Capítulo Único
Moscou, capital da Rússia
Quatro meses antes.
deslizava os dedos pelas teclas com a facilidade com que uma criança rabiscaria um desenho. Seus dedos finos e longos acariciavam o branco e preto do teclado, fazendo as cordas do grande piano branco à sua frente vibrarem com a intensidade dos toques. Suas mãos batiam nas teclas com agilidade e destreza, fazendo as costas curvarem-se para frente. Sua expressão era suave, mas concentrada. A melodia preenchia o teatro onde se apresentava, o público que ali prestigiava seu talento não desviava os olhos da mulher no palco. Seu cabelo caía em ondulações pelas costas nuas, o corpo curvilíneo estava envolto em um belíssimo vestido de cor preta, desenhado por algum grande estilista renomado. Algumas mulheres na plateia derramavam tímidas lágrimas acompanhando toda emoção e sentimento que transmitia através das notas. E então ela começou a cantar. Sua voz se fazia suave e firme ao mesmo tempo, alcançando notas tanto de soprano quanto de contralto.
era uma pianista conhecida mundialmente por seu talento. Nascida no Brasil, estuda piano desde os seis anos em conservatórios. Aos dezesseis, mudou-se para a França a fim de melhorar sua técnica; aos vintes já era considerada pianista profissional. Tocou em várias orquestras ao redor do mundo e, aos vinte e cinco, ficou conhecida como “uma das maiores pianistas de todos os tempos” segundo a revista Billboard. Seu diferencial era compor melodias misturando ritmos e estilos diferenciados; juntava o moderno ao contemporâneo, o clássico ao atual, transpassando um sentimento inexplicável através de suas notas.
Seus concertos nunca estavam vazios, muito pelo contrário, faltavam entradas para muitos deles. Esse não havia sido diferente, estava lotado de apreciadores de sua música; a maioria participante da high society russa. Um, em especial, encontrava-se sentado na última fileira de poltronas do saguão, apreciando o concerto com um brilho diferente dos demais nos olhos. O homem, que trajava um elegante terno Kiton branco, remexia-se inquieto em sua poltrona e não esperou o término da apresentação para retirar-se do teatro, sua raiva crescia adjacente à intensidade do som do piano.
- Pavlov? Ele já chegou? – perguntou com a voz rouca assim que um de seus subordinados atendeu.
- Sim senhor. Ele está o aguardando.
- Ótimo.
Um sorriso sombrio formava-se em seus lábios. Chamou seu motorista, que o levou direto à sua mansão.
***
- Sinto-me honrado ao recepcioná-lo em minha humilde residência, senhor...
- Vamos direto ao assunto – ordenou o visitante. O homem alisou seu terno branco enquanto convidava-o a sentar-se. – Você deve saber, já que me chamou até aqui, que eu não costumo falhar. Contudo, senhor...
- Sherbítski. – Pronunciou o homem.
- Conhece o ditado “meu jogo, minhas regras”? É assim que eu trabalho. Meu objetivo final será cumprido, mas antes de tal ato, preciso analisar nosso “cliente”. Ter um tempo para conhecer sua rotina, horários e compromissos. Dentro de seis meses seu desejo será realizado, senhor Sherbítsky.
- Seis meses?! É muito tempo! – reclamou o velho.
- É o tempo que acho necessário. Pode ser menos, mas nunca excede o prazo.
- Bom, acho que dessa vez você não terá dificuldades em conhecer a rotina de nosso alvo... Ele é uma figura um tanto pública, entende? – Sherbítsky sorria ao entregar uma folha sulfite contendo o nome, idade e foto de seu alvo ao rapaz, enquanto este observava a folha já em mãos com seriedade.
- Isso é algum tipo de piada? – perguntou – Isto é um tanto arriscado. Eu cobraria o dobro pelo serviço.
- Estou disposto a pagar o triplo, se você desejar.
-Essa situação é um tanto peculiar... Posso perguntar o que o levou a me chamar?
- Meus motivos não te interessam, apenas meu dinheiro.
-Uma vez que fecharmos o acordo, eu não volto atrás, Sherbítsky.
- Eu também não. Fechado?
O rapaz olhou novamente a folha em suas mãos e depois para o homem à sua frente.
- Fechado. – concluiu, apertando a mão direita de Yvon Sherbítsky. O rapaz saiu acompanhado de um dos serviçais de Yvon, carregando o papel em uma das mãos. Na foto, o cabelo bagunçado pelo vento rodeava o rosto jovem e risonho de .
Los Angeles, EUA
Três meses antes.
Rolei mais uma vez pela cama, dando de cara com o relógio que marcava 03h:47m da madrugada. Bufei. Como eu odeio Jet lag! Duas semanas na Rússia e foi o suficiente para não conseguir dormir quando volto para casa. Para ajudar, meu estômago está roncando desde a hora em que deitei e não há nada que me interesse em casa. Suspirei frustrada, talvez depois de comer algo o sono venha. Troquei de roupa e saí de meu apartamento, torcendo para que a cafeteria da rua de baixo estivesse aberta. Caminhei cantarolando uma nova composição, irritada com o fato de não conseguir sair do lugar há dias. Senhoras e senhores, está sofrendo um bloqueio criativo. Ou talvez ela esteja precisando de umas férias, é. Nem tive tempo de pensar no assunto, pois assim que virei a esquina, algo me jogou ao chão.
- Oh, me desculpe! Eu sinto muito! – Escutei, enquanto um par de mãos fortes ajudavam-me a levantar.
Estava a ponto de cobri-lo de xingamentos quando meus olhos se cruzaram com os do ser que me derrubara. , brilhantes, rodeados por pequenas rugas de preocupação. Eu poderia me perder naqueles olhos para sempre.
– Você está bem? – perguntou com a voz ligeiramente rouca, e percebi que seus braços ainda me cercavam. Nossa proximidade me proporcionava o aroma do perfume adocicado que ele usava. Seus ombros eram largos, de porte atlético, era uns quinze centímetros mais alto do que eu. Tudo nele parecia em perfeita sintonia, tudo nele era perfeito. Meu estômago roncou tirando-me do transe e fazendo-me encarar novamente seus olhos, que agora me observavam curiosos.
- S-sim. Não foi nada, eu só levei um susto. – Sorri. O rapaz retirou suas mãos quentes de meus braços e tive que conter o impulso de colocá-las ali novamente.
- Me desculpe, - falou, brevemente envergonhado – eu estava distraído com o celular, e...
- Sem problemas, sério. Foi apenas um tombo, acho que não quebrei nada.
Ele riu. Ponto para mim!
- Então... O que uma jovem bonita como você faz na rua a essa hora? – Olhou-me inquistivo, com uma sobrancelha arqueada. Foi a minha vez de rir.
- Eu não estava conseguindo dormir e estou morrendo de fome. Como eu cheguei de viagem ontem, não tenho nada em casa que me encha os olhos, então resolvi sair e ver se encontro a cafeteria da rua de baixo aberta.
- Oh, então é meu dia de sorte! Se importa se eu for com você? Sou novo na cidade, não conheço lugar nenhum e também não tenho nada em casa. Prometo não incomodar.
- Hmm, tenho que pensar um pouco, afinal, você acabou de me jogar no chão sem motivo aparente.
