Capítulo único
— Eu não vou deixar, , eu sinto muito! Você não vai simplesmente deixar seus sonhos pra trás porque sua mãe acha besteira.
— , não é simples assim, ela vai me colocar pra fora de casa, ela não apoia, você sabe!
— Eu não consigo acreditar que você realmente tá considerando deixar isso pra lá, é a sua chance!
— Eu não posso, , sinto muito.
— Eu não vou deixar isso assim, você merece demais, você tem tanto potencial.
A garota encostou sua cabeça no peito do amigo e deixou que lágrimas rolassem livremente por seu rosto, molhando a blusa dele. Ela nunca acreditaria que o garoto perderia sua chance por conta do preconceito da mãe. Ela não odiava a sra. Carter, na verdade a adorava, mas era impossível não odiar naquele momento alguém que não deixaria seu melhor amigo seguir em frente com algo que ele merecia.
"Words don't come easy without a melody. I'm always thinking in terms of do-re-me"
— De novo, professor, por favor! — Lilly pediu, uma garotinha que sentava na primeira carteira, bem no centro da sala.
— Na próxima aula, prometo, pequena – falei quando ouvi o som do sinal tocar e todos me olharem tristes por terem que sair para irem para suas casas. Isso talvez fosse algo estranho em uma escola, mas aquelas crianças gostavam de algo ali, e não era de mim, ou da aula, era da música que eu usava para ensiná-los.
Peguei meu violão e sai da sala em passos rápidos, indo em direção a sala dos professores.
— Com pressa, sr. ?
— Tenho programas para hoje à noite, srta.– falei sorrindo e beijando sua bochecha. Peguei os livros que ela levava e guardei-os em seu armário enquanto ela tirava seu jaleco e soltava os cabelos, se tornando uma pessoa normal da sexta-feira, como ela sempre dizia. Me despedi com um aceno do resto do corpo docente e joguei meu braço por cima de seus ombros, a arrastando para fora da sala.
— Apressa o passo se quiser chegar a tempo – ela falou, andando mais rápido — odeio quando você compra ingressos pra sessão mais cedo possível.
— Só quero poder dormir mais cedo – dei de ombros e ela riu, me xingando.
Destravei o carro com o alarme e me xingou mais uma vez quando parei ao lado da porta do passageiro, abrindo-a para que ela entrasse. Ela rolou os olhos, sorriu e agradeceu, mas reclamou que isso demorara um minuto a mais.
— Você nunca vai perder esse costume? — ela perguntou enquanto eu colocava o cinto de segurança. Neguei com a cabeça — é bem fofo, mas você nos atrasou, anda logo!
— Vai indo que eu pego as coisas, vai, vai, vai – saiu andando rapidamente para dentro da sessão, já que eu sabia que ela odiava perder até mesmo os trailers que passavam antes do filme.
— Esse filme é incrível — ela falou, fungando, enquanto jogava seu balde de pipoca no lixo.
— É bem bonito mesmo – falei.
— Você nem chorou – ela deu um soco em meu braço, reclamando.
— Porque não foi tão assim – dei de ombros e ela olhou para mim, com o rosto inchado de tanto chorar, apontando para seus olhos. Eu ri e ela me mostrou a língua — Mc? — ela assentiu, feliz.
— Podemos pegar no drive-thru e comer em casa? Por favor?
— O que quiser, senhorita! — falei então puxando as chaves do carro do bolso e saindo correndo em sua frente para abrir a porta antes mesmo que ela chegasse até o veículo. Ela andou lentamente até me alcançar, apenas negando com a cabeça e rindo. Beijei sua testa e fechei a porta após ela ter entrado e então passei para o outro lado, pronto para dirigir.
— , corre aqui! — falou sentada no sofá enquanto eu pegava guardanapos para nós em sua cozinha – vai logo, olha o que tá passando!
— O quê? — olhei para a tv e encontrei nela um anúncio do The Voice, a respeito de inscrições abertas para a nova temporada – ah – falei desanimado – ...
— Eu nem sei porque eu tento, é tão inútil essa fé que eu tenho em você.
— Não fala assim – me sentei ao lado dela e ela colocou as coisas que segurava ao seu lado para que eu deitasse em seu colo.
— Eu falo, – ela passou a mão em meus cabelos que já estavam um pouco maior do que o normal — não é porque já se passaram anos que você deixou de ter o potencial que eu sempre acreditei, as crianças te amam, todo mundo sabe que você tem uma voz incrível e que você sempre sonhou com isso. Eu realmente não consigo entender porque você não pode correr atrás — percebi que aquilo era um desabafo, como se fosse algo que ela guardasse há muito tempo, e eu acreditava que ela guardava um pouco mais a cada ano, já que sempre tentava me convencer.
— , eu já tenho 29, já passei do tempo disso. Eu gosto de ser professor, cantar pros meus alunos, eu gosto de compor e mais ainda, eu amo minha privacidade e ir todas as sextas com você no cinema, comer alguma coisa...
— E isso mudaria por quê? Eu sei que as coisas seriam diferentes, mas não consigo ver isso te impedindo de fazer as coisas. A gente sabe que são as raras as vezes que um ganhador de um reality desses realmente faz sucesso, não que você não tivesse chances de ser a nova Kelly Clarkson.
— Se você sabe que são raras, por que tentar? Só deve ser tudo uma grande dor de cabeça — falei ríspido, logo me arrependendo.
— Porque não é pra ser famoso e ganhar milhões, , é pra seguir pelo menos uma vez o sonho, o que você sempre quis e todos a sua volta te impediram! — levantou sua voz, ficando irritada. Todos os anos eram a mesma coisa, mas aparentemente ela estava ficando cansada, e isso me incomodou um pouco.
— Você parece mais incomodada com eu não seguir meus sonhos do que eu mesmo, não consigo entender.
— Você acredita que não se incomoda porque você compartimentou isso na sua cabeça, mas todo mundo sabe que você nasceu pra isso, até mesmo as crianças. , quem dá aula pra um milhão de salas, de matérias diferentes, e consegue criar uma música pra cada uma delas? Você consegue segurar garotos do último ano em uma sala, quietos, em uma sexta-feira. Tudo que você pensa é do-ré-mi-fá, você mais canta do que fala, é algo inacreditável. Você já tem 29, isso é verdade, então porque você não acorda? — ela pegou seu saquinho de viagem do Mc Donald's e se levantou, indo até a porta – pode me levar embora?
— ...
— Por favor – apenas assenti e deixei tudo como estava, pegando a chave do carro e a acompanhando.
"You're inspiration, you helped me find my sound..."
— Que porra de história é essa que você tá pedindo licença pra daqui algum tempo? — ouvi falar entrando como um furacão enquanto eu arrumava minhas coisas para sair da sala.
— Quem foi o bocudo? — perguntei irritado, mas com um sorriso no rosto.
— Todo mundo tá sabendo, menos a trouxa da sua amiga há 15 anos.
— Aí que gracinha de ciúmes — me aproximei, apertando suas bochechas e vendo-a rolar os olhos — então, ...
— Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu, você, chata como sempre na minha vida – ela me encarou com as sobrancelhas semicerradas, parecendo estar a ponto de me socar – eu queria muito te contar isso de uma forma mais legal, você é uma estraga-prazeres, não podia esperar só mais um pouquinho?
— Fala logo, você já tá me irritando, !
— Eu tenho uma audição pro The Voice – falei pausadamente.
— Você o quê?
— Eu juro que não é uma brincadeira nem nada, se você quiser eu posso te mostrar o e-mail e...
Antes que eu terminasse a frase, jogara seu corpo contra o meu em um abraço desajeitado, me fazendo bater as costas na mesa, segurando nosso peso. Ela se separou por alguns segundos, encarando meu rosto, e então pulou novamente em meus braços com lágrimas em seus olhos.
— ... — falei em seu ouvido.
— Me deixa só aproveitar esse momento, por favor – ela falou baixinho com a voz embargada.
— Eu vou deixar, eu só queria te agradecer, eu não sei o que seria de mim sem você, eu nunca teria tentado, você é sempre minha maior inspiração pra tudo – beijei sua cabeça e continuei a afagar seus cabelos enquanto sentia suas lágrimas se desmancharem em meu moletom.
— Eu nunca podia imaginar que depois daquela briga de meses atrás você iria chegar com essa notícia, nunca – ela disse entre soluços — eu não quero exagerar na felicidade, mas é tão bom saber que você vai tentar.
— Por sua causa – desencostei seu rosto do meu corpo e beijei sua testa, logo a juntando a mim de novo. Naquele momento parecíamos os dois adolescentes que éramos quando chorei por não poder seguir aquele sonho, mas dessa vez, tudo se resumia à felicidade.
"I should be hiking, swimming, laughing with you... Instead I'm all out of tune..."
— And all I can taste is this moment, and all I can breathe is your life, and sooner or later it's over... I just don't want to miss you tonight...
Que droga! Joguei meu violão de qualquer jeito sobre a mesa e fui em direção a cozinha para tomar alguma coisa e tentar me acalmar. Naquele momento, nem mesmo o começo da música eu conseguia acertar. Faltava uma semana para minha audição, e uma música que eu conhecia por metade da minha vida parecia impossível.
— Nossa, aconteceu alguma coisa por aqui? — perguntou entrando em minha casa, que ela com certeza tinha chave, afinal, basicamente só tínhamos um ao outro. Ela estava com seus cabelos molhados, percebi que suas roupas também tinham marca de umidade e a mochila em sua mão denunciava que voltava da aula de natação, a qual eu também fazia com ela aos domingos, porém, estava afastado de todas as minhas atividades para me dedicar ao preparo.
