Capítulo Único
Eu preciso fazer uma confissão muito importante: nunca acreditei em amor à primeira vista.
Sei que é difícil acreditar em mim, principalmente, depois que eu contar a forma vergonhosa com a qual tenho agido. Pensava que só existia na ficção.
Vida real? Que nada!
Era o que eu fervorosamente acreditava, até me apaixonar à primeira vista.
E não, não acontece apenas na ficção! Pausa dramática: tomei mais um gole do meu uísque e me remexi na poltrona desconfortável. Aconteceu! E é algo terrível! Não paro de pensar nela em todos os momentos do meu dia. Venho todas, todas – suspirei cansado e bebi mais um gole da bebida – as noites somente para vê-la. Passo horas sentado nessa poltrona de couro, um copo de uísque na mão e os olhos atentos, uma expressão abobalhada, como Samanta me disse em uma noite que deixei que dançasse para mim, mas sem desviar os olhos do palco à minha frente.
Nos meus trinta e cinco anos de vida, nunca havia acontecido isso. Apaixonei-me uma única vez e fui casado por anos com esse grande amor, até tudo acabar mal. Depois de tudo, decidi apenas deixar a vida tomar o seu rumo enquanto focava na minha carreira e nos momentos de lazer com minha família e amigos.
Tudo estava indo bem até que o destino agiu, literalmente. Tentei disfarçar o olhar bobo enquanto via a mulher rebolar calmamente até o chão e, em seguida, se lançar no pole dance novamente.
Desde que a vi pela primeira vez, tudo mudou.
Além de não sair dos meus pensamentos, Kat – o nome artístico dela, pode ser apelido para Katarina, Katherina, Katia, ou apenas para esconder o fato de ter um nome de batismo engraçado e diferente – me fez sentir falta, perceber que os meus dias eram vazios e sozinhos, mesmo falando com o Jake, meu filho de 7 anos, todas as noites e vendo-o nos fins de semana.
Algo faltava dentro de mim, e esse sentimento explicou tudo: Kat era a última peça que eu havia perdido do meu quebra-cabeças do Star Wars.
Loucura, né? É, eu sei!
Estava ficando louco! Enlouqueci totalmente! E a maior prova disso foi estar frequentando o mesmo clube, todas as noites, há seis meses, apenas para admirar
uma mulher com quem nunca troquei uma palavra. Nunca ouvira o som da sua voz, mas sabia que ela amava dançar. Toda vez que subia no palco e dançava para a plateia, parecia estar longe, mergulhada em outra dimensão. As luzes, as batidas do seu repertório de cada noite, combinavam com ela. Via em seu rosto – não conseguia ver bem, pois a iluminação atrapalhava e a distância também – a felicidade, o prazer ao mexer cada centímetro de seu corpo. A aura envolvente fazia com que todos ficassem parados, os olhos atentos a cada movimento novo.
Podia parecer loucura e o Malcom já tinha dito isso, mas eu sentia como se cada dança, cada noite, fosse especialmente para mim. Como ficava mais afastado, não conseguia ter certeza com tantos homens mais à frente, colados ao palco. Mas eu sentia bem dentro do meu peito.
Ela sabia que eu existia! E isso me consolava, pois nunca tivera coragem de abordá-la. Tinha medo de ser rejeitado, então preferia manter distância, os sentimentos mais doces e profundos guardados para mim. Admitia que o sonho mais frequente era tê-la em meus braços numa bela cerimônia de casamento na praia ao pôr do sol enquanto dançávamos uma música do Ed Sheeran. Depois, nos mudaríamos para o meu apartamento e, no ano seguinte, Jake ganharia um irmãozinho que teria totalmente a beleza dela. Teria os mesmos olhos da cor que ainda não conseguira identificar, o mesmo sorriso largo e bonito, os cabelos escuros. Ele seria a cópia fiel da mãe.
Não falei que estava ficando louco? Eu nunca fui de fantasiar as coisas mas, quando se tratava dela, eu não conseguia evitar. O meu coração apaixonado voava e contaminava a minha mente, a razão me abandonava. Quer dizer, creio que partiu quando a vi.
Infelizmente, as coisas mudaram. Desabafei com o Malcom, Sara – uma dançarina da boate que se tornou uma amiga – e com a minha irmã, Phoebe. Todos me trouxeram a razão. Quer dizer, menos a Sara. Ela insistiu que poderia pedir que Kat dançasse para mim e que, quando isso acontecesse, também se apaixonaria por mim, mas eu não queria que as coisas começassem daquela forma. E por isso, decidi ouvir o outro conselho: me afastar.
Por isso, aquela era minha última noite. Guardaria cada lembrança na minha memória e lembraria apenas antes de dormir, uma forma de consolar o meu pobre e arrasado coração.
Se eu tinha medo de me aproximar e ser rejeitado, então que bem faria continuar vendo-a todas as noites?
