Prólogo
— Filha, coloca um sorriso nesse rosto agora, as pessoas vão perceber e comentar a sua cara de nada. — bufou, mas obedeceu.
— É a mesma coisa sempre, mãe, você poderia ter me livrado disso, se eu venho ou não, não faz diferença, meu pai sequer me nota. — A moça abriu mais o sorriso para cumprimentar alguém que ela não fazia ideia de quem era. Detestava aquele tipo de evento, entretanto os frequentou durante toda a sua vida.
— Não seja egoísta, seu pai conseguiu uma parceria incrível, isso é importante para ele, e nós como família…
— Devemos estar ao lado dele para apoiá-lo incondicionalmente. É, eu já sei esse discurso de cor e salteado. — Ela olhou para os lados, entediada. Viu um garçom passando e pegou uma taça do champagne que ele servia. Deu uma rápida golada. Trocou o peso do corpo de perna, completamente desconfortável.
— Olha, filha, aquele rapaz ao lado do seu pai, é lindo, não? — procurou com o olhar de quem a mãe falava e seus olhos pousaram no homem.
— Mãe, ele não é lindo, ele simplesmente foi esculpido pelos deuses, que perfeição! — O encarava boquiaberta. — O que ele faz na empresa? — De repente, estar naquela festa tinha ficado interessante a mulher.
— Ele é gerente de projetos e marketing, seu pai tem o elogiado muito, com certeza ele vai longe na empresa.
— Toda essa formação, e ele não deve passar dos 30 anos… Estou realmente surpresa. — Seus olhos não desgrudaram do rapaz, e ele percebendo que alguém o fitava, direcionou seu olhar na direção dela, levantou sua taça em cumprimento e ela o correspondeu. — Ah, meu Deus, ele me pegou no flagra, quero sumir.
— Ah, meu amor, por favor, não é nada demais. — A mais velha sorriu. — Venha, vamos nos apresentar a ele, um moço tão bem distinto, elegante e, com certeza de boa família, é o namorado ideal para você!
— Mãe! Por favor, não viaja! — Mas já era tarde, a mulher lhe puxava discretamente pelo local. Ela acabou não conseguindo esconder um sorrisinho de lado, seu primeiro sorriso sincero naquela noite.
— Com licença, querido. — Sua mãe cumprimentou o marido, e encabulada fitava o chão, nunca foi muito boa em socializar, ainda mais com um cara tão lindo como aquele.
— Oh, querida, foi bom que veio, creio que não conheça pessoalmente. — Orlando sorriu em direção a esposa e a filha.
— Não, mesmo, mas prazer. Bem-vindo à empresa! — Seline estendeu a mão em direção ao rapaz, que a apertou delicadamente.
— Muito obrigado, senhora . — Ele desfez o contato, porém seus olhos pousaram em , que estava completamente desconfortável com aquilo, afinal, ele havia a flagrado há poucos minutos. — E essa moça linda que está ao lado da senhora, presumo que seja sua filha? — A mulher apertou a mão de , fazendo com que ela se endireitasse e saísse de trás dela.
— Sim, esta é minha única filha, . — O pai quem o respondeu, sorria orgulhoso.
— Olá, . — Ele estendeu a mão em direção a ela, que a apertou e sentiu a região formigar e suas bochechas esquentaram muito.
— Olá, . — Ela mordeu os lábios, mas sorriu.
— É a mesma coisa sempre, mãe, você poderia ter me livrado disso, se eu venho ou não, não faz diferença, meu pai sequer me nota. — A moça abriu mais o sorriso para cumprimentar alguém que ela não fazia ideia de quem era. Detestava aquele tipo de evento, entretanto os frequentou durante toda a sua vida.
— Não seja egoísta, seu pai conseguiu uma parceria incrível, isso é importante para ele, e nós como família…
— Devemos estar ao lado dele para apoiá-lo incondicionalmente. É, eu já sei esse discurso de cor e salteado. — Ela olhou para os lados, entediada. Viu um garçom passando e pegou uma taça do champagne que ele servia. Deu uma rápida golada. Trocou o peso do corpo de perna, completamente desconfortável.
— Olha, filha, aquele rapaz ao lado do seu pai, é lindo, não? — procurou com o olhar de quem a mãe falava e seus olhos pousaram no homem.
— Mãe, ele não é lindo, ele simplesmente foi esculpido pelos deuses, que perfeição! — O encarava boquiaberta. — O que ele faz na empresa? — De repente, estar naquela festa tinha ficado interessante a mulher.
— Ele é gerente de projetos e marketing, seu pai tem o elogiado muito, com certeza ele vai longe na empresa.
— Toda essa formação, e ele não deve passar dos 30 anos… Estou realmente surpresa. — Seus olhos não desgrudaram do rapaz, e ele percebendo que alguém o fitava, direcionou seu olhar na direção dela, levantou sua taça em cumprimento e ela o correspondeu. — Ah, meu Deus, ele me pegou no flagra, quero sumir.
— Ah, meu amor, por favor, não é nada demais. — A mais velha sorriu. — Venha, vamos nos apresentar a ele, um moço tão bem distinto, elegante e, com certeza de boa família, é o namorado ideal para você!
— Mãe! Por favor, não viaja! — Mas já era tarde, a mulher lhe puxava discretamente pelo local. Ela acabou não conseguindo esconder um sorrisinho de lado, seu primeiro sorriso sincero naquela noite.
— Com licença, querido. — Sua mãe cumprimentou o marido, e encabulada fitava o chão, nunca foi muito boa em socializar, ainda mais com um cara tão lindo como aquele.
— Oh, querida, foi bom que veio, creio que não conheça pessoalmente. — Orlando sorriu em direção a esposa e a filha.
— Não, mesmo, mas prazer. Bem-vindo à empresa! — Seline estendeu a mão em direção ao rapaz, que a apertou delicadamente.
— Muito obrigado, senhora . — Ele desfez o contato, porém seus olhos pousaram em , que estava completamente desconfortável com aquilo, afinal, ele havia a flagrado há poucos minutos. — E essa moça linda que está ao lado da senhora, presumo que seja sua filha? — A mulher apertou a mão de , fazendo com que ela se endireitasse e saísse de trás dela.
— Sim, esta é minha única filha, . — O pai quem o respondeu, sorria orgulhoso.
— Olá, . — Ele estendeu a mão em direção a ela, que a apertou e sentiu a região formigar e suas bochechas esquentaram muito.
— Olá, . — Ela mordeu os lábios, mas sorriu.
Capítulo Único
Ela olhava pela janela do carro, distraída, as imagens passavam como borrões por seus olhos, com certeza infringia algumas leis de trânsito. Os dois estavam quase atrasados para o evento, daquela vez o pai de era o anfitrião, havia alugado o salão de um hotel para recepcionar acionistas e possíveis investidores para a empresa e atrasos não seriam tolerados. A moça estava chateada com tudo aquilo, não era segredo a ninguém como detestava, mas para era sempre sinônimo de orgulho, ele vestia a camisa da empresa por amor.
O carro foi diminuindo a velocidade até que parasse de vez. deixou a chave na ignição para o manobrista e esperou pacientemente até que ele abrisse a porta para ela e ela descesse. ajeitou o vestido em seu corpo, segurou o braço estendido a ela e caminharam para mais uma tortura em forma de jantar.
— Vamos falar com seu pai, ele deve estar nos procurando. — Ela abriu um sorriso forçado a ele, concordando. — Olá, senhor . — Estendeu a mão a ele que a apertou firmemente.