— Só tô um pouco irritado – falei, guardando a garrafa de refrigerante na geladeira.
— Percebi, mas com o quê? — ela se aproximou e beijou minha bochecha. Pude sentir nela o cheiro de cloro da piscina que ficava em seu cabelo e ela tanto odiava, sorri sozinho e por um segundo quase me esqueci da raiva que estava sentindo.
— Tô cansado! Parece que quanto mais eu ensaio, pior é! , até meu violão está desafinando com a minha voz, é impossível eu fazer qualquer coisa direito assim! Eu tenho certeza que só tô perdendo tempo, eu podia tá aproveitando de mil formas, estudando mais, escolhendo uma nova faculdade, inventando um novo hobbie, poderia até não ter largado a aula de natação ou nossos programas de sempre. Eu odeio ter certeza de que tô fazendo tudo em vão — despejei minhas inseguranças em cima dela e eu poderia imaginar qualquer reação, mas apenas começara a rir. Encarei-a, indignado, e ela colocava uma mão na boca para tentar controlar a risada ou fazer parecer menos indelicado, e a outra usava para fazer um sinal de "espera" para mim.
— Eu não acredito que você está com medo! Chega a ser algo engraçado demais pra mim, desculpa – resmunguei algo como "não tô vendo graça nenhuma" e ela apenas ignorou – , eu não conheço ninguém melhor que você pra seguir em frente com isso. Sua voz com certeza não está desafinada, e posso te garantir que até o seu desafinado colocaria todas as pessoas no chão, se ajoelhando aos seus pés.
Bufei e corri até o sofá me jogando nele. sorriu e empurrou meus pés, para se sentar ao meu lado. Lhe dei espaço e joguei meus pés em seu colo, então me lembrei que precisava conversar com ela se aquilo fosse seguir mesmo em frente.
— Você é a melhor, sabia? É tudo tão mais fácil com você, quando eu tô em desespero você consegue simplesmente me dar um tapa na cara e me ajudar, as vezes acho que nem você percebe como faz isso com facilidade – troquei de lado no sofá, colocando minha cabeça em seu colo. Segurei sua mão e coloquei em meu rosto, indicando que queria que ela fizesse carinho ali. Ela revirou os olhos, mas sorriu e atendeu meu pedido como sempre.
— Não sei o motivo, mas parece que você tá querendo alguma coisa... — mostrei a língua pra ela.
— Eu tô justificando o que eu quero – falei rindo, mas logo me coloquei sério novamente – ... você me daria a honra de me acompanhar na minha audição? Eu preciso de você lá, por favor...
— Eu achei que você não ia pedir! — ela me empurrou de seu colo, fazendo com que eu me levantasse, e me abraçou com toda a força que tinha – eu quero muito estar lá pra você, , como sempre – apertei meus braços em volta dela e ficamos assim por um bom tempo, até que ela me empurrasse para fora do sofá para que eu a mostrasse como estava ficando.
— Eu sempre amo quando você canta essa música, você não podia ter escolhido uma melhor – ela falou com um enorme sorriso no rosto e então me lembrei do porquê ela era tão apegada – a propósito, ótima voz e ótima escolha.
Flashback...
— And I don't want the word to see me, cause' I don’t think that they'd understand...
— Caramba, esse menino canta bem demais – ouviu a garota falar ao seu lado e apenas assentiu com a cabeça enquanto deixava seus olhos vidrados no palco, se perdendo naquela música que tanto amava.
— Ei, você é a ? – a garota se virou e encontrou o garoto que vira cantando na aula de teatro outro dia.
— Eu mesma, Iris, sou sim! – falou, brincando.
— Iris? – arqueou as sobrancelhas.
— É, você está um pouco conhecido assim – deu de ombros – a propósito, ótima voz, e ótima escolha – ela sorriu para ele que sorriu em resposta, com as bochechas coradas – diz aí, como sabe que sou a ?
— Precisava falar com a representante de turma, e então me indicaram onde você estaria...
Flashback off
Um tempo depois daquele dia, não éramos mais vistos pelas pessoas como dois e sim como um só. Éramos e ou e , não importa onde fossemos.
— Você sabe que vai dar tudo certo, não? – ela falou, me abraçando.
— Você sabe que eu te amo não? – sorri para ela, que assentiu e logo se levantou dizendo que prepararia algo para comermos.
“Just like a bass line a half-time, you hold down the groove...”
— Eu acho que vou vomitar – falei quando parou o carro em frente ao estúdio.
— Não, você não vai, pode parar – ela disse, sorridente – eu tô tão ansiosa, aí meu Deus, meu melhor amigo vai estar no The Voice!
— Shh! Não fala essa palavra!
— , não é por nada, mas... – ela apontou para alguns metros adiante, onde havia uma enorme placa de entrada do estúdio do programa. Droga.
Abaixei a cabeça e decidi rezar para todos os deuses e santos que existissem, eu tinha minha religião, mas naquele momento decidi usar todas. apoiou sua mão na minha e também abaixou da cabeça, como se soubesse o que eu estava fazendo. Apertei sua mão e a puxei em direção ao meu peito, logo em seguida depositando ali um beijo e fazendo-a olhar para mim com um sorriso no rosto.
— Obrigada por tudo – sorri sincero e ela então apontou para o estúdio mais uma vez enquanto conferia o horário em seu celular – ... Será que se você passar, ou mesmo se não passar, sei lá, eles me deixam conhecer o Adam? – olhei para ela boquiaberto e ela gargalhou.
— É sério que está pensando nisso? – ela deu de ombros – vou levar outra pessoa em seu lugar! Vou arrumar uma namorada na esquina e pedir ela em casamento no programa se eu perder! Pelo menos assim apareço na tv, faço graça, e você não, você não merece – fingi aquela expressão de criança emburrada e se aproximou para depositar um beijo em meu rosto, mas, fui rápido o suficiente para me virar também em sua direção e causar entre nós um pequeno selinho.
— ... Desculpa – ela disse, mais vermelha que a camiseta que eu usava.
— , shh! — revirei os olhos — tá pedindo desculpa por quê? Caso você não se lembre, faltam 6 meses, é melhor você ir se acostumando – pisquei para ela, e considerei o quanto era besta por estar esperando aquilo ansiosamente, simplesmente para ter uma desculpa e tomar a coragem que nunca tive. Abri a porta e coloquei a perna para fora, pronto para levantar, quando senti-a puxar meu braço.
— Como assim?
— Ah não, vai se fingir de desentendida logo agora? — perguntei olhando o horário, para garantir que não iria me atrasar.
— Eu não estou perguntando do que você está falando, queridinho – ela deu língua e eu não entendi ao que ela se referia então — estou querendo saber como assim, você está contando?
— Claro que não — neguei veemente e ela riu.
— Não acredito nisso, , se você queria me pegar era só falar, não precisava esperar 10 anos – ela brincou.
— É? — coloquei meu corpo inteiro para dentro do carro novamente e fechei a porta. Aproximei meu corpo do dela e depositei um beijo no canto de sua boca, fazendo ela respirar fundo, surpresa — você tem sorte que eu não posso me atrasar agora, mas depois a gente conversa.
— Eu tava brincando – ela exclamou.
Dei de ombros e sai do carro, rindo. Ela saiu logo em seguida e me alcançou enquanto acionava o alarme.
Flashback...
— Eu odeio que nada nunca dê certo, sério — a garota falou irritada – eu não esperava mil coisas dele, sabe? Mas poxa, respeito era o mínimo.
— Acho que você sabe que não posso te aconselhar, não? Também não sou o mais sortudo do mundo, por isso não vou nem tentar mais – falou, rindo.
— Você é o único homem aceitável pra ficar ao lado, pelo menos amizade não rola traição. Bom, rola né? Mas confio em você, pelo menos por enquanto – o menino mostrou a língua para ela e então se aproximou, sentando-se ao seu lado e a puxando para enconstar-se a ele.
— Você sabe que ele não te merecia, . Você é boa demais pra ele – o amigo a conhecia, sabia que ela rolara os olhos para sua frase clichê — mesmo que todo mundo fale isso, é a pura verdade, eu nunca fui com a fuça dele.
— Eu devia ter te ouvido – ela falou baixinho, voltando a chorar em seu ombro – sabe o pior? Parece que nada nunca vai dar certo, mas eu quero casar, ter filhos, uma família bonitinha. Gosto de ser sozinha, mas ao mesmo tempo sonho em ter uma casa de comercial de margarina — a garota fungou e sorriu com seus pensamentos.
— Eu te entendo, porque eu também quero, mas nem sempre é da forma como queremos, você sabe que tem alguém lá em cima cuidando pra que tudo seja feito da maneira certa, no momento certo. Não adianta se apressar, procurando pessoas erradas que não nasceram pra você.
— Odeio quando você poetiza e sempre está certo – ela grunhiu e o garoto a apertou em seus braços — mas eu bem que queria arrumar alguém pelo menos até os 30.
— Nossa, , ainda faltam 7 anos pra isso, é muito tempo!
— Não parece tanto assim.
— Se você não arrumar ninguém até os 30 eu caso com você e ponto final, okay?
— Isso é sério? — a garota gargalhou e apenas assentiu — não é meio feio fazer isso como "um favor"?
