Prólogo
“Nenhuma gravadora vai dar chance a uma bandinha medíocre como a sua.”
“Sem chance de vocês fazerem sucesso nos Estados Unidos.”
“Deveria ficar feliz se conseguisse fazer sucesso nos barzinhos de Sydney.”
Essas foram apenas algumas das frases que ouvimos durante todo o tempo desde que decidimos que queríamos viver de música. Ah, a frase no plural porque estou falando sobre mim e meus colegas de banda. Somos amigos desde o ensino médio, e lá mesmo decidimos ter a nossa banda, que levou um tempo até ter um nome e realmente parecer uma banda de verdade. Nem as nossas famílias levavam muita fé na gente, tratando como se fosse um sonho adolescente que seria passageiro. A vida adulta nos abriria os olhos para a realidade, eles diziam.
Bom, tivemos momentos em que pensamos em desistir. Houve uma época em que eu realmente deixei para trás e quase fui para outra carreira, mas no fim, a música me chamou de volta. E, gostem ou não, agora estamos nós quatro, sentados em cadeiras chiques, num escritório chique, em uma das gravadoras mais importantes de Los Angeles. Deixamos a Austrália para trás, o contato com a família apenas virtualmente, e aos trancos e barrancos, passamos quase seis anos lutando pelo nosso sonho. Mas valeu a pena! Agora estamos aqui, apenas esperando um dos sócios que ouviu a nossa demo chegar para falarmos sobre contrato.
Nem foi preciso dizer nada, a troca de olhares entre nós quatro revelava o frio na barriga, a ansiedade, o nervosismo. Tentávamos parecer profissionais, como se esperássemos por aquilo e estivéssemos completamente tranquilos. Eu era bom em disfarçar sentimentos, mas o não parava de roer as unhas e o continuava com aquela carinha de garotinho assustado. Não importava quantos anos se passassem, quanto mais cara de homem ele tinha, aquele olhar ingênuo continuava sendo típico dele.
Então ouvimos a porta abrir; e viraram as cabeças como crianças desesperadas e abriram um sorriso, foi mais sutil, mas não abriu um sorriso. Ele me olhou de uma forma que não entendi na hora, e franzi o cenho antes de me virar devagar, e logo entendi o que aquele olhar significou: estava preocupado com a minha reação.
Eu simplesmente paralisei.
Depois de todos aqueles anos lutando pelo nosso sonho, tinha de ser justamente ela a entrar por aquela porta? Tinha de ser aquela garota com aqueles papéis na mão, que com certeza eram o nosso contrato? Tínhamos de estar nas mãos dela para conseguirmos uma vaga naquela gravadora? O Universo pode ser muito injusto às vezes, e gostava de debochar da minha cara. Porque de todas as pessoas do mundo, a que eu nunca esperei e jamais desejaria ver ali era ela: Struble.
“Sem chance de vocês fazerem sucesso nos Estados Unidos.”
“Deveria ficar feliz se conseguisse fazer sucesso nos barzinhos de Sydney.”
Essas foram apenas algumas das frases que ouvimos durante todo o tempo desde que decidimos que queríamos viver de música. Ah, a frase no plural porque estou falando sobre mim e meus colegas de banda. Somos amigos desde o ensino médio, e lá mesmo decidimos ter a nossa banda, que levou um tempo até ter um nome e realmente parecer uma banda de verdade. Nem as nossas famílias levavam muita fé na gente, tratando como se fosse um sonho adolescente que seria passageiro. A vida adulta nos abriria os olhos para a realidade, eles diziam.
Bom, tivemos momentos em que pensamos em desistir. Houve uma época em que eu realmente deixei para trás e quase fui para outra carreira, mas no fim, a música me chamou de volta. E, gostem ou não, agora estamos nós quatro, sentados em cadeiras chiques, num escritório chique, em uma das gravadoras mais importantes de Los Angeles. Deixamos a Austrália para trás, o contato com a família apenas virtualmente, e aos trancos e barrancos, passamos quase seis anos lutando pelo nosso sonho. Mas valeu a pena! Agora estamos aqui, apenas esperando um dos sócios que ouviu a nossa demo chegar para falarmos sobre contrato.
Nem foi preciso dizer nada, a troca de olhares entre nós quatro revelava o frio na barriga, a ansiedade, o nervosismo. Tentávamos parecer profissionais, como se esperássemos por aquilo e estivéssemos completamente tranquilos. Eu era bom em disfarçar sentimentos, mas o não parava de roer as unhas e o continuava com aquela carinha de garotinho assustado. Não importava quantos anos se passassem, quanto mais cara de homem ele tinha, aquele olhar ingênuo continuava sendo típico dele.
Então ouvimos a porta abrir; e viraram as cabeças como crianças desesperadas e abriram um sorriso, foi mais sutil, mas não abriu um sorriso. Ele me olhou de uma forma que não entendi na hora, e franzi o cenho antes de me virar devagar, e logo entendi o que aquele olhar significou: estava preocupado com a minha reação.
Eu simplesmente paralisei.
Depois de todos aqueles anos lutando pelo nosso sonho, tinha de ser justamente ela a entrar por aquela porta? Tinha de ser aquela garota com aqueles papéis na mão, que com certeza eram o nosso contrato? Tínhamos de estar nas mãos dela para conseguirmos uma vaga naquela gravadora? O Universo pode ser muito injusto às vezes, e gostava de debochar da minha cara. Porque de todas as pessoas do mundo, a que eu nunca esperei e jamais desejaria ver ali era ela: Struble.
Capítulo Único
Ninguém conseguia entender o que se passava ali, nem mesmo nós. Eu só conseguia gritar, gritar e gritar, e também. Nós dois gritávamos, sem ouvir o outro, sem se importar em resolver. A gente não queria se ouvir, não queria solucionar o problema, só queria extravasar, um na cara do outro, falando o que bem quisesse. O restante da sala se manifestava também. Alguns só davam gritinhos de comemoração pela briga, outros queriam ver o circo pegar fogo e diziam coisas para atiçar nossa raiva ainda mais. sentava do outro lado da sala ao lado de Ashleigh, balançando a cabeça em negação, nos repreendendo mentalmente. estava ao meu lado, gritando com uma amiga de que a defendia. tentava amenizar, pedindo silêncio e calma, mas ninguém o ouvia.
— Você fez de propósito, sua escrota, infantil, babaca. Sua bruxa! — Eu repeti aquela frase pela milésima vez, esperando que uma das vezes ela me ouvisse de verdade, ao invés de gritar por cima de mim.
— Não fala assim com a minha amiga! — A amiga de interrompeu a discussão com para defendê-la.
— O que esse idiota falou de mim? — perguntou. Agora finalmente estávamos respeitando a vez do outro, e um falando de cada vez.
— Se não estivesse gritando feito uma louca mal educada, teria me escutado. — Provoquei, com aquele sorrisinho debochado que eu sabia que irritava ela.
— Repete se você tiver coragem! Eu estou louca para dar um soco nessa sua cara, com esse sorrisinho idiota. — Ela estava irada, e eu ri ainda mais.
— Eu disse que você é uma escrota, infantil. Uma bruxa! Muita implicância da sua parte.
— Implicância por que? Vocês estavam com a sala de música reservada em vários horários, vários dias. Precisam aprender a dividir. — Foi a vez dela de debochar.
Caso você esteja perdido sobre o que aconteceu, vou resumir: A professora do coral estava de licença maternidade, por conta disso, a sala dela ficou vaga para quem quisesse reservar para ensaios. Como a nossa banda era a única na escola, só dividimos o espaço com o coral, o único outro grupo musical que precisava de espaço para ensaios. Por pura implicância, a reservou justamente nos horários dos ensaios da 5 seconds of summer. E, sim, nós agora tínhamos um nome para nossa banda.
— E você decidiu reservar só nos nossos horários? E os horários do pessoal do coral?
— Nossa, como você é egoísta, . — Ela provocou, e eu tive vontade de voar nela. Eu só não fiz, não por respeito, mas porque eu sabia que quem iria apanhar era eu. Já vi ela brigando, não iria me arriscar.
— E você vai fazer o que na sala de música, se você não tem banda, nem nada?
— Ah, eu tenho outras coisas para fazer. Gosto de um lugar silencioso para ler, meditar, alguns dias eu posso tocar algum instrumento… — não fez questão de esconder que estava fazendo tudo por pura implicância.
— Sua idiota! Você pode fazer isso em qualquer lugar. A egoísta aqui é você, e só conseguiu o que queria porque é enteada queridinha do diretor. — E foi nessa hora que ela perdeu a pose provocativa, e fechou a cara. Eu sabia que aquele era um ponto fraco dela. sempre foi inteligente e decidida, mas algumas pessoas começaram a implicar e dizer que ela só conseguia certas coisas por ter relação com o senhor Munch. O que não era verdade, suas notas boas não eram os professores bajulando, e quando vencia alguma competição, sempre foi por mérito próprio. Mas, se ela queria me provocar, eu faria o mesmo.
— Eu vou acabar com você, ! — Gritou, e tentou vir na minha direção, com o punho cerrado. Para a minha sorte, suas duas amigas lhe seguraram, e e tentaram me proteger também. Coitados de nós, ela acabaria com nós três de uma só vez, se quisesse.
— Senhor , senhoria Struble, parem com essa briga agora! — O diretor chegou bem na hora, com sua voz alta e imponente, e foi só então que todos fizeram silêncio. A única que ainda se debatia era , tentando me alcançar para me bater, e eu covardemente me escondendo atrás dos meus amigos. — ! — Ele a chamou pelo primeiro nome, e ela parou, mas ainda bufava como um touro enraivecido. — Na minha sala. Os dois. Agora! — Falou, firme, e saiu.
Mesmo impacientes, e eu morrendo de medo dela decidir me agredir pelo caminho, fomos juntos até a sala do senhor Munch. O cara era alto, bonitão, aparentava ser muito mais jovem do que realmente era, e além de tudo era gente boa. Mas até ele estava farto das nossas brigas, e de nos levar até a sua sala. Chegamos e sentamos nas cadeiras de frente a mesa dele, como de costume. Aaron estava massageando as têmporas, com aquela expressão de quem estava exausto daquela situação, aquela cena que vinha se repetindo muito nos últimos meses: Struble e sentados de frente a sua mesa, prontos para mais um sermão após mais uma briga.
— Eu não sei mais o que dizer. O que eu preciso fazer para vocês dois pararem com essas brigas? — Depois de advertências, suspensões, chamar os pais na escola, ameaçar tirar as aulas extras… Nada parecia impedir que a gente se bicasse o tempo inteiro.
— Expulsar ele da escola. — disse, e eu revirei os olhos. — O único jeito da gente nunca mais brigar é nunca mais conviver.
— Eu até tento me manter longe, mas ela sempre acha um jeito de me provocar.
— Ah, claro, você é um pobre coitado que só é atacado por mim e só se defende, nunca me ataca, não é?
— Você é a mais babaca daqui.
— Pelo menos eu assumo que sou babaca. E você, seu covarde?
— Pelo amor de Deus! Chega! — Aaron se pronunciou, e nós dois paramos de nos encarar e viramos de frente para ele. Os dois de braços cruzados e cara fechada. — As brigas de vocês afetam todo mundo. Parece que depois que começaram a brigar, a escola se dividiu entre quem defende a , quem defende o . — Era verdade. Poucos que preferiram se abster, a gente acabava contaminando todo mundo com tanto ódio. — Vocês atrapalham as aulas, as atividades, os jogos interclasses… É um clima horrível, e esse é o último ano de vocês.
— Desculpa, senhor Munch. É difícil controlar. — Acabei confessando, sentindo o olhar dela na minha direção, mas mantendo meus olhos no diretor. Ele fez uma pausa, como se pensasse nas palavras. Já tinha dito tantas coisas das outras vezes, sabia que um sermão convencional não iria funcionar.
— Vocês costumavam ser muito amigos. Eu me lembro bem. — Ele começou, me pegando de jeito. E eu sei que pegou ela de jeito também. — Achava até que vocês namoravam, ou pelo menos eram apaixonados um pelo outro. — Nós dois fizemos careta, ao mesmo tempo, mas no fundo, de coração partido ao ouvir aquilo.
— O que a gente foi ou deixou de ser, não interessa. O é um idiota, e eu trato idiotas como tal. — disse. Eu geralmente responderia ao insulto dela, mas depois de ouvir o que Aaron falou, eu simplesmente fiquei mal, e a fala dela me feriu de uma forma que eu detestei.
— Uma trégua, até o final do ano letivo? Vocês tem planos diferentes, nunca mais vão precisar de ver. — Senhor Munch tentou, e eu respirei fundo, me mantendo de braços cruzados, e ficamos longos segundos em silêncio, até se manifestar.
— Eu posso tentar. — Ergueu a mão na minha direção, eu encarei sua mão, e depois encarei ela.
— Não aceito. — Falei, provocativo, e ela fechou a cara de novo.
— Você viu, né, Aaron? Eu tentei. — Falou para o diretor, e se virou para mim. — Mas se você quer guerra, , então guerra você terá até o último dia de aula.
— Calma, , vamos tentar… — Aaron tentou, mas foi interrompido por ela.
— Boa sorte, ! — Ela falou, e levantou da cadeira. Saiu da sala, batendo a porta. Aaron voltou a massagear as têmporas, suspirando fundo.
ATUALIDADE — seis anos depois
Acabei cedendo e voltando para a sala, mesmo sem conseguir lembrar de nenhum momento bom. Nós tivemos, é claro, muitos, mas era como se minha mente tivesse bloqueado todas, pelo meu próprio bem. Porque eu sabia que se eu ficasse pensando nas coisas boas, facilmente iria atrás dela para tentarmos de novo, e eu não queria isso. Fosse por orgulho, amor próprio, rancor… Eu simplesmente não queria nos dar outra chance, e nem queria fazer papel de idiota. Mas depois de ouvir encher o saco sobre como aquela gravadora é uma das melhores dos Estados Unidos, e passamos anos em Los Angeles tentando a sorte, levando não atrás de não, e blá blá blá, eu acabei voltando para a sala, convencido de que eu precisava mesmo superar aquela história para conseguir realizar o nosso sonho.