— Se demorassem mais um pouco, ia buscar vocês. — Falou entredentes, revirou os olhos discretamente.
— Minha culpa, acabei demorando um pouco para escolher um vestido adequado para a ocasião, mas não é para tanto, meu pai, já estamos aqui e é o que importa. — Sorriu a ele, enquanto o abraçava rapidamente.
— Tudo bem. — Ele sorriu. — , venha comigo quero te apresentar alguns possíveis investidores, preciso do seu poder de persuasão. — como o belo puxa-saco que era, seguiu o pai dela, a deixando sozinha.
Infelizmente ela já estava acostumada a isso, eram dois anos de um relacionamento no qual seu namorado sempre priorizou a empresa ou seu pai. Estava sozinha ao redor de tantas pessoas, suspirou fundo, procurando por algum rosto conhecido que tornasse sua noite um pouco menos monótona, mas ninguém, a não ser algumas madames alcoviteiras e ela não queria saber de nenhuma fofoca.
Pegou uma taça de champagne e começou a explorar o lugar. Visualizou sua mãe acompanhada por mais duas senhoras, ela ia dar meia volta, mas Seline chamou sua atenção com um aceno. E devagar, ela se direcionou a ela, detestava aquelas senhoras que estavam a acompanhando, era sempre uma sessão de tortura manter diálogo com elas.
— Meu amor, está linda nesse vestido. — Sorriu, abraçando-a ternamente.
— Obrigada, mãe. Olá, senhora Graham e senhora Miranda. — As cumprimentou com beijos em suas bochechas.
— Olá, querida, temos que concordar, está deslumbrante neste vestido Prada vermelho. — sorriu forçadamente, agradecendo. — Veio acompanhada?
— Claro, de meu namorado .
— Ele é de alguma família que eu conheço? — Graham perguntou. suspirou fundo, tentando não deixar transparecer seu descontentamento.
— Guerrero. — Sorriu forçadamente. — atualmente trabalha com meu pai, é seu braço direito.
— Nunca ouvi falar… — Graham comentou ácida. engoliu a resposta que veio na ponta de sua língua, sua mãe percebeu seu desconforto e apertou seu braço delicadamente, lhe repreendendo.
— Já marcaram a data do casamento? Pelo que sei estão juntos há muito tempo. — Miranda comentou. olhou para lado e mais uma cascavel chegava, como detestava a senhora Hipólito.
— Não, ainda não marcaram, mas será em breve. — Sua mãe interviu. abriu mais um de seus sorrisos falsos para as mulheres.
— Com licença. — Saiu o mais rápido que conseguiu dali, indo para a sacada do hotel, antes só do que mal acompanhada, definitivamente.
Ela olhava aquelas pessoas todas com todos aqueles sorrisos e se sentia tão distante daquilo, era como se não pertencesse àquele mundo. Suspirou fundo, exausta. Desde que nasceu, sua vida estava traçada por seus pais, e ela não poderia de forma alguma sair daquilo que havia lhe sido proposto.
Filha única, herdaria todo o império dos e, para isso, estava no segundo ano de administração, curso ao qual ela também não pôde escolher. No auge de seus 20 anos, ela nunca pôde decidir qualquer coisa sobre ela mesma.
Sua única escolha foi estar com que, apesar de ser o genro que seu pai pediu a Deus, era um homem muito bom, gostava de sua companhia, mas longe daquele mundo podre. parecia ser outra pessoa quando estava na presença de seu pai e aquilo a incomodava muito, tanto que já tiveram inúmeras discussões sobre isso.
Apoiou seu corpo na sacada e olhou a noite que estava bem estrelada em pleno verão, tudo o que ela queria era ter coragem de ir embora para sua casa, trancar-se em seu quarto e assistir séries na Netflix até que ficasse com sono e dormisse.
— Amor, estava te procurando, seu pai quer que você conheça algumas pessoas. — Ela se assustou com a chegada repentina do namorado.
— Alguma chance de você dizer a ele que não me encontrou? — Piscou seus olhos de forma doce, tentando tocar aquele coraçãozinho de gelo.
— Não mesmo, ele me mata e você sabe. Vamos. — Se aproximou dela, roubando-lhe um rápido selinho e ela deixou-se ser levada para aquela tortura novamente.
***
remexeu-se na cama quando escutou o celular despertar, o pegou, desligando-o, tateou a cama e percebeu que estava sozinha ali. Era provável que já tenha se levantado e ido trabalhar. Hoje seria seu primeiro dia de aula depois das férias de verão na faculdade.
Levantou-se, desanimada e foi até o banheiro tomar um banho para que despertasse. Vestiu uma roupa mais simples, optou por uma calça jeans e um moletom preto, colocou um tênis Vans, prendeu o cabelo em um rabo de cavalo e desceu as escadas para tomar um bom café da manhã. Surpreendeu-se por encontrar ainda ali, achou estranho, mas depois lhe perguntaria, e sua mãe ao seu lado, seu pai já não estava mais ali.
Teve que aguentar os protestos da mãe lhe dizendo que uma não deveria se vestir daquela forma, inclusive a obrigou a subir até o quarto e trocar de roupa, bufou, mas fez o que a mãe lhe ordenou. Trocou os tênis Vans por uma sapatilha, tirou o casaco de moletom e colocou um cardigã e passou um pouco de pó no rosto.
Voltou até a sala de jantar, e a mãe abriu um sorrisinho esperto, dizendo que não estava excelente, mas apresentável. Ela revirou os olhos, sentando-se ao lado do namorado e finalmente começando seu desjejum.
se ofereceu para levá-la até a faculdade e ela prontamente aceitou, não estava com muita vontade de dirigir e seria perfeito passar mais um tempinho com o namorado.
— Confesso que estou mesmo surpresa de você não ter ido trabalhar ainda e me levar para a faculdade. A que devo a honra de tê-lo como meu motorista particular nesta manhã? — Sorriu, enquanto encarava o perfil do namorado. Mordeu o lábio, era mesmo um homem muito bonito, as vezes nem ela acreditava na sorte que tinha.
— Um namorado não pode levar a namorada no primeiro dia de aula? — Ele abriu um sorriso de lado. Ela o encarou. — Seu pai me deixou entrar mais tarde, inclusive foi ele quem sugeriu. — Ela desmanchou o sorriso no mesmo momento.
— Claro, sempre meu pai, ele pisca e você o obedece, até em decisões do nosso relacionamento ele se mete… Às vezes acho que o namoro, no fim das contas!
— … Por favor, não tem nada a ver! — Direcionou o olhar a janela, emburrada. Ele dirigiu por mais um tempo com o silêncio dela o incomodando profundamente. Ele suspirou, encostando o carro em um local. — , olha para mim. — Ele puxou o rosto dela, delicadamente. — Eu gosto tanto de você, pensei que já tivesse deixado isso claro.
— É que às vezes eu acho que você só faz essas coisas porque meu pai quer, me sinto tão frustrada…
— Não fique, se eu não deixo claro, quero que saiba que você é minha prioridade, ok? — Ela soltou o cinto de segurança e o abraçou desajeitadamente. sorriu, afagando suas costas.
— Ok. — Ela suspirou fundo. — Eu amo você, . — Soprou em seu pescoço, sentindo o cheiro de seu perfume. Ficaram um tempinho abraçados, trocaram alguns beijos até ela apressá-lo e ele colocar o carro novamente para andar. — E então? Animada para o segundo ano do curso?
— Na verdade, não. — Deu de ombros.
