Capítulo Único
O Ministério da Saúde adverte: nunca, em hipótese alguma, pelo bem da sua saúde mental, namore alguém cuja vida esteja mais presa à tela do celular do que à realidade.
gostaria de ter recebido esse conselho de uma amiga, uma pessoa próxima, um parente ou até de um estranho; qualquer um que a impedisse de se apaixonar pelo sorriso tranquilo de e de tomar profundo ódio daquele maldito iPhone.
Mesmo quando achou estar acostumada a ter de dividir o curto tempo livre do namorado com sua movimentada vida social online, frequentemente se pegava resmungando pelos cantos quando se dava conta que ele estava presente ao seu lado apenas em corpo; sua mente vagava em algum lugar entre o Twitter e o Instagram, ou ainda respondendo mensagens infinitas no Kakaotalk, pedindo comida pelo Coupang Eats mesmo ela estando preparando o almoço, qualquer coisa que o mantivesse em frente à tela brilhante do aparelho.
“Será que ele assistia muita TV quando criança?”, sua irmã a questionou no derradeiro dia em que desabou em lágrimas, furiosa ao ver que nem mesmo à sua formatura poderia ir. Faltando menos de duas horas para a cerimônia, um importante cliente com uma proposta imperdível precisava ser atendido, caso contrário a imagem imaculada de poderia sofrer arranhões. Quem se importava com comemorar a vitória de colar grau após quase seis anos de faculdade, não é mesmo? O mundo não seria o mesmo se o rosto perfeito de deixasse de estampar a propaganda de qualquer coisa que fosse. Enquanto sua irmã tentava buscar uma justificativa em um possível vício em telas, sabia que o mal que assolava o namorado era incapacidade de separar vida pessoal e profissional. Três anos de relacionamento fizeram da médica veterinária uma especialista certificada em lidar com o cantor, rapper, ator e modelo e uma amadora em termos de alcançar a pessoa real por trás de todos esses títulos. Seu oppa, o homem por quem se apaixonara, pertencia mais a desconhecidos do que a si. Ele era praticamente um patrimônio cultural, ao mesmo tempo que mal dava conta de ser um bom namorado.
Fazia frio, daquelas noites geladas que te fazem querer ficar sobre as cobertas em frente à lareira com uma xícara da bebida quente mais gostosa que pudesse providenciar. No batente da janela, olhava para o estacionamento do prédio com os últimos resquícios de esperança mantendo-a firme na vigia. Em algum momento apareceria o carro azul escuro que tanto esperava, estacionaria na mesma vaga sob a árvore de Gingko Biloba e dele sairia . Daria a característica corridinha até a portaria, onde cumprimentaria o porteiro com um sorriso dos mais simpáticos e seguiria para o elevador. Só pararia de andar saltitante quando alcançasse a porta com o número 423 gravado. Abriria devagarinho, cantarolando uma cantiga infantil e iria atrás de onde ela estivesse. Diria que a ama, a beijaria com saudades e todo o momento de casalzinho feliz seria estragado pelo som de uma notificação, que levaria a abrir mão de tudo para conferir do que se tratava.
Já passava das nove da noite e nem sinal dele. De todos os dias do ano, aquele era um dos que ele não poderia inventar alguma desculpa ou compromisso inadiável. Era antevéspera de Natal e aniversário de três anos do que a imprensa chamava de “casal normalidade”, o famoso vocalista e sua namorada, a reles mortal . Pelo andar da carruagem, seria mais um ano comemorando sozinha o momento em que os corações se entrecruzaram entre a rotina frenética de e as noites sem dormir de . Estaria contando uma baita lorota se dissesse que tais desventuras não minaram lentamente seu desejo por manter aquele relacionamento. Enquanto ele não soubesse deixar o trabalho de lado para que pudessem viver juntos, ela seria constantemente esmagada por contratos e uma agenda mais cheia que a do BTS.
Nove e meia. A campainha tocou. não lembrava de ter pedido nada que precisasse ser entregue naquele horário, tampouco foi avisada pelo porteiro sobre a subida de alguém. Cautelosa, espiou pelo olho-mágico antes de abrir a porta para um esbaforido equilibrando duas caixas, flores e um balão de ursinho com coração.
— Desculpa a demora, as fotos ficaram tão boas que o cliente quis mais. - justificou-se.
Só então atentou-se para o peito nu do namorado totalmente exposto. Sem camisa, sem casaco, protegido do frio apenas pela boa vontade de Deus para com seus filhos.
— Oppa, por tudo que é mais sagrado, por que você está nu assim? - perguntou surpresa puxando-o para dentro do apartamento aquecido.
— Ô, docinho, vim correndo. Mal deu tempo de pegar os seus presentes. - levantou as caixas em suas mãos - Achou que eu tinha esquecido, né? Jamais. - sorriu orgulhoso de si mesmo.
tinha o coração mais meigo e gentil do mundo e este vivia protegido sob camadas de músculos cuidadosamente construídos. Os presentes e o que mais ele tivesse para lhe dar não tinham metade do valor do acalanto contido no tom de voz acolhedor dele.
— Achei que não viesse mais. Te liguei várias vezes, custava retornar? Às dez eu ia dormir, cansei de ficar esperando que nem boba. - a magia desfez-se por breves instantes, relembrando a veterinária do motivo de suas queixas.