— Só se o favor fosse para mim, não? Me casar com essa garota linda que eu amo tanto – os dois riram e continuaram abraçados durante toda a tarde, conversando sobre como seria um casamento entre eles e o quão engraçado poderia ser.
“That's why I'm counting on you...”
— , eu não vou aguentar – falei baixo em seu ouvido, com as mãos tremendo quando vi as câmeras vindo em nossa direção.
— Eu vou aparecer na tv – ela falou animada – graças a Deus não vou cantar – deu de ombros e riu da minha situação.
— Olá, você é ? – um moço da produção que usava um crachá com “Matt” escrito perguntou.
— Sou – falei com a voz trêmula e apertei sua mão – e essa é , minha amiga.
— Bom, como vocês sabem, vamos gravar com vocês e com Carl, certo? Sua audição mesmo é apenas daqui a uma hora e meia, preparados?
assentiu e eu apenas sorri nervoso, nem ao menos sabia o que dizer sobre mim, não sabia nem se aquilo iria ao ar, afinal, tinha quase certeza que ninguém viraria a cadeira para mim.
Matt preparou toda sua equipe e nos sentou em uma mesa para tomarmos um café e podermos decidir o que seria falado. Ele havia pedido para que eu e falássemos que éramos namorados ou qualquer coisa que envolvesse romance, e ligasse aquilo à minha música, mas não concordei, porque se fosse pra falar algo assim, eu não gostaria que fosse mentira. Ela sorriu, agradecida, acho que ela não seria muito fã daquilo também.
Gravamos algumas cenas do lado de fora onde contei sobre minha família, onde eu nascera, e como minha mãe, que já falecera, havia me proibido de seguir carreira na música. Depois entramos e nos sentamos novamente no café, dessa vez com , onde contei que éramos amigos há anos e ela sempre se irritara de não me ver fazendo o que queria. Matt então pediu para que ela falasse o que havia acontecido, como fizera com que eu me inscrevesse e como se sentia de estar comigo ali, obviamente ela exibia um sorriso de orelha a orelha que quase me deixava com ciúmes de pensar em ver na tv, mas aquele sorriso era para mim, então eu não poderia me sentir mais feliz e sortudo.
— Boa sorte – me abraçou apertado e eu respirei fundo antes de solta-la e andar em direção ao corredor escuro.
Não consigo explicar a sensação que era estar ali no palco, eu havia esperado tanto tempo pra finalmente poder seguir meus sonhos que eu nem me lembrava como era cantar para pessoas, além da .
Me posicionei no centro do palco e encarei aquelas cadeiras, imaginando se quando minha voz preenchesse aquele espaço, elas se virariam para mim. Ouvi a melodia começar e a plateia parecer automaticamente animada. Era algo sem igual ver o retorno daquelas pessoas para com a minha voz na música escolhida. Algumas garotas gritavam, e aplaudiam, e eu comecei a andar pelo palco, pois apesar de não ser nada animada, eu não conseguia ficar parado. Quando me coloquei na ponta esquerda do palco e comecei a cantar o refrão, meu coração parou ao ver a primeira cadeira se virar. Sorri para Adam e meus olhos pareciam querer se encher de lágrimas, afinal, eu estava imaginando o quanto não pulava desesperadamente naquela sala onde havia ficado. Alguns segundos depois, vi Blake apertar o botão e também me encarar, então em pouco tempo, enquanto eu finalizava as últimas notas, todos os jurados me encaravam e aquelas quatro pistas estavam acesas.
Quando a música acabou, deixei que algumas lágrimas escorressem, as limpando rapidamente, nem me importando que estava chorando na televisão.
— Qual seu nome, querido? – Kelly Clarkson perguntou, e eu parei para respirar por um segundo, porque Kelly Clarkson estava perguntando meu nome.
— – sorri, um pouco tímido devido a estar sendo encarado por quatro artistas muito admirados.
Eles então usaram o tempo que tinham para me perguntar de onde eu era, se eu cantava profissionalmente, o que fazia... Foi onde contei da parte de que cantava para ensinar as crianças na escola onde lecionava, o que surpreendeu a todos e fez com que Kelly e Alicia morressem de amores. Estava tudo bem tranquilo, até que finalmente chegou a pergunta principal, lançada por Blake.
— E então, quem você escolhe? – ele perguntou, logo fazendo seu famoso gesto com o dedo indicador apontando para si.
Kelly estava com as mãos juntas, pedindo por favor, e Alicia batia palmas chamando pelo próprio nome. Então olhei para Adam, que apenas sorria como se nada tivesse acontecendo, me encarando sem fazer gesto algum, como se soubesse que não precisava de nenhum esforço para aquela batalha, como se soubesse que minha melhor amiga que estava no camarim nunca me perdoaria se eu não escolhesse seu cantor favorito é aquele que definitivamente entendia sobre minha voz e saberia perfeitamente como trilhar meu caminho ali dentro.
— Eu escolho Adam – apontei para ele que pulou da cadeira rindo. Andei até onde uma pessoa da produção me chamava, mas ao passar pelas cadeiras Adam se aproximou e me deu um abraço, dizendo que seria ótimo trabalharmos juntos. Apenas agradeci, ainda sem graça.
Entrei na sala onde normalmente a família do participante esperava e encontrei ali minha única família, chorando mais do que seria possível acreditar. Sua roupa estava molhada de lágrimas e ela nem mesmo se importava de saber que estavam a gravando. Quando a vi apenas corri para seus braços e a apertei bem forte entre os meus. Agora que era um participante eu sabia que teria muitas responsabilidades e tinha muitas coisas para tratar ali nos bastidores, mas eu precisava dela naquele minuto, e ela precisava de mim.
— – ela tentou falar enquanto soluçava e eu apenas afaguei seus cabelos dizendo que podíamos esperar pra conversar. Ela assentiu e Carl saiu da sala, sabendo que não teríamos como gravar nada ali ainda. Na verdade acredito que ele estava muito feliz que eu havia chegado, pois deve ter ficado sem saber o que fazer com o desespero de minha amiga – você é tão incrível – ela disse quando conseguiu falar algo além de “ai” “Deus” ou “puta que pariu” que ela sussurrava sem parar.
— Obrigada por estar aqui e aguentar tudo comigo – beijei sua testa e afastei seu corpo do meu para limpar suas lágrimas – agora você vai casar com um cantor participante do The Voice...
— Do time do Adam! – ela disse um pouco alto demais, rindo quando percebeu.
— Eu podia escolher qualquer outro? – ela negou com a cabeça de um modo infantil.
— Ainda bem que me conhece – ela deu de ombros e pegou a garrafa de água que tinha, terminando de se acalmar e voltando para meus braços antes que tivéssemos que gravar ou resolver o que quer que fosse.
“I'm in a session, writing track, you've got another class to teach...”
— Eu tô com saudades – falei quando ouvi sua voz baixa falando “alô”.
— Eu também estou, , mas eu tô em aula! – ela tentou falar, provavelmente se distanciando para a porta.
— Eu nem me lembrei disso, me desculpa! – falei batendo em minha própria testa.
— Só porque agora é uma estrelinha, não lembra como é horário de professor? – imaginei que ela sorrira ao me chamar de estrelinha. Mas ela não mentia, eu havia ganhado um público muito bom ao longo do programa, fã-clubes e tudo mais. Estávamos nas semifinais ainda, e algumas pessoas me tratavam na internet como um vencedor, chegava a ser engraçado.
- Você vem amanhã? – perguntei esperançoso de que ela passaria o fim de semana comigo, mesmo em meio à minha agenda de ensaios.
— , eu te ligo depois, estão quase literalmente colocando fogo na sala.
Ela desligou antes mesmo que eu me despedidas e fiquei ali ouvindo o nada por um tempo. Eu estava feliz com tudo que vinha acontecendo, porém, eu sentia falta de nossas sextas-feiras e nos vermos todos os dias. Eu sentia falta de como achava não ser possível, e talvez isso tivesse me feito perceber algo que eu esperava ansiosamente que ela também tivesse pensado, esperava não estar errado.
— , eu estou ensaiando! Desculpe, não posso falar agora – falei triste.
— Ah, tudo bem... Que desencontro hoje, não? – ela disse, tão triste quanto eu.
— Posso te ligar mais tarde? – Adam voltou para a sala e apesar de muito simpático e divertido, ele era um pouco rígido, o que me fez desligar o telefone no mesmo minuto em que o vi, dessa vez eu quem deixara ouvindo o vazio.
— Algo tão secreto assim? – ele riu.
— Apenas minha melhor amiga – desconversei, não querendo chamar atenção para minha vida pessoal naquele momento.
— Estava pensando... Acredito que você já está dando tudo de você em Somebody to Love, o que acha da segunda música pegar mais leve e colocar um pouco de Maroon 5?
— Seria incrível, com todo respeito – ri e ele me acompanhou, dizendo que se orgulhava de suas músicas então gostava de ver seus artistas cantando-as.
— O que acha de It Was Always You? – tentei me controlar, mas um sorriso brotou em meu rosto quando o ouvi dizer aquilo – bom, acho que você curte.
Adam sempre se preocupava com o quanto eu e Brittany, que éramos de seu time, estávamos confortáveis com o que cantaríamos, havia sido assim desde o início. Quando começávamos a ensaiar ele se tornava outra pessoa, focava completamente na minha voz e em como podia me ajudar, muitas vezes se juntando a mim na canção para que o acompanhasse. Ele era duro, e gostava de exigir o máximo que era possível, tornando sempre o ensaio muito cansativo. Estava sendo incrível ser treinado por alguém como ele, parecia um sonho, por mais criança que falar assim possa parecer.
