Capítulo 1

Observava de longe Capitão correndo e os soldados da Equipe o acompanhando. Já tinha algum tempo que havia se tornado um hábito, o observar em sua perfeita forma correndo pela base militar. Seu olhar era frio como em todos os outros dias e sua feição séria, mas nada me tirava da cabeça a ideia de entrar naquela geleira que é seu coração.
— Tenente ! — O soldado gritava e parecia bem preocupado. — Um soldado se acidentou no campo de treinamento.
Peguei a minha maleta de primeiros socorros e segui o soldado. Encontrei o homem caído e o mesmo segurava forte um dos braços, havia algo de errado com ele. Corri e me aproximei do homem prestando os primeiros socorros e logo, identifiquei o motivo de segurar o braço, o osso havia sido fraturado e precisaria de um gesso.
— O osso está fraturado — disse — Consegue andar, soldado?
— Consigo. — O mesmo respondeu.
— Vamos até o meu consultório realizar o devido procedimento — disse — quanto antes for feito mais rápido melhorará.
Com o braço devidamente engessado e medicado, o homem se retirou do consultório. E fato que depois de um atendimento, eu entendia o motivo de ter escolhido a medicina há alguns anos, por amor em cuidar das pessoas, mas o exército não foi bem uma escolha, não consegui fugir dos planos do Coronel , meu pai.
— Tenente! — Capitão prestou continência.
— Capitão ! — Não consegui evitar admirar quanto à farda lhe caiu bem.
O homem adentrou a ala de consultórios e o segui, mas ele passou longe do meu consultório, mas não perderia uma oportunidade como aquela.
— Precisa de ajuda Capitão? — Disse alto. — Meu consultório está sempre à disposição.
O homem continuou andando e acabou entrando em outro consultório qualquer e sorriu ao perceber sua tentativa de fugir de mim.
Mal sabe ele que eu não costumo desistir facilmente das coisas que eu quero.

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Mais um plantão 24 horas concluído e tudo que eu queria era minha casa e aproveitar minha tão merecida folga, porém, as vozes do Capitão e seu melhor amigo e companheiro de equipe, Sargento , me chamou atenção e acabei escutando a conversa dos dois.
— Cara — Sargento sacudiu a cabeça — isso é loucura.
O que era uma loucura?
, você não entende? — Ele parecia impaciente, colocou sua mochila em cima do capô do carro e mostrou algo no celular para o amigo.
— Ir ao casamento da ex-namorada já é algo estranho, mas quando ela ainda é a mulher que você ama, consegue ser ainda pior.
— Eu escolhi não estar ao seu lado — disse sério — eu quero que ela seja feliz e o convite chegou até a mim.
— Não conte comigo pra essa loucura — disse — não quero presenciar você dar um soco em si próprio porque sabe muito bem que não escolheu coisa alguma, ela decidiu por si só o rumo do relacionamento de vocês.
Descobrir que na vida de existia uma mulher importante e que ele amava, não foi algo agradável, mas nada me abateria ou me faria recuar. E já sabia exatamente o que faria e como.


Capítulo 2

O dia estava ensolarado e perfeito para sair e relaxar um pouco. As últimas semanas foram intensas de muito trabalho e regadas a muitos plantões 24 horas.
— Lembrou que tem uma amiga? — brincou e me abraçou fortemente.
— Para de ser bobo — sorri — muito trabalho, amiga.
— Sei — minha amiga sorriu — só, por favor, não me diga que esses plantões são por causa do Capitão bonitão que não te dá bola.
— Para de falar besteira — disse — uma quantidade considerável da equipe médica está de licença maternidade, ou seja, o trabalho precisa ser feito e esse é o motivo dos meus plantões.
— Ok, Tenente, apaixonada pelo Capitão, bonitão. — brincou.
, por favor, para de chamar ele assim. — Disse.
Adentramos o restaurante e o cheiro de comida italiana abriu ainda mais o meu apetite. Aproveitamos para pedir uma garrafa de vinho e colocamos nossos assuntos em dia. Confesso que sentis falta da época de faculdade onde me via tendo uma liberdade até então desconhecida, dividia quarto com a e aos poucos nos tornamos amigas, e a mesma não acreditava em como conseguiu aquilo, pois não escondi de ninguém minha dificuldade em confiar nas pessoas.
— Repete, por favor! — Minha amiga disse com dois vestidos em suas mãos.
— Vou a um casamento com o capitão — minha amiga não entendeu — a ex-namorada dela vai casar e ele irá à festa.
— Como você descobriu isso? Ele te convidou?
— Eu ouvi a conversa dele com o amigo — admiti — não, ele não me convidou, mas eu irei de companhia. O amigo dele não…
! — Minha amiga me alertou.
, qual o problema nisso?
— Pelo que você conta, ele é um homem muito reservado quanto à vida pessoal, ou seja, cuidado para não se enfiar onde não deve.
— Você não entende — disse — esse homem mexeu demais comigo.
— E acha que eu não sei? — Ela sorriu. — Até hoje não sei o que ele fez pra despertar esse sentimento em você. Por que vocês trocaram, o que, duas palavras? E ele te cumprimentar não conta.
— Ele é diferente e isso me faz querer conhecê-lo melhor.
— Não adianta eu falar que isso é loucura, né?
— Não! — Afirmei e ela sorriu me entregando dois vestidos para provar.
Minha amiga me conhecia e sabia que quando eu enfiava algo em minha cabeça, eu ia até o fim.

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Já passava das oito quando adentrei a casa do meu pai e o encontrei sentado na varanda com um copo de uísque em sua mão.
— Pai! — Dei um beijo em sua bochecha e me sentei no banco de frente para ele.
— Atrasada! — Meu pai disse sem olhar pra mim.
— Mas estou aqui e é o que importa. — Respirei fundo, não estava a fim de, começar mais uma das nossas discussões intermináveis pela sua mania de querer controlar a minha vida.
Meu pai me entregou um envelope e ao abrir não me conformei com o que estava vendo, não era a primeira vez que verdadeiro “cardápio” de possíveis pretendes era oferecido a mim pelo meu próprio pai.
— Você já está na idade apropriada para um casamento — meu pai disse sério — deixei curtir sua liberdade ao entrar pra universidade, deixei que se adaptasse a vida militar, mas não vejo mais motivos para adiar os encontros.
— Pai…
, você precisa encontrar um homem, bom e com recursos para cuidar de você e dos futuros filhos que terão — meu pai disse, firme — os homens das fotos são todos de famílias importantes, filhos de amigos próximos e excelentes pretendentes.
— Você não entende, não é mesmo? — Disse impaciente.
— O que eu não entendo? — Meu pai disse com raiva. — Explica o que eu não entendo.
— É a minha vida, pai — gritei — e você sempre tentando manipular, eu deixei você fazer isso em relação ao exército. Quanto ao meu futuro marido? Não deixarei.
! — Meu pai me repreendeu.
— Não sou um acordo de negócios, pai — me levantei — você pode mandar e desmandar no quartel por ser o coronel, ou nas empresas que herdei, mas na minha vida, mando eu.
Não aguentava mais o clima de brigas gerado pelo pai e suas manias de querer mandar e desmandar em minha vida, porém alguém precisava colocar um freio em suas ideias que não o deixaria colocá-las em prática.
, vamos beber. — Disse assim que minha amiga atendeu o telefone.
A conversa foi tão pesada assim?
— O papo de encontro às cegas… de novo! — Disse impaciente.
No mesmo bar de sempre? — Minha amiga sorriu.
— Isso. — Disse já dando partida no carro.

O bar estava cheio e aguardava por no balcão e por sinal, minha amiga estava bem atrasada. Algumas doses de tequila já circulavam em meu sangue, mas ainda não era suficiente e pedi mais uma rodada dupla.
— Deixa um pouco pra sua amiga aqui. — sorriu ao se sentar no banco ao lado.
— Achei que não viria — fiz sinal pedindo mais duas doses — me vi obrigada a começar sem você, mais um minuto sobrea e acho que explodiria.
— Seu pai é uma mala mesmo — minha amiga sorriu e bebeu de uma só vez a dose — sempre se metendo onde não foi chamado.
— Chega de assunto chato — puxei minha amiga pela mão — vamos dançar.
A música estava alta e um ritmo latino saía pelas caixas de som, meu corpo se movimentava e me sentia muito bem, diferente da forma que entrei naquele lugar. Dançar era uma das minhas paixões, porém em público só funcionava depois de muito álcool. sorria ao dançar com um moreno e aquele olhar não me era estranho, mas decidi ignorar e ir buscar mais bebida, ainda não era o suficiente. Com dificuldade, consegui passar pela multidão e peguei dois drinques, mas o líquido se espatifou no chão por culpa de uma pessoa que não olhava por onde anda.
— Qual seu problema? — disse ao me levantar e o homem permaneceu quieto — não vai falar nada?
— Desculpa — o homem disse e sua voz me soou um tanto quanto familiar — pode deixar que pago outro pra você.
E então o encarei de perto e ele me olhou um pouco assustado, mas, com certeza, era . E as minhas pernas vacilaram e ele me deu um suporte, sorri pra ele que me levou até um dos bancos sentando-me em um dos mesmos.
— Tenente ? — Sua voz soou preocupada.
— Pra você apenas ! — Sorri e passei a mão em seu braço, mas ele permaneceu com uma pedra, sem esboçar nenhuma reação.
— Você veio sozinha? — Ele perguntou.
— Você quer saber se eu tenho namorado, Capitão? — Sorri — Não tenho e eu vim sozinha, mas você pode mudar isso, basta querer.
— Estou falando sério, Tenente! — O homem disse impaciente.
— Eu também, Capitão — brinquei e ele ficou ainda mais impaciente — .
— Quem é ?
— Minha amiga — disse — eu estou com ela, aquela dançando com o moreno bonitão.
— Não sai daí — disse sério — Já volto.
— Sim, senhor Capitão! — Brinquei e ele sacodiu a cabeça antes de se enfiar na multidão.
Aproveitei para pedir um drinque já que o meu havia sido desperdiçado caindo no chão, e o líquido descia pela minha garganta como se fosse água e estava quase conseguindo esquecer dos meus problemas com o meu pai.
! — correu preocupada e me analisou por alguns minutos.
— O que houve? — Perguntei sem entender.
— Você tá bem? — Minha amiga me olhou desconfiada e notei o Capitão e o Sargento ao seu lado.
— Eu? — sorri e me levantei apoiando no balcão — Tô ótima!
Senti dois braços em minha cintura e meu corpo foi colocado em cima dos ombros largos de , que reclamava com o amigo e com por ter me deixado beber. Não queria ir embora e me debatia em cima do ombro do homem.
— Pode me colocar no chão? — disse e ele me ignorou — sou sua superior e você não está me obedecendo.
— Não estamos no quartel — disse impaciente — e pode fechar a boca, por favor? Não estava nos meus planos ser babá de bêbada, estou tão descontente quanto você.
pegou as chaves do meu carro em minha bolsa e me colocou no banco traseiro, mas queria ficar mais perto dele e o puxei pela camisa deixando-o ainda mais perto, e ele continuava resmungando e depois de muito tentar conseguiu colocar o cinto. Sargento estava no banco carona e estava ao meu lado um pouco preocupada.
— Você não pode beber, ! — Minha amiga sorriu. — Olha a confusão que nos enfiou?
E então comecei a rir, sem entender o motivo e minha amiga me acompanhou nas risadas enquanto dirigia impaciente e o Sargento ria do amigo. Com ajuda de desci do carro e deixe que levasse meu carro por conta do horário e o mesmo foi embora sem nem olhar pra minha cara.
— Não gosto mais de você — gritei e sorriu — Mentira! Gosto de você ainda.
— Bora — me ajudou a entrar no condomínio que morava — você precisa se recompor porque tem plantão amanhã.
Ao chegarmos à portaria, recebi os olhares preocupados do porteiro.
— Boa noite, seu Jorge! — O homem sorriu e apertou os botões do elevador.
me ajudou a tirar meus sapatos, entrei debaixo do chuveiro e deixei a água gelada cair sobre meu corpo, vesti uma roupa confortável e escovei os dentes e ao sair do banheiro já me sentia muito melhor do que antes, porém, mesmo assim, me fez tomar um remédio que segundo a mesma, evitaria uma ressaca no dia seguinte.
— Boa noite, amiga! — Sorri ao olhar pra minha amiga deitada ao meu lado. — Obrigada!
— Boa noite — ela sorriu — agradeça ao capitão bonitão.
Sorri e dei um tapa no braço da minha amiga que sorriu. E aos poucos senti meus olhos cada vez mais pesados devido ao cansaço e ao álcool no sangue. E amanhã me odiaria de todas as formas possíveis.


