Capítulo Único
Nós nos curvamos em agradecimento à presença de todas elas e nos encaminhamos aos bastidores do show, meu corpo ainda vibrava com toda a energia gasta naquela noite e eu só conseguia pensar em quanto tempo levaria para estar em casa. Longe daquela loucura, longe de tudo e de todos.
Eu não me sentia nem um pouco à vontade estando no meio daquele monte de pessoas gritando coisas desnecessárias, será que ninguém mais via como o show dessa noite tinha sido um fracasso? Ninguém conseguia perceber a quantidade de vezes em que nós erramos no palco? Era inaceitável erra nessa altura da nossa carreira.
Me joguei no sofá do camarim e cobri meus olhos com uma das almofadas ali presentes, minha cabeça ainda latejava e meu corpo implorava por um banho quente.
- Eu acho que errei uma vez em I need U - comentou tirando a camisa e enxugando o suor que escorria por sua nuca.
- Uma vez? - minha voz saiu mais fiada do que eu realmente planejei e os olhos de se viraram em minha direção de forma desafiadora.
- Acho que todos cometemos erros hoje - ele falou e se jogou no sofá de frente ao meu secando os cabelos com a toalha preta em suas mãos.
- Coisa que não era mais para acontecer, né? - eu conseguia sentir a acidez na minha voz e sabia que todos ali também sentiam.
- Você quer dizer alguma coisa pra nós? - perguntou me encarando e eu revirei os olhos.
- Como se falar resolvesse alguma coisa.
- Não ‘to entendendo a sua, , se tem algo te incomodando, você deveria falar em vez de ficar jogando indiretas. - se levantou do chão e foi até o pequeno frigobar pegando duas garrafas de água das quais ele entregou uma a que se alongava no chão.
- Não é indireta, quem errou sabe! Só não é legal comprometer todo o grupo em vez de treinar mais! - eu me sentei mais ereto no sofá e gargalhou.
- Ótimo líder você está sendo.
- Você está incomodado? A porta de saída é bem ali - falei e se levantou jogando sua camisa contra a mesa.
- Isso tudo é ridículo!
- errou passos ridículos! - me levantei apontando para os mesmo que fechou a cara em minha direção - E pra completar ainda errou vários tons ao longo do show! VÁRIOS! - Eu fui até o frigobar pegando uma garrafa de água e a entornei em minha boca.
- Quem você acha que é pra falar assim? Tenho certeza que ele sabe que errou e que vai se dedicar mais, não cabe a você ficar irritado - saiu em defesa de e eu revirei meus olhos.
- Por que você está falando por ele? Ele não tem boca pra defender suas próprias brigas? - se levantou caminhando em minha direção e se pôs na frente dele.
- Isso aqui nem era pra ser uma briga! não desconte seus problemas em cima de nós!
- Ele está certo! Eu errei várias vezes, mas vou me dedicar mais, eu juro que vou. - a voz de saiu embargada e eu bufei.
- Você fala isso desde o debut, na verdade nem sei como você conseguiu debutar.
- ! OLHA COMO VOCÊ ESTÁ FALANDO, CARA. - gritou e eu me virei pra ele, meu rosto queimava em raiva pela falta de respeito dele e meu corpo tremia como eu nunca pensei ser capaz de tremer.
- VOCÊ TÁ ACHANDO QUE ESTÁ FALANDO COM QUEM NESSE TOM? - Meus pés começaram a se mover na direção dele que se levantou me encarando de volta.
se pôs na minha frente e empurrou levemente meus ombros para que eu recuasse, ele me encarou com a expressão fechada e cruzou os braços em desafio.
- O que você acha que está fazendo? Você não pode falar assim com ninguém aqui, nós somos uma equipe e se está ruim, se tem algo que você não está contente, senta e conversa com a gente. - ele apontou o dedo em minha direção e continuou. - Gritar e julgar não vai melhorar nada.
- Eu estou farto de carregar esse grupo nas costas! Vocês protegem tanto esse cara que ele nem abre a boca pra se defender! Ele errou! E não faz nada pra melhorar! - Apontei para que levantou vindo em minha direção.
- Eu sei que errei, . Eu mais do que ninguém sei como eu erro e você apontar o dedo pra mim não vai mudar nada disso. - a voz dele saiu novamente embargada e eu abri os braços em deboche.
- SÓ VOCÊ PODE MUDAR ISSO, ! VOCÊ TEM QUE PARAR DE SE VITIMIZAR E SE ESFORÇA DE VERDADE. - gritei e gritou comigo em seguida.
- PARA JÁ COM ISSO! Todo mundo aqui se esforça e você mais do que ninguém sabe disso, se você está cansado de “carregar o grupo”, a porta é bem ali como você disse - ele apontou pra saída e eu gargalhei.