— Mas por quê, ? Pensa que é menos um, afinal são quatro anos. — Ele abriu um lindo sorriso, olhando rapidamente em sua direção.
— Às vezes eu tenho a impressão que eu estou fazendo porque eu tenho que fazer. — Referia-se a ultimato que seu pai tinha lhe dado sobre ela começar a cursar administração. — O que é uma tortura.
— Mas, , que outro curso você faria se não fosse esse? — Ela o encarou, buscando por uma resposta, que infelizmente não veio.
— Eu não sei, eu nunca pensei nisso para falar a verdade. Tudo sempre foi planejado em minha vida, que nunca me dei ao trabalho de tentar pensar diferente. — Olhou pela janela, desapontada. Nunca soube quando teve controle de sua vida.
— Não fale assim, , eles querem te preparar para que assuma os negócios da família, você é a única filha deles, estão preocupados com seu bem-estar.
— É, você está certo. — Preciso ser a filha que eles querem que eu seja, e a namorada que você quer que eu seja. Completou mentalmente. Ele sorriu, com a mão livre alisou sua perna, ela sorriu de volta, mas seu sorriso não era verdadeiro, mas ela já estava acostumada a sorrir assim. Ele estacionou o veículo em frente a universidade e antes que ela pudesse pensar em abrir a porta, ele o fez.
— Não sei se hoje consigo ir a sua casa, vamos nos falando pelo WhatsApp. — Ela desceu do carro e eles trocaram um rápido selinho. — Boa aula, princesa.
— Certo. Bom trabalho. — Ela agarrou a alça da bolsa com força, enquanto o via entrar no carro e sair. Suspirou fundo, entrando no campus, cabisbaixa.
Aula de economia... Para não havia matéria pior que aquela, levantou-se discretamente, pegou seu material e saiu quando o professor virou de costas, já havia assinado a lista de presença, com falta ela não ficaria.
Foi andando pelo campus, sua cabeça fervilhando em pensamentos, tudo o que vinha em sua mente era a conversa que tivera mais cedo com , se ela não gostava de administração do que gostava? Ela forçava-se a pensar, mas nada vinha a mente, e aquilo era desesperador… Teste vocacional seria interessante fazer, certo? Ela tinha que se identificar com alguma coisa.
Não percebeu que estava em frente a uma sala com alguns instrumentos, provavelmente era a sala dos alunos de música. Olhou pela janelinha da porta e percebeu que estava vazia, colocou a mão na maçaneta e a mesma estava aberta, decidiu que entraria ali. Visualizou a sala por inteiro e reparou que havia alguns instrumentos espalhados por ali, mas o que lhe chamou a atenção foi um piano, há quanto tempo não tocava em um? Desde o falecimento de sua avó materna. Se ela tinha algum conhecimento no instrumento era graças a velha senhora que sempre gostou de tocar.
Caminhou em direção ao instrumento e se sentou no banco que havia ali, levantou a tampa do piano e dedilhou por algumas teclas, sem tocar nada muito efetivo. Lembrou-se da canção Imagine do John Lennon, era uma das músicas preferidas de sua avó, procurou no celular a cifra para que pudesse se recordar e começou a dedilhar.
— Imagine there's no heaven, It's easy if you try, No hell below us, Above us only sky... — Conforme cantava e tocava, lembranças das tardes na casa de sua avó vinham com força, foi impossível não se emocionar. Sentia saudades daquele tempo. — Imagine all the people, Living for today... — Deu uma alongada na última nota.
Já não olhava mais a cifra no celular, se lembrava do restante das notas. Finalizou a música com um grande sorriso e se assustou quando escutou palmas atrás de si. Olhou para trás assustada e visualizou um lindo rapaz que tinha um grande sorriso na face. Arfou, envergonhada.
— Ah, meu Deus, me desculpe, não deveria estar aqui… — Se levantou alarmada, mas o estranho se aproximou, negando com a cabeça. Ela voltou a se sentar.
— Por favor, a sala de música pode ser usada por todos, fique tranquila, não é à toa que ela está aberta. — Ele a encarou, sentando-se ao lado dela, que por reflexo se afastou dele de forma delicada. — Você tem muito potencial, tocou divinamente bem e tem um timbre de voz tão doce… Te escutaria pela eternidade. — Sorriu, ela direcionou os olhos ao chão, completamente tímida. — Mas não conheço seu rosto, caloura no curso de música?
— Obrigada pelos elogios. — Abriu um pequeno sorriso. — Na verdade faço administração, estou no meu segundo ano.
— Puxa, você é tão talentosa, fiquei realmente surpreso agora. — Ele a encarou. — Me conte, por que administração?
— Estou fazendo administração porque… — Deteve-se, não iria contar a um estranho os reais motivos. — Porque estava em dúvida, e como administração engloba um pouco de tudo, optei por ela. Mas no caminho para cá estava em uma crise existencial, com dúvidas se fiz a escolha certa.
— Não quero parecer intrometido, mas você poderia ter escolhido esperar, refletir sobre o que realmente gosta de fazer e depois bater o martelo. Nunca foi obrigatório ter que entrar na faculdade com 18 anos.
— Sim, você tem razão, mas me senti um pouco pressionada, todos os meus colegas haviam decidido o que fazer, meus pais me perguntando o que eu queria... — Deu de ombros, mentindo.
— Sempre tenha em mente que você não é todo mundo. — O encarou, surpresa. — O que você gosta de fazer? — Pareceu ponderar, mas a resposta simplesmente surgiu com uma rapidez incrível.
— Bom, tudo o que me vem à mente agora é que gosto de tocar piano e cantar. A sensação é libertadora. — Ela o encarou com um brilho no olhar. — Era uma atividade que sempre compartilhei com a minha avó que já não está mais nesse mundo, me senti tão conectada a ela agora enquanto tocava…
— Sinto muito. — Ele tocou em suas costas em forma de afago, e involuntariamente ela se arrepiou ao toque. — Se você tivesse visto seus olhos e a forma como brilharam quando mencionou tocar e cantar… Foi muito bonito de se ver. — Ele parou de afagar suas costas, tirando a mão do local.
— Eu… — De repente ela ficou sem o que dizer. — Preciso ir. — Se levantou, com pressa.
— Nós vemos por aí. — Ele piscou um dos olhos em sua direção e ela arfou, sentindo as bochechas esquentarem. acabou sorrindo uma última vez para o rapaz, virando-se em direção a saída da sala de música.
***
e estavam jantando naquela sexta-feira fria na casa dele, haviam namorado um pouquinho e depois de sentirem fome decidiram pedir comida japonesa e bebiam um vinho de acompanhamento. Ele compartilhava sobre sua semana de trabalho, e ela tentava prestar atenção, mas assuntos ligados à empresa nunca eram de seu agrado, quanto mais afastada desse mundo, mas feliz ela era.
— E então, a gente conseguiu fechar aquele contrato, depois de tanto sacrifício. Seu pai mais uma vez ficou orgulhoso de mim, e você sabe como é gratificante para mim cada reconhecimento dele, não é? — Ela balançou a cabeça concordando. — Eu estou muito feliz! — Abriu um sorriso de lado. — Estou tagarelando tanto aqui… E você tão calada... — Segurou a mão dela, o que a fez encará-lo. — Está tudo bem com você?
— Está sim, . — Abriu um sorriso, levando a taça de vinho aos lábios. Ficaram calados por um tempo. Ele não perguntou mais e ela de repente quis contar, ele era seu namorado, deveria compreendê-la e até ajudá-la. — Na verdade, não está bem. — O despertou, ele enviava uma mensagem a alguém, mas parou o que fazia para prestar atenção nela.