— O celular ficou com o manager, sabe como é. Tinha que estar focado nas fotos ou não sairiam boas. - disse enquanto arrumava as caixas sobre a mesa da sala. - Já comeu, docinho?
Nessas horas, quando precisava que atendesse a praga do celular, ele não atendia. Se fosse para falar de qualquer outra coisa sem importância, apostava que em menos de dois minutos ele ligaria de volta para saber do que se tratava.
— Como, se fiquei te esperando? - perguntou indignada. - Cozinhei o jantar e guardei no forno na esperança de que você não furasse mais uma vez.
— Nem tenho desmarcado nossos encontros com tanta frequência, amor. - defendeu-se.
— Nããão, imagina. Quatro vezes em trinta dias é pouco para você? - apoiou as mãos na cintura encarando-o face a face.
— Eram…
— Compromissos inadiáveis, eu sei. Conheço o discurso, oppa. - murchou ao lembrar das vezes que abriu buracos na agenda de atendimentos apenas para poder tomar um café com o amado entre uma atividade e outra, sendo deixada no vácuo algumas vezes pelo surgimento de outras questões mais importantes que demandavam a presença imediata do cantor.
— Desculpa. - sussurrou em seu ouvido, abraçando-a por trás. - Não faço por mal.
“De boa intenção o inferno está cheio”, já dizia sua mãe. Quis aplicar a frase para rebater a alegação do namorado. Mudou logo de ideia, ciente do que poderia causar se fosse ríspida da maneira como gostaria de ser.
— Trouxe pizza para comermos. - abriu a maior das caixas, revelando pedaços fartos de uma pizza de pepperoni. - Está um pouco fria, vamos ter que esquentar.
— Tudo bem, eu esquento. Tem o que eu fiz também.
Os sons das intermináveis notificações preenchiam o apartamento, incomodando a ponto de desejar que um raio caísse sobre aquele celular.
— Oppa, por que não vai tomar um banho enquanto eu ajeito tudo aqui? Está muito frio, você veio exposto assim - apontou para o tronco desnudo de -, pode acabar ficando doente. Deus me livre! Tem roupas suas no meu armário. Enquanto isso arrumo tudo para comermos.
— Boa ideia, docinho! - seguiu em direção ao quarto - Não belisque a comida sem mim, hein?
— Oppa! - chamou. - Deixe o celular aqui. Quero que você termine esse banho hoje ainda.
fez questão de ir até o namorado para retirar o aparelho que se infiltrava no banheiro escondido no bolso traseiro da calça do cantor. Se começasse a dar atenção ao celular, demoraria facilmente uma hora sentado no vaso sanitário respondendo mensagens.
— Nem lembrava que ele estava aqui. - apalpou os bolsos, entregando o iPhone à namorada.
— Sei… Que ótimo que estava esquecendo.
Enquanto tomava banho, deixou o celular na mesa onde os presentes trazidos pelo amado estavam. Da cozinha, esquentando o jantar, ela ouvia os muitos plins, kapus, fiu-fius e os mais variados sons de notificação que pudessem ser utilizados por um ser humano. Ele podia, ao menos, deixar o aparelho no modo silencioso enquanto estavam juntos, mas, pelo visto, em algum ponto, a chuva de sons engraçadinhos e irritantes fazia bem ao ego do ocupado homem. Era a única explicação viável para entender alguém que gostava de receber notificações.
Abriu a outra caixa traga pelo artista, encontrando um embrulho simples, de plástico verde, uma touca de tricô e uma garrafa de vinho. O balão de ursinho foi preso ao pé de uma das cadeiras da mesa de jantar e ficaria ali, vendo-os comer e beber como um casal tranquilo, até que murchasse dias depois.
Quando voltou, encontrou dois pratos de risoto dispostos na mesa. A pizza que trouxera também estava lá, com o queijo ainda borbulhando após ser requentada. Podia parecer besteira, mas adorava a simplicidade dos encontros com . Por mais que pudessem ir a restaurantes luxuosos, sempre optariam pelas opções mais simples, lugares em que pudessem ficar a sós sem se preocuparem com fotógrafos, onde fãs não os interromperam e, principalmente, onde se sentisse confortável. O apartamento dela tornou-se o refúgio do casal com o passar dos anos. Apesar da casa de ter o dobro do tamanho, o confortável apartamento era aconchegante e acolhedor na medida certa. Tinha os encantos da veterinária por todos os cantos, fazendo com que ela estivesse presente em todos os cantos graças à aura única que impusera ao imóvel. Ela pediu que abrisse o vinho, como de costume, e viu no simples ato de tirar a rolha da garrafa uma oportunidade de mostrar seus charmes irresistíveis, reproduzindo poses que exaltassem a boa forma de seu corpo, como Hércules se mostrando para as Musas. Arrancar risadas de era o combustível para seguir aprimorando suas gracinhas, afinal, ela ficava ainda mais bonita quando sorria para ele.
— O que o arquiteto falou do andamento da obra do apartamento? - perguntou enquanto jantavam. Estavam iniciando a reforma do apartamento de para se casarem no futuro, rearranjando o espaço para no futuro receber os filhos do casal. O pedido ainda não fora feito, porém compartilhavam do mesmo desejo por constituir família e aos poucos, iam se ajustando até que o momento certo chegasse as as escovas de dentes fossem oficialmente juntadas.
— Que arquiteto? - perguntou confuso.
