Capítulo Único
11/04/2019,
10:25 AM
“?”
“Você está bem?”
Foram as últimas palavras que puderam ser enviadas, ou, ao menos, as últimas significativas depois do desespero realmente lhe atingir.
Antes ela realmente tinha vontade de desistir de tudo aquilo e fugir, e ele apenas queria algo, ele queria tê-la de forma simples.
Mas ambos não entendiam como aquilo funcionava e, quando entenderam, poderia ser tarde o suficiente para não terem se arriscado.
Granada, Espanha.
2017
— Na! No, señor! — disse a garota, mesclou o espanhol com seu idioma nativo — Espera um minuto!
A risada sarcástica surgiu em seus lábios ao ver o rapaz parado na entrada da casa, ainda de costas mas colocando atenção no que ela tinha a dizer antes que saísse.
— Me deixe terminar! — ela falou — Eu sei que você não se importa, eu sei de verdade e isso dói tanto quando eu queria que doesse — suas mãos eram passadas por seu cabelo nervosamente, talvez aquilo demonstrasse um ato de colocar seus pensamentos no lugar, pois antes disso tudo parecia confuso — Mas será que você pode ouvir? Digo, será que você pode me ouvir uma vez sequer? Ver meu esforço em toda essa relação? É tão difícil assim lidar e estar comigo?
Um suspiro alto e cansado surgiu do rapaz ainda de costas para a mesma.
Ambos, naquela situação, já se encontravam cansados.
— Sabe, eu vim comprometida para cá — ela riu sarcasticamente — eu vim comprometida a ter uma vida não apenas fora dessa casa, com meu trabalho e tudo mais, não, eu vim comprometida com essa casa também. Quando decidimos que moraríamos juntos, que você viria, terminaria sua faculdade aqui e que eu o seguiria nessa, eu me comprometi por completo, mas isso tudo parece ter vindo só da minha parte, foi então que eu tive que me dedicar apenas aqui dentro. Mas eu simplesmente não aguento mais, é tudo, exatamente tudo, uma — sua pausa para respirar demorou um pouco mais dessa vez — uma bagunça.
— Esse é o problema,! — ele finalmente disse algo sem sequer colocar os olhos na garota — eu nunca quis que você agisse dessa forma, eu me apaixonei justamente por quem você era antes, eu nunca te pedi para se comprometer apenas comigo e deixar a si mesma.
A garota parada em meio à sala riu incrédula dessa vez, o que acabara de escutar realmente havia batido nela de uma forma diferente dessa vez.
— É, eu acho que exagerei quando pensei que tudo viria de ambas partes — suas pernas estavam bambas mas ela se manteve forte até ali, assim que ele voltou a caminhar, fechou a porta, seu corpo caiu pesado sobre o sofá próximo.
Ele realmente sumiu, era seu último ano de residência da faculdade de medicina que cursava, ele passou dois dias em seus plantões e, quando voltou, não a viu, em seu lugar apenas encontrou uma nota de despedida.
Nos vemos, se cuide.
Com pesar e infelizmente amor,
”
Seus planos se encaixavam com os dela quando se conheceram, eles apenas mudaram com o passar dos anos. Naquele momento já não se entendiam como antes, porém era apenas um tempo errado para terem se conhecido e tentado continuar com algo, que, no momento, não era para acontecer.
Granada, Espanha
2015
— Nós já nos conhecemos há quanto tempo mesmo? — a garota perguntou ajustando suas botas no pé enquanto esperava pela resposta.
— Nos conhecemos há dois anos? — foi mais uma pergunta do que resposta vinda do rapaz, que saiu encostando o corpo no batente da porta, vestindo apenas uma calça jeans escura e escovando os dentes.
— Ya! — ela contemplou o olhando de baixo a cima — Que vista, obrigado, meu pai! — ela brincou e ele riu jogando nela uma toalhinha que carregava na mão, a fazendo rir — Eu perguntei, nos conhecemos, não namoramos.
— Mas o tempo que nós conhecíamos antes não vale — ele disse voltando ao banheiro — nós mais brigávamos do que qualquer outra coisa.
— Eu confesso que nós discutíamos tanto nas aulas que eu certamente pensei em te matar em algum momento — ela brincou de novo — foi inusitado quando nos envolvemos pela primeira vez, porque nós simplesmente tivemos nossas fases, nos conhecemos no colégio, nos odiamos até o colegial, no último ano nos apaixonamos, ou ao menos eu me apaixonei.
— Só você, é? — ele perguntou sugestivo, saindo do banheiro e vindo em direção a ela — eu sei que você gosta de sair melhor em tudo mas não pode se dar o crédito disso, porque, afinal, eu me apaixonei primeiro — ele disse subindo na garota, roçando os lábios no dela.
— Ah, foi? — ela disse — Eu acho que não lembro disso, eu acho que você terá que provar. — provocou.
A respiração pesada dele nela fazia com que cada parte do seu corpo se arrepiasse e ela entendia o porquê, afinal realmente o amava de tal forma que seu próprio corpo se manifestava a respeito.
— Infelizmente eu tenho uma Entrevista para fazer em — ele olhou o relógio e arregalou os olhos — em vinte minutos.
Deixou um beijo nos lábios da garota e sorriu.
— Mais tarde nós terminamos essa nossa conversinha — ele disse antes de se virar e parar ao escutar ela o chamar.
— ! — seu nome foi pronunciado, o que fez com que a olhasse e sorrisse esperando com que ela dissesse o que tinha a dizer — Não é nada, é só que… — ele a olhou confuso, ainda esperando — não é nada, esquece, pode ir terminar de se arrumar.
A garota sorriu e acabou expressando nele o que queria dizer em palavras, o fazendo entender perfeitamente o tipo de situação era.
— Eu também amo você, baby! — ele sorriu voltando ao banheiro e a deixando também com um sorriso no rosto, e também aliviada, por tê-lo deixado entender o que queria dizer.
Que o amava.
Granada, Espanha
2017
Voltando em tudo que já haviam percorrido, era difícil dizer que rumo haviam tomado. Por um momento, quem partiu primeiro foi ele, talvez não por completo, ele apenas havia dado as costas a ela. Coisa que provavelmente a fez se sentir tão desconfortável consigo mesma, afinal era verdade, sua insegurança a havia feito se esquecer quem era ou quem já foi um dia, a ponto de que quem fez o mesmo em seguida foi ela, sem titubear. A diferença era que ele sempre voltava para ela.
Já ela, apenas havia cansado de tudo, partindo a um destino incontestavelmente diferente.
