FFOBS - 07. Idas e Voltas, por Rute Ester

Postada em: 04/03/2018

Capítulo 1


Essa é a história de como voltou a viver. E quando eu digo viver eu quero dizer realmente viver, não apenas respirar, mas sim se permitir, aproveitar as oportunidades, se divertir, apostar no que ela acredita, ver o belo na vida e não deixá-lo escapar, pois acredite, a vida passa em um piscar de olhos e você tem que aproveitá-la antes que seja tarde demais.

XxX

- , eu já te disse, não vou trabalhar hoje! Saco. - gritou com a amiga, que por acaso também era sua colega de trabalho.
- , você perdeu a cabeça? Você é a editora chefe dessa revista, não pode decidir não ir trabalhar hoje! - caminhava com passos largos e rápidos na vã tentativa de acompanhar a amiga pelas ruas de Nova Iorque.
- Eu posso. -Afirmou bebendo o último gole da lata de Coca-Cola que tinha em mãos. -E vou.
- Porra! O que aconteceu com você, ? Você está bem? - segurou o braço da amiga a fazendo parar compulsoriamente e olhar para seus olhos involuntariamente.
- Eu estou bem. - Respondeu com a voz seca e um pouco atrapalhada. conhecia demais para acreditar na velha mentirinha do "Eu estou bem, juro." Caramba, as duas fizeram o ensino fundamental juntas, o ensino médio e até cursaram Jornalismo na mesma turma. Eram e , e , o goals de praticamente muitas amizades por ai, não guardavam segredos uma da outra. Mas algo estava errado, sabia pela forma como a olhava que a garota estava longe de estar bem.
- Você sabe que pode contar comigo, não sabe? - Os olhos de se embargaram de água e lutava para não as soltar, pois temia que se o fizesse não seria capaz de parar. - Eu estou aqui e vou estar aqui por você, . Os seus maiores medos você pode me contar e nós vamos combatê-los juntas, porque nós somos a porra das amigas de Barbie e o castelo do diamante, lembra? - abriu um largo sorriso após compartilhar a lembrança fazendo a amiga sorrir e derrubar algumas gotas dos olhos.
-Ai, . - Sorriu fraca. - Numa escala de 0/10 o quanto eu sou sortuda por ter você como amiga?
- Eu diria que 10/10 com toda certeza. Agora vamos, enxuga essas lágrimas, vamos ao trabalho e você vai fazer o que você ama, mandar nas pessoas. - gargalhou alto chamando atenção de algumas pessoas que passavam pela calçada desviando delas. - E assim que o expediente acabar, nós vamos tomar um porre e você vai me contar tudo que aflige essa cabecinha. Ok?
-Okay, , você venceu. - Estendeu o braço para a amiga, que o aceitou prontamente, e caminharam para a entrada do tão sonhado prédio da Vogue.
XxX

- , você já está trancado nesse quarto há 3 dias! Para com esse drama! - ouviu os batidos incessantes na porta e lançou um travesseiro contra a mesma bufando de raiva. - Você levou um pé na bunda, não é o fim do mundo! - mais batidas e gritos.
- Caralho! - Caminhou até a porta pisando forte sem se importar onde estava pisando ou se estava de chinelo. - Não enche meu saco! - Abriu a porta com tudo.
- Ah, eu encho sim. - a menina se pronunciou. - Você pode até ser meu irmão, mas eu não vou mais pagar o aluguel sozinha.
- Você também só pensa nisso, só fala nisso. - Bufou nervoso passando as mãos desastradamente pela cabeça. - Eu te pedi um tempo sozinho, por que não pode me dar? - O rapaz questionou, mais calmo agora.
- Eu te dei, , te dei 3 dias. Não é como se alguém tivesse morrido, que exagero, cruzes. - A menina saiu andando de braços cruzados até a cozinha e a seguiu.
- Exagero, Amber? Eu estava noivo e, de um dia pro outro, meu noivado simplesmente acabou. A gente tinha tudo planejado e ela nem se deu o trabalho de avisar que estava fodendo com meu melhor amigo pelas minhas costas esse tempo todo. - Riu sem graça. - Eu vendi meu carro pra pagar a festa que ela queria...
- Porque você é burro! - Exclamou a irmã de supetão. - Burro! Idiota! Que não ouvia conselhos de ninguém.
- Vendo você falar desse jeito até parece que ficou feliz com tudo isso que aconteceu comigo.
- Feliz não, mas acho que foi bom pra você ver que estamos num mundo real, não em uma dessas historinhas que você fica escrevendo por aí, pra você se tocar que pessoas são más! -Suspirou.
- Você não é mais o meu caçula, , eu não posso mais te proteger. - Desabafou largando os copos que tinha na mão e fechando os olhos. - Eu acho que é hora de você arrumar um emprego de verdade.
- Eu tenho um emprego de verdade. Eu sou escritor.
- Não, , você não é. Porque escritores publicam livros e você não publica nada.
- Ainda. - Acrescentou. - Por favor, Amber, mais esse mês na sua conta e eu prometo que depois te pago tudo de volta, está vindo uma proposta e...
- Chega, . - Falou quase engasgada
- Amber...
- Eu odeio ser a pessoa a ter que te dizer isso, mas está na hora de crescer.


Capítulo 2


se ausentou um pouco mais cedo do que o habitual, ainda pretendia sair com sua amiga, só precisava caminhar um pouco pelas ruas da sua amada cidade e espairecer um pouco, o dia de hoje estava sendo o pior dia da sua vida toda.
Quando ela recebeu aqueles resultados, ela teve a certeza de que sua vida não poderia ficar pior, não poderia porque aquilo já era grande demais, triste demais, mórbido demais. Arrepiava-se só de lembrar, não queria contar a ninguém o que estava acontecendo com ela, a sua dor era a sua dor, o quão injusto seria partilhar da mesma? Não era justo. Nada era justo. Ela tinha só 25 anos! Porra! Ela só tinha 25 anos e...
- Aiiii. - Gritou fechando os olhos ao sentir um líquido gelado e grudento se espalhar pelas suas roupas e pele.
- Ai, meu Deus. Me desculpa. Me desculpa. - Abriu os olhos lentamente receando constatar o que era aquilo que havia sido derramado nela, demorou poucos segundos para absorver a informação de que o líquido era apenas Coca-Cola, derramada por um rapaz. - Deixa eu limpar isso. - O garoto tirou o cachecol todo atrapalhado e pressionou contra seu busto, na vã tentativa de secar.
- Você só está piorando! - Exclamou nervosa, se afastando do garoto que a olhava confuso, só queria ajudar.
fez uma careta emburrada enquanto tirava seu blazer ensopado, quanta Coca-Cola tinha naquele copo, afinal?
- Ah, droga. Não, não, não. - O menino abaixou-se rapidamente recolhendo papéis secos e molhados totalmente espalhados pelo chão, ela se permitiu espiar um pouco o que era. "Bem feito." - Pensou, mas se auto reprimiu no ato. - O menino parecia desesperado e só estava deixando tudo pior, porque estava rasgando as folhas molhadas ao tentar recolhê-las do chão. Acenou com a cabeça para o lado e se agachou o mais precisamente que seus saltos e saia justa permitiam, recolhendo com mais cuidado as folhas escritas.
- Não precisa me ajudar. - Retrucou o mesmo. - A culpa foi minha, eu sou muito desastrado.
- Olhou em seus olhos e percebeu que ele tinha olhos , muito bonitos, diga-se de passagem.
- Foi um acidente, acidentes acontecem. - Se pôs de pé com um maço de folhas em suas mãos. Pouco tempo depois o rapaz também se levantou.
- Obrigado. – Sorriu tímido. Ele era fofo, admitiu.
- Não foi nada. Aqui os seus... o que quer que sejam. - Esticou a mão e devolveu ao dono.
- Meus rascunhos, do meu livro. - prendeu todas as folhas juntas com um daqueles acessórios de escritório que ela simplesmente nunca lembrava o nome.
- Você tem um livro? - Questionou curiosa.
- Bom, não ainda. - Colocou os papéis debaixo do braço e coçou o pescoço de leve, envergonhado. somente semicerrou os olhos. - Mas vou ter. - Complementou.
- Boa sorte então...? - Indagou na tentativa de saber o nome do aspirante a escritor desastrado.
- .
- Boa sorte então, . - Enfatizou o nome do rapaz e seguiu na direção que estava indo antes de tomar um banho de refrigerante, sem saber que estava deixando um garoto atordoadamente encantado por ela para trás.

Xxx

já saiu de casa estranhando o fato de que já eram 2h da tarde e nada tinha dado errado ainda, não demorou muito para o universo mostrar para ele que só estava em um pequeno break. Comprou um copo de refrigerante com os últimos trocados que tinha no bolso e só tinha dado um gole antes de derrubá-lo todinho em uma estranha, e no seu próprio livro também. Teria ficado com raiva, afinal, agora estava com sede e teria de redigir todas as páginas danificadas, mas estava com muita vergonha pra isso. Foi tentar ajudar e se viu com as duas mãos por trás do cachecol bem nos peitos da menina. Ótima ajuda, parabéns, .
Talvez escrevesse sobre isso mais tarde, um encontro descontraído entre os principais onde o pp pegaria nos peitos da parceira acidentalmente durante o primeiro encontro. Bufou frustrado, tinha que parar de criar histórias em sua cabeça, no final das contas a garota foi embora e ele nem soube o nome dela, foi assim que aconteceu, não era um romance, aquilo era vida real.

XxX

“- Boa tarde, senhor. Eu me chamo e eu...
- Não estamos contratando."

Okay, primeiro não. Respirou fundo e partiu para o próximo jornal.
"- Boa tarde, senhora. Me chamo , sou formado em Letras e estava pensando se...
- Olha, garotinho, nós não empregamos menores de 18 anos.
- Ah, não, mas eu sou maior de... - a mulher bateu a porta em sua cara."

Próximo
“- Boa tarde, meu...
- Não."

já estava desistindo, havia visitado todos os jornais do bairro, visitou inclusive a sede de um que hospeda o jornal online ao invés de imprimir. Tudo em vão. Estava cansado, com fome e tinha recebido 34 nãos.
- Por favor, não me decepcione. - Se agarrou no último post it com um endereço. Subiu pelo elevador e encontrou a equipe de redação. - Uau. - Disse boquiaberto, era uma sala enorme com várias pessoas escrevendo e ouvindo músicas. Se imaginou fazendo parte daquilo.
- Hey, você! Parado aí! - Apontou uma moça com voz de autoridade e congelou, engolindo e seco enquanto os passos da tal mulher se tornavam mais audíveis e ela se aproximava. - Cadê as minhas pizzas? - Perguntou.
- Deve estar havendo algum engano, eu... Eu não vendo pizzas. - Ela ergueu as sobrancelhas esperando uma explicação melhor que esse gaguejo que saiu de sua boca. - Quer dizer, eu não entrego pizzas.
- Então o que está fazendo aqui? - Ela começou a caminhar rápido. - Essa área é só para redatores e escritores.
deu um passo para conseguir acompanhar ela e quase caiu, tropeçando em uma lixeira, se recuperou rapidamente e voltou a corrida. Jesus, ela andava muito rápido.
- Eu queria te perguntar se vocês estão contratando. Ahn... Eu sou formado em letras pela NYU! - Acrescentou aumentando razoavelmente o tom de voz para prender a atenção da moça que só o encarava por trás de uma mesa bagunçada - E trabalhar aqui seria uma grande oportunidade. E me chamo - Acrescentou atrapalhadamente. "Isso é o melhor que pode fazer, ?" Xingou a si mesmo por ter se atrapalhado todo.
- Olha, nós estamos precisando de mais alguém para escrever a coluna de entretenimento. Você escreve?
- Sim, sim, sim, eu escrevo - Disse tudo de uma vez só, sem pausa, fazendo a mulher sorrir.
- Traga pra mim algo que escreveu até o fim dessa semana e faremos uma avaliação. O resultado de quem conseguiu a vaga sai daqui 2 meses.
- Tudo isso?
- É pegar ou largar. - Ela estreitou os olhos tentando enxergar algo pelo corredor. - Ai, graças a Deus, o cara da pizza chegou.
acenou decepcionado, vendo a mulher correr até o entregador, dois meses eram melhor do que nada certo? Droga, Amber não ia esperar dois meses.
Caminhou bufando até o elevador e acabou por descer junto com o entregador de pizzas que contava a gorjeta. Talvez...
- Ei, me desculpe, mas você sabe se estão contratando onde você trabalha? - questionou o rapaz meio decepcionado. Parece que viraria entregador de pizzas, afinal.

