Finalizada em: 12/12/2018

Prólogo

- Nós poderíamos nos mudar para bem longe... – Falei, puxando seus cabelos para trás.
- Para onde é “longe”, ? Nem sabemos o que aconteceu com os outros países. – Suspirei e abracei-a pelos ombros. – Se Bodrum, que era um paraíso aquático, virou deserto depois que o meteoro caiu, imagino que países menores foram dizimados.
- Mas isso já faz 200 anos, meu amor. O tempo passou, a evolução aconteceu... – Suspirei.
- Não vejo mais águas cristalinas aqui na Turquia, meu amor. Ou melhor, nem se chama mais Turquia. – Ela fechou os olhos e se encostou em meu ombro. – Além de que ainda vivemos em rebelião todos os dias com seres não identificados que invadiram a Terra. Eu queria muito mais, você sabe. – Assenti com a cabeça, apertando-a em meus braços. – Mas eu não tenho coragem de trazer um filho para viver nesse mundo ou fazer planos a longo prazo. – Ela suspirou.
- Eu sei, mas daremos um jeito nisso. – Segurei seu rosto e dei um rápido beijo em sua bochecha, vendo-a sorrir.
- Falando em problemas... – Ela se levantou apressada, se colocando na beirada do penhasco e olhou lá embaixo.
Fiz o mesmo movimento que ela, só que com o binóculo, e contei rapidamente seis carros que se aproximavam da entrada de nosso esconderijo. Além de um aeroplano que se aproximava em velocidade.
- Vamos! – gritou e saiu correndo penhasco abaixo, pulando e desviando dos caminhos que já conhecíamos há anos.
Fui atrás dela e entramos novamente em nosso esconderijo, um casulo escondido dentro das montanhas e já vi os outros membros da rebelião começarem a se preparar para o combate. Tínhamos que impedir que eles entrassem. Se eles descobrissem nosso arsenal, seríamos mortos na hora. Não que eles já não quisessem fazer isso todos os dias, desde que pousaram no planeta. A intenção sempre foi aniquilação e controle, a diferença de um bom filme de época, é que eles não eram tão espertos em destruir tudo de uma vez só. Era quase uma lavagem cerebral, as pessoas simplesmente mudavam de lado.
Abel me entregou um rifle G36C e eu conferi se estava tudo certo com ele e segui para a entrada do esconderijo, observando minha namorada checar se os pentes de suas duas pistolas estavam cheios e ela sorriu para mim.
- Pronto? – Perguntei e ela sorriu.
- Sempre. – Estralei o pescoço quando o corredor afunilou e chegamos a uma pequena porta que dava para nossa garagem.
Passamos por entre os caminhões e jipes antigos e seguimos para outra sala igual a essa, mas vazia. O som das balas estouravam contra os portões com facilidade. Eu, e outros membros da resistência nos colocamos lado a lado e Becky apertou um botão, fazendo com que um alarme sonoro fosse tocado alto e as portas do hangar fossem abertas.
Me abaixei na hora, apontando o rifle e passei rolando pelo mesmo, começando a atirar. Os tiros passavam por todo o lugar, fazendo com que fagulhas iluminassem a entrada da caverna com pouca iluminação. A luz estava a nosso favor, não conseguíamos distinguir quem estava lá, mas as silhuetas falavam que era nosso inimigo de sempre, os invasores do nosso planeta.
Apertei o gatilho três vezes, acertando três pessoas e me escondi atrás de um dos carros, me aproximando. Olhei para na lateral e ela acenou com a cabeça, fazendo movimento com as mãos assinalando que iria para frente. Neguei com a cabeça, eles estavam próximos demais. Girei o corpo novamente, distribuindo mais alguns tiros, vendo algumas pessoas caírem um a um e apontei a arma para outro, engolindo em seco. Ele tinha em sua mira e fazia questão de olhar para mim.
- Larguem suas armas! – Ele gritou e eu e outros membros da resistência nos entreolhamos.
- Não façam isso! – falou e o homem pressionou o cano da sua arma na cabeça de . – Não deixe que eles me levem.
- Por favor... – Falei, engolindo em seco, dando um passo para frente.
- Não se mexe ou ela morre.
- Eu não posso deixar que eles te matem. – Sussurrei e Abel abaixou sua arma rapidamente, assim com os outros resistentes. Só sobrou a minha erguida.
- Prefiro morrer a ser capturada. – Ela falou, olhando fundo em meus olhos e eu suspirei.
- , largue. – Abel falou firme e eu olhei os olhos de . Ela tinha medo nos olhos.
- Não largue, . Me mata. – Ela falou e eu prendi a respiração. – Eu não posso ser presa de novo... – Senti o choro em sua voz.
- ! – Abel falou e eu engoli em seco.
- Se você me ama, me mate. – Ela falou novamente e eu olhei para a arma enfiada em seu pescoço. – Não me deixe viver isso de novo...
- Eu não posso fazer isso. Não consigo viver sem você. – Falei, abaixando minha arma. – Eu prometo que vou te encontrar.
- Não! – Ela gritou desesperada, sendo puxada para dentro de um carro. – , não! – Ela se esgoelou e eu senti meu mundo cair, fazendo com que eu caísse com os joelhos fortemente no chão. – Não! – O carro cantou pneu e foi embora levando minha amada.
- Nós vamos encontrá-la. – Abel falou, mas eu não conseguia ouvir mais nada.


Capítulo Único

Joguei uma pedra para baixo do penhasco, respirando fundo. Passando as mãos sujas de terra em minhas lágrimas, limpando as mesmas. Notei uma movimentação e vi Abel, o membro mais velho da resistência, se sentar ao meu lado, no lugar que sempre era ocupado por . Ele passou um braço pelos meus ombros, me trazendo para perto dele.
- Nós temos que ir atrás dela, Abe. – Falei, engolindo em seco. – Já faz quatro dias. – Respirei fundo.
- O pessoal de logística acha que encontrou o local em que eles escondem os prisioneiros, mas gastamos muita munição, levaremos mais alguns dias para reabastecer os cartuchos. – Bufei, passando a mão na testa.