- A hora que eu cruzar aquela porta, vocês estão acabados. - foi a vez de gargalhar.
- O BTS não é só você não, . Como o disse, nós somos uma equipe e se estamos aqui hoje é graças a todos nós e não só a você. - ele falou e eu neguei com a cabeça farto de tudo aquilo.
Era óbvio que eles não enxergavam como eu tinha carregado aquele grupo praticamente sozinho durante todos aqueles anos, ninguém reconhecia como eu tinha me esforçado e dado tudo de mim para que chegássemos aonde chegamos. Eu já estava farto de carregar todos eles sendo que nenhum deles procurava melhorar. Eu não aguentava mais toda a pressão. Não aguentava mais a mídia. Não aguentava mais a responsabilidade de ser o líder do BTS. Não aguentava mais nada.
- Ótimo! Vamos ver quanto tempo vocês vão sobreviver sem a minha presença - falei pegando meu telefone e chaves em cima da mesa - Quanto tempo leva pra vocês acabarem com a carreira que eu construí.
Caminhei sem olhar pra trás deixando aquela e depois o estádio.
Dois dias depois...
Eu me joguei na cama do meu antigo quarto e fechei meus olhos tentando controlar minha respiração, tudo a minha volta parecia mais pesado e meu corpo implorava por um tempo de tudo. Minha mãe estava me seguindo por todos os cantos tentando descobrir o verdadeiro motivo de eu estar de volta em casa bem no meio da promoção para o comeback, ela nunca foi uma pessoa muito curiosa, mas eu conseguia ver nos olhos dela o quanto ela queria saber sobre o que havia acontecido. As coisas ficaram mais difíceis quando ela começou a perceber a quantidade de vezes que eu recusava as ligações no meu celular e então eu não vi outra opção a não ser me trancar em meu quarto.
Abri meus olhos e encarei a pequena estante no canto do quarto, nela continha milhões de papéis empilhados no canto e eu ri lembrando que provavelmente era os rascunhos de músicas que eu escrevi durante toda a minha adolescência, no outro lado havia meu antigo computador e eu me perguntei se ele ainda ligava, o que fez com que eu me levantasse e me sentasse de frente para ele.
O processador levou quatro vezes mais tempo pra ligar do que o meu atual computador e quando eu comecei a navegar pelas pastas de arquivos que eu mantinha ali não pude conter o sorriso em meu rosto, havia tantas fotos ali que eu nem me lembrava de metade delas.
Eu sorri vendo as fotos pré-debut que eu tinha ali do lado de alguns dos meus atuais companheiros de grupo, era ridiculamente visível como todos nós tínhamos mudado e meu coração doeu um pouco quando um dos vídeos ali presentes começou a rodar.
estava praticando sozinho no canto do estúdio enquanto o resto de nós conversávamos do outro lado, e eu me senti um idiota por ter falado aquelas coisas para ele. Era óbvio que ele se esforçava, às vezes, muito mais do que todos nós e eu fui cruel demais com ele.
Desci as escadas correndo e encontrei minha mãe sentada no sofá assistindo um programa na TV, ela me encarou por alguns segundos e sorriu.
- Eu vou dar uma volta. - anunciei e ela concordou se levantando e caminhando em minha direção.
- Tome cuidado. - eu me abaixei e ela depositou um beijo em minha testa.
O vento frio me fez apertar mais o casaco em torno do meu corpo e eu me arrependi de não ter posto alguma touca mais grossa. Meu rosto parecia que ia congelar a qualquer momento e eu tremia tentando controlar a temperatura do meu corpo. Encarei todo o gramado a minha frente e não pude conter o sorriso em meus lábios, eu amava tanto aquele lugar e a falta que ele me fazia era estranhamente difícil. Estar em casa me deixava tão leve que eu me perguntava diariamente se ter saído da minha cidade tinha sido a melhor escolha no final das contas. Eu amava meu trabalho. Estar em cima do palco e poder levar felicidade para todos através da minha música era uma das melhores sensações do universo, mas eu sentia tanta falta de estar em casa.
O jardim que minha mãe mantinha nos fundos da casa era uma das coisas mais lindas que eu já pusera meus olhos, eu tinha trago diversas flores e plantas para ela ao longo dos anos e ela transformou aquele pequeno espaço em uma obra de arte. Era tudo tão bonito que eu não conseguia nem desviar meus olhos. A cerca de madeira que dividia nossa casa da do vizinho se abriu e eu me assustei quando uma garota atravessou para dentro de nosso quintal. Ela carregava um regador e uma mangueira em suas mãos, ela estava ridiculamente embrulhada em um casaco verde claro e botas felpudas rosa choque. Seus cabelos estavam protegidos pela touca preta e ela cantarolava alguma coisa que saia de seus fones de ouvido.
Ela se virou em minha direção e soltou um pequeno grito quando me viu parado ali.
