07. Who’s Laugingh Now?

Finalizada em: 17/08/2018

Capítulo Único

DOIS MIL E DOIS
South Lake Tahoe, CA
Não deixar se abater

Mais um maravilhoso dia naquela selva chamada escola. Na maioria do tempo não era de todo ruim, eu tinha meus amigos, nosso grupo não tinha um rótulo, todo mundo ali já tinha sido alguma coisa. Éramos alunos regulares, principalmente por que cada um já tinha passado pela diretoria por alguma infração cometida. Pois é, não éramos anjos, na verdade bem longe disso, éramos o próprio capeta quando a situação demandava. Quase sempre, na verdade.
Na maioria do tempo era legal, quando eu não estava de saco cheio de tanta aula, tanto conteúdo, tanta pressão pré-vestibular em cima de mim. Eu só queria ter que passar em um vestibular tradicional. O que também era complicado quando eu estava quase tomando bomba em Física. Eu odiava física e um dos professores não fazia a mínima questão de ser gente boa. Panaca!
Fechei o armário segurando o livro de física em mãos, ainda na dúvida se eu deveria jogá-lo lixo a dentro, ou pedir a ajuda do . Talvez a segunda opção fosse a melhor. Arrumei a mochila no ombro e ouvi as risadinhas idiotas que me acompanhavam desde que eu tinha ido estudar naquele lugar.
- Perdeu o pente, Pernalonga? – a mesma piadinha de sempre? Eles não mudavam nunca? Estava ficando repetitivo aquilo.
- Junto com teu bom senso. – rolei os olhos. – Cuida da tua vida e para de me encher o saco, Matteo. – ralhei irritada com aquela insistência toda em me xingar e apressei o passo no corredor, deixando os três desocupados rindo ainda mais de mim. Eu sabia que rebater as ofensas não ia fazer eles pararem, mas ao menos eu sabia que tinha feito alguma coisa.
Suspirei cheia de tanta piadinha e parei no meio do corredor, coloquei o livro entre os joelhos pra segurar e peguei uma liga de cabelo no bolso de trás da calça, prendendo meus cachos rebeldes em seguida. Eu sabia que eu não devia fazer aquilo, afinal, era dar ainda mais motivo pra eles me crucificarem, mostrando que eu me importava com aquela merda toda. Mas era um saco ser xingada por causa do meu cabelo, da minha aparência, do meu corpo. Será que eles não tinham um cérebro naquela bosta de cabeça?
Peguei meu livro novamente e voltei a andar pelo corredor.
- Obrigado! Melhorou minha visão tirando seu cabelo do meio! – o grito ressoou pelo corredor inteirinho e me encolhi, mas assim como vivia me dizendo. “Não deixa eles fazerem isso com você”. Respirei fundo e me virei com o sorriso mais fingido e cara lisa que eu conseguia, depois mandei o dedo do meio.
Virei e sai rápido rumo ao pátio onde encontraria meus salvadores da pátria que não me deixariam tomar bomba em física. E que o Matteo fosse a merda. Eu sabia que era ridículo me trocar com eles, mas eu era adolescente e por mais que eu defendesse que não me importava com a opinião escrota de ninguém, eu me importava.
Cheguei ao pátio bem logo, vendo um pouco longe os cinco idiotas que eu mais me dava bem naquele mundo. Meus amigos, ao menos eu não estava sozinha naquela jornada insuportável, dei uma corridinha e pulei perto de onde estavam, causando algumas risadas, susto em que se assustava até com um sopro e arranquei alguns sorrisos também.
- Ficou presa na sala? – perguntou rindo e mostrei a língua, depois saí cumprimentando todos eles com beijos na bochecha. Primeiro , depois seu irmão, , e por fim o .
- Precisava mendigar pontos pro Wilton, ou nada de faculdade pra mim. Física está me matando. – ri e sentei a mesa junto com eles, ganhando um beijo na bochecha. Adivinhem de quem?
Eu e já tínhamos ficado algumas vezes, na verdade, era bem pouco recorrente, nós éramos amigos acima de tudo. Sem falar que ensino médio não era a melhor época pra entrar em qualquer relacionamento com a faculdade na ponta do seu nariz, mas e juravam de pés juntos que o irmão mais velho dos gostava de mim.
- Ah não! Você prendeu o cabelo? Por que, ? Ele estava tão lindo quando chegamos. – fez cara de morte e entortou a boca sabendo que todo mundo mudaria a atenção para meu cabelo em suas suposições para o porquê de eu ter prendido.
- Por quê? – o senhor bochechas vermelhas me olhou com uma das sobrancelhas arqueadas e eu ri baixo.
- Calor! – resmunguei e dei de ombros, sabendo bem que não seria o bastante pra convencê-los. – Nossa, o que é isso? – tentei desviar cutucando a bandeja do , mas ele puxou.
- Calor que tem nome, sobrenome e parece uma capivara. – atacou rolando os olhos e caímos na gargalhada.
- Aquele merda não dá trégua! – rolou os olhos e ri achando fofo.
- O que ele fez dessa vez? – mordeu a boca um pouco receoso. Todo mundo sabia que ninguém gostava de compartilhar certos xingamentos. – Seu cabelo de novo?
- O que não é novidade. – tentei rir, mas, infelizmente, não era engraçado, era doloroso.
- Você ficou calada? – fez uma careta e neguei com um aceno, sendo abraçada de lado por .
- Xinguei como sempre, mas não dá em muito resultado.
- Você precisa fazer alguma coisa, ! – rasgou meio desesperada. Mas o que eu ia fazer? Matar aquele traste?
- Nisso eu concordo, você precisa tomar alguma atitude! – esganiçou. – Procurar alguém maior que pare esse babaca!
- Mas quem? – arregalei os olhos. – Não dá pra chegar em casa dizendo a minha mãe que eles me destroem, me chamam de Pernalonga por causa dos dentes, sem falar no meu cabelo que não me incomoda, mas parece incomodar meio colégio. Eu quero ir embora desse inferno logo, isso que eu quero.
E como eu esperava, o suspiro na mesa foi conjunto, porque eles sabiam que eu tinha razão, sabiam que nada que eu fizesse ia mudar o jeito como eu era tratada por aquele infeliz. Eu realmente só queria entender que tipo de ameaça eu apresentava pra ele, porque quando você hostiliza uma pessoa, aquela pessoa apresenta algum tipo de risco pra você, seja ameaça, seja inveja, mas era algo que eu nunca iria entender se nossas notas eram bem parecidas e se ele tinha um padrão de vida bem mais alto que o meu. Talvez fosse só a falta de vergonha na cara mesmo.
- O que vamos fazer hoje? – mudou totalmente de assunto e sorri de forma agradecida pra ele. – Topam cinema mais tarde? Tem alguns filmes bem legais em cartaz. – ele perguntou, enquanto comia um negócio que parecia purê.
- OPA! Sim, vai ser incrível. – esticou a mão pra soquinho com o irmão e abraçou de lado. Ele sim tinha uma queda imensa por ela, mesmo que insistisse ser apenas amizade.
- Pode ser depois das 19h? – fez uma careta mínima. – Prometi que ia ajudar minha mãe a organizar umas coisas pra o encontro de casais.
- Claro! Por mim tudo certo. – dei de ombros.
- Eu passo lá e te pego! – o loirinho mais simpático, com uma cova solitária na bochecha, piscou pra nossa amiga mais nova e eu quase gritei em comemoração. Quando eles iam beijar? Céus, que demora!
- Cinema mais tarde, tudo certo então! – comemorou com uma dancinha e rimos comemorando juntos.
O que dizer? Saber que eu tinha amigos e uma vida fora daquele lugar insuportável era maravilhoso, ao menos ninguém xingava meu cabelo por ser natural.