Um destino que certamente era diferente daquele que, quando ambos se olhavam, viam amor mas também propósitos que os faziam crescer dentro de si, também de forma diferente.
Mas você disse tão tristemente
Então eu fiz o melhor que pude
Não pensei que você me abandonaria tão feliz
Eu sei que você não está arrependido
Por que deveria estar?
Porque quem sou eu para estar apaixonada
Quando seu amor nunca é pra mim, mim?”
Sua nova aventura começava sem ele, depois de mais de quatro anos compartilhando tudo, em um aeroporto desconhecido, em um país desconhecido com apenas um conhecido de toda a população.
Mas apenas com um fato sobre tudo isso, nunca era tarde para recomeçar, mesmo que seja sozinha.
2019
Talvez a escolha tenha sido incomum, por que Coreia do Sul?, todos pensariam. Mas talvez a resposta fosse tão óbvia quanto podemos imaginar, não era sua zona de conforto, o idioma de início ia parecer complexo, mas os desafios eram o que ela mais prezava. Talvez sua alma desafiadora fluía demais no momento de escolher um destino e de comprar as passagens, talvez ela só tivesse uns parafusos a menos ou talvez ela só sentia que deveria estar ali.
E realmente foram diferentes situações que a acabaram convencendo daquilo.
“Aliás, você sente alguma coisa?”
Era apenas o primeiro dia do ano, havia passado com colegas andando pela cidade pela madrugada, era realmente bonito ver os fogos explodirem no céu da ponte do Rio Han. Ela não chegou a ver o sol nascer como seus amigos, que, assim que chegaram na casa, se acomodaram no terraço para assistir dali algumas horas. Ela se direcionou a seu quarto e deixou ali todo seu peso, dormindo quase no mesmo instante.
— Acorda! — alguém a sacudiu, o que a fez resmungar — Nós apostamos que quem dormisse primeiro iria comprar o café da manhã. Lembra?
— Eu não estava presente nesse acordo! — a mais velha se remexeu voltando a dormir.
— Estávamos na ponte e você estava lá, então faz parte sim, agora se levante e vá comprar as coisas na loja de conveniência na rua de baixo — a amiga disse de uma vez — obrigado!
Foram uns resmungões, retorcidas e mais resmungões, mas se levantou e nem sequer se deu o prazer de colocar alguma roupa decente, apenas colocou uma jaqueta grossa por cima de seu pijama e calçou uma bota para andar confortavelmente e não sentir frio nos pés.
— Eu sei que vocês fizeram isso de caso pensado, todo mundo aqui sabe que sou a primeira a dormir — ela disse saindo na sacada onde seus amigos se encontravam e fazendo com que os mesmos rissem.
— O azar foi seu de fazermos o acordo enquanto você ainda estava acordada, princesa! — um dos garotos disse.
— O que vocês querem? — ela perguntou já sem paciência, pronta para fazer o que tinha que fazer e voltar a deitar em sua confortável cama.
A lista era longa, então ela só demoraria mais.
— Bom dia, Sra. , como passou o ano novo? Como estão e ? — ela cumprimentou a senhora que cuidava da loja de conveniência.
— Senhorita ! — ela disse animada e logo em seguida batendo em uma das portas próxima a ela — , ! Venham cumprimentar a senhorita .
— Não é necessário — a mulher disse um pouco sem graça, afinal havia esquecido de que aquela loja era da mãe de dois de seus alunos.
— Olá, senhorita ! — eles disseram segurando o riso.
— Podem rir — disse também soltando uma risada pela situação.
— Seu senso de estilo — foi a primeira a dizer algo — eu dou 10!
— Realmente — disse rindo — inigualável, professora.
— Eu acho que, depois de tanto sarcasmo, eu vou deixar meu cargo para outra professora com senso de moda melhores que o meu, Sra. — disse rindo para a Sra, que a esse ponto também ria da situação.
— Nunca mais diga isso, Srta. — ela disse — eu nunca vi meu filhos tão alegres e concentrados para irem à escola.
— e são boas crianças — ela disse se colocando do lado dos dois adolescentes, que sorriram para a mesma — eu sei que posso não ser originalmente da cultura de vocês, mas prezo demais por ela. Eles criaram valores próprios, eles cresceram, por isso a senhora os vê de forma diferente agora, não tem nada a ver comigo, mérito deles e de mais ninguém.
Era realmente verdade, o mérito não era dela por eles criarem suas prioridades e valores, isso era totalmente vindo deles, ela só os ajudava caso eles se perdessem no meio do caminho. O que muitas das vezes era complicado também, muitos alunos não eram realmente aquilo que esperavam e podia sim carregar em si algo pesado, mas não queria dizer que eles também não mereciam ajuda. A ajuda é oferecida, agora aceitar, isso sim é, mais uma vez, escolha deles.
— Seria tudo, Srta. ? — a mulher mais velha perguntou e assentiu sorrindo para a mesma depois de analisar as inúmeras coisas sobre o balcão.
— Você quer que eu mande ajudar com as coisas? — o garoto se levantou da cadeira que estava sentado lendo um livro e se prontificou a ajudar, mas ela negou com a cabeça fazendo menção de que ele poderia voltar para o que fazia.
— Está tudo bem! — ela sorriu — não é muito longe a Sra sabe e eu sou bem forte para a minha idade — ela fez com que eles dessem risada — se vocês precisarem de qualquer coisa, sabem onde me encontrar, certo?
Todos assentiram e sorriram. , que arrumava alguns produtos em uma prateleira ajudando a mãe com o serviço logo, abriu a porta para educadamente recebendo um obrigado e uma piscadinha.
— Fiquem bem! — ela disse saindo pela porta — Nos vemos em duas sema…
trombou em alguém.
Alguém trombou em .
— Meu Deus! — não apenas as “crianças” e a mãe disseram, mas a própria jovem exclamou assim que suas coisas foram ao chão — Desculpa!
— Tudo bem! — a voz mais grave disse — eu que deveria me desculpar, me concentrei demais no livro e acabei não vendo você.
— Acento engraçado — a garota comentou ainda arrumando suas coisas na sacola e vendo que parte dela havia se rompido.
— , dê outra sacola à Srta. ! — ela disse apressando o garoto.
— Aqui, professora! — o garoto a ajudou colocando a antiga sacola com as coisas dentro da outra.
— Obrigado, ! — ela sorriu, se levantando e olhando para a pessoa à sua frente — desculpe mais u...?
Ele também não havia levantado o olhar até o momento que, por surpresa, escutou seu nome.
— ? — disse incrédulo tentando segurar seus livros de forma coordenada nos braços.
