Capítulo Único
Novembro de 2006.
tinha nove anos. Seu vizinho era seu melhor amigo, uma vez que seus pais eram ex-colegas de faculdade e, assim que descobriram que iriam morar na mesma cidade, concordaram que morar perto seria mais interessante, ainda mais com filhos da mesma da mesma idade. Morar em uma cidade tão grande quanto Londres poderia ser solitário por vezes.
Seu vizinho era ninguém menos que Tom Holland, que naquela época tinha apenas dez anos e ainda nem imaginava que pretendia ser um ator quando mais velho, embora o menino sonhasse com aquilo de vez em quando, especialmente quando via seus desenhos de heróis. apenas ria e dizia que iria querer ser convidada para as premières. Ele concordava, pois, seu outro sonho, mesmo sendo uma criança, era que a amiga nunca saísse do seu lado. Ninguém no mundo diria que os dois traçariam caminhos diferentes quando mais velhos, pois não havia amizade mais sincera que aquela.
Contudo, certa vez, na casa da família houve um jantar e, obviamente, os vizinhos foram convidados. Enquanto os adultos estavam sentados na mesa comendo, as duas crianças estavam na sala, assistindo um filme qualquer – o qual eles nem prestavam atenção direito, devido a conversa animada em que se encontravam.
Os dois olharam para televisão quando o casal do filme se beijaram e ambos fizeram uma careta e caíram na risada. “Beijar é tão nojento. Eu não quero fazer isso”, Tom comentou entre risos. apenas balançou os ombros e abriu um sorriso sonhador. “Eu acho bonitinho, ainda mais quando se gosta da pessoa. Igual o papai faz com a mamãe.” Ela disse, com sua voz baixa, mas ainda permitindo que o menino escutasse.
Os dois entraram em um debate enorme sobre a questão do beijo e em meio a brincadeiras, Tom disse que ele gostava de , portanto deveria beija-la. Logo em seguida selou seus lábios nos da menina, que ficou completamente estática com a ação do amigo, sentindo suas bochechas queimarem. Certamente estava ficando vermelha de vergonha.
Os adultos, que viraram no mesmo instante para ver os filhos, acharam a cena muito fofa e comentaram que os dois iriam ficar juntos no futuro. Para eles, não haveria coisa melhor do que isso, já que eram tão amigos. Só oficializariam a junção das duas famílias. Deixaram os filhos perdidos em seus mundinhos e voltaram para suas conversas.
No dia seguinte, fez questão de contar para todas as amiguinhas que havia sido a primeira a dar um beijo, pois todos achavam que Sarah Becker seria quem teria tal “honra”. A menina sempre ia com o cabelo em maria-chiquinha e até mesmo passava batom para ir para escola. achava que Sarah estava tentando crescer rápido demais, assim como todas as meninas de sua sala achavam e esse era o motivo pelo qual Sarah daria o primeiro beijo entre a turma delas.
Presente
Embora hoje os dois seguissem caminhos diferentes, a amizade de com Tom só cresceu conforme os dois amadureciam. se tornou uma jovem muito bonita. Atraía o olhar de todos por onde passava, mas aparentemente não o de quem ela queria. Quem diria que seu melhor amigo seria famoso? Aliás, se alguém falasse para que Tom Holland seria o próximo Homem-Aranha, o herói favorito dela, ela diria que a pessoa enlouqueceu por completo. Porém essa era a verdade da atualidade. Em poucos dias o filme do amigo estaria em cartaz, um novo filme solo do Homem-Aranha, e a garota já havia jurado que iria em todos os cinemas da cidade para ver o longa, que jamais iria enjoar dele. E, enquanto, o sucesso de Tom era através de seu dom de atuar, possuía um canal no YouTube, onde ela falava sobre maquiagem e os novos hits da moda. Seu canal já contava com um milhão e meio de inscritos e tinha uma média de 300 mil visualizações por vídeo, e os números só aumentavam. Ela era muito boa no que fazia e sempre ganhava patrocínio de alguma marca nova para ela poder fazer uma divulgação. Em seu último vídeo, declarou seu amor pelo personagem do melhor amigo, deixando claro que fazia questão de ir prestigiar o filme do amigo quantas vezes fosse possível, e isso não passou batido pela mídia.
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“E aproveitando a deixa, poderia me falar um pouco sobre essa menina?” Ellen DeGeneres perguntou para Tom Holland, que se encontrava no auditório do programa da mulher. Ele havia feito várias entrevistas durante o ano, muitas delas para divulgar seu filme: Spiderman: Homecoming.
A menina em questão era . Ellen projetou no telão uma foto recente dos dois, postada no Instagram do rapaz. Ele tinha um braço na cintura da menina, enquanto ela o beijava na bochecha. Houveram muitos boatos sobre quem ela seria, mas o rapaz não respondeu nada até o momento. Havia um sorriso nada discreto no rosto de Tom e ele deu uma risada leve com a pergunta da apresentadora.
“Essa, Ellen, é minha melhor amiga desde que me entendo por gente. Veja, nós éramos vizinhos quando crianças, e nossos pais se conheceram quando eram mais jovens, muito antes de planejarem em ter a gente. Nós mantemos a amizade e saímos juntos constantemente. Eu diria que ela é minha fã número um...” riu com a resposta do amigo e desligou a televisão.
A youtuber queria continuar assistindo o programa, mesmo que fosse uma reprise da noite anterior, mas estava começando a ficar atrasada para sua aula e ela sabia bem que seu professor não tolerava atrasos. Saiu de casa praticamente correndo, enquanto colocava seu casaco, segurava a bolsa com uma mão e entre os dentes se encontrava uma pasta com seus trabalhos. Qualquer um que a visse naquele momento iria pensar uma única coisa: maluca. E de certa forma a menina era mesmo, mas não ligava. Entrou no primeiro táxi que fez a gentileza de parar e pediu para que o motorista a levasse até Central Saint Marteen, onde ela cursava design de moda.
A aula passou voando, como de costume e quando a menina se deu conta, já estava com seu celular em mãos, digitando uma mensagem para Tom. “Tem um tempinho para tomar café com sua linda e maravilhosa amiga?” anexou na mensagem seguinte o local onde estava e esperou o amigo, que em questão de quinze minutos chegou.
A cafeteria em que se encontraram era em um bairro um pouco afastado do centro, bem discreta e com um movimento baixo de pessoas, perfeito para os dois conseguirem manter uma conversa sem serem atrapalhados. Embora não tivesse nem metade da popularidade de Holland, era parada com certa frequência por adolescente e jovens-adultos que acompanham seu canal.
“Tenho uma notícia para te dar.” A menina soltou assim que a atendente se afastou da mesa deles. O sorriso de orelha a orelha presente nas feições dela indicou ao rapaz que seria algo bom. Com um leve aceno de cabeça, sinal dele para ela prosseguir, ela continuou. “Lembra daquele curso de um ano em que eu me inscrevi em Milão? Aquele que tinha só vinte vagas? Então, eu consegui.” Sem ao menos deixar que o rapaz respondesse, ela voltou a falar. “Irei viajar no final de julho para ver onde vou ficar e começar a me adaptar na nova rotina.”
Tom ficou sem saber o que dizer, apenas levantou de sua cadeira e foi até a amiga para abraça-la. “Vamos comemorar... Não sei se você quis que isso fosse sua comemoração, mas nós iremos jantar. Na minha casa, amanhã e eu cozinho. Mas, por via das dúvidas, esteja preparada para pedir algum delivery.” Deu seu melhor sorriso para amiga e a abraçou novamente, sussurrando em seu ouvido. “Estou muito feliz por você, baixinha.” Assim que se sentaram novamente, convidou Tom para sair com ela e as amigas naquela noite para ir em um Pub, mas o rapaz disse que a responderia mais tarde.
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“Fica para próxima, prometo.” Foi a mensagem que abriu assim que entrou no Pub, que tocava uma música exageradamente alta. A menina não pode deixar de ficar triste, mas estava disposta a curtir pelo menos uma vez. A loira sempre negava os convites das amigas, sempre dizendo que esta indisposta ou com matéria atolada. Porém, a verdade é que ela deixava de sair para ficar um pouco Holland, que de vez em quando aparecia de surpresa em seu apartamento, coisa que ela jamais reclamou.
Guardando o celular bruscamente na bolsa, se dirigiu para o bar onde pediu uma dose de tequila e em seguida um drink grande o suficiente para durar mais que três minutos na mão dela. Ficou sentada no bar, aproveitando sua bebida, enquanto observava as pessoas dançando na pista a sua frente, mas logo foi chamada pelas amigas para se juntar à pista de dança. Não vendo por que não e não querendo ficar amuada em um canto, chateada por ter levado um fora do melhor amigo, ela concordou, e foi se divertir.
Depois de várias doses de algumas bebidas das quais ela não se lembrava dos nomes, a garota se sentou em um banquinho do bar e voltou a mexer no seu celular. A princípio ia postar uma foto que acabara de tirar com as amigas, mas ficou em choque com a primeira que apareceu em seu feed.
Era a sala de Tom, como ela pode reconhecer sem nenhum problema. Na mesinha de centro tinha uma pizza e taças de vinho, e na televisão a tela inicial da Netflix. Sentada de costas para a câmera, tinha uma menina e, após checar a marcação da foto, descobriu que era Zendaya Coleman que estava com ele. E para finalizar, na legenda estava escrito ‘noite caseira com uma excelente companhia.’
Apesar de ter ficado triste por ter sido trocada, resolveu focar na noitada que estava tendo e acabou postando a foto com as amigas, com uma legenda qualquer — com vários emojis de bebidas — e voltou para a pista. Fazia tempo desde que não tinha uma boa diversão com as amigas e, por mais chateada que ela tivesse com Tom, ela não deixaria de aproveitar sua noite com as meninas por causa dele. Deixou para se preocupar com isso no dia seguinte.