— Que bom que voltou atrás, ! — Corey, o noivo dela e um dos donos da gravadora, falou, com um sorriso largo no rosto. Eu não disse nada, apenas sentei na única cadeira disponível, que era de frente para ela (mais uma vez o destino apontando para a minha cara, rindo e debochando de mim). Encarei com a cara fechada, puto da vida, e ela com aquele sorrisinho irônico no canto dos lábios. — Eu confesso que não quis ouvir a demo que vocês enviaram. Nós recebemos muitas, e eu deixo para outras pessoas ouvirem e me mostrarem só quem tem algo que realmente valha a pena. Não gostei das primeiras músicas, mas a insistiu tanto que ouvi até o final, e acabei concordando que vocês só precisam de um toque profissional. Um estúdio de verdade.
E foi então que, não só eu, como todos os meninos fomos pegos de surpresa. Então foi quem ouviu nossa demo? E foi ela quem insistiu para sermos chamados? Ok, isso só poderia significar que era um plano maligno dela para nos destruir. Aquela bruxa queria acabar com a gente, só pode. Ela não seria bondosa dessa forma.
— Então, no fim, você curtiu nosso som? — perguntou, e eu ainda mal conseguia processar o que ouvi.
— As letras são muito boas. Sentimentais, originais, algumas são mais… descartáveis, mas podemos conversar sobre o que vai para o álbum principal ou não.
— Álbum principal? — perguntou.
— Vamos guardar algumas para um especial. Um deluxe, algo assim. Se vocês fizerem sucesso, e tiverem muitos fãs, eles vão adorar um álbum com músicas extras. Fã adora essas coisas.
— Esse é o contrato. Podem levar para casa, ler com calma e analisar antes de assinar. Mas precisamos de uma resposta até o fim de semana. — O outro executivo se pronunciou. Era mais velho, com cara séria, parecia experiente e meio sem paciência.
— Mas, enquanto não assinam, a pensou em várias coisas. Foram as sugestões dela que me convenceram a chamar vocês aqui. — Corey falou, e eu me surpreendi de novo, mas me mantive firme, fingindo não estar abalado pelo que ouvi. — Conta para eles, meu bem.
Então começou a falar. Suas ideias de mixagem, algumas mudanças em ritmo, métrica, e essas coisas de música que eram profissionais demais. Citou coisas que nem nós conhecíamos, mas ficamos curiosos em saber o que era. foi longe, falou sobre parcerias musicais que ela achava que poderiam funcionar, pensando num segundo álbum, e dizendo que precisávamos escrever mais músicas. Falou de ideias para clipes, quais músicas encaixam como single. Mencionou até a parte pessoal, e como deveríamos frequentar certos lugares para conhecer gente importante, gente do nosso meio, ficar inteirado dos assuntos e aparecer na mídia.
No meio da falação dela, eu comecei a ceder um pouquinho e ficar empolgado. Ela parecia entusiasmada, era contagiante, especialmente porque ela falava sobre a realização do meu sonho concretizando. Não importava o quanto eu a detestava, era inevitável ficar inebriado pelo assunto, pela forma como ela falava. A voz tão característica dela, o sorriso tão sincero, os cabelos que mudaram do roxo para seu tom natural, aqueles olhos tão bonitos, já mencionou o sorriso? Opa! Não, não, não… Não é momento para isso. Na verdade, não existe momento bom para isso. Eu não podia voltar a vê-la dessa forma. Olhe bem para ela, , é a mesma garota que partiu o seu coração há seis anos! Não, , não olhe para o sorriso dela, não tenha boas lembranças, não pense nela. Desvie o olhar, vamos! Desvie o olhar dela, pense em outra coisa, pegue o celular e flerte com alguém pelo Instagram.
Tarde demais, minha mente agora estava recheada dos momentos bons que tivemos juntos.
FLASHBACK — seis anos atrás
Voltando no tempo, antes das brigas começarem, mais precisamente alguns dias depois do primeiro dia de aula, quando ela elogiou a minha camisa do Kurt Cobain. Nos outros dias, eu usei camisas de banda pelo resto da semana, esperando que ela notasse e falasse alguma coisa, mas não rolou. Eu me senti um idiota, havia me tornado o tipo de pessoa que critiquei desde que voltei para Sydney: aqueles que ficavam esperando qualquer migalha de atenção dela. O lado bom era que eu me humilhava só na minha mente, eu continuava agindo como se nem lembrasse que ela existia, então não sabia o quão idiotamente eu desejava a atenção dela. Até mesmo e ficavam babando nela, era mais contido, pois ele tinha Ashleigh. Na verdade, acho que o só queria ser amigo dela, porque a achava descolada. Como eu disse antes, aquela síndrome de nerd excluído que quer que os populares gostem dele. Não critico, pois sofria da mesma síndrome, apenas disfarçava muito melhor.
No final do dia, depois de todas as aulas, eu me esgueirei até a sala de música e fiquei lá, no escuro, escondido e sozinho, com a guitarra na mão, esperando que todos fossem embora para começar a tocar. O clima lá em casa não estava muito bom, então eu queria ficar um pouco sozinho, em paz, só eu e o barulho da guitarra. Comecei dedilhando um pouco, um ritmo que estava na minha mente e eu só precisava de uma letra, mas veria isso com calma depois. Eu precisava de inspiração, mas não tinha nenhuma. Uma pena, porque o ritmo era bom, contagiante, eu já imaginava uma plateia pulando e cantando junto comigo, mas que tipo de músico não imagina isso, não é?
Então, ouvi o barulho da porta. O lugar estava escuro, eu estava sentado no chão, com as costas apoiadas na parede, e ninguém me veria. Segurei a guitarra para o som parar, e só consegui ouvir uma voz feminina cantando Livin’ On a Prayer. Levou algum tempo, até que a pouca luz da Luz entrasse pela janela e iluminasse o rosto lindo da pessoa que cantava. Struble. Além de linda e marrenta, ela tinha bom gosto musical, e uma voz afinadíssima. Eu não resisti a tocar os acordes de Livin’ On a Prayer, no trecho em que ela estava. estava de fones de ouvido, mas os retirou e encarou ao redor, procurando de onde vinha o som. Ela sorriu quando me viu, e voltou a cantar, caminhando na minha direção.
— Woah, we’re halfway there. Woah!! Livin’ on a prayer. Take my hand, we’ll make it, I swear… Woah! Livin’ on a prayer… — Nós cantamos juntos, então fiz um solinho de guitarra, e ela sorria. Parou de frente a mim, sentando numa cadeira.
— Você toca direitinho, .
— Não sabia que você sabia meu nome, Struble.
— Seus amigos me contaram. Disseram que vocês têm uma banda. — Eu sabia que eles andavam conversando, porque , e não paravam de falar sobre isso nos ensaios.
— Não temos nem nome ainda.
— Todo mundo começa de algum lugar.
— Eu não sabia que gostava de música. Boa música, no caso. — Sabia sim. Tanto porque os meninos falaram, tanto porque ela reconheceu o Cobain na minha camisa, mas eu queria fingir que nem lembrava disso.
— Como não? Eu reconheci o Cobain na sua camisa. Até elogiei.
— Ah, é verdade… — Como eu era cínico. Ela sorriu, e eu sorri de volta. Graças a Deus estava escuro, porque eu podia jurar que minhas bochechas avermelharam, eu senti queimar. — Eu quase desisti da banda, sabia? — Tentei puxar assunto, e ela ergueu as sobrancelhas, curiosa e interessada na minha história, então continuei. — Voltei para a Austrália na semana passada. Morei no Brasil por um ano e pouco, tentando ser jogador de futebol.
— E o que te fez voltar?
— Eu gosto de jogar, mas não me via fazendo isso pelo resto da vida. Sei que eu tinha mais chance de ser milionário se fosse jogador, mas não era meu foco.
— Você tem mais cara de músico.
— Você também. Tem toda a marra de uma artista rebelde, roqueira. Uma versão australiana da Avril Lavigne. — Brinquei, e nós dois rimos.
— Exceto pelo fato de que eu não nasci para ficar na frente das câmeras. Gosto de cantar, mas eu quero mesmo é produzir.
— Jura? Com essa voz? E essa aparência? — Falei, sem perceber, e ela franziu o cenho.
— O que tem de errado com a minha aparência? — perguntou, e eu engoli a saliva, nervoso.
— N-não! Nenhum problema, é que… — Quase gaguejei. — É que você é gata! Estilosa, tem uma voz linda… Parece artista.
sorriu. Um diferente dos que eu já tinha visto, e olha que eu andava observando ela muito mais do que eu iria admitir.
— Eu gostei de ouvir isso.
— É claro que gostou! Dizem isso o tempo inteiro, eu imagino, e pela sua reação eu sei que você adora essa atenção toda. — De novo, soltei sem perceber, e ela ergueu uma das sobrancelhas.
— Ah, então você andou me observando? Parece que eu estava enganada, então. — fez uma pose pensativa, como se analisasse algo, e agora foi a minha vez de franzir o cenho, confuso. Ela percebeu, e deu uma risadinha, antes de explicar. — Bom, é verdade que eu adorei a atenção quando cheguei. Eu sempre fui de cidade grande, nunca fui novidade onde eu cheguei, era só mais uma na multidão. — Ela começou, e eu passei a conhecer um lado dela que não conhecia. Eu sequer havia pensado nisso: só recebeu toda essa atenção por ser diferente, mas isso aqui, na minha cidadezinha de dez mil moradores. Na cidade grande, ela não tinha essa fama de “eu sou diferente das outras”. — Mas depois ficou cansativo, especialmente porque eu queria atenção de um certo garoto, que usou uma blusa do Cobain, e nem depois de elogiar a camisa dele, ele me deu bola. — Ela fez um biquinho, de lamento, e eu fiquei simplesmente sem reação.
Quase gaguejei de novo, a boca abriu e fechou algumas vezes, sem conseguir emitir nenhum som. Eu repassei os últimos dias na minha mente, o primeiro dia de aula na semana passada, os dias mais recentes, as vezes em que meus amigos iam falar com ela, me chamavam e eu querendo me fazer de difícil, não ia e não falava com ela. Então, também estava esperando uma atitude minha?
— Que foi? — Ela se pronunciou, com o corpo jogado de maneira despojada na cadeira. — Não está acostumado com as meninas daqui sendo diretas sobre o que elas querem?
— Na verdade, não estou acostumado com meninas, no geral, chegando em mim. — Confessei, e ela riu.
— É bom começar a se acostumar. Depois que virar músico, vão vir várias, e vão ser muito mais diretas do que eu.
— Eu não fazia ideia de que você estava esperando que eu fosse falar com você.
Ela não respondeu, apenas sorriu. Ficamos nos encarando por uns segundos, como se quiséssemos dizer algo, mas nada saía de nossas bocas. Mas, por mais estranho que pudesse ser, aquele silêncio não era constrangedor. Era confortável, e eu poderia ficar horas ali, encarando os olhos dela, e como a luz da Lua refletida na janela iluminava seu rosto de uma forma que a deixava ainda mais linda. O foco estava em seus olhos, mas eu conseguia ver seus lábios rosados, mesmo no escuro, curvados em um sorrisinho no canto dos lábios. era a garota mais linda que eu já tinha visto na vida, e eu queria dizer isso, mas não queria que ela pensasse que eu era só mais um admiradores que corriam atrás dela. Eu não queria ser só mais um, para ela.
— Me ensina uns acordes? — Ela pediu, me tirando do meu pequeno transe, onde eu fiquei hipnotizado, admirando cada pedacinho do rosto lindo dela.
Mais tarde, eu descobri que ela já sabia tocar guitarra, e só estava buscando um motivo para ficar mais perto de mim. Eu só balancei a cabeça, e ela já se levantou da cadeira e veio para o meu lado. Coloquei a guitarra na direção dela, o corpo do instrumento no meu colo, e o braço da guitarra na mão dela. Tentei ensinar um acorde básico, para iniciar, e ela demonstrou dificuldade. A safada planejou tudo e eu não tinha percebido ainda. Passei meu braço por trás de , segurando em sua mão para posicionar no lugar correto. Pressionou os meus dedos sobre os dela, e com a outra mão, passei pelas cordas, fazendo um som do início de Livin’ On a Prayer. Ela sorriu, e eu só soube disso porque tirei os olhos da guitarra e virei o rosto para ver o dela. No mesmo segundo, ela virou o rosto na direção do meu, e nossos narizes tocaram. De novo estávamos naquele silêncio, dessa vez não era tão confortável. Havia tensão, desejo, e da minha parte, muito nervosismo.
— Eu disse que um dia teriam várias meninas atrás de você quando fosse um músico famoso, não é? — Ela começou, e eu, incapaz de soltar uma palavra sequer, apenas concordei com a cabeça, sem mexer muito para não sair da posição em que estávamos, os narizes tocando suavemente. — Sabe o que eu gostaria? — De novo, não consegui dizer nada. Meus olhos totalmente presos aos dela, como num feitiço. Ela já era uma bruxa desde essa época. Neguei com a cabeça, em resposta a ela. — Eu gostaria de poder dizer que eu beijei esse músico quando ele ainda nem tinha um nome para a banda dele. Quando ele ficava até tarde na sala de música, ensaiando sozinho. — Acabei rindo, e ela riu junto. Senti cada pelo da minha nuca arrepiar com aquela risada.
Eu finalmente tomei alguma atitude. Tirei a guitarra do colo dela, e gentilmente apoiei o instrumento ao nosso lado. Sentia as minhas mãos suarem quando voltei na direção dela, determinado a agarrá-la e beijá-la ali mesmo. Mas parei, de novo. revirou os olhos, divertida. Logo entendeu o que se passava, e foi ela quem me agarrou pela nuca e selou nossos lábios. Não demorou para eu sentir todos aqueles clichês que descrevem em filmes de romance: as borboletas no estômago, a sensação do mundo em volta desaparecendo, eu podia jurar que ouvi fogos de artifício no fundo. Era só a minha mente comemorando que eu havia finalmente beijado Struble. Quer dizer, ela havia me beijado, o que era melhor ainda. Eu não só descobri que ela queria ser notada por mim, tanto quanto eu queria ser notado por ela, como também descobri que ela não queria minha atenção só como amigo.
passou uma das pernas por cima das minhas, me puxando para mais perto, intensificando o beijo. Eu logo deixei qualquer timidez de lado, e retribuí com a mesma intensidade. Segurei em sua nuca, e ao mesmo tempo em que fazia um carinho delicado em sua bochecha com meu polegar, a mão que a segurava na cintura não era nada gentil. Quase suspirei, frustrado, quando ela afastou o beijo. Mantivemos os rostos próximos, eu conseguia sentir sua respiração contra a minha, nossos lábios se tocando suavemente, enquanto ela falava.
