Capítulo Único
Grécia
— Vamos para a Itália. - você disse.
O sorriso despretensioso enquanto encarava o mar não deixava dúvidas que falava sério.
— Acabamos de chegar, Adam. Por que partir agora? Não está gostando? Você sempre quis visitar a Grécia.
— Verdade, e sempre quis que fosse ao seu lado. - replicou calmamente.
— Ah, mentiroso. - ri. - Nos conhecemos há menos de um ano. Não estou nos seus planos todo esse tempo.
— Parece que você está aqui a minha vida toda, amor. - você me puxou para mais perto, cobriu meus ombros com seu abraço e me fez acreditar que aquela era a minha morada. - Estou tão feliz que você veio.
— O sol brilha até mais bonito, né? - mirei o céu alaranjado pela proximidade do crepúsculo, sem uma única nuvem que pudesse contrastar com a vista que parecia vinda de uma pintura. - Vir até aqui foi loucura. Não sei como minha família ainda não botou a Interpol atrás de mim.
— Nós somos uma grande e linda loucura. - piscou para mim.
— Tão charmoso que dá ódio. - soquei de leve sua barriga apenas pelo prazer de te ver fingir dor intensa.
Quem nos visse sentados naquela praia jamais diria que estávamos fisicamente juntos há pouco mais de quatro horas. Sim, fisicamente é um detalhe importante, porque nossos corações haviam se entrelaçado de maneira quase irrecuperável meses antes sem que nunca tivéssemos dividido o mesmo espaço. Eu chamaria de louca a pessoa que me falasse que eu entraria de cabeça num relacionamento assim, e lá estava eu, longe de casa, com toda a bagagem resumida a uma mochila e uma mala pequena, sentada nas pedras de uma praia na Grécia, trocando carícias e beijos que faziam meu coração falhar batidas com o argelino mais irresistivelmente charmoso que pisou sobre a face da Terra.
— Vamos aproveitar a noite e amanhã cedo pegamos o primeiro trem para a Itália, que tal? Quero te levar para almoçar em um lugar especial. - propôs.
— Mal deu tempo de esticar as pernas. - resmunguei.
— Não se preocupe, vamos ter muito tempo para esticar, dobrar, fazer várias coisas com essas suas pernas bonitas. É desnecessário perguntar se você entendeu, óbvio.
Pelo tom da minha risada você podia ter certeza que compartilhávamos da mesma malícia. Necessitávamos um do outro como quem precisava de ar para respirar ou não teríamos arriscado tanto por curtos dias que seriam o início do “felizes para sempre”.
Sabe, Adam, o brilho dos seus olhos valiam mais que ouro para mim. Era como olhar o mar à noite e todas as vezes que me perdi na imensidão dessa ônix voltei àquele início de noite em Ornos, onde você me puxou pela mão para dentro das águas mornas sem se importar com as roupas molhadas e me fez acreditar que os anjos caminhavam entre os mortais enquanto sussurrava em meu ouvido que eu era a mulher mais incrível do mundo.
Itália
— Tenho nem roupa para isso.
— Tenho nem roupa para isso. - você repetiu em um português bem falado. Você era charmoso dos pés à cabeça, mas precisava admitir que sua voz era meu ponto fraco. Firme, profunda, segura e com um sotaque único.
Entre as muitas peças de roupa sobre a cama, o vestido verde-esmeralda seguia sendo a melhor das opções desde que descobri que iríamos a um restaurante cujo cardápio causaria horror à minha conta bancária. Você pagaria, como propôs, mesmo assim me sentia na obrigação de, ao menos, retribuir a gentileza tornando aquele almoço ainda mais agradável estando bonita como você merecia que eu estivesse. Porque, combinemos, você era o cara mais normalmente bonito já visto e, ao mesmo tempo, me fazia crer estar na presença de um príncipe. Toda a literatura especializada que dizia que o amor torna as pessoas bestas estava certíssima.
Caminhar pelas ruas da Toscana para comer a tão prometida pasta italiana com o melhor vinho branco que o restaurante tivesse era digno de cerimônia tão importante quanto o Oscar, ou assim você fazia com que fosse. Me levava pela mão com delicadeza, fazia-me girar quando o vento fresco tocava nossas peles para ver o vestido se mexer junto com meu cabelo.
Não precisava ser em um restaurante caro, até uma lanchonete de esquina seria perfeita única e exclusivamente pela nossa presença. Éramos um casal da porra, com bastante ênfase. Suas roupas escuras e terrosas contrastando com as minhas cheias de cores; seu jeito reto e educado tão diferente da minha risada escandalosa; a forma como você me galanteava o tempo todo, como se ainda fosse necessário me conquistar de hora em hora enquanto eu não me continha em demonstrar meu amor, te enchendo de beijos, abraços e ataques de cócegas quando você se distraía; clara e propositalmente destoantes de tudo ao nosso redor. À mesa, nos portávamos com a melhor das etiquetas sociais, por mais que fosse quase irresistível não rir da mancha de molho nos fundos da calça do garçom de bigode pomposo.