- Eu sei, me desculpe por isso. Mas eu sou legal. Juro. – ele sorriu, envergonhado. – A propósito, meu nome é . .
- , muito prazer. Sobrenome diferente...
- Venho da Itália. Agora... Meu estômago não perdoa. Posso lhe fazer companhia durante a caminhada? Prometo que ao chegar lá eu me afasto o mais longe de você, se quiser.
- Ora, não será preciso! Seria ótimo uma companhia para este lanche da madrugada.
Sorri simpaticamente para , que fez um gesto em agradecimento. Começamos a caminhar em direção à cafeteria, enquanto conversávamos sobre assuntos aleatórios. - Engraçado, você me parece familiar... – revelou após uma mordida em seu muffin, quando já estávamos acomodados com nossos lanches.
- Sério? Quem será? – questionei, pensando se ele me reconheceria.
- Agora não consigo lembrar, mas sei que já te vi em alguma revista. Ou alguém muito parecida com você.
- Talvez você esteja me confundindo com outra mulher.
- Talvez... – concordou, olhando-me desconfiado.
O resto da madrugada passou voando, levando consigo a fome e também o sono. fazia-me rir a todo momento e parecia divertir-se tanto quanto eu. Sua companhia era deliciosa. Se eu não tivesse saído nesta madrugada, talvez nunca esbarrasse com . Seus olhos, os lábios bem desenhados, a gargalhada, o cabelo bagunçado, suas mãos, tudo nele era perfeito.
Los Angeles, EUA
Dois meses antes.
Meus olhos ardiam com a claridade que entrava através da janela. Não me lembro de não ter fechado as cortinas... Aliás, não me lembro de nenhum detalhe alheio que não fosse o corpo de sobre o meu na noite passada. Sorri, ainda de olhos fechados, inalando seu perfume impregnado nos lençóis. Levantei-me e vesti um hobby ao perceber que não estava mais na cama. Passei no banheiro para lavar o rosto e desci rumo ao primeiro andar, que exalava um forte aroma de café e algo mais doce. Cheguei à cozinha com um sorriso de orelha a orelha ao vê-lo de costas para mim, preparando nosso café da manhã, sem camisa e vestindo apenas sua boxer. Não tem como não se apaixonar. Suspirei, encantada, ao mesmo tempo em que se virava, dando de cara comigo escorada na bancada da cozinha.
- ! O que está fazendo aqui? – exclamou surpreso. – Droga, você estragou tudo!
- Estraguei o quê? – perguntei, enquanto ele colocava dois waffles em um prato.
- A surpresa, oras!
- Ah, era surpresa? Pois saiba que eu fui realmente surpreendida ao descer e me deparar com você cozinhando.
aproximou-se, coloquei os braços em seus ombros, na mesma hora em que ele me abraçava.
- Agora trate de voltar lá para cima e fingir que ainda não sabe o que estou fazendo aqui.
me empurrou para o quarto novamente, ignorando meus protestos. Já no andar de cima, aproveitei para dar uma checada em minha imagem refletida no espelho. Alguns minutos mais tarde subia com nosso café.
- Não acredito! – fiz ar de surpresa. Ele olhou-me confuso.
- O que aconteceu?
- Você fez nosso café da manhã! E ainda trouxe na cama! – exclamei, tendo o olhar mais confuso e intrigado de como resposta. Gargalhei de sua expressão. – Ué, não era pra fingir que eu não sabia de nada?
- Ahhh! – seus ombros relaxaram e abriu um sorriso. – Achei que estivesse ficando louca! Vem, vamos comer.
Sentamos na cama e começamos a comer e a conversar descontraidamente. Comecei a observar tudo: seus movimentos, seus olhos, o sorriso, o jeito que suas sobrancelhas mexiam conforme suas expressões, o café que ele havia preparado. Algo novo manifestava-se dentro de mim. Algo quente, suave. Parecia que tudo ali estava completo.
- Pensando na morte da bezerra? – tirou-me de meu devaneio. Percebi que ainda segurava um pedaço de melão e que o rapaz me olhava intensamente.
- Desculpa. Estava viajando.
-Percebi. Pensando em quê?
- Na verdade... Sei que ainda é cedo, mas eu estava pensando em nós. – sorri nervosa.
- Nós? Como assim?
- É, tipo, no que a gente ‘tá fazendo, sabe? Em pouco tempo nós nos tornamos bem... Íntimos. – pousou sua xícara na bandeja, e eu fiquei com medo de ter estragado nossa manhã. – Na verdade eu pensava mais sobre o fato de que você sabe tudo sobre mim, mas eu não sei quase nada sobre você!
- Você sabe tudo o que tem pra saber. Meu nome, de onde eu vim, no que trabalho... Minha vida não é muito interessante.
- Você sabe que não foi isso o que eu quis dizer. Se bobear você sabe até com quantos anos eu perdi meu primeiro dente, e o que eu sei sobre você são coisas tão... Superficiais.
- Olha, - afastou a bandeja a fim de sentar-se à minha frente, segurando minhas mãos. – minha família, infância, meu passado, foram um tanto conturbados. Eu saí de Belaggio a fim de deixar tudo para trás e começar uma vida nova. E aí você apareceu, e essa nova vida começou de uma forma totalmente inesperada, mas melhor do que um dia eu imaginei. – sorriu sincero. Sorri em resposta, com o coração acelerado por causa da declaração inesperada de , aproximando-me para beijá-lo.
- Desculpe por estragar nosso café da manhã.
selou nossos lábios novamente.
- Não tem porque pedir desculpas, você não estragou nada. – Sorri agradecida, deitando em seu colo. – Por falar em Bellagio, vou ter que voltar lá daqui a duas semanas. – Levantei bruscamente.
- O quê? Por quê?
- Calma, – gargalhou. – É só para finalizar uma papelada da empresa em que eu trabalhava e transferir meus documentos para cá definitivamente.
- Vai me deixar aqui sozinha? – fiz bico.
- São apenas três dias, no máximo quatro. Nesse tempo você pode pôr suas composições em dia e ajustar sua agenda. Ou vai ficar de férias para sempre?
- Se fosse com você, eu ficaria. – Gargalhei, fazendo-o rir também. beijou-me intensamente, fazendo as borboletas em meu estômago acordarem. Eu me sentia completa.
***
Sentei-me à frente de meu piano, coberto de poeira por causa do pouco uso durante o último mês. Dedilhei algumas notas aleatórias e lembrei-me de uma música linda e comecei a cantá-la baixinho, mesmo sabendo apenas algumas partes da letra.
When you pull me close/Quando você me abraça forte
Feelings I've never known/Sentimentos que eu nunca conheci
They mean everything/Eles significam tudo
And leave me no choice/E não me deixam escolha
(…)
I'm a lightweight/Eu sou muito leve
Better be careful what you say/Melhor ter cuidado com o que você diz
With every word I'm blown away/A cada palavra eu me desintegro
You're in control of my heart/Você está no controle do meu coração
- Bonita música. - disse de repente, fazendo-me pular com o susto.
- Desde quando você está aí?
- Desde o segundo verso que você cantou, acho. – Levantou-me da banqueta, de relance pude ver suas malas atrás dele.
- Já vai? – perguntei, tentando não transmitir a tristeza que eu sentia.