— Me conte, talvez eu possa te ajudar. — Ela entrelaçou sua mão com a dele.
— Eu não sei se quero mais fazer administração, não me identifico em nada com o curso, é torturante.
— O que você pensa em fazer? Direito? Marketing? Gestão de projetos? — molhou os lábios, os umedecendo. pegou a taça de vinho e levou até a própria boca.
— Conversando com um rapaz na faculdade me fez refletir muito sobre o que eu gosto de fazer, o que eu sinto paixão... Decidi que quero fazer música. — O rapaz quase cuspiu o vinho.
— Isso é uma brincadeira, certo, ? — Ele riu, mas viu que ela não o acompanhava e inclusive o encarava de forma séria. Ela desentrelaçou suas mãos.
— Não, estou falando sério, está me vendo rir? — Arqueou a sobrancelha, não havia gostado nadinha de sua reação.
— Seu pai jamais aceitaria, , isso seria uma afronta e desgosto a ele, você é herdeira do Império Têxtil , tem que estudar e se preparar para administrar aquilo que será seu.
— Não! Não! — Largou a taça de qualquer jeito na mesa, quase a derrubando. — Eu não gosto, , eu detesto essa empresa e tudo que ela representa em minha vida, estou tão cansada de fazer coisas que não gosto de fazer!
— Você está sendo mimada, ! Para com isso, seu pai dá o sangue pela empresa, se você tem a vida que tem, é graças a ela!
— Eu não sei nem porque eu tento conversar com você, , de verdade, eu sou uma tremenda idiota!
— Eu não vou apoiar essa loucura, você está sendo irracional! Música?! Sério?! Isso é coisa de vagabundo ou de quem não tem o que fazer! — A mulher abriu a boca em completo choque.
— Meu Deus, você está sendo tão retrógrado, esperava esse argumento do meu pai! — O encarava horrorizada. — Mas não me surpreende no fim das contas. Às vezes eu acho que você está comigo porque quer uma fatia dessa empresa quando meu pai vir a falecer!
— Você está me ofendendo, . Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Você me ofendeu antes quando disse que sou vagabunda por querer ir para o curso de música. — Ela se levantou da mesa, procurou a bolsa com o olhar e a encontrou em cima do sofá. — Eu vou embora.
— Acho melhor, a gente está indo por um lado perigoso. Esfria essa cabeça, você nem parece você mesma, . — Ela deteve seus passos até a sala e suspirou profundamente.
— Talvez essa aqui seja a verdadeira e você passou dois anos sem conhecê-la de verdade. — Voltou a caminhar, pegou a bolsa e saiu batendo a porta.
Mordeu os lábios, sentindo os olhos ficarem úmidos. Chamou o elevador e o mesmo não demorou a vir, estava com tanto ódio dentro de si, sentia-se tão sozinha, não tinha com quem contar. Seu namorado, deveria ser seu melhor amigo, mas, na verdade, era o de seu pai. Sempre foi uma pessoa muito fechada, então não tinha amigos, sua vida se resumia a .
Desceu do elevador, passou pelo saguão do prédio e saiu, olhou o celular vendo que se passava das 21 horas, não queria ir para casa, não queria se sentir presa novamente. Colocou as mãos no bolso do moletom, vestiu o capuz e começou a andar sem rumo, sabia que as ruas da cidade poderiam ser perigosas, mas naquele momento seus pensamentos não estavam naquilo.
Não soube por quanto tempo andou, mas acabou parada em frente a um barzinho de música ao vivo, decidiu entrar, talvez beber um pouco não lhe faria mal. O local não estava tão movimentado, o que lhe causou estranheza por ser uma sexta-feira. Sentou-se sozinha em uma mesa, o garçom veio lhe atender e ela pediu uma cerveja. Aguardou e rapidamente a garrafa acompanhada de um copo estava a sua frente, se sua mãe estivesse ali, com toda certeza a repreenderia.
Alguém tocava alguma coisa no pequeno palco improvisado, ela direcionou o olhar e se assustou quando reconheceu aquele rosto, era o estranho que havia a visto tocar na faculdade, riu desacreditada. Ela havia passado a semana inteira, mesmo que secretamente, o procurando pelos corredores.
não sabia explicar, mas ele tinha uma áurea diferente, ao contrário dela, ele era tão leve, tão livre… Parecia não ter problemas. Não conseguiu desgrudar os olhos dele, enquanto bebia sua cerveja. O rapaz cantava tão bem, ele tinha experiência e com maestria tocava aquele violão.
Ela continuou a encará-lo, e como bar não estava tão cheio, não demorou para que ele a flagrasse, o homem abriu um sorriso bonito em sua direção, e ela acabou por corresponder, tinha sido tão espontâneo que aquilo a assustou. Terminou os acordes da música com os olhos nos dela.
— Eu conheço você, mocinha. — Ele falou no microfone e fechou os olhos, sentindo as bochechas ficarem quentes. — Galera, essa menina canta bem demais. O que vocês acham de um dueto essa noite? — Ela arregalou os olhos, negando com o dedo indicador. O pouco público que estava ali começou a se agitar, dizendo que ela deveria ir até lá. Riu sem graça, mas as pessoas não paravam de incentivá-la a subir. Levantou-se e com as pernas bambas, caminhou até o pequeno palco. — Oi! — Ele sorriu.
— Oi! — falou envergonhada.
— Conhece a música Best Part da H. E. R com o Daniel Caesar? Apesar de eu não tocá-la em meu repertório, acho que combinaria.
— Sim, eu gosto.
— Mike, você tem mais um microfone? — Ele gritou para o rapaz, que negou. — A gente vai ter que dividir o mesmo. Vem, senta aqui do meu lado. — Ele puxou outra baqueta.
— Você é louco… Meu Deus! Eu não canto nada bem. — Ficou mais próxima a ele, sentando-se ao seu lado.
— Você deveria se escutar mais vezes. — Ele começou a dedilhar a música, segurou o microfone de forma que ficasse próximo dos dois, e juntos, em tom baixo começaram a cantar a música.
Oh, ey
You don't know, babe
When you hold me
And kiss me slowly
It's the sweetest thing
You're the coffee that I need in the morning
You're my sunshine in the rain when it's pouring
Won't you give yourself to me
Give it all, oh
Foi impossível que ambos não ficassem envolvidos com a áurea e com a energia que aquela música passava, nunca haviam cantado juntos na vida, mas a forma como faziam parecia que já o tinham feito por várias vezes.
I just wanna see
I just wanna see how beautiful you are
You know that I see it
I know you're a star
Where you go I follow
No matter how far
If life is a movie
Oh you're the best part, oh oh oh
You're the best part, oh oh oh
Best part
Aquele trecho havia balançado , e enquanto cantavam, seus olhos se fixaram aos dele, era tão puro e genuíno o sentimento que estava sentindo… O rapaz a encarava de um jeito que a deixava despida, parecia que com tão pouco ele sabia como decifrá-la, como ninguém nunca o havia feito na vida.
Terminaram a música com grandes sorrisos, o público aplaudia veemente, ele levou os olhos aos seus lábios, e ela recuou rapidamente, sabendo que a intenção dele poderia ocasionar em algo errado.
Virou-se ao público, agradecendo contente, nunca imaginou que cantasse tão bem daquele jeito, as pessoas realmente tinham gostado e se ela tinha alguma dúvida, foi sanada naquele momento.