“Sinto muito em te informar, Stef, mas você perdeu sua carona de hoje. Pelo visto a Annie vai voltar com aquele carinha tarado ali.” Comentou com a amiga, rindo da situação que a outra se encontrava. Stef, por outro lado, que não tinha como voltar para casa sem Annie, começou a se preocupar. Teria que chamar um táxi, mas como só saia com dinheiro contado, percebeu que teria que parar de gastar no bar naquele momento.
Vendo o olhar da amiga, puxou o braço da loira e foi andando até um espaço com mesas onde o som era mais abafado. “Se quiser pode ir dormir lá em casa. É bom ter uma companhia para dormir de vez em quando.”
“Se não for te incomodar... Mas agora conta, vai aceitar a proposta que o James te fez?” O sorriso malicioso que se formou nos lábios de Stefanie não disfarçavam os possíveis pensamentos que ela estava tendo. James Berticelli era um colega de curso que também foi um dos selecionados para a bolsa. Assim que ele ficou sabendo que também iria, a chamou para dividirem um apartamento para as despesas ficarem mais leve para ambos. Por mais que fosse uma ótima ideia, sabia dos sentimentos do rapaz por ela e achava que dividir um aparamento não seria muito bom para a amizade dos dois.
“Não sei ainda, Stef. Já disse que não olho para ele desse jeito e o conhecendo bem, ele fará de tudo para conseguir ficar comigo e a gente vai acabar brigando.” Dito isso, tratou de mudar de assunto e quando deu quatro e meia da manhã, chamou Stefanie para que as duas pudessem ir embora. Não demorou muito para as ambas chegarem em casa e só tiveram tempo para tomar um banho rápido e logo caíram na cama.
No dia seguinte levou a amiga embora e foi direto para o shopping. Apesar de adorar fazer compras, o shopping não era seu lugar favorito. Ela preferia mil vezes comprar em alguma loja na rua mesmo, do que ter que ficar em um lugar cheio de gente. Mas, como ela precisava passar em um tanto de lojas, fazer isso na rua tomaria muito mais o tempo pela distância de cada lugar que ela teria que ir.
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Voltando para casa, depois de algumas horas gastas indo em quase todas as lojas do shopping, só teve tempo de tomar um banho e escolher um vestido maravilhoso para ir jantar com o amigo. Seu banho, como de costume, não foi demorado. Assim que saiu do banheiro, abriu a porta do armário e ficou cinco minutos parada apenas olhando as opções que tinha. Completamente frustrada com o fato de não conseguir se decidir sozinha, acabou ligando para sua amiga Annie, que adorava vesti-la, como se fosse sua própria barbie.
“Annie, me ajuda, por favor.”
“Fala, meu bem, no que posso ser útil?” Apesar da voz estar meio chiada, como sempre ficava quando as duas se falavam por vídeo, pode perceber que a amiga devia ter acordado faz pouco tempo, provavelmente por conta da noite anterior, mas a menina preferiu não comentar nada.
“Então, eu vou sair com o Tom daqui a pouco, e não sei o que vestir. Minhas opções são o vestido rosa e o verde” ela comentou enquanto virava a câmera para os vestidos que estavam encima da cama. “Eu acho que nunca usei o verde, mas o rosa fica tão bem em mim.”
“Bom, tem aquele azul bonito, e ele é novo também. Aproveita para usar ele com as suas sandálias pretas.” A morena respondeu entre bocejos e pode perceber que ela estava quase fechando os olhos.
“Acho que vou com eles mesmo, Ann. Obrigada pela ajuda.” Mandou dois beijos para a amiga e desligou o telefone. Depois disso, levou apenas mais dez minutos para ela terminar de arrumar o cabelo e fazer uma maquiagem básica e então ela pode chamar um táxi para poder ir para o jantar.
Apesar de já ter ido várias e várias vezes no apartamento dele, sempre se surpreendia quando entrava no lugar. Era tudo muito bonito e bem escolhido. Também nunca houve uma vez que ela não chegasse no apartamento do rapaz e ele estivesse extremamente arrumado. Após ser recebida com um forte abraço, e Tom caminharam para a sala de estar onde ele a serviu com uma taça de vinho.
“Bem, sei que hoje é para a gente comemorar sobre você, mas eu tenho uma notícia para te dar, e eu quero que você escute de mim.” Pelo tom que ele usava, parecia algo sério e deixou a menina levemente incomodada, mas ela esperou que ele terminasse. “Eu e Zendaya estamos juntos. Não namorando sério, mas... Quem sabe no futuro não caminhe para isso? Quase ninguém sabe, mas também é uma questão de tempo até cair na mídia...” Depois das cinco primeiras palavras, não conseguia processar mais nada. Ela sempre teve essa quedinha por ele, mas nunca comentou nada. Também esperava, do fundo do coração dela, que ele se sentisse do mesmo modo, o que aparentemente não era o caso. De todas as notícias que ela imaginou que ele poderia lhe dar, essa foi de longe a que mais a abalou. Ela tentou dar um sorriso, mas tinha certeza que virou uma careta. Ela virou o resto da taça e suspirou.
“Nossa... Bem, eu realmente não esperava isso... É, parabéns.” Ele sorriu para ela e foi até a cozinha, enquanto ela permaneceu na sala. A menina ficou olhando para o chão por algum tempo até pegar o celular e mandar uma mensagem para James, aceitando a proposta que ele havia feito. Ela provavelmente iria se arrepender disso mais tarde, mas no momento aquilo não importava muito. Tom avisou que o jantar já estava pronto e pediu a ajuda dela para terminar de arrumar a mesa e logo os dois já estavam comendo.
“Fiquei tão contente por você que esqueci de te contar. Eu arranjei um lugar lá em Milão... Quer dizer, eu não tenho um lugar ainda, mas vou dividir o aluguel com um amigo, o que já facilita muito.” Comentou com o rapaz, mas sem encara-lo. sentia-se com quinze anos novamente, tomando decisões por impulso para não parecer que sua vida girava entorno de alguém que não queria nada além da amizade dela. “Esse meu amigo disse que pretende viajar um pouco mais cedo do que eu planejava e... Provavelmente irei com ele.”
Após isso, o jantar seguiu sem grandes emoções. As novas notícias estavam pesando na cabeça dos dois e o clima na mesa não era lá um dos melhores. Quase não se falavam e a todo momento parecia que iriam sair do lugar na primeira oportunidade. Assim que ambos terminaram, Tom ofereceu mais um pouco de vinho para a amiga, mas ela recusou educadamente e disse que já iria embora. A noite dos dois não foi muito animada e temia piorar ainda mais as coisas. Se despediu dele com dois beijos, como de costume e avisou que estava ansiosa para sair com ele e Zendaya, mesmo que fosse uma grande mentira.
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Nos dias que seguiram após o jantar, basicamente evitou qualquer tipo de contato com Tom. Respondia as mensagens do amigo com educação, claro, mas dificultava a margem para ele abordar qualquer outro assunto. Assim que contou a novidade para suas amigas, o grupo ficou bem dividido entre as reações. Parte delas achou certa a decisão de e disseram que fariam o mesmo no lugar dela. O restante, apesar de não ter achado totalmente burrice, chegou numa conclusão que não daria muito certo, nem para ela nem para James.
Tom, por sua vez, estava incomodado com o clima que estava sua amizade com , e se perguntava se havia cometido um erro em contar para ela de seu envolvimento com Zendaya. Aliás, até se questionava se havia feito o certo em se envolver com a colega de elenco. A atriz o achava interessante e queria aproveitar, mas sem se envolver em algo sério, e ele, vendo que sua paixão por não levaria a nada, já que ela nunca deu indicação de qualquer sentimento por ele, concordou.
Mas se perguntava, com o afastamento da amiga, se aquilo não era ciúmes da parte dela. Sabia que não era sobre a mudança dela, já que os dois lidavam com a distância muito bem, as duas temporadas que passou filmando e divulgando os filmes da Marvel servindo de prova. Não se lembrava de ter feito nada, ou de nada mais ter acontecido, e recordava perfeitamente que o comportamento dela mudou quando lhe contou sobre Zendaya. Com certeza era isso.
Não queria criar expectativas, pois não tinha certeza alguma daquilo, mas que outro motivo teria? E, se fosse isso mesmo, o que faria? Encerrar as coisas com a atriz não era problema, já que não era nada sério. Havia apenas contado para a amiga pois não queria que ela se surpreendesse com possíveis rumores e ficasse chateada por não ter lhe contado, já que contavam tudo um para o outro. E, se fosse sincero, talvez quisesse fazer ciúmes nela sim, pelo menos uma parte pequena de si.
E, bom, havia conseguido. Mas queria arriscar mesmo, ir atrás dela sem ter certeza se sentia o mesmo que ele, e correr o risco de estragar de vez a longa amizade deles?
Não sabia o que fazer, e normalmente, em tais ocasiões, ia até para conseguir conselhos, mas dessa vez não podia, por motivos óbvios. Então, resolveu ir até seu melhor amigo, Harrison, que o acompanhava sempre nas viagens e era geralmente a voz da razão em sua mente.
“Get it together, dude. Qual o problema com a sua cabeça? É um problema de visão? Muitas pancadas na cabeça? Seu signo te influenciando?” perguntou o outro garoto. Ao ser recebido com um olhar confuso de Holland, ele bufou e completou. “Eu não sei qual é o seu problema, Holland, mas é óbvio pra mim e para o resto do mundo que aquela garota é louca por você, e você por ela. Como você colocou na sua cabeça que não e que deveria ir se envolver com Zendaya, eu não sei. Mas o que eu tenho certeza é: você tem que concertar essa bagunça. Rápido. Urgente. A menina está indo para a Itália, com outro cara, pensando que você não a quer. Se você não for atrás dela, irá perder essa garota. Go get your love”.