— O que ia na sua casa hoje, oppa! Eu tinha marcado com ele.
— E me avisou?
— Claro que avisei! Falei com você na metade da semana passada, precisava que deixasse alguém em casa para recebê-lo caso não pudesse estar.
— Não lembro disso, docinho. Não tinha ninguém em casa hoje.
— Então ele deu com a cara na porta?
— Não queira dizer, mas provavelmente deu sim.
— Ah, ótimo. Vou demorar mais duas semanas para conseguir outro horário com esse homem porque você esqueceu. - bufou.
— Devia ter me mandado uma DM me lembrando. - disse tranquilamente.
— Jura que eu preciso te mandar mensagens e DMs para você lembrar dos simples favores que te peço, ? Até para isso? - irritada, era envolvida em uma perigosa aura vermelha do mais profundo ódio, que caso não fosse contido poderia chacoalhar as paredes. - Não te peço nada nunca. Nunca! Hoje, que tinha duas cirurgias para fazer e precisava que você deixasse, sei lá!, sua mãe esperando pelo arquiteto, você fura comigo porque esqueceu? Inacreditável, . Inacreditável.
— Gosto mais quando me chama de oppa. - mexeu com a mecha de cabelo que se rebelava entre as demais, caindo sobre o rosto de , para tentar acalmá-la.
— Dê graças a Deus que eu não te xinguei. - fuzilou-o com o olhar.
O silêncio que se instaurou era incômodo, apenas o tilintar dos talheres contra os pratos não era o suficiente para dissipar a nuvem pesada que estacionou sobre os dois naquela mesa.
— Desculpa, docinho. Se tivesse me mandando uma DM mais cedo, eu me lembraria.
— Não quero mais falar sobre isso, por favor. Estamos comendo.
Acanhado, esticou o braço para alcançar o celular perto do ursinho flutuante. Tinha recebido várias mensagens, precisava se certificar que não eram importantes. Assim, manteria-se ocupado e daria tempo para que se acalmasse e não atentasse contra sua vida.
— O que tem de tão importante nesse celular? - ela perguntou após alguns minutos de imersão na tela.
— Olha aqui, amor. Preciso postar duas fotos do ensaio que fiz no final de semana hoje ainda no Instagram. - estendeu o aparelho para que ela pudesse ver o conteúdo da pasta na sua galeria. - É melhor colocar essas duas de cowboy ou uma com as borboletas e outra com o uniforme escolar?
— Oppa, hoje é nosso aniversário de namoro. - disse pausadamente. - É sério que você está preocupado com o conceito das fotos? Qual a diferença de postar hoje ou amanhã de manhã? Tem que ser agora?
— Poxa, , é trabalho. - fez bico.
— Exatamente, é trabalho. Tudo é trabalho para você. O tempo todo, sempre que estamos juntos você arranja alguma coisa para fazer que não seja realmente estar comigo.
— Mas eu não tô aqui do seu ladinho?
— Só de corpo. - se levantou e começou a recolher os pratos. - A cabeça está voando junto com as borboletas das suas fotos.
— É rápido, prometo. Vou só postar e deixo o celular de lado de novo. Vai, amor, me ajuda a escolher.
Ela sabia que não acabaria ali. Ele postaria as fotos e, no segundo seguinte, não haveria mais paz. Uma chuva de notificações cairia sobre eles, mensagens, curtidas, compartilhamentos, amigos ligando para comentar alguma coisa e a noite que deveria ser apenas dos dois mais uma vez iria por água abaixo.
— O mundo não gira ao redor de fotos suas sem camisa. Você não faz ideia. - o tom de sua voz era triste, mantinha o olhar baixo, como quem pedia por um abraço.
— Então tira uma foto comigo! Para comemorar nosso aniversário! - a seguiu até a cozinha, implorando como um cachorrinho pidão.
— Você vai postar isso em algum lugar?
— No Instagram, ué. E talvez no Twitter. - completou. - Mostrar como minha é linda. - sorriu.
— Nem pensar. - virou de costas para ele, começando a lavar a louça.
— Por quê? Só uma fotinha.
— Porque eu estou farta disso, ! - soltou os talheres que lavava na pia, fazendo barulho com a força com que eles caíram. - Farta! Tudo é sobre seu trabalho, tudo precisa ser mostrado, postado, compartilhado. Tudo é mais importante que a gente. Os nossos momentos são vistos por todo mundo, menos por nós mesmos. Que saco!
— Docinho… - tentou abraçá-la, porém teve os braços desviados.
— Docinho o cacete. Na próxima vez que formos fazer qualquer coisa, vou levar o Floco de Neve junto e deixá-lo do meu lado. Vai que preciso atendê-lo, não é?
— Quem é Floco de Neve?
— O cavalo que eu tinha de operar hoje no final do dia e remarquei para poder chegar em casa mais cedo e cozinhar esse bendito risoto que você sequer elogiou.
— Estava uma delícia, amor. - disse rapidamente.