— It was always you, can't believe I could not see it all this time...
— Pode colocar todas suas emoções na música, você não vai fraquejar por isso, sua voz está incrível – falou ele, me interrompendo.
Ele mal imaginava como não era difícil colocar minhas emoções naquela música, afinal, chegava a ser irônico ele aparecer com aquela música naquele momento.
Entrei no apartamento que estava ficando próximo ao estúdio quando já era meia noite, já que tinha aproveitado para passar no mercado e trazer algumas coisas para casa quando sai de lá. Estava irritado que parecia cada vez mais distante, não que estivesse, mas era a sensação que tinha quando percebia que não nos falávamos pela diferença de horários que estavam sempre bagunçados. Se eu estava livre, ela estava dando aula. Se eu estava ensaiando, ela queria falar comigo. Eu chegava tarde, ela já estava morta de cansaço e dormia cedo. Aquilo estava me matando.
Olhei novamente a hora e percebi que talvez não fosse tão ruim ligar para ela depois de um bom banho. Larguei minhas sacolas na cozinha, guardando apenas o que era de geladeira para que não estragasse e caminhei corredor adentro até chegar ao quarto. Abri a porta, acendi a luz e não pude explicar o sorriso em meu rosto, que era maior que o susto que eu havia tomado de ter minha casa invadida.
estava estirada na cama ainda com a roupa que provavelmente dera aula pela manhã. Ela estava com a cabeça em um travesseiro e um outro estava entre seus braços, apoiando seu queixo. Ela abriu os olhos lentamente quando a luz clareou o ambiente e tentou sorrir animadamente, mas parecia mais uma preguiça pendurada em uma árvore quando acorda.
Aproximei-me da cama e sentei na ponta, colocando a mão em seus cabelos e a repreendendo quando ela tentou levantar. Ela me olhou com as sobrancelhas arqueadas e eu me abaixei, dando-lhe um selinho que a surpreendeu. Ainda sem falar nada, me mantive próximo a seu corpo, encarando-a nos olhos. Ela olhou para minha boca e deixou com que um sorriso aparecesse em seus lábios enquanto me encarava com os olhos brilhando, assim como imaginei que os meus estivessem.
Aproximei-me novamente dela e colei nossos lábios, me deitando por cima de seu corpo e mantendo minha mão em sua cintura enquanto ela levava as suas até meu pescoço. Antes que eu pensasse, procurava por minha língua para aprofundar o beijo e me levar a loucura. O beijo durou poucos segundos como algo novo e calmo, logo se tornando uma necessidade, uma novidade sem igual que talvez tivesse esperado mais de dez anos escondida, apenas pensando que aquele sentimento nunca surgiria.
colocou sua mão por baixo de minha camisa e acariciava minha barriga de forma delicada, parecendo que apenas queria manter aquele contato cada vez mais próximo. Me movi para o seu lado na cama e inverti nossas posições, a colocando por cima de mim para que tivesse mais liberdade para correr minhas mãos por seu corpo e usar aquilo para acreditar que era real, que aquilo não era um sonho. Eu já tinha idade o suficiente para saber que aquilo era algo normal e poderia acontecer, mas era tão bom que eu não conseguia apenas aceitar.
— Parece tão certo – falou com a voz cansada quando separamos nossas bocas e mantivemos apenas nossos corpos grudados um no outro. Assenti com a cabeça e distribui alguns beijos em seu rosto, finalizando com um na ponta de seu nariz.
— Eu acredito que seja, , e nem vou reclamar que demoramos demais pra perceber, porque acredito que tudo tem sua hora – sorri e ela me acompanhou, logo em seguida deitando em meu peito e se aninhando ali – senti saudades, e isso me fez ficar mil vezes pior guardando isso pra mim.
— E por que você não falou?
— Porque eu não ia simplesmente falar "acho que você é a mulher da minha vida" por telefone em cinco segundos, que foi o tempo que a gente conseguiu se falar nesses últimos tempos – ela se afastou do meu corpo, me encarando.
— Já tá nesse nível? — ela perguntou.
— Porque não estaria? — arqueei a sobrancelha e ela sorriu, dando de ombros — não esquece que temos um ano pra casar – mostrei a língua e ela soltou uma gargalhada.
— Você não vale um real, !
— Não mesmo.
Ela se encostou novamente em meu corpo e ficamos por alguns segundos em silêncio, mas apesar dele, aquele quarto nunca pareceu tão barulhento. estava tão inquieta quanto eu, esperava que de felicidade também, parecia pensar em diversas coisas ao mesmo tempo.
— Foi tão natural – ela riu nasaladamente e eu apenas senti seu corpo balançar — chega a ser engraçado. Me levantei rapidamente fazendo com que seu corpo caísse inteiramente na cama. Me coloquei por cima e comecei a fazer cocégas, para irrita-la.
— Engraçado? Jura? — ela ria descontroladamente e apenas continuei, até notar que lhe faltava o ar — não é engraçado, chatinha. É apenas certo, você é a melhor pessoa do mundo e eu não mereço menos que isso – ela rolou os olhos e sorriu, cansada.
— Famosinho metido – ela mostrou a língua.
— Trouxe besteiras do mercado, tomamos banho e depois assistimos um filme e comemos? — ela negou com a cabeça.
— Eu preciso dormir, por favor – choramingou.
— Então vai pro banho, vou preparar algo pra você, você come enquanto tomo o meu e deitamos okay? — ela balançou a cabeça concordando, feliz – mas amanhã você é toda minha, sem dormir muito – me levantei e mandei um beijo no ar pra ela. A garota amarrou minhas pernas com as suas e me derrubou novamente na cama, me puxando para outro beijo, o que nos enrolou por mais alguns longos minutos.
"And when I hear you on the radio
I'd never want to change a single note
It's what I tried to say all along
You're my favorite song"
— , escuta isso! — ouvi falar no telefone e então ela provavelmente aproximou o celular do rádio de seu carro pois a ligação chiou, o que me fez ficar irritado já que ela estava no telefone enquanto dirigia.
Eu estava escovando meus dentes e a escova simplesmente caiu de minha mão. Fiquei parado, babando toda a pasta de dente quando ouvi o que ela tanto queria falar. Era minha voz saindo daquele chiado do rádio, minha música estava tocando ali. Depois de meses de gravação pra um único single, e enchendo meu saco que não havia gostado daquela música, ela estava ali na rádio, e eu não podia acreditar!
— Aí que orgulho, meu Deus! – ouvi sua voz tomar novamente o telefone com a música ainda ao fundo, provavelmente no volume mais alto possível.
— Eu não consigo acreditar – falei ainda surpreso.
— Logo estarei em casa, meu amor – ela desligou o telefone e imaginei que provavelmente já estaria por perto.
Deitei na cama e comecei a refletir como um ano podia mudar sua vida. Não ganhar o The Voice não foi algo ruim para mim, muito pelo contrário, meu terceiro lugar me trouxera à semi-fama do mesmo jeito, e isso fez com que a indústria percebesse que com o tanto de fãs que já estavam ali para mim em todos os meios possíveis da internet, eles poderiam ganhar dinheiro. Isso não era ruim, eu não me importava na verdade, sabia que as coisas eram assim, não é quem é bom, é quem é bom o suficiente pra dar retorno no puta investimento feito, e eu era assim, eles acreditavam ao menos.
Fui contratado e logo começamos a gravar algumas coisas, mas sem intenção de lançar próximo ao recente final do programa, também por questões contratuais. Mas não levou muito tempo para que quebrassem minha ligação com o programa e pudessem começar a divulgar o trabalho que estávamos fazendo. Eu não conseguia entender como tantas pessoas podiam ter se afeiçoado a mim, mas era o que acontecera, e o que me colocara ali.
— Você tocou na rádio, , na rádio! Imagina quando sair seu vídeo no YouTube? Aí meu Deus! – se jogou por cima de mim na cama, distribuindo diversos beijos, completamente extasiada.
— Isso porque você não tinha gostado da música, né? — provoquei-a e ela invés de se emburrar, se colocou ao meu lado e segurou meu rosto.
— Você acha que ouvindo sua voz no rádio eu ia pensar nisso? Pra mim ela tá perfeita do jeito que tá, ela tá na rádio, ! Na rádio! Ela é a música que vai te fazer crescer ainda mais, eu não mudaria nada ali.
— Odeio quando você consegue ser mais romântica que eu – mostrei a língua e a puxei para mais perto, a beijando.
— Aquela é a melhor coisa que poderia acontecer pra você nesse momento, ! – parecia mais animada do que eu, e isso contribuiu para minha animação aumentar.
— Depois de você, nenhuma música ou qualquer coisa se compara a nós dois, você é minha música preferida, por mais que sua voz me irrite as vezes.
Ela negou com a cabeça e rolou os olhos. Um sorriso se estendeu em seu rosto e a puxei para meu colo, iniciando nossa comemoração tão aguardada.
— , não é simples assim, ela vai me colocar pra fora de casa, ela não apoia, você sabe!
— Eu não consigo acreditar que você realmente tá considerando deixar isso pra lá, é a sua chance!
— Eu não posso, , sinto muito.
— Eu não vou deixar isso assim, você merece demais, você tem tanto potencial.