O ator o olhou atônito por alguns segundos, e só se moveu com o alto “vai!” que o amigo proferiu ao ver que o ator não se movia. De repente, as palavras de Harrison se gravaram em seu cérebro, e ele sentiu todo seu interior se tornar gelo. Ele iria perdê-la. Com medo de acabar com a amizade escondeu seus sentimentos, mas de nada adiantou, pois estava obtendo o mesmo resultado. Não. Não podia ser o fim. Saindo correndo, entrando em seu carro e arrancando com uma velocidade que certamente lhe renderia uma multa, ele começou a ligar desesperadamente para o celular de . Como ela estava o evitando ultimamente, estava acostumado a ouvir a caixa postal, mas sabia que não iria direto após apenas duas chamadas se ela não estivesse recusando a ligação.
Tentou mais uma vez. E mais uma. E mais uma. Vez após vez, caixa postal após caixa postal, ele insistia, enquanto atravessava a cidade até o apartamento dela. Se ela não fosse atender o telefone, ele faria ela atender a porta. De alguma forma, ele iria dizer pra ela o que acontecia.
Estava começando a se aproximar do apartamento dela, saindo de uma das áreas mais movimentadas de Londres, quando finalmente o atendeu.
“Oi, Tom” disse sua voz cansada do outro lado da linha. O coração do homem ficou mais leve e se apertou mais ao mesmo instante ao ouvir a voz dela. Percebeu como ela soava desanimada, mas não iria deixar que aquilo o fizesse desistir.
“Oi, . Preciso falar urgente com você. Estou indo até sua casa porque a gente precisa conversar” respondeu ele, a urgência evidente em sua voz e se reproduzindo no pedal do acelerador sendo apertado com mais intensidade.
“Não, Tom, não posso. Estou ocupada.”
“Mas, ! É importante, juro. Você precisa me ouvir. Não vou tomar muito do seu tempo se você não quiser. Mas, por favor. Preciso falar com você” retrucou desesperado, a adrenalina correndo por seu corpo com tanta ou até mais intensidade e velocidade com a qual ele dirigia.
“Já disse, Tom, não dá. Estou arrumando minhas coisas para viagem. Tenho que pegar o voo em algumas horas” a garota respondeu, de repente se sentindo culpada por não mencionar antes que estava indo embora naquele dia. Talvez Tom não quisesse nada com ela, mas continuava seu amigo, e era o considerável a se fazer. Mas ela estava tão chateada, com tanto ciúmes, que não queria saber do moreno, então evitava qualquer tipo de comunicação.
“NÃO! Pelo amor de Deus, , eu preciso falar com você antes de você ir. Não vai sem me ver, eu te imploro. Eu preciso, não posso esperar. Por favor.” pediu, implorou o ator. Sentia cada célula de si sendo tomada pelo desespero, tendo noção que a cada segundo que se passava ele ficava mais e mais perto de perdê-la, e aquilo era inaceitável. Não podia estar acontecendo. Sua respiração se tornou mais frenética, um suor frio tomando conta de seu corpo, e o desespero que sentia fazendo que sentisse que não aguentaria esperar chegar até ela, com o medo de que já tivesse ido embora.
“Tom, eu não”, mas a jovem não pode completar já que um imenso barulho se fez presente na linha, e, do nada, a ligação caiu. Surpresa, ela apenas encarou o celular, tentando entender. Após alguns segundos, ficou preocupada, e tentou retornar à ligação, mas ele não atendia. Será que estava bravo? Ou havia acontecido algo? Tentou mais algumas vezes, sem sucesso.
Resolveu por hora terminar de arrumar suas coisas, e tentaria ligar para ele novamente antes de sair de casa. Porém, não passado nem meia hora, ela recebeu uma ligação.
Era um homem, que se identificou como enfermeiro do Saint Bartholomew’s Hospital, dizendo que haviam admitido um jovem rapaz e que ela era a última em suas ligações. Ele havia sofrido um acidente de carro, e ainda não sabiam da extensão de seus ferimentos. Tinham a identificação dele, e como era maior de idade, já estavam tomando os procedimentos necessários, mas precisavam avisar família do rapaz, e, por isso haviam ligado para ela. Atônita, ela só soube responder sim e “aham”s. Disse que avisaria a família dele, e logo a chamada terminou.
Seu cérebro pareceu que entrou no automático, já que ela fazia tudo, mas não estava processando. Ligou para os pais do amigo, e para Harrison também, sabendo que o amigo do ator iria querer ser informado do que havia acontecido. Não soube dar nenhuma informação a mais, só o que tinha acontecido e onde estava. Após minutos encarando o telefone nas mãos, sentada na cama onde suas coisas estavam quase totalmente empacotadas, foi quando sua ficha começou a cair. Tinha um avião para pegar. Tinha que estar no aeroporto em pouco mais de uma hora, e em menos de três, estaria indo para Milão, começar a nova fase de sua vida.
Mas como ela podia ir, e deixar Tom para trás?
Tudo bem antes, quando parecia que ele estava bem resolvido sem ela. Com uma carreira promissora, um relacionamento novo, tudo dando certo em sua vida. Ele ficaria bem sem ela, e por isso já havia aceitado o fato de estar indo embora.
Mas agora...
Agora, sabendo que ele estava em um hospital, não sabendo seus ferimentos, se estava em cirurgia, se estava em risco de vida. Como podia ir e deixá-lo naquele estado?
Mal percebeu que pegou sua bolsa e saiu de casa apressada, correndo algumas ruas até chegar em uma avenida e pedir um táxi. O curso em Milão não começaria em semanas, e James entenderia o porquê dela não estar o acompanhando agora, raciocinou a garota enquanto mandava uma mensagem para ele, avisando-o. E bem, se ele não entendesse, ela não estava se importando. Eram de Tom de quem estavam falando. Do menino que era seu vizinho por quase toda infância e adolescência, seu melhor amigo, seu maior confidente, sua melhor companhia. O cara que havia roubado seu coração desde os nove anos. Ela não podia ir sem saber que ele estava bem, ou nunca se perdoaria.
O trajeto até o hospital pareceu levar uma eternidade, e quando finalmente chegou e foi direcionada até a sala de espera onde estavam os pais dele, só soube os apertar forte. Nicola chorava baixinho, e Dominic tinha os olhos vermelhos. Quando perguntou pelos irmãos de Tom, foi informada que Harrison havia ido com Patrick até a cafeteria, e que Harry e Sam estavam no corredor ao lado. Respirou fundo então, tentando conter os nervos, e se pôs a sentar em um dos sofás que havia na sala, ao lado de Nicola. Pegou a mão da mulher e apertou forte, em uma demonstração de apoio, ganhando um pequeno sorriso choroso da mais velha. Dominic estava de pé, andando de um lado para outro, claramente inquieto. Logo os meninos voltaram para companhia deles, e os sete ficaram quase duas horas naquela sala, preocupados e angustiados, rezando para que nada de grave tivesse acontecido com o ator, e ávidos por qualquer notícia.
Foi só quando um médico adentrou a sala, perguntando pelos pais de Tom e com um semblante calmo, informando de seu quadro, que todos respiraram aliviados. O jovem homem havia sofrido uma concussão, estava com o nariz, pulso e duas costelas quebradas, fora algumas escoriações e hematomas. Havia ultrapassado o sinal fechado em um cruzamento, e, tentando desviar do fluxo que vinha em sua direção, bateu em uma árvore que havia na passarela.
Como só ele havia sido machucado e não havia nenhuma destruição de propriedade, pública ou privada, o ator só receberia multa e pontos na carteira. O manteriam no hospital por mais dois dias, somente para observação, mas ele não estava em perigo algum, o que foi comemorado por todos. Dominic e Nicola entraram para ver o filho primeiro, seguidos pelos gêmeos e Patrick, enquanto Harrison e esperavam na sala. Porém, a cada minuto que passava, ela começava a achar que não seria uma boa ideia ficar para ver Tom. Agora que sabia que ele não havia sofrido ferimentos sérios e ficaria bem, fora de perigo, não estava mais tão certa que o encontrar seria a melhor escolha. As coisas estavam estranhas entre os dois, e haviam se distanciado, e ela não sabia se ele iria querer vê-la. Principalmente por ter sido, provavelmente, a causa do acidente dele, já que ele estava ao telefone com ela enquanto dirigia, e implorava por sua atenção enquanto ela o dispensava. Que grande amiga ela era. Não a surpreenderia se Tom a culpasse pelo o que havia acontecido com ela. Então, resolveu num impulso que seria melhor ir embora. Se levantando, ela começou a andar em direção à saída quando sentiu o olhar fixo de Harrison em si, perguntou o que havia acontecido.
“Não acho que seja uma boa, eu visitá-lo. Agora que sei que ele está bem, fico mais tranquila. Mas acho que ele não quer me ver.” a menina disse, sem graça em admitir em voz alta, surpresa com a súbita franqueza.
“Por que ele não iria querer te ver, ?”
“Estávamos meio que… sei lá, não brigados, mas afastados. E ele me ligou, insistindo que precisava me ver, e eu disse que estava ocupada. E então ele bateu o carro porque estava mais preocupado em me convencer, a melhor amiga dele, a se encontrar com ele… é minha culpa. Não devia ter negado, devia ter honrado nossa amizade e concordado. E agora ele está em uma cama de hospital porque eu sou teimosa demais.” retrucou, lágrimas silenciosas descendo por sua face ao admitir a culpa que sentia. Como tinha coragem de provocar isso no melhor amigo? No garoto que amava? Que tipo de pessoa ela era?
“Isso é a maior besteira que eu já ouvi, mas com certeza você não vai acreditar em mim. Porém sei que você vai ouvir o Holland, então deixa de bobeira e vai ver ele, .” Ao notar o olhar duvidoso dela, o jovem bufou. Ah, como os dois eram cegos e teimosos. “Não precisa me negar ou confirmar nada, até porque eu já sei da verdade. Sei que você se importa com o Tom mais que como um amigo, e ele o mesmo com você. Não vou entrar em muitos detalhes, mas era por isso que eles estava indo de te ver. Então, eu acho bom você entrar naquele quarto, ou você fará um dos maiores erros da sua vida indo embora agora, sem falar com ele.” Avisou Harrison, com um tom sério.