Portanto, continuei assistindo-a enquanto meu coração se despedaçava, tentando ao máximo admirar cada segundo para que conseguisse manter cada detalhe vivo em minhas memórias.
xXx
It's a big bad world but I ain't ashamed
É um mundo grande e ruim, mas não estou com vergonha To like the lights in my hand
De gostar das luzes na minha mão
And the beat in my face
E a batida em meu rosto
Um sonho é uma escada, cada degrau é uma meta que deve ser alcançada e que, no final, te faz chegar ao topo e a realização. Pode ser que no final dê tudo certo e o prêmio seja cem por cento do esperado, ou há chance de não ser totalmente o que havia imaginado. O meu maior sonho era ser uma dançarina de sucesso, ser referência na minha maior paixão. Se fosse comparar a minha escada, eu diria que, há anos, estava subindo um prédio de cem andares. Todos os dias, mesmo com as dificuldades, tentava procurar conforto no que eu acreditava e não era fácil. Nem sempre, era capaz de me motivar.
O mundo era muito cruel com os sonhadores, muitos te julgavam e poucos estavam dispostos a acreditar em você. Eu não estava onde gostaria de estar, mas continuava acreditando que o meu dia iria chegar.
Era formada em Inglês, tinha vinte e cinco anos e morava com meus pais – o que eles não cansavam de lembrar. Era professora durante o dia e, à noite, estava no palco, fornecendo outro tipo de entretenimento. No início, não foi fácil me acostumar, mas o dinheiro extra era importante. Não ganhava muito, mas rendia o suficiente para a minha poupança que me levaria para Los Angeles e para muito longe da minha família.
Os dias eram difíceis e as noites também. Tudo mudava por alguns minutos quando estava no palco, absorta na batida da música e nos movimentos do meu próprio corpo. Eu esquecia quem era Flint, os problemas com meus pais, a falta de dinheiro e até mesmo a luta que enfrentava para realizar o meu sonho.
Naqueles poucos minutos, eu esquecia do mundo e só sentia crescer um sentimento de liberdade que me engolia por inteiro para, no final, me explodir em milhares de cristaizinhos. Era como tomar uma caneca de chocolate quente enquanto que se aconchega embaixo de uma coberta quentinha. Paz, aconchego... Eu me sentia em casa, o meu lar. Isso era a dança para mim, independente do local em que me apresentasse ou para que tipos de pessoas.
A dança era e sempre seria o meu verdadeiro lar, a minha família. Ela não me julgava, não me prendia, não me desanimava, apenas me erguia, me ensinava a ser mais forte e a ter mais força para lutar, para seguir.
O sentimento era viciante e só me fazia desejar mais e mais. Eu não tinha vergonha de viver da dança.
Não, eu realmente não tinha.
xXx
– O que houve, Kat? – Sara apareceu no camarim com uma expressão preocupada.
Apoiou-se na bancada da longa penteadeira, repleta de maquiagens e acessórios das meninas que trabalhavam no clube.
A dor de cabeça voltou a me incomodar e comecei a massagear minhas têmporas enquanto caía sentada numa cadeira com estampa de zebra.
O lugar estava repleto de roupas brilhantes, lingeries e maquiagem. Todas as noites, as meninas passavam horas se preparando para mais um dia de trabalho no clube do Joe, a boate mais famosa de Seattle.
– Eles descobriram. – Revelei num sussurro enquanto o peso da verdade caía em meus ombros.
Há seis meses, escondia dos meus pais e amigos que dançava em um clube todas as noites. Mentia que estava na pós-graduação mas, na verdade, estava conseguindo dinheiro para ir embora e lutar pelo meu sonho. Eu fiz tudo – exatamente tudo – que os meus pais queriam. Eu me formei e tinha um emprego decente, mas não era a vida que sonhei para mim. Eu amava dançar, o meu maior sonho sempre foi viver da minha dança e, se continuasse mentindo para mim, iria ser infeliz até os meus últimos dias.
Sara apagou o cigarro no cinzeiro e soltou uma baforada enquanto se envolvia num robe rosa chiclete. Cobriu a lingerie vermelha brilhante que usava naquela noite, o rosto jovem e loiro coberto por uma maquiagem impecavelmente aplicada.
Agachou-se na minha frente e me encarou com olhos tristes.
– Sinto muito. – Segurou minhas mãos e apertou-as, me proporcionando consolo.
Eu gostava muito dela e de nossa amizade. Até propus que fosse embora comigo, mas ela tinha uma mãe doente em casa para cuidar e não a poderia deixar.
Encarei o teto sem piscar, uma tentativa de evitar as lágrimas que já enchiam os meus olhos. Não iria borrar minha maquiagem e nem continuar chorando. Se o meu maldito vizinho tivesse mantido a boca fechada, nada daquilo teria acontecido.