— ? — ela repetiu o nome ainda não entendendo que tipo de situação era aquela — , ?
— Você precisa de ajuda, Srta. ? — perguntou.
— Ahm? — ela respondeu saindo de um transe de poucos segundos com o olhar sobre o homem que estava em sua frente — Nã-não! Está tudo bem, , ele é um conhecido meu. Pode voltar à sua leitura, está tudo bem!
O garoto sorriu para a mais velha e ela o observou entrar, então o viu falar com a mãe e a irmã, e involuntariamente ela já esperava com que as duas a olhassem sorrindo, então ela já trazia um sorriso no rosto quando isso aconteceu. Acenou para os três e sorriu, se despedindo silenciosamente.
E então olhou novamente para o homem à sua frente, .
— O que você… — os dois falaram juntos e riram pela sincronia.
— Você primeiro! — ele disse rindo.
— O que você está fazendo aqui? — ela sorriu.
— Bom, eu vim comprar um leite — ele brincou — em casa acabou sabe.
— Você entendeu! — ela riu — O que você faz aqui, Coreia do Sul, Ásia! Não é muito sua cara.
— Quem disse que não? — ele provocou — Você está indo pra sua casa? — ele apontou para a sacola grande que ela segurava e ela assentiu.
— Vamos fazer assim — ele disse pegando a sacola da mão dela — eu te acompanho até lá e eu te explico no caminho, mas você também tem que me explicar como veio parar aqui.
Tudo que ela fez foi balançar a cabeça positivamente, ela não sabia como se sentia a respeito da situação e ele tão pouco.
Afinal, ela havia ido embora há anos e um reencontro assim apenas fazia tudo soar mais estranho possível, mas um estranho de forma positiva e tranquila no coração de cada um.
Anos se passaram e ainda assim parecia que os dois nunca haviam saído um do lado do outro.
— ...E o congresso foi há cinco meses — ele disse — então eu recebi a oferta de ficar no novo hospital que estava sendo construído na parte norte de Seoul, mas eu apenas trato de estrangeiros lá, meu trabalho principal é na parte de pesquisa, eu coordeno os laboratórios gerais.
— Isso quer dizer que você é coordenador de todos os laboratórios de Seoul? — ela perguntou maravilhada. — Uau, eu disse que você era um gênio.
— Pode se dizer que sim?! — ele sorriu tímido. Fazia tempo que ele não lembrava de ter uma reação assim por ninguém. — E eu estou longe de ser um.
— Claro que não! — ela disse parando no meio do caminho — Você sabe o quão difícil é um estrangeiro conseguir um cargo desse aqui? Isso é incrível, mostra que eu sempre estive certa sobre você.
— Mas e você…? — ele mudou de assunto rapidamente, ouvir ela falando dele daquela forma era extremamente doloroso por alguma razão. Ele desejava ter ressentimentos contra ela nesse momento. — Como llegaste a este destino?
Perguntou ele em espanhol, a fazendo rir.
— Seu espanhol está horrível! — ela brincou — Bom, eu simplesmente parei aqui.
Ele a olhou sugestivo, precisava de mais do que aquilo.
— Qual é? — ele riu — Você sabe que eu preciso mais do que isso.
— Okay! — ela suspirou e riu — Depois que eu fui — ela se sentiu desconfortável, então seus ombros enrijeceram um pouco, a fazendo respirar fundo — você sabe, embora — ele assentiu — vim diretamente para cá, eu tenho uma amiga aqui que estava entrando em licença maternidade. Resumindo, eu senti que deveria estar aqui, assumi o lugar dela por dois anos, esse é o meu segundo ano sendo professora — ela o olhou — substituta “principal” de uma escola bilíngue que não fica muito longe daqui, onde aqueles dois — ela apontou para trás e ele se lembrou dos adolescentes da loja de conveniência — estudam.
— Meu Deus! — ele pareceu maravilhado assim como ela quando ele contou suas coisas — Você se tornou professora.
— Na verdade tá mais para babá de adolescente — ela brincou — graças a Deus ou seja lá quem você acredita — ela disse — que eles são uns anjos, bom, a maioria deles, né.
— Isso é incrível, ! — ele a abraçou, foi instintivo e um pouco embaraçoso ou, melhor, surpreendente — Você nunca falou nada antes sobre se tornar professora.
— Eu não me imaginava em uma posição assim, na realidade — ela falou ainda confusa — mas acabei me adaptando bem ao posto. Hoje eles são tudo que eu tenho.
— É muito bom te ver assim! — ela parou de andar assim que ele disse a frase.
— É muito bom me ver assim, também! — ela concordou — Hm, chegamos.
— Ah — ele sentiu o desconforto de mais um adeus — você mora perto.
— Sim! — foi sua única resposta.
— Aqui! — ele disse estendendo a sacola que carregava para a mesma.
— Acho que é isso! — ela disse, tinha um sorriso na boca mas não era algo alegre de se ver — Te vejo por aí, eu acho.
— É! — ele tentou sorrir — te vejo por aí.
Ambos decidiram seguir seus próprios caminhos. Mas talvez, só talvez, eles tivessem pensado que esse “Tchau” seria mais fácil.
— Quer saber… — ele disse se virando mais uma vez e chamando a atenção de — Eu não sei se eu realmente quero te dizer um tchau definitivo dessa vez, quer dizer, eu não consegui sequer dizer da última vez e agora que a oportunidade veio, eu não quero dizer.
— O que você quer dizer com isso? — ela perguntou diretamente.
— Droga! — ele exclamou coçando a nuca em sinal de preocupação pelo que estava prestes a dizer — Eu quero você, ! Aliás, eu sempre quis, mesmo depois que você se foi deixando apenas um bilhete, qual é, você não pode pensar que isso tudo — ele aponta para ao redor deles — é só uma coincidência, ou sim?
— Talvez seja… — ela ainda manteve sua frases curtas por pensar demais sobre aquele momento.
— Eu aposto que não é! — ele disse se aproximando dela — Se passaram dois anos, eu estive em muitos lugares e nunca vi um rosto sequer que eu reconhecesse em meio a uma multidão, então eu venho para um país que não é tão grande, mas ainda sim sem conhecer uma alma viva. Mas o mais interessante é que nos primeiros cinco meses a primeira pessoa conhecida que eu realmente fico feliz em ver por aqui é você! — ele diz com ênfase — E, droga! — exclama mais uma vez — Você só mora cinco ruas para cima da minha casa.
— Você mora por aqui? — ela perguntou tentando raciocinar.
— Isso foi tudo que você escutou? — ele riu divertido — Você continua a mesma.