, por sua vez, estava atônita. O que ele estava dizendo? Não era possível. Tom nunca havia demonstrado nada. Ele estava saindo com a colega de elenco, pelo amor de Deus! Ela havia passado anos do lado dele, e ele nunca havia percebido. Por que, justamente agora que tinha alguém, ele perceberia? Não. Harrison estava enganado.
Porém, quando fez menção de retrucar e discutir, ele apenas lhe deu um olhar para ficar quieta, enquanto os irmãos do ator voltavam para a sala. A enfermeira perguntou quem seria o próximo a visitá-lo, e, com um pequeno empurrão - literalmente - de Harrison, foi em direção do quarto de Tom.
Tremendo, a antecipação e o medo se misturando, ela abriu a porta e adentrou o quarto, o coração se apertando ao ver o menino deitado naquela cama de hospital, parecendo tão pequeno quanto no dia em que se conheceram. Seu rosto estava com uma bandagem no nariz, mas hematomas se faziam presentes por toda sua face. Ele estava com um daqueles blusões de hospital e coberto, e com uma cara de quem não dormia há dias. teve que engolir o choro súbito que veio à sua garganta, correndo para a cama de Tom, todo os problemas esquecidos ao ver o garoto naquele estado.
“!” disse o ator, tentando sorrir apesar de tudo. Aquilo finalmente arrancou lágrimas dos olhos da menina.
“Ai meu Deus, Tom” exclamou a garota, se sentando na cadeira que havia ali do lado, e se debruçando na cama dele, pegando sua mão (a que não estava machucada) e envolvendo nas suas. “Eu não acredito. Eu sinto tanto, tanto. Me desculpe!”
“Por que está pedindo desculpas?” perguntou ele, confuso. O estado dela era compreensível, sabia como a garota era compassiva e sensível, vê-lo naquela maca de hospital não era uma das imagens mais fáceis. Mas porque ela estava se desculpando?
“Por ter feito isso acontecer! Eles me contaram do acidente, como eu fui a sua última ligação. Eu não devia ter insistido, devia ter falando que você poderia ir lá pra casa. Que tipo de amiga eu sou? E agora você está aí, todo machucado por minha causa. Eu sinto muito, Tom.” Lamentou , as lágrimas escorrendo por sua face, seus olhos cheios de arrependimento e culpa.
“! Não, isso não é sua culpa!” exclamou o jovem, se ajeitando melhor na cama para poder olhá-la melhor. “Eu que me desesperei e perdi o controle do carro. Aliás, não devia nem estar dirigindo falando no telefone. Se alguém tem culpa, sou eu. Mas quando você me disse que estava indo, bom, eu já precisava te ver, e depois disso eu só fiquei mais e mais ansioso para chegar. Ansioso demais e ultrapassei todos os limites. Não se culpe, por favor.” Terminou, encarando-a firmemente e acariciando a bochecha dela com a mão que antes a garota segurava.
“Então eu pelo menos devia ter te contado que estava indo. Ter deixado você ir me ver. Não adianta, qualquer coisa vai me fazer sentir que fui de alguma forma responsável por isso.” Respondeu, chorando baixinho. Deus, não acreditava que aquilo estava acontecendo. Por quê? Ela devia estar em um voo para Itália e ele provavelmente com Zendaya. Suas entranhas se contorceram diante do pensamento, mas era melhor que essa alternativa.
“Por que não me disse? Por que ia embora sem se despedir de mim, ?” perguntou o ator, sua voz refletindo o exterior: machucada. Sabia da teimosia da amiga, e ficar discutindo com ela não daria em lugar algum. Mas, agora que estavam conversando com calma, ele queria saber por que ela faria uma coisa dessas. Eram inseparáveis desde pequenos. Como ela podia fazer aquilo?
“Eu não sei. Foi de última hora, um amigo estava indo para procurar moradia e, como vamos dividir o lugar, me chamou para ir junto. E eu estava tão chateada com você, e até comigo mesma, que me afastei. Não queria te ver, nem que uma última vez, pois sabia que não conseguiria te dizer adeus, e não posso ficar mais assim, Tom”. Declarou , a voz embargada pelas lágrimas, mas a convicção presente em cada palavra. Não poderia se despedir de Tom, ou iria acabar contando tudo. Para o inferno com o curso, com a relação dele. Era seu melhor amigo, sua paixão, e não conseguiria ir embora escondendo uma coisa dessas dele. Por isso, junto com as circunstancias da última semana, decidiu que era melhor daquele jeito.
“Mas por que você estava chateada? Eu nem sei o que eu fiz! Você sempre me puxa a orelha quando eu te magoo, mas dessa vez você só sumiu e eu não sabia o motivo. O que eu fiz para que você diga que ‘não pode mais ficar assim’?” Tom, na verdade, estava começando a perceber, e admitir que Harrison estava certo. Os dois eram muito cegos, pois podia ver nas palavras de , em seu rosto, os sentimentos dela. Por que os dois enrolaram tanto, e não admitiram de uma vez? Por que se machucar daquele jeito? Do que adiantava uma amizade forte como a deles sem a confiança de que, mesmo que não fossem recíprocos, nada mudaria? Eram dois tolos mesmo.
“Você!” exclamou alto a menina, subitamente se levantando, andando pelo quarto, e passando as mãos pela cabeça e pescoço, visivelmente nervosa e tentando retomar o controle. Tão rápido quanto se levantou, ela se virou para ele. “Você é o motivo. Eu sou apaixonada por você desde aquele primeiro beijo na sala dos meus pais, Tom. Não há pessoa nesse mundo que eu goste mais. Você é meu melhor amigo, meu apoio, minha companhia para tudo e qualquer hora. Mas também é o cara pelo qual eu estou terrivelmente apaixonada. O cara que eu quero namorar, e que me leve à encontros, e me dê presentes no dia dos namorados, e me apresente a todos como sua... o cara que eu quero que me ame. Não como amiga, mas como mulher.
E foi por isso que eu estava brava. De repente, você fura comigo e quando eu vejo, você está com outra garota. Você me trocou, e eu não aguentei. Como eu podia chegar em você e te falar como me sentia se você já tinha uma garota maravilhosa nos seus braços? Então, quando soube do curso, eu pensei que seria bom ficar longe de você, para que esses sentimentos sumissem. Estava te evitando porque não sabia como te dizer adeus, e queria me acostumar à vida sem você. Sem mencionar que eu não me controlava de ciúmes ao pensar em você com Zendaya. Então, por isso que eu te evitei, por isso que eu ia embora sem me despedir. Por que eu não suportaria ir embora sem te falar tudo isso, e de que diferença faz?” desabafou. No começo, estava quase gritando, mas ao chegar ao final, sua voz era quase um sussurro, cheia de mágoa, angústia, desolada e desesperançosa. A menina seguia chorando, e voltou a se sentar, mas com a cabeça baixa, sem encará-lo.
Tom sentiu o ar fugir de seus pulmões. Desde que Harrison havia feito ele acordar para o que estava acontecendo, um medo havia se apossado de seu corpo, de que estava fazendo a coisa errada e que ela não retribuiria seus sentimentos. Mas, ao vê-la ali, do seu lado, falando cada uma das coisas que ele próprio sentia, o ator respirou aliviado pela primeira vez em horas. Estava tão aflito com as possibilidades, tão tenso, que podia sentir seus músculos relaxarem – e sabia que não era a medicação, pois estava daquele jeito antes mesmo do acidente. Era . Sempre era . Ele sentiu um sorriso se abrindo em seu rosto, e, lentamente, pois suas costelas ainda doíam, levou o braço até a menina, levantando a cabeça dela com uma de suas mãos. Sentiu o coração apertar ao ver os olhos dela cheios de lágrimas, mas sabia que estava prestes a mudar aquilo.
Com um gesto, pediu para que ela se aproximasse, sentando na beira da cama dele. Ela, com os olhos marejados ainda, o olhou confusa, e hesitantemente foi, com medo de que estaria prestes a ser dispensada. Sabia que Tom não era cruel, e talvez por isso estivesse sendo tão cuidadoso, tentando poupá-la um pouco da dor da rejeição. Fechou os olhos tentando conter as milhares de lágrimas que queriam sair de seus olhos e os soluços de dentro de si, tentando não se humilhar na frente dele ainda mais.
Ela só não estava preparada para sentir os lábios dele nos seus. Iria abrir os olhos, mas se aquilo era um beijo de consolação, de despedida, então iria aproveitar. Ela era masoquista àquele ponto. Os lábios dele eram macios nos seus, se movimentando delicadamente e acabando por arrancar um suspiro dela, tão diferente do beijo que dividiram há tantos anos atrás. Quando finalmente ele se afastou, ela continuou de olhos fechados, querendo guardar aquele momento para sempre, já que devia ser o último. Somente os abriu quando ele chamou seu nome, e mesmo assim não queria, pois não queria que o momento terminasse. Mas parecia que Tom agora estava no controle de seu corpo.
“” disse Tom levemente, e esperou até que a garota abrisse os olhos. Quando o encarou, ele pode ver a dor da rejeição já se apossando dela, uma dor e mágoa ali também. Mal sabia ela que estava prestes a ser surpreendida. “Primeiro, eu peço desculpas. Por ser tão cego, tão distraído e não perceber o que estava acontecendo. Não só com você, mas comigo também.”
Ao notar o olhar curioso dela, que havia se transforado de constrangido para confuso, ele riu.
“Não é só com você, isso. Não sei porque eu fiquei com Zendaya, e por isso peço desculpas. Talvez fosse minha maneira de tentar te esquecer, ou de talvez substituir meus sentimentos por você. Como eu te disse naquela noite, não era nada sério, porque não conseguia sentir por ela o que eu sinto por você. Ela não é você, e quando Harrison me fez parar de ser um babaca medroso, eu tinha que ir te contar isso. Então, não se culpe, mas mesmo você não sendo a culpada pelo acidente, ele teve a ver com você. Porque eu estava tão desesperado, ainda mais por saber que você estava indo embora e eu não poderia te dizer tudo isso, que acabei perdendo o controle, igual à nossa situação. Eu estava indo te falar que sou apaixonado por você, e que se você me quisesse, eu iria pegar o meu amor.”
tinha nove anos. Seu vizinho era seu melhor amigo, uma vez que seus pais eram ex-colegas de faculdade e, assim que descobriram que iriam morar na mesma cidade, concordaram que morar perto seria mais interessante, ainda mais com filhos da mesma da mesma idade. Morar em uma cidade tão grande quanto Londres poderia ser solitário por vezes.