— Eu sei, estava bom para caramba, mas o senhor Músculos Super-Definidos estava mais ocupado vendo se ficava mais bonito de cowboy ou de sei lá o quê. Fica aí postando suas fotos e se alimentando de likes que eu vou tomar banho e dormir. Não estou com clima para mais nada. Acabou por hoje. - secou a pia e rumou para o quarto, deixando a pizza intacta sobre a mesa de jantar.
respirou fundo, ciente de que tinha estragado de vez a noite especial deles. Tinha colocado tudo a perder desde o momento que se atrasou, contudo, acreditou ser capaz de virar o jogo. Bobagem. Na realidade, tinha derrubado o tabuleiro inteiro no chão e dançado sobre ele. Guardou as louças lavadas no armário, devolveu a pizza ao forno, fechou o vinho que beberam, pegou o embrulho na caixa sobre a mesa, apagou as luzes e esperou pela deixa para entrar no quarto. Não queria invadir o espaço seguro de enquanto ela estivesse sensível, poderia acabar machucando-a ainda mais ao tentar consertar o erro. Dez minutos de silêncio. Parecia ser o momento certo.
Devagar, calculando a distância entre um pé e outro, pisando leve como uma formiguinha, entrou no quarto, deparando-se com a namorada de pijama, mirando-se no espelho com olhos marejados. As mãos acariciavam o tronco lenta e suavemente. Pelo reflexo, viu o homem que insistia em amar assistindo-a em sua fragilidade e desabou. As lágrimas que vinha tentando conter escorreram-lhe pela face em um choro dolorido, frustrado.
— Amor! - correu até ela, abraçando-a - O que houve? Me desculpa, estraguei tudo de novo…
Presa nos braços do namorado, soluçava, apoiando-se nele para se manter de pé quando a vontade de seu corpo era lançar-se no chão em posição fetal e ali permanecer até que alguém viesse dizer que tudo não passava de uma brincadeira de mau-gosto.
— Estou cansada, oppa. Cansada. - soluçou - Achei que poderia te consertar, impedir essa influência externa sobre nós o tempo todo, mas não consigo. Não dou conta. Estou exausta até meu último suspiro. Dando murros em ponta de faca sem sucesso.
— , não fala assim. Eu te amo!
— Eu também te amo e esse é o problema. Devia ter acabado com isso antes que fosse tarde demais.
chacoalhou quando entendeu para onde aquela conversa ameaçava rumar.
— Como assim “tarde demais”? - o embrulho no bolso da calça parecia pesar uma tonelada.
Com os braços envoltos no pescoço de , foi mais uma vez tomada por uma série de soluços que reviraram seu estômago. Em todas as noites que dormira mal perdida em pensamentos, construindo um futuro para eles em sua mente não foram o suficiente para prepará-la para aquele momento.
— Você vai me deixar, ? - perguntou receoso pela resposta que receberia.
— Não posso, mesmo se quisesse. Estou grávida.
Desnorteado entre o choque e a extrema alegria, travou com a boca aberta. Ria como um louco ao mesmo tempo que chorava, tentando colocar sentido às palavras de . Talvez ela quisesse terminar com ele, mas não o faria porque estava grávida. Grávida. Grávida!
— Grávida! Isso… é sério isso? ! - embaralhou-se com as palavras.
— Duas semanas. - o semblante choroso carregava um quê de melancolia ao fundo que apenas os bons observadores perceberiam
— Eu nem sei o que dizer… meu amor! - apertou seu corpo contra o dela até que ela soltasse um resmungo de dor. - Desculpa, desculpa. Não posso machucar o bebê. Nosso filho, ! Nosso filho!
— É, nosso filho…
— Por que está triste? - secou as lágrimas que continuavam a escorrer pelos olhos bonitos da veterinária.
— Não sei. Talvez porque você não esteja dando conta de ser nem meu namorado, ser pai vai ser mais do que você pode lidar. Sempre tão ocupado…
mexeu nos bolsos em busca do embrulho que vinha guardando, libertando-o do plástico já amassado para depositar nas mãos trêmulas de uma pequena caixa lilás.
— Abre. - pediu - Esse é o seu presente.
O anel delicadamente ornado com mínimos diamantes aguardava tão ansioso quanto pela reação de à surpresa.
— Eu sei que cometo vários erros, que trabalho mais do que devia, que vivo misturando as coisas e atrapalhando nosso relacionamento com meus compromissos, mas não consigo pensar num amanhã em que você não esteja. Quero melhorar para te fazer cada vez mais feliz e agora você me deu o motivo mais nobre e bonito de todos para que eu me torne a melhor versão de mim.
— Oppa, eu…
— - ajoelhou-se - se o título de mãe do meu filho não for o suficiente, você aceita ser minha esposa?
— Não pode dar sustos em mulheres grávidas, . Nem fazer elas passarem raiva. Se você prometer se comportar, eu aceito. - sorriu o mais calma que pôde entre as lágrimas e o cansaço que a abatiam - Por favor, não nos decepcione. - acariciou o ventre.
— Jamais.
O celular de tocou e aguardou em silêncio para observar a reação dele ao primeiro teste da dita melhora.
— Não vai atender? - perguntou. Os braços fortes a levantaram do chão e repousaram-a sobre a cama arrumada.
— São mais de onze da noite, ninguém vai morrer se eu deixar tocar.
— Tem certeza?
— Absoluta. Minha esposa e meu filho precisam de mim agora. - depositou um beijo nos lábios de uma que sorria, deitando-se ao lado dela. - Feliz aniversário para nós, docinho.
gostaria de ter recebido esse conselho de uma amiga, uma pessoa próxima, um parente ou até de um estranho; qualquer um que a impedisse de se apaixonar pelo sorriso tranquilo de e de tomar profundo ódio daquele maldito iPhone.