— Quer ir lá para casa? Minha mãe deve estar na igreja, Aaron deve ter ido com ela, e eu não tenho irmãos, então… — Ela deu um sorrisinho cheio de segundas intenções, mordendo o próprio lábio inferior. Acabei sorrindo junto, na mesma intenção.
— É claro! — Respondi, sem tentar esconder o quão caidinho eu já estava por ela. Passei mais de uma semana me fazendo de difícil, e só perdi tempo. Não perderia mais um minuto.
Então saímos com cuidado para não sermos pegos, e a segui em direção à sua casa. Fomos caminhando e, por sorte, não era longe dali. Conversamos um pouco pelo caminho, falamos sobre bandas que gostávamos em comum, cantamos algumas músicas, e ela me contou sobre ter aprendido a gostar de rock com o pai. Ele era guitarrista de uma banda de garagem com uns amigos, mas a música era um hobby para eles.
Quando chegamos a sua casa, eu quis agarrá-la assim que fechou a porta, mas fiquei envergonhado, mesmo sabendo que não tinha ninguém em casa. Vai que fôssemos pegos de surpresa, e seria constrangedor se meu diretor me visse agarrando a sua enteada, sem nenhum pudor. Ela segurou minha mão e me levou até o seu quarto, que era bem diferente do que eu imaginava. Todo cor-de-rosa, bem de garotinha, mas com uns pôsteres de banda pela parede. Na cabeceira da cama tinha um terço, e vários porta-retratos. Ela pegou um deles e se virou para mim.
— Essa é a minha mãe, Judy. — Mostrou a foto de uma mulher bonita, parecia pouco com ela, mas estava de coque, toda coberta, bem diferente da garotinha na foto. O sorrisão com um dentinho faltando, uma única mecha roxa no cabelo e os óculos escuros.
— Essa é você, é claro! — Ela riu, confirmando com a cabeça. Pegou outro porta-retrato.
— Esse é meu pai, John Struble. — O homem parecia uma mistura de John Stamos, com Elvis Presley, e um pouco de Jon Bon Jovi. Tinha pinta de artista mesmo, e ela podia parecer fisicamente com a mãe, mas o estilo e a atitude era toda do pai, e eu só os conhecia por fotos. — Meu pai faleceu há quatro anos, eu tinha treze. Mas eles nunca foram casados, se esforçavam para se dar bem, mas viviam brigando. Foi uma luta para minha mãe deixar eu pintar essa mechinha de roxo.
— Imagino que ela surtou quando pintou o cabelo todo. — Brinquei, e ela riu junto e concordou com a cabeça.
— Minha mãe é muito religiosa, mente fechada, odeia qualquer música que não seja gospel. Jamais me apoiou quando eu falei que o meu sonho era ir para Los Angeles e ser produtora musical.
— A minha família também não é muito fã do meu plano de ir para L.A. com os caras.
— Se eu virasse cantora gospel, minha mãe me apoiaria. — Ela colocou os dois porta-retratos na mesinha de cabeceira, e pegou um outro, onde tinha uma versão pequenininha dela, com o microfone em mãos, e o local ao fundo parecia uma igreja.
— Não acredito que você cantava na igreja! — Eu ri, olhando para a fofura na foto.
— Foi a condição da minha mãe para ela deixar eu cantar na banda do meu pai de vez em quando. Isso quando raramente ele tocava em matinê, porque geralmente era muito tarde para eu participar
Eu continuei vendo as outras fotos, uma versão dela com uma mecha roxa, as poses de roqueira, mas a roupinha cor-de-rosa, saia ou vestido florido. Claramente ela era vestida pela mãe, mas já tinha uma pequena rebelde ali querendo sair. Ríamos juntos enquanto ela me contava as histórias e eu falava um pouco de mim. Ela descobriu que eu tenho uma irmã mais velha, que é a única que apoia o meu sonho de cantar, embora ela esteja na faculdade para ser uma mulher de negócios. Que a minha mãe é professora de jardim de infância, e meu pai trabalhava em uma fábrica de refrigerante, na cidade ao lado. Eu descobri que o pai a ensinou a tocar guitarra e bateria, e um amigo dele ensinou sobre produção musical, e foi quando ela descobriu o que queria fazer pelo resto da vida. Que a sua mãe odiava as músicas que ela ouvia, as roupas que usava, o cabelo tingido de colorido. me contou que os pais cresceram juntos, na igreja, eram melhores amigos e se apaixonaram na adolescência, quando ela engravidou aos dezessete. O pai dela sempre gostou de ouvir rock, e quando largou a religião, os dois começaram a brigar. Especialmente quando se tratava de decidir a forma como criar . Contou também que Aaron não é tão religioso ou mente fechada como Judy, mas ele frequenta a missa com a nova esposa e os dois se dão muito bem. Descobri que o diretor Munch tinha um filho de vinte e poucos, que estudava fora.
— Agora chega de falar da minha família. Eu não trouxe você aqui para isso. — falou, com aquele sorrisinho safado, e eu retribuí. Passamos mais tempo conversando do que eu imaginava, mas isso era, definitivamente, um ponto positivo. Só provou que, logo na primeira conversa, nós falamos mais do que todas as vezes que ela papeou com , e .
— Ah, não? — Me fiz se inocente, caminhando até ela. — Quais suas intenções comigo, senhorita Struble?
— As melhores possíveis. Deixa eu te mostrar. — Falou, logo me agarrando pela nuca e me puxando para um beijo. Segurei em sua cintura, e senti ela me puxar para a cama. Segui, sem relutar, deitando por cima dela.
ATUALIDADE — seis anos depois
Minhas lembranças foram interrompidas pelas vozes me chamando. Sabe-se lá há quanto tempo eles tentavam ter a minha atenção, mas eu finalmente despertei do meu transe. Logo quando eu estava começando a lembrar dos bons momentos… Sacudi a cabeça, como quem tenta voltar à realidade, a dura realidade em que eu não tinha mais em meus braços. Mas ela não demorou muito a me lembrar do motivo pelo qual isso aconteceu, e o motivo pelo qual eu passei a detestá-la. Dessa vez, de verdade, não como quando nos conhecemos que eu agi como se a odiasse, mas era só porque ela parecia não me dar bola.
— De novo o fazendo de tudo para não prestar atenção em mim. Continua o mesmo babaca e infantil de sempre.
— O sujo falando do mal lavado… Que ironia!
respondeu, e eu falei junto com ela. Nós dois começamos a falar juntos, sem ouvir o outro, apenas querendo gritar um na cara do outro, assim como na época de escola. Eu podia ver pelo canto dos olhos, meus três amigos impacientes com a situação, e claramente nervoso e com medo do que isso poderia dar.
— Ei, ei, ei, vocês dois! — Corey se intrometeu, e nós ficamos quietos. — Peço desculpas pela minha noiva, ela pode ser um tanto ácida nos comentários.
— Ela é impulsiva, briguenta, isso sim! — Eu retruquei.
— Nós sabemos bem que ela pode ser tudo isso. — falou, com um tom de brincadeira, tentando deixar o clima mais leve, com um sorriso. acabou cedendo, e sorriu de volta, não sem antes mostrar a língua para ele, como uma criancinha. Eu não deveria achar aquilo adorável.
— Mas, então, o que acharam das ideias? — perguntou, ansiosa. Eu sequer havia escutado, mas depois de ver meus amigos concordaram que era tudo incrível, eu dei com os ombros, me dando por vencido.
— A gente vai ler o contrato com calma. — Retruquei, de novo. Um pouco por implicância, e um pouco porque eu não era idiota de assinar um contrato sem ler antes.
— Tudo bem. Só não demorem muito. Assim que assinarem, a gente marca o dia para começar as gravações. — Struble respondeu, tão animada quanto os rapazes. Então levantamos, nos cumprimentamos, menos eu e , e saímos pela porta.
Eu queria ficar tão entusiasmado como eles, mas era difícil com aquele misto de sentimentos. Ela, por outro lado, parecia muito bem. Eu a conhecia, e sabia que ela não era boa como eu em disfarçar os sentimentos, o que significava que ela estava realmente bem. Provavelmente já havia me superado, e isso me magoava. Não porque eu queria que ela sofresse, mas porque queria que ela sentisse algo por mim.
Fomos para o apartamento pequeno que morávamos nós quatro, lemos o contrato e assinamos no mesmo dia.
Marcamos para começar as gravações dois dias depois. Tivemos tempo de comemorar, fomos a um bar, enchemos a cara como uma despedida, já que precisaríamos ficar sóbrios e profissionais durante um bom tempo. Eu não parava de pensar na bruxa da , e maldito era o que me fez forçar a mente para lembrar de bons momentos com ela, proque agora era tudo o que eu pensava. Naquela noite, eu dormi fora, na casa de uma garota que conheci no bar. Saí de fininho logo cedo, deixei um recado por mensagem - porque eu sou babaca, mas não tanto - e fui comprar um café para ir direto para a gravadora. Estava perto do horário combinado, não faria mal chegar um pouco mais cedo e impressionar.
Imaginei que os rapazes estavam tão ansiosos quanto eu e que já estariam lá, mas quando cumprimentei a secretária, ela disse que ninguém estava lá ainda. Indicou onde era o estúdio que iríamos gravar, e disse que eu poderia esperar lá. Fui, e assim que abri a porta, entendi que quando ela disse que ninguém estava lá, ela quis dizer ninguém da minha banda, não que o lugar estava vazio. E, para o meu grande azar, a única pessoa que estava lá era ela: a bruxa Struble. Esse era o momento em que eu poderia, e deveria, aproveitar a oportunidade de ficar calado.
— Chegou antes do horário… Que milagre! — Não, eu não aproveitei a oportunidade de me calar. No mesmo segundo, torci para que os fones de ouvido que ela usava estivessem funcionando e ela não me ouvisse, mas ela se virou com um sorriso e me respondeu.
— Nas aulas de Literatura eu chegava cedo, lembra? Quando me interessa, eu chego no horário. — Eu esperei uma alfinetada, um palavrão, mas não foi o que recebi. Ao invés disso, a fala dela trouxe uma enxurrada de lembranças, das vezes que ela revirava os olhos para sermões dos professores quando ela se atrasava, mas como era bem-recebida pela senhora Walters, a professora de Literatura, que não escondia que ela era sua favorita.
Não respondi, apenas forcei um sorriso, desviando o olhar. Sentei-me no sofá, e notei que ela voltou a atenção para aquela enorme mesa, cheia de botões, que ela mexia com maestria e concentração. Mais uma vez eu decidi não aproveitar a oportunidade de ficar quieto, mas não queria provocá-la, só fiquei curioso sobre o que ela fazia.
— Isso aí é da nossa banda?
— Não, é de um outro artista. Mas estou fazendo aquelas alterações e mixagens que falei que vou fazer nas músicas de vocês.
me explicou, sem tirar os olhos dos botões que mexia, sobre a importância de um estúdio profissional, e de como pequenas alterações fazem diferença. Ela retirou os fones e colocou o som alto, para que eu ouvisse também, me mostrando o antes e o depois da edição que ela havia feito. Cometi o erro de fazer uma pergunta, mas havia sido por pura ingenuidade. Estava apenas curioso. Antes tivesse ficado calado…
— Você não prestou mesmo atenção no que eu falei ontem, não é? — virou para mim, com a cara brava, e eu fiquei confuso com sua surpresa e chateação.
— Eu falei ontem que dei uma viajada. — Admiti, novamente, com o cenho franzido.
— Aposto que se fosse qualquer pessoa ali falando você daria atenção.
— Você acha que eu não ouvi só porque era você?
— Tenho certeza que sim. — Ela se levantou e cruzou os braços, me encarando.
— Pois está completamente errada. Por que você tem que pensar que tudo gira ao seu redor? — Pronto! A discussão entre nós estava instaurada, e eu só torcia para que chegasse logo alguém e nos interrompesse. Não queria estragar o meu dia, precisava estar bem para a gravação.
— Não é esse o problema. O que me irrita é que você me detesta tanto que não consegue deixar de lado nem para realizar o seu sonho.
— Mas eu… — Tentei falar, e ela me interrompeu.
— Antes eu tivesse ignorado aquela maldita demo. Eu vi o nome da banda de vocês, sei que são bons e pensei em ajudar.
— Eu agradeço por isso, só que… — Tentei amenizar, mas ela parecia empenhada em me irritar. Engoli a chateação para agradecer, e fui interrompido de novo, me deixando com mais raiva.
— Agradece nada! Você estava me ignorando mesmo eu falando algo que era do seu interesse. — elevou o tom de voz.
— É só porque… — Interrompido… De novo.
— Se fosse o Corey falando você escutaria? Ou qualquer outro homem? — Ela ainda gritava, dando um passo na minha direção.
— Agora você vai me acusar de machista? — Gritei de volta, e não recuei, dei outro passo na sua direção. E ela deu mais um. A cada ofensa trocada, mais um passo.
— E não é?
— Você é ridícula!
— Você que é um babaca!
— Sua bruxa!
— Nossa, que ofensa! Ainda está na quinta série, ?
— Você é insuportável!
— Eu sou insuportável? Você nem consegue ignorar uma briga antiga pelo seu sonho.
— Você nem sabe do que está falando.
— E no que você estava pensando, então, que era mais importante do que o seu sonho?
— EM VOCÊ! — Gritei, sem pensar.
e eu estávamos ofegantes, não sabia se era pela raiva ou de tanto gritar um com o outro. Ficamos em silêncio, nos encarando. Eu notei a expressão dela mudar aos poucos. A cara fechada e irritada suavizou vagarosamente, dando espaço para uma expressão que foi difícil decifrar. Parecia confusa, nostálgica, triste, surpresa… Abriu a boca como se quisesse dizer algo, mas não disse.
— Eu estava lembrando de nós dois. — Completei, sussurrando, já que estávamos muito perto. continuou sem dizer nada. Continuamos nos encarando, sem desviar o olhar. Aquela sensação boa de nostalgia, sensação de estar em seu lar. Era como eu me sentia quando olhava para ela, quando tinha em meus braços.
— Você… — Ela finalmente disse, mas ouvimos a porta abrir e risadas ao fundo. Nos afastamos bruscamente. Eu a olhei e a vi enxugar o rosto. Pensei que, talvez, tivesse escorrido uma lágrima, e senti o coração apertar.
— Prontos? Espero que sim! O dia vai ser longo! — Corey disse, animado. Todos os outros estavam, exceto nós dois. A nossa pequena discussão, e talvez a minha confissão, haviam acabado com o bom humor de . Eu me senti mal por isso, mas não sabia o que fazer ou dizer, então apenas fiz o que deveria ter feito desde o início: aproveitei a oportunidade de ficar calado.
