Capítulo Único
estava usando todas as técnicas possíveis de respiração para canalizar sua vontade de gritar e chutar a lixeira. Uma mulher que ela lembrava estar no mesmo voo passou por ela, olhando-a como se houvesse algum problema.
Óbvio que havia um problema e o percebeu em meio segundo assim que sua mala passou pela esteira à sua frente. Onde estava o cadeado reforçado? Um zíper estava desconectado do outro, sem o objeto que deveria prendê-los. Respirando fundo e duvidando da sua capacidade de contar até cem antes de surtar completamente, a mulher abriu a mala rapidamente para checar se ela parecia revirada, em algum sinal de furto. Não encontrou muita coisa que a ajudasse a decidir se havia sido roubada ou prejudicada pela força e descaso daqueles que simplesmente arremessam as malas como se estivessem treinando para o lançamento de peso da Seleção Olímpica.
Algo dentro de si já parecia sinalizar desde cedo que aquele dia não seria um dos melhores e nem dos mais fáceis. Mas ela simplesmente ignorou essa sensação. A questão era que ela nunca fora uma pessoa de intuições, buscando sempre se prender muito mais ao racional do que a qualquer mísero esboço de coisas que não poderiam ser previamente planejadas ou minuciosamente articuladas e argumentadas com base em princípios lógicos e incontestáveis. era a mulher mais prática e sistemática que ela mesma conhecia e não tinha intenção alguma de renunciar ao próprio título.
Puxou um elástico de cabelo que sempre levava preso ao pulso e o utilizou para fazer um rabo rápido, antes de se abaixar para lavar o rosto. Precisava se recompor e sair dali ou passaria longas horas se martirizando sobre o que poderia ter feito de diferente - mesmo sabendo que não havia nada - em um banheiro feminino do aeroporto.
Por sorte, o táxi chegou rápido o suficiente para que ela pudesse se sentar e relaxar - por mais que tivesse acabado de xingar mentalmente todo o tempo passado sentada na poltrona apertada do avião. Eram tipos de desconforto diferentes no final das contas. Aproveitou o tempo de trajeto até a gravadora para analisar seu Google Agenda, recapitulando todas as reuniões e compromissos do dia. Era apenas um gesto de precaução, considerando-se que ela já tinha todo o seu planejamento claro e decorado de trás para frente e de frente para trás desde o final de semana anterior.
Xingou-se mentalmente ao sentir o aparelho vibrando em sua mão. Já havia se esquecido do som do próprio toque há tempos e se martirizava sempre pelos poucos momentos em que ainda permitia que o modo vibratório ficasse ligado.
— Fala - respondeu simplesmente.
— Cadê você? Nós estamos esperando.
revirou os olhos para o tom de voz brincalhão que acompanhava aquelas palavras de falsa cobrança.
— Talvez o senhor tenha esquecido que acabei de voltar de uma viagem para fechar os acordos e contratos para o seu palco e a sua iluminação.
A risada leve e abafada a fez respirar fundo, procurando não sair do sério.
— Só estou com saudades, você sabe disso.
— Tchau, - respondeu simplesmente, desligando sem esperar uma resposta.
Respirou fundo, recompondo-se. Queria agir como se não sentisse as pernas amolecerem sempre que ouvia aquela voz levemente rouca dizendo coisas como aquela. simplesmente não tinha noção alguma de como deveria se comportar, principalmente perto de outros membros da equipe. Ou melhor, noção ele tinha de sobra; só nunca parecia disposto a usá-la. E, droga, ele sabia bem como mexia com ela.
Deixou um pouco de dinheiro excedente quanto ao valor da viagem, grata pela agilidade do motorista e entrou rapidamente no estúdio de gravação no qual seria conduzida a entrevista sobre o novo álbum de . O disco havia sido lançado há pouco mais de um mês e ela já estava tonta só de começar a ir atrás dos contratos sobre os preparativos da turnê. Tinha certeza de que acabaria aquela “era” com pelo menos o dobro de cabelos brancos e uns 200% a mais do que poderia ser considerado normal para a sua idade.
— Bem vinda de volta - cumprimentou Theo, um dos principais representantes da assessoria. — Como foi a viagem?
— Cansativa, mas produtiva - respondeu, prontamente. — Estou com os mapas e as projeções 3D das iluminações para decidirmos a melhor configuração e já estabeleci o formato de palco com os pontos de elevação.
— Perfeito! E é por isso que eu adoro trabalhar com você. Estamos quase uma semana a frente do cronograma. Parabéns!
— Obrigada - agradeceu, com sinceridade. sempre dera nada menos do que 100% de si ao trabalho, almejando uma perfeição que, por vezes, acabava sendo inalcançável e estressante pela cobrança excessiva. Ao menos, esse tipo de reconhecimento era exatamente o tipo de coisa que a fazia aceitar que estava, sim, dando seu melhor e ele era não apenas suficiente, como realmente bom. Ela merecia ter dois minutos para respirar fundo, esquecer o peso dos ombros e simplesmente ter um pouco de orgulho de si mesma.
— E você sabe como eu detesto fazer isso, mas eu tenho uma reunião com um outro cliente agora e eu sei como você e o se dão bem juntos. - tentou fingir não engolir em seco com aquela frase. — Então, será que você poderia ficar aqui com ele e repassar as últimas orientações?
— Claro! Posso sim - respondeu, tentando sorrir de uma forma que não demonstrasse o recente frio que havia percorrido a sua espinha só de cogitar que aquela fala pudesse ter qualquer tipo de sentido secundário ou adjacente.