O baque vem de onde você menos espera


Nós tínhamos acabado de sair da sessão de Ice Age e pra ser bem sincera, era um dos melhores filmes que eu já tinha assistido na minha curta vida. O Cid era sim o melhor personagem e ai de quem dissesse que não. Rimos do jeito que imitava a preguicinha mais amada e logo avistei um quiosque de comida. Eu estava com fome. Eu ia comer.
- Se não é o melhor filme, eu não sei qual é! – declarou sendo praticamente esmagada pelo e eu e a demos high five com ela.
- O filme é realmente muito bom. – entrou no jogo nos fazendo rir. – Mas nada vai superar Toy Story.
- Eu não tenho do que reclamar de nada! – fechou os olhos se mostrando bem entendida e rimos com ela.
- A Fox fez um ótimo trabalho, mas pra mim, as produções da Disney sempre são incríveis, principalmente se juntam com a Pixar. – pôs a mão no peito e eu e rolamos os olhos rindo, quando os dois defensores da Disney deram high five.
- Vocês são dois chatos! – apontou rindo e os meninos mandaram o dedo pra ele, ganhando alguns cutucões.
Estava ótimo. Era muito bom estar com meus amigos, ali eu me sentia bem comigo, com todos os meus defeitos até. Mas eu já deveria saber que a coisa ia piorar e tive certeza daquilo quando vi o grupinho mais odiado passar por a gente. Eles olharam com o maior deboche pra gente e isso nem foi o pior, o mais desgastante foi ver o filho da Puta do Matteo gesticular mostrando que meu cabelo parecia sei lá o quê.
- Saí de casa e esquece do pente. – ele disse rindo junto com os amiguinhos idiotas dele e eu sabia que era pra mim. – Cabelo ruim é foda, né? – o garoto mais insuportável da face da Terra voltou a comentar com os amigos e senti uma vontade imensa de chorar, até ser abraçada de lado no meio dos meninos.
- Se quiser te arranjo um pente, babaca! – rebateu indignado com ele e pra completar a cena assanhou todo o cabelo, o deixando realmente arrepiado.
- Não temos a menor culpa se seu cabelo segue seus passos. – só faltou voar em cima do garoto, rebatendo sobre ele dizer que o cabelo era ruim, e também sacudiu a cabeça ficando toda descabelada.
Eu não estava acreditando naquilo. MEUS AMIGOS ERAM INSANOS!
- Porcaria é porcaria, não é, meus amores? Isso é inveja da nossa qualidade! – nem preciso dizer que o cabelo da já estava até mais alto que o meu. Eu não sabia se chorava ou se ria, quando vi e completamente assanhados.
- Uma vez babaca, sempre babaca! – o mais novo dos gritou.
- O cérebro queimou com tanta televisão que ele assiste! – completou a coleção de xingamentos e eu findei rindo bem agradecida com aquele ataque.
- Com fome? – me apertou um pouco mais de lado.
- Famintas! – eu e as meninas respondemos rindo e logo nos encaminharmos pra barraquinha que vendia comida em frente ao cinema.
Seis adolescentes famintos quase arrodeando o negócio, fez o senhorzinho já bastante conhecido da gente rir e perguntar o que iríamos querer pra aquela noite. A rodada de Hot Dog não deu pra quem quis e logo mais um punhado de batatas fritas forrou nosso nem tão pequeno estômago.
Naquele dia eu entendi que o mais complicado de ser diferente era se aceitar quando quase ninguém te aceitava, era ver normalidade em você, quando maioria das pessoas te via faltando, ou sobrando algum pedaço. O mundo era cruel e mais cruel ainda, algumas pessoas que moravam nele, por sorte eu tinha um esquadrão e tanto do meu lado.