- Já. Está na hora. – baixei o olhar. – Ei, são apenas alguns dias, lembra? Depois eu estarei de volta para você. disse sorrindo, dando-me um demorado beijo na bochecha.
- Eu sei. É que estou acostumada com você aqui...
- Quando você menos esperar, eu estarei de volta. – juntou nossos lábios, e ali percebi o seu adeus. Pegou suas malas e foi em direção à porta, quando eu o chamei.
- Você está no controle do meu coração, sabia?
nada respondeu, apenas deixou-me um sorriso e um selinho, e saiu porta afora.
Moscou, Capital da Rússia
Um mês antes
- Bom vê-lo novamente, filho. – cumprimentou-o velho.
- Digo o mesmo, Sherbítsky. – respondeu o rapaz, enquanto ocupava uma das poltronas da sala em que se encontravam.
- Como vai o caso? Está demorando...
- Cada coisa tem seu tempo, Yvon. Passaram-se apenas dois meses desde nosso primeiro encontro. Vamos ao que interessa?
- Claro, claro. Mikhail, vá pegar o embrulho que lhe falei.
O robusto homem que se encontrava na porta saiu. O rapaz, sentado à frente de Yvon Sherbítsky, passou a observar a sala: Alguns quadros dispostos em uma parede e, bem no meio da sala, um magnífico piano de cauda branco enfeitava o ambiente.
- Você toca? – perguntou, subitamente curioso, ao observar várias partituras amassadas e rabiscadas em cima do instrumento.
- Tocava. Há alguns anos atrás. Já não tenho coordenação o suficiente. – respondeu Sherbítsky, analisando o rapaz que concordava com um aceno de cabeça.
Mikhail voltou rapidamente à sala, com um pacote em mãos contendo metade do valor que o rapaz receberia pelo serviço.
- Aqui está, meu jovem. Como combinamos, o resto você pega depois... Eu tenho coisas a fazer, então Mikhail o acompanhará até a saída. Adeus. – Sherbítsky deu as costas sem receber resposta, deixando o rapaz com seu serviçal. Mikhail acompanhava-o lado a lado.
- Posso perguntar... O que Yvon tem contra a pianista?
- Creio que não seja da sua conta.
- Entendo... Mas ele era pianista também, não era? – pressionou, recebendo um suspiro por parte de Mikhail.
- Era... Yvon hoje é um pianista frustrado, velho, mesquinho, está ficando louco e não paga os empregados direito. Não gosta de porque ela é tudo o que ele deveria ser, mas não é e nem foi porque não tem talento nenhum pra coisa. Yvon não suporta o fato de ela ser mulher, para resumir, ele a odeia. Sem motivo algum. E como disse, está ficando louco. Eu e outros caras que trabalham comigo tentamos convencê-lo de não fazer isso, não te chamar. Pedimos para ele deixar a garota quieta no canto dela, mas ele é um velho teimoso e podre de rico. Ameaçou nos demitir se não o deixássemos em paz. Ele é, de certa forma, perigoso aqui, sabe? Essa região da Rússia é de onde saem as piores gangues, os piores mafiosos... Yvon já fez muita coisa errada na vida, não é do tipo de pessoa que você quer ter algo contra. Então o deixamos fazer o que quisesse, para não corrermos o risco de morrer a pedido dele também. Aliás... Ele não pediu para matar-nos, pediu?
- Não – respondeu o rapaz, reprimindo o riso.
- Chegamos. Lembre-se, eu não contei nada a você.
- Pode ficar tranquilo, Mikhail, eu não sei de nada.
Los Angeles, EUA
2 horas antes.
era ovacionada por aplausos incessantes. Alguns jogavam rosas no palco, outros gritavam, todos a admiravam. Ela mantinha um sorriso grandioso no rosto, amava o que fazia e amava ser reconhecida por isso. Sentia que sua vida estava encaixando-se. Tinha uma carreira ilustre, uma boa recompensa por seu trabalho, um lar digno e um homem a quem amar também. E era correspondida, sentia isso.
Há anos trabalhando, desde muito nova, sempre sonhou com o dia de seu casamento, com o marido perfeito, sempre pensou na família que montaria e nos filhos que teria. Com o passar do tempo, , atenta demais ao trabalho, não conhecia ninguém e começava a achar que casar não seria para ela. Não encontrava nenhum homem que a amasse, quem sabe constituir uma família e ser mãe não fosse para ela. Ingênua, já deixou muitos quebrarem seu coração em uma única noite. E então apareceu .
era o contrário de todos que ela já havia conhecido e seu coração bateu mais rápido desde a primeira troca de olhares. sentia-se diferente ao seu lado, sentia que era o cara certo. E não poderia estar mais feliz com isso. Retirou-se do palco com um sorriso grandioso e dirigiu-se rapidamente até seu camarim, onde encontrou o celular que apitava com o recebimento de uma nova mensagem:
“Já terminou o concerto? Lembre-se que sempre estarei orgulhoso de você! Aliás, estou te esperando em casa para comemorarmos seu sucesso... Até já ;) Xx.”
Sorriu encantada ao ler a mensagem. Não entendia o porquê de não querer visitá-la nunca em seus concertos ou ser vista com ela na rua. Ele dizia que não queria prejudicar sua carreira e não adiantava dizer o contrário. Também não se preocupava, não queria expor ao mundo. Queria tê-lo apenas para ela.
Trocou-se e dispensou seu motorista, estava tão feliz e a noite tão clara, um clima bom pairava no ar... preferiu ir a pé e chamar um táxi em algum momento. Um calafrio percorreu seu corpo ao passar pela porta de saída do teatro. Ignorou, pensando que nada poderia abatê-la. Começou sua caminhada, mas não demorou a sentir novamente um calafrio e um movimento atrás de si. Virou-se, não encontrou ninguém. Acelerou os passos, já mais atenta e receosa. Curiosamente, as ruas por onde passava estavam desertas. Um prédio irradiava uma forte luz que fez sua sombra aparecer na calçada, junto à sombra de outro alguém alguns metros atrás da sua. não tinha a quem recorrer. Ligou para a fim de pedir ajuda, mas a ligação caía na caixa postal. Uma, duas, três vezes. Caixa postal. Os passos ficaram mais altos e rápidos e começou a correr, amedrontada. Não teve coragem de olhar para trás; poderia estar imaginando coisas, mas tudo o que pensava era chegar em casa em segurança. Ao virar uma esquina, trombou com um homem musculoso, robusto. Levantou-se rapidamente e recomeçou a andar, sem ao menos pedir desculpas, quando dois braços a agarraram por trás e um pano foi levado a seu nariz. Tentou debater-se, mas sentiu seus braços e pernas enfraquecerem e sua visão ficou turva. Dentro de cinco minutos, era carregada na caçamba em uma camionete, desmaiada, a um lugar que nunca havia visitado antes.
Estavam e correndo, alegres, em uma enorme plantação de trigo. Estava um dia lindo, o sol brilhava no céu, e corria em sua direção. Conforme mais próximo ele chegava, mais nitidamente sentia seu perfume. estava mais perto, o perfume mais forte. Mais forte...
- ? – abriu os olhos e deparou-se com a imagem de a sua frente. O perfume forte que sentia em seu sonho, justificou-se ali, espalhado por todo o ambiente em que estavam. tentou levantar-se mas não conseguiu, alguma coisa prendia seus braços atrás da cadeira em que encontrava-se jogada. Seu corpo doía, sua mente estava confusa, fumava a sua frente.