XxX

- , essa sua ideia de trazer sorvete e vinho aqui pra casa foi de longe a sua melhor. - Abri a porta a deixando entrar com um sorriso largo.
- Essa não é toda a programação, vamos pedir pizza e assistir Simplesmente Acontece pela vigésima vez.
- 20 e contando. - Acrescentei enquanto pegava o pote de sorvete o colocando na geladeira.
- Podemos ver cartas para Julieta também?
- Por que não veríamos? -Sorriu.
colocou as duas garrafas de vinho em cima da bancada de .
A casa da menina chegava a ser imaculada de tão branca e sofisticada.
- Vamos pedir logo essa pizza, que eu estou com fome. - exclamou indo em busca do telefone celular que estava jogado no sofá, rolou a lista de contatos e achou o Pizza Hut, ligou rapidamente solicitando uma pizza de calabresa e uma de chocolate.
- Confesso que você me deixou preocupada mais cedo. -S helby admitiu enchendo duas taças de vinho pela metade. - Vai me contar o que aconteceu? - abriu a boca, mas a interrompeu. - E por favor, , sem mais mentiras.
respirou fundo se apoiando na bancada e dando um longo gole do líquido recém posto.
- Eu estou doente. - Disse simplesmente e sorriu ironicamente sem mostrar os dentes.
- Como assim doente? Você está com gastrite, ou bulimia... Depressão? - A Loira perguntou curiosa com os olhos arregalados, o que só deixava mais triste e frustrada.
- Eu tenho o que eles chamam de aneurisma cerebral. - Engoliu seco. - E ele já ocupa boa parte da minha cabecinha. - Sorriu com os olhos embargados.
- , com essas coisas a gente não brinca. - retrucou se agarrando a esperança de ser apenas uma brincadeira sem graça, mas, infelizmente, não era.
- Eu não estou brincando. - Respirou fundo enchendo os olhos de água involuntariamente. - Queria muito estar, mas não estou.
Fez-se um silêncio profundo na sala.
- Então... - A loira começou baixinho com a voz embargada. - O que você vai fazer? Tem algo que se possa fazer, não é? - Questionou e viu balançar a cabeça com um sorriso singelo. - Mas tem que ter, você tem que fazer algo, ! Você não pode simplesmente... simplesmente... morrer. - sentiu a garganta queimar ao dizer a última palavra, não estava preparada pra esse momento, não conseguia nem viajar sem , uma vida toda sem ela por perto, não parecia real, era inimaginável.
olhou para cima segurando ao máximo o choro que insistia em cair, estúpidas lágrimas, estúpidas! Desabou ainda mais quando viu que a amiga já tinha o rosto vermelho e molhado. Abraçou com toda a intensidade que pôde, nada disso era pra estar acontecendo.
- Por favor, não chore. Vai ficar tudo bem. - Acalentava a amiga e dizia o que ela mesma precisava ouvir.
- Mas você pode fazer uma cirurgia, não pode? Eu vi isso naquela série de tv uma vez. - fungou e sentia esperança em sua voz ao lembrar dessa possibilidade, mas para ela não era uma opção.
- É muito arriscado, , está localizado no lóbulo frontal, lá está tudo que eu sou, minha fala, minha visão, minhas memórias, eu não quero me transformar em um vegetal.
- Mas o que os médicos disseram?
- Eles disseram que podem tentar, mas eu tenho que estar ciente dos riscos e eu estou, por isso não quero. Quero ser eu mesma até o último momento, quero poder comer sorvetes e hambúrgueres o máximo que eu puder, e não ficar de jejum para fazer exames. Eu quero visitar lugares diferentes, não quartos de hospitais. Eu vou morrer de todo jeito, . -Suspiro fundo. - A única decisão que me cabe é escolher como. - desviou o olhar, não quis olhar para , ia se martirizar enquanto estivesse aqui por fazer a amiga passar por isso.
Ouviu a campainha tocar e fez-se um silêncio na sala. - Que momento mais importuno. - pensou. repunha sua taça de vinho mais uma vez, por isso pensou em ir vem quem era enquanto a mesma tirava um tempo para digerir tudo aquilo.
Caminhou em passos descompensados até a porta e a abriu, dando de cara com o rapaz da pizza, já havia até esquecido que tinha pedido.
- Sua pizza. - disse o rapaz como se não fosse óbvio.
- É, eu sei. Espere aqui um momento vou pegar o cartão. - Pegou as duas caixas de pizza ainda atordoada e colocou sobre o balcão, tentando se forçar mentalmente a lembrar onde estava o cartão de crédito.
- Eu não consigo, , eu não consigo ver você morrendo e ficar bem com isso... Eu vou... Eu vou pra casa, eu vou achar um jeito. - disparou sem dar tempo ao menos de pensar ou responder alguma coisa e saiu em largos em direção a porta assustando o entregador.
- Que droga! - Esbravejou sentindo os olhos se encherem de água e rapidamente começaram a derramá-las. Em meio aos soluços continuou procurando o maldito cartão na sala, e jogou a bolsa longe. - Eu não sei nem aonde está essa merda de cartão. - Foi vencida pelo desespero e sentou no sofá chorando tudo que estava segurando.
Deus sabe que ela não queria chorar, não queria, mas foi mais forte que ela, estava se desmanchando.
Sentiu um braço ao seu redor e um perfume que não conhecia. Abriu os olhos ainda embaçados e viu que o menino da pizza a abraçava e isso só deu mais vontade de chorar, e foi o que fez por mais alguns minutos, antes de finalmente dizer algo com sua voz embargada.
- Eu nem te conheço. - Disse simplesmente
- Pra falar a verdade, na hora que eu te vi gritar eu tive certeza que você era a menina cujo derramei Coca-Cola mais cedo. Então, tecnicamente você me conhece. - Arriscou uma piadinha. Fora de suas histórias nunca fora muito bom em manter diálogos com alguém, nem sabia demonstrar nada, fazia das piadas sarcásticas e irônicas sua... armadura. É, armadura. Gostava de pensar nelas como algo assim. sorriu tão fraco que teve certeza que menino nem percebeu.
- O menino do livro não publicado. - Fungou, enxugando o rosto com as mãos.
- Bom, os íntimos me chamam assim, mas como acabamos de nos conhecer, eu sugiro . - dessa vez ele viu um sorrisinho de lado brotar no rosto molhado da garota. - E qual seu o seu nome?
- .
- , você está melhor? - perguntou.
- Não, mas não precisa se preocupar, o que eu estou sentindo vai passar. - sentiu um tom de tristeza na voz de e desejou tanto ser alguém que pudesse ajudá-la. - Eu devo estar te atrasando, né? - Fungou e se pôs de pé vagarosamente.
-Não, de verdade, não está. - Ele a observou ir até o outro lado da sala e se agachar ao lado da bolsa que tinha jogado e pegar algumas cédulas.
- Eu vou te pagar em dinheiro, não sei onde coloquei o meu cartão. - Estendeu a mão entregando a o dinheiro, já sabia o preço pois foi dito durante a ligação e ele se sentiu mal ao pegar as notas. Permaneceu mais alguns segundos parado olhando as notas antes de decidir ir embora.
- Moça... . -Se corrigiu. - Você tem certeza que vai ficar bem?
- Tenho. - Abriu um sorriso singelo, sabia tão bem que não era verdade.
Ele assentiu com a cabeça e caminhou até a porta, caminhou ao seu encalço a fim de fechar a porta. - ? - Chamou o menino que estava na metade do corredor, ele virou a cabeça curioso.
- Espero que você publique logo o seu livro. - Sorriu e fechou a porta atrás de si, olhando além de seu apartamento todo planejado, porém vazio. Em meio a tudo estava sozinha, sentou se no chão e chorou como um bebê.


Capítulo 3


O sol nasceu e os raios entravam pelos vidros da janela de .
Não tinha dormido nada, trabalhou até as 2 da madrugada e estava com uma ideia pra uma de suas histórias, teve que colocar pra fora antes de dormir.
Levantou preguiçoso e foi até a cozinha, Amber já havia ido trabalhar, foi até a cafeteira e se serviu um pouco de café.
Comia alguns biscoitos distraidamente quando sua mente vagou e parou na menina da pizza de ontem. era o nome dela.
Ela era linda, tinha os olhos intensos e a voz…. Ah, a voz dela era simplesmente encantadora.
- Ele se repreendeu por estar pensando esse tipo de coisa de uma desconhecida. Mas ela tinha um apartamento legal. Acrescentou mentalmente bebendo um gole do seu café.

Sentou-se na sala e pegou o notebook, a fim de desenvolver sua pequena história para entregar à editora. Retratava na mesma um menino de coração partido, mas algo estava errado, tinha 15 páginas escritas e não sentia vontade de continuar, estava tão... sem graça. - Está uma merda. - Se completou bufando.
Abriu outro documento no word, ia recomeçar.
"Estava acontecendo uma comitiva na cidade."
Comitiva? Não, apaga isso.
"Acontecia na cidade uma convenção que reunia os melhores cineastas do estado da Califórnia. George estava concorrendo em uma das categorias, melhor roteiro, para ser mais exato..."
Será que eu tenho que apresentar o George antes? Tá, mas quem eu quero que o George seja? "...George Michigan era um escritor nato, vinha de uma linhagem de escritores e figuras importante para a história do Cinema, filho da grande produtora e Roteirista Megan Wandere e do ovacionado John Michigan escritor e roteirista da saga ‘Até o último herdeiro’. Na cabeça de George, ele devia apenas receber o prêmio, seu roteiro para o filme independente ‘Amador’ era alvo de ótimas críticas, quem estava a altura para ser seu concorrente? Caminhou até a ala separada para os roteiristas darem as entrevistas e avistou uma menina dando autógrafos mais a frente com um sorriso estonteante, trocaram olhares e George curioso perguntou a um dos camera-man:
- Quem é aquela moça?
- Aquela é Mitchel, sua concorrente."


estava orgulhoso do que havia criado em tão pouco tempo. Já podia imaginar uma trilogia vindo só dessa ideia, definitivamente iria trabalhar em cima dela, mas espera, ia mesmo usar o nome da menina? Não é como se ela fosse a única no mundo, certo? E além do crush imediato, não teria nada a ver com a vida real. Decidiu deixar assim mesmo e se acomodou, iria escrever e com sorte teria algo para apresentar sexta-feira, Deus queira que isso conquiste quem for decidir.