— Sobremesa, moça? - sinceramente, das muitas formas pelas quais você se referia a mim, essa era a mais gostosa de todas.
— Com certeza, senhor. Vou tirar cada moeda do seu bolso nesse restaurante porque você se ofereceu para pagar. - mostrei a língua.
Poderíamos pedir um prato para cada, mas dividir o mesmo semifreddo de nozes era mil vezes mais delicioso, principalmente porque você fazia questão de imitar as expressões de deleite que eu fazia enquanto aproveitava os pedaços do doce.
— Eu te amo para caralho. - você sussurrou como quem comenta que o vinho acabou.
— Eu sei. - sorri abertamente. - E eu te amo tanto quanto aquela senhora ali atrás ama a bruschetta na mão dela. Chega a estar esfarelando de tanto que aperta. Vai fugir não, senhora. - brinquei.
— Você vai me apertar assim?
— Não, não, nem pensar. Preciso de você inteiro para atender uns outros assuntos de meu interesse. - mordi o lábio.
— Essa é a minha garota. - então você recostou-se na cadeira e pelos minutos seguintes contentou-se em me observar como quem observa um Monet.
Espanha
Barcelona parecia o quintal da nossa casa, ali éramos livres e familiarizados com tudo, como se você nunca tivesse sido criado na Argélia e eu no Brasil. Por alguns dias fomos cidadãos espanhóis que se escoravam aos beijos nos muros de azulejos coloridos, frequentamos pontos turísticos em horários alternativos nos quais ninguém pensaria acontecer um piquenique na escadaria do Park Guell ou uma serenata de amor que faria inveja em Romeu na porta da Casa Blatò. Foi exatamente de frente à obra de Guandí que você pediu emprestado o violão de um jovem artista para, por vinte minutos, reproduzir com dedos hábeis a coletânea do Coldplay que tocava no repeat do meu celular. As luzes nas janelas únicas da Casa Blatò não eram nada perto do brilho do seu sorriso voltado a mim, nem à preciosidade das lágrimas sem-vergonha que corriam furtivamente pelo meu rosto, deixando para trás um rastro brilhante como a Via Láctea .
— Eu larguei tudo por essa mulher. - você comentou em um espanhol cheio de sotaque francês com o rapaz de quem pegara o violão enquanto contava as gorjetas que você tinha ganhado em menos de meia-hora fazendo o que o menino fazia todos os dias. - Cruzaria o oceano congelado a nado para vê-la feliz desse jeito - puxou o celular para que seu novo amigo registrasse você me puxar pela cintura, apoiar minha nuca na sua mão e devorar meus lábios em frente à pequena plateia que se formara para assistir você declamar que as estrelas brilhavam por mim.
Seu cheiro era algo surreal para mim, como uma fonte de âmbar amadeirado, o tipo de fragrância que eu jurara não ser meu tipo. Tão bem jurado que aproximar meu nariz da sua pele era o suficiente para que as pernas amolecessem e aquele calor me tomasse novamente. Calor porque você era quente, apesar de amarmos os dias frios; calor porque seu sorriso era lindo e me tirava do chão; calor porque o norte da África corria no seu sangue. Adam, nunca amei alguém como você.
— Você é inacreditável. - sussurrei no seu ouvido, abraçada ao seu pescoço tentando me recuperar do furacão que você era.
— Sempre espere o inesperado, lembra?
— Jamais esqueceria. - passei a mão pelo seu cabelo, dessa vez sem resmungos da sua parte alegando estragar seu penteado muitíssimo complexo que consistia em puxar todos os fios para trás. - Eu te amo.
— Eu te amo mais.
— Amor, as pessoas estão olhando.
— Que olhem. Você é só minha.
Intenso, profundo, firme e meu. Totalmente meu.
Nossa felicidade era inabalável, inextinguível e certamente infindável nos segundos em que o mundo se resumia a um casal de apaixonados pelas ruas de Barcelona.
Um murmúrio vindo da multidão que fotografava a Casa Batlò te fez gelar. Por mais que eu não compreendesse o que a mulher de véu cinza tivesse dito ao passar por nós, os efeitos das curtas palavras tornaram seu olhar opaco. No mesmo tom contido usado por ela, você lançou uma resposta curta e me puxou na direção oposta, assumindo a expressão contida que pouquíssimas vezes soube ter vindo de você desde que nos conhecemos, aquela que te servia de escudo.