- Eu não posso deixá-la lá, Abe. Você se lembra do que houve da última vez. Ela nunca foi mais a mesma. Os reflexos dela, o pensamento... Ela ainda tem pesadelos toda noite...
- Eu sei, . – Ele apertou meu ombro. – Mas ela é forte. – Ele falou. – Você sabe que ela entrou na resistência cedo, não sabe?
- Nós namoramos desde os 15 anos, Abe. Eu sei tudo sobre ela. – Suspirei. – A mãe dela se juntou à resistência quando ela tinha oito anos, depois que o pai foi assassinado a sangue frio.
- Exatamente. – Abe falou. – Essa menina atirava com oito anos melhor do que muitos adultos. – Ri fraco. – Não subestime-a, ela vai sair dessa. – Suspirei.
- Mas eles a torturam, Abe. E ela não fala nada, por isso ela tem lapsos de memória, diversas cicatrizes, alguns órgãos já não funcionam tão bem e ela é tão nova...
- Nos dê mais dois dias. – Ele pediu. – Estaremos pronto para o resgate.
- Eu vou descer para ajudar o pessoal do arsenal. – Me levantei.
- Não, você vai descansar. – Ele falou. – Precisa estar preparado... Ah, de novo não. – Ele falou e eu olhei lá para baixo novamente, um conhecido carro se aproximava.
- Ah, agora eles vão ver...
- ! – Abe gritou, mas eu já tinha corrido lá para baixo.
Passei pelo espaço em comum, pelas hortas e puxei uma arma da mão de um dos caras que a limpavam e todos olharam preocupados para mim e ouvi passos correndo em minha direção, fazendo com que eu andasse cada vez mais rápido.
- , não faça isso! – Apertei com força o botão do hangar e rolei por baixo da fresta que se formou. Levantando com pressa e começando atirar... No nada. – ! – Abel apareceu ao meu lado junto de outras pessoas e eles pararam com a mesma reação.
- Mas o quê...
O carro já voltava pelo mesmo caminho de antes, mas uma grande caixa de madeira estava colocada no meio da entrada. Andamos para fora do túnel com as armas apontadas para todos os lados, sentindo o sol forte nos cegar, mas a barra estava limpa.
- Não tem nada aqui. – Eu e Becky falamos quase juntos e abaixamos nossas armas.
- Deixaram um presente. – Nádia comentou e Ranya apontou sua arma.
- Não! – Abel a impediu. – Não sabemos o que tem aí dentro.
- Aqui! – Paul se aproximou com um pé de cabra e o observei abrir os quatro cantos da caixa e dei dois passos para trás quando vi o corpo de ali dentro.
- Ah não! – Falei e Abel se aproximou da mesma, passando a mão em sua testa e em seu pescoço.
- Tem batimento. – Ele falou e me aproximei da caixa, passando a mão em seu rosto limpo e brilhante, sem as cicatrizes que eu conhecia de cor. Diferente do que eu estava acostumado.
- Ela está diferente. – Comentei.
- Vamos levá-la para dentro, levem-na para a enfermaria. – Abe falou e eu e mais alguns membros empurramos a caixa para dentro do complexo, voltando a acionar as medidas de segurança.
Chegamos à enfermaria e tirei da caixa e a coloquei na maca. Seu corpo estava muito travado, estranhei já ali. Ranya, nossa médica, se aproximou de e fez um rápido check-up na mesma, ouvindo coração, fazendo testes de reflexo e outros.
- Parece que está tudo bem. – Ranya falou. – Ela só está dormindo. – Franzi a testa e me aproximei dela.
- ... Amor! – Falei, acariciando seu rosto. – Acorde, por favor. – Me assustei quando seus olhos se abriram rapidamente e ela se levantou de forma automática.
- Meu Deus! – Abel colocou a mão no peito assustado.
- Olá. Gente. – Ela falou pausadamente e nos entreolhamos. – Senti. Saudades. – Ela falou novamente e Ranya se aproximou dela, iluminando seus olhos.
- Os olhos dela estão prateados. – Ranya comentou e vi um círculo prateado em volta de seus olhos.
- ! – Ela me chamou e eu a olhei. – Senti. Sua. Falta. – Ela se virou na maca, fazendo tudo robotizadamente e desceu da mesma, dando dois passos em minha direção e me apertando em um abraço. Me surpreendi com a força.
- Que merda está acontecendo? - Afastei-a rapidamente, encarando seus olhos, seu rosto sem as cicatrizes de batalha e a maquiagem muito bem feita. Aquela não era minha . – Não é ela. – Falei. – É uma cópia. – Falei, afastando alguns passos. – É um cavalo de Tróia. – Falei e algumas armas foram erguidas.
- Ei! – Abe gritou, erguendo as mãos.
- . Amor. Sou. Eu! – Franzi a testa, respirando fundo.
- Não faremos nada até ter certeza. – Abel falou. – Pode não ser ela, mas ainda é o corpo dela. Pode ser só igual da última vez. – Ele falou e engoli em seco, respirando fundo.

- Isso está muito estranho. – Abe falou. – É ela, mas não é ela.
- Como foi da última vez que ela foi capturada? – Becky perguntou.
- Fizemos uma missão de resgate, ela estava sendo torturada. Quando a resgatamos, ela não se lembrava de nós, de mim. – Suspirei.
- E como vocês a fizeram voltar? – Paul perguntou.
- Batemos bem forte contra a cabeça dela. – Abe falou e Becky o olhou surpreso. – Deu certo!
- Sabe a cicatriz que ela tem na testa? – Comentei e olhamos para . – Foi por causa disso.
- Falando nisso, onde estão as cicatrizes dela? – Abe perguntou.
- É por isso que eu acho que está tudo muito estranho. – Falei. – Ela me reconhece, mas ela está parecendo uma boneca. Não que ela não seja, mas...
- Entendemos! – Ranya se meteu. – Ela não tem nenhuma das conhecidas cicatrizes que conhecemos, nada.
- Ela parece... – Olhamos para ela que virava o rosto para todas as direções e fazia questão de puxar as mangas de sua blusa comprida para baixo. – Perdida. – Beky falou e suspiramos.
