Capítulo Único
“Começa mais uma temporada no reino, onde os jovens de vinte anos vão sair em busca de pretendentes…”
— Não quero ouvir. — fugiu para seu quarto à medida que a mãe a seguia e lia mais alto o que estava no jornal.
— … e uma das grandes apostas para ser o diamante da temporada é Rockefeller! — A garota parou ao escutar as últimas palavras ditas por Mary.
— Quanto você e papai pagaram para que publicassem isso?
— Querida, você não precisa disso, é…
— Uma Rockefeller, eu sei.
— Além disso, você sabe…
— Dançar, pintar, tocar piano e tenho uma beleza delicada, que com certeza vai atrair muitos pretendentes. — Ela fez uma careta ao recitar aquilo que a mais velha sempre falava. — Como se isso fosse tudo.
— Óbvio que não é tudo. Você ainda…
— Sei o básico da história do nosso país?
— Canta bem.
— Claro — bufou sarcasticamente e seguiu o caminho para seu quarto, enquanto escutava os resmungos da mãe.
— Não se esqueça do baile de hoje!
— Como eu vou esquecer? Você faz questão de lembrar toda hora. — Foi a última coisa que Mary escutou antes da porta do quarto da garota ser batida com força.
suspirou ao ver a propriedade enorme dos Williams surgindo do outro lado da janela, assim como a certeza de que sua mãe não desistiria de achar um pretendente digno para ela. Ao descer da carruagem, olhou para os lados, na esperança de que algo acontecesse para que ela conseguisse fugir dali o mais rápido possível.
— Mãe, não acho que estou em condições de ficar parada a noite toda esperando alguém me chamar para dançar. Por que não vamos para casa?
— Quieta, todos estão olhando. — O que sua mãe falou era verdade, todos ao redor de a olhavam, fossem possíveis pretendentes ou apenas outras damas com a inveja pulsando em seu olhar, afinal, ela seria o próximo diamante da temporada, como sua mãe premeditava. E ela realmente se sentia como um diamante, mas um prestes a ser posto numa prateleira mal-acabada de um pretendente tão mal-acabado quanto. Principalmente com todos os tipos de homens que a encaravam à medida que seu vestido roxo estonteante passava pelo enorme corredor. — E não vamos mais falar sobre isso essa noite. — apenas revirou os olhos e seguiu com sua mãe em direção à família Williams, aceitando a derrota por enquanto.
Haviam se passado duas horas e já não conseguia contar quantos admiradores tinham aparecido. Quinze, vinte e de repente ela não fazia a mínima ideia de qual era o número do homem que conversava com ela. Ou melhor, que estava em um monólogo com ela. Até que seus olhos rolaram pelo grande salão e pararam num local próximo de onde ficavam as bebidas, perto do corredor. Seria essa sua deixa para ficar livre por pelo menos alguns minutos de toda essa atenção que a sufocava?
— Sr. Brown, essa conversa está maravilhosa, mas eu preciso beber um pouco de ponche para me recompor.
— Ah, sem problemas. Eu vou buscar para você.
— Não precisa… eu já volto. — Ela sorriu falsamente e deixou o homem o mais rápido possível, tentando não encontrar com seus pais à medida que se aproximava do local tão esperado. O que não seria tão difícil, pois tinha visto seu pai totalmente entretido com um homem que ela supôs ser seu amigo, e não fazia ideia de onde estava sua mãe, provavelmente a exaltando para os pretendentes que ainda não a haviam cortejado. — Enfim, o silêncio. — se escorou na parede e respirou, aliviada, ficando confusa ao ouvir um barulho próximo de onde ela estava. — Olá? Tem alguém aí? — ela perguntou, adentrando um pouco mais aquele corredor, mas não recebeu resposta, apenas palavras desconexas que não faziam o menor sentido e ficavam mais altas à medida que ela se aproximava de uma das várias portas daquele local. — Será que alguém está precisando de ajuda? — Ela aumentou seus passos para tentar chegar o quanto antes e socorrer quem quer que fosse, mas, ao escancarar a porta, teve uma surpresa não tão agradável. A única pessoa que precisava de ajuda naquela sala era ela.
se encontrava estático. Não esperava que sua fuga com Isabella Smith fosse ser flagrada por alguém. Quer dizer, isso nunca havia acontecido antes, apesar dos encontros dos dois ocorrerem sempre em locais fáceis de serem descobertos.
— Tá, entendi. — Isabella se afastou e começou a catar suas coisas espalhadas pelo cômodo. — Até uma próxima.
— Até. — Olhou uma última vez para o corredor enquanto terminava de afivelar seu cinto e, ao ter certeza de que não havia ninguém, saiu em busca da garota de momentos atrás. Enquanto procurava, seu olhar parou justamente nela, que, coincidentemente, estava junto de seu pai. Seria o destino querendo pregar mais uma peça nele?
— , venha aqui — Edmund o chamou e ele bufou antes de se forçar a ir naquela direção. — Meu filho, lembram dele?
— Ah, eu não te vejo desde que você tinha dezoito anos. — Jonathan Rockefeller foi para o lado de e o cumprimentou com um abraço acalorado, o assustando um pouco. — Lembra da minha filha, ? Vocês brincavam na nossa casa da árvore o dia todo. — Claro, a pequenina , agora não tão pequenina assim, que via praticamente todos os dias antes de iniciar os estudos na faculdade.
— Pai! — A jovem olhou para o pai com um tom de reprovação antes de se virar para .
— Quanto tempo. — Ele pegou em sua mão e beijou delicadamente o local, mas foi respondido por um olhar enojado de , que tentou disfarçar ao afastar sua mão o mais rápido possível.
— Sim, muito tempo mesmo. — Ela dá um sorriso irônico, desviando o olhar logo em seguida. Mal esperava a hora de sair daquele lugar.
— Não sei se vocês sabem, mas o passou esse tempo fora, fazendo administração em Oxford, além de ter feito outros cursos na França e na Escócia. Ele era sempre o melhor da turma — Violet falou, com um olhar orgulhoso para o filho.
— Sério? Que menino dedicado. A aprendeu a cantar, pintar, tocar piano… — Mary continuou a falar das qualidades de sua filha, enquanto os dois tópicos da conversa apenas se olharam e perceberam o que estava acontecendo naquele momento, principalmente. Isso porque, naquela mesma tarde, seu pai havia lhe falado sobre um plano para melhorar as condições financeiras de sua família, após terem perdido grande parte da fortuna por conta de um golpe, que seria um casamento arranjado. Não era como se concordasse com isso, mas ele seria o sucessor de seu pai. O futuro chefe de sua família. Além disso, não era como se fosse a coisa mais fácil do mundo encontrar uma alma gêmea. E qual era o problema nisso? Era provável que ele não encontrasse o amor de sua vida mesmo se estivesse procurando por ele. A maioria dos homens não encontrava. Ele só não esperava que seu cavalo de Tróia fosse Rockefeller. E pelo olhar mortal que ela lhe lançava, viu que sua tarefa seria bem mais trabalhosa do que ele pensava.
respirou fundo antes de dar três toques na porta da casa da residência Rockefeller, adentrando o local e vendo a sala de estar repleta de outros pretendentes, ouvindo um poema sendo recitado para , que olhava tediosamente para seu dono.