França
Paris era sua casa tal como o Rio de Janeiro era a minha. Não tinha como negar que aquele era o seu espaço, seu lugar no mundo. Todas as histórias animadamente contadas conforme andávamos pelas ruas, as curiosidades e fatos históricos contidos em todos os cantos da cidade luz entregavam seu amor pela capital francesa. Era lindo de ver. Era, vale a nota, uma competição desleal entre a beleza de Paris e a sua, que como uma criança feliz brincando na garoa fina mostrava-me segredos que dispensavam palavras para serem expressos. (Vitória do Adam, mais bonito que Paris).
Você era Paris.
Por mais que usássemos o inglês como língua comum, desde que pisamos em solo francês era natural assumirmos o idioma local. Neste ponto, quando eu achei, tolamente, que não poderia me encantar mais por você, falhei ao me ver aos seus pés, rastejando em amor e desejo toda vez que te ouvia falar francês. Não só pelas ruas de Paris ou quando entrávamos em algum estabelecimento, o impacto era muito maior quando, deitada em seu peito nu, te ouvia dizer que eu era a mulher dos seus sonhos. As manhãs eram preguiçosas, praticamente impossível sair da cama antes das onze, o sono ia e voltava misturado com ondas de lascívia cumplicidade. Quantas vezes me perdi em você? Quantas vezes fui levada ao céu e de volta à Terra no instante seguinte pelo encaixe perfeito que tínhamos? Meu corpo guarda a memória de cada um dos seus toques em meio aos lençóis macios.
— Vamos pedir um brunch, amor? - perguntei, incomodada pelo vazio em meu estômago.
— O que você quiser. Vou pedir. - você se levantou e vestiu o roupão para alcançar o telefone do quarto, tempo suficiente para que algo até então inédito ocorresse: seu celular tocasse.
— Adam, estão te ligando. - estiquei-me para pegar o aparelho, encarando letras as quais não era capaz de reconhecer. Árabe. - Não sei quem é. - virei o celular em sua direção - Quer que eu atenda?
— Não! - passado o susto, você se recompôs e repetiu. - Não precisa, princesa. Não é importante.
— Tem certeza? Estão ligando outra vez. Acho que é melhor atender.
Na quarta vez, finalmente você atendeu. Se dirigiu à pequena sacada do quarto, escorou os braços no parapeito e de frente para o coração de Paris deu início ao fim.
— Tudo bem, amor? - questionei ao te ver voltar para a cama pálido, frio, muito distante do homem que eu tinha o prazer de chamar de meu.
— Tudo bem, não se preocupe.
— É tão raro te ver falar árabe que me causa estranhamento. Talvez se você falar mais vezes eu me acostume. - confessei.
— Melhor não, amor. - deixou um selar em meus lábios. - Não gosto.
— Deixe de bobagem, é bonito de ouvir. Sério. - acariciei seu rosto na tentativa de trazê-lo de volta para mim. - Vamos ter filhos muito inteligentes que falarão inglês, francês, árabe e português. Sucesso entre os amiguinhos da escola. - brinquei.
— Era minha mãe. Meu pai está doente. - revelou.
O chão abriu e tudo começou a ruir.
Suíça
— Volto em breve, prometo. - no portão de embarque do Charles de Gaulle, toquei sua mão pela última vez.
— E se não der tempo? - perguntei.
— Então te encontro no Brasil. Não se preocupe, vou atrás de você onde for. - sorriu. Perto dos seus sorrisos mais genuínos, aquele era apenas uma sombra. - Só preciso de uns dias com minha família para acertar tudo e volto para você.
— Adam, me avisa quando chegar, por favor. Se precisar de qualquer coisa, fala comigo. Não me deixa no escuro sem notícias, fico preocupada.
— Tudo bem, amor.
Amor, no português mais lindo que só você tinha.
— Eu te amo. – afirmei, convicta.
— Mais que tudo. - você completou. - Aproveite a Suíça por mim. Quero chocolate.
— Não vai ser a mesma coisa sem você. - choraminguei.
— Ei, seja forte. Você é a mulher mais forte que eu conheço. - secou as lágrimas que brotavam pelos cantos dos meus olhos. - Por isso que você é a minha mulher. - frisou.
Sua mão puxou meu rosto na direção do seu para que nossas bocas se colassem. Em meio às lágrimas desta chorona incorrigível, nos beijamos como se fosse a última vez que o faríamos.
E de fato foi.
— Te vejo do outro lado da lua, amor. - você disse.
Passei cinco dias na Suíça que se arrastaram como quinze sem você ao meu lado. Pelo menos ainda estava perto, podia entrar no primeiro avião e ir te buscar pelo braço em Algiers. Por ironia, as ligações diárias logo viraram mensagens cada vez mais curtas e espaçadas. Apenas para dizer que estava bem, sem maiores notícias, sem uma data de retorno. Chegado o dia de voltar ao Brasil, viagem que você tanto queria fazer, coincidentemente as mensagens pararam de chegar e nenhuma das notificações no meu celular tinha seu nome. As chamadas não eram completadas e nem na caixa postal caíam. Simplesmente não te alcançavam mais, assim como eu. Não estava mais a duas horas de voo de você, e sim a catorze.