A garota encostou sua cabeça no peito do amigo e deixou que lágrimas rolassem livremente por seu rosto, molhando a blusa dele. Ela nunca acreditaria que o garoto perderia sua chance por conta do preconceito da mãe. Ela não odiava a sra. Carter, na verdade a adorava, mas era impossível não odiar naquele momento alguém que não deixaria seu melhor amigo seguir em frente com algo que ele merecia.
"Words don't come easy without a melody. I'm always thinking in terms of do-re-me"
— De novo, professor, por favor! — Lilly pediu, uma garotinha que sentava na primeira carteira, bem no centro da sala.
— Na próxima aula, prometo, pequena – falei quando ouvi o som do sinal tocar e todos me olharem tristes por terem que sair para irem para suas casas. Isso talvez fosse algo estranho em uma escola, mas aquelas crianças gostavam de algo ali, e não era de mim, ou da aula, era da música que eu usava para ensiná-los.
Peguei meu violão e sai da sala em passos rápidos, indo em direção a sala dos professores.
— Com pressa, sr. ?
— Tenho programas para hoje à noite, srta.– falei sorrindo e beijando sua bochecha. Peguei os livros que ela levava e guardei-os em seu armário enquanto ela tirava seu jaleco e soltava os cabelos, se tornando uma pessoa normal da sexta-feira, como ela sempre dizia. Me despedi com um aceno do resto do corpo docente e joguei meu braço por cima de seus ombros, a arrastando para fora da sala.
— Apressa o passo se quiser chegar a tempo – ela falou, andando mais rápido — odeio quando você compra ingressos pra sessão mais cedo possível.
— Só quero poder dormir mais cedo – dei de ombros e ela riu, me xingando.
Destravei o carro com o alarme e me xingou mais uma vez quando parei ao lado da porta do passageiro, abrindo-a para que ela entrasse. Ela rolou os olhos, sorriu e agradeceu, mas reclamou que isso demorara um minuto a mais.
— Você nunca vai perder esse costume? — ela perguntou enquanto eu colocava o cinto de segurança. Neguei com a cabeça — é bem fofo, mas você nos atrasou, anda logo!
— Vai indo que eu pego as coisas, vai, vai, vai – saiu andando rapidamente para dentro da sessão, já que eu sabia que ela odiava perder até mesmo os trailers que passavam antes do filme.
— Esse filme é incrível — ela falou, fungando, enquanto jogava seu balde de pipoca no lixo.
— É bem bonito mesmo – falei.
— Você nem chorou – ela deu um soco em meu braço, reclamando.
— Porque não foi tão assim – dei de ombros e ela olhou para mim, com o rosto inchado de tanto chorar, apontando para seus olhos. Eu ri e ela me mostrou a língua — Mc? — ela assentiu, feliz.
— Podemos pegar no drive-thru e comer em casa? Por favor?
— O que quiser, senhorita! — falei então puxando as chaves do carro do bolso e saindo correndo em sua frente para abrir a porta antes mesmo que ela chegasse até o veículo. Ela andou lentamente até me alcançar, apenas negando com a cabeça e rindo. Beijei sua testa e fechei a porta após ela ter entrado e então passei para o outro lado, pronto para dirigir.
— , corre aqui! — falou sentada no sofá enquanto eu pegava guardanapos para nós em sua cozinha – vai logo, olha o que tá passando!
— O quê? — olhei para a tv e encontrei nela um anúncio do The Voice, a respeito de inscrições abertas para a nova temporada – ah – falei desanimado – ...
— Eu nem sei porque eu tento, é tão inútil essa fé que eu tenho em você.
— Não fala assim – me sentei ao lado dela e ela colocou as coisas que segurava ao seu lado para que eu deitasse em seu colo.
— Eu falo, – ela passou a mão em meus cabelos que já estavam um pouco maior do que o normal — não é porque já se passaram anos que você deixou de ter o potencial que eu sempre acreditei, as crianças te amam, todo mundo sabe que você tem uma voz incrível e que você sempre sonhou com isso. Eu realmente não consigo entender porque você não pode correr atrás — percebi que aquilo era um desabafo, como se fosse algo que ela guardasse há muito tempo, e eu acreditava que ela guardava um pouco mais a cada ano, já que sempre tentava me convencer.
— , eu já tenho 29, já passei do tempo disso. Eu gosto de ser professor, cantar pros meus alunos, eu gosto de compor e mais ainda, eu amo minha privacidade e ir todas as sextas com você no cinema, comer alguma coisa...
— E isso mudaria por quê? Eu sei que as coisas seriam diferentes, mas não consigo ver isso te impedindo de fazer as coisas. A gente sabe que são as raras as vezes que um ganhador de um reality desses realmente faz sucesso, não que você não tivesse chances de ser a nova Kelly Clarkson.
— Se você sabe que são raras, por que tentar? Só deve ser tudo uma grande dor de cabeça — falei ríspido, logo me arrependendo.
— Porque não é pra ser famoso e ganhar milhões, , é pra seguir pelo menos uma vez o sonho, o que você sempre quis e todos a sua volta te impediram! — levantou sua voz, ficando irritada. Todos os anos eram a mesma coisa, mas aparentemente ela estava ficando cansada, e isso me incomodou um pouco.
— Você parece mais incomodada com eu não seguir meus sonhos do que eu mesmo, não consigo entender.
— Você acredita que não se incomoda porque você compartimentou isso na sua cabeça, mas todo mundo sabe que você nasceu pra isso, até mesmo as crianças. , quem dá aula pra um milhão de salas, de matérias diferentes, e consegue criar uma música pra cada uma delas? Você consegue segurar garotos do último ano em uma sala, quietos, em uma sexta-feira. Tudo que você pensa é do-ré-mi-fá, você mais canta do que fala, é algo inacreditável. Você já tem 29, isso é verdade, então porque você não acorda? — ela pegou seu saquinho de viagem do Mc Donald's e se levantou, indo até a porta – pode me levar embora?
— ...
— Por favor – apenas assenti e deixei tudo como estava, pegando a chave do carro e a acompanhando.
"You're inspiration, you helped me find my sound..."
— Que porra de história é essa que você tá pedindo licença pra daqui algum tempo? — ouvi falar entrando como um furacão enquanto eu arrumava minhas coisas para sair da sala.
— Quem foi o bocudo? — perguntei irritado, mas com um sorriso no rosto.
— Todo mundo tá sabendo, menos a trouxa da sua amiga há 15 anos.
— Aí que gracinha de ciúmes — me aproximei, apertando suas bochechas e vendo-a rolar os olhos — então, ...
— Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu, você, chata como sempre na minha vida – ela me encarou com as sobrancelhas semicerradas, parecendo estar a ponto de me socar – eu queria muito te contar isso de uma forma mais legal, você é uma estraga-prazeres, não podia esperar só mais um pouquinho?
— Fala logo, você já tá me irritando, !
— Eu tenho uma audição pro The Voice – falei pausadamente.
— Você o quê?
— Eu juro que não é uma brincadeira nem nada, se você quiser eu posso te mostrar o e-mail e...
Antes que eu terminasse a frase, jogara seu corpo contra o meu em um abraço desajeitado, me fazendo bater as costas na mesa, segurando nosso peso. Ela se separou por alguns segundos, encarando meu rosto, e então pulou novamente em meus braços com lágrimas em seus olhos.
— ... — falei em seu ouvido.
— Me deixa só aproveitar esse momento, por favor – ela falou baixinho com a voz embargada.
— Eu vou deixar, eu só queria te agradecer, eu não sei o que seria de mim sem você, eu nunca teria tentado, você é sempre minha maior inspiração pra tudo – beijei sua cabeça e continuei a afagar seus cabelos enquanto sentia suas lágrimas se desmancharem em meu moletom.
— Eu nunca podia imaginar que depois daquela briga de meses atrás você iria chegar com essa notícia, nunca – ela disse entre soluços — eu não quero exagerar na felicidade, mas é tão bom saber que você vai tentar.
— Por sua causa – desencostei seu rosto do meu corpo e beijei sua testa, logo a juntando a mim de novo. Naquele momento parecíamos os dois adolescentes que éramos quando chorei por não poder seguir aquele sonho, mas dessa vez, tudo se resumia à felicidade.
"I should be hiking, swimming, laughing with you... Instead I'm all out of tune..."
— And all I can taste is this moment, and all I can breathe is your life, and sooner or later it's over... I just don't want to miss you tonight...
Que droga! Joguei meu violão de qualquer jeito sobre a mesa e fui em direção a cozinha para tomar alguma coisa e tentar me acalmar. Naquele momento, nem mesmo o começo da música eu conseguia acertar. Faltava uma semana para minha audição, e uma música que eu conhecia por metade da minha vida parecia impossível.
— Nossa, aconteceu alguma coisa por aqui? — perguntou entrando em minha casa, que ela com certeza tinha chave, afinal, basicamente só tínhamos um ao outro. Ela estava com seus cabelos molhados, percebi que suas roupas também tinham marca de umidade e a mochila em sua mão denunciava que voltava da aula de natação, a qual eu também fazia com ela aos domingos, porém, estava afastado de todas as minhas atividades para me dedicar ao preparo.
— Só tô um pouco irritado – falei, guardando a garrafa de refrigerante na geladeira.
— Percebi, mas com o quê? — ela se aproximou e beijou minha bochecha. Pude sentir nela o cheiro de cloro da piscina que ficava em seu cabelo e ela tanto odiava, sorri sozinho e por um segundo quase me esqueci da raiva que estava sentindo.