Theo deu um aceno rápido em agradecimento e sumiu de seu campo visual, permitindo que ela finalmente exalasse todo o ar que havia prendido nos pulmões, usando a tática da vida selvagem de não fazer movimentos bruscos a fim de não ser percebido pelo predador. No caso, a presa com certeza seria o seu emprego e todo o quase prestígio que ela estava conseguindo conquistar dentro da empresa.
— O que o Theo falou?
A voz atrás de si fez com que ela pulasse de susto, destruindo qualquer possibilidade de que aquela tentativa de se tranquilizar funcionasse.
— Você parece uma assombração - ela reclamou. — Ele pediu para que eu ficasse aqui enquanto ele ia para uma reunião com outro cliente. Disse que nós trabalhamos bem juntos.
— Ele não faz ideia do que mais nós fazemos bem juntos.
sentiu o sangue ferver nas bochechas, deixando-a perto demais de ter um colapso nervoso.Sabia que corria eletricidade por cada célula do seu corpo, mas aquilo era um curto-circuito.
— Por favor, entra no seu camarim.
a obedeceu, rindo pelo caminho. fechou a porta atrás deles.
— Seu cabelo está uma bagunça - ela apontou.
— Você disse que gostava dele assim - deu de ombros, soltando o próprio corpo contra o sofá de couro preto gasto.
— Não é sobre o que eu gosto. Você vai ao ar em pouco mais de cinco minutos e está simplesmente agindo como se não desse a mínima.
— , por favor, você precisa relaxar. Meu cabelo não vai comprometer a entrevista.
— Você sabe que tudo tem que sair perfeitamente dentro do esperado. O Theo confiou em mim para isso. Você é o astro com uma multidão de fãs, eu preciso realmente desse emprego.
— Você está sendo super controladora de novo. E, tudo bem, eu acho incrivelmente atraente. - Ele deu um sorriso de canto, fazendo a mulher revirar os olhos. — Mas eu prometo que não vou fazer absolutamente nada que te queime para o Theo. Vai precisar confiar um pouco em mim.
— Esse é o problema. É difícil acreditar em você enquanto não tira esse sorriso sacana do rosto, como se não se importasse com nada.
Atenção, as pessoas não precisam ser
Iguais às outras
Aceite ou não
Mas você é única no mundo assim
Uns são mais coordenados
Determinados, obcecados
E outros atrás vão levando a vida
E quem ousa dizer que é pior
Há quem construa os aviões
Escreva as revistas
Outros dedilham violões
— Dois minutos! - Uma voz abafada gritou do outro lado da porta, assinalando que precisava se dirigir logo ao palco.
O cantor se levantou, aproximando-se da porta. Com a mão já na maçaneta, virou o rosto, roubando um beijo rápido de .
— Eu estava mesmo com saudades - admitiu, enquanto se divertia com a reação dela. — Bom, já pode me desejar boa sorte. - E saiu, deixando-a sozinha com a sensação de que seu estômago tinha torcido e aquilo só seria consertado com cirurgia.
Quando Annelise anunciou a entrada de , várias jovens gritaram na plateia. Os aplausos eram altos para receber o homem que acenava, parecendo despojado e estranhamente encantador naquela jaqueta preta sobre a blusa mais simples do mundo, do tipo mais entediante de cinza. Era ridículo como algo tão simples continuava caindo tão bem nele. se posicionou em uma das coxias, de onde podia vê-lo perfeitamente, preparada para olhá-lo com ódio mortal se ele fizesse ou dissesse absolutamente qualquer coisa que pudesse sair dos limites delimitados pelo script de Theo.
— ! Quanto tempo! - Annelise comentou, de forma simpática.
— É verdade. Eu só venho aqui quando lanço meus álbuns, já percebeu? Acho que a nossa relação está comprometida.
— Por mim, você pode vir quando quiser. E acho que eles concordam, não é? - A apresentadora apontou para a plateia, que respondeu com novos gritos e exclamações.
tinha feito sucesso desde o seu primeiro disco e esse era um fato completamente irrefutável. Mas seu público, que provavelmente havia sido iniciado pelo interesse principalmente feminino em um rosto bonito e um corpo invejável, havia se expandido para um grupo grande e fiel de fãs, além de várias outras pessoas que simplesmente apreciavam verdadeiramente as suas músicas, mesmo que não estivessem prestes a chorar de emoção a cada vez que ouvissem falar em seu nome ou gritar assim que ele colocasse um violão sobre o colo.
— Mas me conta mais sobre o seu novo álbum - ela pediu.
— Eu acho que esse foi o meu disco mais maduro até agora, o que faz sentido considerando que eu estou mais velho. Mas não é só algo de idade, sabe? Ainda temos sons divertidos, alguns refrões que lembram o álbum anterior, mas as composições em si estão um pouco mais sérias. Deram mais trabalho, então, por favor, gostem delas. Eu imploro.
— Eu já ouvi algumas e simplesmente amei. Vou me arriscar a dizer que já é o meu álbum favorito seu e provavelmente o melhor do ano. Já estou esperando o recorde de indicações nas premiações. Eu não me surpreenderia se rolasse um Grammy, inclusive.
— Eu me surpreenderia, sim. - riu. — Mas quem sabe?
A plateia riu levemente, fazendo com que o cantor sorrisse também. Obviamente aquele era seu sonho e objetivo, mas sabia como a mídia automaticamente escreveria várias manchetes tendenciosas que o fizessem parecer arrogante e excessivamente confiante se ele dissesse que esperava qualquer reconhecimento pelo trabalho. E, com certeza, eles voltariam para esfregar tudo em sua cara quando ele não levasse o prêmio para casa.