Eu sabia que as questões que envolviam sua família te machucavam e traziam à tona feridas mal cicatrizadas, que o relacionamento com seu pai era difícil e que seus irmãos preferiam ignorar a realidade a ajudar de alguma forma. Por mais que você fosse o filho desgarrado que saíra de casa aos dezenove anos para viver em outro país, ainda era a você a quem recorriam nos momentos difíceis. Você era um bom filho, um homem íntegro e extremamente inteligente, sabia se virar sozinho melhor que ninguém. Me levar contigo era algo fora de cogitação, eu estava ciente, vocês já tinham problemas demais. Sentada na poltrona do voo que me levaria para casa, lembrei da mulher de véu cinza em Barcelona e no quanto as palavras dela o atingiram. Desejei ser capaz de compreender árabe ao menos para me certificar que ela não tinha dito o que eu imaginava que fosse.
Você é e sempre será extraordinário, Adam. Em todas as suas nuances, em cada um dos seus pedaços e ninguém poderia convencê-lo do contrário. Que baita homem você é.
Por isso esperei com paciência, por isso suportei o sangue que brotava em golfadas em meu peito até que pudesse te ter de volta.
Brasil
E aqui sigo eu, esperando mais uma noite por qualquer sinal do seu retorno, por uma mensagem que faça vibrar, além do celular, o meu coração. Voltar para casa foi difícil, te deixar pelo caminho está sendo impossível. Durante o dia, busco qualquer coisa que possa manter-me entretida e afastar meus pensamentos de você, mesmo assim sua voz sempre está nos meus ouvidos, seu sorriso nos meus olhos, seu cheiro no meu nariz, seu beijo na minha boca e seu abraço em cada centímetro da minha pele. Quando a noite chega, o vazio me toma, busco desesperadamente a presença daquele que me traz segurança e encontro apenas a cama vazia ao meu lado.
Você sabe que sou boa atriz, consigo maquiar meus sentimentos com decência, minto bem e sustento a cara de pau até onde der. Porém, desconfio seriamente que esse talento se foi.
Até quem me vê lendo o jornal na fila do pão, sabe que eu te perdi.
Por quanto tempo? Não sei. Ninguém sabe. Por um ou dois meses, por meio ano, por uma década ou para sempre. E o buraco que você deixou no meu peito segue aumentando cada dia mais; na mesma velocidade em que busco a cura, volto a sangrar. Disse nas últimas mensagens que te mandei que não choraria mais e que pararia de transformar aquele chat em um diário da sua ausência. Um espaço só nosso, onde compartilhamos tantos planos e risadas madrugada adentro não pode ser maculado pela dor que me sufoca. Menti.
Ao mesmo tempo que faço o possível para preservar o memorial desse amor, luto comigo mesma para resistir à tentação de ouvir seus áudios, assistir os vídeos de gravamos juntos e tocar as músicas que você escreveu para mim, todos guardados numa nuvem eletrônica repleta dos segundos mais felizes das nossas vidas, pois sei que mancharia estas preciosidades com o peso das minhas lágrimas. Que a nuvem guarde nossos tesouros como espero que as nuvens do céu guardem nossos sonhos.
Prometi ser forte, prometi que só demonstraria minhas fraquezas se você estivesse do meu lado para me proteger enquanto estou frágil, prometi te encher de orgulho, prometi ser sua melhor amiga, prometi ser sua esposa. Fiz e faço qualquer coisa por você, para te ter ao meu lado novamente, entrelaçar meus dedos na sua mão quente e sorrir com a sensação de estar em casa. Não posso te decepcionar, porque seja onde você estiver, seu coração bate no mesmo ritmo que o meu. Pisar em brasas ardentes dói menos que o vazio que o homem da minha vida deixou para trás, então estou disposta a suportar o que for, desde que isso te traga de volta.
Eu morreria por você, Adam.
Estes são os meus últimos segundos no solo do meu país e só volto quando puder te puxar pelo braço para tomarmos o melhor mate gelado da praia de Copacabana.
“Senhores passageiros, afivelem seus cintos de segurança. Em menos de um minuto estaremos decolando com destino ao aeroporto de Algiers. Obrigado.”
Te vejo do outro lado da lua, meu amor.
— Vamos para a Itália. - você disse.
O sorriso despretensioso enquanto encarava o mar não deixava dúvidas que falava sério.
— Acabamos de chegar, Adam. Por que partir agora? Não está gostando? Você sempre quis visitar a Grécia.
— Verdade, e sempre quis que fosse ao seu lado. - replicou calmamente.