- Desde quando você fuma? , o que está fazendo aqui? – tentou soltar-se, sem sucesso. – , que brincadeira de mal gosto é essa? – gritou, o medo começando a consumi-la.
- É Donatien para você.
- O quê? Do que está falando? , dá pra me soltar? Isso está me machucando.
- Essa é a intenção. – Donatien respondeu, fazendo-a calar-se.
- O que você está fazendo? Cadê o , o que eu conheci?
- Não existe, mi amore. Não se tocou ainda?
- Como assim? Eu não estou entendo, eu...
- Haja paciência com você, hein garota?! Só te aguentei por esse tempo porque a grana não tinha como ser recusada. Tanto dinheiro por uma garota ridícula como você...
- , do que você está falando? Por favor, para com isso.
Donatien revirou os olhos, cansado do joguinho. Tirou a máscara que cobria sua verdadeira face, jogou as lentes de contato e jogou no chão. Estava transformado. Era outra pessoa, era Donatien de verdade. Sentiu vontade de rir da cara que fez. Terror, medo, pavor, tudo era transmitido através de sua expressão facial. Donatien sorriu.
- Sabe, quando Sherbítsky me contratou para fazer esse serviço, eu não entendi o porquê. Por que ele perderia tempo com você? Foi o que eu pensei. Mal sabia eu que você poderia ser tão ingênua, mimada, mesquinha. Só pensa em você mesma. Deixou a fama subir à cabeça. Um rostinho tão bonito...
- Você não está falando sério, está? , eu..
- É Donatien! – gritou.
- Você não pôde me enganar. Por favor, me diga que você não me enganou, não me usou. O que você vai fazer?
- Bom, deixa eu me apresentar primeiro, né? – Donatien sorria de forma irônica. tremia. – Deixa eu ver... Bom, não sou realmente um administrador de empresas, como você pode perceber. Meu trabalho é bem mais complexo. As pessoas me contratam para eliminar outras, entende? Seja por dívidas, ciúmes, inveja, qualquer motivo aparente, realmente não me importa. O que me importa é o que eu vou ganhar com isso, sabe? Dinheiro. Muito dinheiro.
- Você não pode fazer isso. , pense em tudo o que nós tivemos!
- E o que foi que tivemos, garota? Não percebeu ainda? Foi tudo invenção, era tudo coisa da sua cabeça! Eu precisava te analisar de perto, e você foi tão burra... Confiou cegamente em mim desde o primeiro momento. Tudo o que eu precisava fazer... Você se entregou para mim.
- , você não pode fazer isso. – tentava conter as lágrimas que insistiam em sair de seus olhos. Isso era um pesadelo, só podia ser. Não podia estar acontecendo de verdade.
- Já fiz. Você já era.
- O que você vai fazer? – questionou, receosa da resposta.
- A ficha ainda não caiu? – Donatien gargalhou. – Não é óbvio? Vou matar você, meu bem. Foi pra isso que me contrataram. - Observou empalidecer.
- Não. Você não pode, , não... É dinheiro que você quer? É isso? Eu te pago. Eu te pago o dobro do que te ofereceram, por favor... Eu te entrego todos os meus bens, você não pode... – Foi impossível conter as lágrimas. gargalhava de .
- Mesmo que venda sua alma, você não conseguiria pagar-me o dobro do que me ofereceram. Além do mais, eu nunca falho em serviço. Se me contrataram para matá-la, sinto muito. É o meu trabalho. Eu faço o que mandam.
- Então você é um filho da mãe de um pau mandado?
- Olha bem como fala comigo. – interrompeu Donatien, acertando um soco no nariz de .
- Miserável! Você é um ridículo, miserável, filho da mãe!
- Pode gritar, pode xingar, pode espernear o quanto quiser, meu bem. De nada vai adiantar.
- Você não vai sair dessa impune. Não vai. Eu sou famosa, sou rica. Ninguém vai deixar você sair livre dessa, ninguém.
- E quem vai me pegar? não existe. Pouquíssimas pessoas nos viram juntos ou sabiam quem eu era... Você caiu direitinho. Caiu na rede é peixe. – Donatien ria. chorava. Como pôde ser enganada tão cruel e facilmente? Quando achava que sua vida estava perfeita, com tudo se encaixando, veio uma reviravolta e tudo virou de cabeça para baixo.
- Um rosto tão bonito – Donatien passava a mão em .
- Tire as mãos de mim – cuspiu em seu rosto. – Tire as mãos de mim! Nojento! Você é nojento, é desprezível, é... – Interrompeu-se ao receber outro soco. Sentiu o sangue escorrer em seus lábios.
- Chega! Cansei desse teatrinho. Diga adeus a esse mundo, meu bem.
- , Donatien, por favor. Não, não, não... – Donatien carregava a arma bem à frente de , que sacudia-se na cadeira tentando se soltar. – Por favor, não faça isso, por favor...
- Últimas palavras? –Donatien apontou a arma na direção de sua cabeça e a destravou.
- Por favor... Como você pode ser tão horrível? Eu amei você. EU AMO V...
Seu grito foi suprimido pelo barulho maior do tiro. nunca chegou a concluir a frase. Antes de expirar, como que um adeus a sua vida, ao seu lindo piano que nunca mais tocaria, aos seus fãs que não teriam mais um concerto seu para ir, a sua família e amigos que deixara no Brasil para correr atrás de seu sonho, ao único homem que amou verdadeiramente e que no fim a quebrou ainda mais que os anteriores. Dessa vez, os pedaços não seriam recuperados. Uma última composição rondava sua cabeça, a melodia forte e impetuosa, a letra frágil, triste, quebrada, apenas umas frases... Uma composição que nunca teria o privilégio de executar.
Você tinha que fazer isso?
Eu pensava que você poderia ser confiável...
Você tinha que arruinar o que estava brilhando? Agora está tudo enferrujado
Você tinha que me atingir onde eu estava vulnerável? Baby, eu não conseguia respirar
Me esfreguei tão profundamente
Sal na ferida como se você estivesse rindo diretamente para mim...
Oh, é tão triste
Pensar sobre os bons momentos
Você e eu...
Você achou que tudo isso passaria?
Todas essas coisas vão manchar você
E o tempo pode curar, mas isso não vai
Oh, é tão triste
Pensar sobre os bons momentos
Você e eu...
Band-aids não curam buracos de bala
Se você vive assim, você vive com fantasmas
Se você ama desse jeito, sangue corre frio
Porque, baby, você tem um sangue ruim
Você sabe, isso costumava ser um amor louco
Dê uma olhada no que você fez
Baby, agora você tem sangue ruim, hey
Agora temos problemas
E eu não acho que nós podemos resolvê-los
Você fez um corte muito profundo...
É tão triste pensar sobre os bons momentos
Você e eu.. .