— Obrigada, mais uma vez. — Ele lhe deu uma piscadela e ela ia descendo do palco, mas a sua fala a fez parar:
— Me espera terminar, só falta umas quatro músicas, quero conversar um pouco com você. — Ela ponderou, porém decidiu que não seria uma boa ideia, afinal, ela namorava e era nítido que o rapaz tinha segundas intenções no ato.
— Não posso, está ficando tarde.
— Me diz pelo menos o seu nome… — Fez uma carinha fofa, abriu um sorriso instantâneo.
— …
— Bonito nome, não esquecerei. — Piscou novamente para ela. — Para que estejamos familiarizados em um próximo encontro, grava o meu nome também, é . Nos vemos na Universidade.
— Nos vemos. — Finalmente desceu do palco, e ele retomou os acordes do violão dessa vez tocando uma música mais animada. Ela pagou pela cerveja, tendo os olhos do rapaz avaliando-a a cada movimento, se virou uma última vez, acenou para ele que acenou de volta, e ela foi embora do local, dessa vez chamando um motorista de aplicativo e tendo como destino sua casa.
Seus pensamentos voaram para instantes atrás, tinha sentindo uma energia incrível por ter cantado com o rapaz, queria ter mais daqueles momentos… E tinha algo dentro de si que havia ficado mexido com o contato tão íntimo que compartilhou com ele, não tinha como negar, estava se sentindo extremamente atraída por ele e aquela era uma zona proibida para quem tinha um relacionamento sério.
Suspirou fundo enquanto aguardava, aquela noite só veio reforçar aquilo que ela já estava com vontade de fazer desde que havia conversado com , na segunda-feira ela procuraria a secretaria do campus e trocaria de curso. Já não tinha nenhuma dúvida, era isso o que ela queria.
***
Havia conseguido trocar o curso na faculdade, sem precisar notificar os pais, mas sabia que uma hora teria que contar, só não sabia como abordar o assunto. Estava nervosa, seria seu primeiro dia de aula no novo curso.
Nesse meio tempo não havia trocado uma mensagem sequer com , essa era a primeira vez que tinham passado tanto tempo sem se falar. Sabia que não estava errada, então não daria o braço a torcer. Entrou na sala e sentou na carteira mais afastada, foi pegando seu material, para a disciplina de Produção Musical.
— Olá. — Uma moça se sentou próxima a ela com um grande sorriso.
— Oi. — Sorriu, encarando a moça.
— Me chamo Katherine Evans. — A moça estendeu a mão em direção a ela, que a apertou.
— . Perdi uma semana de aula, estou muito ferrada?
— Na verdade não, foi mais apresentação das disciplinas, dos professores, nada demais. Nessa semana acho que as coisas começam a andar. — Concordou com um pequeno sorriso. — Se não for muito indelicado perguntar, e tudo bem se não quiser responder, mas perdeu a primeira semana, por quê?
— Teoricamente, eu não a perdi, eu fiz um ano de administração, mas não era o que eu queria, então me transferi para cá, acho que agora me encontrei.
— Ah, meu Deus, que loucura, mas nunca é tarde para descobrir o que gosta, certo? O importante é que você se encontrou. Você escolheu música, por quê?
— Porque eu amo cantar… Quero descobrir muito mais sobre o que a música pode me oferecer. E você?
— Já vou te adiantando que o curso de música não é só isso, hein? — Brincou. — Bom, eu quero lidar com os bastidores, quero trabalhar com produção musical, é uma área incrível e que merece grande enaltecimento.
— Certo, muito bom. Mas eu imaginava que o curso não é só isso, quero ver muito mais o que ele pode me oferecer, tenho certeza que não vou me arrepender.
— Já gostei de você. — Sorriu, enquanto a encarava. — Bom, essa aula é uma das melhores... Por que será, não é? — Riu. — Mas o professor me pareceu uma boa pessoa também.
— Sério? E como ele se chama?
— Bom dia, gente. — Ah não, não e não, esses eram os pensamentos de após escutar a voz de quem lecionaria a disciplina. Ela se afundou ainda mais na carteira.
— Ele é o professor? — Sussurrou.
— Não, esse é o , o monitor, ele está no último ano do curso, mas pelo o que nos foi explicado, ele nos auxiliará nos relatórios das atividades complementares, acho que conta como bônus para ele, ele até explicou, mas eu não prestei muita atenção.
— Ah. — suspirou, aliviada. Mas se repreendeu no instante seguinte, por que estava aliviada se não ia ter nada com ele? Balançou a cabeça em negação.
— Ele é um gato, não é? Todas as meninas ficam em cima dele para tirar dúvidas, mas, no fundo, todas querem é o WhatsApp dele. — riu.
— E ele namora?
— Sabe que eu não sei? Mas acho que não… Ficou interessada também, não é? Eu não te culpo.
— Ah, não, eu tenho namorado. — Mostrou a aliança para Kath. — Só perguntei por curiosidade mesmo.
conversava com as meninas e ainda não tinha a visto, tinha agradecido por isso, não gostava das sensações que o rapaz lhe causava. Mas como o destino gostava de brincar com ela, não demorou para que ele a visse. Não era segredo para ninguém que o homem havia gostado dela desde a primeira vez que a viu tocando piano na sala de música, algo nela o deixou intrigado e curioso, e adorava se sentir assim.
Ele caminhou em direção à mesa dela, e abriu um sorriso lindo, que a fez sentir as bochechas ficarem quentes, tudo o que ela pensava era que tinha que ser proibido que o rapaz sorrisse daquele jeito.
— Ei, ! Estou realmente feliz por te ver aqui.
— Oi! Ah, pois é. — Kath os encarava em completa surpresa, então quer dizer que a novata conhecia ele... Tinha achado aquilo bem interessante. — Tenho que te agradecer por aquela conversa daquele dia, me fez abrir os olhos.
— Que nada. Inclusive, sou o monitor das atividades complementares, peço que me encontre na hora do intervalo para eu te explicar como funciona.
— Tudo bem, sem problemas por mim. — O rapaz umedeceu os lábios, enquanto a fitava.
— Certo, nos vemos depois. — Saiu da sala e deixou uma extremamente sem graça com toda aquela atenção direcionada a ela.
— Ok, você já o conhece e parece que bem… — Katherine abriu um sorrisinho malicioso.
— Não, conversamos duas vezes só, não é nada demais, não malicie. Eu já disse, tenho namorado. — fechou a face.
— Tá bom, não está mais aqui quem falou, mas você terá que deixar isso mais explícito, viu, digamos que só pelo jeito que ele te olha e a sua postura, indicam que ele está afim.
— Bom dia, turma! Vamos trabalhar?! — O professor interrompeu a resposta que daria a Katherine.
Ela não era boba, havia percebido e a noite do barzinho só havia afirmado aquilo. Katherine nem a conhecia, mas ela tinha razão, ela deveria mesmo deixar as coisas claras a ele, antes que chegasse a um ponto em que ela perdesse o controle.
havia saído uns minutinhos mais cedo da aula, estava ansioso para encontrar de novo, estava louco por aquela mulher, e já não conseguia esconder aquilo. Esperou do lado de fora da sala dela e não tardou muito para que a visse saindo.
— Oi! — Ela colocou a mão no peito, assustada. — Não foi minha intenção te assustar, me desculpe.
— Está tudo bem. — Sorriu. — Vamos ao refeitório, comemos algo e você me explica. — acenou a Katherine em despedida e juntos eles foram em direção ao local.
— Você podia ir mais vezes no Dod’s, foi muito legal o dueto que a gente fez. — colocou as mãos no bolso, enquanto a encarava.