— Ah, mentiroso. - ri. - Nos conhecemos há menos de um ano. Não estou nos seus planos todo esse tempo.
— Parece que você está aqui a minha vida toda, amor. - você me puxou para mais perto, cobriu meus ombros com seu abraço e me fez acreditar que aquela era a minha morada. - Estou tão feliz que você veio.
— O sol brilha até mais bonito, né? - mirei o céu alaranjado pela proximidade do crepúsculo, sem uma única nuvem que pudesse contrastar com a vista que parecia vinda de uma pintura. - Vir até aqui foi loucura. Não sei como minha família ainda não botou a Interpol atrás de mim.
— Nós somos uma grande e linda loucura. - piscou para mim.
— Tão charmoso que dá ódio. - soquei de leve sua barriga apenas pelo prazer de te ver fingir dor intensa.
Quem nos visse sentados naquela praia jamais diria que estávamos fisicamente juntos há pouco mais de quatro horas. Sim, fisicamente é um detalhe importante, porque nossos corações haviam se entrelaçado de maneira quase irrecuperável meses antes sem que nunca tivéssemos dividido o mesmo espaço. Eu chamaria de louca a pessoa que me falasse que eu entraria de cabeça num relacionamento assim, e lá estava eu, longe de casa, com toda a bagagem resumida a uma mochila e uma mala pequena, sentada nas pedras de uma praia na Grécia, trocando carícias e beijos que faziam meu coração falhar batidas com o argelino mais irresistivelmente charmoso que pisou sobre a face da Terra.
— Vamos aproveitar a noite e amanhã cedo pegamos o primeiro trem para a Itália, que tal? Quero te levar para almoçar em um lugar especial. - propôs.
— Mal deu tempo de esticar as pernas. - resmunguei.
— Não se preocupe, vamos ter muito tempo para esticar, dobrar, fazer várias coisas com essas suas pernas bonitas. É desnecessário perguntar se você entendeu, óbvio.
Pelo tom da minha risada você podia ter certeza que compartilhávamos da mesma malícia. Necessitávamos um do outro como quem precisava de ar para respirar ou não teríamos arriscado tanto por curtos dias que seriam o início do “felizes para sempre”.
Sabe, Adam, o brilho dos seus olhos valiam mais que ouro para mim. Era como olhar o mar à noite e todas as vezes que me perdi na imensidão dessa ônix voltei àquele início de noite em Ornos, onde você me puxou pela mão para dentro das águas mornas sem se importar com as roupas molhadas e me fez acreditar que os anjos caminhavam entre os mortais enquanto sussurrava em meu ouvido que eu era a mulher mais incrível do mundo.
Itália
— Tenho nem roupa para isso.
— Tenho nem roupa para isso. - você repetiu em um português bem falado. Você era charmoso dos pés à cabeça, mas precisava admitir que sua voz era meu ponto fraco. Firme, profunda, segura e com um sotaque único.
Entre as muitas peças de roupa sobre a cama, o vestido verde-esmeralda seguia sendo a melhor das opções desde que descobri que iríamos a um restaurante cujo cardápio causaria horror à minha conta bancária. Você pagaria, como propôs, mesmo assim me sentia na obrigação de, ao menos, retribuir a gentileza tornando aquele almoço ainda mais agradável estando bonita como você merecia que eu estivesse. Porque, combinemos, você era o cara mais normalmente bonito já visto e, ao mesmo tempo, me fazia crer estar na presença de um príncipe. Toda a literatura especializada que dizia que o amor torna as pessoas bestas estava certíssima.
Caminhar pelas ruas da Toscana para comer a tão prometida pasta italiana com o melhor vinho branco que o restaurante tivesse era digno de cerimônia tão importante quanto o Oscar, ou assim você fazia com que fosse. Me levava pela mão com delicadeza, fazia-me girar quando o vento fresco tocava nossas peles para ver o vestido se mexer junto com meu cabelo.
Não precisava ser em um restaurante caro, até uma lanchonete de esquina seria perfeita única e exclusivamente pela nossa presença. Éramos um casal da porra, com bastante ênfase. Suas roupas escuras e terrosas contrastando com as minhas cheias de cores; seu jeito reto e educado tão diferente da minha risada escandalosa; a forma como você me galanteava o tempo todo, como se ainda fosse necessário me conquistar de hora em hora enquanto eu não me continha em demonstrar meu amor, te enchendo de beijos, abraços e ataques de cócegas quando você se distraía; clara e propositalmente destoantes de tudo ao nosso redor. À mesa, nos portávamos com a melhor das etiquetas sociais, por mais que fosse quase irresistível não rir da mancha de molho nos fundos da calça do garçom de bigode pomposo.
— Sobremesa, moça? - sinceramente, das muitas formas pelas quais você se referia a mim, essa era a mais gostosa de todas.