Seu vizinho era ninguém menos que Tom Holland, que naquela época tinha apenas dez anos e ainda nem imaginava que pretendia ser um ator quando mais velho, embora o menino sonhasse com aquilo de vez em quando, especialmente quando via seus desenhos de heróis. apenas ria e dizia que iria querer ser convidada para as premières. Ele concordava, pois, seu outro sonho, mesmo sendo uma criança, era que a amiga nunca saísse do seu lado. Ninguém no mundo diria que os dois traçariam caminhos diferentes quando mais velhos, pois não havia amizade mais sincera que aquela.
Contudo, certa vez, na casa da família houve um jantar e, obviamente, os vizinhos foram convidados. Enquanto os adultos estavam sentados na mesa comendo, as duas crianças estavam na sala, assistindo um filme qualquer – o qual eles nem prestavam atenção direito, devido a conversa animada em que se encontravam.
Os dois olharam para televisão quando o casal do filme se beijaram e ambos fizeram uma careta e caíram na risada. “Beijar é tão nojento. Eu não quero fazer isso”, Tom comentou entre risos. apenas balançou os ombros e abriu um sorriso sonhador. “Eu acho bonitinho, ainda mais quando se gosta da pessoa. Igual o papai faz com a mamãe.” Ela disse, com sua voz baixa, mas ainda permitindo que o menino escutasse.
Os dois entraram em um debate enorme sobre a questão do beijo e em meio a brincadeiras, Tom disse que ele gostava de , portanto deveria beija-la. Logo em seguida selou seus lábios nos da menina, que ficou completamente estática com a ação do amigo, sentindo suas bochechas queimarem. Certamente estava ficando vermelha de vergonha.
Os adultos, que viraram no mesmo instante para ver os filhos, acharam a cena muito fofa e comentaram que os dois iriam ficar juntos no futuro. Para eles, não haveria coisa melhor do que isso, já que eram tão amigos. Só oficializariam a junção das duas famílias. Deixaram os filhos perdidos em seus mundinhos e voltaram para suas conversas.
No dia seguinte, fez questão de contar para todas as amiguinhas que havia sido a primeira a dar um beijo, pois todos achavam que Sarah Becker seria quem teria tal “honra”. A menina sempre ia com o cabelo em maria-chiquinha e até mesmo passava batom para ir para escola. achava que Sarah estava tentando crescer rápido demais, assim como todas as meninas de sua sala achavam e esse era o motivo pelo qual Sarah daria o primeiro beijo entre a turma delas.
Presente
Embora hoje os dois seguissem caminhos diferentes, a amizade de com Tom só cresceu conforme os dois amadureciam. se tornou uma jovem muito bonita. Atraía o olhar de todos por onde passava, mas aparentemente não o de quem ela queria. Quem diria que seu melhor amigo seria famoso? Aliás, se alguém falasse para que Tom Holland seria o próximo Homem-Aranha, o herói favorito dela, ela diria que a pessoa enlouqueceu por completo. Porém essa era a verdade da atualidade. Em poucos dias o filme do amigo estaria em cartaz, um novo filme solo do Homem-Aranha, e a garota já havia jurado que iria em todos os cinemas da cidade para ver o longa, que jamais iria enjoar dele. E, enquanto, o sucesso de Tom era através de seu dom de atuar, possuía um canal no YouTube, onde ela falava sobre maquiagem e os novos hits da moda. Seu canal já contava com um milhão e meio de inscritos e tinha uma média de 300 mil visualizações por vídeo, e os números só aumentavam. Ela era muito boa no que fazia e sempre ganhava patrocínio de alguma marca nova para ela poder fazer uma divulgação. Em seu último vídeo, declarou seu amor pelo personagem do melhor amigo, deixando claro que fazia questão de ir prestigiar o filme do amigo quantas vezes fosse possível, e isso não passou batido pela mídia.
“E aproveitando a deixa, poderia me falar um pouco sobre essa menina?” Ellen DeGeneres perguntou para Tom Holland, que se encontrava no auditório do programa da mulher. Ele havia feito várias entrevistas durante o ano, muitas delas para divulgar seu filme: Spiderman: Homecoming.
A menina em questão era . Ellen projetou no telão uma foto recente dos dois, postada no Instagram do rapaz. Ele tinha um braço na cintura da menina, enquanto ela o beijava na bochecha. Houveram muitos boatos sobre quem ela seria, mas o rapaz não respondeu nada até o momento. Havia um sorriso nada discreto no rosto de Tom e ele deu uma risada leve com a pergunta da apresentadora.
“Essa, Ellen, é minha melhor amiga desde que me entendo por gente. Veja, nós éramos vizinhos quando crianças, e nossos pais se conheceram quando eram mais jovens, muito antes de planejarem em ter a gente. Nós mantemos a amizade e saímos juntos constantemente. Eu diria que ela é minha fã número um...” riu com a resposta do amigo e desligou a televisão.
A youtuber queria continuar assistindo o programa, mesmo que fosse uma reprise da noite anterior, mas estava começando a ficar atrasada para sua aula e ela sabia bem que seu professor não tolerava atrasos. Saiu de casa praticamente correndo, enquanto colocava seu casaco, segurava a bolsa com uma mão e entre os dentes se encontrava uma pasta com seus trabalhos. Qualquer um que a visse naquele momento iria pensar uma única coisa: maluca. E de certa forma a menina era mesmo, mas não ligava. Entrou no primeiro táxi que fez a gentileza de parar e pediu para que o motorista a levasse até Central Saint Marteen, onde ela cursava design de moda.
A aula passou voando, como de costume e quando a menina se deu conta, já estava com seu celular em mãos, digitando uma mensagem para Tom. “Tem um tempinho para tomar café com sua linda e maravilhosa amiga?” anexou na mensagem seguinte o local onde estava e esperou o amigo, que em questão de quinze minutos chegou.
A cafeteria em que se encontraram era em um bairro um pouco afastado do centro, bem discreta e com um movimento baixo de pessoas, perfeito para os dois conseguirem manter uma conversa sem serem atrapalhados. Embora não tivesse nem metade da popularidade de Holland, era parada com certa frequência por adolescente e jovens-adultos que acompanham seu canal.
“Tenho uma notícia para te dar.” A menina soltou assim que a atendente se afastou da mesa deles. O sorriso de orelha a orelha presente nas feições dela indicou ao rapaz que seria algo bom. Com um leve aceno de cabeça, sinal dele para ela prosseguir, ela continuou. “Lembra daquele curso de um ano em que eu me inscrevi em Milão? Aquele que tinha só vinte vagas? Então, eu consegui.” Sem ao menos deixar que o rapaz respondesse, ela voltou a falar. “Irei viajar no final de julho para ver onde vou ficar e começar a me adaptar na nova rotina.”
Tom ficou sem saber o que dizer, apenas levantou de sua cadeira e foi até a amiga para abraça-la. “Vamos comemorar... Não sei se você quis que isso fosse sua comemoração, mas nós iremos jantar. Na minha casa, amanhã e eu cozinho. Mas, por via das dúvidas, esteja preparada para pedir algum delivery.” Deu seu melhor sorriso para amiga e a abraçou novamente, sussurrando em seu ouvido. “Estou muito feliz por você, baixinha.” Assim que se sentaram novamente, convidou Tom para sair com ela e as amigas naquela noite para ir em um Pub, mas o rapaz disse que a responderia mais tarde.
“Fica para próxima, prometo.” Foi a mensagem que abriu assim que entrou no Pub, que tocava uma música exageradamente alta. A menina não pode deixar de ficar triste, mas estava disposta a curtir pelo menos uma vez. A loira sempre negava os convites das amigas, sempre dizendo que esta indisposta ou com matéria atolada. Porém, a verdade é que ela deixava de sair para ficar um pouco Holland, que de vez em quando aparecia de surpresa em seu apartamento, coisa que ela jamais reclamou.
Guardando o celular bruscamente na bolsa, se dirigiu para o bar onde pediu uma dose de tequila e em seguida um drink grande o suficiente para durar mais que três minutos na mão dela. Ficou sentada no bar, aproveitando sua bebida, enquanto observava as pessoas dançando na pista a sua frente, mas logo foi chamada pelas amigas para se juntar à pista de dança. Não vendo por que não e não querendo ficar amuada em um canto, chateada por ter levado um fora do melhor amigo, ela concordou, e foi se divertir.
Depois de várias doses de algumas bebidas das quais ela não se lembrava dos nomes, a garota se sentou em um banquinho do bar e voltou a mexer no seu celular. A princípio ia postar uma foto que acabara de tirar com as amigas, mas ficou em choque com a primeira que apareceu em seu feed.
Era a sala de Tom, como ela pode reconhecer sem nenhum problema. Na mesinha de centro tinha uma pizza e taças de vinho, e na televisão a tela inicial da Netflix. Sentada de costas para a câmera, tinha uma menina e, após checar a marcação da foto, descobriu que era Zendaya Coleman que estava com ele. E para finalizar, na legenda estava escrito ‘noite caseira com uma excelente companhia.’
Apesar de ter ficado triste por ter sido trocada, resolveu focar na noitada que estava tendo e acabou postando a foto com as amigas, com uma legenda qualquer — com vários emojis de bebidas — e voltou para a pista. Fazia tempo desde que não tinha uma boa diversão com as amigas e, por mais chateada que ela tivesse com Tom, ela não deixaria de aproveitar sua noite com as meninas por causa dele. Deixou para se preocupar com isso no dia seguinte.