Há mudanças que vem pra pior

Eu tinha ódio quando eu tentava andar rápido e parecia que a coisa mais devagar acontecia. tinha me ligado na noite anterior e depois de todo o custo da minha mãe soltar o telefone, minha amiga me disse que eu, ela e estávamos em uma ligação compartilhada, porque ela precisava nos contar algo importante. E por mais que a curiosidade nos dominasse aquela bendita hora da noite, a mãe da apareceu dizendo que ela tinha que largar o telefone, pois já era tarde. Poxa, tia, não assim! Não faz isso com a gente. Lá estava eu, eufórica depois da aula, tentando chegar logo no laboratório de química, onde disse que estaria esperando a gente pra contar a tal coisa importante, que eu tinha certeza que o tinha beijado ela.
Abri a porta um pouco eufórica, encontrando as duas lá dentro, impacientes me esperando.
- Cheguei! – larguei minhas coisas em cima de uma mesa qualquer e sentei de frente para as duas, esperando que começasse logo. Mas o que recebi em troca foi um olhar completamente estranho.
- O que merda você fez no seu cabelo? – perguntou espantada, sem entender nada do estava vendo e bufei.
Ótimo, ele não agradava de jeito nenhum. Rolei os olhos e prendi os fios que estavam lisos pelo secador.
- Nada! Me conta, . – o enrolei fazendo um coque.
- Me diz que isso não é permanente! – minha amiga mais nova fingiu que não tinha escutado meu pedido.
- ! Seu cabelo é lindo. Por que droga você alisou? – perguntou transtornada e respirei fundo. Eu não precisava explicar os motivos quando eles estavam mais do que explícitos.
- Achei que fosse na cara o tanto que meu cabelo incomoda. – respondi brava com tudo, principalmente com aquela Bosta de cabelo que deslizava do nó. Peguei uma liga no bolso e prendi mais uma vez.
- , não faz isso com você! – me pediu encarecida. – Eles não precisam te aceitar em nada! Você não é assim. Você tem seu cabelo lindo cacheado, que combina exatamente com você. Não tem porquê alisar, escovar, ou seja lá o que for.
- Exatamente, ! Você é linda desse jeitinho que você é! Não precisa mudar por causa de meia dúzia de gente idiota! – completou a fala de e suspirei.
- Isso é escova. – respirei fundo e rolei os olhos, tirando todo aquele medo besta de dentro delas e nós findamos rindo, depois que as meninas me deram um mega abraço apertado. – Mas vai, . Conta! – insisti desviando do assunto “meu cabelo” e vi a garota enrubescer as bochechas. SOCORRO!
- O me beijou! – ela soltou um sussurro esganiçado e automaticamente arregalamos os olhos. Eu sabia!
- O quê? – exteriorizou meu grito de surpresa e felicidade, fazendo a pequena ficar ainda mais vermelha.
- Socorro! Conta pra gente como foi? – quase a sacudi em uma euforia engraçada de se ver.
- Estranho! – a baixinha arregalou os olhos e nós três explodidos na risada.
Sempre era estranho e sempre iria ser, não importava o quanto você gostava da pessoa. A era louca pelo e ele por ela desde que eu consigo lembrar, e tinha sido esquisito o primeiro beijo. Eu e o éramos muito amigos e tinha sido esquisito. E sabe de mais uma coisa? Aposto que pra e o também!
- Mas foi legal, né? – perguntou de olhos arregalados.
- SIM! O é um fofo. Ele foi muito legal! – riu amassando os dedos uns nos outros, mostrando que estava nervosa e a cobrimos em um abraço de urso. Era tão maravilhoso ver nossa caçulinha passando pelas experiências da vida com alguém que ela gostava, e que gostava dela também!
Continuamos longos minutos discutindo sobre o beijo do OTP, que iriam ter vários filhos pra gente ser madrinha. Ok, , calma, vocês estão no ensino médio. Mas a questão era que: eles iam sim ter filhos e eu estava mais do que atrasada pra encontrar a minha mãe e ir na bendita consulta na pediatra com ela. Isso mesmo, pediatra. Eu não sei de onde ela tirava que eu precisava de consultas periódicas, se eu estava perfeitamente normal; e por que ela não poderia me levar em um clínico geral, já que eu tinha 16 anos. Eu não era mais criança nem pra OMS*, porque eu ia ser pra ela e ainda precisar de pediatra? Vai saber!
Eu me sentia na história da Chapeuzinho quando ela decide ir pelo caminho mais curto e se fode. Eu decidi passar pelo corredor e não deixar minha mãe esperando muito, mas adivinha? Estava cheinho de gente idiota me apontando o dedo. O que me levava a: sabe quando você decide mudar pra tentar ficar invisível e fica ainda mais visível? Welcome to my life, como já dizia o poeta contemporâneo Pierre Bouvier.