— E você continua falando muito quando se exalta — ela replicou — talvez, apenas talvez, eu pensei que tudo isso — ela refez o gesto anterior dele de apontar ao redor — não seja apenas uma coincidência comum.
3 meses depois
Três meses eram sim suficientes, da mesma forma que eram sim muita coisa.
Porém, para os dois, era suficiente?
A história não tinha apenas três meses, mas os três meses representavam o recomeço, que por sinal andou bem diferente do indicado.
— Você disse que não ia vir! — a jovem saiu do prédio sorrindo para , que estava parado esperando por ela no portão da escola.
— Você esqueceu que dia é hoje? — ele perguntou de repente.
— Hoje? — ela perguntou confusa e checou no mesmo momento seu celular — hoje é dia 10, é alguma data comemorativa?
— Não! — ele riu — Exatamente por isso — ele agarrou o braço dela e a puxou com leveza, ambos corriam pela rua em linha reta, pareciam que haviam voltado a anos atrás quando apenas tinham se acertado e podiam curtir um ao outro.
— Você ficou louco? — ela disse ofegante e rindo assim que eles pararam na borda de uma rua com vista para a cidade.
— Você viaja em 4 dias para Jeju e eu não queria ficar tão longe de você antes disso — ele respondeu rindo e se sentando no muro baixo que havia ali, fazendo com que ela fizesse o mesmo.
— É uma viagem de quatro dias! — ela riu — Não é tanto tempo assim.
— Você me prometeu que decidimos o que realmente faremos em relação a nós — ele apontou para ele primeiro e depois para ela — assim que você voltasse, certo? Eu não quero perder a oportunidade de te agradar até você sair dessa cidade.
O sorriso dele era doce e diferente de antes, a esse ponto a relação dos dois havia mudado não só por tentarem mais uma vez, mas também porque haviam amadurecido durante o tempo separados e principalmente durante esses três meses, reconstruindo tudo de novo.
— Eu já disse que eu não sou facilmente agradada — riu virando a cara e olhando para ele de canto de olho para ver sua reação.
Mas ele apenas riu.
— Exatamente por isso que nosso final de tarde já está programado — ele piscou e se levantou, fazendo com que ela se surpreendesse.
— Quando você diz programado, você quer dizer…— ela se levantou também.
— Quero dizer que — ele pegou na sacola que carregava — a gente começa por aqui!
tirou da sacola um bolinho de arroz e uma latinha gelada de chá e a entregou.
— Primeiro você come algo leve — ele riu — você deve estar com fome então aproveite, eu sei que você gosta disso — ele apontou para o bolinho já nas mãos da garota — então eu trouxe mais — ela riu — e, depois disso, nós pegamos um táxi e vamos em direção ao Rio Han.
— Ao Rio Han? — ela perguntou curiosa.
— Sim! — ele sorriu olhando para o relógio — Temos trinta minutos para chegarmos até lá.
— Isso é por acaso você me apressando? — ela perguntou desconfiada.
— Você pode comer quando chegarmos lá também, não se preocupe — ele riu limpando o canto da boca dela, achando aquela cena adorável — se você quiser eu até te compro mais quando chegarmos, mas não acho que será necessário.
— Esses daqui já são suficientes — ela sorriu — se você quiser podemos ir andando.
— Você não se sente cansada? — ele perguntou atencioso — você acabou de sair do trabalho, não é melhor pegarmos um táxi?
— Não! — respondeu — Eu estou bem e não estamos tão longe. O bom é que teremos tempo para conversar também, eu gosto de caminhar conversando com você.
— Recíproco — ele respondeu sorrindo, levantou sua mão para frente fazendo referência de que ele iria depois dela .
Ambos passaram por volta de 20 minutos caminhando e conversando sobre coisas extremamente aleatórias, ambos aproveitaram o tempo que tinham ali, do lado do outro.
Aquilo era a real essência do amor? Foi o que pensou nos momentos de silêncio, a sensação de se sentir confortável até mesmo com um silêncio vindo dele era nova para ela, mas tão aconchegante e cheia de alívio que ela não sabia explicar.
— Chegamos! — ele sorriu andando um pouco mais à frente. Estavam à beira do Rio Han, onde algumas pessoas sempre acampavam para passar o dia, noite e aproveitar um tempo juntos, um espaço aberto justamente para isso.
— Você preparou isso? — ela perguntou analisando.
Lá havia uma cabana de cor amarela armada, dentro havia um pano estendido com uma cesta em cima.
— Eu só te comprei aquilo — ele disse mostrando a sacola que a garota carregava — porque iríamos ter uma continuação aqui, espero que não esteja cheia.
A cesta era composta doces, pãezinhos, frutas e um vinho, o que a garota mais gostava.
— Eu não sei se você ainda gosta… — ele ficou confuso com a reação da garota — Eu comprei seu vinho favorito de quando — hesitou em tocar no assunto, mas fez mesmo assim — você sabe, quando ainda estávamos juntos.
— Ainda é o meu favorito, não se preocupe — ela sorriu se sentando — eu acho que nunca deixará de ser, afinal, foi o que tomamos assim que recebemos a notícia da sua entrada na universidade, que tomamos quando eu aceitei me mudar com você, o primeiro que tomamos quando decidimos que seríamos um do outro por definitivo naquela época, ele sempre será especial para mim.
— Desde a primeira vez que partilhamos ele juntos — ele começou dizendo — ele passou a ser a única coisa que eu queria entre eu e você nas nossas comemorações — ele suspirou — Quando você se foi, eu o comprava na esperança de abri-lo quando você voltasse — ele sorriu triste — mas isso não aconteceu e a culpa foi minha.
— Mas isso mudou agora — ela o confortou — ao menos, está caminhando para isso.
— Eu sei que não deveria — ele hesitou em falar, mas endireitou sua posição já sentado e a encarou tomando coragem — eu amo você, .
Seu olhar era profundo mas também doloroso, ele se lembra da dor que um havia feito o outro passar e seu coração sentia essa dor terrivelmente, ele se odiava por isso.
— Eu amo mais do que imaginei amar um dia — continuou, agarrou a mão da garota e apoiou a testa nelas — Sei que prometemos não ir rápido demais dessa vez, mas eu vejo o seu sorriso, o seu olhar ou qualquer coisa relacionada a você — ele suspirou — e meu coração parece gritar, ele me implora para te dizer isso todos os dias e, quanto mais eu seguro, mais ele parece que um dia irá explodir. Eu amo você, amo como o ontem e ainda mais que isso, eu amo você como o hoje.