Capítulo 3

Adentrei a academia da base militar e me arrependi no segundo seguinte. Capitão e Sargento corriam na esteira e o vexame da noite anterior não saía da minha cabeça. E fiz o que qualquer pessoa em minha situação faria, fingi que não tinha visto ele e seu amigo e segui para a onde ficavam os colchões para exercícios, mas o Sargento deixou escapar uma risada e me arrependi da bebedeira da noite passada.
— Bom dia! — Cumprimentei alguns soldados que faziam seus exercícios e logo prestaram continência. Com certeza essa era uma das coisas que jamais me acostumaria.
Peguei um colchão e coloquei em um canto afastado, peguei um par de caneleiras e coloquei-as para iniciar meus exercícios. Particularmente não gostava de me exercitar, porém precisava manter meu condicionamento físico por mais que não gostasse, era necessário.
— Tenente ! — Um soldado prestou continência e fiz sinal para que pudesse falar. — As vacinas chegaram e o coronel a designou para conferir e assim a aplicação comece o mais rápido possível.
— Obrigada! — Agradeci e o homem novamente prestou continência e se retirou.
Peguei a minha garrafa de água e segui para o banheiro, tirei as minhas roupas e deixei a água quente cair pelo meu corpo e senti o mesmo relaxar. Enxuguei os cabelos, prendendo-os em um coque e chequei a farda antes me retirar do banheiro para cumprir minhas obrigações.
— Bom dia! — Cumprimentei os soldados que vigiavam o caminhão onde se encontravam as vacinas.
Entrei dentro do baú e conferi os lotes e todos estavam devidamente na validade e prontos para uso. Assinei a autorização para o descarregamento e em breve poderíamos começar com a aplicação.
Dei duas batidas na porta, ouvi a voz do meu pai pedindo para que entrasse e respirei fundo antes de entrar.
— Coronel! — Prestei continência e ele me olhou de cara feia.
— Não precisa disso. — Meu pai disse.
— Devo prestar continência ao meu superior. — Disse.
! — Ele me repreendeu.
— Senhor, o que deseja? — Disse sem olhar pra ele. — Tenho muito trabalho para fazer.
Não o deixei falar, prestei continência, me retirei da sua sala e segui em direção ao meu consultório. Preparei os comprovantes de vacinação e levei para a tenda onde seriam aplicadas as doses da vacina de Febre Amarela.
— Bom tarde, Tenente! — Sargento prestou continência e se senta na cadeira.
— Bom tarde, Sargento! — Disse e peguei seu documento para preencher o comprovante de vacinação. — Já se vacinou recentemente contra a febre amarela?
— Não, senhora! — Disse.
— Alergia a ovo? — Perguntei.
— Não, senhora! — Respondi e me levantei para dar início à aplicação.
Lavei as mãos, passei álcool nas mesmas e coloquei a luva. Molhei um pedaço de algodão em um pouco de álcool, me aproximei do Sargento e limpei o local onde seria aplicada a injeção.
— Eu vi a doutora no estacionamento — permaneci de costas enquanto preparava a dose da vacina — e sei também que escutou minha conversa e do Capitão . — O ignorei e me aproximei dele para a aplicação.
— Relaxe o braço, por favor! — Disse.
Inseri a agulha em seu braço e ele fez uma careta que me fez soltar uma risada, administrei todo o conteúdo da vacina, tirei a agulha e pressionei a região por alguns segundos suficiente para evitar um possível incomodo causada pela mesma.
— O casamento é nesse final de semana — Sargento disse — ele me disse que sairá por volta das quatro da tarde de domingo, após seu plantão.
— A vacinação só faz efeito após dez da aplicação — entreguei o seu comprovante de vacinação — evite lugares onde fique exposto e use bastante repelente.
Sargento prestou continência, retribui e o mesmo se retirou. E voltei para as minhas atividades.

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Domingo

A semana demorou a passar e aproveitei para repensar minha ideia de acompanhá-lo no casamento da ex-namorada, a verdade era que desde o incidente do bar, eu tinha evitado de todas as formas possíveis.
, não está um pouco demais? — Perguntei ao me olhar no espelho e notar que até mesmo os meus lábios minha amiga marcou em um tom vermelho.
— Não, — minha amiga disse e mexeu em meu cabelo — você está linda, duvido o capitão bonitão resistir a você.
— Não sei — disse relutante ao que via refletido no espelho — isso que dá só usar aquelas fardas, um coque e andar de cara limpa por aí.
— Fardas, coques e cara limpa fazem parte do meu trabalho — disse tirando o excesso de batom — ou você se esqueceu?
— Você é linda — minha amiga disse — e precisa acreditar nisso, porque minha amiga, confiança é tudo.
Era um pouco mais das três horas quando me deixou em frente a base militar, me identifiquei e liberaram a minha entrada, tentei ignorar os olhares, mas foi impossível com alguns soldados prestando continência mesmo sem estar em serviço.
Pensei em abandonar a ideia, algumas vezes, e ir pra casa, mas ao ver se aproximando de seu carro, em um perfeito terno, me fez mudar de ideia e ao mesmo tempo me encorajou.
Dei duas batidas na janela do carona e ele abriu os vidros sem entender o que estava de fato acontecendo, abri a porta e me sentei já colocando o cinto de segurança. Seus olhos me encaravam como se a qualquer momento fosse me arrastar dali para fora, mas eu senti seu olhar passear pelo meu corpo e sorri para o mesmo que permaneceu de cara fechada.
— Vamos ou então nos atrasaremos para o casamento. — Sorri e guardei meu celular na bolsa.
E então ele começou a rir e seu rosto estava vermelho devido à crise de gargalhada.
— Antes de qualquer coisa, não iremos nos atrasar — quebrou seu silêncio — porque você não irá a lugar algum comigo. Por favor, saia do carro, não quero ter que tirá-la.
Peguei um espelho na bolsa e aproveitei para retocar o batom, não sairia daquele carro por nada. socou o volante e tirou o cinto de segurança e quando sua mão alcançou a maçaneta da porta do carro, segurei sua mão e virei seu rosto para que pudesse me encarar.
— Considere isso como uma troca de favores — disse e ele me olhou sem entender — na noite do bar você me ajudou e eu preciso retribuir o favor, e enquanto não o fizer, não sossegarei, mas até que pode ser bom, né? Estarei sempre por perto pronta para retribuir.
deu partida no carro e não consegui segurar um sorriso. O conhecendo como conhecia a possibilidade de ter alguém seguindo seus passos não o agradava nem um pouco, porém o que ele não sabia era que por ele, eu ia a todos os lugares, porque meu único medo na vida era estar longe dele, sem saber se estava bem ou precisando de algo.
— Chegamos. — parou o carro em frente a um grande hotel e bateu a porta com uma força que indicava que nada estava bem.
Um aperto no peito fez com que recuasse na metade do caminho, o observei de costas para mim e senti que ele a amava, sua aparência cansada, seu mau humor, seu rosto sempre sem expressão e sem um sorriso.
Seus olhos encontraram os meus, não chorava, sua feição estava a mesma de sempre, porém eu senti a sua dor interna e eu vi suas lágrimas mesmo sem existir.
— Parou por que? — Disse.
— Não sei se eu devo — disse — não é justo invadir você dessa forma.
— Já invadiu — sua voz era rude — e já que já está aqui, trate de retribuir logo esse favor, porque não quero ninguém no meu pé.
me puxou pela mão e não tive escolha a não ser acompanhá-lo em silêncio. Ao adentrarmos no salão, os noivos passeavam pelo mesmo com sorrisos em seus rostos e vi fechar a mão como se fosse socar alguém. Ele se aproximou dos noivos e decidi não me intrometer, mas ao vê-lo parado diante da ex-namorada com seu marido, senti como uma deixa para me intrometer.
— Querido! — Disse e juntei nossas mãos. me encarou, e quando achei que fosse soltá-las, ele simplesmente apertou ainda mais forte e ajeitou meu cabelo atrás da orelha.
? — A mulher olhou assustada e o marido a abraçou.
— Toda felicidade do mundo, Kate — disse — prometi ao seu pai cuidar de você, mas essa não é mais uma promessa minha, vim pessoalmente lhe dizer isso porque a sua felicidade é importante para mim.
me puxou e seguimos em direção a saída, porém ele se virou novamente e olhou a mulher pela última vez.
— E quero que saiba também que essa mão — apertou ainda mais a minha mão — que segurarei para sempre, seja feliz com a felicidade que escolheu no final, me ajudou a tomar uma decisão que sei não me arrependerei.
andava com pressa e o segui até o estacionamento. entrou no carro e socava o volante e suas lágrimas vieram com força, e naquele momento eu tinha duas opções: seguir com a minha vida e encontrar um homem que não amasse outro alguém ou estar ao seu lado. A primeira opção era a mais racional, porém quando dei conta, já segurava forte a sua mão que apertava a minha.
— Há quinze anos faço parte do serviço militar — disse — começou como obrigação, mas se tornou paixão em combater a violência, lutar pela paz, porém não significa que a felicidade dela não fosse importante, porque tudo que sempre quis foi vê-la feliz e sorrir da forma que me conquistou desde quando era um adolescente do ensino médio.
E ele pegou um caixa de veludo vermelha no porta-luvas do carro e dentro havia um par de alianças que ele jogou pela janela do carro e as palavras haviam fugido e optei pelo silêncio.
— Na última missão, passei seis meses contando os dias para voltar, cumpri a promessa de voltar vivo de onde quer que eu fosse para voltar pra ela, e assim eu fiz — socava o volante — e ela não cumpriu com a dela. Sua felicidade não era mais o capitão das forças especiais do exército, mas sim, um homem que estaria sempre ao seu lado, não apenas em folgas do serviço militar, mas aí eu me pergunto, será que ele seria capaz de identificar pelo som da sua voz se ela está bem? Porque eu sei muito bem disso, porque eu ligava todos os dias, nunca deixei que dormisse sem saber que eu estava cumprindo a promessa de me manter vivo, mesmo depois de levar um tiro, mas aguentar firme por ela, não fechei os olhos, não deixei e ela me deixou com metade do homem que sou. Na minha vida existiam duas partes: a que a amava mais que tudo, e a que ama lutar pela paz, pelas crianças, pelos idosos, pela esperança de um futuro melhor para todos.
No silêncio daquele carro tentei entender Kate; para algumas pessoas, entender a vida de militar, as viagens constantes, a exposição ao perigo, pode ser uma combinação nada boa, porém, amar é entender aquilo que o outro é e mesmo que eu passasse mais tempo longe do que perto do homem que eu amo, saber que ele luta pela paz, que ele sacrifica datas comemorativas, sua juventude, a convivência com sua família, eu seria feliz sabendo que existe, no meio de tantas pessoas ruins, alguém que quer o bem; e se esse alguém fosse meu namorado, eu seria uma pessoa muito orgulhosa ao ponto de pedir para que Deus cuidasse dele todos os dias e aceitasse qualquer que fosse o tempo que ele tivesse pra mim, porque fisicamente, muitas vezes não teria. Porém em pensamentos, estaríamos sempre ligados um ao outro porque o amor na minha concepção não é ter alguém ao seu lado, mas sim, saber que alguém é e que você é na minha vida do outro.
— o chamei e seus olhos me encaravam — tudo e nada menos desde de que fosse com você, essa seria minha decisão no lugar dela.
Nenhuma palavra sequer foi dita todo o percurso. Respeitei o seu silêncio e tudo aquilo que se passava em sua cabeça. Meia hora depois parou o carro em frente à praia, desceu do carro e sentou na areia. O observei já recomposto e comprei duas cervejas em um quiosque próximo e decidi mostrar que estava disposta a ser tudo e nada menos em sua vida, sem tirar e nem por nada.
— Cerveja? — Disse e entreguei a garrafa em sua mão e ele sorriu, aceitando a mesma.
Brindamos e novamente ele sorriu, encontrei ali uma esperança.
— Você sabe como ninguém retribuir um favor, Tenente — bagunçou meu cabelo — obrigado.
— Ainda não terminei — disse — falta à última parte.
Aproximei nossos rostos e encostei meus lábios aos seus que retribuíram ao meu toque. Suas mãos desceram parando em minha cintura apertando-a. Senti a maciez do seu cabelo enquanto descobria que um beijo podia ser muito mais do que estava acostumada. O barulho do mar era a música de fundo enquanto o homem que eu amava me beijava, muito melhor do que em todos os meus sonhos, porque daquela vez era real.