O sentimento de diminuição tomava de conta do meu ser, enquanto eu passava pelo corredor daquele colégio, simplesmente porque todos me olhavam como se eu fosse um E.T., já não bastava a ralhada que eu tinha levado dos meninos na hora do intervalo por ter alisado, temporariamente, o cabelo. O colégio inteiro precisava me apontar o dedo como se eu fosse uma bruxa na idade média. Era mais fácil eles me esquecerem, não? Fingir que eu nem existia mais, fingir que eu nunca tinha nem entrado naquele lugar. Eu nunca tinha feito mal a qualquer um deles, muito pelo contrário, já tinha ajudado boa parte daquele bando de filho da Puta que ria enquanto eu passava pelo corredor com meu cabelo preso em um rabo de cavalo.
Quando finalmente consegui sair do corredor da morte, apressei meu passo pra sair logo daquele inferno, passando pelo meio do estacionamento de trás. Provavelmente minha mãe estaria do lado de fora, com o carro ainda ligado para ganhar tempo. Ajeitei a mochila em um dos braços, procurando meus óculos antes que minha mãe me visse sem eles e apressei ainda mais meu passo, estando classificado em uma quase corrida que foi estacada ao ouvir aquela incrível voz melodiosa de taquara rachada me xingando.
- Então você finalmente deu um jeito no cabelo, Pernalonga? – parei imediatamente de mexer na bolsa pra olhar bem pra cara daquele idiota. Ótimo, já não bastava eu ter sido xingada por meus amigos e ele ainda vinha me encher o saco? Ah, eu ia quebrar aquele moleque. – Não que tenha dado um jeito na sua cara, mas sem ele na frente da pra ver as sardas. – ele tinha notado minhas sardas? Que ótimo, não? Enchimento de saco pro resto do ano.
O garoto que parecia ter saído de uma daquelas séries toscas onde um ator de quase 30 anos faz o papel de alguém de 17, soprou a fumaça do cigarro que fumava e segurei o peso do corpo em uma das pernas. Olhando bem pra cara de quem nunca tinha precisado lavar uma louça na vida e se achava o rei da cozinha. Desculpa, o trocadilho foi péssimo, mas enfim.
- Vai em frente, xinga mais que tá pouco, bem pouco. – cruzei os braços, encarando bem aquele babaca. – Arrebenta, Matteo. Assopra essa merda de cigarro e acaba com sua vidinha medíocre, você não está sozinho, mas pra ser bem sincera, eu parei de me importar com essa merda toda. Vocês são um bando de babacas, um bando de idiotas sugando o dinheiro dos pais. Que bom que eu vou dar o fora desse inferno primeiro que você. – abri um sorriso endiabrado e pisquei, virando e saindo de perto daquele idiota. – Vamos ver quem vai rir por último!
O vagabundo soltou uma gargalhada que me inchou de raiva. Me limitei a rolar os olhos e dei as costas a ele. Sinceramente, eu não ia gastar minha saliva com aquele lixo de pessoa. Voltei a andar pra fora da escola, tendo em mente que sim, eu precisava lavar aquela merda de cabelo e tirar aquele troço antes que ele acabasse ainda mais comigo.
Entrei no carro calada, ouvindo minha mãe perguntar inúmeras coisas, enquanto manobrava pra fora da rua do colégio. Eu sentia a merda do bolo na garganta ficar maior a cada minuto e quanto mais eu prendia, mais ele doía. Chorar na frente dela não era uma opção, ou minha mãe ia fazer um escândalo no colégio e eu me foder virando piadinha o resto do ano.
- , você está me ouvindo? – a pergunta dela me vez virar de uma vez, com os olhos levemente arregalados. Afirmei com um aceno e minha mãe vincou as sobrancelhas bem duvidosa. – O que houve?
Neguei com a cabeça e não consegui segurar o choro, fazendo minha mãe parar o carro imediatamente. Merda, por que eu era tão idiota? Enxuguei o rosto, o que foi em vão, porque eu continuava chorando e a deixando mais desesperada ainda.
- , o que aconteceu? – a pergunta saiu dura e sacudi a cabeça chorando mais ainda.
- Os meninos estavam dizendo várias coisas com meu cabelo! – a frase saiu desengonçada da minha boca, enquanto eu chorava mais do que o que eu realmente achava que estava chorando e vi minha mãe assumir uma postura bem mais do que indignada.
- Mas é o quê? – ela soltou furiosa pra caramba e rapidamente manobrou o carro, voltando na direção do colégio. – Pois nós vamos resolver isso e é agora. Quem eles acham que são, para dizer qualquer coisa com você?
A baixinha estava furiosa e bem disposta a tirar satisfação com qualquer babaca que tinha me xingado, enquanto resmungava dentro do carro que eles não iam sair impunes da situação e eu só conseguia chorar. No fundo, no fundo, eu precisava daquilo. Precisava que minha mãe bancasse a leoa raivosa e me defendesse do mundo, eu não sabia como ia ficar a situação depois daquilo, ela poderia piorar em dez vezes mais, mas também poderia melhorar. No mais, era um risco que eu estava disposta a correr.

*Organização Mundial de Saúde.