Quatro meses antes.
deslizava os dedos pelas teclas com a facilidade com que uma criança rabiscaria um desenho. Seus dedos finos e longos acariciavam o branco e preto do teclado, fazendo as cordas do grande piano branco à sua frente vibrarem com a intensidade dos toques. Suas mãos batiam nas teclas com agilidade e destreza, fazendo as costas curvarem-se para frente. Sua expressão era suave, mas concentrada. A melodia preenchia o teatro onde se apresentava, o público que ali prestigiava seu talento não desviava os olhos da mulher no palco. Seu cabelo caía em ondulações pelas costas nuas, o corpo curvilíneo estava envolto em um belíssimo vestido de cor preta, desenhado por algum grande estilista renomado. Algumas mulheres na plateia derramavam tímidas lágrimas acompanhando toda emoção e sentimento que transmitia através das notas. E então ela começou a cantar. Sua voz se fazia suave e firme ao mesmo tempo, alcançando notas tanto de soprano quanto de contralto.
era uma pianista conhecida mundialmente por seu talento. Nascida no Brasil, estuda piano desde os seis anos em conservatórios. Aos dezesseis, mudou-se para a França a fim de melhorar sua técnica; aos vintes já era considerada pianista profissional. Tocou em várias orquestras ao redor do mundo e, aos vinte e cinco, ficou conhecida como “uma das maiores pianistas de todos os tempos” segundo a revista Billboard. Seu diferencial era compor melodias misturando ritmos e estilos diferenciados; juntava o moderno ao contemporâneo, o clássico ao atual, transpassando um sentimento inexplicável através de suas notas.
Seus concertos nunca estavam vazios, muito pelo contrário, faltavam entradas para muitos deles. Esse não havia sido diferente, estava lotado de apreciadores de sua música; a maioria participante da high society russa. Um, em especial, encontrava-se sentado na última fileira de poltronas do saguão, apreciando o concerto com um brilho diferente dos demais nos olhos. O homem, que trajava um elegante terno Kiton branco, remexia-se inquieto em sua poltrona e não esperou o término da apresentação para retirar-se do teatro, sua raiva crescia adjacente à intensidade do som do piano.
- Pavlov? Ele já chegou? – perguntou com a voz rouca assim que um de seus subordinados atendeu.
- Sim senhor. Ele está o aguardando.
- Ótimo.
Um sorriso sombrio formava-se em seus lábios. Chamou seu motorista, que o levou direto à sua mansão.
- Sinto-me honrado ao recepcioná-lo em minha humilde residência, senhor...
- Vamos direto ao assunto – ordenou o visitante. O homem alisou seu terno branco enquanto convidava-o a sentar-se. – Você deve saber, já que me chamou até aqui, que eu não costumo falhar. Contudo, senhor...
- Sherbítski. – Pronunciou o homem.
- Conhece o ditado “meu jogo, minhas regras”? É assim que eu trabalho. Meu objetivo final será cumprido, mas antes de tal ato, preciso analisar nosso “cliente”. Ter um tempo para conhecer sua rotina, horários e compromissos. Dentro de seis meses seu desejo será realizado, senhor Sherbítsky.
- Seis meses?! É muito tempo! – reclamou o velho.
- É o tempo que acho necessário. Pode ser menos, mas nunca excede o prazo.
- Bom, acho que dessa vez você não terá dificuldades em conhecer a rotina de nosso alvo... Ele é uma figura um tanto pública, entende? – Sherbítsky sorria ao entregar uma folha sulfite contendo o nome, idade e foto de seu alvo ao rapaz, enquanto este observava a folha já em mãos com seriedade.
- Isso é algum tipo de piada? – perguntou – Isto é um tanto arriscado. Eu cobraria o dobro pelo serviço.
- Estou disposto a pagar o triplo, se você desejar.
-Essa situação é um tanto peculiar... Posso perguntar o que o levou a me chamar?
- Meus motivos não te interessam, apenas meu dinheiro.
-Uma vez que fecharmos o acordo, eu não volto atrás, Sherbítsky.
- Eu também não. Fechado?
O rapaz olhou novamente a folha em suas mãos e depois para o homem à sua frente.
- Fechado. – concluiu, apertando a mão direita de Yvon Sherbítsky. O rapaz saiu acompanhado de um dos serviçais de Yvon, carregando o papel em uma das mãos. Na foto, o cabelo bagunçado pelo vento rodeava o rosto jovem e risonho de .
Los Angeles, EUA
Três meses antes.
Rolei mais uma vez pela cama, dando de cara com o relógio que marcava 03h:47m da madrugada. Bufei. Como eu odeio Jet lag! Duas semanas na Rússia e foi o suficiente para não conseguir dormir quando volto para casa. Para ajudar, meu estômago está roncando desde a hora em que deitei e não há nada que me interesse em casa. Suspirei frustrada, talvez depois de comer algo o sono venha. Troquei de roupa e saí de meu apartamento, torcendo para que a cafeteria da rua de baixo estivesse aberta. Caminhei cantarolando uma nova composição, irritada com o fato de não conseguir sair do lugar há dias. Senhoras e senhores, está sofrendo um bloqueio criativo. Ou talvez ela esteja precisando de umas férias, é. Nem tive tempo de pensar no assunto, pois assim que virei a esquina, algo me jogou ao chão.
- Oh, me desculpe! Eu sinto muito! – Escutei, enquanto um par de mãos fortes ajudavam-me a levantar.
Estava a ponto de cobri-lo de xingamentos quando meus olhos se cruzaram com os do ser que me derrubara. , brilhantes, rodeados por pequenas rugas de preocupação. Eu poderia me perder naqueles olhos para sempre.
– Você está bem? – perguntou com a voz ligeiramente rouca, e percebi que seus braços ainda me cercavam. Nossa proximidade me proporcionava o aroma do perfume adocicado que ele usava. Seus ombros eram largos, de porte atlético, era uns quinze centímetros mais alto do que eu. Tudo nele parecia em perfeita sintonia, tudo nele era perfeito. Meu estômago roncou tirando-me do transe e fazendo-me encarar novamente seus olhos, que agora me observavam curiosos.
- S-sim. Não foi nada, eu só levei um susto. – Sorri. O rapaz retirou suas mãos quentes de meus braços e tive que conter o impulso de colocá-las ali novamente.
- Me desculpe, - falou, brevemente envergonhado – eu estava distraído com o celular, e...
- Sem problemas, sério. Foi apenas um tombo, acho que não quebrei nada.
Ele riu. Ponto para mim!
- Então... O que uma jovem bonita como você faz na rua a essa hora? – Olhou-me inquistivo, com uma sobrancelha arqueada. Foi a minha vez de rir.
- Eu não estava conseguindo dormir e estou morrendo de fome. Como eu cheguei de viagem ontem, não tenho nada em casa que me encha os olhos, então resolvi sair e ver se encontro a cafeteria da rua de baixo aberta.
- Oh, então é meu dia de sorte! Se importa se eu for com você? Sou novo na cidade, não conheço lugar nenhum e também não tenho nada em casa. Prometo não incomodar.
- Hmm, tenho que pensar um pouco, afinal, você acabou de me jogar no chão sem motivo aparente.
- Eu sei, me desculpe por isso. Mas eu sou legal. Juro. – ele sorriu, envergonhado. – A propósito, meu nome é . .
- , muito prazer. Sobrenome diferente...
- Venho da Itália. Agora... Meu estômago não perdoa. Posso lhe fazer companhia durante a caminhada? Prometo que ao chegar lá eu me afasto o mais longe de você, se quiser.