Xxx

FlashbackOn


estava sentada na maca do hospital vestida com uma daquelas roupas que eles te vestem para fazer uma série de exames.
Estava tremendo, enroscava os dedos das mãos um no outro, nervosa. A porta se abriu repentinamente revelando o médico, fazendo saltar de susto.
- Senhorita , como vai? Está passando bem?
- Ah, não muito...- Sorriu tímida. - Pode me especificar o que a senhora está sentindo? -Se pôs em frente dela, olhando seus olhos com uma mini lanterna.
- Eu estou sentindo várias coisas, provavelmente não deve ser nada. Sinto muita dor de cabeça, quase todos os dias, como se fosse uma enxaqueca muito forte, sabe? Mas eu passo muito tempo no trabalho, pode ser isso. - O doutor anotava algo em sua prancheta que ela desejou fortemente ver. - Fico um pouco tonta às vezes, e tive dois ou três desmaios esse ano. -Engoliu seco, queria muito acreditar que não fosse nada.
- Há quanto tempo você vem sentindo essas coisas?
- Há menos de um ano eu acho, não tenho certeza.
- E sua memória?
- Minha memória? Eu não sei, acho que costumava ser melhor, mas às vezes eu fico um pouco desorientada, sabe?
- O quão fácil?
- Tipo, eu fico tonta e demoro um tempo pra lembrar onde estou, mas isso acontece em questão de segundos. - A cara séria do Dr. Makenzie a assustou.
- Estou te encaminhando para mais alguns exames, vamos aproveitar que você já está aqui e de jejum. - Assentiu preocupada.
- Você tem alguma suspeita do que seja?
- Não vamos nos antecipar, certo? - Sorriu e deu uma palmadinha leve nas costas dela.

Flashback off


estava no meio de mais uma das infinitas reuniões semanais onde apenas assentia com a cabeça. Estava muito ansiosa e não estava com a mínima vontade de estar ali, mas anotava as considerações postas em sua agenda mesmo assim.
- Certo, mais alguma coisa? - Exclamou desanimada torcendo para que ninguém abrisse a boca, mas é claro que, com a sorte que ela tinha, alguém faria isso.
- , nós temos um problema. - Lucca, o fotógrafo do mês, levantou a mão. - A Gigi Hadid disse que não vai mais posar para a capa de fevereiro.
- Como assim não vai mais? - Indagou, inclinando involuntariamente o corpo para frente sobre a mesa.
- Ela disse que não estava se sentindo bem no ambiente. Talvez você deva perguntar a Lucca o porquê. - Milla cruzou a conversa.
- Será que alguém pode me explicar o que aconteceu? - A menina questionou com a voz firme.
- Lucca chamou ela de estrelinha, na cara dela. - Milla alfinetou com um sorriso de lado e viu o fotógrafo enrijecer.
- Eu não pensei que ela fosse ouvir!
- Claro que não pensou! - aumentou o tom de voz.
- Ela estava reclamando porque não tinha uvas no camarim!
- E qual é o problema? Se a modelo quer uvas você consegue a porra das uvas pra ela! - Esbravejou e a sala inteira ficou calada. - E agora o que devo fazer, uh? A edição de janeiro sai hoje e a modelo de fevereiro desmarcou em cim a da hora por culpa de um fotógrafo incompetente!
- Eu sinto muito. Eu... - apontou o indicador na direção da porta.
- Lucca, pelo que é mais sagrado, vá embora. Antes que eu arrebente sua cara com minhas próprias mãos. - O homem pegou seus cadernos e rapidamente escapou da sala. Ele que não ficaria pra enfrentar a Cruella, nome que carinhosamente recebeu dos seus funcionários.
- A qual ela nem sonhava.
- E você, Milla, você vai conseguir outra pessoa tão famosa e tão bonita quanto.
- Mas... - Abriu a boca pra falar, mas foi rapidamente cortada.
- Estamos entendidas? - disse lentamente, porém com a voz tão firme que ninguém ousou refutar. - Mais alguma coisa? - Semicerrou os olhos ao perguntar e não obteve resposta. - Ótimo, agora voltem às suas salas.
As pessoas saíram desordenadamente da sala deixando sozinha.
Ela se debruçou sobre a mesa com os braços cruzados sem vontade nenhuma de levantar, quando ouviu alguém bater na porta. Era impossível relaxar naquele lugar.
- , posso entrar? - a voz da amiga soou pela sala e levantou o olhar rapidamente.
- . - Sorriu sincera.
- Desculpa não ter participado da reunião. - A menina foi entrando e fechou a porta atrás de si.
- Fiquei presa no trânsito.
- Tudo bem, ao menos você não passou raiva com os 7 anões incompetentes e insubordinados. - se referia aos 7 diretores que participavam da reunião com ela e deu uma risadinha.
- Nunca uma revista teve tantos personagens da Disney. - a encarou sem entender e a outra deu de ombros. - Deixa pra lá. Vim trazer pra você um presente.
- O quê? - A garota ergueu a cabeça curiosa. pôs sobre a mesa uma pasta cheia de papéis.
- O que é isso?
- Abre. - puxou um dos papéis e logo percebeu do que se tratava. - Eu passei a noite toda pesquisando e vi que aqui em Nova Iorque tem um médico muito conhecido por operar aneurismas e deixar os seus pacientes vivos! Isso não é maravilhoso?
- , eu já te disse...
- Por favor. - Esticou as duas mãos para a frente. - Me prometa que vai ler, por mim.
- Tudo bem, . Eu leio. - Se deu por vencida. - Mas eu não te prometo nada e eu falo sério quando eu digo isso.
- Só me prometa que você não vai desistir fácil. - A amiga abraçou a outra de lado apertando o máximo que pode.
- Com você me apertando assim não vai ser fácil sobreviver muito mais. - Brincou e as duas gargalharam.
- Por que você só é um amorzinho comigo? - se debruçou sobre a mesa distraída mexendo no cabelo de .
- Porque as outras pessoas são imbecis.
- Realmente. - A garota assentiu com a cabeça refletindo e gargalhou.
- Pra completar a Gigi simplesmente desistiu de ser a nossa capa em cima da hora por conta do Lucca. - Bufou.
- Eu sei, fiquei sabendo ontem, na verdade. Mas como sou uma ótima funcionária e amiga, já conversei com a Gigi, agora há pouco, inclusive. Ela vai vir amanhã tirar as fotos. - arregalou os olhos surpresa e abraçou .
- Você é a melhor! O que eu faria sem você?
- Nada.
- True. - Admitiu.
- Já está quase na hora do lançamento da revista, vamos acompanhar? - olhou no relógio e se pôs de pé. Essa era a hora que mais gostava, particularmente, eles lançavam primeiro a versão digital para assinantes e garantiam que, sem falta, às 12h as novas edições da revista físicas estariam nas bancas. É claro que existia toda uma equipe por trás, os rapazes que faziam as entregas às 10h em ponto para que nenhum engraçadinho coloque a revista para vender antes, ou passe para outras revistas o que saiu na deles. Ela amava fazer parte disso, uma coisa pode dizer, fazia o que gostava, todos os dias.
Caminhou até a porta seguindo a amiga e foram comprar a primeira revista na banquinha de revista perto do edifício da Vogue, era uma tradição, faziam questão de ir lá e de serem as primeiras a comprarem.
O prédio sempre ficava uma loucura quando a edição do mês saia, todo mundo ficava vidrado atualizando as páginas do Twitter para ver se alguém já havia comentado algo sobre. As duas riram e entraram no elevador, sabiam que as críticas realmente importantes só viriam uma semana depois e era essa parte a que mais temia.
O elevador desceu rapidamente e elas caminharam fazendo barulho com seus saltos até a banca do Matias.
- Hey, Matias! - Acenou para o senhor simpático dono da lojinha.
- Meninas! Sempre pontuais. - Gargalhou, pegando da bancada perto dele um maço de revistas.
- Já ia colocar na exposição, vamos, peguem a de vocês. - pegou a primeira da pilha e logo depois fez o mesmo, era muito prazeroso ver elas assim, retinhas e estonteantes.
- Jennifer Lopez arrasou nessa capa. - comentou.
- Ela sempre arrasa. - Concordou folheando distraidamente quando sentiu alguém passar por ela.
-Matias, meu querido, e aí? Como vão as coisas? - Uma voz masculina pouco conhecida soou pelo lugar. - Vou querer o de sempre. - Se permitiu olhar vendo o menino debruçar sobre a bancada como se estivesse em casa.
- Sabe, vocês são meus clientes mais fiéis, sempre na hora certa. - O menino se virou para trás, a fim de entender o que estava acontecendo, quando seu olhar cruzou com o de e ele gelou. Ah, não, essa não! Se soubesse que a encontraria de novo teria vindo pelo menos com uma roupa mais arrumada, ou teria ficado em casa. A questão é que ela tinha se transformado em sua paixão platônica, ou em sua "crush", como se diz hoje em dia.
- ? - Franziu as sobrancelhas sem ter certeza se o confundia com alguém. - Você é o menino da pizza, né? E o da Coca-Cola? - Corou colocando a mão direita atrás da nuca.
- Eu mesmo. E você é a menina dos choros e dos gritos?! - Falou um pouco embolado, mas arriscando uma piadinha.
- As pessoas geralmente me descrevem assim. - Deu de ombros passando por ele abrindo a carteira e tirando de lá dinheiro, provavelmente para pagar a revista que tinha nas mãos. - Até mais, Sr Matias, e você... - apontou o dedo na cara de . - Pare de me seguir.
- Ah, eu... eu não... eu não estou te seguindo. - Gaguejou e balbuciou tanto que até a amiga da menina sorriu com a cena.
- Eu sei, só estou brincando. - Abriu um largo sorriso quebrando a tensão, e pôde respirar novamente. Deus, ela era tão linda.
caminhou de braços dados com até a saída da lojinha e, quando tinha dado poucos passos, ouviu dizer.
- Se a gente se encontrar de novo, você sai comigo? - Estava tão vermelho que parecia que ia explodir.
apenas sorriu travessa para ele e jogou os cabelos seguindo seu caminho.
- Essa aí é muita areia pro seu carrinho de mão, viu, rapaz. - O velho Mathias gargalhou parando ao lado de e lhe dando leves tapinhas nas costas, o rapaz suspirou fundo. - Mas valeu a tentativa.
sabia que o que o jornalheiro dizia era verdade.