Seu suspiro pesado fez com que ela segurasse forte as mãos dele e sorrisse fraco.
— Se eu disser que não te amo estarei mentindo — ela completou — você é o meu passado e o meu futuro, não precisamos esperar para que eu volte da viagem, foi bom você ter se expressado, acho que não escuto essas palavras desde que nos mudamos da Espanha.
— Deus, como eu pude ter deixado você ir — ele disse acariciando o rosto dela — eu amo você, .
Então, ele a beijou.
Seu cenário realmente havia uma cena perfeita, talvez não planejava daquela forma, mas deixou tudo bem mais confortável. O fim da tarde tomado por um pôr do sol alaranjado fazia com que ambos se sentissem intensamente envolvidos. Talvez antes o amor que sentiam um pelo outro tivesse entrado em um piloto automático e aquilo, aquele momento, aquela coisa de expressarem o que sentiam houvesse ficado de certa forma algo desconfortável entre eles, por isso a importância do agora.
— Você planejou tudo, não é? — ela disse quebrando o beijo e sorrindo em seguida.
— Eu planejei te trazer até aqui, planejei fazer com que você finalmente fosse minha outra vez — ele respirou fundo acariciando os fios de cabelo dela — mas eu não sabia que seria assim, eu não sabia nem mesmo se você realmente me aceitaria de volta.
— Eu não disse que te aceitei de volta ainda — ela brincou e ele tencionou outra vez — é brincadeira, você é meu outra vez.
— Eu nunca deixei de ser! — ele sorriu roubando outro beijo da garota em seguida.
South Korea, San’t Ann Ferry
11/04/2019,
9h30 AM
Em sua blusa de poliéster confortável e classificada de forma engraçada como a favorita dentre todas as outras roupas que tinha, partiu. Com suas malas, que continham o suficiente para alguns dias na ilha de Jeju, e seus pertences aleatórios, como celular, um colar especial e o item mais especial, um anel de noivado no dedo.
Sim, noivado!
Naquele mesmo dia, ou melhor, naqueles dias restantes antes da viagem ele havia dado a ela um anel, nada luxuoso demais e tão pouco algo simples demais, afinal ele conhecia aquela mulher melhor do que ninguém, sabia o quão cheia de si ela era, mas também sabia o quanto de amor por sua vida ela carregava.
Ele a conhecia, ele sabia, ele a amava.
Ele não a viu partir, não a viu usando sua blusa favorita, que por um acaso era algo que havia saído de seu próprio armário, ele não a viu sorrindo antes de dar seus passos para subir na embarcação, ele não viu ela olhando radiante para seu dedo onde trazia um anel enquanto cobria o sol daquele final de tarde bonito e revigorante, ele não a viu.
Ela havia dito que tudo estava bem, logo voltaria, que ele não deveria se preocupar em se despedir e que sua cirurgia que ocorreria dali alguns minutos era tão importante quanto.
Realmente, em um certo ponto de vista, talvez aquilo tenha sido melhor.
— Boa tarde, Capitão! — ela sorriu para o homem mais velho e deu a ele uma embalagem com algo de comida que havia preparado em casa — Obrigado por nos levar e cuidar de nós por hoje!
— Mas...O que é isso? — ele disse rindo levemente.
— Um suborno amigável com comida para que cuide melhor ainda de nós por hoje…? — ela teorizou rindo, o que fez com que ele fizesse o mesmo sacudindo a cabeça negativamente. — Eu tenho mais de 250 alunos comigo e mais 10 professores — ela cutucou ele e apontou para o espaço no deck onde alguns adolescente brincavam entre si, outros mexiam no celular e falavam com seus pais ou estudavam em silêncio — eles são não só minha responsabilidade, mas também parte de mim, meu dever é mantê-los seguros.
Apesar daquela conversa ser pura brincadeira entre os dois, ela realmente prezava pela segurança de seus alunos e companheiros, assim como todos ali prezavam pela dela.
Algumas horas de viagem eram suficientemente cansativas, mas ainda vinham muitas pela frente. A embarcação ia lentamente, o próprio capitão havia dito que levava uma carga de grande porte aquele dia, mas que não havia com o que se preocupar.
— Srta. ! — ela ouviu alguém chamar por ela com batidas na porta de sua cabine, afinal era seu turno de descanso, pois estavam revezando para cuidar de todos e seu descanso havia começado apenas meia hora atrás.
— Qual é o problema? — ela perguntou abrindo a porta, ainda sonolenta — Tudo bem? — ela olhou ao relógio no pulso confusa — São oito horas, estão todos bem?
— SIM — o garoto de mais ou menos quatorze anos ofegou e respirou fundo — Na verdade — ela sorriu ao ouvir aquelas palavras — Srta. , você sabe como eu sou com água e barcos, certo?
A mais velha assentiu e se sentou na cama próxima que estava por ali para ouvir o que ele havia a dizer.
— Então sabe que eu pesquiso a respeito de tudo, certo? — ele perguntou e ela assentiu mais uma vez, afinal Lee era um dos estudantes mais prestigiados em sua escola e estava apenas no primeiro ano do ensino médio.
— Vá direto ao ponto, Lee! — ela disse delicadamente.
— Tudo bem! — disse o garoto arrumando seus óculos nervosamente — De acordo com as minhas pesquisas, estalos por toda a embarcação não são bons sinais — ele disse — Olhe — apontou para a janela do quarto dela — você vê a diferença em que estamos do nível do mar aqui?
a mais velha assentiu e reparou que o andar que estavam eram baixos e sua janela parecia um tanto distante demais da água.
— Agora venha! — ele a agarrou pela mão e a levou até seu quarto, que ficava ao lado oposto do corredor. — Aqui, olhe a diferença em que estamos nesse lado.
Talvez não fosse muita, mas se via o desnível de forma clara. Suas janelas traziam a água do mar um pouco mais abaixo, não era muito, mas se via sim um desnível que ela mesma sabia não ser normal.
— Estamos escutando alguns estalos por toda a parte há mais ou menos trinta minutos — ele respirou fundo — mas eu a chamei porque o último foi assustador e eu até mesmo vi o capitão e sua equipe correrem da cabine para o deck e digamos que eles não pareciam tão calmos.
— Como assim? — perguntou sem entender.
— Pela proporção da situação — ele ajustou seu óculos — eu imagino que estamos afundando.
— O que você está dizendo, Lee? — era difícil de entender a mente dele no momento, já que ela mesma foi pega de surpresa.