“Sinto muito em te informar, Stef, mas você perdeu sua carona de hoje. Pelo visto a Annie vai voltar com aquele carinha tarado ali.” Comentou com a amiga, rindo da situação que a outra se encontrava. Stef, por outro lado, que não tinha como voltar para casa sem Annie, começou a se preocupar. Teria que chamar um táxi, mas como só saia com dinheiro contado, percebeu que teria que parar de gastar no bar naquele momento.
Vendo o olhar da amiga, puxou o braço da loira e foi andando até um espaço com mesas onde o som era mais abafado. “Se quiser pode ir dormir lá em casa. É bom ter uma companhia para dormir de vez em quando.”
“Se não for te incomodar... Mas agora conta, vai aceitar a proposta que o James te fez?” O sorriso malicioso que se formou nos lábios de Stefanie não disfarçavam os possíveis pensamentos que ela estava tendo. James Berticelli era um colega de curso que também foi um dos selecionados para a bolsa. Assim que ele ficou sabendo que também iria, a chamou para dividirem um apartamento para as despesas ficarem mais leve para ambos. Por mais que fosse uma ótima ideia, sabia dos sentimentos do rapaz por ela e achava que dividir um aparamento não seria muito bom para a amizade dos dois.
“Não sei ainda, Stef. Já disse que não olho para ele desse jeito e o conhecendo bem, ele fará de tudo para conseguir ficar comigo e a gente vai acabar brigando.” Dito isso, tratou de mudar de assunto e quando deu quatro e meia da manhã, chamou Stefanie para que as duas pudessem ir embora. Não demorou muito para as ambas chegarem em casa e só tiveram tempo para tomar um banho rápido e logo caíram na cama.
No dia seguinte levou a amiga embora e foi direto para o shopping. Apesar de adorar fazer compras, o shopping não era seu lugar favorito. Ela preferia mil vezes comprar em alguma loja na rua mesmo, do que ter que ficar em um lugar cheio de gente. Mas, como ela precisava passar em um tanto de lojas, fazer isso na rua tomaria muito mais o tempo pela distância de cada lugar que ela teria que ir.
Voltando para casa, depois de algumas horas gastas indo em quase todas as lojas do shopping, só teve tempo de tomar um banho e escolher um vestido maravilhoso para ir jantar com o amigo. Seu banho, como de costume, não foi demorado. Assim que saiu do banheiro, abriu a porta do armário e ficou cinco minutos parada apenas olhando as opções que tinha. Completamente frustrada com o fato de não conseguir se decidir sozinha, acabou ligando para sua amiga Annie, que adorava vesti-la, como se fosse sua própria barbie.
“Annie, me ajuda, por favor.”
“Fala, meu bem, no que posso ser útil?” Apesar da voz estar meio chiada, como sempre ficava quando as duas se falavam por vídeo, pode perceber que a amiga devia ter acordado faz pouco tempo, provavelmente por conta da noite anterior, mas a menina preferiu não comentar nada.
“Então, eu vou sair com o Tom daqui a pouco, e não sei o que vestir. Minhas opções são o vestido rosa e o verde” ela comentou enquanto virava a câmera para os vestidos que estavam encima da cama. “Eu acho que nunca usei o verde, mas o rosa fica tão bem em mim.”
“Bom, tem aquele azul bonito, e ele é novo também. Aproveita para usar ele com as suas sandálias pretas.” A morena respondeu entre bocejos e pode perceber que ela estava quase fechando os olhos.
“Acho que vou com eles mesmo, Ann. Obrigada pela ajuda.” Mandou dois beijos para a amiga e desligou o telefone. Depois disso, levou apenas mais dez minutos para ela terminar de arrumar o cabelo e fazer uma maquiagem básica e então ela pode chamar um táxi para poder ir para o jantar.
Apesar de já ter ido várias e várias vezes no apartamento dele, sempre se surpreendia quando entrava no lugar. Era tudo muito bonito e bem escolhido. Também nunca houve uma vez que ela não chegasse no apartamento do rapaz e ele estivesse extremamente arrumado. Após ser recebida com um forte abraço, e Tom caminharam para a sala de estar onde ele a serviu com uma taça de vinho.
“Bem, sei que hoje é para a gente comemorar sobre você, mas eu tenho uma notícia para te dar, e eu quero que você escute de mim.” Pelo tom que ele usava, parecia algo sério e deixou a menina levemente incomodada, mas ela esperou que ele terminasse. “Eu e Zendaya estamos juntos. Não namorando sério, mas... Quem sabe no futuro não caminhe para isso? Quase ninguém sabe, mas também é uma questão de tempo até cair na mídia...” Depois das cinco primeiras palavras, não conseguia processar mais nada. Ela sempre teve essa quedinha por ele, mas nunca comentou nada. Também esperava, do fundo do coração dela, que ele se sentisse do mesmo modo, o que aparentemente não era o caso. De todas as notícias que ela imaginou que ele poderia lhe dar, essa foi de longe a que mais a abalou. Ela tentou dar um sorriso, mas tinha certeza que virou uma careta. Ela virou o resto da taça e suspirou.
“Nossa... Bem, eu realmente não esperava isso... É, parabéns.” Ele sorriu para ela e foi até a cozinha, enquanto ela permaneceu na sala. A menina ficou olhando para o chão por algum tempo até pegar o celular e mandar uma mensagem para James, aceitando a proposta que ele havia feito. Ela provavelmente iria se arrepender disso mais tarde, mas no momento aquilo não importava muito. Tom avisou que o jantar já estava pronto e pediu a ajuda dela para terminar de arrumar a mesa e logo os dois já estavam comendo.
“Fiquei tão contente por você que esqueci de te contar. Eu arranjei um lugar lá em Milão... Quer dizer, eu não tenho um lugar ainda, mas vou dividir o aluguel com um amigo, o que já facilita muito.” Comentou com o rapaz, mas sem encara-lo. sentia-se com quinze anos novamente, tomando decisões por impulso para não parecer que sua vida girava entorno de alguém que não queria nada além da amizade dela. “Esse meu amigo disse que pretende viajar um pouco mais cedo do que eu planejava e... Provavelmente irei com ele.”
Após isso, o jantar seguiu sem grandes emoções. As novas notícias estavam pesando na cabeça dos dois e o clima na mesa não era lá um dos melhores. Quase não se falavam e a todo momento parecia que iriam sair do lugar na primeira oportunidade. Assim que ambos terminaram, Tom ofereceu mais um pouco de vinho para a amiga, mas ela recusou educadamente e disse que já iria embora. A noite dos dois não foi muito animada e temia piorar ainda mais as coisas. Se despediu dele com dois beijos, como de costume e avisou que estava ansiosa para sair com ele e Zendaya, mesmo que fosse uma grande mentira.
Nos dias que seguiram após o jantar, basicamente evitou qualquer tipo de contato com Tom. Respondia as mensagens do amigo com educação, claro, mas dificultava a margem para ele abordar qualquer outro assunto. Assim que contou a novidade para suas amigas, o grupo ficou bem dividido entre as reações. Parte delas achou certa a decisão de e disseram que fariam o mesmo no lugar dela. O restante, apesar de não ter achado totalmente burrice, chegou numa conclusão que não daria muito certo, nem para ela nem para James.
Tom, por sua vez, estava incomodado com o clima que estava sua amizade com , e se perguntava se havia cometido um erro em contar para ela de seu envolvimento com Zendaya. Aliás, até se questionava se havia feito o certo em se envolver com a colega de elenco. A atriz o achava interessante e queria aproveitar, mas sem se envolver em algo sério, e ele, vendo que sua paixão por não levaria a nada, já que ela nunca deu indicação de qualquer sentimento por ele, concordou.
Mas se perguntava, com o afastamento da amiga, se aquilo não era ciúmes da parte dela. Sabia que não era sobre a mudança dela, já que os dois lidavam com a distância muito bem, as duas temporadas que passou filmando e divulgando os filmes da Marvel servindo de prova. Não se lembrava de ter feito nada, ou de nada mais ter acontecido, e recordava perfeitamente que o comportamento dela mudou quando lhe contou sobre Zendaya. Com certeza era isso.
Não queria criar expectativas, pois não tinha certeza alguma daquilo, mas que outro motivo teria? E, se fosse isso mesmo, o que faria? Encerrar as coisas com a atriz não era problema, já que não era nada sério. Havia apenas contado para a amiga pois não queria que ela se surpreendesse com possíveis rumores e ficasse chateada por não ter lhe contado, já que contavam tudo um para o outro. E, se fosse sincero, talvez quisesse fazer ciúmes nela sim, pelo menos uma parte pequena de si.
E, bom, havia conseguido. Mas queria arriscar mesmo, ir atrás dela sem ter certeza se sentia o mesmo que ele, e correr o risco de estragar de vez a longa amizade deles?
Não sabia o que fazer, e normalmente, em tais ocasiões, ia até para conseguir conselhos, mas dessa vez não podia, por motivos óbvios. Então, resolveu ir até seu melhor amigo, Harrison, que o acompanhava sempre nas viagens e era geralmente a voz da razão em sua mente.
“Get it together, dude. Qual o problema com a sua cabeça? É um problema de visão? Muitas pancadas na cabeça? Seu signo te influenciando?” perguntou o outro garoto. Ao ser recebido com um olhar confuso de Holland, ele bufou e completou. “Eu não sei qual é o seu problema, Holland, mas é óbvio pra mim e para o resto do mundo que aquela garota é louca por você, e você por ela. Como você colocou na sua cabeça que não e que deveria ir se envolver com Zendaya, eu não sei. Mas o que eu tenho certeza é: você tem que concertar essa bagunça. Rápido. Urgente. A menina está indo para a Itália, com outro cara, pensando que você não a quer. Se você não for atrás dela, irá perder essa garota. Go get your love”.
O ator o olhou atônito por alguns segundos, e só se moveu com o alto “vai!” que o amigo proferiu ao ver que o ator não se movia. De repente, as palavras de Harrison se gravaram em seu cérebro, e ele sentiu todo seu interior se tornar gelo. Ele iria perdê-la. Com medo de acabar com a amizade escondeu seus sentimentos, mas de nada adiantou, pois estava obtendo o mesmo resultado. Não. Não podia ser o fim. Saindo correndo, entrando em seu carro e arrancando com uma velocidade que certamente lhe renderia uma multa, ele começou a ligar desesperadamente para o celular de . Como ela estava o evitando ultimamente, estava acostumado a ouvir a caixa postal, mas sabia que não iria direto após apenas duas chamadas se ela não estivesse recusando a ligação.