XxX


- Quem era aquele gatinho que falou com você mais cedo? - perguntou se jogando no sofá que insistia em manter no seu escritório.
- Ninguém. - Disse descontraída.
- Aham, mas você sabia o nome dele. - A loira cutucou fazendo revirar os olhos enquanto mexia em seu notebook.
- Ele é um estranho que vive me encontrando, é a terceira vez que o vejo. - arregalou os olhos e franziu a sobrancelha.
- Que estranho.
- Sim.
- Mas ele é bonitinho. - assentiu. - Parece o James Dean. Tipo, o jeito dele, old school.
- Ele é escritor eu acho. - Disse como quem não queria nada, batucando os dedos na mesa.
- Que graça! Me prometa que na próxima vez você pega o número dele.
- Não vai ter próxima vez, já viu o tamanho dessa cidade? Seria loucura cruzar com ele mais uma vez.
- Mas se nas idas e voltas dessa vida você encontrá-lo novamente, pegue o número, é um sinal.
- Ah, com certeza. - se pronunciou ironicamente e a menina lhe deu língua. - Vem cá, você não trabalha, não?
- Não, nem a minha chefe. - alfinetou fechando os olhos e tinha quase certeza que ela estava prestes a tirar um cochilo. Sorriu fraco.
- Justo. - Aproveitou o fato de não estar observando e jogou no Google o nome do médico que ela mencionou mais cedo e o cara realmente era bom. Sabia que as consequências de fazer uma cirurgia para não deixar o aneurisma explodir eram menores do que se o deixasse tomar rumos próprios, mas ainda assim era perigoso, era algo que deveria ser bem pensado. Não sabia se com a cirurgia estaria antecipando a morte ou a atrasando. Suspirou fundo. Era quase um cara e coroa e ela sempre perdia nesses estúpidos jogos de azar. Pensou, pensou e pensou de novo. Se certificou de que estava dormindo mesmo e ligou no consultório marcando uma consulta, daria uma chance, talvez conversar com um especialista a ajudaria tomar a decisão certa.


Capítulo 4


- Me lembre novamente por que estou aqui? - perguntou preguiçosa no ouvido de .
- Por que você não deixaria sua melhor amiga passar por essa barra sozinha. - A loira respondeu de volta bufando. Acontece que o irmão dela ia se casar e foi arrastada pela cunhada para uma despedida de solteira a qual ela não conhecia ninguém, mas teve que ir porque era a irma do noivo, então decidiu ao menos levar para lhe fazer companhia.
- E quem faz uma despedida de solteira no Karaokê, afinal? - questionou gargalhando e Shleby, que já tinha bebido várias shots, gargalhou cuspindo o líquido que estava prestes a engolir. - Cadê os Stripers?
- Fugiram, se eu fosse meu irmão fazia o mesmo. - Riram olhando a tal cunhada da menina cantando desafinadamente no palco enquanto suas outras amigas bobas aplaudiam.
- Realmente, essa voz é o motivo dos meus pesadelos.
- ! ! - deu vários tapas seguidos no braço da amiga.
- Ai! Pertubada! O que foi? - Franziu a cara passando a mão onde a mesma havia batido. -Não olha agora, mas lembra daquele bonitinho que vimos semana passada na banca de revistas? Ele tá, tipo, ali na outra mesa. - virou a cabeça espontaneamente procurando e ele a olhou na mesma hora, cruzando olhares e a menina corou voltando seu olhar para assustada.
- Ele me viu.
- Eu disse pra não olhar agora sua idiota. - Revirou os olhos. - Disfarça, ele tá vindo.
- O quê?! - arregalou os olhos e fez um sinal com a cabeça apontando.
- Hey! - Ergueu a mão direita acenando.
- Hey, stalker. - respondeu descontraída. - Tá saindo caro pra você me seguir, hein? Veio parar até em um karaokê. - o garoto sorriu com os olhos.
- Vim com alguns amigos. - apontou disfarçadamente. - Joey, Martha e Mike. - assentiu com a cabeça curvando os lábios para baixo, fingindo estar impressionada.
- Contratou até figurantes, tiro meu chapéu pra você.
- Então, te vejo sábado, às 20h? - Perguntou com um sorriso largo e sacudiu a cabeça confusa.
- Me desculpe, o quê? - se divertia muito com a cena.
- Lembra que eu disse que, se nos encontrássemos de novo, você sairia comigo?
- É, só que eu não concordei. - Retrucou como se não fosse óbvio cruzando as pernas e involuntariamente colocando os cabelos atrás da orelha.
- Mas por quê? - insistiu, tinha prometido a ele mesmo que sairia com aquela garota.
- Porque não, oras.
- Você sabia que Troy Bolton conquistou a Gabriela em um karaokê? - Ergueu as sobrancelhas travesso sorrindo e mal pode acreditar que ele estava xavecando ela usando High School Musical como referência. - E tem um microfone bem ali. - Tirou a mão direita do bolso, apontando para o palco.
- Nem pense nisso. - Disse em um fôlego só. - Se você for até lá, você pode esquecer que... - o menino a ignorou completamente e caminhou até o palco, pegando um dos violões disponíveis para quem desejasse tentar ir acústico.
- Ai, meu Deus. - se debruçou na mesa para enxergar melhor. - Ele vai cantar pra você.
- Não, ele não vai. - respondeu rabugenta cruzando os braços.
- Eu gostaria de dedicar essa canção para aquela moça bem ali sentada no canto. - deu um tapa na sua própria testa. arrumava a alça do violão no pescoço. - O nome dela é e eu meio que tenho um crush nela, mas ela não aceita sair comigo. - Sorriu e a plateia do lugar também riu da situação, revezando os olhares entre a menina e o escritor. - Então eu vou cantar pra ela uma música e, bom, tomara que depois dessa completa humilhação, ela aceite sair comigo. - berrou um "uhul" e levou uma cotovelada de , que tentava se manter séria quanto a situação.

Coloquem essa música para tocar: Riptide – Vance Joy

Dedilhou no violão as notas inicias.

- I was scared of dentist and the dark, I was scared of pretty girls and starting conversations, oh, all my friends are turning green. You're the magician's assistant in their dreams.
- Oh ooh oh ooh and they come
unstuck Lady, runnin' down to
the riptide Taken away to the dark side
-I wanna be your left hand man
And I love you when you're singin' that
song and I gotta lump in my throat 'cause
-You're gonna sing the words wrong


revirou os olhos contendo um sorriso no canto da boca, a voz dele era tão linda.

- Is this movie that I think you'll like?
This guy decides to quit his job and heads to New York City This cowboy's running from himself
And she's been living on the highest shelf Uuh Uh
- Oh, and they come unstuck
- sorriu encarando a menina e acelerou as notas, cantando pouco mais rápido. - Lady running down to the riptide, taken away to the dark side I wanna be your left hand man. I love you when you're singing that song and I got a lamp in my throat cause you're gonna sing the words wrong.
Não tirava os olhos dela e já se permitia sorrir com aquela palhaçada, adorável a propósito.

- I just wanna, I just wanna know
If you're gonna, if you're gonna stay I just gotta, I just gotta know
I can't have it, I can't have it any other way
I swear she's destined for the screen, closest thing to Michelle Pfeiffer that you've ever seen.

fez questão de tirar uma foto do rapaz enquanto ele terminava a música e não aguentava mais revirar os olhos com a situação, a plateia, por outro lado, parecia estar adorando. A verdade é que ninguém nunca fez esse tipo de coisa pra ela, realmente era algo inédito, não sabia como reagir, e olha que ela já foi noiva, e nem o tal babaca fez tamanha demonstração.
O que esse menino queria dela, afinal? Será que se ele soubesse que ela estava tão doente como estava fugiria? Se perguntou e murchou de repente, provavelmente sim, ela não o culpava, em sua posição faria o mesmo.
- Lady. - começou sem fôlego - Pelo amor de Deus, sai comigo. - Disse e o clube todo gargalhou, gritando e aplaudindo. Como dizer não? Seria a questão.
Assentiu com um sorriso e abriu um sorriso tão grande que seus olhos se fecharam, a sorte estava com ele hoje.
- Eu daria tudo – tudo - pra ser você, . - acenou negativamente com a cabeça. - Um príncipe desses, cara! Escreve, canta e não tem vergonha de mostrar que gosta de você.
- A gente nem se conhece. - gargalhou vendo ele se atrapalhar novamente pra descer do palco. - Só queria ter mais tempo. - Disse quase como em um sussurro, quase certa de que nem a loira escutou.
desceu do palco e foi caminhando até .
- E então? Troy Bolton conquistou a Gabriela? - Brincou.
- Bom, o Troy Bolton tentou. - se pôs de pé ligando o celular. - Agora é a hora de trocar os números, porque, bem, você ainda tem mais três filmes pra cantar. - Os dois riram leve, colocou seu número no celular da menina.
- Sábado, 20h.
- Não se atrase, ou eu desisto. Te mando meu endereço por mensagem.
- Ah, mas eu meio que já sei onde você mora. - Disse como se não fosse óbvio. - Cara da pizza, lembra?
- Certo, esqueci que você era meu fã.
- O número um deles.
- Você é doido. - abriu a boca pra dizer algo, mas se pronunciou primeiro. - E nem se atreva dizer “doido por você.”
- Cantadas péssimas são o meu forte. - Riu descontraído. - Eu preciso entrar no meu turno, mas até sábado! Ou até antes porque a gente provavelmente vai se esbarrar na rua. - A garota se despediu com um aceno discreto revirando os olhos, sua marca registrada.
O garoto se despediu dos amigos na mesa da frente com um sorriso gigante, ainda não acreditava que tinha conseguido marcar um encontro com ela. Agora era só pensar aonde a levaria.

Pov

Eu não acredito que aceitei sair com um cara que eu conheci na rua! - Ri de mim mesma. - Estava em casa assistindo um filme quando recebi uma mensagem do tal , para que eu não me esquecesse que o nosso encontro era amanhã. Como se ela fosse esquecer uma loucura dessas.
Eu já fiz muitas coisas loucas durante a minha vida, principalmente no high school, não me orgulho, mas era considerada uma das meninas malvadas do colégio. Não me achava má e. na verdade, eu não era, mas ao namorar só os atletas da escola, ser Cheerleader e jogar uma menina na piscina uma vez (Notas da pp: esse foi um evento isolado, ok? A menina tinha sabotado meu trabalho.)
Fiquei com essa fama daquelas meninas insuportáveis e malvadas, cujo todo mundo tem medo e quer agradar e, admito, adorava isso; adorava mandar, adorava receber sem ter que fazer nada em troca, adorava a vida que levava até o fim do High School.
Tudo mudou quando eu tive que ir para a faculdade. Minhas amigas seguiram cada uma para um lado, menos a , claro - sorri ao lembrar. Não era mais líder de torcida e dessa vez ninguém me conhecia, ninguém me ajudava com os trabalhos, ninguém me oferecia lugar, eu não era mais , a Prom Queen na universidade, eu era a menina metidinha que fazia Jornalismo e, com o passar do tempo, essa denominação começou a me irritar profundamente. Todos pensavam que eu era uma boneca bancada pelos pais, e que eu não devia estar ali fazendo faculdade, deveria estar em eventos tirando fotos ou em casa testando maquiagem, me tratavam como se eu fosse burra, uma estúpida, e foi quando eu quase larguei a faculdade pois comecei a acreditar naquelas palavras que eram ditas pra mim.
A verdade é que você não está preparado pra universidade até que aconteça, você coloca grandes expectativas, se enche de sonhos, e acredita com todas forças que aquele vai ser o melhor período da sua vida toda! Então subitamente você quebra a cara, e aí que você percebe que o que funcionava no high school não funciona lá. Ninguém vai ser amigo, é cada um por si, uma cultura individualista gigante onde quem precisa menos dos outros ganha. É tudo tão falso, as amizades, as pessoas e até mesmo o seu sonho parece ser falso, a universidade te pega de um jeito que você não acredita que seja capaz. É quando você tem que continuar, mesmo que chateada, nervosa, triste, não pode desistir. Tive que provar que eu pertencia ali pelo meu intelecto, iria provar aqueles bastardos o quanto eu era capaz. Nesse mesmo semestre, me formei com as notas mais altas e nos outros que sucederam o mesmo aconteceu, mas foi só quando consegui um dos estágios mais disputados – para trabalhar na CNN – que começaram a me respeitar pelo que eu era, não pelo que eu aparentava ser. Legalmente Loira era praticamente o meu filme!
Mas agradecia por ter passado uns perrengues na faculdade, se tudo fosse fácil pra ela, provavelmente continuaria aquela garota fútil do ensino médio. - Mas qual a relevância dessa memória no assunto mesmo? -se forçou a lembrar. – Ah, claro, loucuras, certo.
Bom como ia dizendo, muitas loucuras, jogar pessoas na piscina, adotar 15 cachorros, comprar online, abrir uma loja, trocar a água da professora por laxante, aparecer ao vivo na CNN vestida de vaquinha, atacar de garota do tempo nas horas vagas, entre outras, mas de todas as loucuras, nunca houve nada parecido com o que estava prestes a fazer, marcar um encontro com um potencial pretendente sabendo que talvez não estaria viva nem para ver o próximo ano novo.
Parecia errado, ela sentia como se fosse errado e era errado, mas tinha algo naquele menino, algo diferente dos dois babacas que a pediram em casamento, e dessa vez ela entendia, via no garoto algo que ele era, não o que aparentava ser, e estava maluca pra conhecê-lo.