— Ah, , querido. Que surpresa agradável o ter aqui — Mary exclamou, carregando uma bandeja de biscoitos em suas mãos.
— Lady Rockefeller, sempre um prazer te ver. Vim aqui para conversar com .
— Deixe-me chamar o duque, ele vai ficar feliz com a sua presença. Com licença. — Ela deu um sorriso agradável e passou sobre a multidão.
Em menos de um minuto, o duque cumprimentou , se virando para os outros pretendentes de sua filha.
— Bom dia, cavalheiros. Sinto dizer, mas o tempo de vocês com minha filha acabou.
— Mas, senhor, acabamos de chegar — um garoto ruivo se pronunciou e o homem o fuzilou com o olhar.
— Vocês vão ter outro momento. Obrigado pela presença de todos! — Enquanto o sr. Rockefeller os expulsava de uma maneira pouco gentil, imaginava que seria muito mais fácil matá-los para poupar seu tempo e tornar tudo aquilo mais prático, no entanto, não seria nada eficiente, pois havia grandes chances de ele acabar sendo preso. — Ela ficará muito feliz de conversar com o senhor. — Enquanto se aproximava, percebeu o olhar desconfiado de , mas apenas ignorou, beijando sua mão suavemente. Ele se direcionou para lady Rockefeller, lhe dando um buquê de rosas, depois para a irmã mais nova de , Edwina, com um buquê de margaridas, e parou de frente para , a entregando um buquê de lírios, exatamente o aroma que o corpo da jovem exalava.
— Obrigada! Eu amo essas flores. — Edwina sorriu angelicalmente para .
— Que gentileza a sua! — a duquesa falou radiante e lançou um olhar esperançoso para a filha. — São as suas favoritas, não é, querida? Nem imagino quem tenha contado… mas obrigada, milorde, foi muita gentileza a sua.
— Então, … nós queríamos te fazer um convite. Essa semana iremos dar um baile em Aubrey Hall. Por que você e sua família não vêm uns dias antes para nos divertimos juntos e relembrarmos os velhos tempos?
— Eu pensei que seria um momento apenas em família.
— Mas quem sabe essa não seja a nossa família futuramente?
— Pai! — o repreendeu, mas foi surpreendida ao ver sua mãe se levantar e levar Edwina consigo.
— Mas vocês ainda terão muito tempo para conversar sobre isso. Podem ficar à vontade, a Mary tem que levar a Edwina para a aula de piano e eu tenho umas papeladas para resolver.
Os três saíram, os deixando sozinhos, com um silêncio ensurdecedor tomando a sala.
— Que bajulação, milorde — falou e se sentou ao seu lado, dando de ombros.
— Com um amigo meu funcionou.
— Exatamente, com o seu amigo, mas comigo, não. Eu nunca ficaria com um libertino.
— Ah, então isso tudo é por causa de ontem? O que eu posso fazer para você mudar sua opinião sobre mim? — Ele virou seu corpo na direção da jovem, que revirou os olhos como resposta.
— Nada do que o senhor fizer mudará minha opinião.
— Mas já fomos próximos… quer dizer, eu soube que a senhorita teve até uma quedinha por mim.
— Eu nem lembro quem o senhor é. — nunca admitiria o contrário, por mais que fosse mentira. De repente, escutaram-se latidos e uma pequena bola de pelos se aproximou de onde eles estavam. — Newton! — O cãozinho produziu o som mais agressivo que conseguiu na direção de , que devolveu com uma careta.
— Controle o seu cão, ele vai acabar me atacando.
— E por acaso o senhor está com medo, milorde?
— Não… só o controle.
— Pois bem, está na hora do passeio dele. Até mais! E obrigada pelas flores. — pegou Newton em seu colo, deixando sozinho no salão enorme.
Na semana seguinte, como planejado pelo duque Rockefeller, a família Bridgerton chegou a Aubrey Hall dias antes do baile.
— Tente se aproximar dela esses dias, o pedido não pode passar dessa semana. — Edmund entregou a caixinha com o objeto tão aguardado para , que o pôs em seu bolso, e foram em direção à entrada da casa de campo, sendo guiados aos respectivos quartos, onde iriam aguardar até a noite para o jantar e, durante, discutiram sobre as atividades que seriam realizadas no outro dia, como a montaria, algo que toda a família Rockefeller gostava.
No dia seguinte, após o café da manhã, se preparava para a montaria ao avistar o duque se aproximando.
— Já vai montar agora?
— Sim, senhor.
— Ah, a saiu mais cedo. Ela gosta de ir para a parte do riacho, para ver o nascer do sol. É um pouco longe da rota que fazemos, mas é só seguir a trilha perto do riacho que dá para chegar lá. Inclusive, acredito que ela saiu sem comer, deve estar morrendo de fome, coitada. Por que não passa lá na cozinha e pede algo para vocês dois? — assentiu com a cabeça e seguiu os conselhos do duque, pegando uma cesta com bolo de chocolate e morangos e seguindo para o estábulo, indo para o local indicado depois com o cavalo que havia sido separado para ele, Zeus.
Ele andou com Zeus até conseguir ver montada em outro cavalo, correndo pelo campo, e ficou a observando escondido atrás de uma árvore, percebendo o quão incríveis eram suas habilidades de montaria, que ela aperfeiçoou com o passar do tempo. Ele ficou estático observando a jovem sair do seu cavalo, o prendendo em uma árvore, e se sentar em uma pedra. A oportunidade perfeita.
— Ah, que coincidência encontrar a senhorita por aqui. — deixou Zeus ao lado do cavalo de e seguiu em sua direção, se sentando ao seu lado.
— Nem parece que alguém falou para o senhor onde eu gosto de vir.
— Você continua boa na montaria.
— Eu treino às vezes — ela respondeu indiferente, encarando o riacho.
— Ainda está irritada por causa daquilo?
— Por causa daquilo? O senhor a desonrou. — olhou indignada para o homem, que mordeu os lábios para tentar não rir daquilo que acabara de ouvir.
— Não foi a primeira vez. Ela já ficou com outras pessoas também, então, teoricamente, eu não desonrei ninguém.
— Mas…
— Não pode me julgar por uma coisa que praticamente todos os outros homens fazem.
— Vocês são nojentos.
— Mas um dia a senhorita vai fazer a mesma coisa. — Ela o olhou incrédula, mas, ao se levantar para sair, ele a impediu, segurando seu pulso. — Espera, me desculpe. Não que o que eu falei não seja mentira, mas isso não vem ao ponto. Nós não precisamos ficar em guerra o tempo todo. Podemos recomeçar, o que acha?