- Mas que porra! Você me assustou. - ela riu e tirou os fones do ouvido, vindo em minha direção depois de colocar o regador e a mangueira no chão. - O que está fazendo aqui?
- Acho que eu que deveria perguntar isso a você. - falei e ela revirou os olhos se sentando ao meu lado.
- Eu molho o jardim para sua mãe. - ela suspirou e eu a encarei.
- Obrigado.
- Não faço nada por você. - seu corpo se virou de frente para mim e ela mordeu o lábio inferior. - Você é bem mais alto do que eu lembrava.
- A gente se conhece? - avaliei seu rosto e corpo, certeza que eu não a conhecia, aquele rosto não seria facilmente esquecido.
- Estou até ofendida! Nós estudamos nossa vida inteira juntos, - ela sorriu cinicamente - Ou devo te chamar de ?
- - falei revirando os olhos - eu não me lembro de você.
- Talvez você deva acrescentar algumas espinhas e óculos a esse rostinho aqui - ela falou e voltou a encarar meu rosto, eu continuei confuso e ela bufou. - Qual foi, baby monster, você não vai lembrar de mim?
- ! - só uma pessoa insistirá de me chamar de baby monster por toda a minha infância e parte da minha adolescência, e eu não conseguia reconhecer seu rosto anos depois. - Você está muito diferente!
, a pequena estrangeira que mudou para casa ao lado da minha quando eu tinha um pouco mais de cinco anos, ela costumava ser minha sombra durante toda a minha infância e pré-adolescência. Ela era um ser minúsculo perto de mim e eu fiz da minha missão sempre mantê-la protegida. tinha sido minha primeira paixão, foi algo tão bobo, mas eu me lembro a quantidade de vezes que eu chorei nos meus onze/doze anos quando ela resolveu me trocar por meninas. Eu senti tanta falta dela que toda noite eu chorava. Ela quase não falou comigo por dois anos, até que seu pai morreu em um acidente de carro e eu fui seu porto seguro. costumava vir até minha casa e passar o dia encolhida em minha cama enquanto eu trabalhava em alguma música. Ela também foi meu primeiro beijo, quando eu tinha quinze anos, eu estava tão nervoso que depois do beijo corri como uma garotinha assustada para casa.
- Sair da puberdade fez bem pra mim - ela riu e eu reconheci o som de sua gargalhada, o que fez com que alguns pelos do meu corpo se arrepiarem.
- Eu posso ver que sim - comentei e desviei meus olhos para o jardim novamente.
ficou em silêncio enquanto mexia nas pontas dos cabelos, ela soltava pequenos suspiros as vezes, o que pelo que eu me lembrava, mostrava que ela estava incomodada com alguma coisa, então me virei em sua direção e encarei seus olhos que já me fitavam.
- Como vai sua vida? - perguntei e ela sorriu de lado.
- Eu me formei ano passado, agora divido meu tempo entre cuidar da minha mãe e o trabalho - sua voz saiu animada e eu sorri em sua direção.
- Como vai sua mãe? - o sorriso em seu rosto deu uma pequena murchada e ela suspirou.
- Ela está bem, se você não considerar as crises de pânico - murmurou e eu me lembrei de como a mãe dela tinha ficado depois da morte de seu pai.
- Eu fico feliz que ela esteja bem - concordou e respirou fundo.
- E a sua vida? Pelo que eu acompanho nas redes sociais era pra você estar enfiado em um estúdio ensaiando - ela se virou em minha direção e sorriu - o comeback está próximo, né?
E então ali eu vi a oportunidade de me abrir, de tirar todo aquele peso em minhas costas, de finalmente tirar aquele bolo da minha garganta.
- Eu meio que briguei com o resto do grupo. - murmurei e ela se virou totalmente em minha direção.
- E por que você está aqui?
- Porque eu estou cansado de tudo cair em minhas costas. - falei e ela se recostou na parede me encarando
- Conversar com eles está fora de questão? - perguntou e eu afirmei com a cabeça e então ela suspirou.
- Não dá pra conversar, a verdade é que não tenho mais a mesma paciência. Eles começam a falar e eu perco o controle, eu falei umas coisas muito pesadas para o dessa vez. - falei e ela arregalou os olhos
- O que você falou para o ? - tapou os ouvidos em seguida – Não, eu não quero ouvir.
Eu soltei uma gargalhada da reação dela e me encolhi mais no canto da parede, ela me avaliava com aqueles olhos incrivelmente brilhantes.
- Eu conto ou não? - perguntei e ela fez que sim - talvez eu tenha falado que ele nem mereceu debutar - falei baixo e ela escondeu o rosto entre os joelhos.
- Não acredito que você fez isso!
