Capítulo Único
Come meet me at my treehouse;
We can forget the world, just you and me;
Aw, yeah! It's alright, alright, alright now...
Sentado na cama bagunçada, dedilhando o violão em busca de acordes que dessem o tom certo à música a qual vinha se dedicando nos últimos meses, Harry foi pego de surpresa pela entrada inesperada de . A confusão expressada em cada linha de sua face foi substituída por preocupação genuína, quando notou as lágrimas que se mesclavam ao rímel preto e marcavam as bochechas dela.
Deixando o violão de lado, levantou-se de súbito, pronto para bancar o super-herói e a proteger de todas as merdas do mundo uma outra vez.
— O que houve, ? — Perguntou baixinho, o tom de voz suave vindo como forma de tentar acalmar a melhor amiga.
Levando as mãos trêmulas ao rosto, esfregou as maçãs do rosto com rispidez, curvando os lábios em formato abastado de coração em uma linha fina para tentar conter os soluços.
— Podemos ir para a casa da árvore antes? — Pediu, chorosa, tornando a abraçar o próprio corpo.
Sem pensar duas vezes, o Styles assentiu e a envolveu pelos ombros, acompanhando-a pela escadaria abaixo com passos apressados. Nem a mãe e nem a irmã estavam em casa, então, foi fácil chegar ao jardim dos fundos sem qualquer intervenção. Subiram um após o outro a escada vertical da estrutura apoiada em um carvalho inglês com mais de vinte anos de idade, e foi só quando chegaram lá em cima, que ela pôde suspirar em alívio; sabia que aquele lugar era precioso para a por ser uma fuga segura de toda a realidade bagunçada em que viviam.
— Vem, senta um pouco e conversa comigo... — murmurou, preso em uma linha tênue entre a ciência de que devia respeitar o tempo dela e a necessidade quase sufocante de amenizar o que quer que a estivesse incomodando.
— Acho que preciso de maconha antes, Harry. — Afirmou, indo de um lado para o outro como se fosse refém da própria inquietude.
Quem sabe soprar fumaça colorida com ele ajudasse e fosse bastante para lhe aquietar a alma, por ora...
— Você nem gosta de fumar, .
Diante da pequena verdade escancarada, não teve outra opção senão se jogar no puff desbotado e bufar. Mantendo os olhos longe dos dele, começou a bater o solado dos tênis contra o chão de madeira de maneira insistente para tentar aliviar o estresse. Não queria explicar cada uma das coisas que haviam acontecido, mas só de estar ali já se sentia capaz de berrar para o mundo tudo o que vinha suportando.
— Ethan me pediu em noivado... — contou, mordiscando o lábio inferior com força o bastante para machucar. — E o pior é que minha mãe acha certo aceitar! Eu tenho dezoito e acabei de terminar o ensino médio, caramba!
Harry tinha plena certeza de que havia escutado com clareza aquelas palavras, todavia, não conseguia lidar ou mesmo processar a informação. O seu coração batia tão forte dentro do peito, que podia senti-lo ressoar como um tambor e, repentinamente, a sua boca ficou seca.
— Caramba! — Foi tudo que conseguiu proferir, enquanto brincava com os anéis de prata em seus dedos.
— Isso é uma completa loucura, né? — Esbravejou, sentindo-se sufocada ao ponto de querer gritar e talvez até mesmo arrancar os cabelos.
— E você disse isso a eles? — Dispunha da mais plena noção de que a pergunta era boba, porém, a fez mesmo assim.
— Como eu poderia? Sabe como me sinto, Hazza! — Choramingou, frustrada.
Sempre que abria a boca era como se cada pessoa ao redor detestasse até mesmo o som de sua voz... Harry vinha sendo a única exceção da regra desde que se conheceram.
— Eu sei, me desculpe.
Ah, e como sabia!
tinha sido adotada aos doze anos de idade e a partir do dia em que a viu pela primeira vez, isso em meio as férias de um verão calorento e ensolarado, pôde acompanhar de perto todas as tentativas dela de retribuir aos pais adotivos chance que lhe deram de ter uma família. O peso da culpa e o senso de dever quase fora do comum pesavam sobre os ombros dela de maneira insana, sempre a levando a silenciar suas vontades e a pisar em ovos a todo momento.
— Então vai se casar com ele? — Presumiu, incapaz de ocultar o medo que o assombrava.
Fungando, ela escondeu o rosto entre as palmas e disse em um fio de voz:
— Não! Eu... Eu só estou cansada de andar nessa corda bamba... Não sei até quando vou suportar.