— Não sei. — Ela cruzou os braços, em dúvida. — O senhor não parece muito confiável.
— Eu trouxe bolo… e morangos. — Ele levantou a cesta e, apesar de sua teimosia, ela acabou cedendo e se sentando ao seu lado.
Enquanto eles comiam, falava de algumas lembranças de quando eles eram mais novos, o que acabou enfraquecendo o muro que ela havia construído em relação a ele.
Quatro dias depois…
A relação dos dois havia melhorado com os dias, apesar de ainda soltar algumas provocações que permeavam entre eles. Durante o baile, havia começado a chover e, apesar da maioria ter conseguido voltar para suas moradias, alguns dos convidados ficaram impossibilitados de sair, por conta de o caminho estar interditado, e tiveram que ficar na casa dos Rockefeller até o próximo dia. No começo da madrugada, os trovões iniciaram, despertou, e com ela um de seus medos de infância. Sempre odiou os dias mais chuvosos e nesse não era diferente, por isso buscou por algo para não se perder em sua própria inquietude. Ela seguiu por entre os corredores da grande casa, sendo forçada a entrar na sala mais próxima, quando um estrondo forte ecoou e, ao olhar em volta do cômodo, percebeu que estava na biblioteca, se encolhendo em uma poltrona para tentar se acalmar.
andava de um lado para o outro, pensando em como faria o pedido, apesar de ter obtido um progresso significativo com ela. A verdade era que desde o momento em que a viu depois de tantos anos, sentiu que alguma coisa havia mudado e, apesar de pensar que era algo temporário, se estendeu mais do que deveria. E isso ficou claro no dia do piquenique improvisado. Aquela sensação estranha havia florescido ainda mais, então seguiu para a cozinha e pegou um jarrinho de leite para tentar dormir melhor. Ele andou pelo corredor escuro até avistar a porta da biblioteca entreaberta e, ao empurrá-la, deu de cara com uma extremamente assustada.
— ? — ele a chamou, mas, ao não obter resposta, deixou o jarrinho de leite e o castiçal na mesa, se sentando ao seu lado. — Ei, vai ficar tudo bem. — tocou levemente seu ombro, mas continuou sem falar nada, então ele se aproximou mais da garota e pôs uma das mãos em seu rosto. — Olha para mim, … se você apenas olhar para mim, saberá que está segura. — Ela levantou lentamente a cabeça, o encarando momentaneamente, e o abraçou. O toque inesperado o assustou inicialmente, mas ele retribuiu após o momento de surpresa. — Vai ficar tudo bem — ele repetiu, acariciando seus cabelos e, após isso, sentiu a respiração da jovem diminuir gradativamente e seus músculos relaxarem.
Ambos se afastaram, mas mantiveram os corpos ainda próximos, e levou a mão da garota aos lábios, sussurrando de novo que tudo ia ficar bem. Ela abriu os olhos novamente e os dois permaneceram encarando um ao outro durante algum tempo, se aproximando involuntariamente até selarem seus lábios. a puxou mais para perto, com medo de que aquele momento acabasse ao mesmo tempo em que pensava que se saísse de seus braços, ela não estaria mais segura. Naquele momento, sentiu como se tudo e qualquer coisa dentro dele explodisse. Como se um sentimento novo estivesse surgindo. Algo que ele pensava que não era possível sentir por alguém. Eles se afastaram e acabou derrubando o jarro no chão.
— Ah, meu Deus, me desculpa.
— Tudo bem — ele respondeu, com um sorriso calmo. Não sabia como agir depois do que havia acontecido. Então, assim como ela, permaneceu calado, enquanto limpavam o líquido derramado no chão, apenas anunciando um boa noite, como se estivessem fazendo um pacto para não falarem mais sobre o assunto.
Na manhã seguinte, acordou aliviada por ter parado de chover, apesar de ainda estar aflita pelo que tinha acontecido com na noite anterior. Não queria deixar Aubrey Hall, mas seus pais insistiram em voltar mais cedo, pois a temporada ainda continuaria, apesar de nenhum dos dois fazer questão em esconder a expectativa que mantinham em fazer o pedido. Ela apreciava o que o rapaz havia feito, mas se casar não era um dos seus planos no momento e o filho do visconde com certeza não seria uma de suas opções. Mas ela não podia negar que ele possuía algum charme. Todos esses pensamentos corriam em sua mente, assim como as pequenas pétalas de Hyacinth em seus dedos, à medida que suas mãos corriam pelo arbusto repleto de flores.
— Ah, a senhorita está aí. — surgiu atrás dela, com um tom aliviado em sua voz e, por um momento, o coração de acelerou só de pensar que ele a estava procurando. — Queria me certificar de que estava melhor depois do que aconteceu ontem.
— Milorde… estou muito melhor, obrigada. — A jovem se sentou em um banco na esperança de camuflar seu nervosismo.
— Fico feliz… fiquei muito preocupado com a senhorita boa parte da noite. — Seu coração parou momentaneamente e os olhares dos dois se encontraram.
— Não precisava… eu sinto muito por tê-lo incomodado tão tarde da noite. — sentiu seu corpo quente ao perceber olhando para seus lábios, a fazendo lembrar do beijo.
— Não fale assim. Detesto pensar em você sozinha durante uma tempestade. Fico satisfeito por ter estado lá para ajudá-la.
— Ah, mas eu já estou acostumada a ficar sozinha.
— Mas e sua família?
— Para que incomodá-los com algo tão besta?
— Besta? , você estava tendo um ataque de pânico! — A moça não foi capaz de formular resposta alguma àquilo, então desviou o olhar, focando nas flores à sua frente. — Gosta de Hyacinth? — , percebendo seu desconforto, tentou mudar de assunto.
— É uma das minhas favoritas. — Ela se aproximou da flor, a botando contra seu rosto e inalando o aroma que sempre a acalmava, mas foi interrompida ao escutar um zumbido ao seu redor. — Ah, essas abelhas idiotas. — tentou afastar o pequeno inseto e, ao olhar para , percebeu o rapaz estático. — Milorde, o que foi?
— Não se mova — ele murmurou, sua voz rouca de medo.
— Não estou entendendo…
— Apenas fique parada — ele pediu novamente, se aproximando dela, especificamente de seu ombro direito, a fazendo encarar o local e perceber que a abelha havia pousado lá.
— Milorde, é só uma abelha. Eu pensei que fosse algo mais sério. — revirou os olhos, tentando afugentar a abelha com a mão novamente.
— Eu falei para não se mover!
— , é só uma… ai! — gritou quando o inseto furioso a atacou, picando sua pele. — Esqueci como isso doía… agora vou ter que voltar lá para dentro e… — Ela olhou para , que estava pálido. — , qual o problema? — O homem saiu de seu momento de entorpe e avançou em direção ao ombro de , afastando a manga do vestido para visualizar melhor o local da picada. — O que você está fazendo? — A respiração de estava entrecortada e acelerada ao mesmo tempo em que ele a prensou sobre o banco e pressionou o local da picada com suas mãos.