Charles me viu na noite passada e, quando me neguei a dançar em particular, se vingou de forma muito cruel. Contou aos meus pais sobre mim e eles surtaram. Minha mãe só sabia chorar e meu pai não deixou me explicar, mandou que pegasse minhas roupas e saísse. Não quiseram me ouvir – a vida inteira, foi assim –, não me deixaram explicar como me sentia e o motivo do que fazia. Para eles, foi fácil me mandar embora e fingir que nunca tiveram uma filha.
Não tinha onde dormir e as minhas economias teriam que ser usadas para a minha sobrevivência. E teria que ir muito mais além, até mesmo aceitar fazer danças particulares.
– Você pode ficar lá em casa. – Vi o seu olhar para a mala no canto.
Olhei-a seriamente.
– Não quero ser mais uma preocupação para você. Ela sorriu gentilmente.
– Você não é, pelo contrário. Vai ser muito divertido ter uma colega de quarto. – Riu, mas a expressão logo se tornou séria. – Agora, mais do que nunca, precisa fazer dinheiro e partir.
Confirmei com um gesto de cabeça.
– Vou aceitar as danças.
– Logo, você se acostuma. E tem uns gatinhos… – Revirou os olhos. – Mas também tem os detestáveis. Só precisa ficar esperta e tudo vai dar certo. – Aconselhou.
– Obrigada, Sara. Muito obrigada. – Tentei transmitir toda a minha gratidão através daquele abraço apertado enquanto sentia o perfume doce. – Sou muito grata pela nossa amizade.
Ela se afastou e levantou, acendeu outro cigarro e sorriu enquanto soltava mais fumaça.
– Você pode começar pelo o seu admirador. – Abriu um sorriso divertido. Revirei os olhos, irritada.
Desde a minha primeira noite, um cara assistia o meu show com um olhar esquisito. Todas as noites, sentava no mesmo lugar enquanto tomava um uísque e assistia somente ao meu show. A atitude dele me deixava preocupada e, por isso, ia embora sempre com medo de ser seguida. Sabia que muitos homens não nutriam respeito por nós, pela nossa profissão e, por isso, se tornava perigoso estar sozinha com eles. Saber que um deles tinha interesse em mim me dava medo, mesmo que
Sara jurasse de pés juntos que o cara era gente boa.
– Ah, não quero dar ideia. – Soltei um suspiro cansado enquanto conferia se a maquiagem continuava intacta o suficiente para disfarçar minha cara de choro.
– Ele está totalmente na sua. Toda vez que você sobe ao palco, ele fica com cara de idiota apaixonado. – O tom dela mudou e me chamou a atenção, fazendo com que a encarasse.
Franzi a testa.
– Você gosta dele. – Abri um sorriso divertido e cruzei os braços.
Ela riu divertida e voltou a tragar o cigarro. Peguei da sua mão e fumei, devolvendo.
– Não, Kat. – Os olhos se tornaram doces, parecendo se recordar de algo. – Ele só tem olhos para você. Como ele disse, somos apenas amigos.
Não consegui evitar rir.
– Vocês se tornaram amigos? Na boate? Ela me encarou, ofendida.
– Qual o problema nisso? Dei de ombros, sem graça.
– Você sabe o que eles procuram vindo aqui… Ela soltou um suspiro cansado.
– Não sou boba, Kat. Sei muito bem. – Apagou o cigarro e me encarou com o olhar duro. – Os homens vêm até aqui com o mesmo desejo, mas alguns são bons o suficiente para nos tratarem com respeito. Poucos nos olham como mulheres e não nos julgam sobre o que fazemos aqui, e isso é bom.
– Desculpa.
Ela fez um gesto de pouco caso e despiu o robe, jogando em uma cadeira.
– Relaxa. – Parou ao meu lado e me deu um beijo na bochecha. – Dá uma chance! Vai que… – Deu de ombros e saiu com um sorriso divertido no rosto.
xXx
B-b-b-beat in my face
Ba-ba-batida em meu rosto
B-b-b-beat in my face
Ba-ba-batida em meu rosto
I like the lights in my hand
Eu gosto das luzes na minha mão
And the beat in my face
E a batida em meu rosto
Não foi como todas as noites. Quando subi ao palco, minha mente e meu corpo não entraram em harmonia, não consegui mergulhar nos sentimentos que a dança me
trazia. Meu olhos permaneceram abertos, pude ver os olhares cobiçosos – que eu costumava ignorar –, mas também vi um que se destacava. Nele, não tinha luxúria mas, sim, um sentimento mais doce que não pude definir. Pela primeira vez, senti alívio ao terminar a dança. Ignorei todos e desci do palco com um único desejo: beber.
Precisava de algo forte que me fizesse esquecer os meus medos, as dúvidas e as lembranças das palavras dos meus pais. O meu coração foi ferido e eu me sentia sozinha. Estava só naquele mundo cruel, à mercê das minhas próprias escolhas.