XxX

POV

- Amber, você precisa me ajudar. - Abri a porta do quarto dela com tudo, fazendo a mesma gritar.
- Ai, que susto, seu filha da puta! - Me tacou um travesseiro. - Demônio!
- Sabe, o amor que você tem por mim é inacreditável, irmãzinha. - Me abaixei pegando o travesseiro e jogando nela de volta.
- O que você quer? Tô ocupada. - Se endireitou na cama mexendo no celular.
- Você tá mexendo no celular. - Balancei a cabeça confuso e me sentei na cama, recebendo um olhar mortal.
- Desembucha.
- Eu tenho esse encontro amanhã e…
- Encontro? - Me interrompeu com os olhos arregalados. - Com quem?
- Como eu ia dizendo… Eu tenho esse encontro com uma menina amanhã e eu não faço ideia de onde levá-la.
- Mas como é essa menina? - Perguntou curiosa. – Anda, me conta!
- Ela é normal, ué! Linda, muito linda. - Admiti e Amber me encarou com uma cara de tédio. - E tem uma mania de revirar os olhos pra tudo que eu falo, mas fora isso eu não sei nada sobre ela. - Suspirei. - Mas eu tenho o número dela! - exclamei de repente e minha irmã deu risada.
- Como vou saber pra onde você deve levá-la se nem você sabe do que ela gosta? - Levantou o queixo pensativa - Ela tem cara de quem gosta de rock?
- Fiz um bico e acenei negativamente.
- Ela é hippie? - Neguei novamente.
- Ela mora no Upper East Side e compra revistas de moda.
- Então ela é patricinha? Pensei que você odiasse esse “tipo”. - Fez aspas com as mãos.
- Ela não é patricinha, ela é… diferente.
- E por que uma menina do Upper East Side quer sair com um pé rapado como você? Estou em um episódio de Gossip Girl e não estou sabendo?
- Preciso de seriedade aqui, Amber! - Dei um soquinho na palma da minha mão e ela riu alto me fazendo rir junto.
- Eu não consigo te levar a sério, maninho. - Soltou um risinho. - Desculpa, prossiga.
- Continuando, eu demorei muito pra conseguir chamá-la pra sair e não quero que seja a única vez, então não posso dar mancada. Esse encontro precisa muito bom.
- Quanto de dinheiro você tem?
- 50 pratas, contando até com as minhas últimas moedinhas.
- Então você precisa de um milagre, resumidamente. - Acenei com a cabeça.
- E ainda disse que a buscaria em casa.
- Tsc tsc, irmãozinho, seu dinheiro não paga nem um táxi até lá. - Passei as mãos no rosto apreensivo.
- Acho melhor desmarcar.
- Negativo! Você estava todo cabisbaixo por conta da Naja (vulgo Beatrice) e agora que conheceu a possível mulher da sua vida, “Linda, muito linda” nas suas palavras, vai desistir? - Questionou, gesticulando sem parar, e arrancando um sorriso do meu rosto. - Você tem sorte por ter uma irmã tão maravilhosa que acaba de ter a ideia perfeita.
- Qual?
- Você vai fazer o seguinte…

X x X


Pov narrador

Sábado, New York City - Upper East Side.


esperava na portaria. Como não fazia ideia de onde iriam, estava apreensiva com o que vestia. Usava um vestido rosa justo de alcinhas e um casaco branco por cima, estava de saltos e torcia para que o bendito escritor chegasse antes que seus pés fizessem calos.
Olhou no relógio. 19:48. Não podia nem o culpar, estava adiantada. Bufou. Enquanto isso, corria pelos túneis do Metrô, abotoando a camisa pelo caminho enquanto desviava das pessoas, quando finalmente chegou na rua, olhou para o seu relógio que marcava 19:55.
Ora, ora, se não é o homem mais pontual do mundo. Sorriu pela conquista e atravessou confiante a pista que dava ao apartamento de , passou as mãos nos cabelos tentando alinhá-los, apesar da relutância dos fios.
Os dois se avistaram de longe pelo vidro que os separava. sorriu bobo e deixou um sorriso escapar ao ver a cara fofa do rapaz. Quer dizer, cara boba, se corrigiu mentalmente.
- Oi. - Acenou quando a menina saiu.
- Oi, meu fã. - sorriu largo. - Se arrumou direitinho, hein? - Cutucou o rapaz, que olhou pra baixo involuntariamente checando a própria roupa. Idiota, se xingou nos pensamentos após o ato.
- Obrigado. - Corou. - Você também está linda hoje. Não que nos outros dias não estivesse! - Se corrigiu rapidamente colocando as duas mãos paradas na frente. - Porque você estava linda, igual está hoje. Quer dizer, você é linda. - Coçou a nuca atrapalhado e ficou mais vermelho do que já estava, se é que isso era possível. gargalhava em silêncio da cena, admitia, ele era uma graça.
- Eu te entendi. E obrigada. - Deitou a cabeça pro lado. - Para onde você vai me levar?
- Um lugar que você nunca foi antes.
- Como pode saber? Já estive em muitos lugares.
- Ah, vai por mim, nesse lugar você realmente nunca esteve.
- Me surpreenda então, street-guy. - sorriu com a deixa e logo avistou um táxi se aproximando, praticamente pulou na frente do mesmo, mas conseguiu com que o motorista parasse.
Minutos depois os dois haviam chegado ao seu destino, se revezou entre abrir a porta para a garota e em pagar o taxista.
- Você me trouxe ao Central Park? - questionou, sem entender.
- Quem disse? - Se fez de desentendido.
- A placa. - apontou para o arco de letras gigantes que formavam o nome do parque.
- Só confia em mim, garotinha. Siga-me. - ia caminhando pelo caminho de pedras e ia atrás. Estava escuro, mas logo avistou pequenas luzes entre as árvores, e foi justamente lá que entrou.
Ainda receosa a menina o seguiu adentrando mais afinco da vasta folhagem; de alguma maneira, havia encontrado um lugar de grama baixa, rodeado de árvores, como uma espécie de jardim secreto.
O lugar estava decorado com piscas-piscas e tinha uma mesinha redonda de dois lugares no centro.
- Uau. Você fez isso? - perguntou enquanto olhava pra cima, tinha a visão perfeita do céu dali.
- Sim, você nunca veio aqui certo?
- Nunquinha. - Se sentou em uma das cadeiras e suspirou aliviado, agradecendo mentalmente Amber pela ideia.
- O cardápio também é especial. - O garoto comentou e reparou pela primeira vez que havia uma travessa daquelas com tampa de alumínio bem na sua frente. destampou a mesma revelando uma pizza de calabresa e riu alto para a alegria dele. - Também temos um drink exclusivo. Só um segundo. - fez um sinal com o dedo indicador para ela e foi para baixo da mesa, voltando com duas latinhas de Coca-Cola, que estavam dentro de um baldinho de gelo. - E não se preocupe, são itens muito bem conservados! O meu amigo bem ali trouxe pra gente enquanto estávamos no taxi. - apontou para trás das árvores e ela viu um adolescente toscamente vestido de garçom.
- Eu estou sem palavras. - Disse impressionada. - Você é realmente uma pessoa maluca. Criativa, porém maluca.
- Obrigado. - Colocou a mão no peito se gabando antes de abrir um sorriso. - Então, o que você faz? Digo, você trabalha? - Puxou assunto enquanto pegava um pedaço de pizza e colocava no prato da menina.
- Obrigado. - agradeceu. -Ahn, eu trabalho em uma revista. - Disse pegando o pedaço de pizza com a mão.
- Sério? - retrucou animado. - Qual revista?
- Na Vogue, aquele prédio grande perto da banca do Sr Matias. - Deu uma longa mordida puxando o queijo da pizza.
- Nossa, isso é incrível. Você escreve ou… - Foi a vez dele de morder a pizza, estava morto de fome.
- Eu escrevo, mas atualmente sou a editora-chefe, então estou mais organizando a revista. - a encarou boquiaberto.
- Você é editora chefe da Vogue? Aquela Vogue?
- Sim. - Riu sem graça. - Por quê? Está surpreso? - Arqueou as sobrancelhas.
- Sim! Quer dizer, não surpreso por ser você, te acho perfeitamente capaz. - deu um risinho, ao ver ele se atrapalhando pra responder. - Estou surpreso porque eu nunca conheci alguém dessa área, só isso.
- Obrigado, eu acho. - Franziu as sobrancelhas ainda rindo. - E você, escritor? Como vai o andamento do seu livro?
- Bem. - Assentiu enquanto bebia um gole de Coca-Cola. - Eu tenho mais de um livro, na verdade, mas é muito difícil conseguir patrocínio de uma editora, parece que eles só apoiam…
- O mesmo tipo de livros. - Disseram juntos e abriu um sorriso quase imperceptível. - Eu concordo com você, não aguento mais ler triângulo amoroso.
- É uma tortura! E eles estendem por mais 3 livros, só para a bendita da principal se decidir com quem ficar! Digo, quando você gosta de uma pessoa você gosta dela, você não fica indeciso, se há uma dúvida tão grande… talvez… talvez você não a mereça. - escutava tudo atentamente e concordava com cada palavra do que dizia, era exatamente assim que pensava.
- E você, qual tipo de livros você escreve? - Perguntou curiosa.
- Na maioria das vezes, romances. Gosto de relatar os romances proibidos. - Bebeu um gole do refrigerante. - Gosto de brincar com o tempo, também. Às vezes no passado, às vezes no futuro. Parece besta, eu sei.
- Eu não acho. - Disse sincera e a olhou fielmente nos olhos a primeira vez esta noite, permitindo com que visualizasse perfeitamente aqueles olhos tão intensos, era uma cor tão forte e tão bonita que poderia ficar olhando pra eles e só pra eles a noite toda. , PARE COM ISSO. Se auto repreendeu e desviou o olhar para a pizza. - Devia fazer sucesso com as garotas na universidade.
- Não mesmo. - Riu alto. - Elas enjoavam de mim rapidinho.
- Duvido que seja verdade. - Implicou abrindo um sorriso divertido.
- Ah, você tá duvidando? Vou te dar um exemplo mais recente. Minha noiva me trocou pelo meu amigo um mês antes do casamento, porque, segundo ela, não dava mais. - parou com o seu pedaço de pizza segundos antes de colocá-lo na boca.
- Você está falando sério?
- Muito sério.
- Que droga. -Suspirou. - Mas não vou falar nada porque já desfiz um noivado também, e posso ter dito não para o outro que me pediu em casamento ao vivo. - gargalhou e o acompanhou. Aquelas histórias eram a prova de que depois de um tempo você vai lembrar de momentos constrangedores da sua vida e vai rir como se nem fosse com você.
- Ao vivo?
- No Super Bowl. - Admitiu segurando o riso com os olhos fechados, mas só conseguiu rir mais.
- Você é má! - concluiu sacudindo a cabeça em negação.
- A gente estava se vendo só há 3 meses! Ou ele era muito doido ou muito retardado em me pedir em casamento ao vivo sem eu ao menos ter dito “eu te amo” alguma vez.
- Posso achar esse vídeo na internet? - questionou com serenidade segurando um sorriso no canto da boca.
- Sim. - assentiu com a cabeça ainda entre risos.
O resto do jantar seguiu normalmente entre histórias embaraçosas da vida dos dois. , na verdade, agradecia o rapaz por tê-la convidado, ou caso contrário, estaria em casa sofrendo por antecipação e era o que ela menos queria. , por outro lado, estava feliz que ela havia aceitado, precisava disso, precisava relaxar um pouco e tirar a pressão constante em sua cabeça o dizendo que ele não era bom o suficiente. Ao menos sair com a menina que ele tinha uma quedinha conseguiu, ele ponderou.
Haviam caminhado até fora do parque e aguardava com a garota um táxi passar, tentando disfarçar o fato de que ambos haviam deixado dois passarem.
- Agora eu realmente tenho que ir - sorriu sem graça sendo acompanhada por ele. -, mas eu adorei sair com você. - sorria de lado com a afirmação dela e ela corada de vergonha era ainda mais fofa pra ele.
Teve vontade de se aproximar e assim o fez.
respirou fundo sabendo o que estava por vir, sabia que deveria negar, mas seus olhos pairaram sobre os olhos extremamente do garoto e não teve reação nenhuma se não ficar parada no mesmo lugar ansiando para que ele a beijasse o mais rápido possível, queria sentir o gosto dos lábios rosados que carregava aquele sorriso tão carinhoso quando a olhava. Sentiu a mão de pousar delicadamente sobre a sua nuca e, ainda que arrepiada, fechou os olhos e aguardou pelo toque eminente. O beijo dele era intenso. Delicado, mas ao mesmo tempo marcante, e sentiu prazer ao retribuir na mesma intensidade que o rapaz estava dando a ela, mas infelizmente quando o ar faltou e os dois se separaram por um breve momento, ela caiu na real. Claro que não ia ser perfeito, claro que não ia dar certo, claro que seus pensamentos tinham que atrapalhar. Ela era , afinal. Nada pra ela era fácil.
- Eu não… eu não posso fazer isso. - Pôs a sua mão sobre a do rapaz e a tirou de seu pescoço a contragosto.
- Por que não? - Perguntou confuso ainda a encarando suavemente.
- Porque eu não quero ter uma relação séria com alguém no momento. - Mentiu com um fundo de verdade.
- E quem disse que eu quero? - abriu um sorriso largo travesso e aqueles dentes perfeitamente alinhados fizeram derreter, ela balançou a cabeça em sinal de negação cedendo e rindo também.
- Você não desiste, não é mesmo? - Questionou extasiada ainda com as emoções à flor da pele.
- Não de você. - Disse sincero e voltou a beijá-la, que não relutou por um segundo dessa vez.

