Última atualização: 05/03/2020

Capítulo Único

- , você pode servir esse café na mesa 07, por favor?
- Claro, Kath. – Peguei a bandeja cuidadosamente e caminhei até a mesa. – Aqui está o seu caf... Ah é você.
- Olá , como anda a vida de garçonete? – disse em um tom debochado.
- Tudo vai bem. – Respondi o mais curta possível. – Quer mais alguma coisa?
- Não. Você pode se afastar sua vadia pobretona, meus amigos vão chegar a qualquer momento, não quero você por perto. – Apertou meu braço com força de forma que ninguém na cafeteria pudesse ver.
- Sinceramente não sei como pude namorar você.
***
Flashback

- Não é possível que você simplesmente considera normal esse tipo de atitude! Ele era uma pessoa como qualquer outra, o que te dá o direito de reunir sua turma e agredi-lo apenas por ele ser gay? – Eu berrava enquanto batia os braços na cama.
- Você não entende que a postura dele é ridícula? Ninguém é obrigado a ver esse tipo de comportamento publicamente.
Eu simplesmente não entendia como pude viver cegamente esses meses ao lado de . Foram 7 meses de brigas, discussões e problemas pelo simples fato dele ser um garoto mimado filho de um banqueiro podre de rico. Ele não tem valores, ele considera uma pessoa superior a todos os outros somente porque tem dinheiro.
- Isso pra mim foi o limite, . A gente acaba aqui.
Levantei, calcei meu sapatos e peguei minha bolsa rapidamente, mas senti algo puxar meu braço com bastante força.
- Você não vai a lugar nenhum, sua vadia. Eu digo quando o nosso relacionamento acaba e, pra mim, ainda não acabou. Acho bom você deitar na cama novamente e aceitar que sou quem mando.
- , é melhor você me soltar pra eu não fazer um escândalo na delegacia. Você quer problemas com o seu papai? Eu resolvo isso agora mesmo.
Senti sua mão soltar meu braço lentamente enquanto me olhava fixamente nos olhos sem sequer piscar. Levantei da cama mais uma vez e fui andando em direção a porta. Bati a porta atrás de mim com toda a força que pude e saí caminhando pela calçada daquele bairro nobre observando as belas portas das grandes mansões que ali haviam.
Fim de Flashback
***
Aquela cena sempre se repetia em minha mente toda vez que ia a cafeteria com a intenção de tornar o meu dia um inferno. Estávamos separados há poucas semanas e o caso do garoto gay que foi espancado por ele e sua turma ainda não havia sido solucionado. Não me surpreendia, ficava me perguntando quantas pessoas o pai de precisou subornar pro caso ser abafado com tanta rapidez. O rapaz espancado seguia no hospital e seu estado de saúde era sigiloso, acredito que ele também foi subornado para sequer tocar no assunto com qualquer pessoa que o procurasse para uma entrevista.
Estava perdida em meus devaneios até que ouvi os sinos anunciando a abertura da porta. Um grupo de rapazes entrou na cafeteria fazendo o maior barulho e cumprimentando com movimentos estranhos e rápidos com as mãos.
- Olha, o time de machos chegou. Eu atendo ou você atende? – Kath estalava os dedos em meu rosto.
- Fique a vontade. – Eu disse e fui caminhando em direção a cozinha.
- Pobre ... Lembro bem de quando ele vinha aqui quando mais jovem, deveria ter uns 14 anos. Era um garoto tranquilo, sempre tinha um livro em mãos, era curioso e muito inteligente. – Ouvi a senhora Laureen falando enquanto preparava a conta de uma das mesas que atendi naquela tarde.
- Você o conhece? – Perguntei curiosa.
- Conheço sim. Ele é um dos nossos clientes mais antigos. Uma pena que você o conheceu recentemente. Kath me disse que vocês foram até namorados.
- Foram 7 meses turbulentos, Laureen. Ele é extremamente machista e homofóbico, fora a necessidade que ele tem de impressionar o pai dele que sequer se importa com sua existência, só alimenta sua conta bancária para que o filho se mantenha afastado.
- É mesmo uma pena ver um rapaz se perder assim...
Ela concluiu seu pensamento e pediu que eu buscasse um café para ela. Enquanto servia o café de Laureen, senti meu celular vibrar em meu bolso. Era uma mensagem qualquer de Kath, segui limpando mesas e olhando de canto para e os amigos. Eles mexiam com as mulheres que passavam ali, incomodavam os casais que gostavam de se encontrar ali, caçoavam das pessoas que iam para cafeteria somente pra ler um bom livro e, eu ainda perdida em meus pensamentos, me perguntava com o garoto que Laureen conheceu se tornou essa pessoa irreconhecível hoje.
Minha curiosidade pela história de só aumentava, mas ele era um muro quase que impenetrável. Enquanto estive com ele soube muito pouco de seu passado, ele mantinha tudo trancado a sete chaves e, certamente, havia uma razão.
Ouvi um assovio e, em seguida, meu nome.
- Me traz a conta que a sua amiga aqui é muito lerda. – disse.
Revirei os olhos e pedi para que Laureen providenciasse a conta da mesa dele. Ah , o que será que você esconde por baixo desses olhos castanhos e dessa pose de durão?


Fim!



Nota da autora: Oiê! Tudo bem?
Confesso que senti dificuldade pra encontrar um plot pra essa música, mas como eu gosto de um desafio, aqui estou eu hahahaha.
Fiz essa oneshot apenas pra gente deixar nossos olhos um pouco abertos sobre o comportamento das pessoas e como a presença (ou ausência) de uma pessoa pode nos magoar e nos transformar em pessoas que realmente não somos.
Espero que tenham gostado. Beijos de luz!



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