— Sim, gostei bastante, aquele momento foi o divisor de águas, eu ainda tinha um pouco de dúvidas sobre mudar ou não de curso, mas cantando para aquelas poucas pessoas me fez perceber o quão eu quero isso para mim e antes que me diga, eu sei que a faculdade de música não é só isso.
— Isso é verdade. Você vai entender com o tempo de curso, e poderá até gostar das outras áreas. Eu, por exemplo, gosto de cantar, tocar, mas também amo lecionar, inclusive me inscrevi para a monitoria exatamente por isso. — Chegaram ao local, fizeram seus pedidos, pagaram e foram em direção a uma mesa.
— Está aí, algo que eu gostaria de fazer também, lecionar… Dar aulas de canto. — Ela deu uma mordida em seu lanche natural. — Conversar com você sempre me faz enxergar por outra perspectiva.
— E isso é bom ou ruim? — Fez uma caretinha.
— Hum… Deixa eu pensar. — Brincou. — É maravilhoso, você sempre sabe o que dizer.
— Que nada. — Bebericou um pouco de seu suco de laranja. — Mas e seus pais, aceitaram bem?
— Eu posso não ter contado ainda. — As sobrancelhas do rapaz se juntaram. — É uma história bem complicada, .
— Se você quiser me contar, serei um bom ouvinte. — Ela suspirou fundo. estava sendo o mais parecido de um amigo para ela, de repente compartilhar com alguém que não tivesse tão dentro de sua realidade lhe faria bem.
— Olha, eu sou filha única, meu pai é empresário, e ele tem como objetivo que eu seja a nova CEO da empresa, inclusive eu estava fazendo a faculdade para assumir os negócios da família, mas eu não gosto, nunca gostei. Eu tive meu destino traçado no momento em que eu nasci, mas eu me cansei. Eu tenho direito a escolher as coisas que eu gosto de fazer, certo?
— Acho que isso é o mínimo para qualquer pessoa. Eu não faço ideia do que é isso que você está passando, mas compreendo. Quando eu escolhi música, meus pais não gostaram no início, afinal, as pessoas têm certo preconceito, mas hoje em dia, eles me apoiam muito, porque sabem que é o que eu gosto de fazer.
— Queria ter pais compreensivos como os seus. — suspirou fundo.
— Talvez eles relutem no início, vai ser um choque, mas eles terão que aprender a lidar, ninguém deve direcionar a sua vida.
— Tenho medo que eles não aceitem e me façam trancar o curso. Você não tem noção, , de como meus pais são.
— Você é bolsista? — Ela negou. — Seu pai paga a faculdade mensalmente?
— Quanto a isso eu não me preocupo, meu pai quitou a faculdade inteira ano passado, tanto que quando eu pedi a transferência de cursos, apesar de eu ter feito um ano de administração, não teve quase diferença de valores, porque o bacharel em música é mais barato que administração.
— Entendo, tudo conspirou ao seu favor. — Ele sorriu, dando mais uma mordida em seu lanche e terminando a refeição.
— Sim, tudo mesmo, mas não é algo que eu possa esconder, estou criando coragem para contar.
— Vai dar tudo certo, , se não der, sabe que estou aqui para o que precisar. — Ele segurou a mão dela, a apertando com a sua. Ela mordeu os lábios, gostando da sensação de ter sua mão envolta da dele.
— Obrigada. — Se encararam por um tempo, até ela desviar o olhar e desfazer o contato. — Conversamos demais e você não fez aquilo que deveria, me explicar como funciona as atividades complementares.
— É inevitável não desviar do foco quando estou ao seu lado. — Deu uma piscadinha para ela com um sorriso de canto. Ah, , já havia percebido sua tática de seduzi-la.
— Bobo! — Sorriu, enquanto o via pegar dentro da mochila algumas folhas.
***
Já estava virando uma constância, desde a primeira vez que passaram o intervalo juntos, os próximos dias foram assim naquela semana. havia largado seus amigos de curso para passar todos os intervalos ao lado de , era inevitável, sempre que podia, queria estar ao lado dela. havia adorado, depois de tanto tempo ela tinha alguém que poderia chamar de amigo.
Ela o esperava do lado de fora da sala para irem embora juntos. Ele saiu do local sorridente e passou o braço pelo ombro da moça, começando a andar em direção à saída.
— Não estou com a mínima vontade de voltar para casa, , que desânimo. — Já fazia cinco dias da briga entre ela e , ele não havia a procurado, e ela tampouco, não daria o braço a torcer, estava cansada de fingir estar tudo bem para agradá-lo, ele precisava entender que as coisas não eram assim.
— Bom, eu tenho meia hora, tenho que trabalhar, mas a gente pode ir na sala de música tocar alguma coisa. — Deu de ombros, ela balançou a cabeça, concordando.
no período da tarde trabalhava em uma loja de CDs e vinis. Era assim que complementava sua renda e conseguia manter as despesas. Era bolsista, e não era da cidade, morava no interior, havia ido para a capital exclusivamente para estudar e de sexta a domingo tocava no barzinho e as vezes fazia alguns bicos em buffet. Adentraram a sala de música.
— Você é a garota do piano. — Ela sorriu, negando.
— Não é bem assim, eu sei tocar alguma coisa ou outra, não sou expert não, ok? Mas confesso que desde a primeira vez que toquei aqui, tenho pesquisado algumas cifras. — sorriu. Tirou o pano que cobria o piano, levantou a tampa do instrumento e procurou no celular a música que queria tocar. — Segura assim para mim, . — Deu o celular na mão dele e o ajeitou de uma forma que ele pudesse visualizar. — Skinny love da Birdy, conhece?
— Conheço sim, apesar de não saber a letra de cabeça. — A viu começando a dedilhar a melodia no piano.
— A cifra não é tão difícil, mas não estou completamente confortável. — Sorriu. — Come on, skinny love, just last the year, Pour a little salt we were never here, My, my, my, my, my, my, my, my, Staring at the sink of blood and crushed veneer… — Era muito bonito ver como tocava, era um brilho lindo em seu olhar, que o fazia não querer desgrudar os olhos dela. Ele foi a acompanhando em alguns trechos na música, até a última estrofe.
— Who will love you? Who will fight? Who will fall far behind? Come on, skinny love, My, my, my, my, my, my, my, my, my. — Ela foi terminando de dedilhar as teclas até que finalizasse tudo.
— Eu poderia ver você tocando a vida inteira que eu não me cansaria, , você é maravilhosa.
— Obrigada. — Ela o encarou, e viu o quão próxima dele estava, conseguia ver algumas pintinhas que ele tinha espalhadas pela face, seus olhos de um tom tão bonito, ela os encarava e sentia-se perdida, tinha um olhar muito marcante. O rapaz se aproximou mais, ela não se moveu.
— Atrapalho algo? — virou-se bruscamente em direção a porta, sabia de quem era aquela voz. Da porta da sala apareceu com uma cara muito brava. A proximidade deles…
— Claro que não. , este é , meu namorado. , este é , meu amigo. — se levantou do banco, desconcertada, se não tivesse aparecido, ela com certeza não saberia o que poderia ter acontecido.
— Prazer. — nada disse, apenas fez um gesto com a cabeça.
— Vamos, , a gente precisa conversar. — Ela concordou, pegando sua bolsa que havia ficado em cima do piano. Acenou a e saiu da sala acompanhada do namorado. — Se eu não tivesse chegado você com certeza teria beijado esse cara. — Ela arregalou os olhos.