- Ora, não será preciso! Seria ótimo uma companhia para este lanche da madrugada.
Sorri simpaticamente para , que fez um gesto em agradecimento. Começamos a caminhar em direção à cafeteria, enquanto conversávamos sobre assuntos aleatórios. - Engraçado, você me parece familiar... – revelou após uma mordida em seu muffin, quando já estávamos acomodados com nossos lanches.
- Sério? Quem será? – questionei, pensando se ele me reconheceria.
- Agora não consigo lembrar, mas sei que já te vi em alguma revista. Ou alguém muito parecida com você.
- Talvez você esteja me confundindo com outra mulher.
- Talvez... – concordou, olhando-me desconfiado.
O resto da madrugada passou voando, levando consigo a fome e também o sono. fazia-me rir a todo momento e parecia divertir-se tanto quanto eu. Sua companhia era deliciosa. Se eu não tivesse saído nesta madrugada, talvez nunca esbarrasse com . Seus olhos, os lábios bem desenhados, a gargalhada, o cabelo bagunçado, suas mãos, tudo nele era perfeito.
Los Angeles, EUA
Dois meses antes.
Meus olhos ardiam com a claridade que entrava através da janela. Não me lembro de não ter fechado as cortinas... Aliás, não me lembro de nenhum detalhe alheio que não fosse o corpo de sobre o meu na noite passada. Sorri, ainda de olhos fechados, inalando seu perfume impregnado nos lençóis. Levantei-me e vesti um hobby ao perceber que não estava mais na cama. Passei no banheiro para lavar o rosto e desci rumo ao primeiro andar, que exalava um forte aroma de café e algo mais doce. Cheguei à cozinha com um sorriso de orelha a orelha ao vê-lo de costas para mim, preparando nosso café da manhã, sem camisa e vestindo apenas sua boxer. Não tem como não se apaixonar. Suspirei, encantada, ao mesmo tempo em que se virava, dando de cara comigo escorada na bancada da cozinha.
- ! O que está fazendo aqui? – exclamou surpreso. – Droga, você estragou tudo!
- Estraguei o quê? – perguntei, enquanto ele colocava dois waffles em um prato.
- A surpresa, oras!
- Ah, era surpresa? Pois saiba que eu fui realmente surpreendida ao descer e me deparar com você cozinhando.
aproximou-se, coloquei os braços em seus ombros, na mesma hora em que ele me abraçava.
- Agora trate de voltar lá para cima e fingir que ainda não sabe o que estou fazendo aqui.
me empurrou para o quarto novamente, ignorando meus protestos. Já no andar de cima, aproveitei para dar uma checada em minha imagem refletida no espelho. Alguns minutos mais tarde subia com nosso café.
- Não acredito! – fiz ar de surpresa. Ele olhou-me confuso.
- O que aconteceu?
- Você fez nosso café da manhã! E ainda trouxe na cama! – exclamei, tendo o olhar mais confuso e intrigado de como resposta. Gargalhei de sua expressão. – Ué, não era pra fingir que eu não sabia de nada?
- Ahhh! – seus ombros relaxaram e abriu um sorriso. – Achei que estivesse ficando louca! Vem, vamos comer.
Sentamos na cama e começamos a comer e a conversar descontraidamente. Comecei a observar tudo: seus movimentos, seus olhos, o sorriso, o jeito que suas sobrancelhas mexiam conforme suas expressões, o café que ele havia preparado. Algo novo manifestava-se dentro de mim. Algo quente, suave. Parecia que tudo ali estava completo.
- Pensando na morte da bezerra? – tirou-me de meu devaneio. Percebi que ainda segurava um pedaço de melão e que o rapaz me olhava intensamente.
- Desculpa. Estava viajando.
-Percebi. Pensando em quê?
- Na verdade... Sei que ainda é cedo, mas eu estava pensando em nós. – sorri nervosa.
- Nós? Como assim?
- É, tipo, no que a gente ‘tá fazendo, sabe? Em pouco tempo nós nos tornamos bem... Íntimos. – pousou sua xícara na bandeja, e eu fiquei com medo de ter estragado nossa manhã. – Na verdade eu pensava mais sobre o fato de que você sabe tudo sobre mim, mas eu não sei quase nada sobre você!
- Você sabe tudo o que tem pra saber. Meu nome, de onde eu vim, no que trabalho... Minha vida não é muito interessante.
- Você sabe que não foi isso o que eu quis dizer. Se bobear você sabe até com quantos anos eu perdi meu primeiro dente, e o que eu sei sobre você são coisas tão... Superficiais.
- Olha, - afastou a bandeja a fim de sentar-se à minha frente, segurando minhas mãos. – minha família, infância, meu passado, foram um tanto conturbados. Eu saí de Belaggio a fim de deixar tudo para trás e começar uma vida nova. E aí você apareceu, e essa nova vida começou de uma forma totalmente inesperada, mas melhor do que um dia eu imaginei. – sorriu sincero. Sorri em resposta, com o coração acelerado por causa da declaração inesperada de , aproximando-me para beijá-lo.
- Desculpe por estragar nosso café da manhã.
selou nossos lábios novamente.
- Não tem porque pedir desculpas, você não estragou nada. – Sorri agradecida, deitando em seu colo. – Por falar em Bellagio, vou ter que voltar lá daqui a duas semanas. – Levantei bruscamente.
- O quê? Por quê?
- Calma, – gargalhou. – É só para finalizar uma papelada da empresa em que eu trabalhava e transferir meus documentos para cá definitivamente.
- Vai me deixar aqui sozinha? – fiz bico.
- São apenas três dias, no máximo quatro. Nesse tempo você pode pôr suas composições em dia e ajustar sua agenda. Ou vai ficar de férias para sempre?
- Se fosse com você, eu ficaria. – Gargalhei, fazendo-o rir também. beijou-me intensamente, fazendo as borboletas em meu estômago acordarem. Eu me sentia completa.
Sentei-me à frente de meu piano, coberto de poeira por causa do pouco uso durante o último mês. Dedilhei algumas notas aleatórias e lembrei-me de uma música linda e comecei a cantá-la baixinho, mesmo sabendo apenas algumas partes da letra.
Feelings I've never known/Sentimentos que eu nunca conheci
They mean everything/Eles significam tudo
And leave me no choice/E não me deixam escolha
(…)
I'm a lightweight/Eu sou muito leve
Better be careful what you say/Melhor ter cuidado com o que você diz
With every word I'm blown away/A cada palavra eu me desintegro
You're in control of my heart/Você está no controle do meu coração
- Bonita música. - disse de repente, fazendo-me pular com o susto.
- Desde quando você está aí?
- Desde o segundo verso que você cantou, acho. – Levantou-me da banqueta, de relance pude ver suas malas atrás dele.
- Já vai? – perguntei, tentando não transmitir a tristeza que eu sentia.
- Já. Está na hora. – baixei o olhar. – Ei, são apenas alguns dias, lembra? Depois eu estarei de volta para você. disse sorrindo, dando-me um demorado beijo na bochecha.
- Eu sei. É que estou acostumada com você aqui...
- Quando você menos esperar, eu estarei de volta. – juntou nossos lábios, e ali percebi o seu adeus. Pegou suas malas e foi em direção à porta, quando eu o chamei.
