Capítulo Único
I’m angry. I’m angry
I’m angry at the malice-filled anger.
I’m angry at the malice-filled anger.
I’m angry. I’m angry
I’m angry. I’m angry
I’m angry at the anger I had to get out of.
I’m angry at the anger I had to get out of.
Passar por entre as nuvens no céu e poder observar as estrelas “mais de perto” jamais se tornaria algo comum para . Vindo de uma família de classe média baixa, de uma cidadezinha no sudoeste da Coreia do Sul, nunca pensou que chegaria aonde estava. Quer dizer; havia sonhado muito com aquilo, havia treinado, estudado e trabalhado muito para chegar ali, porém, conhecendo a indústria artística mundial como bem conhecia, não pensou que teria um espaço, mesmo que mínimo, entre aquelas pessoas. Surpreendentemente, ainda ficava chocado com o tanto que conquistou nos últimos anos; e era muito jovem quando comparado aos outros, sequer havia chego aos trinta anos.
Um sorriso brotou em seus lábios assim que percebeu que já sobrevoava o aeroporto internacional de Los Angeles. Assim como grande parte dos jovens ao redor do mundo, era um bobo apaixonado pela cidade dos anjos. O calor, as pessoas sempre bem arrumadas, a movimentação, as danças e apresentações nas calçadas, os famosos, Hollywood — tudo lhe enchia os olhos e o peito de encantamento.
Quando saiu do avião e pegou suas malas, não esperava encontrar uma multidão gritando seu nome no meio do saguão do aeroporto, tampouco esperava que todas aquelas pessoas lhe seguiriam até o lado de fora, onde uma van o aguardava. Acenou, sorriu, deu alguns autógrafos e tirou fotos, mesmo que seu manager sempre dissesse que aquilo era contra as regras da empresa que ele representava e afins — não se importava, porque, se não fosse o público, não teria chegado onde estava. Por essas e outras que não via a hora daquele ano acabar e, com ele, seu contrato com a empresa que o representava. Seus planos eram outros: havia preparado tudo para que, no ano seguinte, pudesse anunciar sua própria companhia de dança, visando coreografar para artistas do mundo inteiro e oferecer bolsas de estudo para pessoas que não tinham condições de bancar-se nas cidades grandes e caras, como ele já fora um dia.
Chegar ao hotel em que estava hospedado não foi uma tarefa fácil. Como já estava se tornando comum, tiveram que percorrer um caminho duas vezes mais longo que o normal para que os fãs não descobrissem o endereço do hotel, mas, ainda assim, ele sabia que encontraria algumas pessoas pelos corredores, que sempre ficavam sabendo sobre suas estadias de forma vazada ou comprada através dos funcionários que tinham acesso às reservas. Contudo, estava bem e feliz, já deitado na cama confortável de seu quarto. Naquela viagem, devido ao cansaço incomum que sentia, decidiu que não passearia pela cidade. Queria focar em seu trabalho e em tudo que precisaria produzir naquele período de quinze dias. Além de finalizar a coreografia para uma cantora recém lançada nas paradas musicais, ele ainda seria jurado do campeonato mundial de dança que aconteceria ali em Los Angeles.
soltou um suspiro fraco e enrolou-se mais entre os cobertores; seriam dias difíceis e cansativos. Antes que pudesse cair em pensamentos profundos e aleatórios sobre si mesmo e suas dificuldades num país tão diferente do seu, o vibrar de seu celular lhe chamou a atenção. Fitou a barra de notificações e pôde ver uma mensagem de um número desconhecido e, curioso, a abriu de imediato.
[Desconhecido]: Será que você está pronto para a verdade vir à tona e destruir o que chama de carreira?
[Desconhecido]: Será que você está pronto para voltar para o fundo do poço? Eu vou adorar te empurrar para lá.
[Desconhecido]: E se, de repente, você sofresse um acidente a caminho do campeonato mundial?
[Desconhecido]: Você pode ter esquecido de onde veio e tudo o que fez para chegar aí, mas eu não.
[Desconhecido]: Estou indo em sua direção, .
[Desconhecido]: Você só sairá dessa situação morto.
[Desconhecido]: Sua dívida não foi perdoada, estrelinha.
O arrepio que subira por sua espinha fora involuntário e gelado, assim como o secar que surgiu em sua garganta — mal conseguia respirar àquela altura. Não era a primeira vez que recebia ameaças estranhas, era, infelizmente, comum quando se tornava uma figura pública — com a fama e os fãs, vinham os haters e as ameaças sem fundamento. No entanto, conseguia enxergar um tom diferente naquelas palavras; era como se sentisse que, de fato, alguém do seu passado estava retornando para sua vida com a intenção de destruí-lo. E ele não podia deixar isso acontecer, não mesmo.
A falta de ar veio de forma gradativa, enquanto seus pensamentos trabalhavam a milhão. Tinha um turbilhão de opções para seguir e tentar descobrir quem estava fazendo aquilo, mas, de repente, o quarto pareceu se fechar e o ar ficou ainda mais rarefeito, mostrando-o que não tinha controle sobre nada — nem mesmo do próprio corpo, como gostava de pensar. A sensação de sufocamento piorou com o passar dos minutos, conforme o celular vibrava constantemente entre seus dedos, denunciando mais mensagens daquele desconhecido.
sentiu-se tremer e tontear, a sensação de desmaio se aproximando cada vez mais.
[Desconhecido]: As pessoas irão te conhecer de verdade agora, .
E essa foi a última mensagem que conseguiu ler antes de apagar por puro nervosismo e ansiedade.
O dia seguinte se viu em modo automático. As ameaças continuavam e ficavam cada vez mais agressivas. Era como se quanto mais ele ignorasse, mais a pessoa o deixava perturbado. Àquela altura, as mensagens eram mais pessoais e explanavam coisas que só haviam lhe acontecido durante a adolescência, coisas que um hater comum jamais saberia. O que ele não entendia, porém, era o motivo de tudo aquilo. Por que alguém de seu passado faria tanta questão de ameaçá-lo daquela forma? Por que agora? Por que estava revivendo coisas já há tanto tempo esquecidas e deixadas para trás? Por que ele e não os outros? Por quê?
— ? — seu manager chamou em um tom mais alto. — Está tudo bem? Você está pálido e distraído, sua entrevista começa em cinco minutos e você parece em outro mundo. Sequer conseguiu escolher suas próprias roupas. O que está acontecendo?
— Estou bem, Minhyun — respondeu, ainda distante. — Vamos, os entrevistadores já chegaram.
Minhyun suspirou e encarou o rapaz com mais atenção. De forma automática, segurou-o pelo braço e o impediu de continuar andando.
— Você sabe que pode contar comigo — murmurou lentamente, visando fazê-lo entender o que queria dizer com aquilo. — Sou seu amigo acima de tudo, , e te conheço o suficiente para saber que você não está bem.
suspirou e virou-se para o amigo.
— As coisas estão difíceis e as crises voltaram, só isso. Mas prometo: vou conseguir me sair bem na entrevista.
Minhyun assentiu positivamente e permitiu que seguisse para onde as câmeras estavam apontadas. Sabia que não eram apenas crises e dias difíceis que perturbavam o artista, estava escrito em seu olhar. era um homem transparente demais depois quando se o conhecia, e Minhyun sabia lê-lo de trás para frente, de cima para baixo; por inteiro. Era seu companheiro de vida há mais de dez anos, e sabia que, pelo estado do amigo, algo de muito errado estava acontecendo ali.