Capítulo 4

Existe coisa melhor que plantão 24 horas acabar? Na vida de uma médica, com certeza, não existe. Tirei meu jaleco, nem mesmo a farda tiraria, não via a hora de me encontrar com e esses últimos quatro meses tem sido maravilhosos. Não me prometeu um relacionamento, porém vê-lo tentar, ver tudo acontecendo com calma só aumenta a esperança de um dia pode segurar a mão dele pra sempre.
— Tenente, ! — O soldado presta continência e retribuo.
— Ajudo em algo? — Disse já apressada para me preparar para o jantar com .
— O Coronel solicita a sua presença em sua sala. — O soldado presta continência e se retira.
Um aperto no peito me alerta de que não gostarei do que se trata, pego minha bolsa e vou em direção à sala do meu pai, e encontrei de pé em frente à mesa do meu pai que nos observa com uma feição nada contente.
— Coronel! — Presto continência.
— Tenente! — presta continência, mas não retribuo. — Capitão styles, reporta que não dia 12 de maio de 2016 foi enviado para a base militar do sul.
— Pai! — Grito e deixo de lado todos os protocolos.
— Aqui eu não sou o seu pai — meu pai diz firme com sua postura de coronel — como namorada do Capitão, pensei que gostaria de saber que pelos próximos oito meses ficarão longe um do outro e farei de tudo para sempre ser assim.
— Você não está agindo como coronel — grito — e sim, como um pai que não aceita a felicidade da filha, é pelas porcarias de encontros que eu não fui, você está me punindo porque eu não quero nenhum desses filhos de amigos seus.
! — Meu pai aumentou o tom de voz e permanecia como uma pedra.
— Eu amo o capitão ! — Disse. — E é com ele que eu vou me casar, agrade a você ou não.
— Enquanto eu estiver vivo isso não vai acontecer. — Meu pai me acerta em cheio e me acho no direito de fazer o mesmo.
— Não tem problema — debocho — eu espero, você não vai viver pra sempre.
me puxa pelo braço e me tira da sala do meu pai, quando chegamos no corredor da enfermaria ele me solta e me encara pela primeira vez, não gosto do que vejo.
— Tenente! — presta continência, mas não retribuo. — Capitão , reporta que não dia 12 de maio de 2016 foi enviado para a base militar do sul.
! — as lágrimas rolam pelo meu rosto. — Essa é uma ordem injusta, meu pai não pode interferir assim em minha vida, muito menos da sua.
— Sou um subordinado, tenente! — sua voz fria e sua feição seca estão de volta — Não prometi relacionamento, na verdade, não estou disposto a estar em um.
— Como você pode fugir assim — o seguro pela sua farda e ele não esboça qualquer reação — meu pai não tem esse direito, eu vou falar com ele e…
— Não há necessidade, Tenente! — diz — A ordem foi dada e será executada.
se vira e vai andando, mas corro até ele e o abraço por trás, minhas lágrimas rolam pelo meu rosto e eu não me importo nem um pouco.
— Vai fugir assim? — As lágrimas rolam pelo meu rosto — minhas lágrimas são nada pra você?
tira minhas mãos do seu abdômen, dá dois passos para trás e presta continência, mas me recuso a aceitá-la. E ele permanece parado, mas parece distante, não me olha, não esboça nenhuma reação e sinto meu mundo desmoronar pouco a pouco. E ele então lentamente, caminha pelo corredor, ficando cada vez mais longe.
— Vai, — grito o mais alto que posso — aceita essa ordem injusta, mas, faz o favor de levar tudo com você, todos os momentos, todos os sorrisos, toda essa esperança que eu carreguei comigo e não pense em olhar pra trás ou pra essa tola que te ama.
Ele some do meu campo de visão e sento no chão frio do corredor, deixando minhas lágrimas falar por mim, por toda a alegria que em um minuto se tornara uma dor que me devasta por inteira. Eu não tenho o direito de ser feliz?

praticamente socava a máquina de pelúcias que tinha no parque, gargalhava ao ver o homem de quase dois metros brigando os botões a cada vez que o urso caía.
— O capitão segura uma arma com perfeição, mas não consegue pegar um urso. —Brinco e ele sorri da forma que eu amo — o que seu pelotão diria quanto a isso?
— Debocha mesmo, tenente — diz focado na máquina — não desisto dos meus objetivos e pegar um urso pra você se tornou um deles.
E ele conseguiu, um lindo gatinho de pelúcia e jamais serei capaz de apagar da minha memória, ele pegando o celular e registrando o momento épico na história da humanidade, ter conseguido um urso para sua garota e congelei ao ouvir as suas palavras, sua e garota pois era a junção do que queria ser pra ele.
— Sua garota? — O olhei e ele tentou disfarçar.
— Estou com fome — me puxou pela mão e eu sorri — e eu não disse isso.
— Disse sim. — Disse.
— Hambúrguer ou pizza? — Pergunta, mudando o foco da conversa.
— Você venceu — me dou por vencida — Hambúrguer não, comemos da última vez, por hoje é pizza.
— Por mim, tudo bem. — Ele sorri e seguro em seu braço.

Luta por mim, Capitão. Com a mesma determinação que cumpre uma ordem por mais injusta que seja ou com a que luta pela sua pátria, só uma vez.

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Encarro a garrafa de cerveja a minha frente, digito mais uma mensagem que se quer visualizará, já são dois meses que a Equipe está na base militar do sul e não saber como ele está é algo que acaba comigo, me faz perder o sono, a fome e até mesmo a concentração no trabalho.
— Chega. — Ouço a voz de e a mesma pega o celular da minha mão.
— Devolve, ! — Disse.
— Pra que? — Minha amiga está impaciente. — Pra você ligar e ele não atender? Ou então, atender e permanecer mudo enquanto você se contenta com o som da respiração dele?
— É o suficiente pra mim. — Disse e bebo um gole da minha cerveja.
— Consegue se ouvir? — Minha amiga bufa. — Minha amiga, a que eu conheço jamais se sujeitaria a isso.
— Essa é a apaixonada — disse — a que descobriu a alegria que é ter alguém em sua vida e agora prova o sabor amargo que é não ter.
, entende que não se pode provar o amargo de não ter o que não nunca foi seu. — as palavras da minha amiga me acertam em cheio.
Pego minha bolsa e puxo o celular da sua mão, e ela vem atrás de mim, porém não a encaro continuo andando lado a lado a minha solidão. Nunca me apaixonei antes, passei boa parte da minha infância aos cuidados de babás, vendo meu pai viajar por seis, oito e muitos outros meses perdendo aniversários, datas onde famílias se juntavam para comemorar e eu nunca tive nada disso.
! — Minha amiga me chamou e sentei no meio-fio da calçada sentindo as lágrimas rolar pelo rosto e ela me abraçou.
— Eu me sinto sozinha, — disse — será que o meu pai não enxerga isso? Sabe a única vez que ele esteve presente em algo na minha vida? Quando fui aceita na academia militar, porque ele precisava me mostrar como um troféu, a garota que cresceu sozinha, desprovida de qualquer sentimento paternal, sem direitos a abraços quando sentia medo, quando chorava até dormir nos aniversários e pela primeira vez na vida, eu sinto esse tal amor que tanto falam e ele afasta o mais próximo de não me sentir sozinha que já tive nesses quase trinta anos de vida.
— minha amiga me abraça — não acha que está na hora de pegar as rédeas da sua vida?
— Você tá certa — disse — nunca me vi em uma família minha, mas eu descobri que eu quero isso, mais que qualquer coisa.
— Luta — minha amiga seca meu rosto com um lenço — por aquilo que é realmente sua vontade própria, nem que você quebre a cara e veja que não é isso que você quer, mas faz o que você quer e pode contar sempre comigo.
— Você é um anjo na minha vida. — Abraço minha melhor e única amiga.