— E todo esse amadurecimento não pode ser só por conta da idade, não é? Conta para a gente, ; de onde vem a sua inspiração?
passou as unhas pelo rosto, coçando um pouco a pele cuja barba estava por fazer.
— Ah, é difícil limitar esse tipo de coisa. Às vezes é exatamente sobre o que eu estou sentindo no momento em que escrevo. Às vezes é sobre algo que vivi anos atrás. Já escrevi sobre histórias que ouvi e nem eram minhas. Já inventei as minhas próprias histórias porque pensei que daria uma boa canção. Enfim, é sempre uma grande miscelânea de coisas que compõem todo o processo criativo da equipe.
Annelise meneou a cabeça, concordando. Ela sustentava um olhar profundo em sua direção, como se prestasse a mais verdadeira atenção em cada vírgula que ele pudesse ter a intenção de incluir em sua fala. admirava a prática que aquilo demandava. Demonstrar interesse integral e fazer com que o ato parecesse genuíno em todas as ocasiões estava na lista das coisas que ela sabia jamais ser capaz de fazer.
— E eu suponho que parte dessa inspiração mais atual com certeza tem a ver com seus interesses amorosos, não? Já tem alguém ocupando esse coração? Porque essa foi uma sensação muito intensa que eu tive a ouvir as músicas novas. Principalmente a sétima faixa.
sorriu, incapaz de disfarçar qualquer coisa. podia sentir o coração acelerando e as palmas de sua mão suando frio, tornando-se úmidas e um tanto pegajosas contra o iPad que ela tentava segurar, anotando todos os detalhes que ainda teriam que discutir e decidir sobre a turnê.
Não sabia se aquela sensação esquisita era por medo de que ele dissesse qualquer coisa que insinuasse mesmo que minimamente a relação que existia entre eles ou pelo simples fato de sempre se sentir estranhamente nervosa quando se lembrava da sétima faixa. Provavelmente era um pouco das duas coisas.
A música em questão falava sobre um relacionamento do qual ninguém poderia saber. Algo intenso e escondido, mantido por pessoas completamente diferentes, mas que pareciam ter se conectado brutalmente como os polos opostos de um ímã. tinha sentido um turbilhão de emoções quando ouvira a canção sendo gravada e ainda sentia toda aquela confusão e as borboletas irritantes quando qualquer ser acabava lembrando-a da existência dela. Não que fosse uma meta difícil; era quase impossível se esquecer da música que fora escrita para você com coisa demais escancarada.
— É a minha faixa favorita do álbum, sabia? - perguntou, pousando o tornozelo direito sobre o joelho esquerdo e se apoiando contra os braços da poltrona.
— Também é a minha música favorita - Annelise admitiu. — Mas não pense que está escapando das minhas perguntas.
riu e sentiu a própria saliva descer dolorida pela garganta. Com certeza não precisaria passar por tudo aquilo se ele não sorrisse o tempo todo daquela forma desgraçada.
— Bom, você me pegou, Annelise - ele disse simplesmente, daquele jeito charmoso que só ele tinha de falar qualquer coisa, por mais séria ou tosca que fosse. — Existe alguém e talvez ela tenha uma parcela de culpa nesse amadurecimento que eu tanto bato no peito para defender. Alguém tinha que colocar juízo nessa cabeça, não é? Ou pelo menos tentar.
levantou o iPad, tentando cobrir o rosto de alguma forma com o dispositivo. Suas bochechas estavam em chamas.
— Alguma chance de sabermos mais dela?
— Nenhuma - respondeu.
— Droga. - Annelise reclamou, rindo. — Bom, seja lá quem for, temos certeza de que é uma garota muito sortuda. E pelo seu sorriso, provavelmente também teve bastante sorte.
O rapaz lançou um olhar curto, mas direto na direção de , antes de sorrir timidamente e concordar com a apresentadora.
— Agora, acho que falo por todos aqui presentes que adoraríamos ouvir o seu novo single.
— É para já - assentiu e se levantou, dirigindo-se até a banda e tomando o microfone em mãos.
Com os primeiros acordes, mal conseguiu perceber a notificação em seu celular. Equilibrando-o juntamente com o iPad de uma forma um tanto desajeitada e perigosa, ela abriu suas mensagens, sabendo que Theo já tinha conhecimento sobre absolutamente tudo o que havia acontecido. Ele era assustadoramente onipresente, mesmo que tivesse outras mil tarefas ocorrendo simultaneamente.
“Eu não sabia que o estava vendo alguém por mais de uma noite! Você acredita nisso?”
sentiu uma vontade absurda de colocar para fora toda a pouca comida que havia conseguido ingerir durante o voo.
“Pois é! Também me surpreendi!”
A ânsia aumentava em cem por cento cada vez que ela involuntariamente lia a mentira descarada que havia acabado de digitar.
“Bem, espero que ele seja feliz e que tome algum juízo. E, no fim das contas, isso movimentou as redes sociais absurdamente. Vitória dupla!”
A mulher concordou rapidamente e bloqueou o celular, com medo que sua falta de sinceridade a mordesse pela tela. Ao menos, a declaração não havia surtido efeitos negativos, então talvez ela ainda conseguisse dormir à noite.
♪♪♪
ajeitou os óculos de grau sobre o nariz, um tanto irritada pelo fato de que ele continuava escorregando depois de ela tê-lo derrubado durante a viagem. Teria que encaixar a visita à ótica para reajustar a armação em sua agenda. Só não fazia ideia de quando. Seus dias dali para frente seriam uma loucura, mas não tinha como simplesmente seguir com aquela porcaria deslizando pelo rosto toda vez que ela abaixava a cabeça para olhar a tela do computador e organizar as suas planilhas. Sua frustração acabou sendo externalizada quando ela bufou com força.