- É, eu sei, fui um completo babaca - ela se levantou e foi até o regador começando a regar as plantas da minha mãe.
ficou em completo silêncio durante alguns minutos, soltando apenas alguns murmúrios, eu me levantei conectando a mangueira na torneira e comecei a molhar as plantas junto à ela.
- Você está brava? - perguntei encarando o perfil dela e ela suspirou.
- Estou tentando procurar as palavras certas pra falar como você foi ridículo - ela falou e eu ri.
- Eu já sei que errei.
- Mas já tentou se desculpar? - ela perguntou e eu desviei os olhos para as plantas.
Eu não tinha tentado me desculpar, a verdade era que eu não pretendia pedir desculpas ou simplesmente falar com ninguém até que eu me sentisse calmo o suficiente pra não explodir novamente. Eu sabia que tinha errado, mas aparentemente ninguém se importava o suficiente comigo já que apenas meu empresário tinha me ligado, nem mesmo ou tinham se dado ao trabalho de me ligar. Então porque eu tinha que ser aquele a quem correr atrás e pedir desculpas?
- Não posso - murmurei e ela riu negando com a cabeça.
- Por quê?
- Não vou me rebaixar a isso novamente! - minha voz saiu um pouco rude e ela novamente soltou uma pequena risada nasalada.
- Você mudou muito - comentou depois de alguns minutos em silêncio.
- Eu só cresci mais do que o esperado - falei e ela riu alto dessa vez.
- Não estou falando da parte física - me virei em sua direção e ela encarou meu rosto - o que eu conheci não pensaria duas vezes antes de tentar fazer as pazes com seus amigos, eu me lembro como ele odiava ficar brigado com alguém que amava.
- Esse não existe mais - falei e ela caminhou até a escada sentando ali mais uma vez, tirou a touca e arrumou os cabelos antes de a colocar novamente, e eu me vi hipnotizado pelos movimentos dela por alguns segundos, caminhei até a torneira a fechando e me sentei ao seu lado em silêncio.
- Eu não sei se gosto dessa versão de você - ela falou e eu engoli em seco, preferindo não responder.
A frase dela tinha mexido um pouquinho dentro de mim, saber que uma pessoa que foi fundamental na minha vida não gostava do que eu tinha me tornado era um pouco doloroso.
- Não me entenda mal, mas eu admirava tanto você e tudo que você conquistou sem perder a sua essência - ela encostou a cabeça nos joelhos e me encarou novamente - mas pelo visto eu me enganei.
- Eu só sei ser isso aqui - falei e ela piscou curiosa - Eu não sei mais ser diferente do que eu sou hoje, e eu já tentei milhares de vezes. Às vezes nem eu gosto da pessoa que me tornei - quando percebi já tinha soltado aquilo sobre ela que engoliu em seco, surpresa.
se aproximou de mim e passou seus braços sobre meus ombros, me abraçando de forma apertada, eu escondi meu rosto no pescoço dela e relaxei meu corpo no dela. começou a fazer um pequeno carinho em minhas costas e nós ficamos nessa posição durante incontáveis minutos apenas sentindo um ao outro.
- Você precisa lembrar - ela murmurou e eu me afastei o suficiente para encarar seus olhos confuso - Você precisa se lembrar de como era ser o antigo .
- Eu não sei como fazer isso - confessei e ela riu alisando meu rosto em um pequeno carinho.
- Você está em casa, , na sua cidade. Não tem lugar melhor pra você tentar voltar a ser o antigo - ela se levantou e parou de frente pra mim - Você só precisa lembrar.
Ela virou as costas e foi até a cerca puxando a madeira pra passar par seu lado do quintal, ficou parada ali por alguns segundos até que se virou para mim e disse sorrindo:
- Esteja pronto amanhã às dez, eu vou te mostrar como o antigo fazia - e então ela se foi, sem se despedir ou nada do tipo. Ela apenas atravessou a cerca e me deixou ali com aqueles comandos que eu pensei em negar, mas no fundo eu sabia que era tudo que eu mais desejava na vida.
corria na minha frente e eu já estava totalmente sem fôlego tentando acompanhar os passos largos dela, pra uma garota de menos de 1.70m, ela era rápida demais na corrida e eu estava irritado por ter perdido as três vezes que ela me desafiou. Nós estávamos há quase uma hora correndo pelas pistas de ciclismo do Ilsan Lake park e eu já quis afogar ela umas três mil vezes por todas as piadinhas em minha direção.
- Eu não vou mais correr! - me joguei na grama descansando meu corpo e abrir meu casaco, deixando o vento frio refrescar meu corpo, meus batimentos cardíacos estavam acelerados ao ponto de eu sentir a pressão em meus ouvidos, o que me deixou ainda mais irritado por estar tão fora de forma.
- Não acredito que você já está cansado! - ela riu tampando o sol do meu rosto com o corpo - nós costumávamos correr por horas por aqui!
- Nós éramos crianças! - acusei e ela gargalhou.