Tentou mais uma vez. E mais uma. E mais uma. Vez após vez, caixa postal após caixa postal, ele insistia, enquanto atravessava a cidade até o apartamento dela. Se ela não fosse atender o telefone, ele faria ela atender a porta. De alguma forma, ele iria dizer pra ela o que acontecia.
Estava começando a se aproximar do apartamento dela, saindo de uma das áreas mais movimentadas de Londres, quando finalmente o atendeu.
“Oi, Tom” disse sua voz cansada do outro lado da linha. O coração do homem ficou mais leve e se apertou mais ao mesmo instante ao ouvir a voz dela. Percebeu como ela soava desanimada, mas não iria deixar que aquilo o fizesse desistir.
“Oi, . Preciso falar urgente com você. Estou indo até sua casa porque a gente precisa conversar” respondeu ele, a urgência evidente em sua voz e se reproduzindo no pedal do acelerador sendo apertado com mais intensidade.
“Não, Tom, não posso. Estou ocupada.”
“Mas, ! É importante, juro. Você precisa me ouvir. Não vou tomar muito do seu tempo se você não quiser. Mas, por favor. Preciso falar com você” retrucou desesperado, a adrenalina correndo por seu corpo com tanta ou até mais intensidade e velocidade com a qual ele dirigia.
“Já disse, Tom, não dá. Estou arrumando minhas coisas para viagem. Tenho que pegar o voo em algumas horas” a garota respondeu, de repente se sentindo culpada por não mencionar antes que estava indo embora naquele dia. Talvez Tom não quisesse nada com ela, mas continuava seu amigo, e era o considerável a se fazer. Mas ela estava tão chateada, com tanto ciúmes, que não queria saber do moreno, então evitava qualquer tipo de comunicação.
“NÃO! Pelo amor de Deus, , eu preciso falar com você antes de você ir. Não vai sem me ver, eu te imploro. Eu preciso, não posso esperar. Por favor.” pediu, implorou o ator. Sentia cada célula de si sendo tomada pelo desespero, tendo noção que a cada segundo que se passava ele ficava mais e mais perto de perdê-la, e aquilo era inaceitável. Não podia estar acontecendo. Sua respiração se tornou mais frenética, um suor frio tomando conta de seu corpo, e o desespero que sentia fazendo que sentisse que não aguentaria esperar chegar até ela, com o medo de que já tivesse ido embora.
“Tom, eu não”, mas a jovem não pode completar já que um imenso barulho se fez presente na linha, e, do nada, a ligação caiu. Surpresa, ela apenas encarou o celular, tentando entender. Após alguns segundos, ficou preocupada, e tentou retornar à ligação, mas ele não atendia. Será que estava bravo? Ou havia acontecido algo? Tentou mais algumas vezes, sem sucesso.
Resolveu por hora terminar de arrumar suas coisas, e tentaria ligar para ele novamente antes de sair de casa. Porém, não passado nem meia hora, ela recebeu uma ligação.
Era um homem, que se identificou como enfermeiro do Saint Bartholomew’s Hospital, dizendo que haviam admitido um jovem rapaz e que ela era a última em suas ligações. Ele havia sofrido um acidente de carro, e ainda não sabiam da extensão de seus ferimentos. Tinham a identificação dele, e como era maior de idade, já estavam tomando os procedimentos necessários, mas precisavam avisar família do rapaz, e, por isso haviam ligado para ela. Atônita, ela só soube responder sim e “aham”s. Disse que avisaria a família dele, e logo a chamada terminou.
Seu cérebro pareceu que entrou no automático, já que ela fazia tudo, mas não estava processando. Ligou para os pais do amigo, e para Harrison também, sabendo que o amigo do ator iria querer ser informado do que havia acontecido. Não soube dar nenhuma informação a mais, só o que tinha acontecido e onde estava. Após minutos encarando o telefone nas mãos, sentada na cama onde suas coisas estavam quase totalmente empacotadas, foi quando sua ficha começou a cair. Tinha um avião para pegar. Tinha que estar no aeroporto em pouco mais de uma hora, e em menos de três, estaria indo para Milão, começar a nova fase de sua vida.
Mas como ela podia ir, e deixar Tom para trás?
Tudo bem antes, quando parecia que ele estava bem resolvido sem ela. Com uma carreira promissora, um relacionamento novo, tudo dando certo em sua vida. Ele ficaria bem sem ela, e por isso já havia aceitado o fato de estar indo embora.
Mas agora...
Agora, sabendo que ele estava em um hospital, não sabendo seus ferimentos, se estava em cirurgia, se estava em risco de vida. Como podia ir e deixá-lo naquele estado?
Mal percebeu que pegou sua bolsa e saiu de casa apressada, correndo algumas ruas até chegar em uma avenida e pedir um táxi. O curso em Milão não começaria em semanas, e James entenderia o porquê dela não estar o acompanhando agora, raciocinou a garota enquanto mandava uma mensagem para ele, avisando-o. E bem, se ele não entendesse, ela não estava se importando. Eram de Tom de quem estavam falando. Do menino que era seu vizinho por quase toda infância e adolescência, seu melhor amigo, seu maior confidente, sua melhor companhia. O cara que havia roubado seu coração desde os nove anos. Ela não podia ir sem saber que ele estava bem, ou nunca se perdoaria.
O trajeto até o hospital pareceu levar uma eternidade, e quando finalmente chegou e foi direcionada até a sala de espera onde estavam os pais dele, só soube os apertar forte. Nicola chorava baixinho, e Dominic tinha os olhos vermelhos. Quando perguntou pelos irmãos de Tom, foi informada que Harrison havia ido com Patrick até a cafeteria, e que Harry e Sam estavam no corredor ao lado. Respirou fundo então, tentando conter os nervos, e se pôs a sentar em um dos sofás que havia na sala, ao lado de Nicola. Pegou a mão da mulher e apertou forte, em uma demonstração de apoio, ganhando um pequeno sorriso choroso da mais velha. Dominic estava de pé, andando de um lado para outro, claramente inquieto. Logo os meninos voltaram para companhia deles, e os sete ficaram quase duas horas naquela sala, preocupados e angustiados, rezando para que nada de grave tivesse acontecido com o ator, e ávidos por qualquer notícia.
Foi só quando um médico adentrou a sala, perguntando pelos pais de Tom e com um semblante calmo, informando de seu quadro, que todos respiraram aliviados. O jovem homem havia sofrido uma concussão, estava com o nariz, pulso e duas costelas quebradas, fora algumas escoriações e hematomas. Havia ultrapassado o sinal fechado em um cruzamento, e, tentando desviar do fluxo que vinha em sua direção, bateu em uma árvore que havia na passarela.
Como só ele havia sido machucado e não havia nenhuma destruição de propriedade, pública ou privada, o ator só receberia multa e pontos na carteira. O manteriam no hospital por mais dois dias, somente para observação, mas ele não estava em perigo algum, o que foi comemorado por todos. Dominic e Nicola entraram para ver o filho primeiro, seguidos pelos gêmeos e Patrick, enquanto Harrison e esperavam na sala. Porém, a cada minuto que passava, ela começava a achar que não seria uma boa ideia ficar para ver Tom. Agora que sabia que ele não havia sofrido ferimentos sérios e ficaria bem, fora de perigo, não estava mais tão certa que o encontrar seria a melhor escolha. As coisas estavam estranhas entre os dois, e haviam se distanciado, e ela não sabia se ele iria querer vê-la. Principalmente por ter sido, provavelmente, a causa do acidente dele, já que ele estava ao telefone com ela enquanto dirigia, e implorava por sua atenção enquanto ela o dispensava. Que grande amiga ela era. Não a surpreenderia se Tom a culpasse pelo o que havia acontecido com ela. Então, resolveu num impulso que seria melhor ir embora. Se levantando, ela começou a andar em direção à saída quando sentiu o olhar fixo de Harrison em si, perguntou o que havia acontecido.
“Não acho que seja uma boa, eu visitá-lo. Agora que sei que ele está bem, fico mais tranquila. Mas acho que ele não quer me ver.” a menina disse, sem graça em admitir em voz alta, surpresa com a súbita franqueza.
“Por que ele não iria querer te ver, ?”
“Estávamos meio que… sei lá, não brigados, mas afastados. E ele me ligou, insistindo que precisava me ver, e eu disse que estava ocupada. E então ele bateu o carro porque estava mais preocupado em me convencer, a melhor amiga dele, a se encontrar com ele… é minha culpa. Não devia ter negado, devia ter honrado nossa amizade e concordado. E agora ele está em uma cama de hospital porque eu sou teimosa demais.” retrucou, lágrimas silenciosas descendo por sua face ao admitir a culpa que sentia. Como tinha coragem de provocar isso no melhor amigo? No garoto que amava? Que tipo de pessoa ela era?
“Isso é a maior besteira que eu já ouvi, mas com certeza você não vai acreditar em mim. Porém sei que você vai ouvir o Holland, então deixa de bobeira e vai ver ele, .” Ao notar o olhar duvidoso dela, o jovem bufou. Ah, como os dois eram cegos e teimosos. “Não precisa me negar ou confirmar nada, até porque eu já sei da verdade. Sei que você se importa com o Tom mais que como um amigo, e ele o mesmo com você. Não vou entrar em muitos detalhes, mas era por isso que eles estava indo de te ver. Então, eu acho bom você entrar naquele quarto, ou você fará um dos maiores erros da sua vida indo embora agora, sem falar com ele.” Avisou Harrison, com um tom sério.
, por sua vez, estava atônita. O que ele estava dizendo? Não era possível. Tom nunca havia demonstrado nada. Ele estava saindo com a colega de elenco, pelo amor de Deus! Ela havia passado anos do lado dele, e ele nunca havia percebido. Por que, justamente agora que tinha alguém, ele perceberia? Não. Harrison estava enganado.