— O que aconteceu?
passou os braços pelo pescoço dela, deixando seus rostos próximos. soprou uma quase risada pelo toque levemente áspero da barba dele contra sua bochecha.
— Preciso levar meus óculos para arrumar e não tem nenhum espaço na agenda para isso.
— Deixa eu ver?
se sentou ao seu lado, puxando o notebook para o próprio colo e analisando todos aqueles pequenos retângulos coloridos e minuciosamente colocados. Tantas letras pequenas e linhas o deixavam prestes a ter uma baita dor de cabeça.
— Essa prova de roupas - ele apontou na tela. — Eu posso ir sozinho. Dá tempo de você ir nesse intervalo?
— Daria, mas eu tenho que te acompanhar - ela disse, pegando o notebook de volta. — É o meu emprego, lembra?
— Nós já decidimos tudo - ele tornou a tentar convencê-la. — Eu literalmente só vou colocar umas peças, atualizar umas medidas e acabou. Acho que eu já sou grandinho o suficiente para não precisar que você me dê a mãozinha e fique por perto caso eu decida colocar fogo no galpão.
— Você é ridículo.
— Eu só estou tentando ajudar você. Pode deixar que eu mesmo falo com o Theo.
— Eu não posso. Esse tipo de coisa é literalmente a minha função.
— E você só vai faltar dessa vez. , não é o fim do mundo e você não é uma profissional pior por ter uma necessidade. Tem como você relaxar um pouco?
— Depois da entrevista de hoje? Fica um pouco difícil.
riu, enquanto caminhou até a cozinha para buscar mais vinho para ambos.
— Nem foi para tanto.
— Eu quase tive três crises de pânico diferentes com medo de você insinuar algo e você me diz que não foi para tanto?
— Linda, você precisa mesmo se acalmar.
— Como?
— Não sei. - deu de ombros. — É natural para mim. Talvez você só precise pensar menos, sabe? A gente se diverte e ninguém precisa saber disso. E isso já é mais que diversão há meses. Que mal faz as pessoas saberem que eu tenho alguém de quem eu realmente gosto? Até porque deve estar ficando cada vez mais óbvio, com a maioria das minhas músicas sendo claramente escritas sobre você.
deu um sorriso de canto e acabou concordando, mesmo que não estivesse completamente segura e confiante em toda a situação. Não tinha jeito. Ele só precisava daquelas palavras para fazê-la derreter mais uma vez e se acabar de amores por ele.
— Ok, eu vou tentar relaxar.
se aproximou, deixando um beijo lento e quente sobre a pele exposta do pescoço dela. Enchia-lhe de prazer a simples confirmação de como ela se arrepiava facilmente ao seu toque.
— Pode começar deixando esse computador de lado e me dando atenção. Eu não menti quando disse que estava morrendo de saudades.
O resquício de uma vozinha ainda soava bem no fundo de sua mente, lembrando-a de como ela ainda tinha muito trabalho a fazer e não deveria jamais deixar para amanhã o que poderia fazer hoje. Mas estava ali, irresistivelmente tentador logo à sua frente e aquela era mais uma coisa que ela poderia - e queria - fazer hoje.
Quem ela queria enganar, afinal? Jamais conseguiria devolver sua atenção àquela tela enquanto ele estivesse bem ao seu lado, com a boca perto demais de si.
— Dane-se - murmurou, enquanto abandonada o computador e voltava a sua atenção completa a ele.
O sorriso malicioso que ele esboçou foi o suficiente para mandar todo o resto de sua sanidade em uma viagem só de ida pelo espaço. Suas bocas se chocaram com urgência, tentando avidamente matar toda a saudade que se acumulara nos últimos dias. No fim das contas, sabia que precisava de muito pouco para tê-la por completo. E, mesmo que ele tentasse manter a pose de galã conquistador, o contrário era bem verdade.
O cantor havia perdido as contas de quantas vezes havia pensado em dizer que a amava, mas logo se lembrava de tudo o que podia perder com tão poucas palavras. Era muito fácil transcrever sentimentos em músicas, mas ele tinha uma barreira gigante entre seu coração e suas cordas vocais para abrir o seu coração sem a máscara musical. Mas ela era inteligente e sabia de tudo - com certeza, muito melhor que ele. Provavelmente já havia entendido mesmo que ele não o dissesse.
Eu digo: Hey!
Você que sabe tudo
Me diga como perguntar
Se eu não sei
Você que pensa em tudo
Me mostre o quanto pode amar
— Eu meio que também senti sua falta - ela admitiu, com um sorriso maroto.
sorriu de volta, dando um selinho demorado nela.
— Estou com fome - ele falou. — Pode escolher algo para pedirmos.
— Você sabe que eu detesto escolher.
— E também sei que você detesta todas as minhas escolhas. Então, estarei aguardando - ele disse simplesmente, recebendo um dedo do meio erguido em resposta.
— Pizza - ela decidiu. — E eu te odeio.
sorriu, enquanto puxava o celular. Talvez aquele fosse o jeito mais verdadeiro e simples de ela dizer que o amava. Principalmente quando o amar estava muito mais em cada ação do que nas falas.
— É, eu também te amo.
Óbvio que havia um problema e o percebeu em meio segundo assim que sua mala passou pela esteira à sua frente. Onde estava o cadeado reforçado? Um zíper estava desconectado do outro, sem o objeto que deveria prendê-los. Respirando fundo e duvidando da sua capacidade de contar até cem antes de surtar completamente, a mulher abriu a mala rapidamente para checar se ela parecia revirada, em algum sinal de furto. Não encontrou muita coisa que a ajudasse a decidir se havia sido roubada ou prejudicada pela força e descaso daqueles que simplesmente arremessam as malas como se estivessem treinando para o lançamento de peso da Seleção Olímpica.