XXX
O dia inteiro foi focado na gravação das músicas. Fizemos uma pausa na hora do almoço, e foi o único momento em que fiquei longe dela. Durante todo o tempo, eu acabava olhando para ela, e vez ou outra, ela me pegava com os olhos sobre ela. Algumas vezes, fui eu quem peguei ela me olhando. Nossos olhares se cruzaram mais vezes do que posso contar, e em todas elas, eu tive aquele misto de sensações, boas e ruins. Ao mesmo tempo em que ainda era difícil decifrar o dela, eu entendia que talvez estivesse tão confusa quanto eu, e eu não sabia até que ponto aquilo era algo positivo. Em uma das minhas espiadinhas para ver o que fazia, eu acabei vendo um beijo entre ela e Corey. Senti raiva, ciúmes, angústia, e me odiei por cada um daqueles sentimentos.
Aquilo tudo dava bastante trabalho, gravamos mais de uma vez, ensaiamos um tanto, e eu pensei se demorava para todos os artistas, ou era porque éramos inexperientes, mas não quis perguntar. , por outro lado, acabou perguntando, e Corey garantiu que, mesmo uma banda formada por músicos profissionais e que sabem exatamente o que fazer dentro de um estúdio, o processo de produção de álbum pode levar entre 60 e 100 horas em um estúdio. De qualquer forma, eu estava adorando a sensação de me sentir cada vez mais perto do meu sonho realizado.
Perto do fim da tarde, enquanto fazíamos os últimos ajustes para gravar mais uma música, teve a brilhante ideia de fazer uma piadinha.
— Aí, , o que você acha da gente gravar End Up Here? — Ele riu, eu fechei os olhos e abaixei a cabeça, mas antes pude ver rir junto, e o encarar, repreensivo. deveria aprender comigo a aproveitar a oportunidade de se calar.
— Acho que a música não tem mais a ver com a vibe das atuais. — respondeu, e eu ergui a cabeça para fitá-la, que não parecia tão abalada.
— Era para ser engraçado ou você quis provocar? — Perguntei, baixinho, olhando para .
— Ué, não vão começar a brigar? — não me respondeu, apenas falou alto, para que ela também ouvisse, e chamou mesmo a sua atenção. — Que evolução! — O idiota caiu na risada. revirou os olhos, e saiu da sala.
— Seu idiota! — Reclamei. Minha vontade era jogar algo nele, mas eu apenas repreendi. Ok, eu também dei um soquinho no ombro dele, mas foi leve. jurou que não fez por mal, e eu até acreditava nele. O coitado era bem sem noção às vezes. Acontece que ele achou que nós dois estávamos bem, tínhamos superado e poderíamos fazer piada sobre isso, afinal, foi ela quem nos indicou para o Corey. A linha de raciocínio dele fazia sentido, e qualquer pessoa normal teria deixado para trás essa história, mas nós nunca tivemos oportunidade de conversar e resolver nossa história. Além do mais, eu tinha gostado dela demais para “deixar para lá” o que aconteceu.
FLASHBACK — seis anos atrás
“Next day out / Everybody thought you were so insane / ‘Cause you were so far out of my league / My friends say I should lock you down / Before you figure me out and you run away / But you don't, and you won't as you kiss me / And you tell me that you're here to stay”
e eu transamos naquela noite, a primeira vez em que fui a sua casa. Nenhum de nós era virgem, mas ela definitivamente tinha mais experiência do que eu. Isso não pareceu atrapalhar muito, já que nós descobrimos a nossa própria sintonia desde o momento em que deitamos juntos em sua cama. O jeito em que ela me beijava, como não precisava dizer nada para me fazer ficar confortável ao seu lado, como reagia aos meus toques.
Já se passava um mês desde esse dia, e nós estávamos… tendo alguma coisa. Ficando, talvez? Depois desse dia em sua casa, se tornou rotina ir até lá quando sua mãe estava na igreja. Ficávamos juntos durante o tempo em que ela estava fora, eu entrava pela porta da frente e fugia pela janela quando ouvíamos o barulho dela chegando no andar anterior. Houve vezes em que me escondi no guarda-roupas ou debaixo da cama, e depois que Judy descia, dormíamos juntos. Eu precisava sair pela janela no dia seguinte, bem cedo, então ela vinha logo depois e nos encontrávamos pelo caminho para irmos juntos para a escola.
Chegamos de mãos dadas, como de costume, cumprimentamos o pessoal que andava com a gente - basicamente , , e Ashleigh - e ficamos conversando no corredor nos últimos minutos antes do sinal tocar. E aquele era o único motivo pelo qual estava lá no horário certo. Porém, dessa vez, aconteceu uma coisa diferente, que me deixou um tanto incomodado. O diretor Munch se aproximava, e ela soltou a minha mão bruscamente, afastando-se um pouco e encostando na parede. Quer dizer, eu sabia que o nosso relacionamento, ou seja lá o que a gente tivesse, era um segredo para sua mãe, e provavelmente para o Aaron, mas precisava soltar minha mão daquela forma? O padrasto acenou com a cabeça para nós, que cumprimentamos, e ele saiu de perto. suspirou, aliviada, e se aproximou de mim com um sorriso.
— Te vejo no intervalo? — Ela perguntou, eu apenas concordei com a cabeça, forçando um sorrisinho. Ela não pareceu notar meu incômodo, e me deu um selinho, antes de ir.
Fui para outra sala com os meninos. Sentamos na frente, como bons nerds que, no fundo, éramos, e isso dificultou a nossa conversa. Eu precisava falar, e avisei a eles através de um bilhete. Um a um, pedimos para ir ao banheiro, dissemos à professora que estávamos nos sentindo mal, e acho que ela não caiu muito no nosso papo, mas também não nos proibiu. Fui o último a sair, e encontrei os três no corredor, tentando se esconder entre as pilastras. Ri com a cena, antes de me aproximar, perante seus olhares curiosos.
— Desembucha. — começou, impaciente.
— Vocês repararam que a soltou minha mão quando o diretor passou?
— Não. — respondeu, curto e grosso.
— Mas o namoro de vocês não é, tipo, escondido? — perguntou, confuso.
— nem sabe se o que eles têm é namoro mesmo. — provocou, com uma risadinha.
— Está bem, não interessa se é namoro sério ou não, é só que… — Fui interrompido.
— Você deveria mesmo estar preocupado. é louca! — provocou, de novo. Eu franzi o cenho, mas os rapazes pareceram entender a piadinha.
— é o tipo de garota que deveria ser inalcançável para caras como nós. Totalmente fora de alcance. — completou.
— Verdade. é 10/10 e você, , é um 6/10 e isso porque somos seus amigos. — entrou na onda. Eu revirei os olhos, cruzando os braços.
— Ela é toda confiante, cheia de si, e você, meu amigo, apesar dessa pose de durão, é inseguro. — voltou a atacar. Os três começaram a rir, e continuou.
— Sabe o que você deveria fazer? Sequestrar ela e deixar presa no seu quarto.
— Por quê? — perguntou, subitamente confuso com a brincadeira. Eu deveria imaginar que ele não entenderia por muito tempo.
— Idiota… — falou, revirando os olhos.
— Porque, mais cedo ou mais tarde, vai perceber que ele é um mané, um perdedor, e vai fugir dele. — explicou. era, provavelmente, a única pessoa com quem ainda era um pouco paciente.
— Ela não vai fazer isso. me conhece bem, sabe como eu sou. — Falei, encostando na parede atrás de mim.
— Ah, ela te conhece? Tipo, de verdade? — ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços.
— Claro! A gente conversa sobre tudo. E eu sei que ela gosta de mim, não só porque ela não fugiu quando percebeu que minha marra de durão era uma fraude, mas porque… — Suspirei, e sorri feito idiota pensando nela. — O jeito que ela me beija, como ela age quando está comigo.
— Então por que ela esconde o namoro de vocês? — , de novo, instigando. parecia ser o único, além de mim, a não entender as intenções dele.
— Escondemos só da mãe e do padrasto, porque ela é super religiosa e não ia aceitar a filha namorando alguém fora da igreja.
— Hum… Para mim, isso parece desculpa. — se pronunciou, dessa vez.
— Não, ela já cansou de falar o quanto gosta de ficar comigo. Vocês conhecem a , ela não fala as coisas para agradar os outros, ela só fala o que pensa, o que sente.
e se olharam, cúmplices, e e eu continuávamos confusos. Os dois riram de nós, mas foi quem explicou.
— Então, se você sabe de tudo isso, por que a insegurança?
Eu não respondi. Abri a boca, e assim fiquei por uns segundos, como se processasse tudo o que eu mesmo acabei de dizer. Pura bobeira e insegurança minha. Eu sabia do motivo para ela esconder o namoro da mãe, queria evitar problemas, e ambos sabíamos que o diretor certamente contaria à esposa. Um homem não esconderia algo assim de sua mulher, especialmente porque ele não era o pai, era padrasto. Suspirei fundo, e ri de mim mesmo. , então, pareceu entender o que se passou ali.
— Vocês são geniais! — Ele disse, e nós três rimos do nosso caçula.
— Agora vamos para a sala, antes que a professora coma o nosso fígado. — falou.
— Não, ela é muito gentil para isso. — defendeu.
— Ela tem cara de quem come fígado de alunos mentirosos. E nós mentimos para ela, olha aí o perigo. — respondeu.
Estávamos rindo da palhaçada deles, chegando na porta da sala, e de repente, me veio um flash na cabeça. A melodia que eu tocava no dia em que me aproximei de , na sala de música, minutos antes do nosso primeiro beijo. Aquela que não saía da minha cabeça há dias. Uma letra começou a vir na minha mente, e encaixava perfeitamente no ritmo. Sorri, animado, os meninos perguntaram.
— Explico depois. — Foi o que falei, antes de entrar na sala e ser seguido por eles.
Minha primeira música poderia surgir, e graças a ela, a minha inspiração.
Eu estava perdidamente apaixonado por aquela garota.
XXX
Mais tarde, no intervalo, nos encontramos como combinado. apareceu por trás de mim, me enchendo de beijos na nuca e no pescoço, e me deixando todo arrepiado. Apesar da conversa com os rapazes ter clareado as minhas ideias, eu ainda estava um pouco incomodado com o nosso relacionamento. Além da incerteza do que tínhamos, eu não queria ter que ficar me escondendo, e fugindo pela janela. A gente nem podia postar fotos juntos. Eu estava sentado na mesa, com os pés apoiados no banco. As pernas estavam um pouco abertas, e estava entre elas, de costas para mim. Estávamos de mãos dadas, e trocamos carícias sutis, quando eu decidi perguntar.
— … O que rola entre a gente? — Aproveitei que estava entretido com Ashleigh, buscando alguma garota para flertar, e ignorava todos a sua volta quando estava com o celular na mão.
— Como assim? Você quer dizer que tipo de relação a gente tem? — Ela se virou, ficando de frente para mim.
— É… tipo isso.
— Uma relação séria e fechada. Você está querendo ficar com outras, ? — Ela perguntou, ciumenta, de braços cruzados e cara fechada, e eu sorri.
— É claro que não!
— Então por que essa pergunta idiota? — me deu um soco no ombro.
— Queria saber se sou seu namorado. — Ela revirou os olhos e me abraçou pelo pescoço.
— É claro que você é meu namorado, seu idiota.
— Então, quando eu vou poder parar de fugir pela janela e você vai me apresentar para sua mãe? Você meio que já conheceu a família .
Ok, não foi uma apresentação formal, mas eu já havia falado tanto sobre lá em casa, que parecia que meus pais e minha irmã sabiam bem quem ela era. Até o dia em que nos encontramos no supermercado, por acidente. Minha família comprava coisas para um churrasco que faríamos no aniversário da minha mãe, e estava tentando comprar bebidas ilegalmente. Minha mãe, que era o total oposto da mãe dela, elogiou os cabelos roxos de , que adorou os piercings da minha mãe. Sim, a minha mãe de cabelos curtos, piercing no nariz e na orelha, além das tatuagens. No fim, ela ainda comprou a bebida para , e a chamou para o churrasco, que ainda não tinha acontecido. Minha irmã não estava lá, e meu pai, homem de poucas palavras, apenas disse que estava feliz em conhecê-la, e me fez a vergonha de dizer que eu não parava de falar nela.
e eu rimos, lembrando desse dia. Ela ainda estava me abraçando pelo pescoço, e colou o nariz ao meu, suspirando fundo.
— … Você sabe que eu adoro você, adoro o que a gente tem. Mas eu já falei sobre a minha mãe. — Abracei-a pela cintura, puxando-a para mais perto.
— Eu sei de tudo o que disse, mas eu acho que se me deixasse falar com ela, talvez ela mudasse de ideia. Se a nossa relação for séria… — me interrompeu.
— , a nossa relação é séria. — Ela reforçou. — O problema não somos nós, é ela. A única vez em que eu mencionei sobre assumir um namoro com alguém de fora da igreja, minha mãe fez da minha vida um inferno. Ela me provocava o tempo inteiro, me forçava a ir à igreja, além de me ameaçar me levar para longe. E eu nem tinha um namorado, eu só falei da possibilidade.
Suspirei, frustrado. não mentiria para mim, embora eu achasse exagerado, mas começava a pensar que era verdade. Ela gostava de mim, eu sabia disso, não havia motivos para não assumir um namoro. Até porque, o nosso namoro só era escondido para sua mãe e padrasto. Eu não deveria me incomodar. Hoje em dia eu penso o quanto fui idiota por me preocupar tanto com isso.
— Eu só vou assumir um namoro quando for maior de dezoito e estiver bem longe daqui, morando em L.A., na minha própria casa. — disse, decidida, e eu fiquei um pouco cabisbaixo. Eu costumava ser bom em esconder meus sentimentos, mas não quando se tratava dela. Qualquer mísera mudança de expressão, ela notava. — Ei… — Ela me chamou, segurando em meu queixo para olhar para ela. — Você e a sua banda vão comigo, não é? Realizar nossos sonhos em Los Angeles. — Sorri, um pouco mais animado de novo, e nem precisei responder. Ela riu, e completou. — Sabia que essa sua cara era porque pensou que eu ia te deixar.
— Idiota… — Sussurrei contra seus lábios, e nos beijamos. Apertei-a pela cintura, como uma forma de dizer que eu queria muito estar num lugar a sós com ela. Recebi um carinho na nuca, e quando abri os olhos, notei suas bochechas um pouco coradas.