- Eu ainda me sinto uma criança desde que não estou sentindo nem um pouco essa corridinha de cem metros - ela falou em tom de deboche, eu puxei suas pernas pra baixo, a fazendo cai na grama ao meu lado e soltar um grito - seu idiota!
- Só fica quietinha aí, meu coração parece que vai parar a qualquer momento- falei ainda um pouco sem fôlego ele finalmente ficou quieta.
se levantou e me deixou sozinho por alguns minutos até voltar com uma garrafa de água a qual ela me ofereceu ainda com um sorriso sacana no rosto. Eu revirei os olhos e aceitei a garrafa bebendo quase todo o conteúdo ali presente em questão de segundos.
- Podemos continuar? - perguntou apontando para o caminho de pedras que levava a parte principal do parque, eu me levantei e saí caminhando na frente dela que gargalhou e veio para o meu lado. - Vamos correr até lá?
- Não! - agarrei seu pescoço a segurando embaixo do meu braço e nós fomos caminhando assim até uma das partes mais movimentadas do parque.
Por ser sábado, aquela área estava movimentada com famílias e casais espalhados por todo o gramado na beirada do lago, sentou encostada em uma árvore e me puxou para sentar ao seu lado. Nós ficamos em silêncio por um tempo observando tudo e todos a nossa volta e de repente eu senti uma sensação de calma dentro de mim que eu não sentia há muito tempo, era bom estar ali eu amava aquela vista e cada parte daquele lugar. Me virei pro tronco da árvore e achei a inicial do meu nome gravado ali ao lado da de .
- Não acredito que isso ainda esta aqui - meus dedos alisaram as letras e sorriu.
- Eu costumava vir aqui depois que você foi pra capital, eu passava horas sentada aqui e as vezes chorava com saudades - ela confessou e eu sorri abraçando seu pescoço contra meu peito.
- Sinto muito por ter te abandonado - falei e ela engoliu em seco.
- Você nem se despediu - sua voz saiu baixa e eu suspirei arrependido.
Minha mãe quase me bateu por querer esconder de sobre minha mudança, ela vivia me olhando torto pela minha decisão e quando eu fui embora sem me despedir dela, minha mãe ficou duas semanas sem falar comigo direito. E eu? Eu não fiquei nem um pouco bem por ter me afastado dela, mas com toda a correria e todas as responsabilidades e o trabalho, foi ficando para o fundo da minha mente até chegar ao ponto em que nem uma lembrança ela era mais.
- Eu não acho que conseguiria ir se você me pedisse para ficar - falei fazendo carinho em seus cabelos e ela suspirou apertando os braços em meu corpo.
- Eu nunca pediria isso a você - ela falou e eu ri beijando sua testa.
- Eu não podia arriscar - ela piscou deixando uma pequena lágrima escorrer em seu rosto e eu a sequei puxando novamente seu corpo para se encaixar ao meu.
- Você só pode estar brincando comigo! - Ela gargalhou e eu neguei rindo da reação exagerada dela ao descobrir que eu tinha quebrado noventa por cento dos presentes dos fãs.
- Não foi por mal! Alguns eu quebrei antes de conseguir desembrulhar - falei e ela gargalhou voltando a andar ao meu lado.
Nós tínhamos almoçado há algumas horas atrás e agora caminhávamos pelo centro comercial do centro lado a lado.
- ? - um homem alto a encarou e ela sorriu na direção dele, o recebendo com um abraço - finalmente encontrei você longe daquelas crianças!
- Aproveitando o final de semana! - ela sorriu e se virou pra mim - Você se lembra do ? Nós estávamos na mesma classe até o colegial. , esse é o Park Hyung Guk.
E então reconheci aquele rosto.
Hyung Guk tinha feito da minha vida um inferno durante todo o colegial, ele fazia questão de derrubar meu material e jogar meus óculos dentro da privada. Eu odiava tanto aquele cara que quase agradecia de joelho toda vez que ele era suspenso do Colégio.
- É claro que eu lembro! Nosso garoto estrela de Ilsan! - ele falou e me ofereceu uma mão em comprimento eu sorri sinicamente e apertei sua mão.
- É um prazer te rever - falei e ele sorriu - Vejo que você continuou preso aqui cuidando da loja dos seus pais - o veneno em minha voz não passou despercebido por nenhum de nós três e se pôs ao meu lado beliscando minhas costelas.
- Como vai a Suzy e as crianças? - perguntou e Hyung Guk abriu um sorriso grande para ela.
- Estão ótimos! Estou indo buscá-los no futebol - ele falou e se despediu de nós dois rapidamente.
- Ele casou com a Suzy? - perguntei voltando a andar.
- Ele estava indo pra capital jogar futebol, só que Suzy acabou engravidando e ele preferiu largar tudo e ficar com ela - falou e eu novamente me senti mal por ter falado daquele jeito com Hyung Guk.