- Você está no controle do meu coração, sabia?
nada respondeu, apenas deixou-me um sorriso e um selinho, e saiu porta afora.
Moscou, Capital da Rússia
Um mês antes
- Bom vê-lo novamente, filho. – cumprimentou-o velho.
- Digo o mesmo, Sherbítsky. – respondeu o rapaz, enquanto ocupava uma das poltronas da sala em que se encontravam.
- Como vai o caso? Está demorando...
- Cada coisa tem seu tempo, Yvon. Passaram-se apenas dois meses desde nosso primeiro encontro. Vamos ao que interessa?
- Claro, claro. Mikhail, vá pegar o embrulho que lhe falei.
O robusto homem que se encontrava na porta saiu. O rapaz, sentado à frente de Yvon Sherbítsky, passou a observar a sala: Alguns quadros dispostos em uma parede e, bem no meio da sala, um magnífico piano de cauda branco enfeitava o ambiente.
- Você toca? – perguntou, subitamente curioso, ao observar várias partituras amassadas e rabiscadas em cima do instrumento.
- Tocava. Há alguns anos atrás. Já não tenho coordenação o suficiente. – respondeu Sherbítsky, analisando o rapaz que concordava com um aceno de cabeça.
Mikhail voltou rapidamente à sala, com um pacote em mãos contendo metade do valor que o rapaz receberia pelo serviço.
- Aqui está, meu jovem. Como combinamos, o resto você pega depois... Eu tenho coisas a fazer, então Mikhail o acompanhará até a saída. Adeus. – Sherbítsky deu as costas sem receber resposta, deixando o rapaz com seu serviçal. Mikhail acompanhava-o lado a lado.
- Posso perguntar... O que Yvon tem contra a pianista?
- Creio que não seja da sua conta.
- Entendo... Mas ele era pianista também, não era? – pressionou, recebendo um suspiro por parte de Mikhail.
- Era... Yvon hoje é um pianista frustrado, velho, mesquinho, está ficando louco e não paga os empregados direito. Não gosta de porque ela é tudo o que ele deveria ser, mas não é e nem foi porque não tem talento nenhum pra coisa. Yvon não suporta o fato de ela ser mulher, para resumir, ele a odeia. Sem motivo algum. E como disse, está ficando louco. Eu e outros caras que trabalham comigo tentamos convencê-lo de não fazer isso, não te chamar. Pedimos para ele deixar a garota quieta no canto dela, mas ele é um velho teimoso e podre de rico. Ameaçou nos demitir se não o deixássemos em paz. Ele é, de certa forma, perigoso aqui, sabe? Essa região da Rússia é de onde saem as piores gangues, os piores mafiosos... Yvon já fez muita coisa errada na vida, não é do tipo de pessoa que você quer ter algo contra. Então o deixamos fazer o que quisesse, para não corrermos o risco de morrer a pedido dele também. Aliás... Ele não pediu para matar-nos, pediu?
- Não – respondeu o rapaz, reprimindo o riso.
- Chegamos. Lembre-se, eu não contei nada a você.
- Pode ficar tranquilo, Mikhail, eu não sei de nada.
Los Angeles, EUA
2 horas antes.
era ovacionada por aplausos incessantes. Alguns jogavam rosas no palco, outros gritavam, todos a admiravam. Ela mantinha um sorriso grandioso no rosto, amava o que fazia e amava ser reconhecida por isso. Sentia que sua vida estava encaixando-se. Tinha uma carreira ilustre, uma boa recompensa por seu trabalho, um lar digno e um homem a quem amar também. E era correspondida, sentia isso.
Há anos trabalhando, desde muito nova, sempre sonhou com o dia de seu casamento, com o marido perfeito, sempre pensou na família que montaria e nos filhos que teria. Com o passar do tempo, , atenta demais ao trabalho, não conhecia ninguém e começava a achar que casar não seria para ela. Não encontrava nenhum homem que a amasse, quem sabe constituir uma família e ser mãe não fosse para ela. Ingênua, já deixou muitos quebrarem seu coração em uma única noite. E então apareceu .
era o contrário de todos que ela já havia conhecido e seu coração bateu mais rápido desde a primeira troca de olhares. sentia-se diferente ao seu lado, sentia que era o cara certo. E não poderia estar mais feliz com isso. Retirou-se do palco com um sorriso grandioso e dirigiu-se rapidamente até seu camarim, onde encontrou o celular que apitava com o recebimento de uma nova mensagem:
“Já terminou o concerto? Lembre-se que sempre estarei orgulhoso de você! Aliás, estou te esperando em casa para comemorarmos seu sucesso... Até já ;) Xx.”
Sorriu encantada ao ler a mensagem. Não entendia o porquê de não querer visitá-la nunca em seus concertos ou ser vista com ela na rua. Ele dizia que não queria prejudicar sua carreira e não adiantava dizer o contrário. Também não se preocupava, não queria expor ao mundo. Queria tê-lo apenas para ela.
Trocou-se e dispensou seu motorista, estava tão feliz e a noite tão clara, um clima bom pairava no ar... preferiu ir a pé e chamar um táxi em algum momento. Um calafrio percorreu seu corpo ao passar pela porta de saída do teatro. Ignorou, pensando que nada poderia abatê-la. Começou sua caminhada, mas não demorou a sentir novamente um calafrio e um movimento atrás de si. Virou-se, não encontrou ninguém. Acelerou os passos, já mais atenta e receosa. Curiosamente, as ruas por onde passava estavam desertas. Um prédio irradiava uma forte luz que fez sua sombra aparecer na calçada, junto à sombra de outro alguém alguns metros atrás da sua. não tinha a quem recorrer. Ligou para a fim de pedir ajuda, mas a ligação caía na caixa postal. Uma, duas, três vezes. Caixa postal. Os passos ficaram mais altos e rápidos e começou a correr, amedrontada. Não teve coragem de olhar para trás; poderia estar imaginando coisas, mas tudo o que pensava era chegar em casa em segurança. Ao virar uma esquina, trombou com um homem musculoso, robusto. Levantou-se rapidamente e recomeçou a andar, sem ao menos pedir desculpas, quando dois braços a agarraram por trás e um pano foi levado a seu nariz. Tentou debater-se, mas sentiu seus braços e pernas enfraquecerem e sua visão ficou turva. Dentro de cinco minutos, era carregada na caçamba em uma camionete, desmaiada, a um lugar que nunca havia visitado antes.
Estavam e correndo, alegres, em uma enorme plantação de trigo. Estava um dia lindo, o sol brilhava no céu, e corria em sua direção. Conforme mais próximo ele chegava, mais nitidamente sentia seu perfume. estava mais perto, o perfume mais forte. Mais forte...
- ? – abriu os olhos e deparou-se com a imagem de a sua frente. O perfume forte que sentia em seu sonho, justificou-se ali, espalhado por todo o ambiente em que estavam. tentou levantar-se mas não conseguiu, alguma coisa prendia seus braços atrás da cadeira em que encontrava-se jogada. Seu corpo doía, sua mente estava confusa, fumava a sua frente.
- Desde quando você fuma? , o que está fazendo aqui? – tentou soltar-se, sem sucesso. – , que brincadeira de mal gosto é essa? – gritou, o medo começando a consumi-la.
- É Donatien para você.
- O quê? Do que está falando? , dá pra me soltar? Isso está me machucando.