Pedi um drink com dose extra de vodka. No primeiro gole, fiz careta e soltei o ar dos pulmões. Meus pés estavam doloridos pelo salto, então me sentei no banquinho e tirei-os do pés. Cobri o rosto com as mãos e os olhos arderam.
O que seria de mim? E se estivesse perdendo o meu tempo com um sonho que não se tornaria realidade? Por mais que realizasse-o, os meus pais voltariam atrás? Eram tantos questionamentos que minha mente parecia preste a explodir.
Queria fechar os olhos e, quando abrisse, descobrir que tudo estava no devido lugar. Abandonaria as mágoas dos meus pais, eles também, e ainda seria uma dançarina de sucesso.
E somente por isso, fechei os olhos.
Quando abri, continuava na mesma boate e ainda renegada pelos meus pais. Entretanto, havia uma coisa diferente. Chamou a minha atenção, fazendo com que o encarasse.
O mesmo homem que me assistia todas as noites estava em pé ao meu lado e, por mais que tentasse disfarçar, era perceptível o desejo de falar comigo. Olhei o seu rosto moreno com atenção e fiquei em dúvida sobre suas reais intenções. Seria ele realmente uma boa pessoa?
– Noite difícil?
A voz masculina e hesitante me despertou das preocupações. Dei de ombros e tomei mais da minha bebida.
– Deu para perceber…
Tive que olhá-lo surpresa.
– Como assim?
Ele deu de ombros e agradeceu o garçom, pegando o cartão de crédito de volta. Colocou as mãos no bolso e sorriu, tímido.
– Você estava parecendo perturbada e dançou o tempo todo sem parecer estar rolando na neve.
Continuei confusa com o comentário.
– Rolando na neve?
– É! – Deu de ombros e sorriu sem graça. – Rolar na neve é algo que me traz paz e me diverte. Por isso, sempre penso dessa forma. Você não parecia estar na mesma vibe de todas as noites, parecendo estar em outra dimensão.
Minha expressão não estava das melhores, mesmo que estivesse apenas surpresa com o comentário do homem. Ele pareceu ficar preocupado e, até mesmo, arrependido.
– Olha, me desculpa…
Eu o interrompi e sorri, divertida.
– Não precisa se desculpar. Afinal, você já deve conhecer cada careta minha. – Brinquei.
Ele ficou com uma cara de espanto.
– Olha, não é… Quer dizer, eu…
– Relaxa! – Ri. – Estava apenas brincando.
Soltou um suspiro aliviado e coçou a testa, um sorriso tímido.
Cheguei à conclusão de que valia a pena ao menos conversar com ele, deixar de lado o medo de ser um stalker, serial killer e dar apenas uma oportunidade. Por
isso, estendi a minha mão e, de forma automática, disse o meu nome verdadeiro.
– .
Ele fez uma expressão tão esquisita que quase cogitei me afastar, até que pareceu acordar para a realidade e apertou a minha mão. Logo, senti que a dele estava fria e úmida. Ou seja, o homem estava apenas nervoso por falar comigo. Sorri divertida e me esforcei para não rir.
– Eu sabia! – Ele soltou a mão e passou-a pelo rosto, um sorriso empolgado enquanto ria brevemente.
– O que foi? – Franzi a testa enquanto tentava acreditar que não era louco, tirando o fato de vê-lo todas as noites durante as minhas apresentações e saber por Sara que o homem à minha frente nutria sentimentos por mim.
Que loucura!
– Você não tem cara de Kat.
Dei de ombros enquanto bebia o último gole do meu drink. Coloquei o copo no balcão e o encarei.
– Não podia usar meu nome verdadeiro por motivos óbvios.
Ele assumiu uma expressão compreensiva e dirigiu a mão até a minha, que descansava no balcão, mas pareceu desistir e escondeu no bolso. Abriu um sorriso divertido.
– Quem precisa de um nome? – Deu de ombros, rindo. – Me chame de Ricky.
– Você não tem cara de Ricky. – Brinquei.
Ele riu, um som alto e divertido.
– Eu sei! Que homem não gostaria de ter a mesma beleza do Ricky Martin? – Riu mais uma vez. – No entanto, vou me conformar em apenas carregar o mesmo branco dos olhos e o nome. – Piscou, divertido.
Não consegui segurar minha gargalhada. Aquele homem havia sido o melhor acontecimento daquela noite e torcia para não se arrepender de minha decisão.
– Então... Se chama Ricky?
Eu ri ao ver o forçado bico de desapontamento, o que tornava-o fofo.
– Não. – Suspirou dramático. – Infelizmente, me chamo .
Sei que é difícil acreditar em mim, principalmente, depois que eu contar a forma vergonhosa com a qual tenho agido. Pensava que só existia na ficção.