- Vocês notaram que ela está com essa blusa, nesse calor, e não está suando? – Comentei e Ranya se virou para mim.
- A temperatura corporal dela está normal. Pouco acima de 36 graus. – Suspiramos.
- Será que ela foi trocada? – Paul perguntou.
- Por quem? – Perguntei. – Com certeza eu saberia se ela tivesse uma gêmea do outro lado.
- É ela, gente! – Abe se aproximou. – Não tem como.
- Eles têm tomado o corpo de pessoas desde o dia em que chegaram aqui. Podem ter tomado o corpo dela. – Demos um passo para trás automaticamente.
- Por favor, não. – Suspirei.
- Vamos fazer um teste. – Paul se aproximou alguns passos e o encarou.
- Qual seu nome?
- Meu nome. É. . Demir. – Suspirei. Certo.
- Qual sua idade? – Paul continuou.
- 25 anos. – Ela continuou. Certo.
- Qual o nome de seus pais?
- Minha. Mãe era. Ayla. Demir. E meu. Pai. Era. Hilal. Demir. - Suspirei nervoso.
- Como seus pais morreram?
- Os. Dois foram. Mortos. Pelo Governo. Imperial. – Passei a mão na testa, respirando fundo.
- E qual sua posição sobre o Governo Imperial? – Ergui o rosto novamente.
- Eles. São a. Melhor coisa. Que. Aconteceu. A Terra. Pelos. Últimos 200. Anos. – Suspirei frustrado.
- Não é possível. – Me aproximei dela, segurando-a pelos ombros.
- Você sabe quem eu sou? – Olhei em seus olhos prateados.
- Você. É. Meu namorado. . Estamos. Juntos. Há 10. Anos.
- Que porra está acontecendo?
- Eles limparam seu cérebro, por acaso? – Gritei, sacudindo-a.
- Calma, ! – Abe me segurou.
- Isso vai ser para sempre? – Falei para Abe que negou com a cabeça.
- Acalme-se, . Nós vamos descobrir como consertá-la. – Suspirei.
- Ela vai me enlouquecer. – Suspirei. – Ela está me enlouquecendo! – Saí da enfermaria a passos largos, chutando um balde ali perto.

Eu não conseguia acreditar que aquela era a mulher que eu amava. Não podia ser. Tudo demonstrava que não era ela. Eu sabia que com a chegada desses seres de outro planeta, muitas coisas tinham sido mudadas na Terra. Tivemos um avanço incrível na tecnologia e na saúde, mas para isso eles precisavam de um hospedeiro. E usavam o corpo dos humanos para isso, causando milhares de mortes.
Eu nasci e cresci na resistência. Meus pais, meus avôs, meus bisavós e todas as gerações anteriores tentam lutar contra eles desde que chegaram a Terra há 200 anos. Ainda não conseguimos derrotá-los, mas conseguimos atrasá-los para viver em harmonia durante esses anos. Ainda esperamos o dia em que podemos derrotá-los.
Esperei com que o sol parasse de entrar sobre as brechas da montanha e me levantei do centro da horta, vendo que todos já tinham entrado em seus aposentos. Eu precisava falar com ela sozinha. Ver se ela se abria somente para mim. Mas algo que eu ainda não descobri era o que ela era. Alguém que teve sua memória apagada, como da última vez. Ou se ela era outra pessoa, uma cópia, alguém que veio com algum plano.
Entrei na enfermaria, observando-a deitada na maca e me aproximei, dando duas batidas na porta. Ela virou em minha direção e se sentou, fazendo os movimentos roboticamente, como mais cedo.
- Olá. Meu. Amor. – Respirei fundo.
- Não faça isso. – A interrompi e puxei um banco para perto. – Eu quero te fazer algumas perguntas.
- Faça! – Ela falou, olhando para frente, como se esperasse alguma prova.
- Quem é você?
- Eu. Sou...
- Não, você não é a , pelo menos não a minha . – Respirei fundo. – O que você é? Um robô? Um ET? Uma cópia? – Engoli em seco.
Ela ficou quieta.
- Onde está a minha ? Ela está aí dentro ainda?
- Eu. Sou a. Sua. ...
- Tá, tá! Já entendi. – Bufei, respirando fundo. – O que está acontecendo?
- Eu. Não. Entendi. A pergunta. – Cocei a cabeça. Isso seria mais difícil do que o esperado.
- Você foi trocada? – Continuei tentando, recebendo mais silêncio. – Ela está aí dentro, não está? Como que é? – Suspirei.
- Eu não. Sei. De. Nada. – Joguei a cabeça para trás, respirando fundo.
- Realmente espero que não seja você, sabe? – Falei, me segurando para não segurar sua mão. – Que seja só uma cópia do mal com algum propósito. – Suspirei. – Do contrário, você se odiaria agora, por ter se transformado no que você mais odiava no mundo. – Suspirei. – Você parece alguém que é comandada por cordas, não sei...
Comecei a tentar apelar para o emocional, mas ela não falava nada. Como se tivesse sido desligada e estava em estado de espera.
- Éramos iguais, sabia? – Suspirei. – Pensei que isso nunca aconteceria contigo. Que ficaríamos juntos para sempre.
- Ficaremos. Juntos. Para. Sempre. – Ela respondeu e eu me levantei.
- Não! – Gritei com lágrimas nos olhos. – Nunca mais. – Falei. – Eu só... – Engoli em seco. – Eu só pensei que te conhecia. – Respondi, balançando a cabeça. – Eu vou dormir, tento novamente amanhã. – Respirei fundo, percebendo só depois que tinha falado com um robô, ou sei lá.
- Boa. Noite. Meu amor. – Revirei os olhos, saindo da enfermaria novamente.
- Nós vamos trazê-la de volta. - Encontrei Ranya na porta.
- Espero que sim. – Falei, coçando a cabeça. – Eu vou tentar dormir, quem sabe eu não tenha uma ideia melhor amanhã?
- Qual? Bater com a cabeça dela no chão novamente? – Ri fraco.
