Capítulo Único
tem sido meu amigo desde sempre e hoje, para comemorar nossos 17 anos de amizade, decidimos fazer um piquenique no local onde nos conhecemos, e em alguns segundos eu estava prestes a encontrá-lo. Peguei a minha bicicleta e alguns lanches que eu havia preparado.
Como sempre, ele já estava à minha espera do lado de fora da minha casa com sua bicicleta, ainda de rodinhas, e um sorriso quase que infantil, as covinhas sobressaíam de suas bochechas e o deixavam ainda mais fofo; seu cabelo liso, meio escorrido, mostrava que ele não tinha se dado o mínimo trabalho de penteá-lo.
- Ei, - E só de ouvir ele chamar o meu nome, meu corpo inteiro ficava alegre, assim como eu.
- Oi, , pronto pra hoje? - Ele deu um longo suspiro e encarou o chão meio sem jeito - Ei, não está com medo, está? - Seu rosto corou instantaneamente e ele negou com a cabeça.
- Vamos logo antes que eu desista, por favor.
Rapidamente, montamos em nossas bicicletas e fomos lado a lado, pedalando devagar até o parque Whitewood; ele não era distante e era aonde brincávamos quando pequenos. Ao chegarmos lá, colocamos nossas bicicletas encostadas em uma árvore qualquer e arrumamos a toalha no chão e os lanches sobre a mesma. Sentamos de frente um para o outro e começamos a comer.
- Vamos tentar agora? - Eu disse, sabendo que ele arranjaria uma forma de tentar escapar daquilo.
- Não terminei de comer ainda, daqui a pouco.
- Nem pensar, hoje você não escapa, vai, levanta daí - Falei o tom mais autoritário que eu conseguia. Ele fez cara feia e levantou resmungando.
Sinalizei para que ele sentasse no banco de sua bicicleta e optamos por deixar a primeira rodada ainda com rodinhas. Ele foi muito bem, já que já estava acostumado a andar daquela forma. Estávamos rindo e quase nos esquecemos do que realmente viemos fazer.
Na segunda volta decidi tirar as rodinhas, mas fui guiando sua bicicleta segurando no banco enquanto ele pedalava devagar. Sem querer eu me distraí e ele continuou pedalando, até que perdeu o controle e caiu.
- ! Você tá bem? - Saí correndo em sua direção, com medo de que o mesmo tivesse se machucado. Tirei a bicicleta de cima dele rapidamente e me aproximei dele pra ver como ele estava.
- Você é burra, ? Como você me solta assim sem ao menos avisar? - Ele gritava de nervosismo e não conseguia parar de gesticular. Enquanto ele falava, tudo que eu conseguia pensar era em como eu amava tudo que ele fazia, até que percebi suas mãos macias machucadas por terem batido no chão irregular do parque.
- Desculpa, foi sem querer. Agora vem pra cá pra eu dar um jeito nesses ralados.
- Como você vai cuidar disso? Estamos praticamente no meio do nada, - Seu tom de voz era o de um bichinho assustado, muito mais calmo do que antes.
- Eu trouxe alguns band-aids e podemos limpar com a água que trouxemos, fica calmo
Fui rápida em pegar os band-aids dentro da cestinha da minha bicicleta e pegar a garrafa de água. Sentei numa pedra que tinha ali por perto e fiz sinal pra que ele sentasse também. Abri a garrafa de água, segurei suas mãos e entornei um pouco do líquido sobre elas. soltou um pequeno gemido de dor, mas logo se acostumou com a ardência provocada. Esperei um pouco pra que os machucados secassem e logo coloquei band-aids em cima deles.
- Quer tentar de novo? - Dessa vez foi quem tomou a iniciativa e me encorajou dando um sorriso, retribui seu sorriso e logo me levantei.
- Claro.
Caminhamos até sua bicicleta e ele logo se sentou, segurei a parte traseira do seu assento até que ele sentisse confiança suficiente de ir sozinho. Ele estava indo muito bem, tudo estava indo muito bem, até que ao tentar fazer uma curva, ele caiu em cima de mim. Começamos a rir imediatamente da cara assustada que fizemos até percebermos o quão perto do rosto um do outro estávamos, fiquei sem reação e ele também, chegando até mesmo a prender a respiração. O clima ficou intenso e percebi que algo precisava ser feito, mas antes mesmo que eu pudesse pensar em qualquer coisa, ele saiu de cima de mim e me ajudou a levantar.