A entrevista correu bem, apesar de não ter sido tão brincalhão como costumava ser. Ainda assim, ele conseguiu divulgar seus próximos trabalhos, falou sobre o campeonato de dança e sobre o quanto se sentia honrado por entrar para o grupo de jurados, além de ter comentado sobre suas apostas entre os candidatos daquele ano. Depois da entrevista, foi levado até o estúdio de dança em que teria de se encontrar com a artista para quem coreografava. Ao chegar no local, tudo estava bem, até seu celular voltar a apitar como um louco.
[Desconhecido]: Até quando pensa que conseguirá me ignorar?
[Desconhecido]: Estou observando você, . Acha que não tenho coragem de invadir esse maldito estúdio e revelar a todos quem você é?
engoliu a seco ao ler as mensagens e passou a mão pela testa suada, aproveitando para tirar os fios de cabelo que grudavam ali.
[Desconhecido]: Minha vontade é de matar você, mas sei que será mais satisfatório destruir sua carreira e vê-lo fazer isso por si só.
[Desconhecido]: Afinal, não será a sua primeira tentativa, não é mesmo? Só espero que seja a última. Ninguém precisa de alguém como você no mundo.
Aquela fora a gota d’água para , que sentiu os olhos encherem de lágrimas imediatamente. A crueldade daquelas palavras o atingiu em cheio, pegou em seu ponto fraco — lembrar-se do ponto que sua depressão havia chegado sempre o deixava vulnerável.
— Com licença, preciso ir ao banheiro — murmurou educadamente para a artista e seus dançarinos, logo se retirando da sala espelhada.
Em questão de segundos, Minhyun, que até então estava no canto da sala, seguiu-o com pressa. Ao chegar no banheiro onde havia entrado, o dançarino estava apoiado na pia enquanto deixava algumas poucas lágrimas rolarem pelo rosto.
— Ei, o que aconteceu? — Minhyun perguntou, virando o artista para si. — Já chega de mistérios, você está estranho desde ontem à noite.
não se deu ao trabalho de falar e explicar o que estava acontecendo, apenas entregou o celular para Minhyun. O manager leu atentamente todas as mensagens recebidas, ficando horrorizado a cada uma que surgia pelo caminho — a pessoa simplesmente não parava de falar, fazendo questão de ser o mais cruel possível. A intenção das mensagens era clara: desestabilizar e fazer com que ele tivesse uma recaída tão monstruosa quanto a de alguns anos atrás.
— Nós vamos à polícia — Minhyun decretou.
— Não acho que é para tanto, deve ser algum hater tentando me intimidar. Podemos apenas trocar o número do celular — sussurrou, já um tanto quanto recomposto.
— Como um “hater” saberia tanto sobre você, ?
— Eu não sei, deve ter tido ajuda de algum colega da época de escola — deu de ombros. — São ameaças vazias, no fim das contas.
— Tudo bem, podemos apenas alterar seu número — Minhyun cedeu, vendo que o amigo estava exausto de toda aquela situação. — Mas, se as ameaças continuarem, nós vamos até a polícia e reforçaremos a segurança. Combinado?
— Combinado. Agora preciso voltar para o trabalho.
E como se nada estivesse acontecendo, voltou para o estúdio e fez o que fazia de melhor: dançou.
A noite já caía quando e sua equipe se despediram da artista e seus companheiros.
— Agradecemos o convite para o jantar, Maddie, mas, infelizmente, temos muito trabalho ao longo da semana e preciso descansar — explicou com um sorriso bonito no rosto, tentando ser o mais educado possível. — Desculpe. Mas, no próximo fim de semana, caso eu ainda esteja aqui, podemos marcar alguma coisa.
— Tudo bem — Maddie sorriu e acenou para , que já se encaminhava para sua van.
Os momentos seguintes foram rápidos e como borrões para todos ao redor. Quando se preparou para entrar na van, sons de tiros foram ouvidos por perto. Automaticamente, os seguranças cercaram os artistas e fizeram com que se abaixassem e buscassem refúgio em algum lugar seguro. Maddie voltou para dentro do prédio do estúdio de dança, e fora protegido por uma muralha de meia dúzia de homens, que protegiam-no junto aos outros seguranças que estavam ao redor do prédio e sabiam de sua importância. Ainda assim, aquilo não pareceu o suficiente. A chuva de tiros veio com mais força, ao mesmo tempo em que um carro desgovernado veio em direção à van, acertando-a em cheio.
Um dos seguranças gemeu de dor e sentiu o sangue escorrer por todo seu braço, o que apavorou as pessoas ao redor. Mesmo assim, ele não se soltou de e, com a ajuda dos outros, arrastou-o para dentro do prédio imediatamente. Trancaram-se ali e, antes que a polícia pudesse chegar ao local, o carro desgovernado arrancou. Entretanto, antes de desaparecer no fluxo de veículos de Los Angeles, o motorista fez questão de abaixar o vidro e passar mais devagar em frente a , mostrando-o apenas seus olhos.
O ataque fora o suficiente para entender que, sim, ele estava sendo perseguido por alguém que o conhecia muito bem. Agora, lhe restava descobrir por quem — e, sobretudo, proteger-se com mais afinco.
A mídia estava alvoroçada com o ataque ao dançarino estrangeiro e promissor — como era sempre descrito pela imprensa. Alguns jornalistas consideravam o ataque como um crime de ódio e xenofobia, por tratar-se de um sul-coreano bem-sucedido dentro dos Estados Unidos — os extremistas do país sempre tentavam algo contra pessoas estrangeiras. Outros, porém, achavam se tratar de uma tentativa de assalto nos arredores que dera errado; uma coincidência terem esbarrado no dançarino. Mas, no fundo, e Minhyun sabiam que aquilo poderia ser resultado das ameaças — principalmente por causa do motorista que fez questão de mostrar apenas os olhos para .
Naquela noite, a segurança do hotel cinco estrelas em que o estava hospedado fora reforçada em quase três vezes mais. Na porta de seu quarto, tinha troca constante de seguranças e ninguém poderia passar por ali, a não ser que fosse de sua família ou equipe. Por via das dúvidas, aumentaram a segurança da cantora Maddie, com quem ele trabalhava, também.
— Nós entramos em contato com uma empresa que fornece seguranças especializados em lutas e também policiais que usam a profissão como uma segunda renda — Minhyun falou assim que sentou-se ao lado de na cama. — Isso está fora de controle e não faço ideia do porquê.
— As pessoas simplesmente me odeiam, Minhyun — deu de ombros. — Talvez por eu ser quem sou.
— Isso não é culpa sua. Você é a vítima.
— Eu sei, mas isso não muda o fato de me odiarem. Tem pessoas na internet comemorando esse ataque, acredita?
— Acredito, e são pessoas doentes e sem o menor escrúpulo. Não tem nada a ver diretamente com você, e sim com elas — Minhyun puxou o celular da mão de . — Pare de ler essas porcarias. Seus fãs estão desesperados e já emiti uma nota dizendo que tudo está bem e somente um segurança ficou ferido, mas está fora de perigo. Você precisa descansar agora.
— Nós dois sabemos que eu não vou dormir essa noite, Minhyun — o olhou nos olhos, sentido. — Eu não consigo entender por que isso sempre acontece. As pessoas ameaçam, tentam coisas, matam, e nada acontece. Ninguém nem pensa em se mobilizar para evitar tais catástrofes. Eu…
— Ei, pare de pensar nisso — Minhyun o interrompeu. — Está tudo bem agora, você está protegido. Todos nós estamos. Amanhã é um novo dia e teremos uma equipe especializada para esse tipo de coisa, você não irá sofrer nada.