— Tenho que retirar todo o veneno.
— Veneno?
— Deve haver. Você pode acabar morrendo!
— Se eu fosse morrer, não seria por uma picada de abelha — ela falou sarcástica, mas percebeu a seriedade em seu olhar.
— Ele também já tinha sido picado.
— Ele quem?
— Meu amigo, David Jones.
— Uma abelha o matou?
— Sim, uma abelha… droga, por que não está funcionando? — se surpreendeu ao sentir os lábios de em seu ombro, sugando com delicadeza o local, na esperança de que todo o líquido fosse retirado, a fazendo ficar imóvel ao recordar da noite passada e do que o rapaz a havia feito sentir.
Mas, ao desviar o olhar para cima do ombro dele, viu quatro mulheres os fitando com a mesma expressão de choque. Sua mãe, Lady Bridgerton, Lady Danbury e Lady Hughes. Ela o empurrou com força, na esperança de que as mulheres entendessem que era apenas um mal-entendido.
— Mas o que está acontecendo aqui? — Lady Bridgerton perguntou surpresa ao ver o filho naquela situação.
— Ela foi picada por uma abelha — respondeu firmemente, seus olhos vidrados no ombro da jovem à sua frente.
— Mas ele estava praticamente com a boca em seu… seio — Lady Hughes falou, em um tom acusatório.
— Eles vão ter que se casar. — Lady Danbury olhou para as duas mães ainda desacreditadas.
— Mas não foi isso que aconteceu… e só vocês viram, não tem nada demais — se exaltou, indo em direção à sua mãe, buscando o apoio dela.
— Mas o local em que vocês estavam… dá para ver nitidamente da janela da casa, ou se mais alguém estivesse passando por aqui. Eu não vejo outro jeito. — A duquesa olhou para a filha com preocupação.
— Mas não aconteceu nada, não é, ? — Ela virou para o homem, que permaneceu estático, perdido nos próprios pensamentos. — Não é, ?
— O casamento é a única solução plausível. Não posso arriscar jogar a sua reputação no lixo desse jeito — respondeu, após ter ficado em silêncio por um bom período de tempo, e olhou para , sua mente dividida entre ter cumprido o dever imposto por seu pai e ao mesmo tempo ter estragado o futuro de algo que ele achava que estava construindo. — Eu quero conversar com ela a sós. — olhou para a mãe, que assentiu com a cabeça, chamando as outras mulheres, e Lady Rockefeller lançou um olhar para a filha antes de se retirar do local.
— Mas e se ele tentar outra coisa indecente com a pobre ? — Lady Hughes saiu resmungando, mas foi repreendida pela viscondessa.
— Eu não… eu… — não sabia o que falar e sentia como se estivesse desaprendendo a respirar, mas pôs a mão em seu ombro, a acalmando um pouco. — Não vou te obrigar a se casar comigo somente pela minha honra. Esse não é o estilo de vida que você queria ter e eu nem queria me casar, muito menos dessa forma.
— Você achou que eu estava brincando quando te cortejei? — Era possível identificar a indignação em sua voz. Apesar de no começo aquilo se tratar de um plano, temia que os sentimentos que acabou nutrindo pela moça se tornassem reais, se é que já não estava acontecendo.
— Como eu vou saber? Um dia antes te encontrei em momentos impróprios com outra… quer saber, eu preciso de um tempo sozinha. — se desvencilhou do toque de e saiu correndo pelo campo, adentrando a casa e buscando um local para se refugiar.
— Eu já falei para ele apressar o pedido. Ela já se tornou o diamante da temporada, não vai demorar até outros a perseguirem. E vai chegar uma hora que nem você vai conseguir evitar, caro amigo. — parou ao ouvir a voz do sr. Bridgerton no escritório de seu pai, se escondendo em uma salinha perto do cômodo.
— Eu sei que temos um acordo, mas olha como fala, ela é minha filha. Não quero forçá-la a nada, mas, pelo que aparenta, os dois já começaram a se entender. — Dessa vez, ela escutou a voz de seu pai.
ainda processava o que acabara de ouvir. Não era possível. Então tudo aquilo era um plano desde o começo? Por que seu pai a venderia tão fácil assim? Ela viu se aproximando da porta com uma melancolia no olhar, aparentemente porque já sabia que ela tinha descoberto tudo.
— … — ele chamou pelo seu nome e tentou se aproximar ao ver lágrimas saindo de seus olhos, mas a garota se afastou.
— Única solução plausível, não é? — falou cínica e sentiu como se as palavras ditas por ela cortassem seu coração em mil pedaços. Ela saiu correndo e se trancou no quarto, pegando Newton no colo e chorando copiosamente sentada no chão.
— , o que aconteceu? — o visconde perguntou para o filho, que permaneceu calado e saiu bruscamente do local, deixando os dois homens confusos.
Na semana recorrente, foi anunciado o noivado dos dois com um baile na mansão dos Rockefeller, apesar dos convidados acharem um pouco estranho os noivos não terem se dirigido a palavra e dançarem apenas uma valsa, da maneira mais formal possível, durante toda a noite. O casamento, privado apenas para as duas famílias, foi uma cerimônia simples, realizada na igreja.
estava nervosa. Não imaginava que fosse se casar tão cedo, ainda mais daquela forma. E o pior de tudo era que ela não tinha ninguém para confidenciar isso. Edwina era muito nova para compreender, além de estar superfeliz por ver sua irmã se casando com alguém que ela considerava um bom partido, como . Quanto a seus pais, ela falava apenas o necessário, mas não conseguia confiar neles completamente, principalmente em seu pai. Não depois daquilo. E … ah, . Ela até acreditara que os dois podiam se tornar um casal verdadeiro futuramente. Quer dizer, isso antes de descobrir que tudo que aconteceu entre eles foi uma mentira. Não por parte dela.
Ela adentrou a igreja de braços dados com seu pai, que, apesar das circunstâncias, não podia negar a emoção de ver a filha se casando. Ao olhar para frente, viu um cabisbaixo a esperando, mas, ao seu ver, devia estar feliz por ter conseguido o que queria. Jonathan Rockefeller pigarreiou ao deixar sua filha ao lado do jovem e se afastou, ficando perto de sua esposa. Os dois se olharam, aparentando querer falar algo, mas, em sua cabeça, já era tarde demais. Eles se viraram de frente para o padre, que começou a cerimônia.
— Você aceita Rockefeller como sua legítima esposa?
— Sim.
— Você aceita Bridgerton como seu legítimo esposo?
— … sim.
Aquela havia sido a primeira vez em que eles trocaram alguma palavra desde o fatídico dia em Aubrey Hall.