A tarde foi passando tranquilamente em meio a brincadeiras e tentativas, até que no fim da tarde ele já sabia andar perfeitamente sem minha ajuda. Comemos mais um pouco e começamos a nos preparar pra ir embora.
- - Ele falou enquanto me cutucava e quando eu virei, ele me abraçou por trás, logo ele saiu correndo e gritando - Tá com você!
Saí correndo atrás dele lembrando de quando brincávamos de pega-pega quando crianças e lembrando de seu esconderijo favorito. Logo o achei escondido atrás do grande pedregulho e era a vez dele de me procurar. Me escondi no meio de um arbusto e fiquei a sua espera, assim que o vi correndo em minha direção, saí dali e comecei a correr procurando um novo esconderijo, mas de alguma forma, ele encontrou um atalho e acabamos batendo de frente um com o outro.
- Te peguei - Ele falou baixinho em meio a uma gargalhada incrível.
- Pegou, é verdade - Eu queria falar mais do que aquilo, queria falar o quão apaixonada eu estava por ele e por cada pedacinho dele, como eu queria faze-lo meu, mas todas essas coisas eram difíceis de dizer.
Acabamos tão cansados da correria da brincadeira que acabamos por ficar deitados na toalha de piquenique por um tempo. estava com os olhos fechados e eu o observava lentamente, desde os cabelos lisos, os cílios longos, a pele branca como porcelana, até a boca rosada e as veias azuis pela extensão de seus braços. Aos poucos voltei a encarar seu rosto e logo ele abriu seus olhos me pegando no ato, abriu um breve sorriso e começou a me encarar também. Fechei meus olhos instantaneamente sentindo o calor do sol no meu rosto; sabia que ele ainda me encarava, mas não tinha coragem de olhar nem pra espiar e ver se ele havia parado. Num instante senti sua mão sob a minha, apenas brincando com ela, mas sem realmente segurá-la.
- , acorda! - Abri meus olhos lentamente, percebendo que já estava praticamente escuro e cutucava meu braço tentando me acordar.
- Desculpa, , acho que cochilei um pouco - Ele já estava sentado enquanto eu falava com ele.
- Tá tudo bem, eu também caí no sono, mas acho melhor irmos porque já está escuro e não queremos nos perder, certo? - Ele falou num tom receoso enquanto levantava e subia em sua bicicleta.
- Certo - Foi tudo que eu consegui responder.
Guardei a toalha na minha cestinha e subi em minha bicicleta, indo na frente de , guiando-nos no caminho escuro, até chegarmos num local conhecido por ambos, apenas alguns quilômetros da minha casa. Passamos a pedalar lado a lado, vez ou outra parando um pouco para descansar e tomar uma golada de água ou suco.
O caminho até minha casa foi silencioso já que se concentrava em não cair, mas sempre olhávamos para o outro e sorríamos, até voltarmos a prestar atenção no caminho novamente. Minha cabeça estava a mil, pensando em como eu fui me deixar levar pelo meu melhor amigo e principalmente, em como eu diria isso pra ele. Ensaiei meu discurso mil vezes e troquei de discurso outras mil vezes até que conclui exatamente o que eu ia dizer.
Em meio a tantos pensamentos nem percebi o quão rápido chegamos em minha casa. Guardei minha bicicleta na garagem e fui falar o meu discurso pro , quando tive uma surpresa.
- Preciso te contar uma coisa - Falamos em uníssono e caímos na gargalhada logo depois.
- Você primeiro - Ele falou, sorrindo de canto, sendo o mais gentil possível.
- Não, pode falar primeiro - Evitando o que eu tinha pra falar o máximo de tempo possível.
- Bem, lembra da ? - Acenei com a cabeça, afirmando que sim - Ela me chamou pra sair um dia desses e estou pensando em passar na casa dela e levar ela pra dar um passeio de bicicleta noturno.
- Uau! - Eu estava completamente sem reação, não conseguia fazer com que uma palavra sequer saísse da minha boca.
- Eu sei, demais né? E tudo isso graças a você, ! Se você não tivesse me ensinado a andar sem as rodinhas eu passaria a maior vergonha levando ela pra passear de bicicleta - Ele sorria radiante, como se a melhor coisa do mundo tivesse acontecido e não a pior.