Assim que ficou sozinho, não conseguiu relaxar. Seus pensamentos pareciam enfurecidos, passeando por locais de sua consciência que ele sequer sabia que existia. A agonia e o medo ainda lhe corriam nas veias, e cada barulho que soava do lado de fora, era como um choque em seu corpo.
Todo o nervosismo resultou em uma péssima noite, o que acabou fazendo com que precisasse cancelar toda a agenda dos próximos dias até a data do campeonato mundial de dança. Naquela manhã, porém, ele tinha um compromisso privado e que somente ele e Minhyun sabiam que aconteceria — e seria ali mesmo, no hotel. Quando deu a hora marcada, Minhyun deu apenas dois toques na porta do quarto de e ele logo a abriu, saindo e ficando quase grudado ao amigo — estava apavorado, sem dormir e tão, tão nervoso que não sabia o que fazer para se acalmar. O silêncio entre eles não era confortável, mas não tinham muito o que fazer naquele momento — afinal, como ficar confortável sabendo que poderiam voltar a ser atacados a qualquer momento?
Logo que chegaram ao térreo e tiveram de seguir até o restaurante privado do hotel, vestiu sua armadura de homem forte e impenetrável, com seus óculos escuros no rosto a fim de esconder as olheiras e o cabelo escorrido caindo sobre a testa. Seguiu até o local de cabeça erguida e nariz empinado, mostrando-se firme e recusando-se a prestar atenção nos cochichos de curiosos e os olhares de pavor e pena. Todos já estavam cientes do ataque do dia anterior e que ele era o principal motivo para tanta mobilização no hotel e a segurança dobrada.
— Ali — Minhyun murmurou e apontou em direção à uma mesa onde uma mulher de postura perfeita estava sentada.
não prestou atenção de imediato, ainda preso aos comentários aleatórios e idiotas ao redor do restaurante, no entanto, quando parou em frente à mulher e pôde observar seu rosto, sentiu-se fraquejar.
— ? — Minhyun perguntou retoricamente e, de maneira polida, a mulher se levantou e curvou o corpo para frente em uma reverência educada.
— Lee Minhyun, eu suponho, e — ela fez uma pausa, quase em hesitação: — .
não conseguiu respondê-la, apenas retirou os óculos do rosto e sentou-se de frente para . Minhyun percebeu o clima diferente entre eles, mas preferiu não perguntar nada — talvez aquela mulher também fosse parte do passado que tanto queria esquecer.
— Sinto muito pelo que aconteceu — comentou em um tom de voz baixo, tentando manter o jeito profissional e não se perder muito olhando para e todas as mudanças que ela podia perceber que ele havia sofrido. — Tenho uma equipe perfeita para esse momento infeliz, e eu mesma a lidero. Como devem ter visto em meu currículo no perfil da empresa, fui lutadora profissional por alguns anos, mas uma lesão acabou me afastando dos tatames. Ainda assim, posso operar perfeitamente na área de segurança sem nenhum problema, a lesão não foi grave o suficiente para me aposentar de empregos complicados — ela sorriu de leve. — Só não posso mais lutar profissionalmente.
— Eu confio no seu trabalho — foi o que disse, cortando qualquer pergunta que Minhyun pudesse vir a ter. — Se eu soubesse desde o início que pretendia deixar minha segurança nas mãos de , eu nem teria marcado essa reunião, Minhyun — sorriu de leve, pela primeira vez mais aliviado. Ainda assim, Minhhyun continuou com um semblante confuso.
— Nós nos conhecemos há algum tempo — explicou para o manager. — Meu pai é coreano e passei um longo período em Gwangju, a cidade de . Nos conhecemos lá, fizemos ensino médio juntos e acabamos partindo para Seul juntos também, ambos em busca dos nossos sonhos. Eu acabei precisando voltar para os Estados Unidos por causa da minha mãe e, bem, seria melhor para minha carreira também.
— Ah… — foi tudo que Minhyun conseguiu murmurar, enquanto assentia positivamente.
Aqueles primeiros minutos foram um tanto quanto constrangedores, não conseguia parar de olhar para a fim de guardar no fundo da memória todos os traços bonitos da mulher; as mudanças, as cicatrizes quase imperceptíveis, o jeito mais bruto, porém, firme e polido, o sorriso contido e a marquinha de nascença na bochecha — a famosa covinha, que não desaparecia nem quando ela estava séria. Com ela, entretanto, não era diferente: parecia mais bonito, mais atraente, mais másculo e mais alto ao seu ver. Contudo, depois de algum tempo conversando e fechando todos os detalhes do trabalho, tiveram de se segurar, disfarçar e voltarem ao profissionalismo — eram apenas contratada e contratante, nada mais.
Quando se levantou e se preparou para ir embora, o ambiente já estava mais leve e, repentinamente, se sentia mais seguro e confiante. Minhyun contentou-se em observar a interação dos dois e concordar com o que quer que dissesse, já que ele teria, de fato, a última palavra sobre a mulher e toda sua equipe — ela fez questão de mostrar imagens e enviar por e-mail, imediatamente, o perfil completo de cada um dos integrantes.
Assim que a mulher finalmente se retirou, deixou o corpo cair estático sobre a cadeira, bagunçando os cabelos em seguida. Estava estupefato, alegre, aliviado e desesperado, e, com isso, acabou não vendo o sorriso grande e bonito que sustentou no rosto até sair das dependências daquele hotel de luxo.
— A história com a foi só aquele breve resumo que ela descreveu ou tem algo mais que eu devo saber? — Minhyun perguntou baixo, voltando a bebericar seu chá gelado.
— Nós namoramos por uns meses, eu era apaixonado por ela — explicou e finalmente tirou os olhos da porta de entrada e saída do restaurante. — Seria um pouco constrangedor a minha nova chefe de segurança dizer para o meu manager que é minha ex-namorada.
— Hum… — Minhyun segurou um sorriso brincalhão. — Mas, tem certeza de que você era apaixonado por ela e não continua sendo?
encarou o amigo com atenção, buscando qualquer resquício de brincadeira em suas expressões, porém, encontrou apenas a curiosidade genuína. E, ali, perante aquele olhar pidão e curioso de Minhyun, percebeu que ele também não sabia ao certo se ainda amava ou não. Quer dizer, foi arrebatador reencontrá-la depois de quase cinco anos; seu coração ainda batia forte, suas mãos ainda suavam e seu rosto ainda sofria de espasmos involuntários. Mas, em sua cabeça, ele havia superado aquele término e estava feliz por ter visto tão determinada a dar certo na carreira de lutadora.
— Eu não sei, mas eu espero que o sentimento já tenha passado — deu de ombros e virou o restante de seu café em um único gole. — Do contrário, acho que terei problemas.
Dito isso, levantou-se e saiu do restaurante como se não estivesse mais amedrontado. Trancar-se em seu quarto para dançar ao som de qualquer música que seu celular decidisse tocar lhe parecia uma opção melhor do que pensar em e tudo o que ela ainda o fazia sentir.