— Tô cansado! Parece que quanto mais eu ensaio, pior é! , até meu violão está desafinando com a minha voz, é impossível eu fazer qualquer coisa direito assim! Eu tenho certeza que só tô perdendo tempo, eu podia tá aproveitando de mil formas, estudando mais, escolhendo uma nova faculdade, inventando um novo hobbie, poderia até não ter largado a aula de natação ou nossos programas de sempre. Eu odeio ter certeza de que tô fazendo tudo em vão — despejei minhas inseguranças em cima dela e eu poderia imaginar qualquer reação, mas apenas começara a rir. Encarei-a, indignado, e ela colocava uma mão na boca para tentar controlar a risada ou fazer parecer menos indelicado, e a outra usava para fazer um sinal de "espera" para mim.
— Eu não acredito que você está com medo! Chega a ser algo engraçado demais pra mim, desculpa – resmunguei algo como "não tô vendo graça nenhuma" e ela apenas ignorou – , eu não conheço ninguém melhor que você pra seguir em frente com isso. Sua voz com certeza não está desafinada, e posso te garantir que até o seu desafinado colocaria todas as pessoas no chão, se ajoelhando aos seus pés.
Bufei e corri até o sofá me jogando nele. sorriu e empurrou meus pés, para se sentar ao meu lado. Lhe dei espaço e joguei meus pés em seu colo, então me lembrei que precisava conversar com ela se aquilo fosse seguir mesmo em frente.
— Você é a melhor, sabia? É tudo tão mais fácil com você, quando eu tô em desespero você consegue simplesmente me dar um tapa na cara e me ajudar, as vezes acho que nem você percebe como faz isso com facilidade – troquei de lado no sofá, colocando minha cabeça em seu colo. Segurei sua mão e coloquei em meu rosto, indicando que queria que ela fizesse carinho ali. Ela revirou os olhos, mas sorriu e atendeu meu pedido como sempre.
— Não sei o motivo, mas parece que você tá querendo alguma coisa... — mostrei a língua pra ela.
— Eu tô justificando o que eu quero – falei rindo, mas logo me coloquei sério novamente – ... você me daria a honra de me acompanhar na minha audição? Eu preciso de você lá, por favor...
— Eu achei que você não ia pedir! — ela me empurrou de seu colo, fazendo com que eu me levantasse, e me abraçou com toda a força que tinha – eu quero muito estar lá pra você, , como sempre – apertei meus braços em volta dela e ficamos assim por um bom tempo, até que ela me empurrasse para fora do sofá para que eu a mostrasse como estava ficando.
— Eu sempre amo quando você canta essa música, você não podia ter escolhido uma melhor – ela falou com um enorme sorriso no rosto e então me lembrei do porquê ela era tão apegada – a propósito, ótima voz e ótima escolha.
Flashback...
— And I don't want the word to see me, cause' I don’t think that they'd understand...
— Caramba, esse menino canta bem demais – ouviu a garota falar ao seu lado e apenas assentiu com a cabeça enquanto deixava seus olhos vidrados no palco, se perdendo naquela música que tanto amava.
— Ei, você é a ? – a garota se virou e encontrou o garoto que vira cantando na aula de teatro outro dia.
— Eu mesma, Iris, sou sim! – falou, brincando.
— Iris? – arqueou as sobrancelhas.
— É, você está um pouco conhecido assim – deu de ombros – a propósito, ótima voz, e ótima escolha – ela sorriu para ele que sorriu em resposta, com as bochechas coradas – diz aí, como sabe que sou a ?
— Precisava falar com a representante de turma, e então me indicaram onde você estaria...
Flashback off
Um tempo depois daquele dia, não éramos mais vistos pelas pessoas como dois e sim como um só. Éramos e ou e , não importa onde fossemos.
— Você sabe que vai dar tudo certo, não? – ela falou, me abraçando.
— Você sabe que eu te amo não? – sorri para ela, que assentiu e logo se levantou dizendo que prepararia algo para comermos.
“Just like a bass line a half-time, you hold down the groove...”
— Eu acho que vou vomitar – falei quando parou o carro em frente ao estúdio.
— Não, você não vai, pode parar – ela disse, sorridente – eu tô tão ansiosa, aí meu Deus, meu melhor amigo vai estar no The Voice!
— Shh! Não fala essa palavra!
— , não é por nada, mas... – ela apontou para alguns metros adiante, onde havia uma enorme placa de entrada do estúdio do programa. Droga.
Abaixei a cabeça e decidi rezar para todos os deuses e santos que existissem, eu tinha minha religião, mas naquele momento decidi usar todas. apoiou sua mão na minha e também abaixou da cabeça, como se soubesse o que eu estava fazendo. Apertei sua mão e a puxei em direção ao meu peito, logo em seguida depositando ali um beijo e fazendo-a olhar para mim com um sorriso no rosto.
— Obrigada por tudo – sorri sincero e ela então apontou para o estúdio mais uma vez enquanto conferia o horário em seu celular – ... Será que se você passar, ou mesmo se não passar, sei lá, eles me deixam conhecer o Adam? – olhei para ela boquiaberto e ela gargalhou.
— É sério que está pensando nisso? – ela deu de ombros – vou levar outra pessoa em seu lugar! Vou arrumar uma namorada na esquina e pedir ela em casamento no programa se eu perder! Pelo menos assim apareço na tv, faço graça, e você não, você não merece – fingi aquela expressão de criança emburrada e se aproximou para depositar um beijo em meu rosto, mas, fui rápido o suficiente para me virar também em sua direção e causar entre nós um pequeno selinho.
— ... Desculpa – ela disse, mais vermelha que a camiseta que eu usava.
— , shh! — revirei os olhos — tá pedindo desculpa por quê? Caso você não se lembre, faltam 6 meses, é melhor você ir se acostumando – pisquei para ela, e considerei o quanto era besta por estar esperando aquilo ansiosamente, simplesmente para ter uma desculpa e tomar a coragem que nunca tive. Abri a porta e coloquei a perna para fora, pronto para levantar, quando senti-a puxar meu braço.
— Como assim?
— Ah não, vai se fingir de desentendida logo agora? — perguntei olhando o horário, para garantir que não iria me atrasar.
— Eu não estou perguntando do que você está falando, queridinho – ela deu língua e eu não entendi ao que ela se referia então — estou querendo saber como assim, você está contando?
— Claro que não — neguei veemente e ela riu.
— Não acredito nisso, , se você queria me pegar era só falar, não precisava esperar 10 anos – ela brincou.
— É? — coloquei meu corpo inteiro para dentro do carro novamente e fechei a porta. Aproximei meu corpo do dela e depositei um beijo no canto de sua boca, fazendo ela respirar fundo, surpresa — você tem sorte que eu não posso me atrasar agora, mas depois a gente conversa.
— Eu tava brincando – ela exclamou.
Dei de ombros e sai do carro, rindo. Ela saiu logo em seguida e me alcançou enquanto acionava o alarme.
Flashback...
— Eu odeio que nada nunca dê certo, sério — a garota falou irritada – eu não esperava mil coisas dele, sabe? Mas poxa, respeito era o mínimo.
— Acho que você sabe que não posso te aconselhar, não? Também não sou o mais sortudo do mundo, por isso não vou nem tentar mais – falou, rindo.
— Você é o único homem aceitável pra ficar ao lado, pelo menos amizade não rola traição. Bom, rola né? Mas confio em você, pelo menos por enquanto – o menino mostrou a língua para ela e então se aproximou, sentando-se ao seu lado e a puxando para enconstar-se a ele.
— Você sabe que ele não te merecia, . Você é boa demais pra ele – o amigo a conhecia, sabia que ela rolara os olhos para sua frase clichê — mesmo que todo mundo fale isso, é a pura verdade, eu nunca fui com a fuça dele.
— Eu devia ter te ouvido – ela falou baixinho, voltando a chorar em seu ombro – sabe o pior? Parece que nada nunca vai dar certo, mas eu quero casar, ter filhos, uma família bonitinha. Gosto de ser sozinha, mas ao mesmo tempo sonho em ter uma casa de comercial de margarina — a garota fungou e sorriu com seus pensamentos.
— Eu te entendo, porque eu também quero, mas nem sempre é da forma como queremos, você sabe que tem alguém lá em cima cuidando pra que tudo seja feito da maneira certa, no momento certo. Não adianta se apressar, procurando pessoas erradas que não nasceram pra você.
— Odeio quando você poetiza e sempre está certo – ela grunhiu e o garoto a apertou em seus braços — mas eu bem que queria arrumar alguém pelo menos até os 30.
— Nossa, , ainda faltam 7 anos pra isso, é muito tempo!
— Não parece tanto assim.
— Se você não arrumar ninguém até os 30 eu caso com você e ponto final, okay?
— Isso é sério? — a garota gargalhou e apenas assentiu — não é meio feio fazer isso como "um favor"?
— Só se o favor fosse para mim, não? Me casar com essa garota linda que eu amo tanto – os dois riram e continuaram abraçados durante toda a tarde, conversando sobre como seria um casamento entre eles e o quão engraçado poderia ser.
“That's why I'm counting on you...”
— , eu não vou aguentar – falei baixo em seu ouvido, com as mãos tremendo quando vi as câmeras vindo em nossa direção.
— Eu vou aparecer na tv – ela falou animada – graças a Deus não vou cantar – deu de ombros e riu da minha situação.
— Olá, você é ? – um moço da produção que usava um crachá com “Matt” escrito perguntou.