— Eu preciso te falar uma coisa, mas eu vou falar rápido, tá? — Fiquei subitamente nervoso, mas apenas concordei com a cabeça. Ela me puxou pela mão para ficar de pé, me fazendo tirar as mãos de sua cintura. — Fecha os olhos. — Obedeci. Não sabia o que estava acontecendo, mas senti sua respiração contra o meu rosto por uns segundos. Deduzi que ela ficou ali, como se criasse coragem.
— , você está me deixando nervoso. — Confessei, e ouvi sua voz sussurrando em meu ouvido.
— Eu nunca disse isso para ninguém. Minhas pernas estão tremendo, e meu coração disparado. Sinto que posso vomitar de tanto nervoso. Isso não deveria ser difícil, mas… , eu amo você.
Eu fui pego de surpresa. Completamente. Passei a sentir tudo o que ela descreveu: as pernas tremiam, o coração disparado, a vontade de vomitar de nervoso e felicidade. Abri o sorriso mais largo que já tive em toda a minha vida, e abri os olhos rapidamente, mesmo prometendo que não o faria. Mas a única coisa que vi foi de costas, correndo para a sala de aula, sem olhar para trás. Era engraçado pensar naquela garota de dezessete, tão forte, decidida e confiante, agindo como uma menina de onze, tímida e insegura, que acaba de confessar o crush em alguém.
Eu parecia um perfeito idiota sorrindo para o nada, e talvez tivesse alguém me olhando ou até fotografando para fazer um meme na internet, mas eu estava pouco me fodendo. Eu só queria correr atrás dela e dizer que a amava também, enchê-la de beijos, quem sabe arrastá-la para um lugar qualquer daquela escola e comemorar do nosso jeitinho. Bem, não seria a primeira vez que iríamos invadir uma sala vazia e transar, mas eu tive uma outra ideia. Uma que, no momento, pareceu incrível.
O de seis anos atrás não fazia ideia de que aquela ideia seria a nossa ruína.
ATUALIDADE — seis anos depois
Segundo dia de gravações. Apesar do pequeno desastre que quase causou, seguimos o restante do dia bem, fomos para a casa, eu apenas dormi feito uma pedra, e agora estava lá, firme e forte, no estúdio. Já estávamos gravando há horas, decidimos pular o almoço porque estávamos todos empenhados, e apesar de ainda não conseguir deixar de espiar vez ou outra, o clima entre nós não estava ruim. Estávamos sendo, estranhamente, profissionais, e eu ainda não sabia dizer se aquilo me deixava aliviado.
Notei pegar o celular e atender uma ligação. Logo se formou uma pequena agitação do outro lado do vidro, a parte onde ela, Corey e outros produtores ficavam, e a gente nem sempre conseguia ouvir. parecia tensa, mas o noivo dela não foi atrás quando ela saiu pela porta, ainda com o celular no ouvido. Eu fiquei tão curioso que mal me concentrei, e errei acordes básicos. Os meninos chamaram a minha atenção, um dos produtores também, e Corey pediu que fizéssemos uma pausa.
Fomos para o lado de fora, os meninos pegaram água e começaram a conversar, eu inventei que precisava ir ao banheiro, mas me olhou de um jeito como se soubesse bem o que eu estava indo fazer lá fora. Bem, ele não estava errado, e eu não sosseguei enquanto não a encontrei. Demorou algum tempo, mas eu a vi perto de uma máquina de salgadinhos. Infelizmente, vi uma cena terrível: estava chorando copiosamente, encostada na parede, quase soluçando. Não pensei em absolutamente nada, certo ou errado, erros ou acertos do passado, memórias boas ou ruins. Eu simplesmente corri até ela, com o coração apertado, e segurando em seu ombro.
— O que houve, ? — Chamei-a pelo apelido, sem perceber. Ela ergueu o rosto, todo molhado de lágrimas.
— Minha mãe sofreu um acidente, e está no hospital. Ela foi atropelada, . — A voz trêmula, quase falhada, ela cobriu o rosto, chorando ainda mais.
— , eu… sinto muito. Ela… está bem? — Pressionei os lábios, me sentindo um idiota pela pergunta. — Quero dizer, eu sei que depois de um acidente… — ergueu o rosto e me interrompeu, dando uma risadinha.
— Tudo bem. Eu entendi o que quis dizer. Ela não morreu. — A voz parecia mais tranquila, pouco embargada, e as lágrimas pareceram cessar por um momento. — Dona Judith é dura na queda. Mas ela está mal. Muito mal. E eu estou me sentindo extremamente culpada, porque a última vez que nos falamos, tivemos uma briga feia. — desabafou, e as lágrimas logo voltaram com força total.
— Eu posso fazer alguma coisa para ajudar? — Perguntei, meio sem jeito, mas morrendo de vontade de abraçá-la, de cuidar dela. me encarou, os olhos vermelhos lacrimejando.
— Você pode não me odiar por cinco minutos e me dar um abraço? — Pediu, como se lesse meus pensamentos. Eu apenas sorri, e concordei com a cabeça, puxando-a pelo ombro e a envolvendo em um abraço apertado.
Eu não sabia que sentia tanto falta daquilo, até ter aquilo de novo. Aquela aproximação, aquele aconchego, aquele carinho, cuidado, afeto. Mesmo que a gente se odiasse, tivéssemos mágoas um do outro, tudo morreu naqueles minutos durante aquele abraço.
— Me desculpa. Estou atrasando a gravação de vocês.
— Não se preocupe com isso. — Garanti, mas ela se afastou do abraço. Enxugou as lágrimas e sorriu para mim.
— Obrigada pela preocupação. — Manteve o sorriso, e eu retribuí. Nos encaramos em silêncio por alguns segundos, como costumávamos fazer, até que ela decidiu quebrar o silêncio. — Vamos voltar?
Concordei com a cabeça, e fomos, lado a lado. Ninguém notou nossa chegada, então não precisaríamos dar explicações. interrompeu a conversa divertida de todos, informou sobre o acidente da mãe. Todos lamentaram, ela pareceu segurar o choro, e disse que não teria condições de continuar hoje, que iria visitá-la. Eu nem sabia que a mãe dela tinha deixado a Austrália. Ou será que ela iria até lá? Se fosse, ela sumiria por dias e não participaria mais da gravação do cd. Eu não deveria me importar, tinham outros produtores, mas eu queria que fosse ela ali. Eu a queria por perto.
Corey disse que era melhor encerrar por hoje, e que iríamos retomar amanhã, já que fizemos muito no dia de hoje, até pulamos o almoço. Então nos despedimos e fomos todos juntos para o lado de fora. Cada um seguiu o seu caminho para seu carro, e eu, a distância, notei e Corey conversando, quando ao invés de irem juntos, ele apenas lhe deu um selinho e entrou em seu carro. Ela seguiu por outro caminho, indo em direção aos táxis. Corey saiu com o carro, e eu fiquei puto porque ele não iria com ela. Como deixá-la sozinha num momento desses? Sem nem me despedir dos caras, corri até ela, segurando-a pelo braço.
— Ai, que susto, ! O que houve?
— Você vai… visitar a sua mãe?
— Sim, por que?
— Na Austrália? — Ela riu.
— Não, ela veio para L.A. há uns dois anos. Estava difícil me infernizar à distância, sabe? — Ela brincou, e eu ri junto dela. Pelo visto, aliviar estresse e situação tensa com humor sarcástico continuava sendo o jeito dela de lidar com as coisas.
— E você vai de táxi?
— Não, vou pegar meu carro na rua de trás.
— Você não tem condições de dirigir assim. — Falei, mesmo que ela já aparentasse estar melhor. Se ela ainda fosse a mesma por quem fui apaixonado, ela só estava esperando ficar sozinha de novo para voltar a chorar, e isso no volante era um perigo.
— Eu estou bem, . Não se preocupe. — Ela se virou para ir.
— Posso ir com você. Se quiser… — Falei, ela ainda de costas, virou-se vagarosamente. Eu esperei que fizesse alguma piadinha, que negasse, ou qualquer outro tipo de agressão, física ou verbal. Ela apenas sacudiu a cabeça, rindo.
— Tudo bem. — respondeu, me surpreendendo.
XXX
— Sua mãe ainda é casada com o senhor Munch?
— Sim, ainda são casados. Aaron está no hospital me esperando.
— E ela ainda é super religiosa? — Perguntei, curioso. No fundo, queria saber se ela aprovava a relação com Corey. riu.
— Um pouquinho mais mente aberta. Um pouquinho de nada. Graças ao Aaron. Meu pai era muito porra louca, minha mãe ficava barbarizada. Eu puxei ele, como você sabe. O Aaron é o equilíbrio perfeito, que fez ela enxergar que não precisa ser da igreja ou super cristão para ser uma boa pessoa. Mas ela ainda é bem crítica e exigente. — tagarelou, como antigamente, mas eu adorei aquilo. — E a sua família, como estão?
— Estão todos bem. Ainda moram na Austrália. A gente não se vê há uns seis meses, mas eles têm planos de vir me visitar.
sorriu, então o silêncio constrangedor voltou. Dessa vez, por menos tempo, pois eu logo voltei a falar. Infelizmente, parece que desaprendi a aproveitar a oportunidade de ficar quieto.
— Mesmo crítica e exigente, ela aceita de boa a sua relação com o Corey?
— Não, ela o detesta. Por isso ele não veio comigo. Evitar problemas e discussões num momento delicado. — Menos mal. Pelo menos o babaca não tinha deixado ela sozinha num momento desses. Talvez não fosse babaca, eu que estivesse com ciúmes. Mas, bem, Judy também me odiava, e eu estava em péssimos termos com , mas mesmo assim insisti e estava lá.
O silêncio, pela segunda ou terceira vez, e eu tentava desesperadamente pensar em um assunto que não nos causasse constrangimento e rendesse para uma conversa mais longa. Precisava ser cuidadoso, não estava bem. Demorei um tempinho para pensar, mas a resposta era óbvia: música.
— Se importa se eu ligar o rádio? — Perguntei, ela só negou com a cabeça.
Liguei o rádio, e a nossa reação foi exatamente a mesma. Olhamos um para o outro e começamos a rir. Não era uma risada divertida, talvez um pouco, mas era mais uma risada de nervosismo, pela ironia que era ligar o rádio bem na hora que começava Living On a Prayer. A música que cantamos juntos quando nos aproximamos, minutos antes de nos beijarmos pela primeira vez. Eu lembrava cada segundo daquele momento, e a julgar pela reação de , ela também.
— Seria cômico, se não fosse trágico. — Ela falou.
— Parece que a vida gosta de debochar da nossa cara.
Nós dois rimos um pouco mais, e logo começamos a cantar, ao mesmo tempo, naquela sintonia só nossa. Parecia que, não importava o tempo que passássemos separados, ou o quanto nós estivéssemos magoados um com o outro, aquela química nunca deixaria de existir. Nossas vozes se combinaram como da primeira vez, sem sequer precisarmos ensaiar. Nos empolgamos um pouco, sorrindo e nos encarando vez ou outra, quando eu podia tirar os olhos da estrada. Em certo momento, parei no sinal vermelho e virei o rosto para ela. Cantamos um para o outro, nos olhando. Sabíamos como aquela música era importante para nós, mesmo que só tivéssemos cantado alguns segundos dela na primeira vez. Era a nossa música. Uma das. Porque a nossa playlist era recheada, e eu sentia que nunca nenhum relacionamento meu teria uma playlist tão cheia de músicas incríveis e cheias de significados como a nossa. Até mesmo músicas originais, que a minha antiga musa inspiradora me inspirou a escrever. Antiga? Puff… Quem eu quero enganar? Ela era a minha única e eterna musa inspiradora.
FLASHBACK— seis anos atrás
“
Compus uma música. Nunca tinha feito isso, no máximo trechos, refrões. me inspirou a escrever uma música, baseado na primeira vez que nos falamos, e um pouco do que vínhamos vivendo depois disso. O título da música era End Up Here, sugestão de , e eu acabei me acostumando e aceitei. A minha brilhantíssima ideia era tocar essa música no show de talentos que teria na escola. As famílias iriam visitar, inclusive a senhora Munch, mãe de , e eu pensei que se ela visse o quanto eu gostava da filha dela, poderia ceder e aprovar o nosso namoro. Eu só queria ser feliz ao lado da minha namorada, sem ficar me escondendo quando vou a sua casa.
Ensaiamos todos os dias durante duas semanas, e sentíamos que estávamos prontos. Antes, a gente iria cantar um cover de alguma banda, agora era uma música original. Estávamos mais do que confiantes e, na minha cabeça, nada poderia dar errado. Tivemos muito cuidado para não assistir a nenhum ensaio, porque eu queria que fosse surpresa para ela também, e tivemos sorte que ela também estava no grupo de organização do evento, então ficou igualmente ocupada.
Chegou o grande dia! O local estava impecavelmente organizado e bem ornamentado, todo temático. e as meninas da organização fizeram um trabalho excelente. Nós nos encontramos na sala onde estavam as pessoas que iriam participar, procuramos um cantinho escondido do diretor, e ficamos nos beijando por um bom tempo. Para mim, aquela era a última vez em que precisaríamos nos esconder, porque tudo daria certo. Eu estava estupidamente confiante. Até mesmo tinha comprado um anel, prateado e simples, que cabia no orçamento da minha mesada, mas que teria um bonito significado.
Mal assisti às outras apresentações. Estava ansioso. veio me desejar boa sorte, disse que assistiria da plateia, ao lado de sua mãe. Chamaram a nossa banda, 5 Seconds Of Summer, pelo nome que escolhemos em duas semanas. Senti um embrulho na boca do estômago, de felicidade, ansiedade. Não só pela apresentação significar muito, mas por ouvir chamar nossa banda por um nome que, há duas semanas, nem existia. Éramos oficialmente uma banda agora, e teríamos nossa primeira apresentação oficial, na frente da escola inteira e de vários responsáveis.
Subimos ao palco, recebemos palmas contidas. O pessoal mal nos conhecia. Nos posicionamos, pegamos os instrumentos, cumprimentamos a plateia, meio sem jeito. Meus olhos rapidamente encontraram e a senhora Munch, e ela sorriu tão lindamente para mim, que eu sorri de volta. Sua mãe reparou, e me encarou, depois encarou a filha. A cara fechada. Comecei mal.
— Boa noite, Mount Druitt High. — cumprimentou a plateia. Apesar de ser o mais bobo e tímido, ele sempre teve muito carisma.