— Precisaremos acelerar suas entrevistas que restaram — Minhyun disse, agitado e fechando a porta atrás de si. seguiu tranquilo enquanto olhava-se no espelho, os resmungos do manager já não o irritavam mais. — Duas eu cancelei porque eram “menores” — fez aspas com as mãos. — Então, hoje você vai gravar duas entrevistas de dez a quinze minutos, ensaiar com a Maddie e, à noite, provar as roupas do campeonato mundial. Se der tempo, quero que dê uma olhada nos competidores.
— Ok — respondeu baixo, ajustando a jaqueta jeans sobre o corpo magro.
— Agora já chega de trocar de roupas, certo? — Minhyun parou ao lado de no espelho. — Você não vai impressionar a mais do que já impressionou.
— Não estou me arrumando para impressionar a , preciso aparecer bem para meus fãs.
— A quem quer enganar, : a mim, ou a você?
— A ninguém, cara. Só preciso aparecer bem perante as câmeras, você sabe que vão tentar falar somente do ataque. Eu preciso estar bonito, ao menos.
— Se é o que diz…
— Vamos logo, Minhyun. Não quero atrasar ainda mais a agenda.
Minhyun preferiu não responder, assim como também fingiu não ver as bochechas de ganhando uma tonalidade mais rosada — ele sabia que havia sido pego no flagra e a vergonha não tinha como ser mascarada.
O dia foi corrido. mal conseguiu parar para comer e se hidratar como deveria. Pulou de uma entrevista para outra, enfrentou uma multidão no caminho para o ensaio com Maddie e, agora, jazia exausto no meio da sala de prática que outrora estava ocupada por dançarinos de diversas idades. Após uma conversa e uns dólares pagos, conseguiu permissão para treinar suas próprias coreografias e criar alguma coisa que pudesse lançar nos próximos dias, como uma preparação para o campeonato mundial de dança.
O suor já pingava de seu corpo e os cabelos grudavam pelo rosto quando parou definitivamente. Satisfeito com o resultado das coreografias daquele dia e com o relaxamento instantâneo que tomou seu corpo, sorriu para seu próprio reflexo. Estava mais exposto do que nunca: suado, cansado, vermelho e sem camisa, deixando o tronco definido exposto. Uma música pop viral ainda explodia nas caixas de som e ainda sentia a necessidade de dançar mais, mesmo que seus pés ardessem dentro do tênis esportivo. Ignorando todo o cansaço, voltou a se mover devagar e de olhos fechados, deixando a música tomar conta de seu corpo outra vez. Aproveitou-se do ritmo bem marcado da melodia e deixou que seus passos livres de poppin’ o dominasse como há tanto não fazia. E foi como se, magicamente, sua mente esvaziasse.
A dança tinha aquele efeito em sua vida. Não importava o quão nervoso, triste ou cansado estivesse, seu corpo sempre pediria por mais movimento e liberdade — e ele o dava sem pestanejar. A emoção o inundava sempre que dançava, era como se não tivesse outro lugar senão o palco ou uma simples sala espalhada. Desde que estivesse dançando, dando o que seu corpo e sua alma desejavam, nada mais importava. A música reverberava em seu interior, enchendo-o de sensações indescritíveis e fortes a ponto de sufocá-lo por não saber como colocá-las para fora. Era como se estivesse perdido em um universo paralelo onde tudo era colorido, cheio de adrenalina e movimentos e saltos — era como se viajasse dentro de si mesmo.
Quando dançava, esquecia de seus problemas, seus medos e tudo de ruim que sua mente pensava sobre si mesmo. Ele se tornava apenas um garoto, um dançarino inexperiente, alguém que estava desabafando e deixando com que vissem através de sua alma. Era como uma transformação — intensa, bonita, verdadeira e, sobretudo, revigorante.
A música chegou ao fim e estava ofegante e com os músculos trêmulos, ainda de olhos fechados e concentrado nas sensações que carregava junto ao cansaço. Quando finalmente abriu os olhos, estava parada atrás de si e ostentava um sorriso bonito, embora tímido. rapidamente se virou para a mulher de olhos um tanto arregalados, de repente sem jeito por ter sido observado e por estar tão exposto daquela forma. A sensação de vergonha foi inevitável, deixando-o desconcertado e mais vermelho do que antes.
— Eu não queria atrapalhá-lo — comentou, fechando a porta atrás de si. — Mas, seu tempo aqui acabou e já está um pouco tarde. Acho que você precisa descansar um pouco.
— Claro, sem problemas — respondeu de forma atrapalhada. — Passei muito dos limites, não é?
— Você sempre passa dos limites quando está dançando, — ela riu baixinho. — Mas confesso: sua demora me foi muito útil hoje. Senti saudades de te assistir ao vivo. Principalmente durante os ensaios livres, onde você costuma ser você mesmo e não a estrela da dança.
O sorriso que tomou o rosto de foi automático, ouvir aquilo de alguém tão especial quanto , por mais que o tempo tivesse passado, era delicioso — fazia-o tão bem quanto dançar propriamente.
— Fico feliz por ainda gostar de me assistir.
— É impossível não gostar — ela deu de ombros. — Enfim… Acho que devemos ir, não?
— Claro — respondeu e, quando estava prestes a vestir sua camisa, lembrou-se de uma coisa. — Espera. Nós não tivemos oportunidade de conversar desde a primeira vez que nos encontramos.
— Culpa dos nossos trabalhos, amigo.
— Sim, mas… Estamos tendo essa chance agora. Por que não voltar aos velhos tempos?
— Como assim, ?
— Dança comigo, .
— Sem chances, estou enferrujada e lesionada.
— Pare de ser mentirosa, a lesão te tirou do esporte mas não limitou tanto sua movimentação — riu baixinho e se aproximou da segurança. — Talvez a coreografia ainda te ajude nisso, bobinha.
— Não vou dançar com você.
— Pare de fazer jogo duro, , não temos mais quinze anos. Uma dança simples de três minutos. Tenho certeza que será o suficiente para te “desenferrujar” — fez aspas com os dedos — e me fazer conhecer um pouco mais da nova .
estava hesitante, porém, encarar os olhos profundos de fazia com que perdesse a noção das coisas. Seu raciocínio sempre tão lógico e racional estava travado, lento, fazendo-a cogitar deixar seu trabalho e suas prioridades de lado apenas para dançar com aquele homem, como se aquilo pudesse fazê-los voltar no tempo.
Assim que revirou os olhos e soltou um suspiro, soube que a havia ganhado. Um sorrisinho sacana brotou no canto de seus lábios e estendeu a mão para ela, que, após retirar o blazer do uniforme de segurança, pegou-a com cuidado e zelo. Com a mão livre, deu play em uma música aleatória no celular e riu, de forma satisfeita, quando Gold, da Kiara, começou a tocar. Era uma música viral da atualidade e que ele já havia performado um milhão de vezes — inclusive com a própria , na época do lançamento, assim que chegaram em Seul.
— Que ironia… — ela comentou baixinho, permitindo-se ser guiada por .
Começaram com passos básicos e fáceis de serem seguidos, queria respeitar o tempo de pausa que havia tido, além de não saber muito bem como a lesão dela havia afetado movimentos mais bruscos. No entanto, a mulher estava se mostrando tão boa aluna quanto antigamente — os passos eram executados de primeira e, com o passar dos segundos, chegavam à perfeição.
tinha uma noção de ritmo de dar inveja. Ela conseguia ser magnífica com poucos minutos de treino, mal conhecendo os passos que lhe eram mostrados. Quase como se as batidas fizessem parte de seu corpo naturalmente — ela exalava a música.