A conversa com o diretor, o Matteo e a minha mãe tinha sido bem séria. O italiano metido a besta, no qual minha mãe conhecia muito bem a família dele, não deu um pio em repreensão e sequer me olhou, enquanto eu contava tudo que tinha acontecido comigo. O que deixou minha mãe bem mais furiosa que antes, deixando bem claro a ele que a Mrs. Vitali iria ficar sabendo sim de tudo que estava acontecendo. Ok, talvez tivesse fodido legal para o Matteo, se levado em consideração que a família dele era da mídia, bem pequena e restrita daquele lugar.
No momento eu estava no meu quarto, olhando pro teto depois de minha mãe insistir horrores pra que eu comesse. Eu tinha visto meu pai fulo da vida com o idiota do Vitali, jurando a todos os santos que nós conhecíamos que se isso se repetisse, ele quem iria no colégio resolver o problema todo. Eu só conseguia pensar que tinha conseguido uma confusão bem maior pra mim só por ter chorado feito um bezerro desmamado.
Suspirei exausta daquela situação toda e ouvi alguma coisa derrubar minha latinha com moedas, levantei de uma vez, arregalando os olhos sem saber o que tinha feito aquilo e logo vi uma bolinha de papel no chão, perto da lata. Recolhi as moedas e peguei a bolinha de papel, na qual eu percebi que era uma pedra embrulhada. Abri a folha do caderno confusa com o que tinha ali e logo vi a letra do .

“Pega suas coisas e desce, vamos a praia. E nem adianta dizer não, ou nós cinco subimos e vamos te arrastar dessa cama!”

Eu ri alto com a ousadia daqueles cinco que eu tinha o prazer de chamar de amigos. No fim das contas eu poderia estar extremamente magoada, ofendida e diminuída pelo que tinha acontecido, mas definitivamente, eu tinha os melhores amigos que alguém poderia querer. Eles sabiam que uma tarde na praia melhorava qualquer humor e enquanto eu tivesse os cinco comigo, as coisas melhorariam nem que fosse a força.

-x-x-x-
DOIS MIL E DEZOITO
Los Angeles, CA
E eu continuo subindo!

Me espreguicei na cama, sentindo meu corpo relaxar de um jeito mais do que gostoso e virei vendo o lado vazio, mas com vestígios de que ele tinha estado ali. Ri meio boba e enfiei a cara no travesseiro, suspirando pela sensação maravilhosa que era estar descansada. Peguei meu celular na mesinha de cabeceira e logo vi uma mensagem animada da .

: Passagem marcada! South Lake, aí vamos nós!

Ri com a animação da minha amiga em voltar a nossa cidade natal e logo tratei de responder.

: Assim que se fala!!!! Marcou pra quando? Os meninos vão?
: Claro que sim! Tá louca que eles não vão prestigiar a melhor enfermeira desse país?
E marquei pra o mesmo dia da sua. Minha mãe está pirando pra nos ver de novo!
: Viagem em família? Adooooro! A minha também está mais eufórica com a visita do que com o prêmio kkkkkk
: Você só vai entender quando for mãe, coisinha!
: Quem sabe um dia? Kkkkkkk
: Coitado do se for esperar por você. Mas preciso ir, nos falamos mais tarde 😘
: 😘