- Se funcionar... – Dei de ombros e ela acenou com a mão. - Boa noite. – Falei, seguindo pelos corredores de dentro da montanha.
acabou vivendo nossa realidade pelos próximos três dias. Não tínhamos nenhuma garantia de que ela era a minha , mas também não tínhamos nenhuma garantia de que ela não era. Por enquanto nosso melhor palpite era que uma lavagem cerebral havia sido feita nela, fazendo com que ela falasse bem do Governo Imperial, mas que ainda conhecesse a todos da resistência.
Tirando os olhos prateados e a voz robotizada, ela poderia se passar pela minha . Ela cuidava da horta, ela almoçava e jantava, tudo como antes de ser resgatada. A única coisa que não a deixávamos fazer era ficar de sentinela durante a noite. Nós tínhamos feito outro horário para ficar de sentinela dela durante a noite. Todos ainda estavam com o pé atrás com ela.
Tivemos a certeza de que não podíamos confiar nela no terceiro dia à noite. Como sempre, depois que os espelhos, para ajudar a iluminar a horta, foram fechados, seguimos para a janta. Três pessoas sempre ficavam de sentinela, para podermos ter alguns minutos de calmaria como uma família.
- Isso é estranho. – Molly, uma das poucas crianças ali, falou, observando colocar uma colherada de legumes na boca.
- Para de encarar. – Falei e ela se encolheu.
- Desculpe, . – Ela falou e eu neguei com a cabeça, bagunçando seus cabelos.
- Relaxa! – Rimos juntos e voltamos a comer.
Um barulho sequencial abafado nos distraiu. Eu sabia que eram tiros, mas por que eles estavam sendo disparados aqui dentro? Me levantei apressado com os membros mais velhos da resistência e pegamos as armas que ficavam escondidas nos armários da cozinha e saímos em disparada para fora.
- Protejam-se! – Falei para as crianças e para os idosos e saímos pelo espaço da horta.
A horta ficava no centro de nosso casulo, tirando as plantações altas de trigo e de milho, não tínhamos onde nos esconder. A parte boa era que nossos invasores insistiam em usar branco e eles eram iluminados como cones de trânsito, pelas luzes negras que eram dispostas acima da horta.
Comecei a atirar, vendo os corpos caírem pelo chão e fui me aproximando, tentando chegar próximo à entrada. Eles tinham conseguido entrar pela entrada principal e eu gostaria de saber por quê. Abe e Paul seguiram comigo e passamos pela garagem, dando de cara com alguns homens e mulheres de branco. Dei mais alguns tiros, me distraindo por alguns segundos e senti um tiro em meu ombro, me empurrando para trás por alguns segundos.
- ! – Paul gritou.
- Estou bem. Siga em frente. – Franzi o rosto por alguns segundos e pressionei a mão em meu ombro, vendo que a bala tinha ficado alojada ali.
- Está limpo. – Abe falou e eu abaixei a arma, andando para a entrada com ele. – Droga! – Ele falou e eu me aproximei, encontrando Julio e Andrea mortos, me fazendo suspirar. – Aposto que Bell também morreu.
- Ela estava na entrada do penhasco, não? – Abe assentiu com a cabeça.
- Que merda! Como eles sabiam nossos horários? Que a segurança estaria fraca agora? – Paul falou e eu respirei fundo.
- Eu tenho uma teoria! – Falei, voltando apressado para dentro.
- Você precisa ir para a enfermaria.
- Eu estou bem, Abe! – Falei, voltando para dentro, desviando de vários mandantes do Governo Imperial mortos e vi na porta da cozinha. Empurrei-a para dentro da mesma novamente e coloquei meu braço em seu pescoço, apertando sua circulação. – O que você fez?
- Eu. Não. Fiz. Nada. – Apertei mais forte em seu pescoço.
- Sim, você sabe. Mataram três de nós, desembucha agora! – Falei firme, apertando meu braço novamente.
- Vocês. Não. Conseguirão. Me matar. – Franzi a testa e notei que não importava quanto eu apertasse meu cotovelo contra sua garganta, ela não ficava com a respiração falha.
- Você é um robô. – Falei, finalmente caindo a ficha. – Eu não consigo te matar assim, porque você não respira. Seu coração não bate, sua temperatura não muda. – Me afastei um pouco e ela se manteve quieta. – Seu coração, sua temperatura, o movimento das suas narinas, é tudo um programa, não é? – Ela ficou quieta. – Tenho certeza que eu consigo te matar se eu te quebrar em duas. – Falei e ela arregalou os olhos. – Desembucha agora. Não vai importar se você é a cara da minha namorada, mas eu vou te matar. – Suspirei.
- Ela. Está. Viva. – Ela falou e olhamos surpresos para ela. – Eles. A. Torturam. Para que. Fale.
- Impossível. – Virei para Abe. – não faria isso.
- Ela. Não. Fez. – Ela esticou o braço, puxando sua camiseta e apertou um botão, fazendo aparecer uma tela de LED no mesmo mostrando um mapa. – Eu fiz. – Ela falou e eu suspirei, passando as mãos na cabeça.
- Eu vou te matar! – Falei firme, esticando a arma novamente, mas Abe me segurou.
- Não! – Ela falou assustada. – Eu. Posso. Ajudá-los. – Respirei fundo, olhando para ela.
- Por que confiaríamos em você? – Perguntei, respirando fundo.
- Porque. Eu. Gosto daqui. – Ela falou, abrindo um pequeno sorriso e olhei para Abe. – Vocês. Têm. Carinho. Vocês. Têm. Amor.
- Como você pode querer isso? Robôs não têm sentimentos.
- Não. Sou. Robô. – Ela falou. – Somos. Uma. Forma. Molecular. De vida. Que. Precisa. De. Uma forma de. Vida. Real. Para sobreviver. Um. Hospedeiro.
- A nossa vida? – Falei.
- Em. Partes. – Ela falou, olhando fixo em meus olhos. – Usamos. Um. Corpo de verdade. Mas. Precisamos. De algumas. Conexões. Para nos. Manter. – Suspirei.
- Isso é loucura. – Falei.
- Ela é um ser molecular que precisa de um corpo meio humano e meio robô para sobreviver? – Becky perguntou.
- Foi o que eu entendi. – Falei.
- Algo. Assim. – suspirou.