— Com certeza, senhor. Vou tirar cada moeda do seu bolso nesse restaurante porque você se ofereceu para pagar. - mostrei a língua.
Poderíamos pedir um prato para cada, mas dividir o mesmo semifreddo de nozes era mil vezes mais delicioso, principalmente porque você fazia questão de imitar as expressões de deleite que eu fazia enquanto aproveitava os pedaços do doce.
— Eu te amo para caralho. - você sussurrou como quem comenta que o vinho acabou.
— Eu sei. - sorri abertamente. - E eu te amo tanto quanto aquela senhora ali atrás ama a bruschetta na mão dela. Chega a estar esfarelando de tanto que aperta. Vai fugir não, senhora. - brinquei.
— Você vai me apertar assim?
— Não, não, nem pensar. Preciso de você inteiro para atender uns outros assuntos de meu interesse. - mordi o lábio.
— Essa é a minha garota. - então você recostou-se na cadeira e pelos minutos seguintes contentou-se em me observar como quem observa um Monet.
Espanha
Barcelona parecia o quintal da nossa casa, ali éramos livres e familiarizados com tudo, como se você nunca tivesse sido criado na Argélia e eu no Brasil. Por alguns dias fomos cidadãos espanhóis que se escoravam aos beijos nos muros de azulejos coloridos, frequentamos pontos turísticos em horários alternativos nos quais ninguém pensaria acontecer um piquenique na escadaria do Park Guell ou uma serenata de amor que faria inveja em Romeu na porta da Casa Blatò. Foi exatamente de frente à obra de Guandí que você pediu emprestado o violão de um jovem artista para, por vinte minutos, reproduzir com dedos hábeis a coletânea do Coldplay que tocava no repeat do meu celular. As luzes nas janelas únicas da Casa Blatò não eram nada perto do brilho do seu sorriso voltado a mim, nem à preciosidade das lágrimas sem-vergonha que corriam furtivamente pelo meu rosto, deixando para trás um rastro brilhante como a Via Láctea .
— Eu larguei tudo por essa mulher. - você comentou em um espanhol cheio de sotaque francês com o rapaz de quem pegara o violão enquanto contava as gorjetas que você tinha ganhado em menos de meia-hora fazendo o que o menino fazia todos os dias. - Cruzaria o oceano congelado a nado para vê-la feliz desse jeito - puxou o celular para que seu novo amigo registrasse você me puxar pela cintura, apoiar minha nuca na sua mão e devorar meus lábios em frente à pequena plateia que se formara para assistir você declamar que as estrelas brilhavam por mim.
Seu cheiro era algo surreal para mim, como uma fonte de âmbar amadeirado, o tipo de fragrância que eu jurara não ser meu tipo. Tão bem jurado que aproximar meu nariz da sua pele era o suficiente para que as pernas amolecessem e aquele calor me tomasse novamente. Calor porque você era quente, apesar de amarmos os dias frios; calor porque seu sorriso era lindo e me tirava do chão; calor porque o norte da África corria no seu sangue. Adam, nunca amei alguém como você.
— Você é inacreditável. - sussurrei no seu ouvido, abraçada ao seu pescoço tentando me recuperar do furacão que você era.
— Sempre espere o inesperado, lembra?
— Jamais esqueceria. - passei a mão pelo seu cabelo, dessa vez sem resmungos da sua parte alegando estragar seu penteado muitíssimo complexo que consistia em puxar todos os fios para trás. - Eu te amo.
— Eu te amo mais.
— Amor, as pessoas estão olhando.
— Que olhem. Você é só minha.
Intenso, profundo, firme e meu. Totalmente meu.
Nossa felicidade era inabalável, inextinguível e certamente infindável nos segundos em que o mundo se resumia a um casal de apaixonados pelas ruas de Barcelona.
Um murmúrio vindo da multidão que fotografava a Casa Batlò te fez gelar. Por mais que eu não compreendesse o que a mulher de véu cinza tivesse dito ao passar por nós, os efeitos das curtas palavras tornaram seu olhar opaco. No mesmo tom contido usado por ela, você lançou uma resposta curta e me puxou na direção oposta, assumindo a expressão contida que pouquíssimas vezes soube ter vindo de você desde que nos conhecemos, aquela que te servia de escudo.
França
Paris era sua casa tal como o Rio de Janeiro era a minha. Não tinha como negar que aquele era o seu espaço, seu lugar no mundo. Todas as histórias animadamente contadas conforme andávamos pelas ruas, as curiosidades e fatos históricos contidos em todos os cantos da cidade luz entregavam seu amor pela capital francesa. Era lindo de ver. Era, vale a nota, uma competição desleal entre a beleza de Paris e a sua, que como uma criança feliz brincando na garoa fina mostrava-me segredos que dispensavam palavras para serem expressos. (Vitória do Adam, mais bonito que Paris).