- Essa é a intenção. – Donatien respondeu, fazendo-a calar-se.
- O que você está fazendo? Cadê o , o que eu conheci?
- Não existe, mi amore. Não se tocou ainda?
- Como assim? Eu não estou entendo, eu...
- Haja paciência com você, hein garota?! Só te aguentei por esse tempo porque a grana não tinha como ser recusada. Tanto dinheiro por uma garota ridícula como você...
- , do que você está falando? Por favor, para com isso.
Donatien revirou os olhos, cansado do joguinho. Tirou a máscara que cobria sua verdadeira face, jogou as lentes de contato e jogou no chão. Estava transformado. Era outra pessoa, era Donatien de verdade. Sentiu vontade de rir da cara que fez. Terror, medo, pavor, tudo era transmitido através de sua expressão facial. Donatien sorriu.
- Sabe, quando Sherbítsky me contratou para fazer esse serviço, eu não entendi o porquê. Por que ele perderia tempo com você? Foi o que eu pensei. Mal sabia eu que você poderia ser tão ingênua, mimada, mesquinha. Só pensa em você mesma. Deixou a fama subir à cabeça. Um rostinho tão bonito...
- Você não está falando sério, está? , eu..
- É Donatien! – gritou.
- Você não pôde me enganar. Por favor, me diga que você não me enganou, não me usou. O que você vai fazer?
- Bom, deixa eu me apresentar primeiro, né? – Donatien sorria de forma irônica. tremia. – Deixa eu ver... Bom, não sou realmente um administrador de empresas, como você pode perceber. Meu trabalho é bem mais complexo. As pessoas me contratam para eliminar outras, entende? Seja por dívidas, ciúmes, inveja, qualquer motivo aparente, realmente não me importa. O que me importa é o que eu vou ganhar com isso, sabe? Dinheiro. Muito dinheiro.
- Você não pode fazer isso. , pense em tudo o que nós tivemos!
- E o que foi que tivemos, garota? Não percebeu ainda? Foi tudo invenção, era tudo coisa da sua cabeça! Eu precisava te analisar de perto, e você foi tão burra... Confiou cegamente em mim desde o primeiro momento. Tudo o que eu precisava fazer... Você se entregou para mim.
- , você não pode fazer isso. – tentava conter as lágrimas que insistiam em sair de seus olhos. Isso era um pesadelo, só podia ser. Não podia estar acontecendo de verdade.
- Já fiz. Você já era.
- O que você vai fazer? – questionou, receosa da resposta.
- A ficha ainda não caiu? – Donatien gargalhou. – Não é óbvio? Vou matar você, meu bem. Foi pra isso que me contrataram. - Observou empalidecer.
- Não. Você não pode, , não... É dinheiro que você quer? É isso? Eu te pago. Eu te pago o dobro do que te ofereceram, por favor... Eu te entrego todos os meus bens, você não pode... – Foi impossível conter as lágrimas. gargalhava de .
- Mesmo que venda sua alma, você não conseguiria pagar-me o dobro do que me ofereceram. Além do mais, eu nunca falho em serviço. Se me contrataram para matá-la, sinto muito. É o meu trabalho. Eu faço o que mandam.
- Então você é um filho da mãe de um pau mandado?
- Olha bem como fala comigo. – interrompeu Donatien, acertando um soco no nariz de .
- Miserável! Você é um ridículo, miserável, filho da mãe!
- Pode gritar, pode xingar, pode espernear o quanto quiser, meu bem. De nada vai adiantar.
- Você não vai sair dessa impune. Não vai. Eu sou famosa, sou rica. Ninguém vai deixar você sair livre dessa, ninguém.
- E quem vai me pegar? não existe. Pouquíssimas pessoas nos viram juntos ou sabiam quem eu era... Você caiu direitinho. Caiu na rede é peixe. – Donatien ria. chorava. Como pôde ser enganada tão cruel e facilmente? Quando achava que sua vida estava perfeita, com tudo se encaixando, veio uma reviravolta e tudo virou de cabeça para baixo.
- Um rosto tão bonito – Donatien passava a mão em .
- Tire as mãos de mim – cuspiu em seu rosto. – Tire as mãos de mim! Nojento! Você é nojento, é desprezível, é... – Interrompeu-se ao receber outro soco. Sentiu o sangue escorrer em seus lábios.
- Chega! Cansei desse teatrinho. Diga adeus a esse mundo, meu bem.
- , Donatien, por favor. Não, não, não... – Donatien carregava a arma bem à frente de , que sacudia-se na cadeira tentando se soltar. – Por favor, não faça isso, por favor...
- Últimas palavras? –Donatien apontou a arma na direção de sua cabeça e a destravou.
- Por favor... Como você pode ser tão horrível? Eu amei você. EU AMO V...
Seu grito foi suprimido pelo barulho maior do tiro. nunca chegou a concluir a frase. Antes de expirar, como que um adeus a sua vida, ao seu lindo piano que nunca mais tocaria, aos seus fãs que não teriam mais um concerto seu para ir, a sua família e amigos que deixara no Brasil para correr atrás de seu sonho, ao único homem que amou verdadeiramente e que no fim a quebrou ainda mais que os anteriores. Dessa vez, os pedaços não seriam recuperados. Uma última composição rondava sua cabeça, a melodia forte e impetuosa, a letra frágil, triste, quebrada, apenas umas frases... Uma composição que nunca teria o privilégio de executar.
Eu pensava que você poderia ser confiável...
Você tinha que arruinar o que estava brilhando? Agora está tudo enferrujado
Você tinha que me atingir onde eu estava vulnerável? Baby, eu não conseguia respirar
Me esfreguei tão profundamente
Sal na ferida como se você estivesse rindo diretamente para mim...
Oh, é tão triste
Pensar sobre os bons momentos
Você e eu...
Você achou que tudo isso passaria?
Todas essas coisas vão manchar você
E o tempo pode curar, mas isso não vai
Oh, é tão triste
Pensar sobre os bons momentos
Você e eu...
Band-aids não curam buracos de bala
Se você vive assim, você vive com fantasmas
Se você ama desse jeito, sangue corre frio
Porque, baby, você tem um sangue ruim
Você sabe, isso costumava ser um amor louco
Dê uma olhada no que você fez
Baby, agora você tem sangue ruim, hey
Agora temos problemas
E eu não acho que nós podemos resolvê-los
Você fez um corte muito profundo...
É tão triste pensar sobre os bons momentos
Você e eu.. .
FIM
Nota da autora: Olaaaá! Consegui terminar a tempo!!!! \o/ (#todascomemoram hahah) Então, como ficou? Olha eu realmente, realmente, realmente espero que tenha alguém tenha gostado.
O primeira idéia do fim não era exatamente essa (tirando a parte da pp morrer, por que sim, eu comecei a história com a intenção de matá-la), mas eu acho que ficou bem legal e a
letra caiu direitinho com o que eu queria. Comentem, por favor!!! Deixem alguma pergunta, crítica, um elogio ou xingamento, algo que me faça saber que alguém chegou até o fim da fic.
Eu sei que ficou curtinha e posso ter deixado a desejar, maaaas... É isso aí. Qualquer coisa me gritem no twitter e não deixem de comentar, por favor <3 Beijos, até a próxima!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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