Vida real? Que nada!
Era o que eu fervorosamente acreditava, até me apaixonar à primeira vista.
E não, não acontece apenas na ficção! Pausa dramática: tomei mais um gole do meu uísque e me remexi na poltrona desconfortável. Aconteceu! E é algo terrível! Não paro de pensar nela em todos os momentos do meu dia. Venho todas, todas – suspirei cansado e bebi mais um gole da bebida – as noites somente para vê-la. Passo horas sentado nessa poltrona de couro, um copo de uísque na mão e os olhos atentos, uma expressão abobalhada, como Samanta me disse em uma noite que deixei que dançasse para mim, mas sem desviar os olhos do palco à minha frente.
Nos meus trinta e cinco anos de vida, nunca havia acontecido isso. Apaixonei-me uma única vez e fui casado por anos com esse grande amor, até tudo acabar mal. Depois de tudo, decidi apenas deixar a vida tomar o seu rumo enquanto focava na minha carreira e nos momentos de lazer com minha família e amigos.
Tudo estava indo bem até que o destino agiu, literalmente. Tentei disfarçar o olhar bobo enquanto via a mulher rebolar calmamente até o chão e, em seguida, se lançar no pole dance novamente.
Desde que a vi pela primeira vez, tudo mudou.
Além de não sair dos meus pensamentos, Kat – o nome artístico dela, pode ser apelido para Katarina, Katherina, Katia, ou apenas para esconder o fato de ter um nome de batismo engraçado e diferente – me fez sentir falta, perceber que os meus dias eram vazios e sozinhos, mesmo falando com o Jake, meu filho de 7 anos, todas as noites e vendo-o nos fins de semana.
Algo faltava dentro de mim, e esse sentimento explicou tudo: Kat era a última peça que eu havia perdido do meu quebra-cabeças do Star Wars.
Loucura, né? É, eu sei!
Estava ficando louco! Enlouqueci totalmente! E a maior prova disso foi estar frequentando o mesmo clube, todas as noites, há seis meses, apenas para admirar
uma mulher com quem nunca troquei uma palavra. Nunca ouvira o som da sua voz, mas sabia que ela amava dançar. Toda vez que subia no palco e dançava para a plateia, parecia estar longe, mergulhada em outra dimensão. As luzes, as batidas do seu repertório de cada noite, combinavam com ela. Via em seu rosto – não conseguia ver bem, pois a iluminação atrapalhava e a distância também – a felicidade, o prazer ao mexer cada centímetro de seu corpo. A aura envolvente fazia com que todos ficassem parados, os olhos atentos a cada movimento novo.
Podia parecer loucura e o Malcom já tinha dito isso, mas eu sentia como se cada dança, cada noite, fosse especialmente para mim. Como ficava mais afastado, não conseguia ter certeza com tantos homens mais à frente, colados ao palco. Mas eu sentia bem dentro do meu peito.
Ela sabia que eu existia! E isso me consolava, pois nunca tivera coragem de abordá-la. Tinha medo de ser rejeitado, então preferia manter distância, os sentimentos mais doces e profundos guardados para mim. Admitia que o sonho mais frequente era tê-la em meus braços numa bela cerimônia de casamento na praia ao pôr do sol enquanto dançávamos uma música do Ed Sheeran. Depois, nos mudaríamos para o meu apartamento e, no ano seguinte, Jake ganharia um irmãozinho que teria totalmente a beleza dela. Teria os mesmos olhos da cor que ainda não conseguira identificar, o mesmo sorriso largo e bonito, os cabelos escuros. Ele seria a cópia fiel da mãe.
Não falei que estava ficando louco? Eu nunca fui de fantasiar as coisas mas, quando se tratava dela, eu não conseguia evitar. O meu coração apaixonado voava e contaminava a minha mente, a razão me abandonava. Quer dizer, creio que partiu quando a vi.
Infelizmente, as coisas mudaram. Desabafei com o Malcom, Sara – uma dançarina da boate que se tornou uma amiga – e com a minha irmã, Phoebe. Todos me trouxeram a razão. Quer dizer, menos a Sara. Ela insistiu que poderia pedir que Kat dançasse para mim e que, quando isso acontecesse, também se apaixonaria por mim, mas eu não queria que as coisas começassem daquela forma. E por isso, decidi ouvir o outro conselho: me afastar.
Por isso, aquela era minha última noite. Guardaria cada lembrança na minha memória e lembraria apenas antes de dormir, uma forma de consolar o meu pobre e arrasado coração.
Se eu tinha medo de me aproximar e ser rejeitado, então que bem faria continuar vendo-a todas as noites?
Portanto, continuei assistindo-a enquanto meu coração se despedaçava, tentando ao máximo admirar cada segundo para que conseguisse manter cada detalhe vivo em minhas memórias.