- Eu não sabia - murmurei e ela saiu andando na frente - Me espera!
- Você não pode tratar as pessoas desse jeito, ! É errado! - ela falou e voltou a andar - vamos para casa, estou cansada.
Três dias. Esse era o tempo no qual não falava comigo, ela tinha realmente ficado chateada pela forma que tratei nossa antigo colega de classe e no fundo eu também tinha me xingado algumas vezes por deixar com que coisas do passado influenciasse minhas atitudes.
Meu empresário tinha me ligado uma vez a cada dia passado desde o dia que embarquei para Ilsan, hoje somava sete dias desde minha briga com os meninos e desde então, nenhum deles procurou fazer contato comigo.
Eu sabia o motivo pelo qual eu não tinha voltado pra casa ainda, era meu ego que estava ferido por perceber que não fazia falta para nenhum deles. Isso doía demais.
O tempo sozinho em meu quarto me fez perceber como eu sentia falta de estar com os meninos, da risada de cada um e de todo companheirismo que compartilhávamos. Eu revivi toda nossa história juntos e procurei achar o ponto em que começamos a nos desentender e tudo apontava na minha direção.
Eu tinha me tornado uma pessoa no mínimo chata de se conviver.
Começou com todas as vezes que eu preferia me manter em meu quarto a sair com eles para se divertir e então eu comecei a ficar por fora dos assuntos e das piadinhas, depois eu fui perdendo toda paciência para as brincadeiras até que comecei a explodir por qualquer coisa.
No final das contas, a culpa era toda minha. O cara que deixou com que a pressão e o estrelato mudassem sua essência e seus valores, eu tinha me tornado uma decepção não só para meus companheiros e amigos, mas para minha família também. Eu via a forma que minha mãe vinha me olhando nos últimos tempos e agora depois de pensar e analisar tudo aquilo estava me matando por dentro.
Meu telefone apitou em cima da mesinha de cabeceira e eu me estiquei para pegá-lo, a tela dele brilhava anunciando uma nova mensagem de voz e eu o desbloqueei, colocando o aparelho em meu ouvido para ouvir a mensagem.
“- Tá gravando? - a voz de saiu pelo aparelho e eu engoli em seco. - Acho que tá, então vou começar a falar.
- Anda logo ou vou tirar você daí - ameaçou e eu ri sentindo falta das ameaças dele.
- Calma! - suspirou e começou a falar – Hey, , você ainda está bravo com a gente? Eu queria me desculpar pela forma que falei com você, nós somos amigos e eu me arrependo pela forma que deixei as coisas.
- Isso não quer dizer que nós não achamos que você esteja errado - falou e eu suspirei concordando com ele.
- Mas nós somos uma equipe e devemos passar por tudo juntos, nossos staff nos aconselharam a deixar você esfriar a cabeça antes de tentar algum contato, mas bom, nós nunca fomos muito bons em seguir regras - se pronunciou e eu ri.
- Nós amamos você, , e a forma que tudo ficou deixou a mim e a todos os outros noites acordados - falou e eu ouvi os meninos concordarem.
- Você é nosso líder e nós entendemos como deve ser difícil para você nos liderar, nós reconhecemos que é você aquele que sente o impacto de tudo com mais força porque é você que está sempre na frente - falou eu deixei a primeira lágrima escorrer de meus olhos.
- Nós erramos e queremos que você nos desculpe, não estamos falando apenas do último acontecimento, e sim de tudo que aconteceu durante esses anos. Você é o melhor líder e amigo do mundo, sempre tão preocupado com nosso bem estar e com nossa saúde.
- , eu sinto muito por desapontar você - falou e eu me senti mil vezes pior.
- Tome seu tempo pra pensar sobre tudo que vem te atormentando que nós vamos ser os líderes por aqui e quando você se sentir pronto para voltar, vamos estar aqui de braços abertos para te receber, nós amamos você, , e esperamos que você possa nos perdoa por todo estresse - falou e eu fechei os olhos sorrindo para o nada.
- Quando você voltar, vamos preparar uma grande refeição para você. - falou e gargalhou.
- Você quis dizer que eu vou preparar, não é?
- , eu arrumei todo seu quarto e aspirei seu estúdio - falou e eu sorri ainda mais.
- Volta logo pra casa, ! - foi a vez de falar.
- Onde eu aperto para parar de gravar? - perguntou.
- No vermelho. - falou e eu então foi anunciado o fim da chamada.”
Eu joguei meu telefone em cima da cama e respirei fundo tentando controlar as lágrimas que escorriam por meu rosto. Ouvir aquela mensagem tinha mudado tudo dentro de mim e eu me controlei para não arrumar minha mala e voltar para casa.
Eu tinha algumas coisas pra resolver antes de voltar para casa e isso era algo que eu não podia fazer à distância.