Capítulo 5

As notícias na televisão não eram nada agradáveis, fora a pobreza que afetava a região sul, um terremoto deixando muitas pessoas mortas havia acontecido na noite passada. E não pensei duas vezes em colocar meu nome na lista de voluntários, faria valer me juramento e quatro meses havia passado da ordem de envio do Capitão para a base militar da região sul.
Dei duas batidas na porta antes de entrar e encarar meu pai com a lista dos voluntários que iriam para a base sul auxiliar nas buscas ou no que fosse preciso.
— Coronel! — Presto continência, mas não o encaro, não faz parte do protocolo e não quero olhá-lo. — Tenente , reporta que no dia 12 de julho de 2016 se juntou ao grupo de voluntários que serão enviados para a base militar do sul.
Meu pai se aproxima, porém dou dois passos para trás e não me permito que se aproxime.
— Querida! — Suas mãos tentam tocar meu rosto, porém dou as costas e sigo para a porta.
O encaro pela primeira em dois meses e presto continência, mesmo querendo abraçá-lo, afinal ele é meu pai, não faço e decido permanecer forte em minha luta, ele precisa entender que essa é minha vida e que está na hora de parar de tentar controlá-la.
— Se cuida, pai! — Disse e ele sorri.
— Não morra — ele diz — um soldado não consegue ajudar ninguém se não cuidar de si mesmo.
Presto continência e me retiro da sala. Permito-me chorar ao adentrar meu consultório, com todos os defeitos a única pessoa mais próxima de família que tenho é ele e não me agrada toda essa situação, me faz mal e me deixa triste. A verdade é que sempre esperei do meu pai coisas que jamais esteve disposto a me dar, os acontecimentos da vida foram deixando-o dia após dia um homem rancoroso e com uma frieza que qualquer pessoa no mundo consegue superar.

O dia estava cinza, assim como tudo dentro de mim, sem cor, sem alegria e uma tristeza que era a única companhia. Meu aniversário de 13 anos e dessa vez papai prometeu estar presente, com a ajuda das empregadas arrumamos uma linda mesa, bolo e muita comida.
— Você está feliz menina, ? — Minha babá perguntou e sorri enquanto penteava meus cabelos e me olhava no espelho.
— Hoje será o melhor aniversário da minha vida toda. — Sorri e peguei o cartaz em cima da mesa e desci as escadas animadas.
O motorista conversava algo com uma das empregadas e ela balançava a cabeça como se não gostasse do que estava ouvindo, me olharam ao notar minha presença e era como se um tentasse empurrar para o outro a missão de partir meu coração.
— Já podemos ir buscar o papai no aeroporto? — Perguntei animada.
, querida… — Minha babá se aproximou e não quis acreditar, ele havia prometido.
— Fiz esse cartaz pra ele — mostrei a cartolina que passei horas colando corações cortados por mim mesma, com o seu nome escrito — e com certeza, ele está me esperando, então, vamos.
— Meu amor — minha babá segurou minha mão — com certeza, aconteceu algo e ele não poderá vir, mas guarda o cartaz pra mostrar a ele quando chegar.
— Não — gritei e corri até a porta, mas ela me segurou — ele disse que viria, ele disse.
— Eu sei — ela me abraçou e desabei em seus braços — mas ele te ama muito, querida.
— Não — choraminguei em seu colo — ele não me ama, eu sou aquilo que tirou quem ele mais ama, por isso, ele não me ama.
Nos braços da minha babá chorei por horas, suas mãos afagavam meus cabelos e ela repetia sem parar pedindo para me acalmar, segundo ela tudo daria certo, que meu pai me amava e todo sacrifício que fazia era por mim.
— Ele deixou isso pra você. — Me entregou um cartão, o mesmo presente todos os anos.
Segurei o papel e subi para meu quarto, deitei em minha cama e abri o “presente do meu pai”, uma foto de bolo na capa e dentro apenas um “parabéns” que não havia sido escrito por ele, reconheci a letra da minha babá.
— Eu te amo, pai — olhei para as estrelas — mesmo que não me ame, vou sempre esperar por você.

Dirigia com calma, muitos pensamentos passavam em minha cabeça, muitas perguntas sem respostas e a certeza que os dois homens que amo não percebem que a única coisa que eu quero é amá-los, cada um de uma forma diferente, porém com a mesma importância.
Separo algumas fardas, alguns objetos de higiene pessoal e poucas roupas mesmo sabendo que não teria oportunidade de usar nada além das minhas fardas. E decido ligar para alguém que sempre surta com minhas viagens, .
— Oi. — Disse tentando não demonstrar minha tristeza devido aos acontecimentos.
Ia te ligar nesse momento — ouvi a risada da minha amiga — pizza e cerveja o que acha?
— Não posso beber. — Disse e com certeza, minha amiga entendeu o recado.
Pra onde? — A voz da minha amiga soa triste.
— Base militar do sul, um terremoto atingiu a cidade e a equipe médica de lá pediu reforço — disse e ouço minha amiga chorar — não chora, .
Você tomou um tiro da última vez, e eu nem pude saber o porquê — minha amiga não esconde suas lágrimas — você voltou as pressas dentro de um helicóptero, você chegou praticamente sem vida e eu não aguento se alguma coisa acontecer a você.
— Não vai acontecer nada — sorri — eu sempre volto, lembra?
Você é muito importante pra mim, ! — Minha amiga disse e sorriu.
— Amo você. — Disse.
Ama nada — minha amiga diz e dou risada — vive se arriscando por aí, some por meses e me deixa preocupada.
— Você é a irmã que eu não tive — disse — a família que eu não tenho.
Para com isso— minha amiga diz enxugando as lágrimas — eu te amo e você vai se cuidar e promete não voltar ensanguentada em um helicóptero de novo?
— Prometo — disse — um soldado não pode ajudar ninguém se morrer.
Amo você.— Minha amiga diz e seguro as lágrimas.
— Até logo. — Encerro a ligação e pega mochila em cima da cama.
Com a mochila nas costas me encaro no espelho, observo os cabelos curtos, a pele sem maquiagem, a farda e o coturno, as unhas que raramente tenho tempo de fazer, porém a gratidão em ir a lugares esquecidos, que muitos têm medo, mas eu vou.
— Força, Tenente! — Disse a mesma e dou partida no carro.

Chego à base militar e cumprimento algumas pessoas da equipe médica, olho para o céu antes de embarcar no avião com destino a base militar do sul e lembro que antes do meu medo, das minhas dores, vêm pessoas que precisam de mim, do meu cuidado e isso é o suficiente.
.

( (

A situação conseguia ser muito pior, o terremoto havia sido em um horário onde pessoas trabalhavam em uma obra, muitos desaparecidos e com minha experiência em outros desastres como esse, poucas chances de encontrarmos pessoas vivas, porém o que dependesse de mim faria de tudo para ajudar a maior quantidade de pessoas que estivesse ao meu alcance.
— A situação consegue ser pior do que as informações — uma médica diz — teremos que realizar cuidadosamente a triagem de classificação de risco.
— Médicos — chamo a atenção dos meus colegas — cada um deve se equipar com um kit de primeiros socorros e nos encontraremos em cinco minutos.

Caminham em direção ao depósito improvisado e começavam a separar os seus materiais. E me junto a eles, temos vidas a salvar.

— Tenente! — Capitão se aproximou e continuei separando os kits para primeiros socorros.
— Capitão! — Disse sem olhá-lo, a verdade é que mesmo depois de dois meses minha ferida ainda está sangrando.
— puxou meu braço e fui obrigada a encará-lo, seu rosto estava sujo assim como sua farda e uma corda estava em seus braços — o que você veio fazer aqui?
— O mesmo que você — disse sem paciência e tirando suas mãos de mim — Eu sou uma médica caso você não lembre e soldada que assim como você Capitão da equipe tenho meu dever em lutar pela paz, por essas pessoas.
— Você não precisava ter vindo — ele disse impaciente — outro terremoto pode acontecer, o ambiente não é seguro e…
— “Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém” — olho em seus olhos e seguro minhas lágrimas, não é hora de chorar — sabe o que essa frase do meu juramento significa? Que como médica sou vedada causar dano ao paciente, por ação ou omissão, considerando tais ações como imprudência. E saber que pessoas precisam de mim, mas deixar meu medo falar mais alto e não vir ajudar, pra mim, significa omitir a alguém a chance de viver.
… — Não deixo que se aproxime.
— Você acha que eu vim por você? — Gargalho. — Não nego que me preocupei com você, porém, sei muito bem que sabe se cuidar, mas essas pessoas , não e você tem noção que muitas estão mortas? Mas acima de tudo muitas estão lutando debaixo desses escombros, não deixando a morte vencer e foi por elas que eu entrei naquele avião e não por um covarde que não tem coragem de assumir o que sente.
E ele me entrega meu capacete e o coloco, olho em seus olhos , pego minha mochila colocando-a nas costas e sigo meu caminho sem olhar para trás.
— Vítimas estão aguardando por nossa ajuda — disse alto — Infelizmente, teremos que ser fortes diante a morte por todas as vidas que ainda estão em nosso alcance salvar.
— Sim, Tenente! — Respondem.
— classificaremos por cores — disse e mostro as fitas em minhas mãos — pacientes serão encaminhados para o hospital mais próximo afinal, estão fora de perigo, pacientes amarelos serão aqueles que tem chances de viver e precisam ser tratados no local e os pacientes pretos são aqueles sem vida.
— Sim, tenente! — Respondem novamente.
Dois soldados correm com uma maca em minha direção, assim que a colocam no chão, e checo o pulso do homem de meia idade e uma fita preta é colocada em seu braço, um minuto a menos e a história seria diferente, porém preciso manter a calma mesmo diante da dor de perder um paciente.
— Médico! — Ouço outro soldado chamando e vou ao seu encontro.
— Médica! — Disse checando o pulso do paciente e mesmo debilitado conseguirá sobreviver. Os devidos cuidados emergenciais são feitos e o homem é colocado na ambulância.
Gritos e um choro alto acabam chamando minha atenção e corro até um dos médicos, de longe percebo o que está acontecendo e respiro fundo lembrando que preciso ser forte, o encontro tentando reanimar o paciente, porém em vão e suas lágrimas eram totalmente compreensíveis.
— Doutora — uma das enfermeiras me olhou e vi o desespero em seu olhar — tem mais de cinco minutos e o paciente não responde.
Respiro fundo e junto todas as minhas forças para ser firme.
— Doutor — disse alto e ele permanece tentando reanimar o paciente — Classifica o paciente.
— Doutora — suas lágrimas são como socos, dizem que nós médicos somos frios, mas a verdade existe, sim os frios, porém existem aqueles que assim como eu, como esse médico, sofrem ao perder uma batalha para a morte — vou conseguir reanimá-lo.
Peguei uma fita preta e coloquei no pulso do paciente, Capitão e sua equipe chegam para levar o corpo, porém o médico continuou lutando pela vida que infelizmente se foi.
— Doutor — disse firme e ele me encara — classifica o paciente.
— Tenente! — Sua voz e triste.
— Horário do óbito? — Pergunto e me observa.
— 13 de julho 2016 — O médico fecha os olhos do paciente e vejo a dor em seus olhos — 19:00.
Os soldados colocam o corpo do homem em um saco, fecham e colocam com suas identificações. O médico na minha frente desaba em um choro alto e eu queria muito poder abraçá-lo e dizer que eu o entendia, que doí pra caralho perder um paciente, mas não podemos pensar só com o coração diante de uma situação como essa.
— Bebe uma água — disse ao médico que me olha — e depois você vai voltar porque existem pacientes precisando de nós e não podemos perder tempo porque isso é algo precioso para as pessoas debaixo desses escombros, um segundo a mais ou a menos pode ser fatal. Estamos aqui para evitar que coisas como essa aconteça, entendido?
— Sim, tenente! — O médico presta continência e se retira.
As buscas são encerradas, mas a dor em meu peito está longe de passar, muitas vidas perdidas e uma carga emocional de uma semana de buscas, alegria a cada vida salva e tristeza a cada vida perdida. Me mantive forte em todos os momentos, como superior precisei mostrar uma força que eu mesma não tinha, não pude chorar ao ver uma criança morrer em meus braços ou a uma mãe que perdeu seu filho e famílias que foram destruídas para sempre.
Sento no chão e observo o local já sem escombros, e lembro de a dois anos quando estive aqui e era apenas um terreno onde sonhavam em construir uma escola, tudo ia tão bem, os próprios pais construíam, as esposas vinham trazer comida enquanto as crianças brincavam ao redor, enquanto muitas pessoas reclamariam da pobreza eles apenas eram gratos pela vida e eram otimistas. E as lágrimas vem com força, um aperto no peito e grito o mais alto que posso, na tentativa de tirar um pouco dessa dor e sentimento de impotência diante das mortes que eu não consegui evitar.
— Chora — ouço a voz de e ele se junta a mim, mas ele me abraça forte e desabo em seus braços — só tem eu e você aqui, e não se sinta mal em chorar porque eu sei o quanto foi difícil pra uma pessoa tão sensível quanto você aguentar tudo que aconteceu nessa última semana.
— ele enxuga minhas lágrimas — eu falhei.
— Olha pra mim — segurou meu rosto — você lutou bravamente como um verdadeiro soldado ao lado dos seus companheiros, viraram noites, não reclamaram de fome ou cansaço porque o mais importante eram essas pessoas e isso, , não é falhar e sim vencer.
O abracei ainda mais forte e ele enxugou minhas lágrimas, beijou minhas mãos e acariciou meus cabelos que estavam cobertos pela poeira, seus dedos tocaram meus lábios e fechei os olhos aproveitando cada segundo do carinho que eu tanto precisava. Pela primeira pude sentir como é ser consolada diante de um momento em que o medo grita dentro de mim. colou seus lábios aos meus e eu permiti deixando nossas bocas falarem por si só, suas mãos seguravam meu pescoço e me entrego a essa paixão que não consigo controlar.
— Capitão! — Um dos soldados da equipe de chamou por ele e ele assim como eu estava visivelmente sem jeito. — Tenente!
— Eu preciso... — parecia ter esquecido como se fala — eu preciso…
— O jantar está pronto. — Sargento apareceu e juro que vi um sorriso em seu rosto.
— Jantar — disse firme — preciso jantar.
Ouvi as risadinhas de Sargento e brigando com o amigo, meu rosto deveria estar mais vermelho que um pote de extrato de tomate, mas até que consegui rir da situação. E amanhã a base militar inteira saberia que o Capitão da equipe das forças especiais estava beijando a sua superior e médica tenente .