Você era Paris.
Por mais que usássemos o inglês como língua comum, desde que pisamos em solo francês era natural assumirmos o idioma local. Neste ponto, quando eu achei, tolamente, que não poderia me encantar mais por você, falhei ao me ver aos seus pés, rastejando em amor e desejo toda vez que te ouvia falar francês. Não só pelas ruas de Paris ou quando entrávamos em algum estabelecimento, o impacto era muito maior quando, deitada em seu peito nu, te ouvia dizer que eu era a mulher dos seus sonhos. As manhãs eram preguiçosas, praticamente impossível sair da cama antes das onze, o sono ia e voltava misturado com ondas de lascívia cumplicidade. Quantas vezes me perdi em você? Quantas vezes fui levada ao céu e de volta à Terra no instante seguinte pelo encaixe perfeito que tínhamos? Meu corpo guarda a memória de cada um dos seus toques em meio aos lençóis macios.
— Vamos pedir um brunch, amor? - perguntei, incomodada pelo vazio em meu estômago.
— O que você quiser. Vou pedir. - você se levantou e vestiu o roupão para alcançar o telefone do quarto, tempo suficiente para que algo até então inédito ocorresse: seu celular tocasse.
— Adam, estão te ligando. - estiquei-me para pegar o aparelho, encarando letras as quais não era capaz de reconhecer. Árabe. - Não sei quem é. - virei o celular em sua direção - Quer que eu atenda?
— Não! - passado o susto, você se recompôs e repetiu. - Não precisa, princesa. Não é importante.
— Tem certeza? Estão ligando outra vez. Acho que é melhor atender.
Na quarta vez, finalmente você atendeu. Se dirigiu à pequena sacada do quarto, escorou os braços no parapeito e de frente para o coração de Paris deu início ao fim.
— Tudo bem, amor? - questionei ao te ver voltar para a cama pálido, frio, muito distante do homem que eu tinha o prazer de chamar de meu.
— Tudo bem, não se preocupe.
— É tão raro te ver falar árabe que me causa estranhamento. Talvez se você falar mais vezes eu me acostume. - confessei.
— Melhor não, amor. - deixou um selar em meus lábios. - Não gosto.
— Deixe de bobagem, é bonito de ouvir. Sério. - acariciei seu rosto na tentativa de trazê-lo de volta para mim. - Vamos ter filhos muito inteligentes que falarão inglês, francês, árabe e português. Sucesso entre os amiguinhos da escola. - brinquei.
— Era minha mãe. Meu pai está doente. - revelou.
O chão abriu e tudo começou a ruir.
Suíça
— Volto em breve, prometo. - no portão de embarque do Charles de Gaulle, toquei sua mão pela última vez.
— E se não der tempo? - perguntei.
— Então te encontro no Brasil. Não se preocupe, vou atrás de você onde for. - sorriu. Perto dos seus sorrisos mais genuínos, aquele era apenas uma sombra. - Só preciso de uns dias com minha família para acertar tudo e volto para você.
— Adam, me avisa quando chegar, por favor. Se precisar de qualquer coisa, fala comigo. Não me deixa no escuro sem notícias, fico preocupada.
— Tudo bem, amor.
Amor, no português mais lindo que só você tinha.
— Eu te amo. – afirmei, convicta.
— Mais que tudo. - você completou. - Aproveite a Suíça por mim. Quero chocolate.
— Não vai ser a mesma coisa sem você. - choraminguei.
— Ei, seja forte. Você é a mulher mais forte que eu conheço. - secou as lágrimas que brotavam pelos cantos dos meus olhos. - Por isso que você é a minha mulher. - frisou.
Sua mão puxou meu rosto na direção do seu para que nossas bocas se colassem. Em meio às lágrimas desta chorona incorrigível, nos beijamos como se fosse a última vez que o faríamos.
E de fato foi.
— Te vejo do outro lado da lua, amor. - você disse.
Passei cinco dias na Suíça que se arrastaram como quinze sem você ao meu lado. Pelo menos ainda estava perto, podia entrar no primeiro avião e ir te buscar pelo braço em Algiers. Por ironia, as ligações diárias logo viraram mensagens cada vez mais curtas e espaçadas. Apenas para dizer que estava bem, sem maiores notícias, sem uma data de retorno. Chegado o dia de voltar ao Brasil, viagem que você tanto queria fazer, coincidentemente as mensagens pararam de chegar e nenhuma das notificações no meu celular tinha seu nome. As chamadas não eram completadas e nem na caixa postal caíam. Simplesmente não te alcançavam mais, assim como eu. Não estava mais a duas horas de voo de você, e sim a catorze.