— Sim, nosso ângulo mudou, você mesma viu o desnível da água de um lado para o outro — ele respirou fundo outra vez tentando se manter calmo — mas não estamos sentindo ainda porque apenas começou, como eu explico melhor? — ele se sentou na cama enquanto ela voltava observar a janela — a embarcação está levando peso demais e sabemos que qualquer coisinha além do peso correto faz com que a instabilidade da água aconteça.
Ok, era realmente uma tarefa difícil pensar que aquilo tudo podia ser apenas uma paranóia de um estudante que na realidade só estava encarando um dos seus maiores medos, mas ao mesmo tempo a racionalidade sempre dizia que evitar e ignorar uma situação nunca era uma opção quando envolvia outras vidas.
— Ok! — ela se levantou — Faremos o seguinte — a mais velha respirou fundo tentando organizar seus pensamentos — eu vou até a cabine do capitão, já passa das sete, mas mesmo assim eu vou averiguar o que pode supostamente estar acontecendo, você ficará mais tranquilo se eu fizer isso?
— Sem dúvidas! — ele respondeu — mas será que ele vai dizer a verdade?
— Nós veremos! — ela respondeu — não se desespere, ok? Espere por mim.
sabia sim que poderia ser uma situação exagerada, mas ainda sim resolveu arriscar, afinal, ela mesma tinha suas dúvidas e sentia que algo estranho ocorria no momento.
Ela caminhou pelo quarto andar, que eram onde estavam parte das “crianças” e as checou. A maioria ainda dormia, afinal aquele dia havia sido cansativo. Então ela desceu ao terceiro andar e fez o mesmo com cada um deles, mas foi quando estava para descer ao segundo andar e encontrar a cabine do capitão, que ela escutou.
Um estalo absurdamente alto e brusco veio de uma das paredes logo atrás dela, a assustando.
Aquilo realmente não soava bem.
Continuou descendo e caminhou mais um pouco para chegar até a cabine, se deparou com três homens incluindo o capitão e duas mulheres. Da porta que era transparente podia-se ver um certo desespero emanado em cada um deles, os cinco pareciam discutir algo com força enquanto o capitão mostrava algo no painel a eles.
Então ela decidiu bater na porta, chamando a atenção para si e recebendo falsos sorrisos principalmente do capitão.
— Desculpe pelo incômodo — disse entrando e olhando de rabo de olho para ver se encontrava algo suspeito sobre a situação — é que um de meus alunos se preocupou com os estalos que estamos ouvindo, aliás, eu mesma levei um susto alguns minutos atrás, está tudo bem?
O sorriso do capitão caiu, mas ele não se atreveu a dizer nada, não que ele realmente fosse dizer em algum momento…
— Sim! — ele mentiu — Tudo em perfeitas condições, esses estalos são normais, diga para que ele não se preocupar.
Nesse momento, o momento em que ele mentiu, todos os presentes na cabine o olharam de forma suspeita, mas ninguém atreveu a dizer nada, então ela soube que algo estava errado.
— Tudo bem então! — ela também fingiu um sorriso — Se lembre do que me prometeu, capitão, são 400 tripulantes e 250 deles são estudantes de 13 a 17 anos com muita vida pela frente. Se algo estiver errado, por favor, me deixe saber.
Ela queria persuadi-lo a falar, mas ele mais uma vez negou.
8:45
— Escutem bem! — ela reuniu primeiramente os alunos do andar de baixo — Estamos em uma situação que necessitamos forças, coloquem seus coletes.
Após uma brusca virada do barco, fazendo com que seus estalos agora sim ficassem fortes, ficou mais alerta, sabia em que tipo de situação se encontrava.
O primeiro pronunciamento foi dado e viu seus alunos tremerem em medo, ao menos alguns. Aquilo lhe pesou de forma muito grande, ela não podia deixar com que acontecesse algo.
— — ela chamou o garoto, que tentava acalmar a irmã — eu preciso de sua ajuda.
— Sim — ele também tremia, mas confiava na mulher.
— Você é uma das pessoas mais fortes que eu conheço — ela disse e ele ameaçou chorar, afinal de tudo ainda era uma criança com medo — eu preciso que você cuide deles por mim, junto a seus professores, preciso ir para o andar de cima e ajudá-los como fiz com vocês, estamos em uma embarcação grande e eu já fiz com que Lee pedisse pelo socorro, nós sairemos daqui juntos, vocês irão sair daqui juntos — ela reafirmou olhando para a irmã, que ajeitava seu colete — você está me escutando? Todos irão sair daqui, mesmo que a minha vida esteja em jogo.
Ela o abraçou. Ela cuidou daquelas crianças como suas por tempo suficiente para dar sua vida por elas. Ela sabia o quanto aquela mãe ficaria devastada estando em casa sem seus dois preciosos filhos, ela sabia que eles deveriam ser prioridade.
Cada um deles.
— Então me escute! — ela disse e ele assentiu — Escutaremos três avisos — ela disse — você checará nesse meio tempo se vê barcos próximos, se o terceiro aviso vir da mesma forma que acabamos de escutar esse, você deve a todo custo tirar seus colegas daqui — ela colocou uma das mãos no ombro do garoto e demonstrou força e seriedade — você me escutou? Não espere por mim nem nada do tipo, eu farei o mesmo, levarei seus colegas do andar de cima ao Deck, de lá você nos verá. Se nenhum barco estiver por perto espere mais um pouco, se nada acontecer — ela disse respirando fundo — se você ver que já não há mais tempo e precisa que todos deixem o barco, faça, guie eles para que sobrevivam até que alguém venha por vocês, todos teremos o mesmo plano. Mas, por hipótese alguma, se não me ver junto, voltem. Não façam isso, apenas continuem, eu continuarei tentando pela ajuda, vocês sabem o que fazer.
— Não vamos te largar aqui — ele disse desesperado.
— Alguém precisa ficar para receber o retorno da guarda costeira ao telefone — ela explicou — não sairei até que me digam que realmente estão enviando os resgates, eu confio em você para cuidar de seus colegas. E seus professores estarão juntos, apoiem-se um nos outros e não hesitem em lutar pela vida de vocês.
— Prometa que, assim que tiver certeza sobre os barcos, você saíra — ele pediu ainda desesperado, a mulher para ele e sua irmã era como uma irmã mais velha, cuidou deles e de sua mãe em seus piores momentos e esteve com eles em seus melhores também, perdê-la nunca havia sido uma opção — prometa.
— Eu prometo! — ela não disse de boca para fora, apenas disse o que realmente tentaria fazer — Estou indo ajudar seus colegas e, assim que deixar outros responsáveis por eles, descerei à cabine para ficar em contato com a guarda costeira, te vejo mais tarde. — ela se virou para sair do local, mas parou de repente sentindo a necessidade de dizer uma última coisa — diga a sua irmã que eu tenho orgulho dela, que ela está se saindo muito bem e que não é preciso medo! Porque eu confiei vocês na pessoa mais forte, racional e inteligente que eu conheço, você.