— Não quero ouvir. — fugiu para seu quarto à medida que a mãe a seguia e lia mais alto o que estava no jornal.
— … e uma das grandes apostas para ser o diamante da temporada é Rockefeller! — A garota parou ao escutar as últimas palavras ditas por Mary.
— Quanto você e papai pagaram para que publicassem isso?
— Querida, você não precisa disso, é…
— Uma Rockefeller, eu sei.
— Além disso, você sabe…
— Dançar, pintar, tocar piano e tenho uma beleza delicada, que com certeza vai atrair muitos pretendentes. — Ela fez uma careta ao recitar aquilo que a mais velha sempre falava. — Como se isso fosse tudo.
— Óbvio que não é tudo. Você ainda…
— Sei o básico da história do nosso país?
— Canta bem.
— Claro — bufou sarcasticamente e seguiu o caminho para seu quarto, enquanto escutava os resmungos da mãe.
— Não se esqueça do baile de hoje!
— Como eu vou esquecer? Você faz questão de lembrar toda hora. — Foi a última coisa que Mary escutou antes da porta do quarto da garota ser batida com força.
suspirou ao ver a propriedade enorme dos Williams surgindo do outro lado da janela, assim como a certeza de que sua mãe não desistiria de achar um pretendente digno para ela. Ao descer da carruagem, olhou para os lados, na esperança de que algo acontecesse para que ela conseguisse fugir dali o mais rápido possível.
— Mãe, não acho que estou em condições de ficar parada a noite toda esperando alguém me chamar para dançar. Por que não vamos para casa?
— Quieta, todos estão olhando. — O que sua mãe falou era verdade, todos ao redor de a olhavam, fossem possíveis pretendentes ou apenas outras damas com a inveja pulsando em seu olhar, afinal, ela seria o próximo diamante da temporada, como sua mãe premeditava. E ela realmente se sentia como um diamante, mas um prestes a ser posto numa prateleira mal-acabada de um pretendente tão mal-acabado quanto. Principalmente com todos os tipos de homens que a encaravam à medida que seu vestido roxo estonteante passava pelo enorme corredor. — E não vamos mais falar sobre isso essa noite. — apenas revirou os olhos e seguiu com sua mãe em direção à família Williams, aceitando a derrota por enquanto.
Haviam se passado duas horas e já não conseguia contar quantos admiradores tinham aparecido. Quinze, vinte e de repente ela não fazia a mínima ideia de qual era o número do homem que conversava com ela. Ou melhor, que estava em um monólogo com ela. Até que seus olhos rolaram pelo grande salão e pararam num local próximo de onde ficavam as bebidas, perto do corredor. Seria essa sua deixa para ficar livre por pelo menos alguns minutos de toda essa atenção que a sufocava?
— Sr. Brown, essa conversa está maravilhosa, mas eu preciso beber um pouco de ponche para me recompor.
— Ah, sem problemas. Eu vou buscar para você.
— Não precisa… eu já volto. — Ela sorriu falsamente e deixou o homem o mais rápido possível, tentando não encontrar com seus pais à medida que se aproximava do local tão esperado. O que não seria tão difícil, pois tinha visto seu pai totalmente entretido com um homem que ela supôs ser seu amigo, e não fazia ideia de onde estava sua mãe, provavelmente a exaltando para os pretendentes que ainda não a haviam cortejado. — Enfim, o silêncio. — se escorou na parede e respirou, aliviada, ficando confusa ao ouvir um barulho próximo de onde ela estava. — Olá? Tem alguém aí? — ela perguntou, adentrando um pouco mais aquele corredor, mas não recebeu resposta, apenas palavras desconexas que não faziam o menor sentido e ficavam mais altas à medida que ela se aproximava de uma das várias portas daquele local. — Será que alguém está precisando de ajuda? — Ela aumentou seus passos para tentar chegar o quanto antes e socorrer quem quer que fosse, mas, ao escancarar a porta, teve uma surpresa não tão agradável. A única pessoa que precisava de ajuda naquela sala era ela.
se encontrava estático. Não esperava que sua fuga com Isabella Smith fosse ser flagrada por alguém. Quer dizer, isso nunca havia acontecido antes, apesar dos encontros dos dois ocorrerem sempre em locais fáceis de serem descobertos.
— Tá, entendi. — Isabella se afastou e começou a catar suas coisas espalhadas pelo cômodo. — Até uma próxima.
— Até. — Olhou uma última vez para o corredor enquanto terminava de afivelar seu cinto e, ao ter certeza de que não havia ninguém, saiu em busca da garota de momentos atrás. Enquanto procurava, seu olhar parou justamente nela, que, coincidentemente, estava junto de seu pai. Seria o destino querendo pregar mais uma peça nele?
— , venha aqui — Edmund o chamou e ele bufou antes de se forçar a ir naquela direção. — Meu filho, lembram dele?
— Ah, eu não te vejo desde que você tinha dezoito anos. — Jonathan Rockefeller foi para o lado de e o cumprimentou com um abraço acalorado, o assustando um pouco. — Lembra da minha filha, ? Vocês brincavam na nossa casa da árvore o dia todo. — Claro, a pequenina , agora não tão pequenina assim, que via praticamente todos os dias antes de iniciar os estudos na faculdade.
— Pai! — A jovem olhou para o pai com um tom de reprovação antes de se virar para .
— Quanto tempo. — Ele pegou em sua mão e beijou delicadamente o local, mas foi respondido por um olhar enojado de , que tentou disfarçar ao afastar sua mão o mais rápido possível.
— Sim, muito tempo mesmo. — Ela dá um sorriso irônico, desviando o olhar logo em seguida. Mal esperava a hora de sair daquele lugar.
— Não sei se vocês sabem, mas o passou esse tempo fora, fazendo administração em Oxford, além de ter feito outros cursos na França e na Escócia. Ele era sempre o melhor da turma — Violet falou, com um olhar orgulhoso para o filho.
— Sério? Que menino dedicado. A aprendeu a cantar, pintar, tocar piano… — Mary continuou a falar das qualidades de sua filha, enquanto os dois tópicos da conversa apenas se olharam e perceberam o que estava acontecendo naquele momento, principalmente. Isso porque, naquela mesma tarde, seu pai havia lhe falado sobre um plano para melhorar as condições financeiras de sua família, após terem perdido grande parte da fortuna por conta de um golpe, que seria um casamento arranjado. Não era como se concordasse com isso, mas ele seria o sucessor de seu pai. O futuro chefe de sua família. Além disso, não era como se fosse a coisa mais fácil do mundo encontrar uma alma gêmea. E qual era o problema nisso? Era provável que ele não encontrasse o amor de sua vida mesmo se estivesse procurando por ele. A maioria dos homens não encontrava. Ele só não esperava que seu cavalo de Tróia fosse Rockefeller. E pelo olhar mortal que ela lhe lançava, viu que sua tarefa seria bem mais trabalhosa do que ele pensava.
respirou fundo antes de dar três toques na porta da casa da residência Rockefeller, adentrando o local e vendo a sala de estar repleta de outros pretendentes, ouvindo um poema sendo recitado para , que olhava tediosamente para seu dono.