- Que bom que eu ajudei então, sempre que precisar - Falei sem graça e meio desconcertada com toda aquela informação.
- E o que você queria me contar? - Não era nada, fiquei tão feliz com o que você me contou que até esqueci - Tentei dar uma enganada e ele pareceu cair.
- Se esqueceu não era tão importante assim, certo? - Ele dizia todo inocente, mal sabendo da verdade que eu nunca revelaria.
- Certo! - Sorri brevemente e fui andando em direção a porta de casa - Boa noite, ! - Boa noite, , durma bem! - Entrei sem nem olhar novamente pra ele.
Andei apressada pro meu quarto, ignorando o meu pai assistindo televisão na sala e pegando uma roupa qualquer pra vestir depois do banho. Tomei o banho mais quente da minha vida, tentando fazer com que meus músculos tensionados relaxassem um pouco. Minhas lágrimas eram imperceptíveis, já que se confundiam com a água que caía sobre mim.
Saí do banho e, ao me olhar no espelho, vi que meu rosto estava completamente vermelho, mas preferi achar que era devido a exposição a água quente por tanto tempo.
Deitei e me enrolei no meu cobertor, logo as lágrimas insistiram em descer novamente, mas assim que ouvi batidas na porta enxuguei o meu rosto fiz a maior cara de paisagem possível.
- Filha, o jantar está pronto, vem comer - Minha mãe estava parada na porta com o maior sorriso do mundo.
- Estou sem fome, mãe, quero dormir um pouco - Menti, mesmo sabendo o quão errado aquilo era.
- O que houve, filha? Por que está chorando? - Seu rosto preocupado me fez perceber que nem que eu tentasse conseguiria enganar aquela mulher.
- Eu descobri que gosto do e ele vai sair com outra, mamãe! - As malditas lágrimas estavam ali de novo, insistindo em rolar pela minha face.
- Não fica assim, filha, o amor é assim. O amor é como uma bicicleta e ele tinha medo de amar, por isso usava as rodinhas, você o ensinou a andar sobre duas rodas e agora que ele aprendeu, ele vai pedalar por aí um pouco, até que encontre alguém para pedalar ao seu lado - Enquanto minha mãe falava eu só conseguia pensar o quão certa ela estava e acabei adormecendo com os pensamentos no que minha mãe disse: O amor é como uma bicicleta sem rodinhas.
Como sempre, ele já estava à minha espera do lado de fora da minha casa com sua bicicleta, ainda de rodinhas, e um sorriso quase que infantil, as covinhas sobressaíam de suas bochechas e o deixavam ainda mais fofo; seu cabelo liso, meio escorrido, mostrava que ele não tinha se dado o mínimo trabalho de penteá-lo.
- Ei, - E só de ouvir ele chamar o meu nome, meu corpo inteiro ficava alegre, assim como eu.
- Oi, , pronto pra hoje? - Ele deu um longo suspiro e encarou o chão meio sem jeito - Ei, não está com medo, está? - Seu rosto corou instantaneamente e ele negou com a cabeça.
- Vamos logo antes que eu desista, por favor.
Rapidamente, montamos em nossas bicicletas e fomos lado a lado, pedalando devagar até o parque Whitewood; ele não era distante e era aonde brincávamos quando pequenos. Ao chegarmos lá, colocamos nossas bicicletas encostadas em uma árvore qualquer e arrumamos a toalha no chão e os lanches sobre a mesma. Sentamos de frente um para o outro e começamos a comer.
- Vamos tentar agora? - Eu disse, sabendo que ele arranjaria uma forma de tentar escapar daquilo.
- Não terminei de comer ainda, daqui a pouco.
- Nem pensar, hoje você não escapa, vai, levanta daí - Falei o tom mais autoritário que eu conseguia. Ele fez cara feia e levantou resmungando.
Sinalizei para que ele sentasse no banco de sua bicicleta e optamos por deixar a primeira rodada ainda com rodinhas. Ele foi muito bem, já que já estava acostumado a andar daquela forma. Estávamos rindo e quase nos esquecemos do que realmente viemos fazer.
Na segunda volta decidi tirar as rodinhas, mas fui guiando sua bicicleta segurando no banco enquanto ele pedalava devagar. Sem querer eu me distraí e ele continuou pedalando, até que perdeu o controle e caiu.