Por fim, quando perceberam, dançavam juntos com mais fervor e euforia, um seguindo o outro, entre risadas e escorregões. Os corpos giravam, se trombavam, ficavam lado a lado e ficavam juntos outra vez; tudo no ritmo da música, respeitando as pausas, as batidas. Pela primeira vez em anos, se sentiu livre — livre das dores nos joelhos, livre do medo de se machucar outra vez, livre do medo de olhar nos olhos de e perder-se nas íris castanhas. Estava livre; uma mulher livre.
A música terminou após uma última girada de , que acabou, automaticamente, puxando para seu corpo em uma espécie de abraço. Ambos tinham as respirações ofegantes e os corações acelerados — e não sabiam dizer se era fruto do esforço físico ou por simplesmente estarem tão perto de novo.
— Você ainda sabe dançar — sussurrou próximo ao rosto de , que sorria plena.
— É claro que ainda sei — ela respondeu, tão baixo quanto ele. — Aprendi com o melhor.
O silêncio que caiu sobre a sala deixou-os nervosos. Eram adultos e não mais adolescentes bobos. Sabiam que aquela dança havia sido um pretexto para passarem mais um tempo juntos, já que era a primeira vez em que ficavam sozinhos, de fato. Não trocaram nenhuma informação nova, não pensaram em falar sobre o passado; só queriam ficar próximos e aproveitar aquela chance que estavam tendo.
— Eu… — começou a falar, engolindo a seco e, finalmente, caindo em si em relação à proximidade que estavam. Porém, antes que pudesse terminar de falar, a porta da sala fora aberta e a voz de Minhyun tomou todo o ambiente.
— Espero que já tenha… — a frase morreu ali, logo que o manager viu a cena que corria em sua frente. foi a primeira a se afastar, dando um sorriso nervoso para o dançarino e pegando seu blazer jogado no chão rapidamente. Acenou discretamente para Minhyun e, sem falar nada, retirou-se da sala.
— O que estava acontecendo aqui? — Minhyun perguntou em um tom malicioso. , porém, não respondeu, apenas revirou os olhos e juntou suas próprias coisas. Ainda em silêncio, passou pelo manager e saiu. Estava trêmulo demais para tentar falar qualquer coisa que fosse; e, caso tentasse, começaria a vomitar sentimentos que, para ele, estavam mortos e enterrados no fundo de suas memórias. Para sua confusão, percebeu naquele momento, enquanto mirava os olhos bonitos de , que nunca a havia esquecido.
Ainda era apaixonado por .
Com o passar dos dias, e acabaram se reaproximando. Como quando eram adolescentes, saíam escondidos à noite, comiam besteiras e tomavam cerveja no quarto do dançarino. Algumas pessoas ao redor já desconfiavam da amizade entre os dois, mas ninguém ousava dizer nada — bastava um comentário atravessado ou mal intencionado para que lançasse um mísero olhar para a pessoa que fosse. Automaticamente, o comentário era interrompido ou abafado.
Minhyun, porém, apenas fingia não ver o que estava acontecendo — temia pelo fim daquela história, já que não demoraria mais do que dois dias para ter de partir para a Coreia novamente. Eles não falavam sobre o assunto, havia se fechado quase completamente depois de reencontrar aquela mulher. Mas era explícito em seu olhar que temia tanto quanto Minhyun — sabia que não queria ir embora e se afastar de novamente.
Já era noite quando terminou de vestir um conjunto de roupas caras e sofisticadas, que combinavam perfeitamente com seus cabelos bem penteados e jogados para trás — ele parecia um ator Hollywoodiano, mas estava apenas a caminho do campeonato mundial de dança.
foi o centro das atenções assim que chegou no local do campeonato. Sua equipe de segurança estava atenta e o seguia onde quer que fosse, e ele mal teve tempo de atender as pessoas na entrada como gostava de fazer em todos os eventos que ia.
Uma música agitada tocava bem alta no lugar, como se tudo aquilo fosse uma festa e não um campeonato — talvez tivessem a intenção de acalmar os competidores, mas, pelo que podia observar entre os jovens, não estava funcionando tão bem. Ele caminhou um pouco pelos arredores, a fim de conhecer o espaço — tudo com e outra meia dúzia de pessoas em seu encalço e se comunicando através de um ponto eletrônico super sofisticado.
— Eu não aguento mais ficar cercado por vocês — murmurou após alguns minutos, parando na mesa que era reservada para si.
estava parada logo atrás, bem próxima, e pôde escutá-lo. Uma risada fraca lhe escapou automaticamente, achando graça em todo o drama que o artista fazia.
— Não tenho culpa se o senhor — forçou a formalidade — é alguém tão conhecido e visado ao ponto de sofrer ameaças e ataques tão severos.
— Eu só queria alguns minutos sozinho para me concentrar e conhecer melhor o perfil dos competidores que foram destaque no ano passado — insistiu, revirando os olhos por trás das lentes dos óculos escuros. — Não é pedir demais, é?
— Para isso, você tem seu camarim. Posso acompanhá-lo até lá e dizer que você não quer ser incomodado — se aproximou um pouco mais para encará-lo.— Prometo não invadir sua privacidade e ficar na porta o tempo todo.
— Não é a mesma coisa, mas… Bom, que opção eu tenho, não é mesmo?
apenas sorriu e aguardou que ele se levantasse e começasse a andar em direção ao outro lado do salão. Não demoraram muito para chegar na área reservada para os camarins dos jurados, logo encontrando o de — o último no fim do corredor. Após entrar no camarim e averiguar todos os cantos do cômodo, finalmente pôde entrar e desfrutar de uma falsa paz.
— Qualquer coisa, só gritar — piscou um dos olhos. — Vou estar bem aqui.
— Obrigado — murmurou com um sorriso fraco, olhando-a com carinho e admiração. Antes que ela pudesse fechar a porta, ele voltou a falar: — Eu gostaria que pudesse ficar aqui dentro comigo. Gostaria que não estivesse trabalhando… Para mim.
o fitou com hesitação e curiosidade, queria perguntar o porquê de todas aquelas atitudes e falas estranhas — ele estava daquele jeito desde a noite em que dançaram juntos; e isso só a deixava cada vez mais confusa.
— Se eu não estivesse trabalhando para você, jamais teríamos nos reencontrado — respondeu, por fim. Ela não deu tempo para uma resposta, apenas saiu e fechou a porta do camarim com cuidado.
Dentro daquele lugar enorme e abafado, suspirou. Estava sozinho como tanto quisera — mas, ainda assim, sentia que faltava alguma coisa; e em seu interior sentia que essa coisa era em seus braços, como nos velhos tempos.
estava se sentindo estranha naquele dia. As coisas com e sua equipe eram sempre muito agitadas, mas sabia que não era isso que incomodava. Seu peito estava apertado e a garganta constantemente seca, um mal pressentimento fazia-se tão presente em seu ser que ela sequer conseguia se concentrar direito nas coisas ao redor. Ela sempre fora uma mulher intuitiva, mas, ao longo dos anos, aprendeu a pensar que isso eram apenas sua ansiedade e sua paranoia falando mais alto — afinal, havia sentido sensações como aquelas no dia de sua lesão. Desde então, nas sessões de terapia, falava sobre ter uma sensibilidade maior para situações futuras. Ainda assim, embora a terapeuta fosse deveras sensível e amorosa, dizendo que ela deveria focar nessas sensações mas não viver para elas, decidiu ignorar e abafar seu “sexto sentido” — talvez fosse melhor assim.