É um mundo grande e ruim, mas não estou com vergonha To like the lights in my hand
De gostar das luzes na minha mão
And the beat in my face
E a batida em meu rosto
Um sonho é uma escada, cada degrau é uma meta que deve ser alcançada e que, no final, te faz chegar ao topo e a realização. Pode ser que no final dê tudo certo e o prêmio seja cem por cento do esperado, ou há chance de não ser totalmente o que havia imaginado. O meu maior sonho era ser uma dançarina de sucesso, ser referência na minha maior paixão. Se fosse comparar a minha escada, eu diria que, há anos, estava subindo um prédio de cem andares. Todos os dias, mesmo com as dificuldades, tentava procurar conforto no que eu acreditava e não era fácil. Nem sempre, era capaz de me motivar.
O mundo era muito cruel com os sonhadores, muitos te julgavam e poucos estavam dispostos a acreditar em você. Eu não estava onde gostaria de estar, mas continuava acreditando que o meu dia iria chegar.
Era formada em Inglês, tinha vinte e cinco anos e morava com meus pais – o que eles não cansavam de lembrar. Era professora durante o dia e, à noite, estava no palco, fornecendo outro tipo de entretenimento. No início, não foi fácil me acostumar, mas o dinheiro extra era importante. Não ganhava muito, mas rendia o suficiente para a minha poupança que me levaria para Los Angeles e para muito longe da minha família.
Os dias eram difíceis e as noites também. Tudo mudava por alguns minutos quando estava no palco, absorta na batida da música e nos movimentos do meu próprio corpo. Eu esquecia quem era Flint, os problemas com meus pais, a falta de dinheiro e até mesmo a luta que enfrentava para realizar o meu sonho.
Naqueles poucos minutos, eu esquecia do mundo e só sentia crescer um sentimento de liberdade que me engolia por inteiro para, no final, me explodir em milhares de cristaizinhos. Era como tomar uma caneca de chocolate quente enquanto que se aconchega embaixo de uma coberta quentinha. Paz, aconchego... Eu me sentia em casa, o meu lar. Isso era a dança para mim, independente do local em que me apresentasse ou para que tipos de pessoas.
A dança era e sempre seria o meu verdadeiro lar, a minha família. Ela não me julgava, não me prendia, não me desanimava, apenas me erguia, me ensinava a ser mais forte e a ter mais força para lutar, para seguir.
O sentimento era viciante e só me fazia desejar mais e mais. Eu não tinha vergonha de viver da dança.
Não, eu realmente não tinha.
– O que houve, Kat? – Sara apareceu no camarim com uma expressão preocupada.
Apoiou-se na bancada da longa penteadeira, repleta de maquiagens e acessórios das meninas que trabalhavam no clube.
A dor de cabeça voltou a me incomodar e comecei a massagear minhas têmporas enquanto caía sentada numa cadeira com estampa de zebra.
O lugar estava repleto de roupas brilhantes, lingeries e maquiagem. Todas as noites, as meninas passavam horas se preparando para mais um dia de trabalho no clube do Joe, a boate mais famosa de Seattle.
– Eles descobriram. – Revelei num sussurro enquanto o peso da verdade caía em meus ombros.
Há seis meses, escondia dos meus pais e amigos que dançava em um clube todas as noites. Mentia que estava na pós-graduação mas, na verdade, estava conseguindo dinheiro para ir embora e lutar pelo meu sonho. Eu fiz tudo – exatamente tudo – que os meus pais queriam. Eu me formei e tinha um emprego decente, mas não era a vida que sonhei para mim. Eu amava dançar, o meu maior sonho sempre foi viver da minha dança e, se continuasse mentindo para mim, iria ser infeliz até os meus últimos dias.
Sara apagou o cigarro no cinzeiro e soltou uma baforada enquanto se envolvia num robe rosa chiclete. Cobriu a lingerie vermelha brilhante que usava naquela noite, o rosto jovem e loiro coberto por uma maquiagem impecavelmente aplicada.
Agachou-se na minha frente e me encarou com olhos tristes.
– Sinto muito. – Segurou minhas mãos e apertou-as, me proporcionando consolo.
Eu gostava muito dela e de nossa amizade. Até propus que fosse embora comigo, mas ela tinha uma mãe doente em casa para cuidar e não a poderia deixar.
Encarei o teto sem piscar, uma tentativa de evitar as lágrimas que já enchiam os meus olhos. Não iria borrar minha maquiagem e nem continuar chorando. Se o meu maldito vizinho tivesse mantido a boca fechada, nada daquilo teria acontecido.
Charles me viu na noite passada e, quando me neguei a dançar em particular, se vingou de forma muito cruel. Contou aos meus pais sobre mim e eles surtaram. Minha mãe só sabia chorar e meu pai não deixou me explicar, mandou que pegasse minhas roupas e saísse. Não quiseram me ouvir – a vida inteira, foi assim –, não me deixaram explicar como me sentia e o motivo do que fazia. Para eles, foi fácil me mandar embora e fingir que nunca tiveram uma filha.