Capítulo 6

As notícias na televisão não eram nada agradáveis, fora a pobreza que afetava a região sul, um terremoto deixando muitas pessoas mortas havia acontecido na noite passada. E não pensei duas vezes em colocar meu nome na lista de voluntários, faria valer me juramento e quatro meses havia passado da ordem de envio do Capitão para a base militar da região sul.
Dei duas batidas na porta antes de entrar e encarar meu pai com a lista dos voluntários que iriam para a base sul auxiliar nas buscas ou no que fosse preciso.
— Coronel! — Presto continência, mas não o encaro, não faz parte do protocolo e não quero olhá-lo. — Tenente , reporta que no dia 12 de julho de 2016 se juntou ao grupo de voluntários que serão enviados para a base militar do sul.
Meu pai se aproxima, porém dou dois passos para trás e não me permito que se aproxime.
— Querida! — Suas mãos tentam tocar meu rosto, porém dou as costas e sigo para a porta.
O encaro pela primeira em dois meses e presto continência, mesmo querendo abraçá-lo, afinal ele é meu pai, não faço e decido permanecer forte em minha luta, ele precisa entender que essa é minha vida e que está na hora de parar de tentar controlá-la.
— Se cuida, pai! — Disse e ele sorri.
— Não morra — ele diz — um soldado não consegue ajudar ninguém se não cuidar de si mesmo.
Presto continência e me retiro da sala. Permito-me chorar ao adentrar meu consultório, com todos os defeitos a única pessoa mais próxima de família que tenho é ele e não me agrada toda essa situação, me faz mal e me deixa triste. A verdade é que sempre esperei do meu pai coisas que jamais esteve disposto a me dar, os acontecimentos da vida foram deixando-o dia após dia um homem rancoroso e com uma frieza que qualquer pessoa no mundo consegue superar.

O dia estava cinza, assim como tudo dentro de mim, sem cor, sem alegria e uma tristeza que era a única companhia. Meu aniversário de 13 anos e dessa vez papai prometeu estar presente, com a ajuda das empregadas arrumamos uma linda mesa, bolo e muita comida.
— Você está feliz menina, ? — Minha babá perguntou e sorri enquanto penteava meus cabelos e me olhava no espelho.
— Hoje será o melhor aniversário da minha vida toda. — Sorri e peguei o cartaz em cima da mesa e desci as escadas animadas.
O motorista conversava algo com uma das empregadas e ela balançava a cabeça como se não gostasse do que estava ouvindo, me olharam ao notar minha presença e era como se um tentasse empurrar para o outro a missão de partir meu coração.
— Já podemos ir buscar o papai no aeroporto? — Perguntei animada.
, querida… — Minha babá se aproximou e não quis acreditar, ele havia prometido.
— Fiz esse cartaz pra ele — mostrei a cartolina que passei horas colando corações cortados por mim mesma, com o seu nome escrito — e com certeza, ele está me esperando, então, vamos.
— Meu amor — minha babá segurou minha mão — com certeza, aconteceu algo e ele não poderá vir, mas guarda o cartaz pra mostrar a ele quando chegar.
— Não — gritei e corri até a porta, mas ela me segurou — ele disse que viria, ele disse.
— Eu sei — ela me abraçou e desabei em seus braços — mas ele te ama muito, querida.
— Não — choraminguei em seu colo — ele não me ama, eu sou aquilo que tirou quem ele mais ama, por isso, ele não me ama.
Nos braços da minha babá chorei por horas, suas mãos afagavam meus cabelos e ela repetia sem parar pedindo para me acalmar, segundo ela tudo daria certo, que meu pai me amava e todo sacrifício que fazia era por mim.
— Ele deixou isso pra você. — Me entregou um cartão, o mesmo presente todos os anos.
Segurei o papel e subi para meu quarto, deitei em minha cama e abri o “presente do meu pai”, uma foto de bolo na capa e dentro apenas um “parabéns” que não havia sido escrito por ele, reconheci a letra da minha babá.
— Eu te amo, pai — olhei para as estrelas — mesmo que não me ame, vou sempre esperar por você.

Dirigia com calma, muitos pensamentos passavam em minha cabeça, muitas perguntas sem respostas e a certeza que os dois homens que amo não percebem que a única coisa que eu quero é amá-los, cada um de uma forma diferente, porém com a mesma importância.
Separo algumas fardas, alguns objetos de higiene pessoal e poucas roupas mesmo sabendo que não teria oportunidade de usar nada além das minhas fardas. E decido ligar para alguém que sempre surta com minhas viagens, .
— Oi. — Disse tentando não demonstrar minha tristeza devido aos acontecimentos.
Ia te ligar nesse momento — ouvi a risada da minha amiga — pizza e cerveja o que acha?
— Não posso beber. — Disse e com certeza, minha amiga entendeu o recado.
Pra onde? — A voz da minha amiga soa triste.
— Base militar do sul, um terremoto atingiu a cidade e a equipe médica de lá pediu reforço — disse e ouço minha amiga chorar — não chora, .
Você tomou um tiro da última vez, e eu nem pude saber o porquê — minha amiga não esconde suas lágrimas — você voltou as pressas dentro de um helicóptero, você chegou praticamente sem vida e eu não aguento se alguma coisa acontecer a você.
— Não vai acontecer nada — sorri — eu sempre volto, lembra?
Você é muito importante pra mim, ! — Minha amiga disse e sorriu.
— Amo você. — Disse.
Ama nada — minha amiga diz e dou risada — vive se arriscando por aí, some por meses e me deixa preocupada.
— Você é a irmã que eu não tive — disse — a família que eu não tenho.
Para com isso— minha amiga diz enxugando as lágrimas — eu te amo e você vai se cuidar e promete não voltar ensanguentada em um helicóptero de novo?
— Prometo — disse — um soldado não pode ajudar ninguém se morrer.
Amo você.— Minha amiga diz e seguro as lágrimas.
— Até logo. — Encerro a ligação e pega mochila em cima da cama.
Com a mochila nas costas me encaro no espelho, observo os cabelos curtos, a pele sem maquiagem, a farda e o coturno, as unhas que raramente tenho tempo de fazer, porém a gratidão em ir a lugares esquecidos, que muitos têm medo, mas eu vou.
— Força, Tenente! — Disse a mesma e dou partida no carro.

Chego à base militar e cumprimento algumas pessoas da equipe médica, olho para o céu antes de embarcar no avião com destino a base militar do sul e lembro que antes do meu medo, das minhas dores, vêm pessoas que precisam de mim, do meu cuidado e isso é o suficiente.
.

( (

A situação conseguia ser muito pior, o terremoto havia sido em um horário onde pessoas trabalhavam em uma obra, muitos desaparecidos e com minha experiência em outros desastres como esse, poucas chances de encontrarmos pessoas vivas, porém o que dependesse de mim faria de tudo para ajudar a maior quantidade de pessoas que estivesse ao meu alcance.
— A situação consegue ser pior do que as informações — uma médica diz — teremos que realizar cuidadosamente a triagem de classificação de risco.
— Médicos — chamo a atenção dos meus colegas — cada um deve se equipar com um kit de primeiros socorros e nos encontraremos em cinco minutos.

Caminham em direção ao depósito improvisado e começavam a separar os seus materiais. E me junto a eles, temos vidas a salvar.