Me levantei da cama e abri a porta de meu quarto botando a cabeça para fora.
- MÃE?
- Sim querido? - ela apareceu no topo das escadas e sorriu para mim.
- A senhora tem o telefone da ? - perguntei e ela afirmou pegando o celular do bolso do casaco, eu copiei o número para meu aparelho e dei um beijo na testa de minha mãe. - obrigado!
Eu me sentei na beirada de minha cama e salvei o contato de em meu celular, abrindo o aplicativo de mensagem em seguida, procurei seu número e abri o chat observando a foto de perfil dela.
“Você ainda está brava comigo? - ” mensagem recebida às 16:37.
Fiquei encarando a tela do meu celular esperando pela resposta dela por quase três minutos, quando a confirmação de leitura apareceu para mim, meu coração deu uma leve acelerada e eu comecei a roer minha unha em nervosismo.
“Eu deveria estar, mas não, não estou”
Eu sorri aliviado e logo respondi a mensagem dela:
“Então você já está pronta pra me levar em outro lugar?”
“Esteja pronto às 21:00”
Eu estava pronto às oito horas, meu estômago revirava em nervosismo e eu já tinha arrumado meu cabelo na frente do espelho e já tinha trocado de camisa umas dez vezes quando tocou a campainha da minha casa.
Nós caminhamos por quase vinte minutos depois que descemos do carro, conversamos sobre coisas aleatórias, eu contei para ela sobre a mensagem dos meninos e ela só faltou pular de emoção na minha frente dizendo como nós éramos incríveis.
- Ei, você lembra daquele lugar? - ela perguntou apontando para a porta lateral da boate em que estávamos na fila agora.
- Eu deveria lembrar? - perguntei observando seu rosto e ela mordeu os lábios sorrindo timidamente.
- Foi ali que você me deu meu primeiro beijo.
Eu encarei aquela saída e engoli em seco me lembrando daquela noite. Foi logo depois de um show de rap que nós tínhamos ido com alguns outros amigos. Nós bebemos um pouco mais do que o recomendado e então ela tinha me puxado para a pista de dança e esfregado seu corpo ao meu como mulher nenhuma tinha feito ainda, eu me lembro de como puxei ela para aquela saída e de como beijei seus lábios contra aquela parede e de como ela parecia gostar de ter meus lábios sobre os seus.
- Eu me lembro, agora - sorri para ela que passou a língua pelos lábios lentamente.
- Bons tempos aqueles - falou e entregou nossas identidades para o segurança da casa de show.
Estar em casa tinha sido a melhor escolha que eu havia feito em anos, eu me sentia um novo homem depois de reviver momentos de minha infância e adolescência, eu havia visitado lugares já esquecidos pela minha mente e revido pessoas que eu nem lembrava de terem feito parte da minha vida um dia.
Estar em casa tinha renovado todas minhas energias e eu me encontrava pronto para passar por cima de qualquer coisa, eu já podia sentir toda aquela alegria em minhas veias da época do debute, eu me encontrava mais calmo e menos ansiosos.
A noite passada tinha servido para que eu ao lado de tomasse algumas decisões importantes sobre meus próximos passos, faltavam menos de duas semanas para o comeback e estava na hora de voltar para casa, ela me incentivou a voltar e conversar com meus amigos, segundo ela tudo que faltava era eu ser claro sobre tudo que eu sentia com eles. E eu concordava com ela.
Ser o líder sempre tinha sido peso demais para mim e eu sabia que dividir o peso com os meninos era a melhor decisão a se tomar.
Me despedir de minha mãe foi a pior parte de tudo, ela chorou em meus braços até o momento em que meu voo foi anunciado e depois se afastou dando espaço para que eu finalmente me despedisse de .
.
Eu tinha passado a noite toda em claro pensando em como seria seguir a vida depois daquelas semanas ao lado daquela garota, eu já não me via sem ela em meus braços e isso era ridículo, desde que nós não éramos um casal.
Ela entrou em meu quarto na noite passada e me mostrou com clareza os meus próximos passos, ela me guiou para que eu apenas seguisse em frente, e quando eu soltei a pergunta de como nós ficaríamos, ela apenas sorriu e disse que nada mudaria.
Ela sempre estaria ali por mim.
não sairia de Ilsan por conta de sua mãe e ela jurava que ela estava ali para cuidar da minha também, mas nós estabelecemos algumas ideias de visitas que agradava aos dois, o que deixou minha mente e coração muito mais leve.
Quando eu entrei em meu dormitório, meu coração estava acelerando e minhas pernas tremiam como varas verdes no meio de um vendaval, eu podia escutar a voz de e vindo da cozinha. O barulho de água mostrava que algum deles estava no chuveiro e a TV ligada denunciava a presença de alguém na sala.