— Ah, , querido. Que surpresa agradável o ter aqui — Mary exclamou, carregando uma bandeja de biscoitos em suas mãos.
— Lady Rockefeller, sempre um prazer te ver. Vim aqui para conversar com .
— Deixe-me chamar o duque, ele vai ficar feliz com a sua presença. Com licença. — Ela deu um sorriso agradável e passou sobre a multidão.
Em menos de um minuto, o duque cumprimentou , se virando para os outros pretendentes de sua filha.
— Bom dia, cavalheiros. Sinto dizer, mas o tempo de vocês com minha filha acabou.
— Mas, senhor, acabamos de chegar — um garoto ruivo se pronunciou e o homem o fuzilou com o olhar.
— Vocês vão ter outro momento. Obrigado pela presença de todos! — Enquanto o sr. Rockefeller os expulsava de uma maneira pouco gentil, imaginava que seria muito mais fácil matá-los para poupar seu tempo e tornar tudo aquilo mais prático, no entanto, não seria nada eficiente, pois havia grandes chances de ele acabar sendo preso. — Ela ficará muito feliz de conversar com o senhor. — Enquanto se aproximava, percebeu o olhar desconfiado de , mas apenas ignorou, beijando sua mão suavemente. Ele se direcionou para lady Rockefeller, lhe dando um buquê de rosas, depois para a irmã mais nova de , Edwina, com um buquê de margaridas, e parou de frente para , a entregando um buquê de lírios, exatamente o aroma que o corpo da jovem exalava.
— Obrigada! Eu amo essas flores. — Edwina sorriu angelicalmente para .
— Que gentileza a sua! — a duquesa falou radiante e lançou um olhar esperançoso para a filha. — São as suas favoritas, não é, querida? Nem imagino quem tenha contado… mas obrigada, milorde, foi muita gentileza a sua.
— Então, … nós queríamos te fazer um convite. Essa semana iremos dar um baile em Aubrey Hall. Por que você e sua família não vêm uns dias antes para nos divertimos juntos e relembrarmos os velhos tempos?
— Eu pensei que seria um momento apenas em família.
— Mas quem sabe essa não seja a nossa família futuramente?
— Pai! — o repreendeu, mas foi surpreendida ao ver sua mãe se levantar e levar Edwina consigo.
— Mas vocês ainda terão muito tempo para conversar sobre isso. Podem ficar à vontade, a Mary tem que levar a Edwina para a aula de piano e eu tenho umas papeladas para resolver.
Os três saíram, os deixando sozinhos, com um silêncio ensurdecedor tomando a sala.
— Que bajulação, milorde — falou e se sentou ao seu lado, dando de ombros.
— Com um amigo meu funcionou.
— Exatamente, com o seu amigo, mas comigo, não. Eu nunca ficaria com um libertino.
— Ah, então isso tudo é por causa de ontem? O que eu posso fazer para você mudar sua opinião sobre mim? — Ele virou seu corpo na direção da jovem, que revirou os olhos como resposta.
— Nada do que o senhor fizer mudará minha opinião.
— Mas já fomos próximos… quer dizer, eu soube que a senhorita teve até uma quedinha por mim.
— Eu nem lembro quem o senhor é. — nunca admitiria o contrário, por mais que fosse mentira. De repente, escutaram-se latidos e uma pequena bola de pelos se aproximou de onde eles estavam. — Newton! — O cãozinho produziu o som mais agressivo que conseguiu na direção de , que devolveu com uma careta.
— Controle o seu cão, ele vai acabar me atacando.
— E por acaso o senhor está com medo, milorde?
— Não… só o controle.
— Pois bem, está na hora do passeio dele. Até mais! E obrigada pelas flores. — pegou Newton em seu colo, deixando sozinho no salão enorme.
Na semana seguinte, como planejado pelo duque Rockefeller, a família Bridgerton chegou a Aubrey Hall dias antes do baile.
— Tente se aproximar dela esses dias, o pedido não pode passar dessa semana. — Edmund entregou a caixinha com o objeto tão aguardado para , que o pôs em seu bolso, e foram em direção à entrada da casa de campo, sendo guiados aos respectivos quartos, onde iriam aguardar até a noite para o jantar e, durante, discutiram sobre as atividades que seriam realizadas no outro dia, como a montaria, algo que toda a família Rockefeller gostava.
No dia seguinte, após o café da manhã, se preparava para a montaria ao avistar o duque se aproximando.
— Já vai montar agora?
— Sim, senhor.
— Ah, a saiu mais cedo. Ela gosta de ir para a parte do riacho, para ver o nascer do sol. É um pouco longe da rota que fazemos, mas é só seguir a trilha perto do riacho que dá para chegar lá. Inclusive, acredito que ela saiu sem comer, deve estar morrendo de fome, coitada. Por que não passa lá na cozinha e pede algo para vocês dois? — assentiu com a cabeça e seguiu os conselhos do duque, pegando uma cesta com bolo de chocolate e morangos e seguindo para o estábulo, indo para o local indicado depois com o cavalo que havia sido separado para ele, Zeus.
Ele andou com Zeus até conseguir ver montada em outro cavalo, correndo pelo campo, e ficou a observando escondido atrás de uma árvore, percebendo o quão incríveis eram suas habilidades de montaria, que ela aperfeiçoou com o passar do tempo. Ele ficou estático observando a jovem sair do seu cavalo, o prendendo em uma árvore, e se sentar em uma pedra. A oportunidade perfeita.
— Ah, que coincidência encontrar a senhorita por aqui. — deixou Zeus ao lado do cavalo de e seguiu em sua direção, se sentando ao seu lado.
— Nem parece que alguém falou para o senhor onde eu gosto de vir.
— Você continua boa na montaria.
— Eu treino às vezes — ela respondeu indiferente, encarando o riacho.
— Ainda está irritada por causa daquilo?
— Por causa daquilo? O senhor a desonrou. — olhou indignada para o homem, que mordeu os lábios para tentar não rir daquilo que acabara de ouvir.
— Não foi a primeira vez. Ela já ficou com outras pessoas também, então, teoricamente, eu não desonrei ninguém.
— Mas…
— Não pode me julgar por uma coisa que praticamente todos os outros homens fazem.
— Vocês são nojentos.
— Mas um dia a senhorita vai fazer a mesma coisa. — Ela o olhou incrédula, mas, ao se levantar para sair, ele a impediu, segurando seu pulso. — Espera, me desculpe. Não que o que eu falei não seja mentira, mas isso não vem ao ponto. Nós não precisamos ficar em guerra o tempo todo. Podemos recomeçar, o que acha?
— Não sei. — Ela cruzou os braços, em dúvida. — O senhor não parece muito confiável.