— Sou – falei com a voz trêmula e apertei sua mão – e essa é , minha amiga.
— Bom, como vocês sabem, vamos gravar com vocês e com Carl, certo? Sua audição mesmo é apenas daqui a uma hora e meia, preparados?
assentiu e eu apenas sorri nervoso, nem ao menos sabia o que dizer sobre mim, não sabia nem se aquilo iria ao ar, afinal, tinha quase certeza que ninguém viraria a cadeira para mim.
Matt preparou toda sua equipe e nos sentou em uma mesa para tomarmos um café e podermos decidir o que seria falado. Ele havia pedido para que eu e falássemos que éramos namorados ou qualquer coisa que envolvesse romance, e ligasse aquilo à minha música, mas não concordei, porque se fosse pra falar algo assim, eu não gostaria que fosse mentira. Ela sorriu, agradecida, acho que ela não seria muito fã daquilo também.
Gravamos algumas cenas do lado de fora onde contei sobre minha família, onde eu nascera, e como minha mãe, que já falecera, havia me proibido de seguir carreira na música. Depois entramos e nos sentamos novamente no café, dessa vez com , onde contei que éramos amigos há anos e ela sempre se irritara de não me ver fazendo o que queria. Matt então pediu para que ela falasse o que havia acontecido, como fizera com que eu me inscrevesse e como se sentia de estar comigo ali, obviamente ela exibia um sorriso de orelha a orelha que quase me deixava com ciúmes de pensar em ver na tv, mas aquele sorriso era para mim, então eu não poderia me sentir mais feliz e sortudo.
— Boa sorte – me abraçou apertado e eu respirei fundo antes de solta-la e andar em direção ao corredor escuro.
Não consigo explicar a sensação que era estar ali no palco, eu havia esperado tanto tempo pra finalmente poder seguir meus sonhos que eu nem me lembrava como era cantar para pessoas, além da .
Me posicionei no centro do palco e encarei aquelas cadeiras, imaginando se quando minha voz preenchesse aquele espaço, elas se virariam para mim. Ouvi a melodia começar e a plateia parecer automaticamente animada. Era algo sem igual ver o retorno daquelas pessoas para com a minha voz na música escolhida. Algumas garotas gritavam, e aplaudiam, e eu comecei a andar pelo palco, pois apesar de não ser nada animada, eu não conseguia ficar parado. Quando me coloquei na ponta esquerda do palco e comecei a cantar o refrão, meu coração parou ao ver a primeira cadeira se virar. Sorri para Adam e meus olhos pareciam querer se encher de lágrimas, afinal, eu estava imaginando o quanto não pulava desesperadamente naquela sala onde havia ficado. Alguns segundos depois, vi Blake apertar o botão e também me encarar, então em pouco tempo, enquanto eu finalizava as últimas notas, todos os jurados me encaravam e aquelas quatro pistas estavam acesas.
Quando a música acabou, deixei que algumas lágrimas escorressem, as limpando rapidamente, nem me importando que estava chorando na televisão.
— Qual seu nome, querido? – Kelly Clarkson perguntou, e eu parei para respirar por um segundo, porque Kelly Clarkson estava perguntando meu nome.
— – sorri, um pouco tímido devido a estar sendo encarado por quatro artistas muito admirados.
Eles então usaram o tempo que tinham para me perguntar de onde eu era, se eu cantava profissionalmente, o que fazia... Foi onde contei da parte de que cantava para ensinar as crianças na escola onde lecionava, o que surpreendeu a todos e fez com que Kelly e Alicia morressem de amores. Estava tudo bem tranquilo, até que finalmente chegou a pergunta principal, lançada por Blake.
— E então, quem você escolhe? – ele perguntou, logo fazendo seu famoso gesto com o dedo indicador apontando para si.
Kelly estava com as mãos juntas, pedindo por favor, e Alicia batia palmas chamando pelo próprio nome. Então olhei para Adam, que apenas sorria como se nada tivesse acontecendo, me encarando sem fazer gesto algum, como se soubesse que não precisava de nenhum esforço para aquela batalha, como se soubesse que minha melhor amiga que estava no camarim nunca me perdoaria se eu não escolhesse seu cantor favorito é aquele que definitivamente entendia sobre minha voz e saberia perfeitamente como trilhar meu caminho ali dentro.
— Eu escolho Adam – apontei para ele que pulou da cadeira rindo. Andei até onde uma pessoa da produção me chamava, mas ao passar pelas cadeiras Adam se aproximou e me deu um abraço, dizendo que seria ótimo trabalharmos juntos. Apenas agradeci, ainda sem graça.
Entrei na sala onde normalmente a família do participante esperava e encontrei ali minha única família, chorando mais do que seria possível acreditar. Sua roupa estava molhada de lágrimas e ela nem mesmo se importava de saber que estavam a gravando. Quando a vi apenas corri para seus braços e a apertei bem forte entre os meus. Agora que era um participante eu sabia que teria muitas responsabilidades e tinha muitas coisas para tratar ali nos bastidores, mas eu precisava dela naquele minuto, e ela precisava de mim.
— – ela tentou falar enquanto soluçava e eu apenas afaguei seus cabelos dizendo que podíamos esperar pra conversar. Ela assentiu e Carl saiu da sala, sabendo que não teríamos como gravar nada ali ainda. Na verdade acredito que ele estava muito feliz que eu havia chegado, pois deve ter ficado sem saber o que fazer com o desespero de minha amiga – você é tão incrível – ela disse quando conseguiu falar algo além de “ai” “Deus” ou “puta que pariu” que ela sussurrava sem parar.
— Obrigada por estar aqui e aguentar tudo comigo – beijei sua testa e afastei seu corpo do meu para limpar suas lágrimas – agora você vai casar com um cantor participante do The Voice...
— Do time do Adam! – ela disse um pouco alto demais, rindo quando percebeu.
— Eu podia escolher qualquer outro? – ela negou com a cabeça de um modo infantil.
— Ainda bem que me conhece – ela deu de ombros e pegou a garrafa de água que tinha, terminando de se acalmar e voltando para meus braços antes que tivéssemos que gravar ou resolver o que quer que fosse.
“I'm in a session, writing track, you've got another class to teach...”
— Eu tô com saudades – falei quando ouvi sua voz baixa falando “alô”.
— Eu também estou, , mas eu tô em aula! – ela tentou falar, provavelmente se distanciando para a porta.
— Eu nem me lembrei disso, me desculpa! – falei batendo em minha própria testa.
— Só porque agora é uma estrelinha, não lembra como é horário de professor? – imaginei que ela sorrira ao me chamar de estrelinha. Mas ela não mentia, eu havia ganhado um público muito bom ao longo do programa, fã-clubes e tudo mais. Estávamos nas semifinais ainda, e algumas pessoas me tratavam na internet como um vencedor, chegava a ser engraçado.
- Você vem amanhã? – perguntei esperançoso de que ela passaria o fim de semana comigo, mesmo em meio à minha agenda de ensaios.
— , eu te ligo depois, estão quase literalmente colocando fogo na sala.
Ela desligou antes mesmo que eu me despedidas e fiquei ali ouvindo o nada por um tempo. Eu estava feliz com tudo que vinha acontecendo, porém, eu sentia falta de nossas sextas-feiras e nos vermos todos os dias. Eu sentia falta de como achava não ser possível, e talvez isso tivesse me feito perceber algo que eu esperava ansiosamente que ela também tivesse pensado, esperava não estar errado.
— , eu estou ensaiando! Desculpe, não posso falar agora – falei triste.
— Ah, tudo bem... Que desencontro hoje, não? – ela disse, tão triste quanto eu.
— Posso te ligar mais tarde? – Adam voltou para a sala e apesar de muito simpático e divertido, ele era um pouco rígido, o que me fez desligar o telefone no mesmo minuto em que o vi, dessa vez eu quem deixara ouvindo o vazio.
— Algo tão secreto assim? – ele riu.
— Apenas minha melhor amiga – desconversei, não querendo chamar atenção para minha vida pessoal naquele momento.
— Estava pensando... Acredito que você já está dando tudo de você em Somebody to Love, o que acha da segunda música pegar mais leve e colocar um pouco de Maroon 5?
— Seria incrível, com todo respeito – ri e ele me acompanhou, dizendo que se orgulhava de suas músicas então gostava de ver seus artistas cantando-as.
— O que acha de It Was Always You? – tentei me controlar, mas um sorriso brotou em meu rosto quando o ouvi dizer aquilo – bom, acho que você curte.
Adam sempre se preocupava com o quanto eu e Brittany, que éramos de seu time, estávamos confortáveis com o que cantaríamos, havia sido assim desde o início. Quando começávamos a ensaiar ele se tornava outra pessoa, focava completamente na minha voz e em como podia me ajudar, muitas vezes se juntando a mim na canção para que o acompanhasse. Ele era duro, e gostava de exigir o máximo que era possível, tornando sempre o ensaio muito cansativo. Estava sendo incrível ser treinado por alguém como ele, parecia um sonho, por mais criança que falar assim possa parecer.
— It was always you, can't believe I could not see it all this time...
— Pode colocar todas suas emoções na música, você não vai fraquejar por isso, sua voz está incrível – falou ele, me interrompendo.
Ele mal imaginava como não era difícil colocar minhas emoções naquela música, afinal, chegava a ser irônico ele aparecer com aquela música naquele momento.