— Tenente! — Capitão se aproximou e continuei separando os kits para primeiros socorros.
— Capitão! — Disse sem olhá-lo, a verdade é que mesmo depois de dois meses minha ferida ainda está sangrando.
— puxou meu braço e fui obrigada a encará-lo, seu rosto estava sujo assim como sua farda e uma corda estava em seus braços — o que você veio fazer aqui?
— O mesmo que você — disse sem paciência e tirando suas mãos de mim — Eu sou uma médica caso você não lembre e soldada que assim como você Capitão da equipe tenho meu dever em lutar pela paz, por essas pessoas.
— Você não precisava ter vindo — ele disse impaciente — outro terremoto pode acontecer, o ambiente não é seguro e…
— “Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém” — olho em seus olhos e seguro minhas lágrimas, não é hora de chorar — sabe o que essa frase do meu juramento significa? Que como médica sou vedada causar dano ao paciente, por ação ou omissão, considerando tais ações como imprudência. E saber que pessoas precisam de mim, mas deixar meu medo falar mais alto e não vir ajudar, pra mim, significa omitir a alguém a chance de viver.
… — Não deixo que se aproxime.
— Você acha que eu vim por você? — Gargalho. — Não nego que me preocupei com você, porém, sei muito bem que sabe se cuidar, mas essas pessoas , não e você tem noção que muitas estão mortas? Mas acima de tudo muitas estão lutando debaixo desses escombros, não deixando a morte vencer e foi por elas que eu entrei naquele avião e não por um covarde que não tem coragem de assumir o que sente.
E ele me entrega meu capacete e o coloco, olho em seus olhos , pego minha mochila colocando-a nas costas e sigo meu caminho sem olhar para trás.
— Vítimas estão aguardando por nossa ajuda — disse alto — Infelizmente, teremos que ser fortes diante a morte por todas as vidas que ainda estão em nosso alcance salvar.
— Sim, Tenente! — Respondem.
— classificaremos por cores — disse e mostro as fitas em minhas mãos — pacientes serão encaminhados para o hospital mais próximo afinal, estão fora de perigo, pacientes amarelos serão aqueles que tem chances de viver e precisam ser tratados no local e os pacientes pretos são aqueles sem vida.
— Sim, tenente! — Respondem novamente.
Dois soldados correm com uma maca em minha direção, assim que a colocam no chão, e checo o pulso do homem de meia idade e uma fita preta é colocada em seu braço, um minuto a menos e a história seria diferente, porém preciso manter a calma mesmo diante da dor de perder um paciente.
— Médico! — Ouço outro soldado chamando e vou ao seu encontro.
— Médica! — Disse checando o pulso do paciente e mesmo debilitado conseguirá sobreviver. Os devidos cuidados emergenciais são feitos e o homem é colocado na ambulância.
Gritos e um choro alto acabam chamando minha atenção e corro até um dos médicos, de longe percebo o que está acontecendo e respiro fundo lembrando que preciso ser forte, o encontro tentando reanimar o paciente, porém em vão e suas lágrimas eram totalmente compreensíveis.
— Doutora — uma das enfermeiras me olhou e vi o desespero em seu olhar — tem mais de cinco minutos e o paciente não responde.
Respiro fundo e junto todas as minhas forças para ser firme.
— Doutor — disse alto e ele permanece tentando reanimar o paciente — Classifica o paciente.
— Doutora — suas lágrimas são como socos, dizem que nós médicos somos frios, mas a verdade existe, sim os frios, porém existem aqueles que assim como eu, como esse médico, sofrem ao perder uma batalha para a morte — vou conseguir reanimá-lo.
Peguei uma fita preta e coloquei no pulso do paciente, Capitão e sua equipe chegam para levar o corpo, porém o médico continuou lutando pela vida que infelizmente se foi.
— Doutor — disse firme e ele me encara — classifica o paciente.
— Tenente! — Sua voz e triste.
— Horário do óbito? — Pergunto e me observa.
— 13 de julho 2016 — O médico fecha os olhos do paciente e vejo a dor em seus olhos — 19:00.
Os soldados colocam o corpo do homem em um saco, fecham e colocam com suas identificações. O médico na minha frente desaba em um choro alto e eu queria muito poder abraçá-lo e dizer que eu o entendia, que doí pra caralho perder um paciente, mas não podemos pensar só com o coração diante de uma situação como essa.
— Bebe uma água — disse ao médico que me olha — e depois você vai voltar porque existem pacientes precisando de nós e não podemos perder tempo porque isso é algo precioso para as pessoas debaixo desses escombros, um segundo a mais ou a menos pode ser fatal. Estamos aqui para evitar que coisas como essa aconteça, entendido?
— Sim, tenente! — O médico presta continência e se retira.
As buscas são encerradas, mas a dor em meu peito está longe de passar, muitas vidas perdidas e uma carga emocional de uma semana de buscas, alegria a cada vida salva e tristeza a cada vida perdida. Me mantive forte em todos os momentos, como superior precisei mostrar uma força que eu mesma não tinha, não pude chorar ao ver uma criança morrer em meus braços ou a uma mãe que perdeu seu filho e famílias que foram destruídas para sempre.
Sento no chão e observo o local já sem escombros, e lembro de a dois anos quando estive aqui e era apenas um terreno onde sonhavam em construir uma escola, tudo ia tão bem, os próprios pais construíam, as esposas vinham trazer comida enquanto as crianças brincavam ao redor, enquanto muitas pessoas reclamariam da pobreza eles apenas eram gratos pela vida e eram otimistas. E as lágrimas vem com força, um aperto no peito e grito o mais alto que posso, na tentativa de tirar um pouco dessa dor e sentimento de impotência diante das mortes que eu não consegui evitar.
— Chora — ouço a voz de e ele se junta a mim, mas ele me abraça forte e desabo em seus braços — só tem eu e você aqui, e não se sinta mal em chorar porque eu sei o quanto foi difícil pra uma pessoa tão sensível quanto você aguentar tudo que aconteceu nessa última semana.
— ele enxuga minhas lágrimas — eu falhei.
— Olha pra mim — segurou meu rosto — você lutou bravamente como um verdadeiro soldado ao lado dos seus companheiros, viraram noites, não reclamaram de fome ou cansaço porque o mais importante eram essas pessoas e isso, , não é falhar e sim vencer.
O abracei ainda mais forte e ele enxugou minhas lágrimas, beijou minhas mãos e acariciou meus cabelos que estavam cobertos pela poeira, seus dedos tocaram meus lábios e fechei os olhos aproveitando cada segundo do carinho que eu tanto precisava. Pela primeira pude sentir como é ser consolada diante de um momento em que o medo grita dentro de mim. colou seus lábios aos meus e eu permiti deixando nossas bocas falarem por si só, suas mãos seguravam meu pescoço e me entrego a essa paixão que não consigo controlar.
— Capitão! — Um dos soldados da equipe de chamou por ele e ele assim como eu estava visivelmente sem jeito. — Tenente!
— Eu preciso... — parecia ter esquecido como se fala — eu preciso…
— O jantar está pronto. — Sargento apareceu e juro que vi um sorriso em seu rosto.
— Jantar — disse firme — preciso jantar.
Ouvi as risadinhas de Sargento e brigando com o amigo, meu rosto deveria estar mais vermelho que um pote de extrato de tomate, mas até que consegui rir da situação. E amanhã a base militar inteira saberia que o Capitão da equipe das forças especiais estava beijando a sua superior e médica tenente .


Capítulo 7

Uma semana que havia voltado da base militar do sul, dois meses que partiu para a base do exterior juntamente da sua equipe, já era outubro e um cada vez 2017 se aproximava ainda mais. E por aqui tudo permanecia igual, plantões e mais plantões, a única coisa boa que acontecia ultimamente era as saídas com regadas a muito álcool, mas, algo de estranho estava acontecendo minha amiga, nem beber ela estava.
— Coronel! — Prestei continência ao meu pai e ele me olhou sem entender a visita inesperada.
— Você? Na minha sala sem eu chamar? — Largou os papéis e me encarou.
— Quero programar minhas férias — disse de uma vez — estão acumuladas e em breve, farei uma viagem com o homem que eu amo, então quero deixar de sobreaviso que ele tendo a folga do serviço militar, viajarei e ter as minhas merecidas férias.
Meu pai socou a mesa e me olhou com raiva no olhar, sem dúvidas suas implicâncias com o Capitão permanecia da mesma forma. — Enquanto você estava fora — pegou um envelope e me entregou — encontrei com alguns dos pretendentes e encontrei o rapaz certo, querida.
Abri o envelope e vi as fotos de um homem bonito, porém nada me agradava, um desses caras que faz do dinheiro a coisa mais importante do mundo, que eu tenho certeza que só quer se casar comigo por interesses, afinal, a família da minha mãe deixou uma rede de hotéis em meu nome, digamos que os negócios vão bem, mas jamais me interessei por isso.
— Não vou sair com homem nenhum — grito — você sabe quem eu amo tanto que faz de tudo para o manter sempre longe, porém você não enxerga que eu o amo cada dia mais e muito menos cederei aos seus caprichos.
! — Meu pai me repreende.
— Qual o seu problema com o Capitão ? — Pergunto e ele me encara. — É um dos melhores soldados, é capitão da melhor equipe de forças especiais além de ser honesto, integro e ama a sua filha de verdade.
— Eu não quero um homem assim pra você — meu pai diz firme — eu quero um homem que a proteja.
— Se o seu medo é que ele faça o que a vida inteira, um certo coronel fez com a filha, pode ficar tranquilo porque ele é diferente — o encaro e não escondo minhas lágrimas — em poucos meses ele conseguiu se mostrar mais cuidadoso, carinhoso, preocupado, do que você na minha vida inteira.
— Querida, não fala assim...
— Foram vinte anos de promessas, pai — grito — eu esperei pelo seu amor por vinte anos, vinte aniversários, vinte oportunidades de uma vez no ano se mostrar ser um pai de verdade, não o que mandava dinheiro, largava a filha a cuidado de empregados, que nem ao menos se dava o trabalho de comprar o cartão de aniversário da filha e assinar com sua própria letra por que? Você perderia tanto do seu precioso tempo assinando a porcaria de um cartão pra pessoa que sempre te amou?
— A ausência foi para te dar uma instabilidade — disse — para que hoje pudesse estar onde estou, sem viagens e sempre por perto.
— A sua ausência na minha vida não é algo do passado, não enxerga que estamos cada vez mais distantes? Não pensa no que eu sinto, que muitas vezes eu quero um pai que nunca tive, um colo, um abraço — enxugo minhas lágrimas — se continuar assim a sua ausência do passado e presente serão nada perto da ausência que farei questão que tenha entre nós dois no futuro.
Deixo meu pai em sua sala, caminho pelos corredores e não me importavam que me vejam chorar, vejam a dor que é ser filha de alguém como meu pai, vejam o peso que é ser a família do coronel.
Meu celular tocava sem parar e vi no identificador o nome de , atendi no mesmo segundo e ouvi o som da sua respiração, era o suficiente para mim, mas ele foi além daquilo que eu esperava.
— Por algumas horas estou de volta — sua voz e doce — mas a equipe já parte hoje na madrugada, no próximo avião para uma missão antes da folga.
— Vem me ver — peço e seguro as lágrimas — estou com saudade.
— Deixei algo pra você — disse calmo — até logo, !
Corri até a porta e ao abrir a mesma encontrei pendurada na maçaneta seu cordão de identificação, todas as vezes que ele o deixava era quando ia para algum local perigoso, onde jamais poderia ser identificado mesmo após sua morte.
— já chorava — qual o dever de um soldado?
— Não morrer, tenente — disse — um soldado morto não ajuda ninguém.
— Não morra — implorei — promete?
— Tenente! — Diz e o imagino prestando continência. — Capitão recebeu a ordem de não morrer e assim será.
— Eu te amo. — Disse e ele desliga.
Coloco a sua identificação no pescoço, juntamente da minha e pessoalmente a entregarei a ele porque ele sempre volta. E já deitada em minha cama adormeço abraçada ao ursinho que ganhei de e o imagino ao meu lado e é o suficiente para pegar no sono.