Eu deixei minha mala no canto do hall de entrada e calcei meus chinelos entrando de vez na sala, o primeiro a entrar em meu campo de visão foi , que sorriu ao me ver e caminhou em minha direção com os braços abertos, ele me envolveu em um abraço caloroso e ficou em total silêncio por alguns segundos.
- Você está proibido de sumir assim! - falou e eu concordei
- Me desculpe por isso - murmurei e ele sorriu dando de ombros.
- Você não foi o único a explodir essa semana - sussurrou como se contasse um segredo - e tiveram a briga do ano! E com você longe para amenizar as coisas, só virou uma bola de neve quando e se intrometeram.
- Você é um fofoqueiro, ! - acusou entrando na sala, ele me encarou e sorriu - é bom ter você em casa, isso vira uma bagunça sem você aqui. E sim, eu aceito suas desculpas e sei que você aceita as minhas também, eu não quis dizer nada daquilo.
- Eu sei disso - falei e ele se aproximou sorrindo.
- Porém, depende, às vezes eu realmente queria falar aquelas coisas.
- Eu sei disso também.
- Adoro esses momentos - abraçou nós dois pelo pescoço e saiu puxando a gente em direção à cozinha.
, e estavam sentados na cozinha comendo quando nós entramos e foi o primeiro a vir em minha direção sorrindo.
- É bom te ter de volta! - ele declarou me abraçando e eu retribuí o abraço
- É bom estar de volta - murmurei e me virei para - Espero que o super banquete esteja de pé.
Ele gargalhou e se levantou se jogando em meu colo, o que quase nos levou ao chão.
- Eu vou preparar a melhor refeição do mundo! - eu ri e me virei para que sorria para nós.
- Precisamos conversar - anunciei e ele concordou me seguindo até meu estúdio.
Eu me sentei na minha cadeira e se acomodou no sofá soltando um suspiro calmo assim que eu me virei em sua direção.
- Eu queria pedir desculpas - comecei e ele assentiu com a cabeça - tudo que eu disse para você foi muito errado, e eu te juro que vou fazer de tudo para recompensar você.
- Você não precisa - ele se apressou em dizer e eu neguei.
- Eu fui um total idiota, . Não me surpreenderia se você nunca mais olhasse na minha cara, seria aceitável depois de tudo que eu disse.
- Eu nunca faria isso, você é um dos meus melhores amigos!
- Você tem um coração muito bom, , eu não sei se eu perdoaria alguém que me dissesse metade das coisas que eu disse a você.
- Eu sei que você estava sobpressão, não vou deixar isso abalar nossa relação - suspirou e se levantou - já passou e eu sei que você não estava falando sério quando disse aquelas coisas, doeu, mas agora já é passado.
Eu me levantei e o abracei sentindo todo aquele peso ir embora do meu corpo, eu final estava em paz.
- Me desculpe por tudo.
- Eu desculpei no minuto seguinte - ele riu e se afastou.
- Onde está o ? - perguntei e ele deu de ombros.
- Dormindo, provavelmente, mas não se preocupe, ele nem lembra mais o porquê de nós termos brigado.
- Eu ainda quero me desculpar com ele - falei e ele sorriu.
- É bom te ter de volta em casa - ele virou as costas para sair do estúdio, mas se voltou para mim antes de fechar a porta - Quem é ?
- Uma amiga de Ilsan, por quê? - perguntei curioso e ele deu de ombros.
- Ela nós mandava mensagem falando sobre você, nós achamos que ela é tipo seu anjo da guarda - ele disse eu ri concordando.
É óbvio que ela mantinha eles informados.
O palco estava completamente iluminado e a multidão de fãs ali presentes gritavam e cantavam ao som de cada nova música que cantávamos, a energia era contaminante e eu não conseguia parar de sorrir um segundo sequer. Todos em minha volta representavam seu papel de forma perfeita, o que deixava ainda mais incrível.
Vinte e oito cidades.
Foram vinte e oito cidades visitadas durante todo nosso comeback, cada cidade de cada país nos ensinando um pouco mais, nos deixando mais intensos e cada vez mais feliz por estar ali. Foram meses incansáveis de show e promoções por todo o mundo, sem qualquer chance de descanso, mas tudo estava diferente. Nós éramos mais que uma equipe agora, éramos uma base sólida de apoio um aos outros e isso fez toda diferença.
Foi preciso eu estar de volta a minha cidade para perceber que eu podia ser feliz em qualquer canto do mundo, era só manter meu coração e mentes limpos e manter aqueles que amava por perto.
Dessa vez, quando todos as luzes se apagaram e nós nos despedimos da plateia, meu único pensamento era em como eu estava feliz de ter dividido esse momento como aqueles seis caras, em como eu era sortudo de ter eles ao meu lado. Tudo estava de volta ao normal e eu era totalmente agradecido por isso.