Algo dentro de si já parecia sinalizar desde cedo que aquele dia não seria um dos melhores e nem dos mais fáceis. Mas ela simplesmente ignorou essa sensação. A questão era que ela nunca fora uma pessoa de intuições, buscando sempre se prender muito mais ao racional do que a qualquer mísero esboço de coisas que não poderiam ser previamente planejadas ou minuciosamente articuladas e argumentadas com base em princípios lógicos e incontestáveis. era a mulher mais prática e sistemática que ela mesma conhecia e não tinha intenção alguma de renunciar ao próprio título.
Puxou um elástico de cabelo que sempre levava preso ao pulso e o utilizou para fazer um rabo rápido, antes de se abaixar para lavar o rosto. Precisava se recompor e sair dali ou passaria longas horas se martirizando sobre o que poderia ter feito de diferente - mesmo sabendo que não havia nada - em um banheiro feminino do aeroporto.
Por sorte, o táxi chegou rápido o suficiente para que ela pudesse se sentar e relaxar - por mais que tivesse acabado de xingar mentalmente todo o tempo passado sentada na poltrona apertada do avião. Eram tipos de desconforto diferentes no final das contas. Aproveitou o tempo de trajeto até a gravadora para analisar seu Google Agenda, recapitulando todas as reuniões e compromissos do dia. Era apenas um gesto de precaução, considerando-se que ela já tinha todo o seu planejamento claro e decorado de trás para frente e de frente para trás desde o final de semana anterior.
Xingou-se mentalmente ao sentir o aparelho vibrando em sua mão. Já havia se esquecido do som do próprio toque há tempos e se martirizava sempre pelos poucos momentos em que ainda permitia que o modo vibratório ficasse ligado.
— Fala - respondeu simplesmente.
— Cadê você? Nós estamos esperando.
revirou os olhos para o tom de voz brincalhão que acompanhava aquelas palavras de falsa cobrança.
— Talvez o senhor tenha esquecido que acabei de voltar de uma viagem para fechar os acordos e contratos para o seu palco e a sua iluminação.
A risada leve e abafada a fez respirar fundo, procurando não sair do sério.
— Só estou com saudades, você sabe disso.
— Tchau, - respondeu simplesmente, desligando sem esperar uma resposta.
Respirou fundo, recompondo-se. Queria agir como se não sentisse as pernas amolecerem sempre que ouvia aquela voz levemente rouca dizendo coisas como aquela. simplesmente não tinha noção alguma de como deveria se comportar, principalmente perto de outros membros da equipe. Ou melhor, noção ele tinha de sobra; só nunca parecia disposto a usá-la. E, droga, ele sabia bem como mexia com ela.
Deixou um pouco de dinheiro excedente quanto ao valor da viagem, grata pela agilidade do motorista e entrou rapidamente no estúdio de gravação no qual seria conduzida a entrevista sobre o novo álbum de . O disco havia sido lançado há pouco mais de um mês e ela já estava tonta só de começar a ir atrás dos contratos sobre os preparativos da turnê. Tinha certeza de que acabaria aquela “era” com pelo menos o dobro de cabelos brancos e uns 200% a mais do que poderia ser considerado normal para a sua idade.
— Bem vinda de volta - cumprimentou Theo, um dos principais representantes da assessoria. — Como foi a viagem?
— Cansativa, mas produtiva - respondeu, prontamente. — Estou com os mapas e as projeções 3D das iluminações para decidirmos a melhor configuração e já estabeleci o formato de palco com os pontos de elevação.
— Perfeito! E é por isso que eu adoro trabalhar com você. Estamos quase uma semana a frente do cronograma. Parabéns!
— Obrigada - agradeceu, com sinceridade. sempre dera nada menos do que 100% de si ao trabalho, almejando uma perfeição que, por vezes, acabava sendo inalcançável e estressante pela cobrança excessiva. Ao menos, esse tipo de reconhecimento era exatamente o tipo de coisa que a fazia aceitar que estava, sim, dando seu melhor e ele era não apenas suficiente, como realmente bom. Ela merecia ter dois minutos para respirar fundo, esquecer o peso dos ombros e simplesmente ter um pouco de orgulho de si mesma.
— E você sabe como eu detesto fazer isso, mas eu tenho uma reunião com um outro cliente agora e eu sei como você e o se dão bem juntos. - tentou fingir não engolir em seco com aquela frase. — Então, será que você poderia ficar aqui com ele e repassar as últimas orientações?
— Claro! Posso sim - respondeu, tentando sorrir de uma forma que não demonstrasse o recente frio que havia percorrido a sua espinha só de cogitar que aquela fala pudesse ter qualquer tipo de sentido secundário ou adjacente.
Theo deu um aceno rápido em agradecimento e sumiu de seu campo visual, permitindo que ela finalmente exalasse todo o ar que havia prendido nos pulmões, usando a tática da vida selvagem de não fazer movimentos bruscos a fim de não ser percebido pelo predador. No caso, a presa com certeza seria o seu emprego e todo o quase prestígio que ela estava conseguindo conquistar dentro da empresa.
— O que o Theo falou?
A voz atrás de si fez com que ela pulasse de susto, destruindo qualquer possibilidade de que aquela tentativa de se tranquilizar funcionasse.
— Você parece uma assombração - ela reclamou. — Ele pediu para que eu ficasse aqui enquanto ele ia para uma reunião com outro cliente. Disse que nós trabalhamos bem juntos.