Saí do aplicativo de mensagens e fui checar minhas notas, na intenção de saber se tinha algo importante pra fazer aquele dia. Eu precisava deixar tudo resolvido antes da viagem, inclusive revisar alguns protocolos operacionais que estavam quarando no meu email desde a noite passada. Eu tinha orgulho do meu trabalho, do meu esforço e da minha segurança para com tudo que eu fazia, tanto que o meu protocolo de Prevenção de Lesões Por Pressão, após ser implantado na rede hospitalar, tinha se mostrado ser um dos mais eficazes já construídos. Então sim, eu era enfermeira com muito orgulho, professora da rede universitária e tinha uma clínica especializada em curativos no centro da cidade. Sinceramente, eu não poderia estar melhor.
Até me convidarem para receber um prêmio importante na cidade onde eu tinha nascido e me criado. Aquele inferno de lugar, onde eu tinha passado bons momentos da minha vida. E bom, isso não era algo ruim, era uma forma pra que eu disseminasse o combate ao Bullying, já que depois de tanto me incomodar com a situação no mundo, eu tinha virado uma ativista da causa.
Bocejei sentindo o sono querer se apossar do meu corpinho mais uma vez e meu telefone tocou, revelando o nome da Mrs. no ID de chamadas.
- Bom dia, flor do dia! – cumprimentei já sabendo que ia me xingar até a morte por fazer ela voltar a Forest Lake.
- Eu não piso nem morta naquele lugar! – minha amiga retrucou sobre voltar a nossa cidade de origem e fiz uma careta se encolhendo mais na cama.
- Ah não, ! Qual é? É um momento legal pra mim e todo mundo vai. – eu juro que estava quase implorando, afinal, seria uma volta triunfal, mas ouvi um resmungo dela. – Eu liguei pra e ela confirmou a presença dela, do e do mini , então sim. Você vai, nem que eu tenha que ameaçar o , pra ele te arrastar pelos cabelos.
- Você é tão desnecessária! – ela bufou depois do xingamento e soltei um gritinho animado. Sim, sim, todo mundo iria! – Mas sim, eu vou! Já avisou ao meu cunhado?
- Não! – prendi a risada e ouvi o esganiço indignado dela.
- Como não, ? Ele não tinha dormido aí ontem?
- Sim, inclusive está derrubando minhas panelas na cozinha! – falei rindo e ouvi um gritinho de indignação vindo dela.
- Eu cansei de vocês. Cansei! – eu tinha certeza que tinha rolado os olhos. – Qual o problema de assumir um relacionamento?
- Vontade! – dei de ombros rindo e levantei da cama, me espreguiçando. Eu estava faminta e pretendia ver o que tanto fazia naquela cozinha que cheirava tanto.
- Mas a vontade de fazer besteira vocês não perdem, né?
- Nunca! – gargalhamos. – Mas você vai, não é? É uma menção honrosa pelo protocolo, poxa! Eu dei um duro danado por ele!
- Claro que vou, ! – ela confirmou e soltei um gritinho animado. – Não perderia de ver sua volta triunfal nunca!
- Vai ser incrível! – disse calçando as havaianas e me arrastei pra fora do quarto, tentando fechar um robe com uma das mãos. – Eu e o já fechamos as passagens. – prendi o celular entre a orelha e o ombro. – Sugiro que vocês façam isso também.
- Nós vamos fazer, coisa chata! – minha amiga xingou a contragosto e aposto que ela tinha rolado os olhos. – Mas vou desligar, vai pra gravadora mais cedo e vou pegar carona. Beijo!
-
Beijo, ! Até depois! – fizemos barulho de beijo e por fim desligamos, assim que entrei na cozinha do meu apartamento. Dando de cara com um cozinheiro muito lindo, que possuía algumas tatuagens espalhadas pelo corpo e um sorriso encantador.
usava apenas uma cueca boxer e cantarolava algumas músicas que tocavam na rádio. Se me dissessem que aquele homem iria seguir qualquer carreira que não fosse música, eu riria escandalosamente na cara da pessoa. Os meninos, , e , tinham uma gravadora muito bem renomada no centro da cidade. A melhor de Los Angeles, se duvidasse, e que tinha acabado de fechar contrato com uma das cantoras mais incríveis da atualidade. Jessie J, era um ícone e era nossa!
Coloquei o celular em cima do balcão e sorri ao vê-lo tão entretido com as frigideiras.
- Bom dia, coisa linda! – soltei um gritinho animado e o ouvi rir alto, quase jogando a cabeça pra trás.
Sinceramente? Era maravilhoso acordar com uma visão incrível daquela na minha cozinha.
- Bom dia, meu amor. – virou levemente o corpo e fez um bico pedindo beijo. Andei até ele ainda rindo e o beijei de leve, destampando as panelas pra ver o que me aguardava naquela maravilhosa manhã. – Ovos mexidos. – ele sorriu e me beijou na bochecha.
- Hm... – arregalei levemente os olhos. – Então você já vem com o cozinheiro junto? Produto aprovado. – pisquei o fazendo rir.
- Basicamente. – ele soltou as caçarolas e varou o pequeno cômodo, indo atrás de duas xícaras e o café. Peguei a luva de tecido e peguei as panelas pra levar até o descanso em cima da bancada. – Seu café, meu leãozinho. – me estendeu a caneca fumegando assim que coloquei a frigideira na bancada e rimos.
- Hoje ele acordou de bem com a vida! – abri um sorriso imenso, pegando a caneca e sacudi o cabelo, fazendo o cara que eu amava demais, abrir um sorriso encantado.
- Ele sempre acorda lindo, . – outro sorriso que fez meu coração bater mais forte e ganhei um beijo. – Sempre fui encantado por seus cachinhos, desde o colégio. – nós rimos e recebi alguns beijos antes do meu telefone começar a tocar.
- Atende pra mim? – pedi o beijando no ombro e fui em busca de um garfo.
- Claro! – soltou a xícara e pegou o telefone. – Telefone da Ms. . Hm, sim, já passo. – virei fazendo a maior careta de preguiça e ele riu. – Pra você, anjo.
Movi os lábios perguntando quem era e ele deu de ombros. Droga. Esse povo e a mania de encontrar meu número pela internet. Aquela era uma das desvantagens de ter a clínica e trabalhar com pesquisas na universidade, seu número de telefone andava mais pelo mundo que você.
- Pois não? – falei assim que pus o telefone no ouvido e prendi a risada ao ver dançando no meio da cozinha. Idiota.
- ? Bom dia, eu sou o prefeito de South Lake Tahoe. Matteo Vitali. – mas era o quê? Que cacete aquele homem queria sendo prefeito? Han? – Não sei se você recorda, mas fomos colegas durante o colegial. – não dá pra esquecer certas coisas, quando somos humilhados.
Escorei bem meu corpo a bancada e fiz minha maior cara de tédio.
- Sim, Mr. Vitali. Eu recordo. – rolei os olhos e cocei o nariz. – Sobre que assunto o senhor queria tratar? Já deixei tudo organizado com a assessoria da prefeitura. – quanto menos contato eu tivesse com aquele demônio em forma de gente, melhor.
- Oh sim, claro! E ficamos imensamente felizes e honrados em oferecê-la a chave da cidade. É de encher o peito saber que uma filha de South Lake nos trouxe tanto orgulho. – rolei os olhos com tanto enchimento de saco da parte daquele homem e fiz uma careta gigante, o que fez gargalhar. – E como anfitrião, quero junto a minha família, oferecer minha casa para que você e a sua família possam ficar hospedados. – ali eu quis gritar rindo.
Já não bastava Matteo me ligar como se fôssemos amigos de infância, rasgar seda como se realmente alguma vez na vida tivesse se importando comigo. Ele ainda vinha oferecer hospedagem na casa dele? Ah, tenha a santa paciência.
Rolei os olhos e evitei de bufar na ligação.
- Oh, senhor prefeito. Eu agradeço demais a sua hospitalidade, mas eu vou ficar na casa dos meus pais. É família e o senhor sabe, mas agradeço demais o convite. – tentei soar a mais educada possível e vi me olhar de sobrancelha arqueada, prendi mais uma vez a risada e simulei vômito o fazendo sacudir a cabeça ainda rindo.
- Sim, sei bem como se trata de família. – ele tentou soar engraçado e bati o pé meio agoniada pra acabar aquela ligação. – Mas o convite está aberto.
- Claro, eu quem agradeço a hospitalidade. Até mais.
- Até. – finalmente consegui desligar o telefone e o larguei na bancada, simulando um arrepio de nojo que fez gargalhar.
- Não vai ficar na casa do prefeito? – perguntei em puro deboche, vendo rir ainda mais alto.
- Ele quer é te roubar de mim! – meu namorado acusou e aí foi a minha vez de gargalhar.
- SAI DE MIM! – soltei um grito esganiçado nos fazendo rir mais. – Credo! Nem brinca com isso! – fiz uma careta e voltei a tomar meu café.
soltou uma gargalhada gostosa de ouvir e me abraçou por trás, beijando minha bochecha.
- Adoro quando você usa esse robe, fica uma delícia. – ele disse em um tom perfeitamente malicioso e lhe dei um tapa no braço, mas rindo da situação. – Onde vamos ficar hospedados, Mrs. ?
- Na casa da sua sogra.