Eu sabia que as questões que envolviam sua família te machucavam e traziam à tona feridas mal cicatrizadas, que o relacionamento com seu pai era difícil e que seus irmãos preferiam ignorar a realidade a ajudar de alguma forma. Por mais que você fosse o filho desgarrado que saíra de casa aos dezenove anos para viver em outro país, ainda era a você a quem recorriam nos momentos difíceis. Você era um bom filho, um homem íntegro e extremamente inteligente, sabia se virar sozinho melhor que ninguém. Me levar contigo era algo fora de cogitação, eu estava ciente, vocês já tinham problemas demais. Sentada na poltrona do voo que me levaria para casa, lembrei da mulher de véu cinza em Barcelona e no quanto as palavras dela o atingiram. Desejei ser capaz de compreender árabe ao menos para me certificar que ela não tinha dito o que eu imaginava que fosse.
Você é e sempre será extraordinário, Adam. Em todas as suas nuances, em cada um dos seus pedaços e ninguém poderia convencê-lo do contrário. Que baita homem você é.
Por isso esperei com paciência, por isso suportei o sangue que brotava em golfadas em meu peito até que pudesse te ter de volta.
Brasil
E aqui sigo eu, esperando mais uma noite por qualquer sinal do seu retorno, por uma mensagem que faça vibrar, além do celular, o meu coração. Voltar para casa foi difícil, te deixar pelo caminho está sendo impossível. Durante o dia, busco qualquer coisa que possa manter-me entretida e afastar meus pensamentos de você, mesmo assim sua voz sempre está nos meus ouvidos, seu sorriso nos meus olhos, seu cheiro no meu nariz, seu beijo na minha boca e seu abraço em cada centímetro da minha pele. Quando a noite chega, o vazio me toma, busco desesperadamente a presença daquele que me traz segurança e encontro apenas a cama vazia ao meu lado.
Você sabe que sou boa atriz, consigo maquiar meus sentimentos com decência, minto bem e sustento a cara de pau até onde der. Porém, desconfio seriamente que esse talento se foi.
Até quem me vê lendo o jornal na fila do pão, sabe que eu te perdi.
Por quanto tempo? Não sei. Ninguém sabe. Por um ou dois meses, por meio ano, por uma década ou para sempre. E o buraco que você deixou no meu peito segue aumentando cada dia mais; na mesma velocidade em que busco a cura, volto a sangrar. Disse nas últimas mensagens que te mandei que não choraria mais e que pararia de transformar aquele chat em um diário da sua ausência. Um espaço só nosso, onde compartilhamos tantos planos e risadas madrugada adentro não pode ser maculado pela dor que me sufoca. Menti.
Ao mesmo tempo que faço o possível para preservar o memorial desse amor, luto comigo mesma para resistir à tentação de ouvir seus áudios, assistir os vídeos de gravamos juntos e tocar as músicas que você escreveu para mim, todos guardados numa nuvem eletrônica repleta dos segundos mais felizes das nossas vidas, pois sei que mancharia estas preciosidades com o peso das minhas lágrimas. Que a nuvem guarde nossos tesouros como espero que as nuvens do céu guardem nossos sonhos.
Prometi ser forte, prometi que só demonstraria minhas fraquezas se você estivesse do meu lado para me proteger enquanto estou frágil, prometi te encher de orgulho, prometi ser sua melhor amiga, prometi ser sua esposa. Fiz e faço qualquer coisa por você, para te ter ao meu lado novamente, entrelaçar meus dedos na sua mão quente e sorrir com a sensação de estar em casa. Não posso te decepcionar, porque seja onde você estiver, seu coração bate no mesmo ritmo que o meu. Pisar em brasas ardentes dói menos que o vazio que o homem da minha vida deixou para trás, então estou disposta a suportar o que for, desde que isso te traga de volta.
Eu morreria por você, Adam.
Estes são os meus últimos segundos no solo do meu país e só volto quando puder te puxar pelo braço para tomarmos o melhor mate gelado da praia de Copacabana.
“Senhores passageiros, afivelem seus cintos de segurança. Em menos de um minuto estaremos decolando com destino ao aeroporto de Algiers. Obrigado.”
Te vejo do outro lado da lua, meu amor.
Fim!
Nota da autora: Oi, que bom que você chegou até aqui! Essa história é muito importante para mim, faz parte do meu próprio processo de cura e cada palavra escrita aqui foi escolhida com muito carinho e saudade. É breve pois os detalhes seguem no meu coração, o papel não seria o suficiente para eternizar cada instante da maneira como deveria ser. Alguns amores são para a vida inteira.
Obrigada por estar aqui.
Beijos!
Sempre sua,
Nimuë.
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Nota da beta: A intensidade dessa história me matou! Eu senti arrepio a cada história, a cada sentimento trazido. É uma dor imensa não ter um final e seguir junto com a personagem esperando pelo melhor. Obrigada por essa fic incrível! 💙
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