— Ele não faz ideia do que mais nós fazemos bem juntos.
sentiu o sangue ferver nas bochechas, deixando-a perto demais de ter um colapso nervoso.Sabia que corria eletricidade por cada célula do seu corpo, mas aquilo era um curto-circuito.
— Por favor, entra no seu camarim.
a obedeceu, rindo pelo caminho. fechou a porta atrás deles.
— Seu cabelo está uma bagunça - ela apontou.
— Você disse que gostava dele assim - deu de ombros, soltando o próprio corpo contra o sofá de couro preto gasto.
— Não é sobre o que eu gosto. Você vai ao ar em pouco mais de cinco minutos e está simplesmente agindo como se não desse a mínima.
— , por favor, você precisa relaxar. Meu cabelo não vai comprometer a entrevista.
— Você sabe que tudo tem que sair perfeitamente dentro do esperado. O Theo confiou em mim para isso. Você é o astro com uma multidão de fãs, eu preciso realmente desse emprego.
— Você está sendo super controladora de novo. E, tudo bem, eu acho incrivelmente atraente. - Ele deu um sorriso de canto, fazendo a mulher revirar os olhos. — Mas eu prometo que não vou fazer absolutamente nada que te queime para o Theo. Vai precisar confiar um pouco em mim.
— Esse é o problema. É difícil acreditar em você enquanto não tira esse sorriso sacana do rosto, como se não se importasse com nada.
Atenção, as pessoas não precisam ser
Iguais às outras
Aceite ou não
Mas você é única no mundo assim
Uns são mais coordenados
Determinados, obcecados
E outros atrás vão levando a vida
E quem ousa dizer que é pior
Há quem construa os aviões
Escreva as revistas
Outros dedilham violões
— Dois minutos! - Uma voz abafada gritou do outro lado da porta, assinalando que precisava se dirigir logo ao palco.
O cantor se levantou, aproximando-se da porta. Com a mão já na maçaneta, virou o rosto, roubando um beijo rápido de .
— Eu estava mesmo com saudades - admitiu, enquanto se divertia com a reação dela. — Bom, já pode me desejar boa sorte. - E saiu, deixando-a sozinha com a sensação de que seu estômago tinha torcido e aquilo só seria consertado com cirurgia.
Quando Annelise anunciou a entrada de , várias jovens gritaram na plateia. Os aplausos eram altos para receber o homem que acenava, parecendo despojado e estranhamente encantador naquela jaqueta preta sobre a blusa mais simples do mundo, do tipo mais entediante de cinza. Era ridículo como algo tão simples continuava caindo tão bem nele. se posicionou em uma das coxias, de onde podia vê-lo perfeitamente, preparada para olhá-lo com ódio mortal se ele fizesse ou dissesse absolutamente qualquer coisa que pudesse sair dos limites delimitados pelo script de Theo.
— ! Quanto tempo! - Annelise comentou, de forma simpática.
— É verdade. Eu só venho aqui quando lanço meus álbuns, já percebeu? Acho que a nossa relação está comprometida.
— Por mim, você pode vir quando quiser. E acho que eles concordam, não é? - A apresentadora apontou para a plateia, que respondeu com novos gritos e exclamações.
tinha feito sucesso desde o seu primeiro disco e esse era um fato completamente irrefutável. Mas seu público, que provavelmente havia sido iniciado pelo interesse principalmente feminino em um rosto bonito e um corpo invejável, havia se expandido para um grupo grande e fiel de fãs, além de várias outras pessoas que simplesmente apreciavam verdadeiramente as suas músicas, mesmo que não estivessem prestes a chorar de emoção a cada vez que ouvissem falar em seu nome ou gritar assim que ele colocasse um violão sobre o colo.
— Mas me conta mais sobre o seu novo álbum - ela pediu.
— Eu acho que esse foi o meu disco mais maduro até agora, o que faz sentido considerando que eu estou mais velho. Mas não é só algo de idade, sabe? Ainda temos sons divertidos, alguns refrões que lembram o álbum anterior, mas as composições em si estão um pouco mais sérias. Deram mais trabalho, então, por favor, gostem delas. Eu imploro.
— Eu já ouvi algumas e simplesmente amei. Vou me arriscar a dizer que já é o meu álbum favorito seu e provavelmente o melhor do ano. Já estou esperando o recorde de indicações nas premiações. Eu não me surpreenderia se rolasse um Grammy, inclusive.
— Eu me surpreenderia, sim. - riu. — Mas quem sabe?
A plateia riu levemente, fazendo com que o cantor sorrisse também. Obviamente aquele era seu sonho e objetivo, mas sabia como a mídia automaticamente escreveria várias manchetes tendenciosas que o fizessem parecer arrogante e excessivamente confiante se ele dissesse que esperava qualquer reconhecimento pelo trabalho. E, com certeza, eles voltariam para esfregar tudo em sua cara quando ele não levasse o prêmio para casa.
— E todo esse amadurecimento não pode ser só por conta da idade, não é? Conta para a gente, ; de onde vem a sua inspiração?
passou as unhas pelo rosto, coçando um pouco a pele cuja barba estava por fazer.
— Ah, é difícil limitar esse tipo de coisa. Às vezes é exatamente sobre o que eu estou sentindo no momento em que escrevo. Às vezes é sobre algo que vivi anos atrás. Já escrevi sobre histórias que ouvi e nem eram minhas. Já inventei as minhas próprias histórias porque pensei que daria uma boa canção. Enfim, é sempre uma grande miscelânea de coisas que compõem todo o processo criativo da equipe.