South Lake Tahoe, CA
Quem está rindo agora?

Nos estávamos no ginásio do colégio em que eu e meus amigos tínhamos feito todo o colegial. Lugar que me trazia as mais diversas lembranças sobre tudo que tínhamos passado por ali. Estávamos todos sentadinhos na primeira fila, os s no primeiro par de cadeiras, eu e no meio e do nosso lado esquerdo, os , mais conhecidos como e . Nós estávamos bem atentos tudo que passava no data show, em uma homenagem bem singela e linda que estava me fazendo ficar de coração mole.
Ri com algumas fotos nossas que passavam na época de adolescência e o loirinho mais lindo do mundo me esticou os braços, peguei o pequeno Colin nos braços e o beijei na bochecha, o sentando em meu colo. Beijei a cabeça do baby , sentindo aquele perfume gostoso de criança me atingir em cheio e logo vendo o sorriso gigante do meu namorado ao ver o bebê em meu colo. riu encantado e começou a brincar com uma das mãozinhas do loirinho mais amado por nós, mesma coisa que fez em seguida, logo a criança não sabia pra quem olhar e parecia rir dos dois bobões.
Não demorou muito para que as homenagens acabassem e toda a solenidade de premiação começasse. O diretor do colégio, que ainda era o mesmo senhor simpático, falou coisas incríveis sobre a minha estadia por lá, me deixando bem feliz por ter causado um impacto positivo em um colégio daquele tamanho. Logo a autoridade da pequena cidade subiu ao pequeno palanque, usando de um discurso muito bem construído, mas que bem diferente do que o Mr. Turman, não tinha nada muito sincero. Não, eu não estava sendo ingrata, eu não estava sendo rancorosa, eu só não gostava dele e não era obrigada a gostar. Entreguei o Colin a mamãe dele e levantei pra receber a menção honrosa com o peito cheio, feliz, realizada em ter meu trabalho reconhecido no lugar onde eu tinha nascido e me criado, vendo não muito de longe, meus pais quase explodirem em tamanha felicidade e orgulho. Aquele sim era o maior prêmio que eu poderia ter ganhado em toda a minha vida. Na primeira fileira vi mais cinco sorrisos orgulhosos pra mim e juro que queria gritar, gritar de felicidade por dar orgulho a quem realmente importava naquele mundo.
Algumas fotos foram tiradas pra registrar o momento tão importante e logo o microfone foi passado pra mim. Agradeci com um aceno de cabeça e coloquei minha menção honrosa ajeitadinha em cima da mesa. Aquela era a hora que eu ia passar a minha mensagem.
- Bom dia! – saudei todas as crianças e alguns muitos adultos que estavam dentro do ginásio, recebendo um coro gigantesco de bom dia. – Tudo bem com vocês? – perguntei rindo e recebi vários gritos e respostas misturadas. – Eu vim aqui agradecer demais pelo carinho e a honra de receber algo tão importante, sério, é maravilhoso ter um trabalho tão lindo sendo reconhecido. Agradeço ao Mr. Vitali por todo o apoio e a menção honrosa, ao Mr. Turman por palavras tão lindas e aos meus pais por sempre me apoiarem. – apontei para meus velhinhos abraçados e sorrindo bem lindos pra mim. – Mas eu não posso esquecer dos meus amigos, gente! – soltei um gritinho os fazendo rirem. – Eu também tenho amigos como vocês, eles me ajudaram bastante nessa jornada. – vi mais meia dúzia de adolescente rir e ri junto. – Mas sabe o que eu espero de verdade? Que tudo isso esteja sendo inspirador pra vocês, por que eu saí daqui. Eu estudei aqui nesse colégio desde os meus 11 anos de idade até os 18. Sabe o que isso significa? Que se eu consegui tudo isso, vocês também conseguem. – terminei e ouvi algumas palmas e gritos.
Ri junto com eles e caminhei pra mais perto das arquibancadas, onde os inúmeros alunos daquele lugar estavam. Desde os “nerds” até os “populares”, definições que me incomodavam de uma maneira fora do comum. Todos ali eram alunos iguais a todos os outros e sua forma de estrutura familiar, ou o modo como s e portava não deveria interferir nas relações interpessoais, mas infelizmente interferiam.