Mesmo quando achou estar acostumada a ter de dividir o curto tempo livre do namorado com sua movimentada vida social online, frequentemente se pegava resmungando pelos cantos quando se dava conta que ele estava presente ao seu lado apenas em corpo; sua mente vagava em algum lugar entre o Twitter e o Instagram, ou ainda respondendo mensagens infinitas no Kakaotalk, pedindo comida pelo Coupang Eats mesmo ela estando preparando o almoço, qualquer coisa que o mantivesse em frente à tela brilhante do aparelho.
“Será que ele assistia muita TV quando criança?”, sua irmã a questionou no derradeiro dia em que desabou em lágrimas, furiosa ao ver que nem mesmo à sua formatura poderia ir. Faltando menos de duas horas para a cerimônia, um importante cliente com uma proposta imperdível precisava ser atendido, caso contrário a imagem imaculada de poderia sofrer arranhões. Quem se importava com comemorar a vitória de colar grau após quase seis anos de faculdade, não é mesmo? O mundo não seria o mesmo se o rosto perfeito de deixasse de estampar a propaganda de qualquer coisa que fosse. Enquanto sua irmã tentava buscar uma justificativa em um possível vício em telas, sabia que o mal que assolava o namorado era incapacidade de separar vida pessoal e profissional. Três anos de relacionamento fizeram da médica veterinária uma especialista certificada em lidar com o cantor, rapper, ator e modelo e uma amadora em termos de alcançar a pessoa real por trás de todos esses títulos. Seu oppa, o homem por quem se apaixonara, pertencia mais a desconhecidos do que a si. Ele era praticamente um patrimônio cultural, ao mesmo tempo que mal dava conta de ser um bom namorado.
Fazia frio, daquelas noites geladas que te fazem querer ficar sobre as cobertas em frente à lareira com uma xícara da bebida quente mais gostosa que pudesse providenciar. No batente da janela, olhava para o estacionamento do prédio com os últimos resquícios de esperança mantendo-a firme na vigia. Em algum momento apareceria o carro azul escuro que tanto esperava, estacionaria na mesma vaga sob a árvore de Gingko Biloba e dele sairia . Daria a característica corridinha até a portaria, onde cumprimentaria o porteiro com um sorriso dos mais simpáticos e seguiria para o elevador. Só pararia de andar saltitante quando alcançasse a porta com o número 423 gravado. Abriria devagarinho, cantarolando uma cantiga infantil e iria atrás de onde ela estivesse. Diria que a ama, a beijaria com saudades e todo o momento de casalzinho feliz seria estragado pelo som de uma notificação, que levaria a abrir mão de tudo para conferir do que se tratava.
Já passava das nove da noite e nem sinal dele. De todos os dias do ano, aquele era um dos que ele não poderia inventar alguma desculpa ou compromisso inadiável. Era antevéspera de Natal e aniversário de três anos do que a imprensa chamava de “casal normalidade”, o famoso vocalista e sua namorada, a reles mortal . Pelo andar da carruagem, seria mais um ano comemorando sozinha o momento em que os corações se entrecruzaram entre a rotina frenética de e as noites sem dormir de . Estaria contando uma baita lorota se dissesse que tais desventuras não minaram lentamente seu desejo por manter aquele relacionamento. Enquanto ele não soubesse deixar o trabalho de lado para que pudessem viver juntos, ela seria constantemente esmagada por contratos e uma agenda mais cheia que a do BTS.
Nove e meia. A campainha tocou. não lembrava de ter pedido nada que precisasse ser entregue naquele horário, tampouco foi avisada pelo porteiro sobre a subida de alguém. Cautelosa, espiou pelo olho-mágico antes de abrir a porta para um esbaforido equilibrando duas caixas, flores e um balão de ursinho com coração.
— Desculpa a demora, as fotos ficaram tão boas que o cliente quis mais. - justificou-se.
Só então atentou-se para o peito nu do namorado totalmente exposto. Sem camisa, sem casaco, protegido do frio apenas pela boa vontade de Deus para com seus filhos.
— Oppa, por tudo que é mais sagrado, por que você está nu assim? - perguntou surpresa puxando-o para dentro do apartamento aquecido.
— Ô, docinho, vim correndo. Mal deu tempo de pegar os seus presentes. - levantou as caixas em suas mãos - Achou que eu tinha esquecido, né? Jamais. - sorriu orgulhoso de si mesmo.
tinha o coração mais meigo e gentil do mundo e este vivia protegido sob camadas de músculos cuidadosamente construídos. Os presentes e o que mais ele tivesse para lhe dar não tinham metade do valor do acalanto contido no tom de voz acolhedor dele.
— Achei que não viesse mais. Te liguei várias vezes, custava retornar? Às dez eu ia dormir, cansei de ficar esperando que nem boba. - a magia desfez-se por breves instantes, relembrando a veterinária do motivo de suas queixas.
— O celular ficou com o manager, sabe como é. Tinha que estar focado nas fotos ou não sairiam boas. - disse enquanto arrumava as caixas sobre a mesa da sala. - Já comeu, docinho?
Nessas horas, quando precisava que atendesse a praga do celular, ele não atendia. Se fosse para falar de qualquer outra coisa sem importância, apostava que em menos de dois minutos ele ligaria de volta para saber do que se tratava.