Annelise meneou a cabeça, concordando. Ela sustentava um olhar profundo em sua direção, como se prestasse a mais verdadeira atenção em cada vírgula que ele pudesse ter a intenção de incluir em sua fala. admirava a prática que aquilo demandava. Demonstrar interesse integral e fazer com que o ato parecesse genuíno em todas as ocasiões estava na lista das coisas que ela sabia jamais ser capaz de fazer.
— E eu suponho que parte dessa inspiração mais atual com certeza tem a ver com seus interesses amorosos, não? Já tem alguém ocupando esse coração? Porque essa foi uma sensação muito intensa que eu tive a ouvir as músicas novas. Principalmente a sétima faixa.
sorriu, incapaz de disfarçar qualquer coisa. podia sentir o coração acelerando e as palmas de sua mão suando frio, tornando-se úmidas e um tanto pegajosas contra o iPad que ela tentava segurar, anotando todos os detalhes que ainda teriam que discutir e decidir sobre a turnê.
Não sabia se aquela sensação esquisita era por medo de que ele dissesse qualquer coisa que insinuasse mesmo que minimamente a relação que existia entre eles ou pelo simples fato de sempre se sentir estranhamente nervosa quando se lembrava da sétima faixa. Provavelmente era um pouco das duas coisas.
A música em questão falava sobre um relacionamento do qual ninguém poderia saber. Algo intenso e escondido, mantido por pessoas completamente diferentes, mas que pareciam ter se conectado brutalmente como os polos opostos de um ímã. tinha sentido um turbilhão de emoções quando ouvira a canção sendo gravada e ainda sentia toda aquela confusão e as borboletas irritantes quando qualquer ser acabava lembrando-a da existência dela. Não que fosse uma meta difícil; era quase impossível se esquecer da música que fora escrita para você com coisa demais escancarada.
— É a minha faixa favorita do álbum, sabia? - perguntou, pousando o tornozelo direito sobre o joelho esquerdo e se apoiando contra os braços da poltrona.
— Também é a minha música favorita - Annelise admitiu. — Mas não pense que está escapando das minhas perguntas.
riu e sentiu a própria saliva descer dolorida pela garganta. Com certeza não precisaria passar por tudo aquilo se ele não sorrisse o tempo todo daquela forma desgraçada.
— Bom, você me pegou, Annelise - ele disse simplesmente, daquele jeito charmoso que só ele tinha de falar qualquer coisa, por mais séria ou tosca que fosse. — Existe alguém e talvez ela tenha uma parcela de culpa nesse amadurecimento que eu tanto bato no peito para defender. Alguém tinha que colocar juízo nessa cabeça, não é? Ou pelo menos tentar.
levantou o iPad, tentando cobrir o rosto de alguma forma com o dispositivo. Suas bochechas estavam em chamas.
— Alguma chance de sabermos mais dela?
— Nenhuma - respondeu.
— Droga. - Annelise reclamou, rindo. — Bom, seja lá quem for, temos certeza de que é uma garota muito sortuda. E pelo seu sorriso, provavelmente também teve bastante sorte.
O rapaz lançou um olhar curto, mas direto na direção de , antes de sorrir timidamente e concordar com a apresentadora.
— Agora, acho que falo por todos aqui presentes que adoraríamos ouvir o seu novo single.
— É para já - assentiu e se levantou, dirigindo-se até a banda e tomando o microfone em mãos.
Com os primeiros acordes, mal conseguiu perceber a notificação em seu celular. Equilibrando-o juntamente com o iPad de uma forma um tanto desajeitada e perigosa, ela abriu suas mensagens, sabendo que Theo já tinha conhecimento sobre absolutamente tudo o que havia acontecido. Ele era assustadoramente onipresente, mesmo que tivesse outras mil tarefas ocorrendo simultaneamente.
“Eu não sabia que o estava vendo alguém por mais de uma noite! Você acredita nisso?”
sentiu uma vontade absurda de colocar para fora toda a pouca comida que havia conseguido ingerir durante o voo.
“Pois é! Também me surpreendi!”
A ânsia aumentava em cem por cento cada vez que ela involuntariamente lia a mentira descarada que havia acabado de digitar.
“Bem, espero que ele seja feliz e que tome algum juízo. E, no fim das contas, isso movimentou as redes sociais absurdamente. Vitória dupla!”
A mulher concordou rapidamente e bloqueou o celular, com medo que sua falta de sinceridade a mordesse pela tela. Ao menos, a declaração não havia surtido efeitos negativos, então talvez ela ainda conseguisse dormir à noite.
ajeitou os óculos de grau sobre o nariz, um tanto irritada pelo fato de que ele continuava escorregando depois de ela tê-lo derrubado durante a viagem. Teria que encaixar a visita à ótica para reajustar a armação em sua agenda. Só não fazia ideia de quando. Seus dias dali para frente seriam uma loucura, mas não tinha como simplesmente seguir com aquela porcaria deslizando pelo rosto toda vez que ela abaixava a cabeça para olhar a tela do computador e organizar as suas planilhas. Sua frustração acabou sendo externalizada quando ela bufou com força.
— O que aconteceu?
passou os braços pelo pescoço dela, deixando seus rostos próximos. soprou uma quase risada pelo toque levemente áspero da barba dele contra sua bochecha.
— Preciso levar meus óculos para arrumar e não tem nenhum espaço na agenda para isso.
— Deixa eu ver?
se sentou ao seu lado, puxando o notebook para o próprio colo e analisando todos aqueles pequenos retângulos coloridos e minuciosamente colocados. Tantas letras pequenas e linhas o deixavam prestes a ter uma baita dor de cabeça.