- Eu preciso saber se posso confiar em ti. – Falei.
- Sim. Vocês podem. Posso. Também. Mostrar como. Me. Reprogramar. Mas. Vão. Precisar. De mim. Inteira. Se. Quiserem. Resgatar a outra. . – Suspirei, balançando a cabeça.
- Confiamos? – Abe perguntou e eu suspirei.
- Somos. Evoluídos. Esqueceu? – falou e não sabia o que isso significava.
- Tirem o máximo de informações que conseguirem dela. – Virei para Ranya. – Eu preciso que você tire essa bala de mim.
- De novo? – Ela falou, revirando os olhos e eu ri.
- gosta de ser capturada, eu gosto de levar tiros. – Ela sorriu.
- Que casal, não?! – Rimos juntos e segui com ela para enfermaria.

Olhei para a construção no meio do deserto e olhei para Paul ao meu lado. Aquilo era muito estranho. Parecia um bunker no meio do nada. Era pequeno, como se fosse um banheiro e dava para perceber que as paredes eram muito grossas. Tinha alguma coisa muito errada ali.
- Acho que chegamos. – Falei, apertando o ponto em minha orelha.
- Ok. Vocês. Veem. Uma porta. De. Ferro. Certo? – perguntou.
- Certo. – Falei.
- A senha é. Dois. Nove. Cinco. Um. – Digitei o que ela falou e vi a tela ficar verde e um estalo ser ouvido.
- Entramos! – Falei e passamos pela porta, apontando as armas, mas encontrando somente um longo corredor vazio.
- No. Fim. Do. Corredor. Vocês encontrarão. Um. Elevador. – Eu e Paul andamos com as costas coladas, com medo que aparecesse alguém e nos aproximamos de um elevador, apertando o botão, vendo outra tela aparecer.
- Senha? – Perguntei.
- Quatro. Cinco. Sete. Zero. – Ela falou e apertei o mesmo, vendo-o abrir, também vazio.
- Tem certeza que estamos no lugar certo? – Paul perguntou. – Isso está incrivelmente vazio.
- Espero que sim. – Falei, entrando no elevador, vendo somente um botão ali. Apertei o mesmo e ele foi fechado e começou a descer.
Ele demorou muito para descer, muito mesmo. E a velocidade era até alta, fazendo com que meus ouvidos tapassem com a mudança de nível. Quando ele parou, eu e Paul erguemos nossas armas para o que pudesse vir atrás da porta.
Nada! Não tinha ninguém atrás da porta. Somente um longo corredor novamente com várias grades no mesmo.
- Não tem ninguém aqui! – Falei.
- Ela. Precisa. Estar aí. – falou e passamos por todas as grades.
Dava para notar que algumas pessoas tinham passado por ali. Pedaços de roupa, restos de tecnologia e algumas até com sangue. Eu e Paul apontamos para todas as grades, com medo de sermos surpreendidos. Até que chegamos à última.
Minha estava lá.
- Encontramos! – Falei e olhei para a grade dela.
- ! – Ela falou surpresa.
Ela estava sentada no chão, com o rosto cheio de machucados novos, além dos que eu estava acostumada. Sua pele estava mais clara, devido ao pouco sol que ela tomava, com algumas marquinhas vermelhas de sempre e os cabelos bagunçados. se levantou e eu abri um largo sorriso e me aproximei da grade, suspirando.
- A senha. É. Seis. Oito. Dois. Quatro. – falou e eu digitei os números no leitor e ouvi a grade destravar.
No segundo seguinte senti o portão ser aberto com força em cima de mim e me empurrar para trás. Minha saiu com pressa de dentro da grade, enfrentando Paul que estava na lateral. Ela vinha com socos e tapas em nossa direção. Com movimentos fortes de luta que eu nunca soube que ela sabia, sempre mexíamos com armas e não com luta corporal.
Segurei-a pelos braços e ela deu um forte chute em Paul, fazendo com que ele caísse no chão e ela pisou nas grades da lateral, passando por cima de mim e me chutando também, me fazendo ficar de joelhos. Senti um baque em minha cabeça e meu braço torcer loucamente, me fazendo franzir a testa e sentir o local do recente tiro doer.
- Desculpa, cara!
Paul passou por cima de mim, chutando pelo peito e ela caiu para trás, soltando minhas mãos. Agradeci pelo movimento e passei as mãos nos pulsos, me levantando e me preparando para atacar, mas já estava em pé novamente.
- O que aconteceu aqui? – Paul perguntou, desviando dos socos e eu suspirei, passando uma rasteira nela pelo corredor, vendo-a cair no chão.
Paul pisou em suas pernas, mas ela continuava se contorcendo, tentando ir atrás de nós com as mãos. Respirei fundo e virei o corpo dela de costas, sentando em cima dela e juntando seus braços fortemente uns no outro.
- As pernas, Paul. – Falei e Paul segurou as mesmas também.
ainda se contorcia, mas eu logo prendi seus braços fortemente com uma corda, vendo o local ficar vermelho e Paul fez o mesmo com as pernas. Ela podia se contorcer o quanto fosse, mas sozinha não sairia daquelas cordas tão fácil.
- O que foi isso? – Paul perguntou e virei de frente novamente, vendo seu rosto muito raivoso.
- Lavagem cerebral. – Falei, suspirando. – É por isso que aqui estava vazio, ela era a arma.
- Me soltem! – gritou e eu balancei a cabeça.
- Que frio, hein, cara? – Paul perguntou. – Enfrentar sua namorada. – Olhei para ela, os olhos até avermelhados.
- Essa ainda não é minha namorada. – Falei, respirando fundo. – Vamos levá-la. – Falei, pegando-a pelos ombros e Paul pelas pernas e voltamos para o mesmo lugar que viemos.
Coloquei-a na parte de trás do jipe e fizemos questão de amarrá-las nas laterais para que ela não tentasse pular do mesmo e voltamos para nosso local secreto. Agora eu tinha duas s, mas precisava resolver o que fazer com as duas. Uma robótica e uma com vontade de me matar.

- Para de se mexer! – Falei, apertando minhas mãos nos braços de e eu e Paul entramos novamente na resistência.