— Eu trouxe bolo… e morangos. — Ele levantou a cesta e, apesar de sua teimosia, ela acabou cedendo e se sentando ao seu lado.
Enquanto eles comiam, falava de algumas lembranças de quando eles eram mais novos, o que acabou enfraquecendo o muro que ela havia construído em relação a ele.
Quatro dias depois…
A relação dos dois havia melhorado com os dias, apesar de ainda soltar algumas provocações que permeavam entre eles. Durante o baile, havia começado a chover e, apesar da maioria ter conseguido voltar para suas moradias, alguns dos convidados ficaram impossibilitados de sair, por conta de o caminho estar interditado, e tiveram que ficar na casa dos Rockefeller até o próximo dia. No começo da madrugada, os trovões iniciaram, despertou, e com ela um de seus medos de infância. Sempre odiou os dias mais chuvosos e nesse não era diferente, por isso buscou por algo para não se perder em sua própria inquietude. Ela seguiu por entre os corredores da grande casa, sendo forçada a entrar na sala mais próxima, quando um estrondo forte ecoou e, ao olhar em volta do cômodo, percebeu que estava na biblioteca, se encolhendo em uma poltrona para tentar se acalmar.
andava de um lado para o outro, pensando em como faria o pedido, apesar de ter obtido um progresso significativo com ela. A verdade era que desde o momento em que a viu depois de tantos anos, sentiu que alguma coisa havia mudado e, apesar de pensar que era algo temporário, se estendeu mais do que deveria. E isso ficou claro no dia do piquenique improvisado. Aquela sensação estranha havia florescido ainda mais, então seguiu para a cozinha e pegou um jarrinho de leite para tentar dormir melhor. Ele andou pelo corredor escuro até avistar a porta da biblioteca entreaberta e, ao empurrá-la, deu de cara com uma extremamente assustada.
— ? — ele a chamou, mas, ao não obter resposta, deixou o jarrinho de leite e o castiçal na mesa, se sentando ao seu lado. — Ei, vai ficar tudo bem. — tocou levemente seu ombro, mas continuou sem falar nada, então ele se aproximou mais da garota e pôs uma das mãos em seu rosto. — Olha para mim, … se você apenas olhar para mim, saberá que está segura. — Ela levantou lentamente a cabeça, o encarando momentaneamente, e o abraçou. O toque inesperado o assustou inicialmente, mas ele retribuiu após o momento de surpresa. — Vai ficar tudo bem — ele repetiu, acariciando seus cabelos e, após isso, sentiu a respiração da jovem diminuir gradativamente e seus músculos relaxarem.
Ambos se afastaram, mas mantiveram os corpos ainda próximos, e levou a mão da garota aos lábios, sussurrando de novo que tudo ia ficar bem. Ela abriu os olhos novamente e os dois permaneceram encarando um ao outro durante algum tempo, se aproximando involuntariamente até selarem seus lábios. a puxou mais para perto, com medo de que aquele momento acabasse ao mesmo tempo em que pensava que se saísse de seus braços, ela não estaria mais segura. Naquele momento, sentiu como se tudo e qualquer coisa dentro dele explodisse. Como se um sentimento novo estivesse surgindo. Algo que ele pensava que não era possível sentir por alguém. Eles se afastaram e acabou derrubando o jarro no chão.
— Ah, meu Deus, me desculpa.
— Tudo bem — ele respondeu, com um sorriso calmo. Não sabia como agir depois do que havia acontecido. Então, assim como ela, permaneceu calado, enquanto limpavam o líquido derramado no chão, apenas anunciando um boa noite, como se estivessem fazendo um pacto para não falarem mais sobre o assunto.
Na manhã seguinte, acordou aliviada por ter parado de chover, apesar de ainda estar aflita pelo que tinha acontecido com na noite anterior. Não queria deixar Aubrey Hall, mas seus pais insistiram em voltar mais cedo, pois a temporada ainda continuaria, apesar de nenhum dos dois fazer questão em esconder a expectativa que mantinham em fazer o pedido. Ela apreciava o que o rapaz havia feito, mas se casar não era um dos seus planos no momento e o filho do visconde com certeza não seria uma de suas opções. Mas ela não podia negar que ele possuía algum charme. Todos esses pensamentos corriam em sua mente, assim como as pequenas pétalas de Hyacinth em seus dedos, à medida que suas mãos corriam pelo arbusto repleto de flores.
— Ah, a senhorita está aí. — surgiu atrás dela, com um tom aliviado em sua voz e, por um momento, o coração de acelerou só de pensar que ele a estava procurando. — Queria me certificar de que estava melhor depois do que aconteceu ontem.
— Milorde… estou muito melhor, obrigada. — A jovem se sentou em um banco na esperança de camuflar seu nervosismo.
— Fico feliz… fiquei muito preocupado com a senhorita boa parte da noite. — Seu coração parou momentaneamente e os olhares dos dois se encontraram.
— Não precisava… eu sinto muito por tê-lo incomodado tão tarde da noite. — sentiu seu corpo quente ao perceber olhando para seus lábios, a fazendo lembrar do beijo.
— Não fale assim. Detesto pensar em você sozinha durante uma tempestade. Fico satisfeito por ter estado lá para ajudá-la.
— Ah, mas eu já estou acostumada a ficar sozinha.
— Mas e sua família?
— Para que incomodá-los com algo tão besta?
— Besta? , você estava tendo um ataque de pânico! — A moça não foi capaz de formular resposta alguma àquilo, então desviou o olhar, focando nas flores à sua frente. — Gosta de Hyacinth? — , percebendo seu desconforto, tentou mudar de assunto.
— É uma das minhas favoritas. — Ela se aproximou da flor, a botando contra seu rosto e inalando o aroma que sempre a acalmava, mas foi interrompida ao escutar um zumbido ao seu redor. — Ah, essas abelhas idiotas. — tentou afastar o pequeno inseto e, ao olhar para , percebeu o rapaz estático. — Milorde, o que foi?
— Não se mova — ele murmurou, sua voz rouca de medo.
— Não estou entendendo…
— Apenas fique parada — ele pediu novamente, se aproximando dela, especificamente de seu ombro direito, a fazendo encarar o local e perceber que a abelha havia pousado lá.
— Milorde, é só uma abelha. Eu pensei que fosse algo mais sério. — revirou os olhos, tentando afugentar a abelha com a mão novamente.
— Eu falei para não se mover!
— , é só uma… ai! — gritou quando o inseto furioso a atacou, picando sua pele. — Esqueci como isso doía… agora vou ter que voltar lá para dentro e… — Ela olhou para , que estava pálido. — , qual o problema? — O homem saiu de seu momento de entorpe e avançou em direção ao ombro de , afastando a manga do vestido para visualizar melhor o local da picada. — O que você está fazendo? — A respiração de estava entrecortada e acelerada ao mesmo tempo em que ele a prensou sobre o banco e pressionou o local da picada com suas mãos.