Desde que descobriu que ficara com sequelas do acidente, tentava pensar racionalmente para não cair em um limbo de decisões ruins e sem sentido. Mas, naquela noite, estava se sentindo tão sufocada que informou aos colegas onde estava e que ela iria beber uma água nos corredores próximos, para que todos ficassem ligados caso algo acontecesse. De onde estava, podia ver alguns rostos conhecidos rodeando o local, desde pessoas de sua equipe a Minhyun, o manager de . Sendo assim, não se preocupou em de fato tentar fazer com que a secura em sua garganta passasse.
Determinada, deu dois toques na porta do camarim e entrou quando obteve permissão.
— Eu vou tomar uma água e ir ao banheiro, mas já tem algumas pessoas da equipe por aqui — ela murmurou para o artista, atraindo sua atenção finalmente. — Não vou demorar, então, por favor, me espere. Não saia daqui sozinho, tudo bem?
— Eu não sou uma criança, — riu, deixando o celular de lado. — Você não precisa ficar tão preocupada em me deixar sozinho por alguns instantes.
— Eu sei, mas é meu trabalho — ela sorriu fraco, sem jeito. — Volto logo.
— Tudo bem.
Quando fechou a porta e caminhou em direção ao corredor ao lado, seu peito apertou ainda mais, a ponto de deixá-la com um bocado de falta de ar. Ainda assim, ignorou a sensação e foi até o banheiro mais próximo para, ao menos, lavar o rosto e sentir-se renovada para a maratona de trabalho.
O que ela sequer imaginava, porém, é que estava sendo observada por todo aquele tempo e que talvez devesse ouvir sua intuição.
não ficou mais do que cinco minutos fora. Quando retornou, agradeceu à equipe por ter ficado de olho no local e deu dois toques na porta do camarim novamente, para informar que já estava ali. , no entanto, não respondeu, e ela imaginou que ele ainda estivesse de fones enquanto assistia vídeos dos candidatos à competição.
Calmamente, olhou seu relógio de pulso e constatou que o horário de se apresentar na abertura do campeonato se aproximava, logo, bateu na porta novamente para apressá-lo. E outra vez, não obteve respostas.
— , já está na hora… — murmurou contra a porta, batendo na mesma outra vez. — Droga, eu digo para você não usar fones no último volume quando tem compromisso, cara… — ela seguiu falando ao mesmo tempo em que abria a porta. Para sua surpresa, o camarim estava vazio. Por um segundo, ficou confusa. Por outro, desesperou-se.
— ? — chamou alto, já invadindo o espaço e olhando ao redor.
Nada. não estava ali.
— Alerta de emergência! — gritou contra o comunicador após ver que o banheiro do camarim também estava vazio. — desapareceu. Repito: desapareceu!
sentiu o coração palpitar e ficou zonza por alguns segundos, perguntando-se como diabos aquilo acontecera se tinham pessoas nos corredores o tempo todo. Não era possível que alguém em sua equipe tinha sido idiota o suficiente de não ficar de olho na porta do artista mais importante daquela noite, e que, há alguns dias, tinha sofrido um ataque. Não era possível.
O pandemônio estava armado. A equipe de segurança estava aflita e andava por todo o local em desespero, mesmo que tentassem parecer plenos como . A notícia de que havia desaparecido de seu camarim já havia sido espalhada pelo campeonato e as pessoas pareciam apavoradas. Todas temiam o pior, assim como — que, além de tudo, sentia-se culpada e inútil; era seu trabalho protegê-lo.
— Eu preciso de acesso às câmeras — murmurou para um dos organizadores do evento, que se disponibilizara para ajudá-los no que fosse preciso. O organizador apenas assentiu e guiou-a até à sala de controle de câmeras.
Como se não bastasse todo o caos, ainda estava preocupada com Minhyun também — ele havia sumido ao mesmo tempo que e, agora, não tinha ninguém da agência do dançarino por ali, exceto os fotógrafos e maquiadores, que não poderiam ajudar em nada.
sentiu o pânico crescer em seu interior quando observou as imagens nas telas de computador espalhadas pela sala. Ou melhor: a falta de imagens. As câmeras pareciam ter sido desligadas por alguns minutos e religadas somente depois. Ela pôde ver os momentos em que abrira a porta antes de ir lavar o rosto; pôde ver seus companheiros atentos passando por ali; pôde ver o momento em que ela mesma retornava do banheiro e encontrava o camarim vazio. No entanto, os minutos no meio daquilo tudo, quando ela deixou o corredor, não existiam. Era um buraco, como um bug coletivo — ou uma armação muito bem feita para que as câmeras fossem desligadas estrategicamente no primeiro momento de descuido que ela e sua equipe tivessem.
— Isso não pode estar acontecendo… — murmurou. — Infelizmente, preciso que o senhor cancele o evento e acione a polícia. Parece que temos um caso de sequestro premeditado aqui.
O organizador arfou de susto e apenas assentiu outra vez; parecia que ele tinha perdido a voz. Em apenas segundos, ainda ali na sala de câmeras, pôde ver as pessoas apreensivas e o burburinho que acontecia ao redor do salão. Diante daquela cena de horror, ela não sabia o que fazer ou como agir. Já tivera que ficar em ação em diversas situações de perigo e de susto, mas, nunca em toda sua carreira tivera de lidar com um sequestro. Principalmente, o sequestro de alguém que era muito além de um mísero cliente que ela deveria proteger.
Com lágrimas nos olhos e a boca entreaberta, percebeu que o amor de sua vida estava correndo perigo e nas mãos de pessoas que queriam matá-lo — e ela, bem, estava de mãos atadas.
abriu os olhos de supetão, assustado. Sua cabeça latejava e sua visão não conseguia focar. O lugar onde estava era úmido, abafado e um tanto quanto escuro. Ele não entendia o que estava acontecendo ali. Suas mãos e seus pés estavam amarrados com força e seu corpo estava pendurado em uma espécie de anzol, onde ele ficava pendurado e girando no alto. Tentou falar, mas sua garganta doeu. Por fim, então, apenas olhou para o breu à sua frente na esperança de enxergar qualquer coisa que lhe fosse familiar.
— A Bela Adormecida acordou — uma voz rouca e levemente conhecida ecoou pelo local. — Como se sente?
— Onde eu estou? — perguntou baixo, num fio de voz quase inaudível. — Quem é você e por que está fazendo isso comigo?
Um suspiro escapou alto e ecoou.
— Não aguento mais ter de lidar com seu cinismo, — o homem respondeu. Um clique fora ouvido e, imediatamente, uma luz fraca acendeu sobre o corpo de ambos. Bem embaixo de , à sua frente, estava alguém que ele já conhecia. A surpresa lhe fora instantânea, assim como a repulsa, o medo e a sensação de mãos atadas. Não conseguia entender ou sequer pensar em um motivo para estar passando por tudo aquilo, tampouco algo que fizesse sentido para que aquele cara estivesse aprontando consigo.
— O que…
— Não me diga que está surpreso com minha revelação — o homem deu mais um passo a frente e tocou o calcanhar de com cautela. — Você é mesmo um idiota.
— Por quê? — conseguiu perguntar, petrificado demais para tentar se mover e afastar-se do toque que, agora, repudiava.
— Por que o que, exatamente?
— Por que isso tudo? — o fitou, embasbacado. — O que fiz para você se não ser seu amigo?