O coração de Harry doeu dentro do peito. A garota por quem estava apaixonado desmoronava na sua frente dia após dia somente por achar que precisava quitar uma espécie de dívida com o universo e tudo o que mais queria era conseguir explicar para ela que não existia preço a ser pago.
Respirou bem fundo, não querendo ser levado pelo temor de perder, e então se ajoelhou em frente a ela, afastando as mãos pequenas do rosto inchado para que pudesse beijar-lhe a testa carinhosamente. Não podia garantir que o gesto a ajudaria a se sentir segura, mas nada o impedia de tentar.
— Não seja tão dura consigo mesma, por favor. — Pediu em um sussurro desnorteado.
Abrindo as pálpebras devagar, não conteve um pequeno sorriso ao mirar o semblante doce da única pessoa no mundo que parecia entender todos os seus sentimentos, do mais simples ao mais complexo. Bastaram alguns segundos perdida na imensidão bonita dos bonitos olhos verdes para que algo contra que vinha lutando tornasse a despertar.
— Você é tão bobo... — murmurou, aproximando-se sem nem mesmo se dar conta.
Dessa vez, Harry não se afastou, então continuou indo mais para perto até chegar no ponto do calor de suas respirações se misturarem. A verdade era que sempre hesitava em todas as oportunidades de demonstrar o que sentia por ele, negando-se a estragar a amizade em nome de uma paixonite boba e passageira, mas, de repente, nada disso importava.
— Não ligo de ser bobo se isso te fizer sorrir. — Respondeu singelo, mal tendo forças para tirar os olhos da boca rosada e convidativa.
Nesse instante, findou a distância e seus lábios roçaram um no outro, bastando apenas um gesto para que o contato se transformasse em um beijo. Embora quisesse aquilo mais do que qualquer coisa no mundo, o Styles se obrigou a se afastar e a ficar de pé. Não podia ceder agora, não quando ela estava sofrendo.
o acompanhou, segurando a sua mão com força para impedi-lo de ir para mais longe.
— Você sempre me pede para ser sincera e quando eu finalmente consigo... — resmungou, sentindo-se uma bagunça diante da imensidão de sentimentos que transbordavam em seu peito.
Os problemas ainda batiam na porta, contudo, eram silenciados pela necessidade gritante de demonstrar o que vinha guardando para si a tanto tempo.
Harry não queria olhar para ela e tentou muito não o fazer, mas simplesmente não deu para evitar. Virou-se, sendo agora o culpado pela proximidade capaz de lançar por terra todo o seu autocontrole, e afastou os longos cabelos escuros do rosto bonito, enquanto o perfume doce lhe embriagava os sentidos... Por mais que os olhos de ainda contassem verdades sobre a dor que a feria, o brilho crescente e intenso que emanava deles o fez pensar que podia ir além.
— Você não sabe o que está dizendo, . — Resmungou, travando o maxilar.
O que diabos estava fazendo? Ia mesmo continuar com tamanha loucura? Sabia que ela precisava do apoio e bagunçar a relação que tinham não era nem de perto o certo a se fazer na situação em que se encontravam.
— Eu nunca tive tanta certeza...
Não conseguiu mais se impedir após a ouvi dizer aquilo em um timbre tão arrebatador e acabou por tomar os lábios dela para si em um beijo que mesclava anseio e receio. Correspondido a altura, Harry sentiu as unhas lhe arranharem o pescoço com urgência e foi incapaz de negar um suspiro, puxando-a para si com ainda mais necessidade. Ela finalmente estava em seus braços e nada poderia ser mais perfeito.
— Você pode dizer o que quiser, mas, por favor, não me fale que se arrepende disso, princesa. — Pediu em voz rouca ao findar do toque, expondo para ela o sentimento mais profundo que carregava consigo.
As lágrimas voltaram a cair e tudo que conseguiu fazer foi beijá-lo novamente. Ainda não conseguia contar ao mundo sobre como se sentia, mas já não queria mais esconder as suas verdades do moço de cativos olhos verdes.
— Só me arrependo de não ter feito isso antes. — Admitiu quando se separaram, apoiando a cabeça no ombro largo e confortável, e encontrando bálsamo para as incertezas que teimavam em querer surgir.
— Isso é bom... — Harry sorriu e, por mais que sentisse as pernas bambas, tomou coragem e a envolveu em um abraço caloroso.
Agora, mesmo que só um pouco, estava tudo bem.