- Eba! – Alguém começou a comemorar, batendo palmas.
- Ainda não! – Falei e Nádia parou de aplaudir.
- O que aconteceu?
- Chame Ranya agora, a gente precisa sedar ela! – Paul falou e seguimos direto para a enfermaria, vendo o pessoal da resistência nos seguir.
- Vocês. Conseguiram. – falou e eu revirei os olhos.
- Ainda não! – Falei e eu e Paul a colocamos na maca.
- Me soltem! – Minha gritou e apertei as braçadeiras em torno de seus braços e suas pernas.
- O que está acontecendo aqui? – Abe apareceu, encontrando daquele jeito e nós dois bem suados tentando contê-la.
- Ela não é ela. – Falei, me afastando.
- Ela tentou nos matar. – Paul falou e eu virei o rosto para ele.
- Também não foi assim! – Falei e ele ponderou com a cabeça.
- Dá uma arma para ela para ver se ela não tenta. – Paul passou a mão na testa e eu senti a minha doer também.
- O que aconteceu? – Abe perguntou com mais calma.
- Fomos até onde disse e estava tudo vazio, tudo limpo, até estranhamos. Todas as senhas deram certo, foi muito fácil. Chegando à jaula, ela até pareceu feliz em nos ver e... Nos atacou logo em seguida. – Falei meio rápido, me sentando em uma maca vazia atrás de mim.
- Eu. Sei. O que. Está. Acontecendo. – falou e olhamos para ela. – Ela. Foi hipnotizada. Para. Te ver. Como. O inimigo. – Ela falou. – Ela. Conhece. Todos vocês. Mas. Ela os vê. Como. Malvados.
- Ótimo! – Assenti com a cabeça.
- Por isso foi fácil de entrar. – Ranya falou. – Ela era a arma, pensaram que ela os derrotaria. Só se esqueceram de entregar uma arma para ela. – Ela se aproximou rapidamente de , checando rapidamente os sinais vitais. – Sabe quem eu sou?
- Você é a Ranya. – Minha falou. – Outra traidora do...
- Tá, já entendemos. – Falei alto, suspirando. – O que fazemos?
- Hipnose reversa? – Nádia sugeriu.
- Isso pode demorar uma eternidade. – Ranya falou.
- Eles fizeram isso em uma semana. – Paul falou. – Não dá para ser mais rápido, não?
- Não é minha área de especialidade, Paul. Estou mais acostumada a tirar balas de idiotas várias e várias vezes.
- Obrigado! – Ele respondeu, me fazendo rir.
Me aproximei de e a via se contorcer na maca com os braços e pernas presos pela mesma. Seu rosto e olhos estavam vermelhos de raiva, sua boca chegava a espumar e as veias em seu pescoço estavam saltadas. Respirei fundo, me aproximando mais dela e notei a força que ela fazia para se soltar.
- Ei, amor. – Falei, respirando fundo. – Sou eu, .
- Não chegue perto de mim, seu imundo e...
- Ei! – Abe falou. – Não faça isso, você vai se arrepender.
- Você também, seu... – Bati forte em seu rosto.
- Acorda! – Gritei! – Saia dessa! – Respirei fundo e ela continuava me dando aquele mesmo olhar.
- Acho que não vai adiantar. – Becky falou e eu suspirei.
- Talvez. Você só. Não. Esteja chegando. No. Ponto. Certo. – se aproximou e olhou para mim. – Posso? – Ela perguntou e eu olhei para o pessoal que deu de ombros.
- Fique à vontade. – Falei, dando um passo para trás.
Eu não tive tempo para pensar. Em um segundo eu me afastei e no outro ergueu o lixo ao seu lado e bateu com força na minha , fazendo com que ela apagasse imediatamente.
- Ah, meu Deus! – Falei assustado, me aproximando.
- Não. Se preocupe. – falou. – Eu vou. Consertá-la. – Ela se virou para Ranya. – Bisturi. Por favor. – Ela falou e nos entreolhamos.
Ranya entregou um bisturi para ela e subiu a blusa de um pouco e fez um pequeno corte no quadril de . Não saiu sangue, mas saiu algo brilhante do mesmo, me fazendo franzir a testa quando pegou o mesmo.
- O que é isso? – Abe perguntou.
- É um. Chip. – falou. – É. Isso que. Colocam. Nos. Humanos para que. Eles. Virem nós.
- Eles estavam transformando-a em um robô?
- Mais ou menos. – Ela respondeu. – A. Intenção. Deles. Era. Com que. Vocês. A. encontrassem. E. Que ela. Os Matassem. Após isso. O chip dela. Seria. Alterado. E seria. Colocado. Um. Que tornaria. O corpo. Dela. Só. Útil para nós. – Ela virou para mim. – Ela. Estará. Bem quando. Acordar.
- Obrigado. – Falei e puxei um banco para perto de , vendo-a apagada.
- Eu vou dar um jeito nesses machucados. – Ranya falou e eu afirmei com a cabeça.

Foram quase 24 horas de tensão completa. Ela simplesmente não acordava. Eu dormi e acordei várias vezes e ela continuava travada na cama, com os braços e pernas presos à maca e os olhos fechados. Ranya fez um check-up em , limpou e suturou vários machucados recentes e não cuidados, provavelmente causados pela tortura nesses dias. Esperava que tivesse certa e que só o chip faria com que ela nos odiasse tanto.
Se não fosse pelos batimentos cardíacos, eu acharia que uma tinha matado a outra, mas não. Creio que sabia o que estava fazendo, ela era do Governo Imperial e estava nos ajudando. Não era grande coisa, mas estava valendo muito para mim.
- ? – Ergui o rosto, vendo com os olhos abertos e me levantei do banco, afastando alguns metros.
- Você está bem?
- Por que está agindo assim? Onde estou? O que aconteceu? – Ela perguntou.
- Você não quer me matar? – Falei, me aproximando devagar.
- O quê? – Ela falou, tentando levantar, mas movimentou os braços e pernas. - O que está acontecendo? - Ela sacudiu, tentando se soltar.