— Meu amigo? — o homem riu. — Eu fui seu empregado por todos esses anos, . Tive de organizar suas agendas, me fazer de bom moço, ouvir suas lamúrias, fingir que não conhecia sua história e toda a podridão que o cerca. Tive que fingir ser um homem bom e sem sede de vingança. Tive que deixar de ser eu mesmo para que você me aceitasse e eu tivesse a oportunidade fazer o que estou fazendo agora. E adivinha só? — o homem se aproximou ainda mais, puxando uma alavanca que fez com que o corpo de fosse em direção ao chão em um baque alto e doloroso. — Ninguém vai saber que fui eu. Afinal, quem desconfiaria do manager barra melhor amigo tão ingênuo e prestativo? Hein, quem desconfiaria? Quem desconfiaria do pobre Minhyun?
— Eu não entendo…
— É claro que não entende! — Minhyun gritou alto, fazendo com que um fio de saliva escapasse de sua boca. — Você nunca entende nada! Nunca vê nada! Nunca sabe de nada! — gritou outra vez e, em um reflexo, chutou as costelas de , fazendo-o se contorcer de dor sob seus pés. — Você é um idiota que nunca entende nada, . Mas, quer saber? Eu não me surpreendo.
— Minhyun… Eu fui seu amigo todos esses anos…
— Blá, blá, blá — Minhyun revirou os olhos e abaixou-se em direção a em seguida, agarrando-o pelos cabelos com força. — Olhe nos meus olhos e diga que não se lembra de mim, .
— Eu…
— Tudo bem, talvez você estivesse chapado demais para lembrar de mim — Minhyun riu em escárnio. — Mas, com toda certeza, você lembra do meu irmão. O que o nome Min Hanbin te lembra?
arregalou os olhos imediatamente e arfou de susto. A chuva de memórias conturbadas lhe atingiu no mesmo instante, lembrando-o de todos os seus erros da época de adolescência, seus deslizes, suas sujeiras, seus medos; tudo se fez presente outra vez.
— Não… — ele murmurou. — Você…
— Sim, sou irmão mais velho de Hanbin — Minhyun aproximou seu rosto de . — Você matou o meu irmão e, logo em seguida, tornou-se o queridinho da Coreia. O maior sucesso mundial. O nome da dança sul-coreana.
— Eu não matei o seu irmão — sussurrou com lágrimas tomando seus olhos. — Eu não…
— Ah, não matou? — Minhyun apertou mais os dedos entre os fios de . — Está querendo me dizer que você apenas fornecia as drogas que ele usava, mas isso não quer dizer que você o matou?
— Nós usávamos juntos! — rebateu alto. — Eu não fornecia nada. Eu não matei o seu irmão. Ele se matou sozinho.
— Vocês eram melhores amigos! — Minhyun gritou com ódio, acertando um tapa forte no rosto de . — Você fornecia as drogas para ele, minha mãe me contou tudo. Naquela noite, você deixou que ele usasse mais do que aguentava, quase a ponto de causá-lo uma overdose. Que espécie de amigo era você?
— Eu estava igualmente arruinado — murmurou, deixando as lágrimas rolarem pelo rosto. — Éramos jovens demais e estávamos revoltados. As coisas não funcionavam, eu não conseguia deixar de ser um mísero trainee e a vida passava diante dos meus olhos todos os dias. Seu irmão era tão fodido quanto eu. A diferença entre nós é que, depois daquela noite e da quase overdose, me convenceu a me cuidar. Já seu irmão…
— Já o meu irmão, o que, ? — Minhyun o interrompeu. — Meu irmão não teve uma musa salvadora? Ou só foi negligenciado por vocês, dois egoístas?
— Nós éramos viciados, Minhyun — suspirou e engoliu o soluço. — Não existe nada além de egoísmo quando se está nessa situação. Seu irmão não aguentou lidar com as perdas que o uso das drogas nos trouxe. Não soube lidar com a expulsão da empresa em que ele estava. Ao contrário de mim, ele preferiu apertar o gatilho a se reerguer e lutar. Ele desistiu. Não me culpe por ter aceitado a ajuda de e ter escolhido ficar limpo para seguir meus sonhos.
— Ele só tinha dezessete anos — Minhyun murmurou e parecia a ponto de chorar. — Tudo o que ele precisava era de ajuda. Mas você e todos os outros se recusaram a falar sobre isso para nós, para a família dele. Deixaram que ele fosse expulso sozinho. Não falaram que tinham drogas também. Vocês contribuíram para que ele caísse em depressão tão cedo. Vocês, querendo ou não, apertaram o gatilho também.
— Eu me culpo por isso todos os dias! — gritou alto, sentindo todo o corpo tremer de dor e adrenalina. — Eu sei que não foi minha culpa, sei que não o matei, mas, ainda assim, me culpo. Ele era meu melhor amigo e eu o amava, Minhyun. Mas o que eu poderia fazer? Eu não tinha condições de nada. No dia que ele foi pego pelos superiores da empresa, eu não tinha nada e nem estava com ele. Eu já estava na reabilitação. Mas, saiba de uma coisa: — fez questão de erguer-se como podia — eu nunca quis deixar o Hanbin sozinho. Eu tentei salvá-lo quando decidi que precisava me livrar daquele fardo também; ele recusou. E não se pode ajudar alguém que não quer ser ajudado. Eu fiz o meu melhor. Eu lutei por ele, lutei por mim, lutei por todos. Mas, como pode ver, eu falhei. E me arrependo disso todos os dias, porque sei que eu poderia ter tentado mais.
— Não estou nem aí para seus remorsos e suas desculpas fajutas — Minhyun sussurrou e, em um movimento inesperado, sacou um revólver da barra da calça e mirou-o no rosto de . — Eu vou matar você, , e só assim terei paz.
Naquele momento, pôde ver toda sua vida passar diante de seus olhos. Ele nunca havia sido um cara religioso ou de muita fé, mas, ali, com o revólver colado em sua testa, pôs-se a rezar. Pediu perdão por todos os seus erros, pediu para que tivesse somente mais uma chance de mostrar-se um ser humano digno. Pediu para que as pessoas pudessem vê-lo pelas coisas boas e não por seus deslizes imaturos do passado; pediu perdão por não ter lutado pelo amigo como deveria. Pediu e clamou por ajuda, por mais impossível que parecesse naquele momento; ele queria ter a chance de se reerguer, de mostrar-se como de fato era, de fazer o bem, de abrir sua própria empresa e jamais dar condições indignas para seus jovens, como para ele haviam sido dadas um dia. Seu vício não veio de uma hora para outra, para brincar e aproveitar; fora para manter-se acordado, vivo, forte e bom o suficiente para ser escolhido, para ignorar os abusos psicológicos dos CEOs da empresa que ele e Hanbin faziam parte. Seu vício veio de uma série de coisas ruins — assim como para seu amigo, que havia tido um período mais sombrio e difícil que o seu.
— Você deveria matar o CEO — sussurrou. — Ele foi o principal fator para seu irmão ter o destino que teve. Não me isento da culpa de tê-lo deixado sem maiores explicações quando fui me tratar, mas, o senhor … — permitiu-se chorar outra vez. — Aquele homem… Os traumas que ele causou no seu irmão foram irreversíveis, Minhyun. Ele é o verdadeiro monstro.
— O que está dizendo? — Minhyun sussurrou, forçando mais o revólver contra a testa de .