XxX

- Preciso estabelecer regras. - A ocorreu de repente, no momento em que colocou os pés em casa. Correu até a mesa de centro, pegou um caderninho com uma caneta e se pôs a escrever.
NÃO se apaixone;
Mantenha casual independente de qualquer coisa;
NÃO deixe com que ele descubra que você está doente;
Saiba acabar tudo quando souber que for a hora.
Esse último tópico foi o que mais doeu escrever, mas, dentro de si, sabia que era necessário, e era uma droga ter conhecido alguém exatamente como queria na hora de partir.


Capítulo 5


tinha seu manuscrito em mãos. Estava parado em frente ao prédio do - se Deus quiser - seu futuro emprego e tremia como criança saindo de um banho frio. Estava receoso, apesar de saber que tinha feito tudo que podia, lera e relera as 25 páginas do Word de sua história em busca de algum erro, a refez, com certeza, umas 3 vezes, tinha que estar bom. Precisava estar bom.
Respirou fundo e se forçou a andar, entrou no elevador e engoliu em seco ao ouvir o sinal sonoro de que seu andar havia chegado. Caminhou em passos curtos até a sala da Superintendente, a mesma com qual ele havia falado antes, entretanto, ela não estava presente. Foi orientado a deixar seu trabalho junto com os outros manuscritos - contou 5 sobre a mesa -, fez o que lhe foi dito, agradeceu a secretária e desceu o mais rápido que pôde para poder enfim respirar. Pelo menos a etapa da entrega estava completa.
Ainda estava parado na rua, viajando no mundo da lua, quando subitamente se lembrou que morava por ali. Não tinha controle sobre como sua vida de escritor iria se desenrolar, mas sobre parar essa saudade no seu peito toda vez que pensava no sorriso dela, isso sim controlava, e não deixaria que a mesma perdurasse por mais um minuto.

Xxx

tinha tirado um tempo para ir no tal “Doutor Milagre” recomendado pela amiga e, adivinhe só, o diagnóstico dele havia sido o mesmo de todos os outros até então consultados, ou morreria pela cirurgia, ou morreria pelo aneurisma. Quer dizer, ele não usou essas palavras, mas foi o que soou pra ela. Bufou frustrada. Odiava estar impotente perante uma situação, principalmente quando a agente em questão era ela.
Estava jogada de qualquer jeito no sofá, assistindo algum filme aleatório quando ouviu duas batidas na porta.
“Se for aquela vizinha pedindo minha batedeira de novo, eu vou fazer questão de dar logo pra ela.” pensou enquanto caminhava, ainda descalço, em direção a porta.
Abriu-a de forma lenta e preguiçosa e deu de cara com segurando um balde de frango frito. o encarou com as sobrancelhas erguidas, ainda segurando a porta entreaberta com a mão direita.
- O que você tá fazendo aqui? – Questionou.
- Vim te trazer frango frito. - Ergueu o balde na frente da menina, que recuou por reflexo, arrancando uma risadinha por parte dele.
- Eu posso ver. - Fungou lentamente. - E sentir. A questão é: por quê? , a gente combinou casual, lembra? - colocou uma das mãos na cintura de uma maneira que achou adorável.
- E por algum acaso existe comida mais casual que frango frito? Nós podemos até comer no chão, sem romantismo. - sorriu de lado. – Vamos, , prometo que não significa nada. - Ela gargalhou.
- Você me chamou de . - Semicerrou os olhos achando graça. - Ok, entra, mas só porque eu estou com fome. - Abriu a porta totalmente.
- Você fez a escolha certa. - adentrou a casa vagarosamente.
- Então... você saiu da sua casa pra me trazer comida? - questionou ainda confusa com a situação trancando a porta.
- Você acha que é tão importante assim? - Implicou perguntando-a com as sobrancelhas franzidas. Segundos depois suavizou a expressão, gargalhando da cara de .
- Sim, eu acho. - ela respondeu de olhos fechados e nariz empinado.
- Vim entregar minha história na editora, na verdade. - Colocou o pote de frango frito na bancada da cozinha.
- E deu certo?
- Isso eu só vou saber daqui um tempo. - Suspirou. - Mas espero que sim. - Se sentou no chão.
- Você sabe que não precisa realmente sentar no chão, né? - Riu fraco. - Levanta daí.
- Não precisa, eu gosto de fazer as coisas no chão.
- Tudo? - perguntou com segundas intenções ao se sentar no chão de frente para ele. demorou para entender a conotação de duplo sentido da frase, ficando vermelho no momento em que percebeu do que se tratava.
- Quer dizer, não tudo tudo, eu não quis dizer nesse sentido - Esclareceu rapidamente. - Não que pareça algo ruim de se fazer de fato no chão, mas… eu vou parar de falar, okay? Só estou me enrolando mais. - tinha um sorriso bobo no rosto, vendo o rapaz se atrapalha com o uso das palavras.
A verdade é que ela sempre foi muito, digamos, inconsequente? Apressada? Riu fraco, colocando uma mecha do seu cabelo para de trás da orelha, não conseguia segurar as coisas por muito tempo, era intensa demais para tal, fazia o que queria, a vida lhe possibilitava isso. E ela queria muito mergulhar de cabeça nesse lance dos dois, sem complicações, sem explicações, sem laços, queria viver a experiência do agora, de poder beijar esse menino, que conhecia há tão pouco tempo, quando sentisse vontade, sem se sentir culpada depois, e assim o fez. Inclinou seu corpo para a frente de maneira que seus lábios e os de se tocassem facilmente e delicadamente. O rapaz, que não esperava por isso, demorou alguns segundos para entrar no beijo, mas logo seu corpo se responsabilizou por fornecer a energia de atração que mantinha os dois conectados.
Passou sua mão direita pela nuca da garota e tinha a outra segurando a cintura da mesma. intensificava o beijo e seu corpo pedia cada vez por mais, queria acabar com o espaço restante entre os dois corpos. Queria provar de . Sabia que não devia, ela sabia, mas isso só a atiçava mais ainda, queria conhecer o território cujo aqueles olhos habitavam. Sentia as mãos de por seu pescoço e arrepiada ao seu toque. A urgência era tão grande que acabou por derrubar o rapaz no chão involuntariamente, tendo seu corpo por cima dele, fazendo os dois darem gargalhadas. Entre risos e um pouco sem fôlego, parou o beijo.
- Vamos? – Questionou.
- O quê?
- Fazer no chão? - retrucou travessa com uma das sobrancelhas erguidas, deixando o rapaz um pouco corado e surpreso com a fala dela. pensou nos inúmeros motivos pelo qual deveria recusar essa proposta; estavam indo rápido demais? Ela se arrependeria depois? Seus olhos encaravam o rosto da menina, era incrível como mesmo de perto ela continuava linda. Deus sabe que ele não resistiria, não ali com ela tão perto sobre ele, não agora. Assentiu com a cabeça deixando bem claro sua posição e a trouxe para si, puxando a blusa que vestia para o alto.