— Essa prova de roupas - ele apontou na tela. — Eu posso ir sozinho. Dá tempo de você ir nesse intervalo?
— Daria, mas eu tenho que te acompanhar - ela disse, pegando o notebook de volta. — É o meu emprego, lembra?
— Nós já decidimos tudo - ele tornou a tentar convencê-la. — Eu literalmente só vou colocar umas peças, atualizar umas medidas e acabou. Acho que eu já sou grandinho o suficiente para não precisar que você me dê a mãozinha e fique por perto caso eu decida colocar fogo no galpão.
— Você é ridículo.
— Eu só estou tentando ajudar você. Pode deixar que eu mesmo falo com o Theo.
— Eu não posso. Esse tipo de coisa é literalmente a minha função.
— E você só vai faltar dessa vez. , não é o fim do mundo e você não é uma profissional pior por ter uma necessidade. Tem como você relaxar um pouco?
— Depois da entrevista de hoje? Fica um pouco difícil.
riu, enquanto caminhou até a cozinha para buscar mais vinho para ambos.
— Nem foi para tanto.
— Eu quase tive três crises de pânico diferentes com medo de você insinuar algo e você me diz que não foi para tanto?
— Linda, você precisa mesmo se acalmar.
— Como?
— Não sei. - deu de ombros. — É natural para mim. Talvez você só precise pensar menos, sabe? A gente se diverte e ninguém precisa saber disso. E isso já é mais que diversão há meses. Que mal faz as pessoas saberem que eu tenho alguém de quem eu realmente gosto? Até porque deve estar ficando cada vez mais óbvio, com a maioria das minhas músicas sendo claramente escritas sobre você.
deu um sorriso de canto e acabou concordando, mesmo que não estivesse completamente segura e confiante em toda a situação. Não tinha jeito. Ele só precisava daquelas palavras para fazê-la derreter mais uma vez e se acabar de amores por ele.
— Ok, eu vou tentar relaxar.
se aproximou, deixando um beijo lento e quente sobre a pele exposta do pescoço dela. Enchia-lhe de prazer a simples confirmação de como ela se arrepiava facilmente ao seu toque.
— Pode começar deixando esse computador de lado e me dando atenção. Eu não menti quando disse que estava morrendo de saudades.
O resquício de uma vozinha ainda soava bem no fundo de sua mente, lembrando-a de como ela ainda tinha muito trabalho a fazer e não deveria jamais deixar para amanhã o que poderia fazer hoje. Mas estava ali, irresistivelmente tentador logo à sua frente e aquela era mais uma coisa que ela poderia - e queria - fazer hoje.
Quem ela queria enganar, afinal? Jamais conseguiria devolver sua atenção àquela tela enquanto ele estivesse bem ao seu lado, com a boca perto demais de si.
— Dane-se - murmurou, enquanto abandonada o computador e voltava a sua atenção completa a ele.
O sorriso malicioso que ele esboçou foi o suficiente para mandar todo o resto de sua sanidade em uma viagem só de ida pelo espaço. Suas bocas se chocaram com urgência, tentando avidamente matar toda a saudade que se acumulara nos últimos dias. No fim das contas, sabia que precisava de muito pouco para tê-la por completo. E, mesmo que ele tentasse manter a pose de galã conquistador, o contrário era bem verdade.
O cantor havia perdido as contas de quantas vezes havia pensado em dizer que a amava, mas logo se lembrava de tudo o que podia perder com tão poucas palavras. Era muito fácil transcrever sentimentos em músicas, mas ele tinha uma barreira gigante entre seu coração e suas cordas vocais para abrir o seu coração sem a máscara musical. Mas ela era inteligente e sabia de tudo - com certeza, muito melhor que ele. Provavelmente já havia entendido mesmo que ele não o dissesse.
Eu digo: Hey!
Você que sabe tudo
Me diga como perguntar
Se eu não sei
Você que pensa em tudo
Me mostre o quanto pode amar
— Eu meio que também senti sua falta - ela admitiu, com um sorriso maroto.
sorriu de volta, dando um selinho demorado nela.
— Estou com fome - ele falou. — Pode escolher algo para pedirmos.
— Você sabe que eu detesto escolher.
— E também sei que você detesta todas as minhas escolhas. Então, estarei aguardando - ele disse simplesmente, recebendo um dedo do meio erguido em resposta.
— Pizza - ela decidiu. — E eu te odeio.
sorriu, enquanto puxava o celular. Talvez aquele fosse o jeito mais verdadeiro e simples de ela dizer que o amava. Principalmente quando o amar estava muito mais em cada ação do que nas falas.
— É, eu também te amo.
FIM
Nota da autora: Bem curtinha e tranquila, como essa música de que tanto gosto. Espero que tenham curtido mais esse pedacinho de mim no mundo.
Para mais informações sobre minhas histórias e atualizações, entrem no grupo
Outras Fanfics:
01. Middle of the Night
02. Blow Me (One Last Kiss)
02. Stitches
03. I Did Something Bad
03. Take A Chance On Me
03. Without You
04. Someone New
04. Warning
05. You In Me
06. Consequences
06. If I Could Fly
06. Love Maze
07. If Walls Could Talk
08. No Goodbyes
10. Is it Me
10. Simple Song
10. Trust
11. Robot
11. Nós
11. Under Pressure
12. Be Alright
12. Wild Hearts Can't Be Broken
13. Kiss The Girl
13. Part of Me
13. See Me Now
14. When You're Ready
15. Overboard
A Million Dreams
Daydream
Fly With Me
MV: Miracle
Not Over
Señorita
Wallflower
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