- ! Você tá bem? - Saí correndo em sua direção, com medo de que o mesmo tivesse se machucado. Tirei a bicicleta de cima dele rapidamente e me aproximei dele pra ver como ele estava.
- Você é burra, ? Como você me solta assim sem ao menos avisar? - Ele gritava de nervosismo e não conseguia parar de gesticular. Enquanto ele falava, tudo que eu conseguia pensar era em como eu amava tudo que ele fazia, até que percebi suas mãos macias machucadas por terem batido no chão irregular do parque.
- Desculpa, foi sem querer. Agora vem pra cá pra eu dar um jeito nesses ralados.
- Como você vai cuidar disso? Estamos praticamente no meio do nada, - Seu tom de voz era o de um bichinho assustado, muito mais calmo do que antes.
- Eu trouxe alguns band-aids e podemos limpar com a água que trouxemos, fica calmo
Fui rápida em pegar os band-aids dentro da cestinha da minha bicicleta e pegar a garrafa de água. Sentei numa pedra que tinha ali por perto e fiz sinal pra que ele sentasse também. Abri a garrafa de água, segurei suas mãos e entornei um pouco do líquido sobre elas. soltou um pequeno gemido de dor, mas logo se acostumou com a ardência provocada. Esperei um pouco pra que os machucados secassem e logo coloquei band-aids em cima deles.
- Quer tentar de novo? - Dessa vez foi quem tomou a iniciativa e me encorajou dando um sorriso, retribui seu sorriso e logo me levantei.
- Claro.
Caminhamos até sua bicicleta e ele logo se sentou, segurei a parte traseira do seu assento até que ele sentisse confiança suficiente de ir sozinho. Ele estava indo muito bem, tudo estava indo muito bem, até que ao tentar fazer uma curva, ele caiu em cima de mim. Começamos a rir imediatamente da cara assustada que fizemos até percebermos o quão perto do rosto um do outro estávamos, fiquei sem reação e ele também, chegando até mesmo a prender a respiração. O clima ficou intenso e percebi que algo precisava ser feito, mas antes mesmo que eu pudesse pensar em qualquer coisa, ele saiu de cima de mim e me ajudou a levantar.
A tarde foi passando tranquilamente em meio a brincadeiras e tentativas, até que no fim da tarde ele já sabia andar perfeitamente sem minha ajuda. Comemos mais um pouco e começamos a nos preparar pra ir embora.
- - Ele falou enquanto me cutucava e quando eu virei, ele me abraçou por trás, logo ele saiu correndo e gritando - Tá com você!
Saí correndo atrás dele lembrando de quando brincávamos de pega-pega quando crianças e lembrando de seu esconderijo favorito. Logo o achei escondido atrás do grande pedregulho e era a vez dele de me procurar. Me escondi no meio de um arbusto e fiquei a sua espera, assim que o vi correndo em minha direção, saí dali e comecei a correr procurando um novo esconderijo, mas de alguma forma, ele encontrou um atalho e acabamos batendo de frente um com o outro.
- Te peguei - Ele falou baixinho em meio a uma gargalhada incrível.
- Pegou, é verdade - Eu queria falar mais do que aquilo, queria falar o quão apaixonada eu estava por ele e por cada pedacinho dele, como eu queria faze-lo meu, mas todas essas coisas eram difíceis de dizer.
Acabamos tão cansados da correria da brincadeira que acabamos por ficar deitados na toalha de piquenique por um tempo. estava com os olhos fechados e eu o observava lentamente, desde os cabelos lisos, os cílios longos, a pele branca como porcelana, até a boca rosada e as veias azuis pela extensão de seus braços. Aos poucos voltei a encarar seu rosto e logo ele abriu seus olhos me pegando no ato, abriu um breve sorriso e começou a me encarar também. Fechei meus olhos instantaneamente sentindo o calor do sol no meu rosto; sabia que ele ainda me encarava, mas não tinha coragem de olhar nem pra espiar e ver se ele havia parado. Num instante senti sua mão sob a minha, apenas brincando com ela, mas sem realmente segurá-la.
- , acorda! - Abri meus olhos lentamente, percebendo que já estava praticamente escuro e cutucava meu braço tentando me acordar.
- Desculpa, , acho que cochilei um pouco - Ele já estava sentado enquanto eu falava com ele.
- Tá tudo bem, eu também caí no sono, mas acho melhor irmos porque já está escuro e não queremos nos perder, certo? - Ele falou num tom receoso enquanto levantava e subia em sua bicicleta.