— Tenho que retirar todo o veneno.
— Veneno?
— Deve haver. Você pode acabar morrendo!
— Se eu fosse morrer, não seria por uma picada de abelha — ela falou sarcástica, mas percebeu a seriedade em seu olhar.
— Ele também já tinha sido picado.
— Ele quem?
— Meu amigo, David Jones.
— Uma abelha o matou?
— Sim, uma abelha… droga, por que não está funcionando? — se surpreendeu ao sentir os lábios de em seu ombro, sugando com delicadeza o local, na esperança de que todo o líquido fosse retirado, a fazendo ficar imóvel ao recordar da noite passada e do que o rapaz a havia feito sentir.
Mas, ao desviar o olhar para cima do ombro dele, viu quatro mulheres os fitando com a mesma expressão de choque. Sua mãe, Lady Bridgerton, Lady Danbury e Lady Hughes. Ela o empurrou com força, na esperança de que as mulheres entendessem que era apenas um mal-entendido.
— Mas o que está acontecendo aqui? — Lady Bridgerton perguntou surpresa ao ver o filho naquela situação.
— Ela foi picada por uma abelha — respondeu firmemente, seus olhos vidrados no ombro da jovem à sua frente.
— Mas ele estava praticamente com a boca em seu… seio — Lady Hughes falou, em um tom acusatório.
— Eles vão ter que se casar. — Lady Danbury olhou para as duas mães ainda desacreditadas.
— Mas não foi isso que aconteceu… e só vocês viram, não tem nada demais — se exaltou, indo em direção à sua mãe, buscando o apoio dela.
— Mas o local em que vocês estavam… dá para ver nitidamente da janela da casa, ou se mais alguém estivesse passando por aqui. Eu não vejo outro jeito. — A duquesa olhou para a filha com preocupação.
— Mas não aconteceu nada, não é, ? — Ela virou para o homem, que permaneceu estático, perdido nos próprios pensamentos. — Não é, ?
— O casamento é a única solução plausível. Não posso arriscar jogar a sua reputação no lixo desse jeito — respondeu, após ter ficado em silêncio por um bom período de tempo, e olhou para , sua mente dividida entre ter cumprido o dever imposto por seu pai e ao mesmo tempo ter estragado o futuro de algo que ele achava que estava construindo. — Eu quero conversar com ela a sós. — olhou para a mãe, que assentiu com a cabeça, chamando as outras mulheres, e Lady Rockefeller lançou um olhar para a filha antes de se retirar do local.
— Mas e se ele tentar outra coisa indecente com a pobre ? — Lady Hughes saiu resmungando, mas foi repreendida pela viscondessa.
— Eu não… eu… — não sabia o que falar e sentia como se estivesse desaprendendo a respirar, mas pôs a mão em seu ombro, a acalmando um pouco. — Não vou te obrigar a se casar comigo somente pela minha honra. Esse não é o estilo de vida que você queria ter e eu nem queria me casar, muito menos dessa forma.
— Você achou que eu estava brincando quando te cortejei? — Era possível identificar a indignação em sua voz. Apesar de no começo aquilo se tratar de um plano, temia que os sentimentos que acabou nutrindo pela moça se tornassem reais, se é que já não estava acontecendo.
— Como eu vou saber? Um dia antes te encontrei em momentos impróprios com outra… quer saber, eu preciso de um tempo sozinha. — se desvencilhou do toque de e saiu correndo pelo campo, adentrando a casa e buscando um local para se refugiar.
— Eu já falei para ele apressar o pedido. Ela já se tornou o diamante da temporada, não vai demorar até outros a perseguirem. E vai chegar uma hora que nem você vai conseguir evitar, caro amigo. — parou ao ouvir a voz do sr. Bridgerton no escritório de seu pai, se escondendo em uma salinha perto do cômodo.
— Eu sei que temos um acordo, mas olha como fala, ela é minha filha. Não quero forçá-la a nada, mas, pelo que aparenta, os dois já começaram a se entender. — Dessa vez, ela escutou a voz de seu pai.
ainda processava o que acabara de ouvir. Não era possível. Então tudo aquilo era um plano desde o começo? Por que seu pai a venderia tão fácil assim? Ela viu se aproximando da porta com uma melancolia no olhar, aparentemente porque já sabia que ela tinha descoberto tudo.
— … — ele chamou pelo seu nome e tentou se aproximar ao ver lágrimas saindo de seus olhos, mas a garota se afastou.
— Única solução plausível, não é? — falou cínica e sentiu como se as palavras ditas por ela cortassem seu coração em mil pedaços. Ela saiu correndo e se trancou no quarto, pegando Newton no colo e chorando copiosamente sentada no chão.
— , o que aconteceu? — o visconde perguntou para o filho, que permaneceu calado e saiu bruscamente do local, deixando os dois homens confusos.
Na semana recorrente, foi anunciado o noivado dos dois com um baile na mansão dos Rockefeller, apesar dos convidados acharem um pouco estranho os noivos não terem se dirigido a palavra e dançarem apenas uma valsa, da maneira mais formal possível, durante toda a noite. O casamento, privado apenas para as duas famílias, foi uma cerimônia simples, realizada na igreja.
estava nervosa. Não imaginava que fosse se casar tão cedo, ainda mais daquela forma. E o pior de tudo era que ela não tinha ninguém para confidenciar isso. Edwina era muito nova para compreender, além de estar superfeliz por ver sua irmã se casando com alguém que ela considerava um bom partido, como . Quanto a seus pais, ela falava apenas o necessário, mas não conseguia confiar neles completamente, principalmente em seu pai. Não depois daquilo. E … ah, . Ela até acreditara que os dois podiam se tornar um casal verdadeiro futuramente. Quer dizer, isso antes de descobrir que tudo que aconteceu entre eles foi uma mentira. Não por parte dela.
Ela adentrou a igreja de braços dados com seu pai, que, apesar das circunstâncias, não podia negar a emoção de ver a filha se casando. Ao olhar para frente, viu um cabisbaixo a esperando, mas, ao seu ver, devia estar feliz por ter conseguido o que queria. Jonathan Rockefeller pigarreiou ao deixar sua filha ao lado do jovem e se afastou, ficando perto de sua esposa. Os dois se olharam, aparentando querer falar algo, mas, em sua cabeça, já era tarde demais. Eles se viraram de frente para o padre, que começou a cerimônia.
— Você aceita Rockefeller como sua legítima esposa?
— Sim.
— Você aceita Bridgerton como seu legítimo esposo?
— … sim.
Aquela havia sido a primeira vez em que eles trocaram alguma palavra desde o fatídico dia em Aubrey Hall.
FIM
Nota da autora: Esperamos que tenham gostado dessa fic de época e comentem muito!!! E temos continuação, sim! Quando terminar essa, só ler a 03. Hold Tight desse mesmo ficstape. ☺️☺️
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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