— Como, se fiquei te esperando? - perguntou indignada. - Cozinhei o jantar e guardei no forno na esperança de que você não furasse mais uma vez.
— Nem tenho desmarcado nossos encontros com tanta frequência, amor. - defendeu-se.
— Nããão, imagina. Quatro vezes em trinta dias é pouco para você? - apoiou as mãos na cintura encarando-o face a face.
— Eram…
— Compromissos inadiáveis, eu sei. Conheço o discurso, oppa. - murchou ao lembrar das vezes que abriu buracos na agenda de atendimentos apenas para poder tomar um café com o amado entre uma atividade e outra, sendo deixada no vácuo algumas vezes pelo surgimento de outras questões mais importantes que demandavam a presença imediata do cantor.
— Desculpa. - sussurrou em seu ouvido, abraçando-a por trás. - Não faço por mal.
“De boa intenção o inferno está cheio”, já dizia sua mãe. Quis aplicar a frase para rebater a alegação do namorado. Mudou logo de ideia, ciente do que poderia causar se fosse ríspida da maneira como gostaria de ser.
— Trouxe pizza para comermos. - abriu a maior das caixas, revelando pedaços fartos de uma pizza de pepperoni. - Está um pouco fria, vamos ter que esquentar.
— Tudo bem, eu esquento. Tem o que eu fiz também.
Os sons das intermináveis notificações preenchiam o apartamento, incomodando a ponto de desejar que um raio caísse sobre aquele celular.
— Oppa, por que não vai tomar um banho enquanto eu ajeito tudo aqui? Está muito frio, você veio exposto assim - apontou para o tronco desnudo de -, pode acabar ficando doente. Deus me livre! Tem roupas suas no meu armário. Enquanto isso arrumo tudo para comermos.
— Boa ideia, docinho! - seguiu em direção ao quarto - Não belisque a comida sem mim, hein?
— Oppa! - chamou. - Deixe o celular aqui. Quero que você termine esse banho hoje ainda.
fez questão de ir até o namorado para retirar o aparelho que se infiltrava no banheiro escondido no bolso traseiro da calça do cantor. Se começasse a dar atenção ao celular, demoraria facilmente uma hora sentado no vaso sanitário respondendo mensagens.
— Nem lembrava que ele estava aqui. - apalpou os bolsos, entregando o iPhone à namorada.
— Sei… Que ótimo que estava esquecendo.
Enquanto tomava banho, deixou o celular na mesa onde os presentes trazidos pelo amado estavam. Da cozinha, esquentando o jantar, ela ouvia os muitos plins, kapus, fiu-fius e os mais variados sons de notificação que pudessem ser utilizados por um ser humano. Ele podia, ao menos, deixar o aparelho no modo silencioso enquanto estavam juntos, mas, pelo visto, em algum ponto, a chuva de sons engraçadinhos e irritantes fazia bem ao ego do ocupado homem. Era a única explicação viável para entender alguém que gostava de receber notificações.
Abriu a outra caixa traga pelo artista, encontrando um embrulho simples, de plástico verde, uma touca de tricô e uma garrafa de vinho. O balão de ursinho foi preso ao pé de uma das cadeiras da mesa de jantar e ficaria ali, vendo-os comer e beber como um casal tranquilo, até que murchasse dias depois.
Quando voltou, encontrou dois pratos de risoto dispostos na mesa. A pizza que trouxera também estava lá, com o queijo ainda borbulhando após ser requentada. Podia parecer besteira, mas adorava a simplicidade dos encontros com . Por mais que pudessem ir a restaurantes luxuosos, sempre optariam pelas opções mais simples, lugares em que pudessem ficar a sós sem se preocuparem com fotógrafos, onde fãs não os interromperam e, principalmente, onde se sentisse confortável. O apartamento dela tornou-se o refúgio do casal com o passar dos anos. Apesar da casa de ter o dobro do tamanho, o confortável apartamento era aconchegante e acolhedor na medida certa. Tinha os encantos da veterinária por todos os cantos, fazendo com que ela estivesse presente em todos os cantos graças à aura única que impusera ao imóvel. Ela pediu que abrisse o vinho, como de costume, e viu no simples ato de tirar a rolha da garrafa uma oportunidade de mostrar seus charmes irresistíveis, reproduzindo poses que exaltassem a boa forma de seu corpo, como Hércules se mostrando para as Musas. Arrancar risadas de era o combustível para seguir aprimorando suas gracinhas, afinal, ela ficava ainda mais bonita quando sorria para ele.
— O que o arquiteto falou do andamento da obra do apartamento? - perguntou enquanto jantavam. Estavam iniciando a reforma do apartamento de para se casarem no futuro, rearranjando o espaço para no futuro receber os filhos do casal. O pedido ainda não fora feito, porém compartilhavam do mesmo desejo por constituir família e aos poucos, iam se ajustando até que o momento certo chegasse as as escovas de dentes fossem oficialmente juntadas.
— Que arquiteto? - perguntou confuso.
— O que ia na sua casa hoje, oppa! Eu tinha marcado com ele.
— E me avisou?
— Claro que avisei! Falei com você na metade da semana passada, precisava que deixasse alguém em casa para recebê-lo caso não pudesse estar.
— Não lembro disso, docinho. Não tinha ninguém em casa hoje.
— Então ele deu com a cara na porta?