Não tinha onde dormir e as minhas economias teriam que ser usadas para a minha sobrevivência. E teria que ir muito mais além, até mesmo aceitar fazer danças particulares.
– Você pode ficar lá em casa. – Vi o seu olhar para a mala no canto.
Olhei-a seriamente.
– Não quero ser mais uma preocupação para você. Ela sorriu gentilmente.
– Você não é, pelo contrário. Vai ser muito divertido ter uma colega de quarto. – Riu, mas a expressão logo se tornou séria. – Agora, mais do que nunca, precisa fazer dinheiro e partir.
Confirmei com um gesto de cabeça.
– Vou aceitar as danças.
– Logo, você se acostuma. E tem uns gatinhos… – Revirou os olhos. – Mas também tem os detestáveis. Só precisa ficar esperta e tudo vai dar certo. – Aconselhou.
– Obrigada, Sara. Muito obrigada. – Tentei transmitir toda a minha gratidão através daquele abraço apertado enquanto sentia o perfume doce. – Sou muito grata pela nossa amizade.
Ela se afastou e levantou, acendeu outro cigarro e sorriu enquanto soltava mais fumaça.
– Você pode começar pelo o seu admirador. – Abriu um sorriso divertido. Revirei os olhos, irritada.
Desde a minha primeira noite, um cara assistia o meu show com um olhar esquisito. Todas as noites, sentava no mesmo lugar enquanto tomava um uísque e assistia somente ao meu show. A atitude dele me deixava preocupada e, por isso, ia embora sempre com medo de ser seguida. Sabia que muitos homens não nutriam respeito por nós, pela nossa profissão e, por isso, se tornava perigoso estar sozinha com eles. Saber que um deles tinha interesse em mim me dava medo, mesmo que
Sara jurasse de pés juntos que o cara era gente boa.
– Ah, não quero dar ideia. – Soltei um suspiro cansado enquanto conferia se a maquiagem continuava intacta o suficiente para disfarçar minha cara de choro.
– Ele está totalmente na sua. Toda vez que você sobe ao palco, ele fica com cara de idiota apaixonado. – O tom dela mudou e me chamou a atenção, fazendo com que a encarasse.
Franzi a testa.
– Você gosta dele. – Abri um sorriso divertido e cruzei os braços.
Ela riu divertida e voltou a tragar o cigarro. Peguei da sua mão e fumei, devolvendo.
– Não, Kat. – Os olhos se tornaram doces, parecendo se recordar de algo. – Ele só tem olhos para você. Como ele disse, somos apenas amigos.
Não consegui evitar rir.
– Vocês se tornaram amigos? Na boate? Ela me encarou, ofendida.
– Qual o problema nisso? Dei de ombros, sem graça.
– Você sabe o que eles procuram vindo aqui… Ela soltou um suspiro cansado.
– Não sou boba, Kat. Sei muito bem. – Apagou o cigarro e me encarou com o olhar duro. – Os homens vêm até aqui com o mesmo desejo, mas alguns são bons o suficiente para nos tratarem com respeito. Poucos nos olham como mulheres e não nos julgam sobre o que fazemos aqui, e isso é bom.
– Desculpa.
Ela fez um gesto de pouco caso e despiu o robe, jogando em uma cadeira.
– Relaxa. – Parou ao meu lado e me deu um beijo na bochecha. – Dá uma chance! Vai que… – Deu de ombros e saiu com um sorriso divertido no rosto.
Ba-ba-batida em meu rosto
B-b-b-beat in my face
Ba-ba-batida em meu rosto
I like the lights in my hand
Eu gosto das luzes na minha mão
And the beat in my face
E a batida em meu rosto
Não foi como todas as noites. Quando subi ao palco, minha mente e meu corpo não entraram em harmonia, não consegui mergulhar nos sentimentos que a dança me
trazia. Meu olhos permaneceram abertos, pude ver os olhares cobiçosos – que eu costumava ignorar –, mas também vi um que se destacava. Nele, não tinha luxúria mas, sim, um sentimento mais doce que não pude definir. Pela primeira vez, senti alívio ao terminar a dança. Ignorei todos e desci do palco com um único desejo: beber.
Precisava de algo forte que me fizesse esquecer os meus medos, as dúvidas e as lembranças das palavras dos meus pais. O meu coração foi ferido e eu me sentia sozinha. Estava só naquele mundo cruel, à mercê das minhas próprias escolhas.
Pedi um drink com dose extra de vodka. No primeiro gole, fiz careta e soltei o ar dos pulmões. Meus pés estavam doloridos pelo salto, então me sentei no banquinho e tirei-os do pés. Cobri o rosto com as mãos e os olhos arderam.