- Certo - Foi tudo que eu consegui responder.
Guardei a toalha na minha cestinha e subi em minha bicicleta, indo na frente de , guiando-nos no caminho escuro, até chegarmos num local conhecido por ambos, apenas alguns quilômetros da minha casa. Passamos a pedalar lado a lado, vez ou outra parando um pouco para descansar e tomar uma golada de água ou suco.
O caminho até minha casa foi silencioso já que se concentrava em não cair, mas sempre olhávamos para o outro e sorríamos, até voltarmos a prestar atenção no caminho novamente. Minha cabeça estava a mil, pensando em como eu fui me deixar levar pelo meu melhor amigo e principalmente, em como eu diria isso pra ele. Ensaiei meu discurso mil vezes e troquei de discurso outras mil vezes até que conclui exatamente o que eu ia dizer.
Em meio a tantos pensamentos nem percebi o quão rápido chegamos em minha casa. Guardei minha bicicleta na garagem e fui falar o meu discurso pro , quando tive uma surpresa.
- Preciso te contar uma coisa - Falamos em uníssono e caímos na gargalhada logo depois.
- Você primeiro - Ele falou, sorrindo de canto, sendo o mais gentil possível.
- Não, pode falar primeiro - Evitando o que eu tinha pra falar o máximo de tempo possível.
- Bem, lembra da ? - Acenei com a cabeça, afirmando que sim - Ela me chamou pra sair um dia desses e estou pensando em passar na casa dela e levar ela pra dar um passeio de bicicleta noturno.
- Uau! - Eu estava completamente sem reação, não conseguia fazer com que uma palavra sequer saísse da minha boca.
- Eu sei, demais né? E tudo isso graças a você, ! Se você não tivesse me ensinado a andar sem as rodinhas eu passaria a maior vergonha levando ela pra passear de bicicleta - Ele sorria radiante, como se a melhor coisa do mundo tivesse acontecido e não a pior.
- Que bom que eu ajudei então, sempre que precisar - Falei sem graça e meio desconcertada com toda aquela informação.
- E o que você queria me contar? - Não era nada, fiquei tão feliz com o que você me contou que até esqueci - Tentei dar uma enganada e ele pareceu cair.
- Se esqueceu não era tão importante assim, certo? - Ele dizia todo inocente, mal sabendo da verdade que eu nunca revelaria.
- Certo! - Sorri brevemente e fui andando em direção a porta de casa - Boa noite, ! - Boa noite, , durma bem! - Entrei sem nem olhar novamente pra ele.
Andei apressada pro meu quarto, ignorando o meu pai assistindo televisão na sala e pegando uma roupa qualquer pra vestir depois do banho. Tomei o banho mais quente da minha vida, tentando fazer com que meus músculos tensionados relaxassem um pouco. Minhas lágrimas eram imperceptíveis, já que se confundiam com a água que caía sobre mim.
Saí do banho e, ao me olhar no espelho, vi que meu rosto estava completamente vermelho, mas preferi achar que era devido a exposição a água quente por tanto tempo.
Deitei e me enrolei no meu cobertor, logo as lágrimas insistiram em descer novamente, mas assim que ouvi batidas na porta enxuguei o meu rosto fiz a maior cara de paisagem possível.
- Filha, o jantar está pronto, vem comer - Minha mãe estava parada na porta com o maior sorriso do mundo.
- Estou sem fome, mãe, quero dormir um pouco - Menti, mesmo sabendo o quão errado aquilo era.
- O que houve, filha? Por que está chorando? - Seu rosto preocupado me fez perceber que nem que eu tentasse conseguiria enganar aquela mulher.
- Eu descobri que gosto do e ele vai sair com outra, mamãe! - As malditas lágrimas estavam ali de novo, insistindo em rolar pela minha face.
- Não fica assim, filha, o amor é assim. O amor é como uma bicicleta e ele tinha medo de amar, por isso usava as rodinhas, você o ensinou a andar sobre duas rodas e agora que ele aprendeu, ele vai pedalar por aí um pouco, até que encontre alguém para pedalar ao seu lado - Enquanto minha mãe falava eu só conseguia pensar o quão certa ela estava e acabei adormecendo com os pensamentos no que minha mãe disse: O amor é como uma bicicleta sem rodinhas.