Capítulo 8

A manhã estava cinza e um aperto no coração me incomodava desde a hora que acordei no meio da madrugada e não consegui dormir novamente. Estaciono o carro na base militar e respiro fundo, pronta para mais um dia de trabalho. A verdade é que não vejo a hora das férias, de fugir com o para um lugar bonito, nem que precise amarrá-lo, porém precisa vamos de um tempo para nós dois. — Bom dia! — Cumprimentei a médica que se preparava para ir pra casa, mas sua feição preocupada me deixou um pouco tensa. — Aconteceu algo?
— A equipe médica da base sul nos contatou há alguns minutos — a médica me mostrou uns prontuários — o paciente chegará em menos de uma hora, precisa de uma cirurgia, porém não corre risco de morte, mas acharam melhor operá-lo em nossa base por termos mais recursos já que eles possuem apenas um pequeno hospital.
— Posso operá-lo — sorri e a médica respirou aliviada, a verdade é que ela queria descansar — um bom descanso, doutora!
— Tenente! — Prestou continência e se retirou.
O paciente chegou menos de uma hora depois, não era grave, mas havia perdido bastante sangue o que se tornava um pouco preocupante, os enfermeiros já estavam preparados, respirei fundo dizendo a mim para ter calma, já devidamente preparada adentrei o centro cirúrgico e o médico auxiliar me entregou o bisturi para dar início a cirurgia.
— O paciente requer alguns cuidados — disse entregando o prontuário nas mãos de uma das enfermeiras — o acompanharemos por 72 horas e dependendo dos resultados o mesmo poderá se recuperar em casa, com auxílio de medicação e total repouso.
— Sim, doutora! — A enfermeira se retirou e aproveitei para descartar as luvas.
Uma cirurgia era sempre cansativa, mas no final todo esforço valia a pena e entendia o porquê amar tanto a profissão que eu exerço. Mas o barulho de um jipe próximo ao hospital me fez correr o mais rápido que pude, arranquei a touca no caminho, os cabelos acabaram soltando, minhas roupas estavam sujas de sangue, porém queria ver antes até mesmo de trocá-las.
Meu sorriso murchou ao encontrar o soldado Jim, ele é da equipe onde é capitão e não entendi o porque estava ali.
— Soldado, Jim! — O mesmo prestou continência, mas permaneceu de cabeça baixa.
— Eu sinto muito. — Sua voz é triste e paraliso diante do homem.
— O que aconteceu? — O encaro sem entender — Ah, já sei você chegaram da missão e encheram a cara e mandou você vir falar comigo. Estava calma, mas no segundo que o vi chorar, me escorrei na parede e respirei fundo mesmo sentindo que meu mundo fosse desabar.
— Dois soldados — sua voz falha, as lágrimas já escorrem pelo meu rosto e seguro forte o cordão de — dois soldados.
— O que aconteceu? — Grito nervosa. — Fala o que aconteceu.
— Dois soldados da Equipe — ele começou e segurei ainda mais firme na parede — morreram durante a missão da madrugada. Fechei os olhos e as lágrimas vieram ao lembrar de quando estávamos no sul e como a equipe estava feliz pelo sucesso do resgate das vítimas.

assava a carne na churrasqueira improvisada, enquanto os soldados da sua equipe e inclusive Sargento preparavam a mesa e eles sorriam animados por mais uma missão.
— Tenente! — Um dos soldados prestou continência e me encarou.
— Sargento me convidou. — Apontei para o mesmo que sorriu para que o encarava balançando a cabeça.
— Se preferir posso ir embora e… — Os soldados não deixaram que terminasse minha frase e puxaram uma cadeira para que sentasse.
— Nunca dispensaríamos a companhia de uma mulher tão bonita — um deles diz e o encara com uma feição nada boa — de uma mulher que é um exemplo para nós, uma soldado muito bem qualificada com todo respeito ao meu Capitão que disse isso.
Sorri ao ver balançar a cabeça e me sinto grata por amar um homem como ele.

— Quais soldados? — Usei toda a minha força para ter coragem de perguntar. — Sargento — ás lagrimas rolavam e uma dor me atingiu em cheio — Capitão . Minhas pernas falharam e fui direto ao chão enquanto implorava internamente para que fosse uma brincadeira de muito mau gosto e eu esperei aparecer me zoando, porém durante cinco minutos ele não apareceu e era verdade. — Os corpos ainda não foram encontrados, houve uma grande explosão pouco antes deles embarcarem no avião e…
Juntei minhas forças para me levantar e corri desesperada pela base militar, não me importei com os olhares devido ao meu estado, mas subi as escadas desesperada, abri a porta da sala do meu pai totalmente descontrolada e o mesmo me encarou com pena.
— Filha — meu pai me encara e tento falar, mas a voz não sai. — Fala que é mentira — me ajoelhei diante do meu pai e segurei na barra da sua farda — por favor, fala que é mentira, eles não morreram. — Filha… — Meu pai segurou meu rosto e seu olhar confirmou tudo. — Meu capitão não morreu — chorava — Sargento também não.
— Eu sinto muito, querida! — Meu pai disse e eu gritei o mais alto que pude. Deitei no chão e apertei contra meu peito a única coisa que havia me restado do homem que eu amo. Meu pai me entregou uma carta e a segurei, mas não entendi o que significava aquilo.
— Todo soldado antes de uma missão escreve uma carta para a família ou pessoas especiais.
— Eu não quero isso — gritei e me levantei — ele não está morto, entendeu?
! — Meu pai tentou segurar minha mão, mas não deixei. — Eles morreram e você precisa aceitar isso.
O encaro e sinto repulsa ao imaginar o quanto ele está feliz com essa situação, por achar que nos separou de vez.
— Você está feliz não é? — Gritei. — O Coronel conseguiu o que queria mesmo que pra isso muitas pessoas vão chorar, mas você não se importa porque acha que me separou de vez daquele que eu amo.
, eu sei que você está sofrendo, mas isso não te dá o direito de agir de tal maneira — grita — ainda sou o seu superior.
Gargalho ao perceber que nem diante da minha dor ele consegue ser um pai, não a porcaria de um coronel.
— Sua filha será alguém infeliz — grito — por todos os momentos que não pode e nem poderá ter, pelo marido que não terá e nos filhos que jamais poderá ter como extensão de um amor tão bonito.
— Como coronel doí perder dois dos meus melhores soldados — ele me analisa — como seu pai disse que mesmo que a história fosse diferente não conseguiriam fazer um ao outro feliz.
— Cala a boca — grito — doí pra você perder dois soldados? Para de mentir porque pra quem vai doer mesmo será para duas famílias, duas mães, dois pais e para alguém como eu porque alguém tão desumano como você jamais saberá o que é a dor de perder alguém.
— Querida, não fala assim — meu pai se aproxima, mas me afasto a cada passo que ele tenta dar — você é a única coisa que eu tenho na vida.
— Você acaba de ficar sem nada. — Disse e me retiro da sua sala.
Sento no gramado da base militar e aos prantos observo em minhas mãos as suas palavras, fecho os olhos e o desejo ao meu lado mais que qualquer dia, seu sorriso, a forma que mexia em meu cabelo e da forma que apenas ele sabia me tocar.
— Enquanto eu não ler, não será real — as lágrimas rolam pelo meu rosto e guardo a folha no bolso da minha farda — enquanto eu não ler, não será real.

Um ano depois

Ao acordar encaro o calendário no criado-mudo e um coração marca a data que parte do meu coração se foi, muitos dias acredito que se foi por completo, porém em dias como hoje onde sinto esse aperto e a saudade latejando eu lembro que ainda tenho em mim metade de algo que me mantém viva.
— Não podemos dar a vocês nem se quer um túmulo — disse olhando para as árvores que eu e havíamos plantado no parque — não achamos seus corpos e não conseguimos dar as honras que vocês mereciam, também não temos um lugar pra chorar, mas esse é o lugar onde nos sentimentos mais próximas. Ouço passos e ao olhar pra trás encontro minha amiga, seus sorrisos antes constantes se tornarão momentos raros em sua vida, e Johnn haviam se envolvido no bar, mas contrário do que pensava não tinha sido algo de uma noite, mas, que durava há alguns meses.
— Johnn — minha amiga disse e retirou seus óculos, suas lágrimas rolavam pelo seu rosto — essa planta que ficará ao seu lado tem um significado muito importante pra nós dois, por isso, você terá que cuidar dela faça chuva ou sol.
Enquanto minha amiga plantava, observei suas mãos trêmulas, e juro que eu queria ajudar a minha amiga, porém o que acontecera com ela somente o tempo um dia poderá curar um pouco dessa dor.
— No ano passado neste mesmo dia eu perdi você — apertei forte a mão da minha amiga — e amar alguém não estava nos meus planos, mas você entrou naquele bar, naquela noite e quando você perde alguém você pensa em todas as coisas que não disse, nos abraços que não pode dar, no meio desse caos eu me arrependi de não ter te contado que teríamos um filho, uma extensão de um sentimento tão bonito.
Minha amiga chorava e sua mão acariciava sua barriga, foi como uma faca sendo enfiada em meu coração, um dos sentimentos que nos faz se sentir pequenos é ver o sofrimento de uma pessoa que amamos.
— Eu não consigo, — minha amiga dizia — eu não consigo.
— Estou com você. — A abracei e ela me apertou forte contra si.
— Mas nosso filho — apertou minha mão e fechou os olhos — não suportou um atropelamento, ele era tão pequeno apenas dois meses, mas eu juro que ele era muito amado, meu amor.