Porém, quando fez menção de retrucar e discutir, ele apenas lhe deu um olhar para ficar quieta, enquanto os irmãos do ator voltavam para a sala. A enfermeira perguntou quem seria o próximo a visitá-lo, e, com um pequeno empurrão - literalmente - de Harrison, foi em direção do quarto de Tom.
Tremendo, a antecipação e o medo se misturando, ela abriu a porta e adentrou o quarto, o coração se apertando ao ver o menino deitado naquela cama de hospital, parecendo tão pequeno quanto no dia em que se conheceram. Seu rosto estava com uma bandagem no nariz, mas hematomas se faziam presentes por toda sua face. Ele estava com um daqueles blusões de hospital e coberto, e com uma cara de quem não dormia há dias. teve que engolir o choro súbito que veio à sua garganta, correndo para a cama de Tom, todo os problemas esquecidos ao ver o garoto naquele estado.
“!” disse o ator, tentando sorrir apesar de tudo. Aquilo finalmente arrancou lágrimas dos olhos da menina.
“Ai meu Deus, Tom” exclamou a garota, se sentando na cadeira que havia ali do lado, e se debruçando na cama dele, pegando sua mão (a que não estava machucada) e envolvendo nas suas. “Eu não acredito. Eu sinto tanto, tanto. Me desculpe!”
“Por que está pedindo desculpas?” perguntou ele, confuso. O estado dela era compreensível, sabia como a garota era compassiva e sensível, vê-lo naquela maca de hospital não era uma das imagens mais fáceis. Mas porque ela estava se desculpando?
“Por ter feito isso acontecer! Eles me contaram do acidente, como eu fui a sua última ligação. Eu não devia ter insistido, devia ter falando que você poderia ir lá pra casa. Que tipo de amiga eu sou? E agora você está aí, todo machucado por minha causa. Eu sinto muito, Tom.” Lamentou , as lágrimas escorrendo por sua face, seus olhos cheios de arrependimento e culpa.
“! Não, isso não é sua culpa!” exclamou o jovem, se ajeitando melhor na cama para poder olhá-la melhor. “Eu que me desesperei e perdi o controle do carro. Aliás, não devia nem estar dirigindo falando no telefone. Se alguém tem culpa, sou eu. Mas quando você me disse que estava indo, bom, eu já precisava te ver, e depois disso eu só fiquei mais e mais ansioso para chegar. Ansioso demais e ultrapassei todos os limites. Não se culpe, por favor.” Terminou, encarando-a firmemente e acariciando a bochecha dela com a mão que antes a garota segurava.
“Então eu pelo menos devia ter te contado que estava indo. Ter deixado você ir me ver. Não adianta, qualquer coisa vai me fazer sentir que fui de alguma forma responsável por isso.” Respondeu, chorando baixinho. Deus, não acreditava que aquilo estava acontecendo. Por quê? Ela devia estar em um voo para Itália e ele provavelmente com Zendaya. Suas entranhas se contorceram diante do pensamento, mas era melhor que essa alternativa.
“Por que não me disse? Por que ia embora sem se despedir de mim, ?” perguntou o ator, sua voz refletindo o exterior: machucada. Sabia da teimosia da amiga, e ficar discutindo com ela não daria em lugar algum. Mas, agora que estavam conversando com calma, ele queria saber por que ela faria uma coisa dessas. Eram inseparáveis desde pequenos. Como ela podia fazer aquilo?
“Eu não sei. Foi de última hora, um amigo estava indo para procurar moradia e, como vamos dividir o lugar, me chamou para ir junto. E eu estava tão chateada com você, e até comigo mesma, que me afastei. Não queria te ver, nem que uma última vez, pois sabia que não conseguiria te dizer adeus, e não posso ficar mais assim, Tom”. Declarou , a voz embargada pelas lágrimas, mas a convicção presente em cada palavra. Não poderia se despedir de Tom, ou iria acabar contando tudo. Para o inferno com o curso, com a relação dele. Era seu melhor amigo, sua paixão, e não conseguiria ir embora escondendo uma coisa dessas dele. Por isso, junto com as circunstancias da última semana, decidiu que era melhor daquele jeito.
“Mas por que você estava chateada? Eu nem sei o que eu fiz! Você sempre me puxa a orelha quando eu te magoo, mas dessa vez você só sumiu e eu não sabia o motivo. O que eu fiz para que você diga que ‘não pode mais ficar assim’?” Tom, na verdade, estava começando a perceber, e admitir que Harrison estava certo. Os dois eram muito cegos, pois podia ver nas palavras de , em seu rosto, os sentimentos dela. Por que os dois enrolaram tanto, e não admitiram de uma vez? Por que se machucar daquele jeito? Do que adiantava uma amizade forte como a deles sem a confiança de que, mesmo que não fossem recíprocos, nada mudaria? Eram dois tolos mesmo.
“Você!” exclamou alto a menina, subitamente se levantando, andando pelo quarto, e passando as mãos pela cabeça e pescoço, visivelmente nervosa e tentando retomar o controle. Tão rápido quanto se levantou, ela se virou para ele. “Você é o motivo. Eu sou apaixonada por você desde aquele primeiro beijo na sala dos meus pais, Tom. Não há pessoa nesse mundo que eu goste mais. Você é meu melhor amigo, meu apoio, minha companhia para tudo e qualquer hora. Mas também é o cara pelo qual eu estou terrivelmente apaixonada. O cara que eu quero namorar, e que me leve à encontros, e me dê presentes no dia dos namorados, e me apresente a todos como sua... o cara que eu quero que me ame. Não como amiga, mas como mulher.
E foi por isso que eu estava brava. De repente, você fura comigo e quando eu vejo, você está com outra garota. Você me trocou, e eu não aguentei. Como eu podia chegar em você e te falar como me sentia se você já tinha uma garota maravilhosa nos seus braços? Então, quando soube do curso, eu pensei que seria bom ficar longe de você, para que esses sentimentos sumissem. Estava te evitando porque não sabia como te dizer adeus, e queria me acostumar à vida sem você. Sem mencionar que eu não me controlava de ciúmes ao pensar em você com Zendaya. Então, por isso que eu te evitei, por isso que eu ia embora sem me despedir. Por que eu não suportaria ir embora sem te falar tudo isso, e de que diferença faz?” desabafou. No começo, estava quase gritando, mas ao chegar ao final, sua voz era quase um sussurro, cheia de mágoa, angústia, desolada e desesperançosa. A menina seguia chorando, e voltou a se sentar, mas com a cabeça baixa, sem encará-lo.
Tom sentiu o ar fugir de seus pulmões. Desde que Harrison havia feito ele acordar para o que estava acontecendo, um medo havia se apossado de seu corpo, de que estava fazendo a coisa errada e que ela não retribuiria seus sentimentos. Mas, ao vê-la ali, do seu lado, falando cada uma das coisas que ele próprio sentia, o ator respirou aliviado pela primeira vez em horas. Estava tão aflito com as possibilidades, tão tenso, que podia sentir seus músculos relaxarem – e sabia que não era a medicação, pois estava daquele jeito antes mesmo do acidente. Era . Sempre era . Ele sentiu um sorriso se abrindo em seu rosto, e, lentamente, pois suas costelas ainda doíam, levou o braço até a menina, levantando a cabeça dela com uma de suas mãos. Sentiu o coração apertar ao ver os olhos dela cheios de lágrimas, mas sabia que estava prestes a mudar aquilo.
Com um gesto, pediu para que ela se aproximasse, sentando na beira da cama dele. Ela, com os olhos marejados ainda, o olhou confusa, e hesitantemente foi, com medo de que estaria prestes a ser dispensada. Sabia que Tom não era cruel, e talvez por isso estivesse sendo tão cuidadoso, tentando poupá-la um pouco da dor da rejeição. Fechou os olhos tentando conter as milhares de lágrimas que queriam sair de seus olhos e os soluços de dentro de si, tentando não se humilhar na frente dele ainda mais.
Ela só não estava preparada para sentir os lábios dele nos seus. Iria abrir os olhos, mas se aquilo era um beijo de consolação, de despedida, então iria aproveitar. Ela era masoquista àquele ponto. Os lábios dele eram macios nos seus, se movimentando delicadamente e acabando por arrancar um suspiro dela, tão diferente do beijo que dividiram há tantos anos atrás. Quando finalmente ele se afastou, ela continuou de olhos fechados, querendo guardar aquele momento para sempre, já que devia ser o último. Somente os abriu quando ele chamou seu nome, e mesmo assim não queria, pois não queria que o momento terminasse. Mas parecia que Tom agora estava no controle de seu corpo.
“” disse Tom levemente, e esperou até que a garota abrisse os olhos. Quando o encarou, ele pode ver a dor da rejeição já se apossando dela, uma dor e mágoa ali também. Mal sabia ela que estava prestes a ser surpreendida. “Primeiro, eu peço desculpas. Por ser tão cego, tão distraído e não perceber o que estava acontecendo. Não só com você, mas comigo também.”
Ao notar o olhar curioso dela, que havia se transforado de constrangido para confuso, ele riu.
“Não é só com você, isso. Não sei porque eu fiquei com Zendaya, e por isso peço desculpas. Talvez fosse minha maneira de tentar te esquecer, ou de talvez substituir meus sentimentos por você. Como eu te disse naquela noite, não era nada sério, porque não conseguia sentir por ela o que eu sinto por você. Ela não é você, e quando Harrison me fez parar de ser um babaca medroso, eu tinha que ir te contar isso. Então, não se culpe, mas mesmo você não sendo a culpada pelo acidente, ele teve a ver com você. Porque eu estava tão desesperado, ainda mais por saber que você estava indo embora e eu não poderia te dizer tudo isso, que acabei perdendo o controle, igual à nossa situação. Eu estava indo te falar que sou apaixonado por você, e que se você me quisesse, eu iria pegar o meu amor.”