- Mas eu queria conversar algo bem importante com vocês. – sustentei o peso do corpo em uma das pernas e os vi me olharem bem curiosos. – Vocês sabem o que é Bullying? – minha pergunta saiu séria e vi alguns arregalarem os olhos, outros assentirem e uns se encolherem. – Pelo visto conhecem bem... – mordi a boca, segurando o microfone com uma das mãos e o outro braço dobrado abaixo do peito. – Quantos aqui já sofreram bullying? – fiz a pergunta que eu realmente queria, vendo mais da metade daquele ginásio levantar a mão, alguns mais despudorados, outros com mais cautela e alguns bem mais discretos. – Acho que vocês devem estar achando que eu sou uma louca, né? Como a mulher vem aqui pra receber um prêmio de honra e fica falando de bullying no meio de um colégio? – eu ri e ouvi algumas risadas me acompanhando, enquanto meus amigos me olhavam com aquele olhar de sempre. O de apoio. Eles sabiam bem o que eu ia fazer, o que eu sempre fazia quando tinha a oportunidade. – Acontece que eu sofri bullying quando era na faixa etária de vocês, e não foi pouco não, foi muito. Meu cabelo incomodava, meu corpo incomodava a muita gente. – mordi de leve a boca e com a visão periférica, vi o ilustre prefeito se mexer desconfortável na cadeira, baixando a vista. – E isso me incomodou pra caramba, me incomodou tanto que eu virei ativista da causa. Eu tenho orgulho de dizer que sou uma ativista em combate ao bullying, nós temos vários projetos nos colégios de Los Angeles que foram frutos da causa. – umedeci os lábios, vendo olhares bem atentos em mim. – O bullying não é apenas uma brincadeirinha, não é só uma piadinha, ele não tem nada de “inho” e pode tomar proporções gigantescas na vida das pessoas. Quantas reportagens vocês já viram de jovens que cometem coisas absurdas e lamentáveis por sofrer esse tipo de violência? Eu já vi muitas, bastante e isso me deixa mais incomodada ainda. – suspirei. – Vocês que fazem bullying com os colegas, já pensaram como é estar no lugar deles? – lancei a pergunta, sabendo que ela não ia tomar as proporções que eu pretendia que tomasse, mas que ao menos, pegaria na consciência de alguns. – Agora vamos um pouco mais longe. E se um filho de vocês, sofresse bullying no colégio, só porque o cabelo é cacheado, ou por usar aparelho, por ser gordinho, magro demais, gostar de coisas tecnológicas, ou estudar, ler... enfim, existem inúmeras coisas pra virar piada, não é? Mas não, isso não é engraçado, é cruel, é malvado, é desumano.
Parei um pouco pra respirar e vi várias carinhas me olharem curiosas, como se quisessem saber como eu tinha chegado até ali e provavelmente o que poderiam fazer pra chegar ao mesmo lugar. Em contra partida, outros pareciam me olhar com nojo, tediosos, como se tudo que eu tivesse falando fosse a maior besteira do mundo. Aqueles se arrependeriam de um dia ter feito qualquer mal a algum dos colegas, o tempo era o melhor remédio e se encarregava de muita coisa na nossa vida, um dia a gente aprendia o que era certo e errado, e que toda ação, tinha uma reação.
Olhei para o Mr. Vitali e ele fixava seu olhar no chão, um pouco encolhido e aposto que envergonhado por tudo que tinha feito na sua época de adolescente. Aquilo era bom, era bom por que ele ia ensinar aos filhos que aquela violência não era certo, era desastroso. E talvez até quisesse trazer um dos nossos projetos pra cidade, na intenção de combater o bullying.
Era assim que a gente começava, com pequenas ações.
Tomei fôlego e continuei:
- Mas então, era isso que eu queria falar com vocês. Uma alerta, um pedido pra que antes de fazerem qualquer brincadeira de mal gosto, se colocarem no lugar do colega. Empatia é algo de extrema importância e que move o mundo. Ser empático não arranca pedaço, só melhora o seu dia. – ri baixo na tentativa de livrar um pouco da tensão e os ouvi rindo baixo. – Pra quem estiver interessado em participar da causa, eu vou ficar na cidade até a próxima segunda feira e provavelmente vou passar a tarde por aqui hoje. Fico feliz demais em poder ajudar vocês! Como também agradeço de coração um prêmio tão honroso, é importante demais pra mim estar conquistando tudo isso ao lado dos meus amigos e da minha família. Mais uma vez, muito obrigada! – terminei meu discurso sendo embalada por uma enxurrada de palmas e por mais que ele não tivesse atingido todo mundo naquele ginásio, eu sabia ao menos uma pequena sementinha, eu tinha plantado.





FIM!



Nota da autora: Oi meninas, tudo bem?
Dessa vez eu vim com uma proposta bem diferente da famosa comédia + romance, hahaha, eu sei. Mas essa música era um hino que eu não poderia deixar passar, essa música foi o meu hino entre os 11 e os 13 anos. Sim babies, eu sofria bullying no colégio por causa do meu cabelinho que nunca fez nada a ninguém. Mas por sorte, a gente amadurece e cresce, aprendendo a superar várias coisas.
Portanto, eu agradeço demaaaais a leitura de vocês e espero ter feito vocês apaixonarem pela história mais difícil que escrevi na minha vida! Obrigada pelo apoio sempre, vocês são foda!
Beijos da tia!





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