— Seu irmão foi apenas mais um número na estatística de abusos dentro de empresas de entretenimento — cuspiu a informação. — Nem todo mundo consegue ser vítima de algo tão horrível e viver. A expulsão dele foi apenas para abafar o fato de que ele havia aberto a boca para as pessoas erradas.
— Como sabe disso?
— Tenho minhas fontes — engoliu a seco. — Mas, se for te aliviar apertar esse gatilho contra mim, tudo bem. Aceito meu destino, pois sei que errei muito nessa vida.
Minhyun, agora, tinha as mãos trêmulas. Ele parecia em uma briga interna entre acreditar no que dizia ou apertar o gatilho de uma vez por todas — já havia esperado demais para aquele momento. Seu plano havia sido perfeito e tinha tudo para obter êxito — se não fosse aquela informação tão surpreendente e séria demais para ser falsa.
— Eu vou te matar — Minhyun repetiu, engolindo a seco. — Eu vou te matar! — gritou.
Naquele momento, fechou os olhos. Esperou que a escuridão infinita o levasse de uma vez por todas, esperou pela dor da transição entre vida e morte, esperou por tudo, menos o que lhe aconteceu a seguir. Um grito escapou de uma terceira pessoa ali dentro, e, de repente, inúmeras outras invadiram o lugar, fazendo com que Minhyun o soltasse e fosse levado ao chão por outro alguém — não conseguia enxergar nada, estava tonto e com tanta adrenalina correndo nas veias que sequer conseguiu fazer algo além de deixar-se ser puxado e arrastado para longe daquele homem armado.
As cenas passavam como vultos diante dos olhos do artista. Pôde sentir quando seus braços e pernas foram soltos, mas, não conseguia focar em nada. As lágrimas ainda rolavam em cascata e um alívio incomum lhe tomava o corpo — e não era só por estar vivo. Havia finalmente falado o que acontecera para Hanbin cometer suicídio. Carregou o segredo consigo todos aqueles anos, desde que descobrira, porque não tinha como provar e a pessoa que o confidenciara a informação não tinha coragem de denunciar o CEO em questão.
Quando, finalmente, conseguiu enxergar o que estava acontecendo ao redor, pôde ver Minhyun jogado no chão enquanto era algemado por policiais e, ao seu lado, segurando sua mão de maneira firme, estava . Ele não conseguiu conter o sorriso entre as lágrimas que ainda lhe escorriam. estava ali, logo, ele poderia ficar em paz — não sentia mais raiva nem medo.
— … — tentou falar, mas fora cortado pela boca bonita de grudando contra a sua em um beijo estupefato e intenso.
— Nunca mais faça isso comigo — sussurrou contra os lábios do artista. — Nunca mais. Eu pensei que fosse te perder de novo.
— Você nunca me perdeu, , nem nunca irá — sussurrou de volta, apertando as mãos calejadas da mulher contra as suas. — Obrigado por sempre me salvar.
— Você é um idiota — resmungou. — Mas eu te amo mesmo assim. Nunca te esqueci, , eu sempre soube que você era o amor da minha vida. Mesmo que nossos caminhos tenham mais desencontros do que encontros.
— Eu também nunca te esqueci — respondeu, finalmente aliviado dos pés à cabeça; com o trauma ele lidaria depois, na terapia.
— Céus, que péssimo lugar e momento para declarações e reencontros… — sussurrou, sem jeito. riu um pouquinho e puxou-a para si outra vez, colando suas bocas.
— O importante é que ainda estamos juntos — respondeu após se afastarem outra vez. — Como souberam que estávamos aqui?
— Não faço ideia, isso foi trabalho da polícia — deu de ombros e se levantou, ajudando-o em seguida.
apenas assentiu e seguiu até a ambulância do lado de fora do galpão, com em seu encalço. Sua vida ainda passava diante de seus olhos, e seus pedidos de perdão e de uma segunda chance ainda ecoavam em sua cabeça. Mas, no fundo, ele sabia que nada daquilo importava. Ele já havia tido sua redenção, já havia feito o que podia. Agora, seu foco era recuperar-se para lutar. Faria com que as vítimas do senhor viessem a público e colocassem-no na cadeia. Não para agradecer ou sentir-se bem após uma situação tão traumática quanto aquela que vivera mas, sim, porque precisava ajudar aquelas pessoas — e o silêncio não era uma forma de ajudar ninguém.
Naquela noite, percebeu que ainda sentia raiva e que ainda precisava de vingança — por Hanbin, que não tivera a chance e tampouco a força, estando só, para lutar.
— — chamou, logo que acabou de ser examinado. — Volte para a Coreia comigo.
— Hã? — a mulher o encarou, surpresa. — , minha vida toda está aqui…
— Não precisa ser para sempre, só alguns dias — deu de ombros. — Nós temos mais um cara mau para combater.
— Nós?
— Sim. Por Hanbin.
— Min Hanbin? — perguntou em um fio de voz e apenas assentiu. — O quê…?
— Minhyun é irmão mais velho dele — encarou o céu escuro e a chuva fina que começava a cair. — E eu finalmente falei o que aconteceu com ele na época. Ele não se suicidou porque foi expulso da empresa, nem pelas drogas. Mas, sim, porque não quiseram ouvi-lo, ignoraram tudo o que ele tinha para contar sobre o CEO e seus abusos.
— Fazer justiça por ele não vai nos trazer paz ou tirar das nossas lembranças o seu momento de reabilitação, .
— E eu não quero isso. Quero ajudar as pessoas que ainda sofrem o que Hanbin sofreu. Quero ajudá-las a fazer justiça agora que tenho condições. O que me diz?
— Então, deixa eu ver se entendi — encarou . — Só preciso ir para Seul por uns dias e te ajudar a botar homens maus na cadeia?
— Sim. O que me diz?
ficou em silêncio por alguns segundos, mas o sorriso em sua boca já denunciava sua resposta. sorriu junto, porém, daquela vez, não disse nada.
— É óbvio que sim — finalmente respondeu, batendo com o ombro de leve no de . — E sobre nós, o que faremos?
— O que quer fazer?
— Quero namorar você de novo.
— Bom, então estamos namorando.
riu de leve e revirou os olhos; eles eram tão bobos.
— Então estamos namorando — repetiu.
Fim!
Nota da autora: Espero que tenham gostado! Deixei com alguns assuntos em aberto porque tenho muita vontade de desenvolver esse plot melhor e além de um único ficstape. Quem sabe não vem continuações por aí, né? hahaha Não deixem de comentar, isso é muito importante! <3
Nota da Beta: SOCORROOOOOO, o que foi esse final??? Sinceramente, eu esperava tudo, menos isso, cruzes! Meu corpo chegou a se arrepiar, excelente plot-twist, nossa! Tão bem construído! O enredo da história prende nossa atenção, impossível não se envolver.
E digo mais: o que é essa simplicidade da Georgia e do Hoseok? Eu quero essa habilidade de descomplicar desses dois HAHAHA! Ansiosa por uma continuação, quero saber como foi o retorno a Seul! :)
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Nota da Beta: SOCORROOOOOO, o que foi esse final??? Sinceramente, eu esperava tudo, menos isso, cruzes! Meu corpo chegou a se arrepiar, excelente plot-twist, nossa! Tão bem construído! O enredo da história prende nossa atenção, impossível não se envolver.
E digo mais: o que é essa simplicidade da Georgia e do Hoseok? Eu quero essa habilidade de descomplicar desses dois HAHAHA! Ansiosa por uma continuação, quero saber como foi o retorno a Seul! :)
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