— Você está louco? Jamais, meu Deus. Ficamos envolvidos com a vibe de uma música, eu te respeito, acho que namoramos ainda, não é?
— Me responde você, anda tão diferente que eu já não sei de mais nada. Cinco dias, e você não me mandou uma mensagem sequer.
— Exato, por que tinha que ser eu? Não, , eu não estava errada, não tem porque eu te pedir desculpas, você me ofendeu.
— Eu te ofendi? Quem me chamou de interesseiro? — Bufou alto. — Não vim aqui para que a gente brigasse mais… Mas vejo que você está até me trocando por outro já.
— Não estou, isso soa absurdo, ! é meu amigo e não vai passar disso.
— Você ainda me ama, ? — Ela balançou a cabeça, concordando, se fosse há um tempo ela estaria convicta, mas dentro de seu íntimo as coisas já não eram como antes. Ele a abraçou apertadamente. — Eu senti tanto a sua falta, querida.
— Eu também senti. — Ela correspondeu ao abraço, fechando os olhos fortemente.
— Me desculpa, não quero ficar mais longe de você. — Ela suspirou fundo.
— Eu também não quero. — Se separaram do abraço e ele se aproximou dela a beijando ternamente, ela o correspondeu, mas enquanto o tinha em seus braços, a imagem de veio a sua mente. Ela o empurrou, assustada.
— O que foi? — A encarava surpreso, com os lábios vermelhos.
— É, bom… É… Estamos em público, não é adequado. — Sorriu, sem graça, extremamente nervosa.
— Você tem razão. Vamos embora, quero que almoçamos juntos, te deixo em casa e depois eu volto a empresa. Contei ao seu pai que estávamos brigados, e ele até achou uma boa ideia que eu viesse aqui.
— Então a ideia foi do meu pai... — Riu, nervosa. — Claro, tinha que ser mesmo.
— , eu não disse que a ideia foi dele, disse que contei a ele e ele achou uma boa ideia. — Revirou os olhos, chateada.
— Está bem, vamos embora logo, estou com fome. — Desistiu do assunto. O puxou pela mão para que saíssem do campus.
espiava tudo calado, decepção, era essa a palavra que passava em sua cabeça. Que merda! Estava gostando de uma menina que amava outro cara… É, nunca tivera muito tato para essas coisas. Por que não havia reparado nos sinais? sempre se esquivando dele, e tinha o anel… Aquele bonito anel no dedo anelar direito dela, não era enfeite no fim das contas. Tolo, imbecil! Segurou fortemente a alça da mochila e saiu dali.
O jantar corria bem para um sábado à noite, felizmente todos estavam ali, era a primeira vez naquela semana, era a oportunidade perfeita para lhes contar que havia trocado de curso há exatas duas semanas. Ela havia escondido até do namorado, sabia que ele era contra, mas mentir daquele jeito a estava sufocando. Era melhor abrir o jogo de uma vez. A comida estava sendo difícil de engolir, mas se esforçava porque detestava desperdício. Eles estavam embalados em uma conversa animada, enquanto tudo o que ela queria era sumir.
— Não é, ? — Seline a encarou com um enorme sorriso.
— Me desculpe, não prestava atenção ao assunto. — Cutucou a comida, sem graça.
— Falávamos sobre o evento dos Stanleys semana passada e como foi rentável ao seu pai. — comentou, tinha um enorme sorriso, como sempre, fazendo o seu papel.
— Ah. — Deu de ombros, voltando sua atenção ao seu prato.
— Filha, você anda tão estranha esses dias, está tudo bem com você? — Seline a encarava preocupada. respirou fundo, largando os talheres no prato, fazendo um ruído que foi censurado com olhar por sua mãe.
— Eu também tenho a notado estranha por esses dias, quando toco no assunto, ela evita. — concordou com a sogra. Seu pai só encarava a cena, calado.
— Estão certos, estou escondendo algo de vocês… — Suspirou, arrumando um jeito delicado de falar aquilo, obviamente falhou. — Mudei de curso na faculdade, estou matriculada em música. — Seline engasgou-se com a saliva.
— Não acredito que fez isso, ! — arregalou os olhos, sabendo que a casa ruiria em poucos segundos.
— Sim, eu fiz e foi a melhor decisão da minha vida! — O encarou brevemente.
— , você sabia dessa maluquice e não me comunicou?! Você me deve lealdade! — olhava para o pai incrédula demais. Como assim, ele devia lealdade ao pai?
— Eu achei que ela não o faria, nunca pensei que… Me desculpe, senhor , estou muito arrependido. — A moça o encarava extremamente magoada.
Ele parecia um cachorrinho que havia aprontado, não sabia como se defender. era um capacho mesmo de seu pai, e aquilo era muito deprimente, só agora depois de dois anos ela foi capaz de conseguir perceber aquilo com tanta clareza.
— , onde você está com a cabeça?! — Seu pai alterou o tom de voz. — Você tem uma empresa para gerenciar daqui alguns anos, você não pode simplesmente mudar de curso, tem que fazer administração, isso não é uma escolha. — Ela negava com a cabeça com um sorriso morto. — Vamos voltar a universidade segunda-feira, e conversaremos para trocar seu curso novamente, entendido?
— Filha, por favor, tenha mais juízo! — Sua mãe comentou com a voz estranha após o engasgo.
— Não! Chega! Eu não estou perguntando a opinião de vocês, eu já tenho maioridade e posso fazer minhas escolhas.
— E quem vai cuidar da empresa quando eu vir a faltar?
— , deixa tudo no nome dele, ele é o filho perfeito que você não tem. — Os pais a encaravam horrorizados. — Tem os outros sócios também, eu não me importo, eu nunca quis isso para mim. Eu cansei de ser a boneca em que todo mundo nessa mesa brinca, isso acabou aqui e agora! — Ela jogou o guardanapo na mesa, enfurecida. Levantou-se empurrando a cadeira ruidosamente. encarava a namorada espantado demais.
— Se você não voltar ao curso de administração na segunda, esqueça os cartões de crédito, seu carro, roupas novas, você estará por conta própria, eu não vou custear seus caprichos.
— Se esse for o preço para a minha liberdade, eu aceito muito feliz. — Saiu pisando forte da sala de jantar.
— , eu ainda não terminei! — O homem gritava, mas ela já subia as escadas, o ignorando. — Você é um imbecil, , saia da minha frente agora! — O rapaz se levantou alarmado, caminhando para a saída da casa. Seline encarava o marido em choque.
— De onde vem essa revolta toda, Orlando? sempre foi um doce de menina, agora vem cheia de ideias revolucionárias, onde erramos?
— Eu não sei, mas ela vai voltar a fazer administração sim, não aceito! Música... Eu lá tenho filha à toa?! De jeito nenhum!
trancou a porta do quarto e se jogou na cama, emburrada, mas em partes, aliviada por ter finalmente contado aquilo que lhe tirava o sono. O problema agora seria enfrentar o que poderia vir a acontecer, sabia como seu pai era, se ele tinha dito que ela estava por conta própria, ela sabia mesmo que estava.
— E então? Como foi com seus pais, ? — sentou-se ao seu lado após buscar a refeição deles.
— Péssimo, eu contei, teve muita gritaria e ameaças, resumindo, meu cartão de crédito está bloqueado, tirou meu carro, e tudo o que você possa imaginar, estou por conta própria. De acordo com meu pai, eu só terei minhas “regalias” de volta, assim que voltar ao curso de administração, e isso está longe de acontecer.
— Nossa, eu sinto muito. — Ele segurou a mão dela, acalentando-a.