— Eu sou o , aquele é o , esse é o , e aquele é o . — apresentou, meio sem jeito, fazendo sinal para que eu falasse.
— Nós somos a 5 Seconds Of Summer. — Levamos mais tempo ensaiando isso do que a própria música. O pessoal aplaudiu, e eu continuei, improvisando. — Essa noite, a gente iria cantar um cover, mas compus uma música original, com a ajuda dos meus amigos, e queremos apresentar essa noite. — Busquei o olhar de , que parecia feliz e surpresa. Sorri. — A música se chama End Up Here, e eu compus inspirado na minha história com a garota mais linda que eu já conhecia: Struble. — alargou o sorriso, e eu imitei. Sua mãe, por outro lado, cruzou os braços, como quem esperava para ver a patacoada que iria acontecer.
Mas não iria. Eu estava confiante. Estupidamente confiante.
Nosso baterista deu o sinal e começamos. Vimos alguns rostos começando a se animar com o ritmo, e eu sorri empolgado. Eu não era o vocalista principal, mas naquela música eu seria. Afinal, era a minha música para a minha princesa.
You walked in Everyone was asking for your name You just smiled And told them “trouble”
sorriu, lembrando da cena, e concordando com a cabeça. Sua mãe continuava na mesma posição, com a mesma cara, agora uma sobrancelha erguida. Mas eu não iria me abalar. Eu estava estupidamente confiante, lembra?
My head spins I’m pressed against the wall Just watching you every move You’re way too cool And you’re coming this way, coming this way
O refrão começou, algumas pessoas foram se levantando para pular. Eu via tudo pela visão periférica, já que meus olhos não desgrudavam da senhorita Struble e da senhora Munch. parecia inquieta, querendo levantar também, mas ela permaneceu quieta, dessa vez, espiava a mãe e a sua reação.
How did we end up talking in the first place You said you liked my Cobain shirt Now we’re walking back to your place
Nesse momento, a cara da mãe de se fechou ainda mais, provavelmente pensando se a música era real e eu havia ido em sua casa.
You’re telling me how you love that song About living on a prayer I’m pretty sure that we’re halfway there And when I wake up next to you I wonder how How did we end up here?
A mãe de abriu a boca, chocada e indignada. começou a se preocupar, o sorriso murchando aos poucos e eu me esforçava para não perder o ritmo e abandonar a banda.
Next day out Everybody though you were so insane ‘Cause you were so far out of my league My friends say I should lock you down Before you figure me out and you run away But you don’t and you won’t as you kiss me And you tell me that you’re here to stay
Percebi a mão sussurrando algo para , e ela parecia tentar se explicar, mas eu não conseguia ler os lábios e identificar sobre o que era a conversa. Só podia deduzir que a mãe questionava o quão verdadeiro era a música, se ela realmente havia se envolvido comigo. Cantamos o refrão de novo, por sorte os outros cantavam comigo porque eu quase me perdi, cheguei a parar de cantar uma parte.
Call me lucky ‘cause in the end I’m a six and she’s a ten She’s so fit, I’m insecure But she keeps coming back for more (more)
A mãe ameaçou levantar, e a segurou. Eu comecei a me desesperar. Meu coração batia forte e não era mais a boa ansiedade e a animação, era de preocupação. De repente, eu já não me sentia mais tão estupidamente confiante.
O pessoal começou a bater palmas enquanto cantávamos a última parte do refrão, e eu deveria me sentir muito animado e feliz pelo resultado estar sendo positivo, estávamos sendo bem recebidos pela plateia. Mas a única reação positiva que mais me importava era de minha futura sogra, e eu estava bem longe disso. Aplaudiram enlouquecidos quando terminamos a música, e nos curvamos rapidamente em agradecimento. Quando levantei, vi a senhora Munch parecer escandalizada, e levantando-se a passos firmes para fora do enorme auditório. Larguei tudo e fui atrás delas.
XXX
Encontrei chorando, em um dos corredores perto da saída da escola. Corri até ela, segurei em seu ombro, tentando puxá-la para um abraço, e sua reação foi bem distante do que eu esperava.
— O que foi aquilo, ? — Perguntou, irritada, se desvencilhando do meu abraço.
— Eu fiz uma música para você. Não gostou?
— Você passou por cima do que eu te pedi. Falei que minha mãe não podia saber da gente.
— Você parecia estar gostando no início.
— Eu não esperava que você fosse escrever uma música sobre a gente ter dormido junto. A minha mãe acha que eu sou virgem, !
— Meu amor, me desculpa, eu… — Tentei me aproximar de novo, e ela me empurrou.
— Não me chama de meu amor. Eu estou irritada com você. Minha mãe descobriu tudo, sabe o que isso significa? Vai fazer da minha vida um grande inferno!
— Eu não vou deixar isso acontecer. — Tentei garantir, mas ela me ignorou.
— Por que você fez isso?
— Me desculpa, eu… Achei que se ela visse o quanto eu gosto de você, ela iria nos aceitar. Achei que ela poderia gostar de mim. — Expliquei, cabisbaixo. Não só pelo plano ter sido completamente frustrado, mas porque eu havia decepcionado , e vê-la triste e chorando era um ponto fraco meu.
— Eu falei como ela era, . Você idealizou uma coisa que não ia acontecer. A vida não é um conto de fadas, muito menos um filme da Disney que sempre tem final feliz. — A voz dela mudou de raiva para chorosa, trêmula. — E agora a minha mãe vai infernizar, provavelmente vai me levar para longe de você. Está satisfeito, ?
— É claro que não, . Eu não vou deixar ela separar a gente. — Falei, pouco confiante, e ela riu, debochada. Era sua forma de aliviar uma tensão.
— Pelo amor de Deus, , se toca! Eu tenho certeza que ela vai me levar para longe. E é tudo culpa sua!
— , espera! — Tentei gritar, quando a vi sair correndo, mas os meninos surgiram atrás de mim, do nada, e me seguraram.
— Deixa ela, cara. Depois vocês conversam. — tentou me tranquilizar, mas eu não queria ficar longe. Eles não me deixaram ir, e talvez até tenha sido melhor mesmo.
XXX
— E se eu tentar falar com ela? Com a senhora Munch? — Tentei, mas Aaron negou veemente com a cabeça.
— Nem pense nisso! Judy está uma fera! Deixe que sabe lidar com a mãe. Elas vão se acertar. Estou do lado dela, e vou ajudar no que for.
Concordei com a cabeça, mas no mesmo dia acabei fazendo o oposto do que ela me disse. Mais uma vez agindo por minha própria vontade, mesmo que minhas intenções fossem boas. Pela segunda vez eu não estava ouvindo as pessoas que mais conheciam Judith, e jurava que o meu amor por poderia convencê-la a mudar de ideia, e que tudo ficaria bem. Boas intenções podem causar desastres também.
Toquei a campainha, e abri um largo sorriso quando vi atender. Mas ela não retribuiu. Estava de cara fechada, parecia irritada e ao mesmo tempo tensa de me ver ali.
— O que está fazendo aqui? — Perguntou, grosseiramente.
— Eu vim te ver. Consertar as coisas.
— Não tem nada aqui para consertar. Está tudo certo.
— Então… estamos bem? — Perguntei, esperançoso, forçando um sorriso.
— Nós dois? Não, estamos terminados. Acabou o que tinha entre a gente, foi uma fase que eu preciso superar, e você também. — O seu olhar estava diferente de tudo o que já vi. Não parecia combinar com o que saía de sua boca, mas eu achava que era apenas minha mente tentando me trair e me fazer acreditar que ela não falava sério, mas suas palavras eram duras, e machucavam muito.
— Você não pode estar falando sério. Você disse que… — Ela me interrompeu.
— Eu sei o que eu disse, e me arrependo. — Seus olhos lacrimejaram, e eu fiquei confuso, mas ela prosseguiu com a voz fria e grosseira. — Eu voltei com quem nunca deveria ter terminado. Alguém que eu realmente gosto e me faz bem. O que a gente viveu foi uma aventura que eu precisava, mas… passou. — Foi a minha vez de ter os olhos lacrimejando.
— Isso é impossível. , você… — Ela me interrompeu, de novo.
— , chega! Supera isso! — Então alguém abriu a porta. Um cara alto, negro, parecia atlético e mais velho do que nós. Bonitão, jeito de galã, de roupa social. Só agora reparei no vestido chique que usava. Senti o peito apertar ainda mais.
— Amor, está tudo bem aqui? — Ele perguntou, a voz firme, segurando-a pela cintura. Tive vontade de voar na cara dele.
— Amor? — Perguntei, não sabendo se estava com mais raiva ou tristeza.
— Esse é o Walden, o meu ex. — Lembrei que ela já havia me falado dele. O cara da igreja, que tocava na banda e era o queridinho da mãe dela. Eu morria de ciúmes, mesmo sem conhecê-lo, mas ela me garantia que não tinha chance deles voltarem, que ela só se envolveu com ele para agradar a mãe. — Nós estávamos de saída. Se nos der licença. — Pediu, com aquela grosseria que ela nunca usava comigo.
— Eu mal te reconheço agora. — Falei, sentindo uma lágrima escorrer. Por um segundo, ela pareceu comovida, e deu um passo para frente como se quisesse me abraçar, mas não o fez. Não sei dizer se o cara atrás dela a segurou, ou ela quem desistiu.
— Tchau, . Nos vemos na escola. — Ela finalizou, e eu enxuguei as lágrimas.
— Espero não te ver nunca mais. — Falei, com raiva, e saí andando, sem olhar para trás.
XXX
Passei o dia ileso, e fui para casa às pressas na minha bicicleta. Minha irmã foi até o meu quarto, disse que ela estava me procurando e eu também não quis atender. O recado foi dado, mas minha irmã voltou dizendo que disse “Diz a ele que eu preciso explicar o que aconteceu, ele precisa me ouvir”. Parte de mim ficou curioso, mas a maior parte estava com tanta raiva e o coração partido em tantos pedaços, que eu não sabia se estava pronto para ouvir o que ela tinha a dizer. Nem mesmo eu, que acreditava que o amor poderia superar tudo, conseguia ser positivo naquele momento. Só pensava em como ela pediria desculpas por ter sido babaca e me confundido, mas que realmente amava o ex-namorado engomadinho que tocava na banda da igreja. Não, eu definitivamente não queria ouvir aquilo.
No próximo dia, eu me escondi nos primeiros tempos, mas logo no primeiro intervalo, eu decidi parar de fugir. Fiquei sabendo que, depois da apresentação no show de talentos, a nossa banda era um sucesso, e as pessoas começaram a nos notar. Elogios e bajulações a todo o tempo, foi o que me prometeu. estava adorando a atenção das meninas, e continuava focado em seus joguinhos de celular, mas também adorava os elogios à banda. Eu perdi tudo isso nos dois dias passados, primeiro porque fiquei sofrendo por , e no segundo porque estava fugindo dela. Não iria mais me esconder. Sentei na mesa de sempre com os meninos, aquela isolada no canto que, por anos, só tinham nós quatro, e nos últimos meses tinha Ashleigh, e no mês passado, . Agora, estava recheado de pessoas em volta, meninas na maioria delas. Duas delas me olharam cheias de segundas intenções, e abriram um espaço na mesa para eu sentar.
— Oi, meninas. — Cumprimentei, meio sem jeito.
— Oi, . — Elas disseram, quase em uníssono. Uma delas não disfarçou ao quase se jogar em cima de mim, apoiando o queixo em meu ombro.
Nenhuma delas fez questão de ser sutil ao flertar comigo, e eu até tentava retribuir, mas completamente sem jeito. Não só porque eu era péssimo naquilo de ser descarado, como eu me sentia como se tivesse traindo . Eu era um tremendo idiota, por inúmeros motivos. E a minha reação quando ela se aproximou só comprovava isso.
— , eu posso… Falar com você? — Ela falou, os olhos pareciam faiscar ao encarar as meninas ao meu lado. Uma parte de mim gostou de ver aquilo, de deixá-la irritada.
— É claro que não. — Falei, simples, dando com os ombros.
— É sério, eu… Preciso te explicar o que aconteceu lá em casa, na segunda. A minha mãe… — Eu a interrompi.
— Não quero ouvir, . Não estou nem aí para você ou sua mãe e as proibições ridículas dela. — Meu tom de voz ameaçou levantar um pouco.
— Por favor, fale baixo. Vamos conversar a sós. Eu preciso falar com você. — Ela tentou.
— Eu já disse que não me importo, e nem quero ouvir o que você tem a dizer.
— …
— , chega! Eu não quero nada com você. Supera! Não foi o que você me disse? — Repeti as palavras que ela usou e que me magoaram como nunca, e as pessoas em volta começaram a nos olhar.
— , por favor. Sobre o Walden… — Ela tentou, quase chorosa, e eu interrompi. Pensei que estava sendo dissimulada, e me irritei.
— Ah, pelo amor de Deus! Segue a sua vida, . Eu já segui a minha, como você pediu. — Então fiz a maior burrice de todas. Maior até do que a música que cantei na frente da mãe dela. Maior do que qualquer estupidez que fiz na vida, e eu colecionava momentos estúpidos no meu repertório.
Virei de costas para ela, agarrei pela cintura uma das meninas que estava ao meu lado e lhe dei um beijo. Não um selinho ou beijo sutil, um beijaço! Daqueles que eu só dava em , mas sem nenhum sentimento pela garota em questão. Só havia raiva, ressentimento, desejo de fazer ela sentir a dor que eu senti. Mesmo beijando outra garota, eu só conseguia pensar em , e ter sentimentos por ela, mesmo que fossem negativos.
— Minha mãe estava certa. — falou, e eu terminei o beijo para olhá-la, que estava em lágrimas. — Você é só mais um idiota que apareceu na minha vida para mostrar que eu mereço alguém melhor. — Pareciam mesmo palavras que a mãe dela diria, mas aquilo não fazia nenhum sentido. Até agora. Antes disso, sabia que eu não era esse tipo de cara, mas a minha atitude demonstrou que eu era exatamente quem ela descreveu.
saiu correndo, o pessoal prestando muita atenção em nós. Não me importei com nada, só me odiei por ter vontade de ir atrás dela e consolá-la. Sei que fui eu que a magoei dessa vez, mas havia sido escolha dela seguir o que a mãe dizia e ignorar o meu amor. Mentiu para mim dizendo que me amava e depois me trocou pelo favoritinho da mamãe dela. Por fora, eu parecia irritado, debochado, talvez até decidido, como se já houvesse superado ela. Por dentro, eu estava destruído, e só queria ir para casa e chorar até dormir.
