei disso. Os sites de fofocas mostram e sua mais faz questão de postar toda hora no Facebook. A presença da Jackie na sua vida vai apenas suprir algo que você devia ter feito há muito tempo e não fez. Não vou deixar a minha menina no meio disso, nem pensar. – ao terminar, a mulher virou as costas e voltou o caminho para o carro.
- ! – gritou para ela. – , por favor! – a súplica na voz dela era evidente.
Mas a loira não voltou a olhar pra trás.
Your wit, it's just a trick
This is it, so I'm sorry
- Prontinho, sr. . – a enfermeira anunciou após mais de uma hora que estava ali fazendo a coleta. O homem se levantou da cadeira, movendo o braço direito que estava completamente dormente. – Não se esqueça de tomar muita água e se alimentar muito bem quando sair. – ele assentiu e se encaminhou pra porta, parando ali.
- Ela vai ficar bem? Jackie?
A enfermeira assentiu.
- A quantidade de sangue que o Sr. doou foi de extrema ajuda, sem dúvidas a paciente ficará bem.
agradeceu e saiu para o corredor, onde os pais o esperavam.
- Então? – Mike questionou.
- Tudo certo. – sorriu minimamente. - Podemos ir? – Penélope já ia concordando quando uma voz chamou pelo nome do ator. Do fim do corredor, vinha correndo até eles, parando ofegante ao lado dos .
- Oi! Então, deu tudo certo? – perguntou ele o para .
- Sim, agora só a cirurgia. – respondeu, estranhando a presença do homem ali.
- Ótimo. – disse e notou o olhar de sobre ele. – Eu só vim te agradecer por estar fazendo isso pela Jackie. Sei que a pode não demonstrar tanto, mas ela sente que ficará em dívida pra sempre com você. Com todos vocês.
Todos eles concordaram.
- Fale para ela que a forma de pagar a dívida é nos dando notícias sobre a filha. – Penny falou. – Esperamos que ela fique bem, . Tudo que desejamos.
- Nós também. – ele sorriu para a mais velha. – Mandaremos notícias pra vocês, não se preocupem. – garantiu. – Foi um prazer conhece-los.
- Nosso também. – quem respondeu. – Obrigado... Obrigada por cuidar delas. – ele encarou com aqueles olhos azuis. – Vou ser grato pra sempre.
assentiu e sorriu de lado para o ator.
- Esse é o meu dever, . Eu as amo. – disse ele. – Bem, eu tenho que voltar. Vão preparar a Jackie logo, logo. Tenham boa viagem. – e sem esperar que os demais respondessem, voltou a andar pelo corredor.
Após uns segundos em silêncio, Mike murmurou:
- Ele é um bom homem.
A cirurgia de Jackie foi um sucesso e tudo estava certo com a perna quando a garota fora embora do hospital, três dias depois. Ela teria que fazer fisioterapia por algumas semanas, mas tirando aquilo, estava tudo em perfeito estado. voltaria para o trabalho na semana seguinte, assim como .
No outro continente, voltaria aos trabalhos da série em alguns dias. Ele estava animado. De certa forma, ir à Inglaterra fez bem pra ele, mesmo que não tivesse conseguido melhor a situação com – não que a mulher estivesse errada – nem o fato de não ter visto sua filha. Olhando para aquela casa enorme vazia, enquanto bebia seu vinho, se perguntava como estaria aquele lugar se ele tivesse formado uma família, se ele tivesse aceitado naquela época.
Ele não saberia responder, tinha que ser sincero, mas sentia que aquele seria um de seus maiores arrependimentos da vida. estava sozinho há muito tempo. Mas talvez, só talvez, ele quisesse mudar aquilo. Ficar sozinho por uma vida inteira era tempo demais.
To be so lonely
Fim
Nota da autora: De todos os ficstapes que eu já escrevi, esse se tornou um dos mais prazerosos e, talvez, o meu favorito. Espero que vocês tenham gostado! Não esqueçam de comentar, estou ansiosa pra ver as reações!! Obrigada e até a próxima!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.