XxX
- Isso foi… - começou, estava deitada sob o tapete da sala nua ao lado de .
- Uau. - Ele complementou, encarando o teto.
- É, uau. - Concordou e explodiu em risadas segundos depois. Gargalhava alto, prendendo a atração do rapaz, que não sabia se isso era um bom sinal ou não. - Não acredito que a gente transou no chão da minha cozinha. - fechava os olhos ainda sorrindo e aos poucos foi entrando na onda dela e gargalhando também, a risada dela era mais engraçada que o fato em si.
- A gente provavelmente não deveria.
- Provavelmente não - sorria descompensada. -, mas pense bem, vai ser uma história a mais para contar a seus filhos.
- Não tenho certeza se quero - ou devo - contar isso a eles antes que atinjam a maioridade.
- Pensando bem, é melhor não. - Ponderou sobre o fato e, trocando rapidamente sua linha de pensamento, deu um tapa no ombro do rapaz. - E pare de usar palavras formais, escritor, você está pelado no chão da minha casa.
- Certo. Ou devo dizer, de boa?
- Tudo nos esquemas. - o complementou de maneira engraçada.
- Sabe, pra uma residente do Upper East Side e editora de uma revista de moda, você se sobressai bastante no street style.
- Pra um garoto do brooklyn, você sabe de menos.
- Não discordo. - Riu descontraído. - A gente provavelmente deveria…
- Deveríamos. - Levantaram juntos virando para lados opostos. - Não olha pra cá, vou vestir roupa.
- , eu acabei de te ver pelada há um minuto. - ele disse de maneira suave e ela riu derrotada, com as mãos tampando os seios, ele tinha razão. Se permitiu olhar de rabo de olho vendo as costas nuas e extremamente definidas de enquanto o mesmo vestia a cueca. Se perguntou se estava fazendo o que era certo, cedendo às suas vontades e desejos carnais tão facilmente no segundo encontro. Também não era como se ele ajudasse, quer dizer, olha esses ombros e essa nuca, e esse pézinho do cabelo bem cortado, e…
- Por que você tá me olhando com essa cara? - Foi interrompida por a fazendo sair do transe momentâneo.
- Hm? - se fez de desentendida. - Não estava te olhando, sua presença não vale as atenções dos meus lindos olhos.
- Você é tão metida. - Deu uma risadinha seguida de um pulo para subir a calça que vestia antes de... bom, vocês sabem. - Metida e atrasada. Vai ficar aí sentada sem roupa?
- Me deixa em paz, garoto. - Balançou a cabeça com implicância.
- Você não sabe onde está sua roupa, não é? - Ela negou segurando o riso, mas o rapaz não fez o mesmo, caiu na risada dando a volta pelo balcão.
- Quer parar de rir?! - questionou retoricamente ao passo que o rapaz voltava da cozinha com suas roupas em mãos.
- Me desculpe, mas não consigo. - se sentou ao lado dela estendendo as roupas delicadamente. tinha os cabelos bagunçados cobrindo metade do rosto. - Me prometa que não vai se arrepender do que aconteceu hoje porque eu não quero me forçar a esquecer o quão linda você está aqui, parada bem na minha frente. - com um gesto simples tirou os cabelos da menina da frente de seu rosto e a beijou delicadamente. Ele era tão preciso que não teve tempo de reagir ao que ele falava, sua voz a encantava como canto de sereia.
via nele um amigo colorido. via nela uma namorada.
O ritmo dos dois estava claramente descompensado. Teriam de achar um meio termo.
- Então, vamos comer esse frango frito ou não? - Ela quebrou o clima sorrindo largo e os dois partiram para a cozinha como se nada tivesse acontecido.
- A gente podia fazer isso mais vezes. - A menina incitou, deixando a cabeça do rapaz flutuar.


Capítulo 6


Os dias decorrentes foram marcados por encontros dos dois, vezes na casa de , vezes andando por NY durante a noite.
estava sentada em seu escritório olhando a mensagem que havia recebido de . Sorriu involuntariamente. Era uma foto dele sorrindo com uma plaquinha escrito “Filme hoje?”, logo respondeu “Sim”.

- Sorrindo sozinha? - apareceu no cômodo.
- Era só o me chamando pra ver um filme. - Deu de ombros bloqueando o celular.
- Você acha que está gostando dele?
- Não. Claro que não. - Fez uma careta.
- … Eu nunca te vi feliz assim, ultimamente ele te arranca mais risos que eu.
- Eu não estou gostando dele. É atração, desejo, tesão sexual, tudo, menos gostar.
- Você se ouve dizendo isso?
- Eu não posso ter me apaixonado em tão pouco tempo, posso? - colocou as mãos sobre o rosto.
- Só estou dizendo pra você prestar atenção nos seus sentimentos, tudo que eu quero é te ver feliz, você sabe. - A amiga respirou fundo. - Mas se esse sentimento for verdadeiro, você precisa contar a verdade pra ele. Ele merece saber, .

Xx
estava em pé, frente ao balcão da cozinha, colocando sorvete na taça para ela e . Estava pensativa sobre o que havia dito antes. Deveria mesmo contar a ele o que se passava com ela? Ele provavelmente fugiria, certo?
Suas dores de cabeça estavam cada vez mais frequentes agora, tomava mais de 3 comprimidos por dia para aliviá-las, os enjoos eram constantes e, na maioria das vezes, o ato de vomitar em si até se concretizava, mas ele não sabia disso, claro, tampouco poderia. Ele só a via quando estava bem. Só conhecia a forte e tinha quase certeza que era dela que ele gostava. Não da sua versão mais doente e com os dias de vida contados, certamente essa versão não o agradaria.
- O que se passa pela sua cabecinha? - a questionou após ver a mesma franzir as sobrancelhas umas 10 vezes em um curto espaço de tempo.
- Hm? - saiu do transe. - Nada. - Sorriu forçada.
- Posso não ser a pessoa que te conhece melhor, mas você parece meio triste hoje, estou certo?
- Só estou com um pouquinho de dor de cabeça, não é nada. - Forçou outro sorriso entregando uma das taças para ele e cruzando a sala o mais rápido que o normal logo em seguida. - Já escolheu o filme? - Mudou de assunto.
caminhou com passos curtos até onde ela estava e se sentou receoso.
- Posso ir embora se você quiser. - Sugeriu com a cabeça um pouco inclinada para o lado. Talvez o fato de ser órfão fizesse isso, sempre sentia que estava incomodando.
- Não. Por favor, fica. - Ela respirou fundo cruzando as pernas no sofá. - É só que tem muita coisa acontecendo na minha vida agora e eu não sei ao certo se deveria arrastar você pra isso.
- Okay. - Assentiu mais compreensivo do que ela pensava. - Você quer falar sobre? - Fez uma careta seguida de um riso fraco.
- Na verdade, não. Desculpa, eu sou confusa, eu sei.
- Eu não acho. - Retrucou. - Você é uma das mulheres mais inteligentes que já conheci, sei que deve ter um motivo para querer guardar isso pra você.
- Obrigado.
- Mas duvido que qualquer coisa que você diga me faça desistir de você. - Enfiou uma colherada de sorvete na boca brincalhão, arrancado um sorriso largo dela. - Você é minha crush, você sabe.
- Eu e mais quantas, escritor? - Semicerrou os olhos mais tranquila agora.
- Só você. - Olhava diretamente nos olhos dela, queria passar a ela a verdade, não tão certo se ela acreditaria. Ela deu de ombros ligando a tv. - Você é bem persistente. - O telefone dela começou a tocar, mas ignorou.
- Não vai atender?
- Não, deve ser alguém do trabalho. É que hoje tinha um desfile da minha revista e eu talvez possa ter faltado.
- Mas você não é a editora-chefe da revista? - Ela assentiu colocando uma colherada de sorvete na boca. - Então não deveria ser, tipo, sua obrigação? - ponderou por alguns segundos depois assentiu novamente, engolindo o creme que tinha na boca. - Algum motivo em particular pra você não querer ir? - Ele insistiu.
- Eu não estou me sentindo muito bem, só isso.
- Ok. Chega. - se pôs de pé e estendeu a mão para ela. - Vamos sair, nós dois.
- Por quê? - encarava a mão do garoto estendida em sua direção, confusa com o que ele estava planejando.
- Porque eu vou te levar em um lugar que vai te animar. - Sacudiu a mão. - Ande, vamos.
- Eu não estou no clima. - Ele revirou os olhos.
- Claramente, por isso mesmo vamos fazer esse passeio. - ainda hesitante aceitou a mão dele e se pôs de pé.
- Se você me meter em alguma enrascada…
- Mas é claro que vou, qual seria a graça se saíssemos ilesos de uma aventura noturna?