O que seria de mim? E se estivesse perdendo o meu tempo com um sonho que não se tornaria realidade? Por mais que realizasse-o, os meus pais voltariam atrás? Eram tantos questionamentos que minha mente parecia preste a explodir.
Queria fechar os olhos e, quando abrisse, descobrir que tudo estava no devido lugar. Abandonaria as mágoas dos meus pais, eles também, e ainda seria uma dançarina de sucesso.
E somente por isso, fechei os olhos.
Quando abri, continuava na mesma boate e ainda renegada pelos meus pais. Entretanto, havia uma coisa diferente. Chamou a minha atenção, fazendo com que o encarasse.
O mesmo homem que me assistia todas as noites estava em pé ao meu lado e, por mais que tentasse disfarçar, era perceptível o desejo de falar comigo. Olhei o seu rosto moreno com atenção e fiquei em dúvida sobre suas reais intenções. Seria ele realmente uma boa pessoa?
– Noite difícil?
A voz masculina e hesitante me despertou das preocupações. Dei de ombros e tomei mais da minha bebida.
– Deu para perceber…
Tive que olhá-lo surpresa.
– Como assim?
Ele deu de ombros e agradeceu o garçom, pegando o cartão de crédito de volta. Colocou as mãos no bolso e sorriu, tímido.
– Você estava parecendo perturbada e dançou o tempo todo sem parecer estar rolando na neve.
Continuei confusa com o comentário.
– Rolando na neve?
– É! – Deu de ombros e sorriu sem graça. – Rolar na neve é algo que me traz paz e me diverte. Por isso, sempre penso dessa forma. Você não parecia estar na mesma vibe de todas as noites, parecendo estar em outra dimensão.
Minha expressão não estava das melhores, mesmo que estivesse apenas surpresa com o comentário do homem. Ele pareceu ficar preocupado e, até mesmo, arrependido.
– Olha, me desculpa…
Eu o interrompi e sorri, divertida.
– Não precisa se desculpar. Afinal, você já deve conhecer cada careta minha. – Brinquei.
Ele ficou com uma cara de espanto.
– Olha, não é… Quer dizer, eu…
– Relaxa! – Ri. – Estava apenas brincando.
Soltou um suspiro aliviado e coçou a testa, um sorriso tímido.
Cheguei à conclusão de que valia a pena ao menos conversar com ele, deixar de lado o medo de ser um stalker, serial killer e dar apenas uma oportunidade. Por
isso, estendi a minha mão e, de forma automática, disse o meu nome verdadeiro.
– .
Ele fez uma expressão tão esquisita que quase cogitei me afastar, até que pareceu acordar para a realidade e apertou a minha mão. Logo, senti que a dele estava fria e úmida. Ou seja, o homem estava apenas nervoso por falar comigo. Sorri divertida e me esforcei para não rir.
– Eu sabia! – Ele soltou a mão e passou-a pelo rosto, um sorriso empolgado enquanto ria brevemente.
– O que foi? – Franzi a testa enquanto tentava acreditar que não era louco, tirando o fato de vê-lo todas as noites durante as minhas apresentações e saber por Sara que o homem à minha frente nutria sentimentos por mim.
Que loucura!
– Você não tem cara de Kat.
Dei de ombros enquanto bebia o último gole do meu drink. Coloquei o copo no balcão e o encarei.
– Não podia usar meu nome verdadeiro por motivos óbvios.
Ele assumiu uma expressão compreensiva e dirigiu a mão até a minha, que descansava no balcão, mas pareceu desistir e escondeu no bolso. Abriu um sorriso divertido.
– Quem precisa de um nome? – Deu de ombros, rindo. – Me chame de Ricky.
– Você não tem cara de Ricky. – Brinquei.
Ele riu, um som alto e divertido.
– Eu sei! Que homem não gostaria de ter a mesma beleza do Ricky Martin? – Riu mais uma vez. – No entanto, vou me conformar em apenas carregar o mesmo branco dos olhos e o nome. – Piscou, divertido.
Não consegui segurar minha gargalhada. Aquele homem havia sido o melhor acontecimento daquela noite e torcia para não se arrepender de minha decisão.
– Então... Se chama Ricky?
Eu ri ao ver o forçado bico de desapontamento, o que tornava-o fofo.
– Não. – Suspirou dramático. – Infelizmente, me chamo .
Fim.
Nota da autora: Sem nota.
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05 - Come Back Home [Ficstape Calum Scott/Finalizada]
08 - Crushcrushcrush [ Ficstape Paramore/ Finalizada]
01 - Raindrops (An angel cried) [Ficstape #169 - Ariana Grande: Sweetener]
03 - The light is coming [Ficstape #169 - Ariana Grande: Sweetener]
05 - When It Rains [Ficstape Paramore/Finalizada]
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