- É uma longa história. – Falei, suspirando e me aproximei dela, segurando sua mão. – Você tentou me matar.
- De novo? – Ela falou, me fazendo rir.
- Dessa vez foi sério. – Suspirei.
- Posso ganhar um beijo? – Ela perguntou mordendo o lábio inferior e eu me aproximei dela, apoiando a mão em sua testa e dei um curto beijo em seus lábios, me fazendo suspirar. Era minha menina de volta.
- Finalmente! – Falei e ela sorriu.
- Pode me soltar agora? – Ri fraco. – Não está confortável.
- Eu vou chamar a Ranya. – Falei, dando às costas, mas ela já estava ali. – Ah, oi! – Falei e ela se aproximou de .
- Acordou, é? – Ranya se aproximou com sua lanterna e foi testar os reflexos de . – Quem é você?
- . – Ela falou meio entediada e eu ri.
- O que pensa do Governo Imperial?
- Que tipo de pergunta é essa? – perguntou. – Não é por causa daquelas coisas que estamos presas aqui nessa montanha?
- Tá, tá! Já entendi. – Falei, rindo. – Só checando!
- O que está acontecendo aqui? – Ela se sentou após Ranya soltá-la. - Eu aqui, acorrentada, com Ranya me perguntando sobre o Governo... – Ela travou. – Que porra é essa? – Virei para trás vendo que ela tinha visto sua sósia. – Por que ela é a minha cara?
- , essa é a ; , . – Falei, vendo todo mundo rir, incluindo a versão robótica, menos a verdadeira. – Como eu disse, amor. Eu tenho muito que te explicar. – Ela balançou a cabeça.
- Uau, eu era muito bonita. – Minha falou e virei para ela.
- Você ainda é. – Falei, segurando sua mão e ela sorriu.
- Está. Na minha. Hora. – falou e viramos para ela.
- O quê? – Abe perguntou. – Por quê? Você pode ficar.
- Você não precisa ir. – Falei. – Você nos ajudou bastante.
- Enquanto. Estiver aqui. Eles. Saberão. A localização. De vocês. – Ela falou e nos entreolhamos.
- Não tem como desligar seu GPS ou algo assim? – Perguntei.
- Não tem. – Ela falou, dando um pequeno sorriso. – Eu e. O corpo. Somos. Um Só. – Nos entreolhamos.
- Mas nós podemos dar um jeito.
- Comigo aqui. Vocês poderão ser. Invadidos. A qualquer. Momento. – Suspeitamos.
- Tem algum jeito de te vermos novamente? – Abe perguntou, colocando a frente do grupo.
- Eu tenho. Um chip. Igual o da. Verdadeira .
- Ela fala sempre assim? – Minha perguntou baixo e eu assenti com a cabeça.
- Você se acostuma com o tempo. – Falei e ela sorriu, me abraçando pela barriga.
- Vocês. Podem. Tirá-lo. De mim. E quando. Encontrarem um corpo. Do bem. Implantarem novamente.
- Isso funciona sempre? Com qualquer chip? – Perguntei.
- Não. – Ela falou. – Só com. Chips nossos. – Suspirei.
- Nós só tiramos o chip de você? – Ranya perguntou.
- Sim. Mas precisam. Dar fim. A esse. Corpo. – Ela falou. – Mesmo sem chip. Ele. Ainda. Serve de hospedeiro. Para o. Governo Imperial.
- Quando acharmos um corpo bom, o que faremos?
- Façam. Um corte. Onde eu fiz. Na . E insiram. O chip. Ele será lido. Na hora. – Suspirei.
- Vou sentir sua falta. – Falei.
- Eu também. – Ela sorriu. – De todos. – Assentimos com a cabeça. – Só. Prometa. Que estarão. Todos. Aqui. Quando. Voltar. – Sorrimos.
- Vamos tentar. – Falei.
- Cuide de . – Ela falou. – Vocês. São. Perfeitos. Para o outro. – Sorrimos, nos abraçando de lado. - Melhor. Fazer. Isso agora. – Ela falou e nos entreolhamos.
- Deite-se, por favor. – Ranya falou e minha deu licença para a outra e a robotizada deitou na mesma, olhando para o teto.
- Tentaremos te trazer logo. – Abe falou, segurando sua mão e ela sorriu.
- Obrigada. Por tudo. – Ela sorriu e fez um movimento para Ranya. – Pode fazer.
Ranya fez um corte no mesmo local que tinha feito na minha e os olhos prateados da robotizada se fecharam imediatamente, fazendo com que o chip saísse levemente para fora, me fazendo respirar fundo.
- Melhor guardar isso muito bem. – Ranya falou e entregou a Abe.
- Vou guardar no cofre. – Ele falou e assentimos com a cabeça.
- Posso levar o corpo para o incinerador. – Paul falou. – Talvez seja a forma mais rápida e menos triste em se livrar dele. – Suspiramos.
- Sim. – Ranya falou.
- Talvez sim. – Assentimos com a cabeça e Paul pegou a carcaça, aparentemente leve do corpo de e saiu da enfermaria, me fazendo suspirar.
- Quem era ela, afinal? – olhou para mim.
- Ela era só um robô. Uma sósia sua que foi colocada em seu lugar. Mas ela foi mais humana que todos nós juntos. – Virei para ela. – Ela nos ajudou a te salvar e a te trazer de volta. – Ela sorriu.
- Creio que a melhor forma de retribuir é trazendo-a de volta novamente, certo? – Ela falou e eu sorri, assentindo com a cabeça.
- Só precisamos descobrir como. – Suspirei.
- Daremos um jeito. – Abe falou. – Toda ajuda é bem-vinda para combater o Governo Imperial. – Ele suspirou. - Vai ficar tudo bem.
- Vai sim. – cochichou, se aninhando em meu peito e eu sorri, apertando-a contra meu corpo.
- Vamos fazer uma revisão mais detalhada, senhorita? – Ranya se virou para . – Para não ter perigo de matar no meio da noite? – Rimos juntos e eu me afastei.
- Tudo bem. – Ela falou.
- Eu vou fazer uma ronda. – Falei. – Me encontre depois.
- No nosso lugar? – Ela perguntou e assenti com a cabeça.