Lembro do meu celular tocar sem parar, sentada no gramado da base militar, tudo que menos queria era atendê-lo porque a pessoa que eu queria falar não atenderia, não responderia mensagens ou muito menos aparecia em uma videochamada sorrindo, dizendo que tudo ia ficar bem. A insistência foi tanta que olhei para o visor, era o número de uma colega da época de faculdade que trabalhava no hospital central da cidade. — Alô! — Disse enxugando as lágrimas.
, lembra de mim? — Perguntou. — Não sei como dizer isso.
— Lembro — disse preocupada — dizer o quê?
— Uma mulher deu entrada no hospital — disse — na hora reconheci e vi que era a sua colega de quarto da época de faculdade e o seu número estava na lista de contatos de emergência.
! — disse nervosa, levantei e corri até o estacionamento — O que aconteceu com ela?
Minhas mãos tremiam e não conseguia colocar a chave na ignição, minha vida estava sendo virada de ponta a cabeça em um único dia, mas com custo consegui dar partida no carro.
— Ela não corre risco de vida, mas tem algo que precisamos conversar, por favor, me procure quando chegar.
Ultrapassei sinais vermelhos, dirigi mais do que a velocidade permitida, mas que viessem as multas, não me importava no momento com nada além da pessoa que eu considero a minha família. Deixei o carro de qualquer jeito e corri pelo hospital, ignorando os olhares, me informei na recepção e corri até o consultório da médica, algo em sua voz me alertou de algo ruim.
! — A médica me olhou e pegou o prontuário da minha amiga e respirou fundo.
— O que houve? — perguntei — por tudo que é mais sagrado me fala, preciso saber como vou ajudar minha amiga.
foi atropelada, as testemunhas disseram que ela saiu correndo pelas ruas chorando e tudo aconteceu — a médica disse e as lágrimas vieram com força — houve um sangramento muito intenso e ao examiná-la identificamos que ela estava grávida.
— Estava? — perguntei nervosa — eles estão bem?
— Ela perdeu o bebê. — A médica disse triste e meu mundo terminou de desabar naquele instante. dormia tranquilamente, tinha apenas alguns hematomas, porém a verdade é que eu não sabia como encarar minha amiga quando a mesma acordasse. Notei algumas mudanças, nem beber ela estava nos últimos tempos, mas não sabia que era um bebê. E junto dos seus objetos pessoais, vi algo semelhante ao que deixou comigo e naquele momento eu consegui ligar tudo, era a identificação do Sargento e sentada na poltrona eu entendi tudo, ficou desesperada ao saber que o homem que amava, o pai do seu bebê havia morrido e a culpa de não ter evitado isso bateu em cheio, eu pensei apenas em mim, na minha dor enquanto minha amiga sofria também.
! — Minha amiga me chamou e corri para perto dela, segurando sua mão.
— Você está bem? — As lágrimas de alívio por ver minha amiga acordada, fez com que me sentisse um pouco melhor. — Não faz isso comigo, por favor, você é tudo que eu tenho.
— Agora você tem duas pessoas — minha amiga alisou a barriga e meu estômago revirou — estava esperando o primeiro trimestre passar pra contar, mas você é minha melhor amiga.
— Eu sinto muito — minhas mãos tremiam e minha amiga me olhou assustada — o bebê… ele não resistiu e…
— Mentira — minha amiga gritava e eu não sabia o que dizer — meu bebê está aqui comigo e ele vai nos trazer alegria, .
— Eu sinto muito — não conseguia encarar minha amiga — eu sinto muito. Minha amiga tentou levantar da cama, mas a abracei forte e deixei que chorasse, juntas enfrentaríamos tudo que estava acontecendo, não sabia como, mas daríamos um jeito.

— Eu te amo — abracei a árvore que representava na minha vida, em seguida, fui até a de e a do bebê — amo vocês. estendeu a mão e me ajudou a levantar, abraçadas seguimos o caminho até o estacionamento.

( (

Os soldados da equipe corriam pela base militar, porém, duas partes importantes não estavam mais presentes e nada era como antes pelo menos, pra mim e . As pessoas deixaram de se lamentar após uma semana, tudo voltou ao normal, porém deixei de viver para apenas sobreviver e não desejo isso nem pra pessoa que tirou a vida do homem que eu amo porque é a pior coisa que existe. Palavras ficam presas na garganta e você não pode tirar esse nó, permanecerá com você pelo resto dos seus dias.
— O dia está bonito não é, ? — Disse e olho para o céu, limpo e um dos dias mais bonitos do ano.
Esse dia ensolarado me lembra bastante você, dono de um sorriso único e mesmo após um ano não me permito dizer que amava porque amo, meu sentimento não ficou no passado assim como a última vez que te vi.
! — Ouço sua voz, procuro, mas ignoro ao ver que continua sendo algo da minha cabeça.
Aperto contra meu peito a sua identificação, e em meio as lágrimas toco no bolso da farda e sinto a carta que nunca abri, mesmo que em muitos dias de saudade quis buscar consolo naquelas palavras, não me permiti aceitar. As últimas palavras de um homem a uma mulher não deveria ser daquela forma.
! — Novamente escuto meu nome, mas a rouquidão daquela voz balança todos os sentimentos dentro de mim e com os olhos fechados me viro e pouco a pouco abro meus olhos, as lágrimas se intensificam, as mãos trêmulas e não consigo me mover.
A alucinação de estar frente a frente ao homem que eu amo, se aproxima e nas lágrimas eu imploro para que seja real, não seja como das outras vezes que sua imagem sumiu diante dos meus olhos.
O homem parado na minha frente, dessa vez tem seus olhos vermelhos devido as lágrimas, chego a pensar ser verdade porque jamais o vi chorar dessa forma em todos os anos que o conheço, toco o rosto e choro ao sentir a maciez da sua pele, sua farda impecável e penso em todas as vezes que ele me arrancou sorrisos vestindo a mesma, e continuava caindo perfeitamente ao seu corpo.
— Eu queria que dessa vez fosse verdade — uno as nossas mãos — eu não consigo acreditar que eu te perdi, meu capitão, meu amor.
O homem continua a chorar e enxugo suas lágrimas, uma por uma.
— Eu nunca abri essa carta — pego a mesma no bolso da farda — porque pra mim abri-la significa aceitar o que está escrito nela e o que é ela é, as últimas palavras de um soldado. E eu sei que qualquer pessoa ao me ouvir dizer que essa ilusão acabará no dia que te encontrar pessoalmente soará como um delírio, mas eu tenho meu coração que saberei o conteúdo dessa carta por você mesmo.
Enxugo as lágrimas, saio andando e enxugando as lágrimas, me preparando para mais um final de semana de plantão, essa era minha vida após tudo, trabalhar ao máximo para pensar o mínimo dessa for.
— Por mais de cem vezes escrevi esta mesma carta, eu quis correr para seus braços e me entregar a esse sentimento por mais de cem vezes — a voz rouca de me fez paralisar — sempre admirei a forma como sempre lidou com seu sentimento, tão verdadeiramente. Por cem vezes quis deixar minha covardia de lado e viver esse amor, porém não consegui me sentir digno de alguém como você. Minha burrice não me fez enxergar que havia me escolhido independente de ser três estrelas ou não, mesmo fugindo de você, mesmo com minhas viagens, mesmo com o meu trabalho, você sempre me fez enxergar a beleza e importância naquilo que eu faço, como ninguém jamais conseguiu. E se você está lendo essa carta, não consegui manter a promessa de segurar a sua mão pra sempre. Eu te amo, ! Sinto muito que saiba dessa forma, mas não poderia ir sem confessar meus verdadeiros sentimentos.
Corri até o dono na voz e me joguei em seus braços, sentindo nossos corpos colados, nossas lágrimas e olhei pro céu agradecendo a nossa segunda chance de vivermos nosso amor, do jeito certo. Nunca consegui acreditar, nenhum dia, sempre tive esperanças de encontrá-lo.
— Não vou mais te deixar pra trás — suas lágrimas rolavam por seu rosto — não vou mais te fazer se sentir como uma garota, tola. E foi nisso que pensei todos os dias, que estivesse em cativeiro com o , precisava voltar para minha garota.
— Eu te amo — socava o seu peitoral e as minhas lágrimas depois de um ano era de felicidade — eu te amo, seu soldado babaca.
E ele me surpreende com um beijo, reluto por estarmos na base militar, mas não penso mais em nada além de viver cada segundo ao seu lado.
— Tenente eu te amo — gritou e me rodopiou.
— Capitão eu te amo mais — Gritei o mais alto que pude e ele selou nossos lábios. — Minha garota — me abraçou forte e uns soldados riram ao passar por nós — minha garota.
me pegou no colo e sorri com a cena, o homem corria comigo em seus braços e era uma felicidade que não cabia no meu peito, todos os olhavam e era um misto de soldados prestando continência com sorrisos.
subia as escadas com pressa e continuava comigo em seus braços, ele abriu a porta da sala do meu pai que olhou para cena da filha no colo de um soldado.
— Vou me casar com sua filha — disse firme — a amo e mesmo que me transfira um milhão de vezes, voltarei para ela todas as vezes. Desci do colo de e segurei sua mão, prestamos continência ao meu pai e ele sorriu ao nos ver passar pela porta do seu escritório.
— Faça minha filha feliz — ouvimos a voz do meu pai — é uma ordem. encarou meu pai e prestou continência, mas meu pai se aproximou e o abraçou fortemente.
— Pai… — O chamei e ele me encarou com lágrimas nos olhos.
— Ainda dá tempo de te dar um abraço? — Meu pai perguntou. — Estou a mais de vinte anos atrasado. Corri até meu pai e o abracei forte, suas mãos tocou meus cabelos e pela primeira eu senti como é ter um pai.
— Amo vocês — disse ao unir minha mão a de e agarrar o braço do meu pai. E agora tudo estava completo, caminharíamos do mesmo lado, sem brigas e o deixando o amor prevalecer.


Bônus

segurava minha mão e o encarei enquanto passávamos pelo caminho coberto de folhas, paramos de frente a pequena árvore e abracei Johnn, passaria anos e mais anos, jamais esqueceria um dia sequer ou deixaria de amá-lo, meu pequeno bebê.
— Filho — enxuguei minhas lágrimas e a mão de apertou minha cintura — esse é o seu pai.
— Filho — tocou a árvore e fechou seus olhos — esse é o seu pai, me perdoa pela demora deixando você e a mamãe sozinhos, mas prometo cuidar de vocês de agora em diante.
Abraçamos a árvore e deixamos as lágrimas dizer aquilo que não sabíamos como dizer, nosso pequeno, bebê jamais seria esquecido, mesmo vindo outros, ele seria sempre o nosso filho, nosso amado filho.
— Amo você, ! — disse e me puxou para seus braços. — Amo você, ! — Selei nossos lábios e ele sorriu me apertando ainda mais contra seu corpo.
Certas coisas vão acontecer em sua vida e você não entenderá o porquê, até mesmo questionará, mas a única resposta que eu cheguei é que tudo acontece por um motivo, seja a alegria ou a tristeza porque isso é a vida.




Fim.



Nota da autora: Antes de qualquer coisa agradeço ao carinho pelo convite em me juntar a esse fisctape e eu amei escrever cada linha dessa história. Com lágrimas nos olhos coloquei o ponto final em algo que me vi rindo, com raiva, chorando e amando o resultando a cada parte pronta.
A você que está lendo espero que tenha conseguido levar uma história de qualidade, que tenha gostado e tenha sentido essa história linda, de personagens que eu amei contar um pouco de suas vidas.
Não poderia deixar meu agradecimento a beta, com todo amor e carinho, aceitou cuidar dessas histórias então, muito obrigada.






Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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