— Não queira dizer, mas provavelmente deu sim.
— Ah, ótimo. Vou demorar mais duas semanas para conseguir outro horário com esse homem porque você esqueceu. - bufou.
— Devia ter me mandado uma DM me lembrando. - disse tranquilamente.
— Jura que eu preciso te mandar mensagens e DMs para você lembrar dos simples favores que te peço, ? Até para isso? - irritada, era envolvida em uma perigosa aura vermelha do mais profundo ódio, que caso não fosse contido poderia chacoalhar as paredes. - Não te peço nada nunca. Nunca! Hoje, que tinha duas cirurgias para fazer e precisava que você deixasse, sei lá!, sua mãe esperando pelo arquiteto, você fura comigo porque esqueceu? Inacreditável, . Inacreditável.
— Gosto mais quando me chama de oppa. - mexeu com a mecha de cabelo que se rebelava entre as demais, caindo sobre o rosto de , para tentar acalmá-la.
— Dê graças a Deus que eu não te xinguei. - fuzilou-o com o olhar.
O silêncio que se instaurou era incômodo, apenas o tilintar dos talheres contra os pratos não era o suficiente para dissipar a nuvem pesada que estacionou sobre os dois naquela mesa.
— Desculpa, docinho. Se tivesse me mandando uma DM mais cedo, eu me lembraria.
— Não quero mais falar sobre isso, por favor. Estamos comendo.
Acanhado, esticou o braço para alcançar o celular perto do ursinho flutuante. Tinha recebido várias mensagens, precisava se certificar que não eram importantes. Assim, manteria-se ocupado e daria tempo para que se acalmasse e não atentasse contra sua vida.
— O que tem de tão importante nesse celular? - ela perguntou após alguns minutos de imersão na tela.
— Olha aqui, amor. Preciso postar duas fotos do ensaio que fiz no final de semana hoje ainda no Instagram. - estendeu o aparelho para que ela pudesse ver o conteúdo da pasta na sua galeria. - É melhor colocar essas duas de cowboy ou uma com as borboletas e outra com o uniforme escolar?
— Oppa, hoje é nosso aniversário de namoro. - disse pausadamente. - É sério que você está preocupado com o conceito das fotos? Qual a diferença de postar hoje ou amanhã de manhã? Tem que ser agora?
— Poxa, , é trabalho. - fez bico.
— Exatamente, é trabalho. Tudo é trabalho para você. O tempo todo, sempre que estamos juntos você arranja alguma coisa para fazer que não seja realmente estar comigo.
— Mas eu não tô aqui do seu ladinho?
— Só de corpo. - se levantou e começou a recolher os pratos. - A cabeça está voando junto com as borboletas das suas fotos.
— É rápido, prometo. Vou só postar e deixo o celular de lado de novo. Vai, amor, me ajuda a escolher.
Ela sabia que não acabaria ali. Ele postaria as fotos e, no segundo seguinte, não haveria mais paz. Uma chuva de notificações cairia sobre eles, mensagens, curtidas, compartilhamentos, amigos ligando para comentar alguma coisa e a noite que deveria ser apenas dos dois mais uma vez iria por água abaixo.
— O mundo não gira ao redor de fotos suas sem camisa. Você não faz ideia. - o tom de sua voz era triste, mantinha o olhar baixo, como quem pedia por um abraço.
— Então tira uma foto comigo! Para comemorar nosso aniversário! - a seguiu até a cozinha, implorando como um cachorrinho pidão.
— Você vai postar isso em algum lugar?
— No Instagram, ué. E talvez no Twitter. - completou. - Mostrar como minha é linda. - sorriu.
— Nem pensar. - virou de costas para ele, começando a lavar a louça.
— Por quê? Só uma fotinha.
— Porque eu estou farta disso, ! - soltou os talheres que lavava na pia, fazendo barulho com a força com que eles caíram. - Farta! Tudo é sobre seu trabalho, tudo precisa ser mostrado, postado, compartilhado. Tudo é mais importante que a gente. Os nossos momentos são vistos por todo mundo, menos por nós mesmos. Que saco!
— Docinho… - tentou abraçá-la, porém teve os braços desviados.
— Docinho o cacete. Na próxima vez que formos fazer qualquer coisa, vou levar o Floco de Neve junto e deixá-lo do meu lado. Vai que preciso atendê-lo, não é?
— Quem é Floco de Neve?
— O cavalo que eu tinha de operar hoje no final do dia e remarquei para poder chegar em casa mais cedo e cozinhar esse bendito risoto que você sequer elogiou.
— Estava uma delícia, amor. - disse rapidamente.
— Eu sei, estava bom para caramba, mas o senhor Músculos Super-Definidos estava mais ocupado vendo se ficava mais bonito de cowboy ou de sei lá o quê. Fica aí postando suas fotos e se alimentando de likes que eu vou tomar banho e dormir. Não estou com clima para mais nada. Acabou por hoje. - secou a pia e rumou para o quarto, deixando a pizza intacta sobre a mesa de jantar.
respirou fundo, ciente de que tinha estragado de vez a noite especial deles. Tinha colocado tudo a perder desde o momento que se atrasou, contudo, acreditou ser capaz de virar o jogo. Bobagem. Na realidade, tinha derrubado o tabuleiro inteiro no chão e dançado sobre ele. Guardou as louças lavadas no armário, devolveu a pizza ao forno, fechou o vinho que beberam, pegou o embrulho na caixa sobre a mesa, apagou as luzes e esperou pela deixa para entrar no quarto. Não queria invadir o espaço seguro de enquanto ela estivesse sensível, poderia acabar machucando-a ainda mais ao tentar consertar o erro. Dez minutos de silêncio. Parecia ser o momento certo.