09:25
“Alunos, tripulantes e passageiros, fiquem nos lugares que estão, pode ser uma situação perigosa, por favor fiquem onde estão”
O segundo aviso havia sido dado e a embarcação estava mais inclinada do que imaginavam que estariam. havia deixado todos avisados de seu plano, ao terceiro aviso não ficariam ali para escutarem, eles iriam para a parte principal da embarcação e esperariam.
Se aquela não fosse mais uma opção, pulariam, nadariam, lutariam por suas vidas. O único que sabia que não estaria junto era .
não ajudou apenas seus alunos e colegas por quem era responsável, mas também tentou ajudar a outros passageiros que estavam em suas cabines, muitos a ignoraram, não levando a situação a sério. Mas muitos se juntaram aos alunos para que fossem juntos quando fosse o momento.
— — um dos professores a gritou no fim do corredor — onde você está indo? Não devemos ficar todos juntos?
— Lim — ela suspirou — peço que mantenha isso entre nós, o único que sabe é , que está cuidando das crianças no andar de baixo — ela disse indo em direção a ele — ficarei na cabine em que a linha direta com a guarda costeira está — a mulher amarrou seus cabelos e isso demonstrava que ela também estava nervosa por ser algo que fazia em situações que precisava ser mais fria do que costumava ser — escutei do capitão, antes de ele sumir pelo barco, que temos uma no último andar, ficarei lá até ter a confirmação de que eles estão a caminho, prometo que sairei assim que eles confirmarem.
— É muito perigoso, ! — ele disse com apreensão — você tem que estar com a gente para que todos sejamos resgatados juntos.
— Eu prometo que irei — ela disse apressada, pois o tempo passava e cada minuto era precioso.
A garota então se foi em direção à cabine, deixando o colega de profissão preocupado para trás.
Correu por dois andares até chegar no que estava a cabine, o corredor estava escuro, não havia eletricidade alguma além de seu próprio celular, era óbvio que naquele momento ela tremia não apenas de frio pela corrente de ar gelada que passava por aquele local. Ela também era humana, chorava de pouco em pouco, tentando controlar suas emoções naquele momento para não fraquejar. Tremia pela ansiedade e principalmente pelo medo que havia em si.
Sentia um arrepio que subia por sua coluna, fazendo com que todo seu corpo reagisse. Mas não sentia que deveria estar com eles, deveria estar ali, onde estava. Se assegurando de que tudo ficaria bem mais tarde, de que os pais teriam seus filhos de volta em seus braços, de que maridos reencontrassem suas esposas, de que filhos reencontrassem seus pais e pudessem dar mais do que apenas um beijo de despedida neles. Ela faria de tudo para que aquilo acontecesse, para que a vida continuasse para quem deveria viver.
09:45
— Você não está entendendo, somos 400 em um total — ela disse com a voz alterada enquanto se segurava por conta do navio já estar em uma inclinação maior — vocês não podem apenas mandar um barco de resgate — disse brutamente — o comandante, tripulante seja quem for está mandando seus passageiros ficarem no mesmo local em que se encontram, estamos com 250 crianças nesse barco — ela respirou fundo — nós vamos afundar e nenhum deles pode se mover. Não podemos e nem devemos esperar mais nenhum minuto.
O terceiro aviso veio e aquilo fez com que o frio na coluna de aumentasse, era o momento.
— Escute com atenção — ela disse agressiva — nós salvaremos essas pessoas inocentes e suas incompetências não serão perdoadas se um deles morrerem, vocês estão entendendo? Nós não temos mais tempo, nesse exato momento meus alunos, junto a outros passageiros, estão se dirigindo ao deck na esperança de que alguém venha tirá-los desse pesadelo, o qual eles nem sequer deveriam estar passando — ela disse firme — então você está mandando a quantidade de barcos que nós precisamos nesse exato momento, você está entendendo ou quer o fardo de milhares de vidas nas suas costas até depois de sua morte? — a esse ponto mantinha a voz firme e agressiva sem nenhuma falha, isso internamente até mesmo a assuntou — Dane-se que é necessário a aprovação da presidente, dane-se que a presidente não tenha liberado o resgate ainda, você entende que uma vida é prioridade?
disse de forma tão agressiva que no mesmo momento ouviu uma voz no fundo da ligação dando ordens para que fossem enviados o maior número de barcos possíveis.
— Recebemos a informação de que pescadores já estão perto do local para ajudarem — alguém tomou o telefone — eles darão apoio enquanto nossos barcos não chegam, faça com que seus alunos e todos que puderem saiam para o deck, sem o resgate a dificuldade aumenta, ganhe tempo para que possamos chegar.
— Certo! — ela disse desligando o telefone e tentando sair com dificuldade, afinal tudo já estava pior a essas horas, ela nem mesmo sabia como as janelas do andar que estava não haviam rompido pela pressão da água.
Subiu com dificuldade, escalando o quanto podia as escadas, encontrou o andar em que antes havia e seus alunos vazios e deu graças a Deus por isso. Andou inclinada por todo o local checando se ninguém havia ficado para trás. Foi então que pode escutar as vozes à frente, na saída para o deck, vozes agitadas não apenas de seus estudantes mas também de outras pessoas, incluindo os professores que estavam juntos no andar de cima.
Soltou um suspiro aliviada por terem seguido sua recomendação, caminhou pelo corredor com a mesma dificuldade para chegar ao local também, viu a cena de seus alunos entrando um por um nos barcos e seu coração desesperado para que aquele momento acabasse acelerou. Antes de pular para se juntar a eles, escutou um choro baixo vindo do último quarto perto da saída, parou onde estava e prestou a atenção mais uma vez, escutando de novo.
— — o chamado tirou sua atenção, viu uma mulher desesperada em um dos barcos sendo impedida de sair — Minha filha, ela se soltou de mim, preciso buscá-la.
— Eu procuro, fique onde está — disse à mulher, se segurou por sentir mais uma vez o inclinamento aumentar, algo lhe dizia que não tinha muito tempo e que precisava se apressar.
, que havia ficado por último para se assegurar de que todos estivessem fora do barco, disse que a ajudaria, mesmo ela tendo negado ele insistiu e partiu atrás dela.