Desde esse dia, as nossas brigas constantes começaram. Declaramos guerra um ao outro, e nem precisamos dizer nada. Nossas atitudes demonstravam isso. Qualquer coisa era motivo para brigar, discutir, gritar um com o outro. Começamos a competir por qualquer coisa, fosse nota, atenção e carinho dos professores, números de colegas, nas aulas de Educação Física. Um motivo mais idiota do que o outro. Ela me xingava de babaca, escroto e coisas piores, e eu a xingava igualmente de babaca, infantil e bruxa. Antes eu dizia para mim mesmo que ela era uma bruxa que havia enfeitiçado o meu coração. Era um apelido bobo, divertido e feito para ser engraçado, agora eu usava como algo negativo, por mais que soasse como um garotinho de dez anos xingando alguém.
Fato era que todo o amor que eu sentia por ela, ficou escondido no fundo do meu coração, e eu ignorei aquilo e só foquei na mágoa. Mesmo quando nos graduamos e nunca mais nos vimos, até o dia da gravadora.
ATUALIDADE — seis anos depois
Depois de passar o restante da viagem apenas cantando as músicas, chegamos no hospital. A expressão dela mudou drasticamente, de quem havia finalmente distraído a mente e parado de chorar enquanto cantava, para uma filha preocupada, que abriu a porta do carro no desespero e nem me esperou. Disparou para dentro do hospital, determinada como quem sabia para onde ir. Corri atrás dela, e a vi abraçando um homem alto, bonitão e grisalho. Era o senhor Munch. Quando me aproximei, ela já havia ido até o quarto ver a mãe dela. Cumprimentei o meu antigo diretor, que parecia tão preocupado quanto . Ele me contou que Judith foi atropelada por um motorista bêbado, e que estava desacordada, ainda em situação de risco. Eu disse que lamentava, então sentamos e ficamos em silêncio por algum tempo, até ele se pronunciar.
— Sabia que depois de tudo, Judy torceu para você e voltarem a namorar? — Eu ergui a cabeça, surpreso e o encarei. — Ela viu como a ficou arrasada quando vocês terminaram, e ela nunca ficou daquela forma quando a mãe a impedia de alguma coisa.
— Daquela forma… Como? — Perguntei, curioso e de coração apertado.
— é briguenta. Discutia com a mãe o dia inteiro quando era proibida de alguma coisa. Quando precisou terminar um namorinho que ela teve com um rapaz antes de você, ela ficou brava, mas no fim do dia estava bem. Quando vocês terminaram, foi… Diferente. Sei que ela parecia brava na escola, vocês estavam sempre discutindo, mas quando chegava em casa, ela só chorava. — Senti o coração gelar, e minha respiração começou a fazer doer no peito. — passava pela casa como um fantasma. Mal falava, não tinha forças nem para brigar. Judy chegou à conclusão de que ela estaria muito melhor com você.
— Eu não sabia que ela tinha ficado dessa forma. — Lamentei, pressionando os lábios.
— Eu estava sempre te elogiando para a Judy. Mesmo antes daquele show de talentos, onde ela descobriu a verdade. e eu estávamos preparando o terreno para ela te receber algum dia.
— Por isso a pediu que eu tivesse paciência… — Deduzi.
— E você não respeitou, não é? — Ele disse, e eu suspirei. — Bem, podia ter sido mais clara, eu concordo. — Eu me sentia culpado, de qualquer forma. — Depois da briga de vocês, eu tentei de tudo para se acertarem, mas pediu que eu não me metesse, então eu tentei ajudar indiretamente. Dava um jeito de colocar vocês juntos, em trabalhos e atividades, mas tudo o que vocês faziam era brigar, brigar e brigar.
— E parar na sua sala, no fim do dia. — Tentei brincar, mas a risada que saiu foi sem humor algum. Eu estava arrasado de descobrir aquilo. Lembrei, como num flash, de todas as vezes em que o diretor nos chamava, propondo algum projeto para que trabalhássemos juntos, com a desculpa de que nós dois éramos criativos e envolvidos com música. Na época, eu acreditei, hoje eu entendi que ele só tentava nos aproximar, mas nenhum de nós cedeu em momento algum. — Quando algum professor colocava a gente de dupla ou no mesmo grupo num trabalho, era coisa sua também? — Perguntei, e ele admitiu com a cabeça, e nós dois rimos. Como eu fui um idiota de não perceber, nem aproveitar as oportunidades. — Mas agora isso já é passado. está noiva.
— Ela só se envolveu com o tal do Corey porque precisava de ajuda financeira para sair de casa. Judy não quis apoiá-la quando ela veio para Los Angeles. A mãe dela e eu nos mudamos há pouco, depois de anos de insistência. Minha mulher continua tão cabeça dura quanto você consegue se lembrar. — Fiquei confuso sobre o motivo do senhor Munch estar me falando aquilo. Não era como se aquela informação fosse mudar algo entre e eu. — O único momento que me lembro dela abrir exceção para , foi quando ela viu como a filha ficou quando vocês terminaram, e pediu que levasse você até a nossa casa. — Arregalei os olhos, fitando o homem.
— A mãe dela disse isso? — Ele concordou com a cabeça. — Mas por que a nunca me disse isso?
— Ela disse à mãe que era tarde demais, porque vocês se odiavam.
— Ah, então… Isso foi depois das nossas brigas? — De novo, o diretor apenas concordou com a cabeça. Comecei a pensar que e eu não éramos para ser, de qualquer forma. O homem se remexeu, parecendo inquieto, como se quisesse dizer algo, mas não conseguia, ou não sabia se deveria.
— , sabe o dia depois do show de talentos que você apareceu lá em casa? Quando a estava com o ex-namorado, Walden. — Assenti, pedindo que continuasse, e ele suspirou. — Judith ameaçou tirá-la da escola e levá-la para longe, para morar com os avós. cedeu e disse que terminaria com você, mas era um plano. Walden foi apenas uma fachada. Ela iria sair com ele naquela noite, para agradar a mãe, e no dia seguinte conversaria com você. Eu disse que iria acobertar o namoro escondido de vocês. Mas aí você chegou de surpresa, e ela precisou mentir, porque a mãe estava lá. Eu a acalmei, dizendo que falasse com você no dia seguinte, e ela disse que tentou. Até hoje não sei bem o que houve, ela não quis me falar. Só chegou em casa chorando, e dizendo que você era um babaca, e outras palavras ainda piores. E então começaram as brigas.
Eu gelei. Meu corpo inteiro travou, eu não conseguia piscar, falar, me mover. Aaron não sabia, mas eu sabia bem o que tinha acontecido. Então me procurou para falar sobre isso, quando eu a fiquei evitando por dias, até que ela finalmente me achou e eu fui duro e insensível com ela, beijei outra em sua frente. tinha razão em me chamar de babaca, eu era muito pior do que isso. Fui impulsivo, fiz exatamente o que julguei como errado quando ela fez, e fugi dela, não deixei que se explicasse. Na época, estava tudo tão claro que ela havia me usado e me superado, que eu sequer cogitei a possibilidade de estar fingindo e que ainda queria ficar comigo. Eu sofri durante anos por um amor que era para ser meu, por uma garota que era para ser minha, por um erro meu. Pior do que isso: eu havia feito sofrer por culpa da minha imaturidade.
E depois de tudo, eu ainda tive outra chance, quando a mãe decidiu que me daria a oportunidade para me conhecer, e eu poderia provar o quanto era apaixonado por , e o quanto queria fazê-la feliz. Mas era tarde… Eu já havia arruinado tudo.
Senti uma lágrima escorrer, e limpei rapidamente. Só então consegui me mover. Aaron me olhou, preocupado, eu balancei a cabeça, como se dissesse que ia ficar bem. Mas eu não iria. Era impossível ficar bem depois de descobrir algo assim.
— Eu não quis ouvir ela. Foi isso o que aconteceu. Fui idiota, beijei outra na frente dela… — Contei, abaixando a cabeça e massageando as têmporas. Eu não o criticaria se ele me xingasse, mas se Aaron cogitou isso, não teve tempo.
saiu pela porta do quarto, com o rosto inchado, provavelmente de tanto chorar. Disse que a mãe ainda estava desacordada, mas o médico disse que ela estava progredindo. Aaron insistiu que ela fosse para casa descansar, buscar umas roupas para a mãe, mas ela não queria. Com jeitinho, ele conseguiu convencê-la, e eu logo percebi que ele havia sido o grande pacificador na família durante todos aqueles anos. Aquele que mediava as conversas, e era responsável por evitar que mãe e filha se matassem de tanto brigar. Ele pediu que eu a levasse, e eu prontamente concordei. Ela me olhou meio sem jeito, e sorriu, então fomos para o meu carro.
Não levou nem cinco minutos para encostar a cabeça no banco e dormir. Eu dei graças a Deus, porque assim não precisaríamos conversar. Eu tinha muito o que absorver antes de ter qualquer conversa. Se é que teríamos chance para isso…
XXX
Na minha mente, veio à tona a primeira música que compus pensando nela: End Up Here. Lembrei de quando meus amigos disseram que ela era 10/10 e que eu era um 6/10, um grande mané. Era tudo uma brincadeira, mas hoje eu vejo como era verdade. Ela se sacrificou, disposta a mentir para a mãe, para continuar comigo, e eu sequer quis ouvi-la. Eu era pior do que um babaca, um otário. Não dei a chance que ela merecia de ser ouvida, não dei a chance que nós dois merecíamos de sermos felizes. Eu sabia o quão cabeça dura era a mãe dela, mas a minha estúpida ideia romântica de idealizar que “o amor cura tudo” estragou as coisas, porque não resolveu com a mãe dela. Bem, talvez tivesse funcionado, se eu tivesse sido um pouco mais paciente e compreensivo. Eu nem sei porque aquilo me magoava tanto. Eu mesmo disse que aquela história era coisa do passado. Mas então por que eu não parava de pensar no assunto? De pensar nela?
Já era o fim do dia de mais uma bateria de gravações. Dois dias após a noite em que fui ao hospital com . Eu não tive oportunidade de ficar a sós, e talvez a parte covarde dentro de mim não queria mesmo isso. Eu seria obrigado a encarar a dura realidade de que joguei fora a nossa chance por pura infantilidade, e eu não estava de bom humor para isso. Eu já estava até do lado de fora da gravadora, dentro do carro, prestes a ir embora, quando botei a mão no bolso e não senti o meu celular. Merda! Eu só podia ter esquecido no estúdio, então voltei até lá para buscar, e encontrei a pessoa que eu andava covardemente evitando.
estava de costas, com os fones de ouvido, provavelmente mixando alguma música nossa, já que ela cantarolava baixinho um trechinho. Eu sorri feito bobo, vendo os cabelos dela se moverem de acordo com a música, conforme ela balançava a cabeça. tirou os fones e se levantou, tão rapidamente, que não consegui me mexer. Ela se virou, e levou um susto comigo.
— Que susto, ! — Nós dois rimos. — Quer dizer, . — Ela se corrigiu.
— Pode me chamar de . Eu… eu gosto. — Sorri, ela também.
— O que está fazendo aqui? As gravações já terminaram.
— Eu não senti meu celular no bolso, pensei que poderia estar aqui.
— Ah, espera… — pegou o dela, e ligou para o meu. Estava no modo silencioso, mas vibrava. Levamos um tempo, mas o achamos jogado debaixo de um dos sofás.
— Eu não faço ideia de como foi parar aqui. — Guardei no meu bolso. — Você quer… carona para casa? — Eu precisaria encarar ela em algum momento. Mesmo que fosse para colocar um ponto final de vez na nossa história.
— Não, obrigada. Vou ficar um pouco mais. Estou sem sono, sem cabeça para ir para casa.
— Como está a sua mãe?
— Melhor. — sorriu, e eu imitei. — Ela acordou hoje. Vou vê-la amanhã.
— Bom, então… Não vou mais te atrapalhar. Tchau, .
— Tchau, . — Virei para ir embora, e quando cheguei na porta, me senti mais covarde do que nunca. Eu precisava dizer algo, então voltei.
— , o que você acha da gente gravar End Up Here? — Eu sei o que você está pensando. Comecei péssimo, é o que parece. Bem, talvez… Eu queria começar com alguma piadinha, para descontrair. Estava nervoso.
— É sério? — Ela perguntou, rindo.
— Não estou querendo te provocar, me desculpa, é só que… — Me expliquei, antes que ela pensasse errado de mim. — Eu acho que as músicas que escrevi para você são as melhores. — Confessei, sem reparar, mas ela notou. ergueu as sobrancelhas, surpresa.
— Músicas? No plural? — Minhas mãos suaram, eu engoli em seco, só agora notando o que eu havia revelado.
— Bem… — Quase gaguejei, soltando uma risada sem muito humor. — Tiveram outras. Não eram para você, mas foram sobre você. End Up Here era para ser uma homenagem.
— Eu amo essa música. Juro. Apesar de toda a confusão, ela só mostra o quanto você reparava em tudo o que dizia respeito a mim.
Concordei com a cabeça, e ficamos nos encarando por alguns minutos. Aquilo era algo tão nosso, que eu me perguntava se ela dividia momentos assim com Corey, ou com qualquer outro cara que tenha passado pela vida dela.
— Amnesia era sobre mim? — perguntou, com certo pesar na voz, sobre a música que cantamos em um evento da escola. Foi a nossa segunda original, depois de End Up Here.
— começou escrevendo, em um dia que brigou com a Ashleigh. — Apesar dos dois estarem juntos até hoje, e ter sido uma briga de dias, chorou quase todos os dias e viveu o término de uma semana com muita intensidade. — Eu ajudei com alguns trechos.
— Qual? — perguntou, e eu a olhei nos olhos, ao cantar.
— And the dreams you left behind you didn’t need them. Like every single wish we ever made. I wish that I could wake up with amnesia. And forget about the stupid little things. Like the way it felt to fall asleep next to you, and the memories I never can escape. ‘Cause I’m not fine at all…
De novo, aquele silêncio, nos encarando. O olhar dela era pesaroso, de quem só descobria agora que aquele trecho era sobre ela. Quando cantamos na escola, disse que o compositor era ele. Pedi que não falasse que contribuí, pois não queria que ela ou ninguém soubesse o quanto eu ainda era apaixonado por ela. Então ela se manifestou.
— Os sonhos que planejamos juntos… Não fui eu quem deixei para trás. , eu preciso… — Eu a interrompi.
— Eu sei. Aaron me contou sobre aquela noite na sua casa, com o seu ex-namorado.