Devagar, calculando a distância entre um pé e outro, pisando leve como uma formiguinha, entrou no quarto, deparando-se com a namorada de pijama, mirando-se no espelho com olhos marejados. As mãos acariciavam o tronco lenta e suavemente. Pelo reflexo, viu o homem que insistia em amar assistindo-a em sua fragilidade e desabou. As lágrimas que vinha tentando conter escorreram-lhe pela face em um choro dolorido, frustrado.
— Amor! - correu até ela, abraçando-a - O que houve? Me desculpa, estraguei tudo de novo…
Presa nos braços do namorado, soluçava, apoiando-se nele para se manter de pé quando a vontade de seu corpo era lançar-se no chão em posição fetal e ali permanecer até que alguém viesse dizer que tudo não passava de uma brincadeira de mau-gosto.
— Estou cansada, oppa. Cansada. - soluçou - Achei que poderia te consertar, impedir essa influência externa sobre nós o tempo todo, mas não consigo. Não dou conta. Estou exausta até meu último suspiro. Dando murros em ponta de faca sem sucesso.
— , não fala assim. Eu te amo!
— Eu também te amo e esse é o problema. Devia ter acabado com isso antes que fosse tarde demais.
chacoalhou quando entendeu para onde aquela conversa ameaçava rumar.
— Como assim “tarde demais”? - o embrulho no bolso da calça parecia pesar uma tonelada.
Com os braços envoltos no pescoço de , foi mais uma vez tomada por uma série de soluços que reviraram seu estômago. Em todas as noites que dormira mal perdida em pensamentos, construindo um futuro para eles em sua mente não foram o suficiente para prepará-la para aquele momento.
— Você vai me deixar, ? - perguntou receoso pela resposta que receberia.
— Não posso, mesmo se quisesse. Estou grávida.
Desnorteado entre o choque e a extrema alegria, travou com a boca aberta. Ria como um louco ao mesmo tempo que chorava, tentando colocar sentido às palavras de . Talvez ela quisesse terminar com ele, mas não o faria porque estava grávida. Grávida. Grávida!
— Grávida! Isso… é sério isso? ! - embaralhou-se com as palavras.
— Duas semanas. - o semblante choroso carregava um quê de melancolia ao fundo que apenas os bons observadores perceberiam
— Eu nem sei o que dizer… meu amor! - apertou seu corpo contra o dela até que ela soltasse um resmungo de dor. - Desculpa, desculpa. Não posso machucar o bebê. Nosso filho, ! Nosso filho!
— É, nosso filho…
— Por que está triste? - secou as lágrimas que continuavam a escorrer pelos olhos bonitos da veterinária.
— Não sei. Talvez porque você não esteja dando conta de ser nem meu namorado, ser pai vai ser mais do que você pode lidar. Sempre tão ocupado…
mexeu nos bolsos em busca do embrulho que vinha guardando, libertando-o do plástico já amassado para depositar nas mãos trêmulas de uma pequena caixa lilás.
— Abre. - pediu - Esse é o seu presente.
O anel delicadamente ornado com mínimos diamantes aguardava tão ansioso quanto pela reação de à surpresa.
— Eu sei que cometo vários erros, que trabalho mais do que devia, que vivo misturando as coisas e atrapalhando nosso relacionamento com meus compromissos, mas não consigo pensar num amanhã em que você não esteja. Quero melhorar para te fazer cada vez mais feliz e agora você me deu o motivo mais nobre e bonito de todos para que eu me torne a melhor versão de mim.
— Oppa, eu…
— - ajoelhou-se - se o título de mãe do meu filho não for o suficiente, você aceita ser minha esposa?
— Não pode dar sustos em mulheres grávidas, . Nem fazer elas passarem raiva. Se você prometer se comportar, eu aceito. - sorriu o mais calma que pôde entre as lágrimas e o cansaço que a abatiam - Por favor, não nos decepcione. - acariciou o ventre.
— Jamais.
O celular de tocou e aguardou em silêncio para observar a reação dele ao primeiro teste da dita melhora.
— Não vai atender? - perguntou. Os braços fortes a levantaram do chão e repousaram-a sobre a cama arrumada.
— São mais de onze da noite, ninguém vai morrer se eu deixar tocar.
— Tem certeza?
— Absoluta. Minha esposa e meu filho precisam de mim agora. - depositou um beijo nos lábios de uma que sorria, deitando-se ao lado dela. - Feliz aniversário para nós, docinho.
Fim
Nota da autora: Oi, que bom que você chegou até aqui!
Esse casal nasceu de surpresa, foi uma delícia poder escrever esse cristalzinho que é o Minhyuk. A kpopper das antigas que habita em mim está em júbilo por trazer uma fic do BTOB <3. Espero que tenha gostado desse docinho. E não esqueça:
quando for sair com o seu docinho, desligue o celular.
Beijos!
Sempre sua,
Nimuë.
Telegram
quando for sair com o seu docinho, desligue o celular.
Beijos!
Sempre sua,
Nimuë.
O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.