Entrei no apartamento que estava ficando próximo ao estúdio quando já era meia noite, já que tinha aproveitado para passar no mercado e trazer algumas coisas para casa quando sai de lá. Estava irritado que parecia cada vez mais distante, não que estivesse, mas era a sensação que tinha quando percebia que não nos falávamos pela diferença de horários que estavam sempre bagunçados. Se eu estava livre, ela estava dando aula. Se eu estava ensaiando, ela queria falar comigo. Eu chegava tarde, ela já estava morta de cansaço e dormia cedo. Aquilo estava me matando.
Olhei novamente a hora e percebi que talvez não fosse tão ruim ligar para ela depois de um bom banho. Larguei minhas sacolas na cozinha, guardando apenas o que era de geladeira para que não estragasse e caminhei corredor adentro até chegar ao quarto. Abri a porta, acendi a luz e não pude explicar o sorriso em meu rosto, que era maior que o susto que eu havia tomado de ter minha casa invadida.
estava estirada na cama ainda com a roupa que provavelmente dera aula pela manhã. Ela estava com a cabeça em um travesseiro e um outro estava entre seus braços, apoiando seu queixo. Ela abriu os olhos lentamente quando a luz clareou o ambiente e tentou sorrir animadamente, mas parecia mais uma preguiça pendurada em uma árvore quando acorda.
Aproximei-me da cama e sentei na ponta, colocando a mão em seus cabelos e a repreendendo quando ela tentou levantar. Ela me olhou com as sobrancelhas arqueadas e eu me abaixei, dando-lhe um selinho que a surpreendeu. Ainda sem falar nada, me mantive próximo a seu corpo, encarando-a nos olhos. Ela olhou para minha boca e deixou com que um sorriso aparecesse em seus lábios enquanto me encarava com os olhos brilhando, assim como imaginei que os meus estivessem.
Aproximei-me novamente dela e colei nossos lábios, me deitando por cima de seu corpo e mantendo minha mão em sua cintura enquanto ela levava as suas até meu pescoço. Antes que eu pensasse, procurava por minha língua para aprofundar o beijo e me levar a loucura. O beijo durou poucos segundos como algo novo e calmo, logo se tornando uma necessidade, uma novidade sem igual que talvez tivesse esperado mais de dez anos escondida, apenas pensando que aquele sentimento nunca surgiria.
colocou sua mão por baixo de minha camisa e acariciava minha barriga de forma delicada, parecendo que apenas queria manter aquele contato cada vez mais próximo. Me movi para o seu lado na cama e inverti nossas posições, a colocando por cima de mim para que tivesse mais liberdade para correr minhas mãos por seu corpo e usar aquilo para acreditar que era real, que aquilo não era um sonho. Eu já tinha idade o suficiente para saber que aquilo era algo normal e poderia acontecer, mas era tão bom que eu não conseguia apenas aceitar.
— Parece tão certo – falou com a voz cansada quando separamos nossas bocas e mantivemos apenas nossos corpos grudados um no outro. Assenti com a cabeça e distribui alguns beijos em seu rosto, finalizando com um na ponta de seu nariz.
— Eu acredito que seja, , e nem vou reclamar que demoramos demais pra perceber, porque acredito que tudo tem sua hora – sorri e ela me acompanhou, logo em seguida deitando em meu peito e se aninhando ali – senti saudades, e isso me fez ficar mil vezes pior guardando isso pra mim.
— E por que você não falou?
— Porque eu não ia simplesmente falar "acho que você é a mulher da minha vida" por telefone em cinco segundos, que foi o tempo que a gente conseguiu se falar nesses últimos tempos – ela se afastou do meu corpo, me encarando.
— Já tá nesse nível? — ela perguntou.
— Porque não estaria? — arqueei a sobrancelha e ela sorriu, dando de ombros — não esquece que temos um ano pra casar – mostrei a língua e ela soltou uma gargalhada.
— Você não vale um real, !
— Não mesmo.
Ela se encostou novamente em meu corpo e ficamos por alguns segundos em silêncio, mas apesar dele, aquele quarto nunca pareceu tão barulhento. estava tão inquieta quanto eu, esperava que de felicidade também, parecia pensar em diversas coisas ao mesmo tempo.
— Foi tão natural – ela riu nasaladamente e eu apenas senti seu corpo balançar — chega a ser engraçado. Me levantei rapidamente fazendo com que seu corpo caísse inteiramente na cama. Me coloquei por cima e comecei a fazer cocégas, para irrita-la.
— Engraçado? Jura? — ela ria descontroladamente e apenas continuei, até notar que lhe faltava o ar — não é engraçado, chatinha. É apenas certo, você é a melhor pessoa do mundo e eu não mereço menos que isso – ela rolou os olhos e sorriu, cansada.
— Famosinho metido – ela mostrou a língua.
— Trouxe besteiras do mercado, tomamos banho e depois assistimos um filme e comemos? — ela negou com a cabeça.
— Eu preciso dormir, por favor – choramingou.
— Então vai pro banho, vou preparar algo pra você, você come enquanto tomo o meu e deitamos okay? — ela balançou a cabeça concordando, feliz – mas amanhã você é toda minha, sem dormir muito – me levantei e mandei um beijo no ar pra ela. A garota amarrou minhas pernas com as suas e me derrubou novamente na cama, me puxando para outro beijo, o que nos enrolou por mais alguns longos minutos.
— , escuta isso! — ouvi falar no telefone e então ela provavelmente aproximou o celular do rádio de seu carro pois a ligação chiou, o que me fez ficar irritado já que ela estava no telefone enquanto dirigia.
Eu estava escovando meus dentes e a escova simplesmente caiu de minha mão. Fiquei parado, babando toda a pasta de dente quando ouvi o que ela tanto queria falar. Era minha voz saindo daquele chiado do rádio, minha música estava tocando ali. Depois de meses de gravação pra um único single, e enchendo meu saco que não havia gostado daquela música, ela estava ali na rádio, e eu não podia acreditar!
— Aí que orgulho, meu Deus! – ouvi sua voz tomar novamente o telefone com a música ainda ao fundo, provavelmente no volume mais alto possível.
— Eu não consigo acreditar – falei ainda surpreso.
— Logo estarei em casa, meu amor – ela desligou o telefone e imaginei que provavelmente já estaria por perto.
Deitei na cama e comecei a refletir como um ano podia mudar sua vida. Não ganhar o The Voice não foi algo ruim para mim, muito pelo contrário, meu terceiro lugar me trouxera à semi-fama do mesmo jeito, e isso fez com que a indústria percebesse que com o tanto de fãs que já estavam ali para mim em todos os meios possíveis da internet, eles poderiam ganhar dinheiro. Isso não era ruim, eu não me importava na verdade, sabia que as coisas eram assim, não é quem é bom, é quem é bom o suficiente pra dar retorno no puta investimento feito, e eu era assim, eles acreditavam ao menos.
Fui contratado e logo começamos a gravar algumas coisas, mas sem intenção de lançar próximo ao recente final do programa, também por questões contratuais. Mas não levou muito tempo para que quebrassem minha ligação com o programa e pudessem começar a divulgar o trabalho que estávamos fazendo. Eu não conseguia entender como tantas pessoas podiam ter se afeiçoado a mim, mas era o que acontecera, e o que me colocara ali.
— Você tocou na rádio, , na rádio! Imagina quando sair seu vídeo no YouTube? Aí meu Deus! – se jogou por cima de mim na cama, distribuindo diversos beijos, completamente extasiada.
— Isso porque você não tinha gostado da música, né? — provoquei-a e ela invés de se emburrar, se colocou ao meu lado e segurou meu rosto.
— Você acha que ouvindo sua voz no rádio eu ia pensar nisso? Pra mim ela tá perfeita do jeito que tá, ela tá na rádio, ! Na rádio! Ela é a música que vai te fazer crescer ainda mais, eu não mudaria nada ali.
— Odeio quando você consegue ser mais romântica que eu – mostrei a língua e a puxei para mais perto, a beijando.
— Aquela é a melhor coisa que poderia acontecer pra você nesse momento, ! – parecia mais animada do que eu, e isso contribuiu para minha animação aumentar.
— Depois de você, nenhuma música ou qualquer coisa se compara a nós dois, você é minha música preferida, por mais que sua voz me irrite as vezes.
Ela negou com a cabeça e rolou os olhos. Um sorriso se estendeu em seu rosto e a puxei para meu colo, iniciando nossa comemoração tão aguardada.
Fim
Nota da autora: Sem nota.
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Oi gente, eu amei tanto essa história que queria ter escrito muito mais, achei tão curtinha hahahah espero que tenham curtido tanto quanto eu, contem o que acharam <3 Grupo no face: https://www.facebook.com/groups/146352666028219/ Outras fics: Two Worlds Collide - (Em Andamento/Harry Potter e Percy Jackson) - http://fanficobsession.com.br/fobs/t/twoworldscollide.html Shorts: 04. She Will Be Loved - http://fanficobsession.com.br/ficstape/04shewillbeloved.html 14. Maneira Errada (continuação de She Will Be Loved) - http://fanficobsession.com.br/ficstape/14maneiraerrada.html Especial de Dia dos Namorados: I Do (continuação de She Will Be Loved e Maneira Errada) - Sem link ainda. Mixtape: Uma Criança Com Seu Olhar - http://fanficobsession.com.br/mixtape/06umacriancacomseuolhar.html 08. Two Worlds Collide - http://fanficobsession.com.br/ficstape/08twoworldscollide.html
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