— ? — com a inclinação os quartos já estavam fundos, impossíveis de sair sozinhos então ela se deitou procurando pela garotinha com apenas a cabeça para dentro do quarto — Você está aqui? Precisamos sair, a mamãe está te procurando, não precisa ter medo.
— Eu não consigo — a garotinha de no máximo seis anos disse com dificuldade — meu pé — ela chorou.
— Tudo bem, meu amor — ela disse — você se machucou quando caiu certo? Está doendo muito?
— Aquele homem mal me empurrou — ela chorou mais uma vez, então olhou para , que avisou sobre o comandante ter sido um dos primeiros a sair do barco mais cedo.
— Tudo bem — ela tentou tranquilizar a garotinha — a tia irá descer para te ajudar, ok? Esse meu amigo bonito aqui irá te ajudar daqui de cima, ok? Você pode confiar nele — ela assegurou — não precisa chorar, você estará com a mamãe logo, logo.
, sem a aprovação de , desceu caindo sobre a janela do quarto já com a água mais da metade preenchida.
Ela acariciou a garotinha e disse que tudo ficaria bem, que aquele amigo dela, lá em cima (disse se referindo a ) a levaria com a mãe.
A mulher agarrou a garota com cuidado e a sustentou no ar.
— Dê as mãozinhas para ele, querida — ela disse e a garota levantou suas mãos tentando alcançar o garoto.
Assim foi feito, ele a pegou e a sustentou em seu colo com cuidado e proteção.
— Leve-a primeiro — ela ordenou — eu sairei em seguida, mantenha ela e a si mesmo seguros, escute o que estou falando e vá!
Ela a esse ponto sabia das chances que tinha, a olhou temeroso e ela retribuiu com um olhar cheio de carinho, todo o carinho que ela mantinha por eles.
— Está tudo bem — ela disse calma — você pode ir.
A mulher sorriu triste por ver o garoto chorar e sair do local.
O barco então fez o estalo mais alto que ela já havia escutado naquele dia, a inclinação também havia sido brusca, o que a fez não conseguir mais manter seu peso em firme em pé, tremendo olhou para a janela vendo essas serem tomadas pouco a pouco pelas águas, respirou fundo, olhou para seu relógio vendo que marcavam 10:20 e então, foi aí que ela mandou uma mensagem para ele.
“Eu amo você, ”
Ele, que não fazia muito que havia acordado, sorriu ao ver a mensagem, mas sabia que não era dela mandar aquele tipo de coisa.
“Não se preocupe, eu também estou”
“Amo você”
Perguntou brincalhão mas não obteve uma resposta clara, direta ou sarcástica como esperava.
“Você precisa ficar bem, precisa continuar.”
“Case-se, tenha filhos e cuide deles como se fossem seu tudo”
“Eu amo você”
Ele se preocupou, olhou a hora, que marcava 10:25, ligou para o número inúmeras vezes e não obteve resposta, resolveu então mandar outra mensagem.
“Você está bem?”
Mas nunca obteve uma resposta.
Foram as últimas palavras que puderam ser enviadas, ou, ao menos, a última significativa depois de um desespero realmente lhe atingir.
— Horário de naufrágio? — o capitão da guarda costeira perguntou ao companheiro ao lado.
— 10:25, senhor! — até mesmo o homem estava abalado com a situação, sua voz saiu trêmula e ele parecia estar estarrecido, sem reação.
Afinal, ver todas aquelas pessoas que tremiam de medo e frio salvas fazia com que seu coração se sentisse totalmente embargado em sentimentos.
Ver aquelas crianças encharcadas, cheias de traumas a partir daquele dia, mas que teriam um futuro como deveria de ser dali para frente o fazia se sentir assim.
O mundo deveria se sentir assim, afinal, vidas foram salvas e sacrifícios foram feitos para que isso acontecesse.
Fim.
Nota da autora: Oí, eu sei que talvez não era o final que vocês esperaram mas eu juro que tinha uma boa causa. Para quem não sabe 16/04/14 aconteceu um acidente marítimo muito grande e cruel na Coreia, nesse morreram mais de 200 alunos de uma escola com outros passageiros. No total, apenas 170 pessoas foram salvas aquele dia e por pura negligência outras 300 (mais ou menos) morreram.
Bom, eu sempre fui muito sensível com isso então sempre tive a vontade de que tudo fosse diferente, mas nada poderia ser feito na vida real certo? Foi ai que eu decidi que se na vida real aquelas pessoas que não foram salvas e morreram levadas pelas águas não poderiam ter um final feliz na vida real, então talvez na ficção eu poderia fazer diferente, com uma situação diferente.
A pp originalmente nomeada de Nina sempre foi uma pp muito importante para mim e eu sempre soube que o final que deveria tomar era algo assim, ela queria que fosse assim. Por mais que seja estranho, ela tinha que ter sido um sacrifício para ser justo com todos, não sei se vocês entendem mas eu espero que sim.
Agradeço quem chegou aqui, se puderem comentar e me dizer a opinião de vocês eu agradeceria muito. Xoxo
Nota da beta: Eu AMO histórias de reencontros, então eu já comecei feliz "o início de um sonho", mas claro que a vida tinha que pregar uma peça dessas, né? Deu tudo errado quando você disse que ele não deu tchau pra ela antes de ela viajar, eu já fiquei pensando comigo mesma "vai dar merda", e, bom, deu... Tô chorando enquanto escrevo rs, mas tá linda demais sua fic, eu amei demais a ! <3
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Bom, eu sempre fui muito sensível com isso então sempre tive a vontade de que tudo fosse diferente, mas nada poderia ser feito na vida real certo? Foi ai que eu decidi que se na vida real aquelas pessoas que não foram salvas e morreram levadas pelas águas não poderiam ter um final feliz na vida real, então talvez na ficção eu poderia fazer diferente, com uma situação diferente.
A pp originalmente nomeada de Nina sempre foi uma pp muito importante para mim e eu sempre soube que o final que deveria tomar era algo assim, ela queria que fosse assim. Por mais que seja estranho, ela tinha que ter sido um sacrifício para ser justo com todos, não sei se vocês entendem mas eu espero que sim.
Agradeço quem chegou aqui, se puderem comentar e me dizer a opinião de vocês eu agradeceria muito. Xoxo
Nota da beta: Eu AMO histórias de reencontros, então eu já comecei feliz "o início de um sonho", mas claro que a vida tinha que pregar uma peça dessas, né? Deu tudo errado quando você disse que ele não deu tchau pra ela antes de ela viajar, eu já fiquei pensando comigo mesma "vai dar merda", e, bom, deu... Tô chorando enquanto escrevo rs, mas tá linda demais sua fic, eu amei demais a ! <3