- Por favor. – Sorri.


Epílogo

- Invasores próximos à porta. – Becky falou e eu e nos entreolhamos.
Largamos nossa refeição pela metade e saímos do refeitório, passando pelo armário, pegando algumas armas e seguimos em direção à entrada principal. Paul, Abe, Becky e outros seguiram conosco. Passamos pela garagem e apertamos o botão, vendo o hangar começar a se abrir, erguendo nossas armas para nossos inimigos novamente.
- Não atirem! – O pessoal de fora gritou e estranhamos, mas não abaixamos nossas armas.
Assim que o portão se abriu por completo, olhamos para frente e um grupo de umas dez pessoas estava parado no fim do túnel, todas com as mãos erguidas e todas desarmadas. Eu, Paul e Abel nos aproximamos devagar, observamos todos, vendo os olhos prateados iguais de nossos inimigos.
- Quem são vocês? – Abe perguntou.
- Refugiados. – Um deles gritou. – Somos igual a GT7. – Franzi a testa. – Fomos colocados. Em um corpo. De humanos. Mas nos. Afeiçoamos. A. Vocês. E fugimos. De nossa. Missão.
- Quem é GT7? – Perguntei.
- Vocês a conheciam. Como. . – Ele falou e me aproximei, ainda com a arma erguida.
- E como vocês estão aqui? Ainda são hospedeiros de corpos inocentes? Ou estão no corpo robô ainda? – Perguntei.
- Nenhum. Dos dois. – Ele falou. – Nosso chip. Funciona. Em corpos. Que não respiram. Mais. – Eu e Paul nos entreolhamos. – Gostaríamos. De asilo... – Ele falou. – Viver em família. – Suspirei.
- O que fazemos? – Cochichei para Abe que abaixou sua arma.
- Acho que podemos confiar. – Ele falou. – O que vocês trouxeram?
- Só isso. – Eles ergueram as mãos. – Sem malas. Sem armas. Só o corpo. – Suspiramos.
- Vamos para dentro. – Abe falou. – Faremos um teste com vocês. – Ele falou e eu abri espaço, vendo as pessoas de diferentes raças passarem por nós, a única similaridade eram os olhos prateados.
- Fácil assim? – Virei para Abe.
- Veja se já deram fim nos mortos da noite passada. – Abe falou. – Tente inserir o chip.
- Em quem? – Perguntei.
- Na Molly. – Abe falou. – Ela foi uma grande perda, mas era uma pessoa muito boa. – Assenti com a cabeça e puxei Paul para dentro.
Seguimos para falar com Benny se não tinham dado um fim em Molly ainda. Seu corpo pequeno, pálido, mas jovem ainda, estava intacto. A levamos para a enfermaria e colocamos seu pequeno corpo na maca, me fazendo respirar fundo.
- Que porra está acontecendo aqui? – apareceu ao meu lado. – Estão deixando um monte de... Daquilo entrar?
- Ei! – A repreendi. – Eles pediram asilo. Talvez sejam confiáveis a ponto de ficar. Como GT7 era.
- Quem? – Ela perguntou.
- Aparentemente esse era o nome da outra .
- Criativo! – Ela riu e olhou para a maca. – E o que o corpo da Molly está fazendo aqui? – Ela se virou, suspirando. – Eu não consigo olhar para ela.
- Vamos fazer um teste. – Abe apareceu com o chip em suas mãos. – Moira fez alguns ajustes no chip. Se isso der certo, é para ela vir como ela mesma, não como a configuração que o Governo Imperial fez com ela. – Ponderei com a cabeça.
- Esperto! – Falei.
- Faça o corte, Ranya. – Abe falou e nossa médica se aproximou do corpo pequeno e frágil de Molly e fez um corte na barriga, vendo o sangue começar a deslizar devagar. Talvez o corpo já estivesse se deteriorando.
- O chip, por favor. – Abe entregou à Ranya que o colocou no local, vendo o corpo sugar o chip e fechar o corte sozinho, nos surpreendendo.
- E agora? – Perguntei.
- Esperamos que dê certo. – Ranya falou e encaramos Molly.
Fazia quase um ano em que guardávamos esse chip. Nada havia mudado desde que a outra se fora. Ainda enfrentávamos uma dominação na Terra, ainda tínhamos invasões quase semanais em nosso refúgio, mas a vida tinha voltado a ser aquela de antes, só menos interessante do que quando era com uma voz robotizada próximo de nós a todo o momento.
Talvez o Governo Imperial estivesse perdendo o controle até da sua própria espécie. Não era a primeira vez que acolhíamos pessoas de olhos prateados. Tínhamos dois que moravam conosco. E nunca tivemos problemas, nem de violência conosco ou de problemas com o Governo mais frequente.
Ouvi um estalo, quase como de grandes engrenagens se mexendo e olhei para o corpo de Molly e vi os olhos se abrirem e se tornarem prateados, me fazendo abrir um largo sorriso. Ela se sentou na cama com um largo sorriso no rosto e eu sorri.
- Olá. Meus. Amores. – Ela falou e rimos felizes. me abraçou de lado e senti meus olhos marejarem.
- GT7? – Perguntei e ela suspirou, me fazendo rir.
- Há anos. Não. Me chamam. Assim. – Ela sorriu. – Mas. Podem. Me chamar. De Gate. – Ela se virou para nós. – Gate Seven.
- É um prazer te conhecer, Gate. – se aproximou, abraçando-a fortemente. – Sentimos sua falta.
- Eu. Também. – Ela abriu um largo sorriso. – Eu também.




FIM!



Nota da autora: Uma ideia de A Hospedeira, juntada com alguns detalhes de Jogos Vorazes dá no quê? Hahaha. Essa é a minha música favorita desse álbum e o plot veio como uma luva para mim. Ficou curtinha, talvez até confusa em algumas partes, mas eu realmente gostei de ter podido escrever ela! Então, espero que vocês tenham gostado! Não se esqueçam de deixar seu comentáriozinho aqui embaixo e caso tenha gostado e queira mais histórias minhas, acompanhe pelo grupo do Facebook.
Beijos, beijos!



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