- ! - exclamou o nome dele em um cochicho, mas ele parecia não ouvir. - ! - Chamou de novo só que dessa vez mais alto.
- Shhh! Quer que nos peguem, mulher? - Ele virou pra trás com o indicador na boca. tinha praticamente arrastado para um ginásio onde aconteciam alguns jogos escolares de basquete, mas ela ainda não tinha a menor ideia, não conhecia o Brooklyn como ele. Entraram de fininho pelo portão de trás, seguro apenas por um trinco velho.
- Não me chame de mulher! - Ia no encalço de pé por pé. Estava escuro e os dois se guiavam pelo flash do celular. Não sabia para onde estava indo, a única certeza que ela tinha era que estavam em um corredor. - A gente não devia estar aqui. Se alguém pegar a gente... , vamos embora.
- Ninguém vai perceber a gente aqui, relaxa. - Ele riu baixo. - Os seguranças só ficam na parte da frente do prédio.
- E como você sabe?
- Porque o pessoal da faculdade vinha aqui o tempo todo. - Ela suspirou fundo tirando o cabelo do rosto. - Deve estar por aqui, me ajude a procurar um interruptor de luz na parede.
se pôs a tatear a parede com a mão, fazia tanto tempo que não vinha aqui.
- Achei! - exclamou alto e depois se auto censurou pelo tom de voz. - E agora? - Cochichou.
- Agora você liga. - pôs as mãos sobre as de e apertou com ela todos os quatro interruptores, e assistiram o local clarear gradativamente.
- Uau. - Foi o que a menina conseguiu dizer. Podia ver claramente agora, estava em uma quadra de Basquete.
foi andando até o centro da mesma e ela o seguia olhando de um lado para o lado, e certificando que estavam sós.
- Incrível, não? Me lembro da primeira vez que vim aqui, foi a acolhida dos calouros.
- Na minha acolhida tivemos que colocar um piercing - disse simplesmente e arregalou os olhos surpreso. – O que foi?
- Nada, você não me pareceu o tipo de garota que usava piercing, só isso.
- E você não me pareceu o tipo de garoto que invade ginásios, e cá estamos. - ele semicerrou os olhos e partiu para o lado, correndo até uma bola de basquete jogada no canto.
- Vamos jogar? - Questionou. - A cada vez que você errar a cesta você tem que responder uma pergunta minha e vice-versa.
- Isso não é justo. - Ela gargalhou prendendo a atenção de . - Eu vou errar todas.
- Essa é a graça do jogo! - Sorriu largo se aproximando dela, tão próximo que um podia sentir a respiração do outro. - Me deixa te conhecer, . - Olhavam um no olho do outro e prendeu a respiração involuntariamente, os olhos dele libertavam todas as borboletas de sua barriga. jamais entenderia como uma garota como ela sequer conseguiu olhar pra ele.
Estavam estáticos. Por tempo demais. Silêncio demais.
- Hm. - Ela pigarreou recobrando o juízo. Colocou as mãos sobre a bola de basquete, única coisa que os mantinha afastados, e puxou para si. - Eu começo. - Se afastou significantemente da grande cesta e mirou o mais certeiro que seus olhos vagos conseguiam. Lançou a bola com força, mas a mesma só foi até metade do caminho. Bufou frustrada. - Pergunta logo. - riu.
- Seu lugar preferido do mundo todo?
- Fácil, Times Square. - Se pronunciou rapidamente, não precisava nem pensar para responder isso.
- Sério? - fez uma cara estranha. - Mas você vai lá quase todo dia.
- Nunca perdeu a magia pra mim. - Deu de ombros jogando a bola para as mãos de . - Sua vez, escritor. - pegou a bola e lançou no que julgava ser a cesta, mas nem é preciso dizer que o estudante de letras, míope, errou.
- Sua vez de perguntar.
- Seu lugar favorito? - Riu envergonhada, não era boa para formular perguntas.
- O topo da London Eye, lá é, sem dúvida, meu lugar favorito de todos. - notou que ele suspirou fundo, provavelmente lembrando de alguma memória ligada a roda gigante. se abaixou pegando a bola laranja e dando o maior pulo que pode, lançou a bola e errou, pra variar.
- Sua memória mais feliz? - disparou no segundo em que a bola quicou no chão, parecia ter as mesmas organizadas em sua cabeça, se perguntou a quanto tempo ele as planejava fazê-las.
- Quando eu fui nomeada editora-chefe. - sorriu ao lembrar da sensação de reconhecimento e dever comprido que sentiu aquele dia. Foi o ápice de sua vida. pegou a bola e errou novamente.
- Eu desisto de jogar esse jogo. - Colocou a mão na nuca decepcionado arrancando risadas de .
- Um filme.
- Histórias Cruzadas. - Disse após uma breve reflexão.
- Eu amo esse filme! - exclamou alto. - É o meu favorito depois de Simplesmente Acontece.
- Já temos um filme para nossa próxima sessão de cinema então. - tinha as mãos na cintura e estava ofegante apesar do pouco esforço que fizera para jogar aquelas bolas. o encarava perplexa, não entrava na cabeça dela como alguém com os olhos tão lindos pudesse real. O encarava feito uma boba, e talvez de fato fosse. Naquele instante começou a prestar atenção em seus sentimentos em particular, o via sorrindo quicando a bola em suas mãos distraidamente e constatou o que duvidava, gostava dele. O escritor tinha conquistado seu coração sem muito esforço. Era ele. Simplesmente o fato de ser ele que a conquistou. O jeito de falar, a maneira como a tirava desse mundo triste e problemático com um convite, os olhos tão brilhantes, a boca tão gostosa, não ia aguentar. Não podia machucá-lo, o queria bem demais pra isso.
- ? - começou a dizer chamando a atenção do rapaz, que colocou a bola debaixo do braço e a olhou curioso - gostava de a ouvir falar -, quando ouviram um barulho estrondoso atrás deles.
- Quem está aí?! - Uma voz grossa perguntou e os dois se encararam com os olhos arregalados.
- Corre. - Foi a única coisa que conseguiu dizer antes de segurar pela mão e puxar a menina pela quadra a fora. Passaram praticamente voando pelo portão dos fundos e seguiram pela rua deserta. parou de supetão alguns minutos depois com as mãos nos joelhos buscando por ar e a cara assustada de olhando para trás fez ela gargalhar alto e, quando se deram conta, os dois estavam rindo sem parar da situação.
- A gente podia ter se dado muito mal. - exclamou entre risos enquanto se aproximava do rapaz.
- Podia. - deu um passo à frente. Segurou pela cintura e com um sorrisinho de lado observava ela gargalhar e comentar energética sobre como não passava por algo assim há anos, quando não se segurou e a beijou com força. dava passos para trás ao passo que o beijo se intensificava e tinha um sorriso bobo no canto dos lábios. Seus braços estavam sobre o pescoço de e ela pôde respirar aliviada pela primeira vez em meses.
- Você ia me dizer alguma coisa. O que era? - perguntou descontraído.
- Nada que não possa esperar até amanhã. - Sorriu forçada passando o braço na cintura de .
- Vamos pra casa, estou te convidando pra ficar quanto tempo quiser.

XxX

Coloquem essa música pra tocar: Saturn - Sleeping at Least

3h42 am

acordou passando mal naquela madrugada.
Uma dor incessante pulsava em sua cabeça, sem parar, sem descanso. Estava tonta. Não conseguia se levantar da cama. Desorientada, aflita, com medo, se forçou a sentar. A dor era como uma chama de fogo que queimava o seu corpo, tinha vontade de gritar, sabia que algo estava acontecendo, sabia o que era.
Suas mãos tremiam sob seus joelhos e suava frio, logo se pôs a chorar de olhos fortemente fechados.
estranhou a movimentação na cama e viu que estava sentada.
- ? - Chamou sonolento e não obteve resposta. Estranhou. Se sentou na cama ao lado da menina e, quando ia tocá-la, a mesma se abaixou vomitando. - , o que está acontecendo? - se levantou em um pulo segurando o cabelo dela. O corpo frágil da menina tremia e estava tão pálida que não tinha forças pra nada além de chorar.
- … - Ergueu a cabeça chorando. - Eu estou com medo.
- Calma, por favor, fica calma. Eu vou te levar no hospital. - Ela balançava a cabeça negativamente. -Tenho certeza que não deve ser nada, fica calma, vamos resolver isso.
- Me desculpe…. me desculpa. - Dizia entre soluços altos e respiração descompensada. A dor aumentava cada vez mais. discava o número do socorro aflito.
- Não se desculpe, minha linda, vai ficar tudo bem. Eu prometo. - Tentava acalmá-la a todo custo.
- Alô? Por favor, eu preciso de uma ambulância urgente…

ouvia a voz de cada vez mais distante e tentava memorizar a imagem do rosto dele como se fosse a última coisa que veria e talvez fosse, já que sua visão começou a ficar turva e perdeu os sentidos naquele exato momento.

XXX

- Atenção, paciente em estado grave passando. Reservem uma OR. Chamem o Dr. Byder. Chame o Doutor Byder, rápido!
- O aneurisma dela se rompeu… precisamos reparar a hemorragia.
- Ela vai ter sorte se conseguir viver, pobre menina, tão nova...
- Meu anjo, consegue me ouvir? Estamos entrando em cirurgia, faremos o que for possível daqui; por favor, nos ajude daí.


Pov

Vocês conhecem aquela sensação de tranquilidade? Quando você finalmente dorme na sua cama após uma longa viagem, quando você alcança suas metas, ou até mesmo quando você entra de férias, sabe esse alívio? Eu o sinto agora.
Não há mais dores de cabeça ou preocupações, muito menos barulho. O silêncio paira sobre o ar e permanece assim por um tempo.
Até que sinto uma movimentação estranha, algo de errado está acontecendo. De repente essa perturbação se torna mais audível e minha respiração acelera. O que está acontecendo? Por que não há nada aqui? O que deve estar pensando que aconteceu? ... Será que alguém a avisou? Meus pais… Meus pais precisam saber que eu os amo, não posso partir sem antes dizer a eles um adeus, não, eles não suportariam. Está errado. Tudo está errado. Eu quero sair, eu quero voltar, eu preciso voltar. Não é sobre mim, não é tudo sobre mim.
Por eles, me forço a recobrar os sentidos, me forço a acordar, quero levantar, abrir os olhos, viver. A agitação percorre todo meu corpo, não há como voltar, eu não tenho forças.
- . - Ouvi uma voz chorosa chamar pelo meu nome. - Eles me deixaram ficar aqui com você. Sinto um toque sobre minha pele paralisando minha agitação, soube no ato que era .
- Eu não sabia... Por que não me contou? Se eu soubesse, eu teria te ajudado, de alguma forma. Você não poderia me ajudar. - Pensei.
- Você foi... você é a pessoa mais encantadora que já conheci, desde o momento em que te vi pela primeira vez, eu paralisei. Como alguém igual você poderia olhar para um zé ninguém como eu? Eu nunca vou entender. - Riu forçado e eu quis abraçá-lo. - Eu tive tão pouco de você, mas ao mesmo tempo tanto, você foi a minha calmaria em meio ao caos, , e eu te agradeço por isso. - Fungou passando as mãos trêmulas pelo meu cabelo. - Se você quiser ir, minha linda, por favor, vá. Se for o desejo do teu coração e se te trouxer paz, te peço que vá. Sempre vou te ver nas bancas de revistas e vou sempre lembrar de você a cada vez que ouvir alguém me chamar de escritor, e eu daria tudo para ouvir sua voz me chamando novamente. Você me tocou e te levarei comigo, como uma fração de mim. Você sempre será a menina mais linda do cômodo, onde estiver. - Respirou fundo e falhadamente. - Mas se você puder, se não te fizer sofrer, então eu te peço, por favor, fica, o quanto você puder, mas, por favor, fica. Você trouxe uma alegria enterrada dentro de mim e talvez pareça egoísmo ou precipitação, mas minha vida é muito mais bonita com você nela, e eu amo você, , então fica.
Uma onda de energia percorreu meu corpo. Uma força nova, um impulso, o que faltava pra me despertar, a motivação por estar viva, o amor, e eu queria senti-lo.
Naquele momento, eu respirei fundo sentindo o ar entrar pelas minhas narinas de forma intensa, e então eu acordei.


Fim.



Nota da autora: Hey meus amores! Chegamos ao fim dessa história, como está o coraçãozinho? Se apaixonaram por esse pp tanto quanto eu? Espero que sim ahauaha.
Provavelmente vocês estão se perguntando, vai ter continuação? E a resposta é: Sim. Teremos continuação de Idas e Voltas, talvez em outro ficstape e talvez uma parte II em forma de long, ainda estou decidindo. Não tenho previsão para postagem da mesma, mas já vou começar a escrever e quem sabe não teremos essa segunda parte muito em breve, não é mesmo? Por isso vou compartilhar com vocês o link do meu Grupo de escrita, lá vou postar sobre minhas outras fics (Até agora só Co-Workers.) E novidades sobre essa aqui também.
Aqui está o link: https://m.facebook.com/groups/1785944705030855/
Entrem, por favor! Vou adorar ser acompanhada por vocês. Comentem oque acharam de Idas e Voltas! Gostaram desse plot? Supriu suas expectativas?
Estarei lendo todos os comentários e respondendo vocês.
Agradecimento a beta por dar aquela força, e deixar essa história lindinha assim. A Bárbara, por ler meus pedaços quebrados de fanfic e dar sua opinião me lembrando sempre de escrever. E um agradecimento especial a todas as meninas do ficstape “Os anjos Cantam.”, foi um prazer enorme conhecer vocês, obrigado por responderem todas as perguntas bobas e pelas horas de conversa no wpp.
Feliz 2018 a você, e que seu ano seja maravilhoso do começo ao fim. Xo, Rute.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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