— Ah, ele… Contou? No dia do hospital? — Concordei com a cabeça.
Silêncio de novo. Nossas conversas pareciam recheadas desses minutos de silêncio, onde a gente se encarava, ou desviava o olhar. Se não havia nada mais a ser dito, por que nenhum dos dois ia embora? Pelo visto, nenhum de nós queria sair perto do outro.
— She lies awake. I’m trying to find the words to say. I wish I was, I wish I was… Beside you. — Cantarolei o trechinho de outra que escrevemos e cantamos na época do ensino médio. — Lembra dessa? — Ela sorriu, e concordou com a cabeça. — Sobre você também. Escrevi em um dia que estava morrendo de saudades. Quase fui na sua casa para conversar, pedir para você voltar pra mim.
— E por que não foi? — Ela deu um passo na minha direção. Quase gelei, mas fiz o mesmo.
— Eu me senti idiota por sentir sua falta. Na minha cabeça, você estava com o seu ex, e você nunca tinha gostado de mim de verdade. Eu era um moleque de dezessete anos, fui idiota e covarde. — Dessa vez, fiquei parado, mas ela continuou vindo na minha direção.
— Agora você tem vinte e três, não é mais um moleque. Ainda é covarde? — Ela disse, com aquele tom provocativo, e sorriu.
— Você precisa mesmo ser tão provocativa sempre? — Perguntei, rindo junto.
— Foi desse jeito que eu me tornei a musa inspiradora das primeiras músicas originais da 5 seconds of summer.
— Que convencida… — Falei, em tom de brincadeira. Nós dois rimos juntos. — Parece aquela menina de cabelo roxo que se achava pela atenção que recebia quando chegou na escola. — Impliquei, e ela me deu um soco de leve no ombro.
— Eu não me achava nada. Era super simpática com todo mundo, ‘tá? Sinto falta do cabelo roxo, às vezes. Mas decidi deixar meu cabelo respirar um pouco. — Ela contou, sorrindo, e balançando os cabelos, que agora eram mais compridos e de coloração natural. No fundo, eu sabia que ela logo voltaria a colorir os fios.
De repente, aqueles minutos de silêncio, nos encarando, não eram mais tão constrangedores. Mesmo assim, eu o quebrei depois de um tempo, cantando um trecho de uma música nova.
— No matter where I go, I’m always gonna want you back. No matter how long you’re gone, I’m always gonna want you back. I know, you know, I will never get over you. No matter where I go, I’m always gonna want you back, want you back…
Ela sorriu, mexendo os lábios no ritmo da música, mas não cantou em voz alta. Talvez quisesse ouvir a minha voz, e eu sorri por isso.
— Eu estava mixando essa agora, antes de você chegar. Tem uma pegada bem diferente das antigas. Eu adoro! — elogiou, e eu agradeci. Baixinho, quase sussurrando, ela confessou. — Gostaria que essa tivesse sido para mim.
— Essa não é da época da escola… — Falei, tão baixinho quanto ela. Senti ela meio cabisbaixa, talvez pensando que escrevi para outra garota. Pensei se deveria confessar, mas eu ainda não tinha certeza de para onde estava indo a nossa conversa, ou o que eu pretendia com aquilo. Talvez eu só estivesse me enganando, dizendo que não sabia o que eu queria.
— Quando vocês escreveram? — Ela perguntou, com um tom diferente. Parecia a sua versão de dezessete anos, com ciúmes. Parecia que sua intenção não era perguntar quando escrevi, mas para quem eu escrevi. Tentei conter um riso ao notar isso.
— Essa eu escrevi sozinho, há alguns meses. No dia 10 de Janeiro deste ano.
— Coincidentemente, o dia em que eu noivei.
— Não foi coincidência. — Falei, de uma vez, e ela ergueu o olhar para me fitar. Franziu o cenho, confusa, como se me pedisse para explicar. — Eu vi pelo instagram, e fiquei com tanta raiva, ciúme, inveja… Acabei percebendo que, não importa quanto tempo a gente não se fale, não se veja, não importa o tanto de raiva que eu tive no ensino médio, eu sabia que se você batesse na minha porta e me dissesse que queria ficar comigo, eu iria dizer sim. — Não desviamos o olhar em nenhum segundo, enquanto eu despejava as palavras em cima dela. De uma só vez, sem rodeios.
— Mesmo magoado comigo?
— Eu mandaria a mágoa para longe. Jamais quis admitir, mas tudo o que eu queria era que você viesse pedir para não brigarmos mais, e ficarmos juntos.
— Você poderia ter feito isso… — Ela jogou na minha cara.
— Por isso eu disse que eu fui covarde. — Um curto silêncio, de novo. Deixei que ela processasse o que acabara de ouvir. — Essa foi a sua forma de perguntar se eu tenho alguém? — Foi a minha vez de provocar. Com um sorrisinho no canto dos lábios, os braços cruzados. Ela cruzou os braços também, erguendo uma sobrancelha.
— Eu não perguntei isso. Só queria saber quando escreveu a música.
— Eu não tenho outra pessoa. — Respondi, de uma vez. Não iria torturá-la, sei que ela queria saber. E a julgar pelo sorrisinho contido dela, havia gostado da resposta.
— Mas teve. Já se passaram seis anos…
— Na minha cama, tiveram várias. — Admiti, e ela revirou os olhos, como fazia quando estávamos juntos e ela tinha ciúmes por algum motivo. Sorrimos, e continuei. — Mas nenhuma delas alugou um triplex na minha cabeça, nem no meu coração.
sorriu. Aquele sorrisinho que ela dava quando me ouvia dizer alguma coisa que ela gostava. Havia se passado seis anos, e ela ainda tinha os mesmos trejeitos, que eu conhecia tão bem.
— A gente ficou junto por, o que, uns dois meses? Em seis anos, nunca encontrei ninguém que me fizesse sentir como você me fez. — Ela admitiu, como quem tentava retribuir a minha confissão, me dizendo uma também. Como se pudéssemos, enfim, partilhar o que sentíamos um pelo outro, mesmo passado todo esse tempo.
— Eu nunca me arrependi tanto de uma coisa que não fiz, como me arrependo de não ter corrido para a sua casa depois de escrever Beside You. — Não resisti a dar mais alguns passos em sua direção. continuou parada, me observando. Eu já estava perto o suficiente para levar minha mão até o seu rosto, fazendo um carinho em sua bochecha, enquanto lhe olhava nos olhos. Sussurrei. — Deixa o Corey. Fica comigo. — Ela sorriu.
— Será que ainda temos tempo? De sermos felizes, de nos apaixonarmos de novo?
— Quantas outras músicas eu preciso escrever para você entender que eu sempre vou querer você, e só você? — Nós dois rimos, ao mesmo tempo em que desci o carinho da bochecha para sua nuca. Senti a mão dela alcançar minha outra mão, puxando-me para mais perto.
— Algumas várias. — Ela brincou.
— Achei que não gostasse de atenção… — Impliquei, e ela ergueu o corpo para ficar mais perto de mim.
— Da sua eu gosto. — Sussurrou, pertinho de mim. Senti cada pelo do meu corpo se arrepiar com a aproximação. Naquele momento, eu era, de novo, o moleque de dezessete anos que se apaixonou pela primeira vez. — Mas tem outras coisas que eu gosto mais.
— Ah, é? Por exemplo… — Pedi, puxando-a pela cintura e colando nossos corpos.
— O seu carinho… — Ela deu um beijo em uma bochecha. — A sua voz… — Na outra bochecha. — O seu beijo. — Sussurrou contra meus lábios, e me beijou no cantinho da boca.
— Eu senti sua falta todos os dias da minha vida. — Comecei mais uma pequena confissão, porque senti que precisava colocar aquilo para fora. Toda a saudade que senti, a dor da ausência dela. — E eu me odiava por isso. Me achava um idiota por sentir saudade de uma garota que não queria nada comigo. Aí o Aaron me contou tudo no hospital, e eu me senti mais idiota ainda… — Ela me interrompeu.
— E você continua sendo um idiota agora. — disse, quase brava.
— Por que? — Franzi o cenho.
— Porque não cala a boca e me beija logo. — Provocativa, como sempre. Eu adorava. Abri um sorriso, e ela imitou.
Selei nossos lábios, devagar, apertando sua cintura contra o meu próprio corpo, como se pedisse autorização para continuar. Entendi que o aperto em meu braço e o puxão em minha nuca fossem um sinal de aprovação, então arrastei o corpo dela, sem nos separar, para a parede mais próxima, e intensifiquei o nosso beijo. Carregado de saudade, de desejo, de quem queria expressar seis anos de sentimento em um único beijo. Apertava sua cintura, deslizei meus dedos por seus braços, como quem tenta reconhecer cada pedacinho daquele corpo que tanto rondou meus pensamentos por anos. Sentia os dedos dela me explorarem com o mesmo intuito, o mesmo desejo.
Separamos o beijo quando faltou o ar, mas não nos afastamos. Os corpos continuavam colados, o corpo dela contra a parede. Nossos lábios roçavam um no outro, as respirações ofegantes se misturando. Abri os olhos e encontrei os dela. Sorrimos, como se partilhássemos os mesmos pensamentos naquele momento, sem mesmo dizer nada.
— , eu… Preciso perguntar. — Ela assentiu com a cabeça, me pedindo que continuasse. — Você vai deixar o Corey? — Senti o coração apertar, só com a possibilidade de ouvir um ‘não’. A reação dela não foi boa. O sorriso murchou um pouco, e a expressão era de quem buscava as palavras. Afastei um pouco o rosto para fitá-la melhor.
— Eu não sei se eu poderia te contar isso. Corey me fez prometer. — Ela começou. Primeiro, franzi o cenho, depois respirei fundo, como quem se prepara para ouvir algo que não vai gostar. — Corey é gay. — sussurrou, como quem conta um segredo. Eu ergui as sobrancelhas, surpreso. — Ele nunca disse claramente, mas eu sei que é. Ele não se aceita muito bem, e acha que a família também não vai.
— Então… Por que você está com ele? — Ela riu, antes de explicar.
— Quando eu vim para L.A., eu trabalhava em um bar, servindo bebidas, e a gente se conheceu meio sem querer. Ele ficou bêbado, eu o ajudei. Contei da minha história, e ele veio com essa ideia maluca. As palavras dele foram “a gente pode namorar, para a minha família, mas não vai ser um relacionamento de verdade”. — Ela disse, imitando a voz de um bêbado, e nós dois rimos. Entendi que Corey estava completamente alcoolizado quando sugeriu isso.
— Tudo bem, então ele teve essa brilhante ideia quando estava bêbado. E você, estava sóbria? — Fazia carinho nela, enquanto perguntava.
— Muito sóbria, e muito lúcida. Eu precisava de dinheiro e uma oportunidade de emprego no ramo da música, ele é filho do dono de uma gravadora que não tem coragem de contar para a família que é gay e precisava de uma namorada de mentira.
— Você não acha isso um pouco errado?
— Não. Somos amigos, e nos ajudamos um ao outro. Ele me ajudou me dando uma oportunidade aqui na gravadora, e eu o ajudo, bem, a se aceitar. Mas de qualquer forma, eu acho que o problema maior é ele mesmo. Eu conheci a família dele, e não os achei preconceituosos. Acho que o próprio Corey que era homofóbico. É só uma questão de tempo até ele se aceitar.
— E eu preciso esperar ele te dar um pé na bunda para ficar contigo? — Impliquei, e ela me deu um empurrão de leve, mas eu a puxei de volta e a abracei. Distribuí beijos em seu pescoço e ombro, enquanto ela falava.
— Ele não vai me dar um pé na bunda. Vamos terminar amigavelmente, assim que ele decidir admitir para ele mesmo que gosta de um amigo dele. Eu sei que ele gosta do Simon. — Não resisti a uma risada enquanto a escutava.
— Você é maluquinha, sabia? Mas eu não deveria me surpreender, conhecendo você. — Afastei o abraço, para olhá-la nos olhos.
— São seis anos longe, baby, ainda tem muita novidade sobre mim para você descobrir.
— E eu mal posso esperar. — Selei nossos lábios, de novo, em um beijo. Tão carinhoso, tão terno. , por outro lado, desceu as mãos pela minha cintura, me empurrando até o sofá e deitando por cima de mim.
Ficamos ali até altas horas. Conversando, se beijando, transando. Depois, fomos cada um para suas casas, e eu ficava ansioso todos os dias para vê-la. Nos encontrando escondido pelos corredores, no banheiro, em algum estúdio vazio. disse que conversou com Corey, e ele não se importava de estarmos juntos, só não queria que a família soubesse. , e também sabiam, é claro, e sempre que podiam, deixavam o apartamento livre para nós dois.
E lá estava eu, de novo, rendido por aquela mulher. No início daquele dia, estávamos estranhos um com o outro, e há algumas semanas, nos odiávamos do fundo da alma. E em questão de semanas, tudo se resolveu, como uma sequência de dominó, que alguém empurrou a primeira pecinha, e depois todos os eventos após o nosso reencontro nos encaminharam para onde estávamos. Essa era a resposta para a pergunta da minha primeira música para ela: “Como viemos parar aqui?”
Dessa vez, eu não iria me importar de ter um relacionamento escondido. Se ninguém soubesse, se eu precisasse fugir pela janela, ter encontros furtivos em lugares esquisitos, nada disso me importaria. Desde que eu estivesse com ela, desde que ela fosse minha, e eu fosse dela, tudo estaria bem. Nossa briga há seis anos foi justamente pela minha insistência em assumirmos algo, mas nós nunca precisamos disso. O que sentíamos um pelo outro era real, e não precisava que todos soubessem. Por mais que meu lado romântico gritasse pela liberdade de dizer para todos que eu era apaixonado por Struble, eu iria respeitar o nosso tempo, e aproveitar cada um daqueles dias em que eu tive a oportunidade de me apaixonar por ela de novo. Dia após dia.
Fim.
Nota da autora: Oi para você que está lendo essa nota! Faz anos que eu não escrevia uma fic tão rápido. Seja long, short ou ficstape, eu levo meses desenvolvendo. Mas depois de muito sofrer, e quase desistir, eu tive a ideia para essa história assim, do nada, como num flash, e escrevi em uma semana. Na mesma semana em que me dividi para escrever a versão final do meu tcc, ainda corrigi e lancei notas de alunos. Que semana! Espero que tenham se apaixonado tanto quanto eu, e quem puder deixar um comentário, eu agradeço.
Outras Fanfics:
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