— Está tudo bem, eu já sabia o que poderia acontecer, posso lidar com isso. — Deu-lhe um sorriso triste. — Estou à procura de emprego, inclusive, se souber de alguma coisa que não exija experiência, eu estou dentro.
— Bom, eu faço as vezes uns bicos em buffet, não é uma grana muito alto, mas, pelo menos, vai dando para você sobreviver.
— Feito, eu agradeço, , já disse que você é o melhor amigo que alguém poderia ter? Se eu não disse, quero deixar isso bem claro. — Sorriu realmente agradecida. O rapaz sentiu um incomodo grande ao escutar aquelas palavras, ele não queria ser só amigo dela, mas era a única coisa que teria, tinha que se contentar.
— Hoje ainda não. – Sorriu. — Vou conversar com a menina que sempre me passa os bicos. Posso ver também no barzinho que toco, se não rola de você ganhar por fazer parceria comigo, mas esse eu não posso afirmar.
— Obrigada, de verdade. Você está fazendo por mim o que nunca teve coragem de fazer. — Mordeu os lábios, temendo as lágrimas que viriam a seguir. — Estou tão decepcionada, acho que meu namoro foi uma mentira.
— Por que diz isso?
— Sábado, durante o jantar, foi a gota d’água. Creio que nos termos sido apresentados naquele evento foi premeditado, foi minha mãe que chamou minha atenção para ele. – Suspirou fundo, limpando rapidamente as lágrimas que desciam. — Cada passo na nossa relação, meu pai ou ela sempre estavam presentes, agora faz tanto sentido. nunca me amou, ele nunca falou um eu te amo, só queria agradar meu pai e conseguir sua confiança. Eu não queria enxergar, , porque dói, mas essa é a realidade. — As lágrimas já banhavam seu rosto.
— Meu Deus, … — Ele a abraçou de lado, tentando de alguma forma consolá-la. — Você é uma pessoa maravilhosa, me corta o coração te ver desse jeito.
— Obrigada por estar ao meu lado durante todo esse processo de autodescobrimento, você tem um papel fundamental nisso tudo.
— Estou aqui para o que precisar, você sabe disso. — Ela assentiu, apertando-se ainda mais ao seu abraço. — O que fará com relação ao seu namoro?
— Nunca foi verdadeiro, sabe? Então eu vou fazer aquilo que deveria ter feito desde o início, colocar um ponto final. Alguém que é leal ao meu pai, não é leal a mim ou aos meus ideais. — Fungou. – Só que não é fácil, sabe? — Sentiu a voz embargar e arranhou a garganta.
— São dois anos, quem disse que é fácil?
— Oi, , estava preocupado com você, não atendia minhas ligações, não respondia minhas mensagens, não estava entendendo seus motivos, afinal, a briga foi com seus pais, não comigo. — tagarelava sem parar enquanto entrava pelo apartamento do rapaz como um furacão.
— Terminou o monólogo? — Ela se sentou no sofá enquanto tinha os olhos fixos ao rapaz. Ele assentiu. — Sente-se aqui, quero conversar sério com você. — Bateu uma das mãos no sofá, ele o fez.
— Ok, sobre o que quer conversar?
— Você e eu e nossa relação de mentirinha. — Foi direita, o assustando.
— Relação de mentirinha? Você está louca, ?
— Não estou não, estou sendo bem racional aqui, vamos lá, , me conte a verdade sobre tudo.
— Do que está falando? — Se levantou bruscamente do sofá, confuso.
— Meu pai te pagou para ficar comigo?
— Claro que não, você falar algo assim me ofende, eu já te disse que não sou interesseiro, inclusive foi de muito mal gosto você falar a seu pai para deixar a empresa em meu nome.
— Talvez eu acredite que você não seja interesseiro, então me explica, por que você deixava meu pai ter tanta influência em nossa relação? — O rapaz ficou calado, pensativo.
— Seu pai é uma figura muito autoritária, você mais do que ninguém sabe disso e, bom, namorar você, sua única filha, era algo muito complexo. — o encarava apática.
— No início você se interessou de verdade por mim ou por eu ser a filha do seu chefe? Por favor, pelo dois anos de namoro, seja sincero comigo uma única vez. — soltou o ar com força dos pulmões.
— As duas coisas. — Ele se sentou novamente, a olhando. — Seu pai fazia muito gosto que nós namorássemos, Império Têxtil é uma das melhores empresas no ramo, almejava conquistar sim a confiança de seu pai, eu faria qualquer coisa por isso. — Ela fez uma careta, doía escutar aquilo. — Mas quando eu te olhei, percebi que não seria sacrifício nenhum estar ao seu lado. Você é linda demais e uma mulher incrível. — Ele se aproximou para tocá-la e ela recuou. Fechou os olhos e lágrimas saíram por eles.
— Eu estou me sentido um lixo, porque no fundo eu já sabia de todas essas coisas e preferi fingir não perceber, era cômodo para mim. – Se levantou do sofá, limpando as lágrimas de forma brusca.
— Não foi desse jeito…
— E como foi? , por Deus, eu estou sendo sensata, seja também! Você queria ser o queridinho do chefe e conseguiu isso. Parabéns, agora não precisa mais de mim, conquistou tudo o que almeja. – Suspirou fundo. — Eu nem preciso dizer que acabou, não é?
— , por favor, vamos conversar. No começo foi, mas hoje eu gosto mesmo de você.
— Eu te amava, entende a diferença? Você nunca sentiu o mesmo, eu sei. Segue sua vida. — Caminhou em direção a porta, mas parou, segurando a maçaneta. — Ah, para que você não se prejudique com meu pai, diga que eu enlouqueci, e eu terminei com você. — Saiu batendo a porta do apartamento, o deixando sem reação nenhuma.
Apertava o botão daquele elevador incessantemente como se aquela ação fizesse com que o mesmo chegasse mais rápido ali, doce ilusão. queria se trancar em seu quarto e nunca mais sair, estava chateada, triste e desiludida. Havia sido enganada e manipulada demais por toda a sua vida.
***
Quatro meses após o término haviam se passado, foi difícil, mas já conseguia se enxergar em sua melhor versão, estava mais serena e mais feliz, tudo graças a companhia de , que se mostrou mais do que um amigo, tornando-se senão uma das pessoas mais importantes de sua vida.
Seu pai nunca mais lhe deu um centavo sequer, e em uma das discussões que eles tiveram a colocou para fora de casa, mas a mãe da garota não permitiu, dizendo que aquilo estava passando dos limites e que se fosse embora, ela também iria.
Desde então, , passava a maior parte dos dias fora daquele recinto, ficava altas horas na faculdade tocando, estudando, ou trabalhando como garçonete em festas junto a . O dinheiro não era muito, mas com certeza a fazia conseguir comprar algumas materiais para faculdade, ou mesmo comprar coisas de uso pessoal para ela, não estava sendo fácil, mas, com certeza, valeria cada esforço.
O rapaz desistira de se declarar a , sabia que ela estava em uma fase que não era adequada para um novo relacionamento, por isso ficava na dele, na espreita, sendo o melhor amigo que ela poderia ter. Se ela, ou quando ela tivesse pronta, talvez ele tentasse algo, ou talvez não, temia estragar a amizade tão bonita que eles tinham.
Em uma dessas noites de sexta-feira no qual serviu como garçonete em um evento, chegou por volta de umas duas horas da manhã em casa, tudo o que ela mais precisava no mundo era de um banho bem quente, e sua cama, estava muito cansada. Assim que ligou a luz do quarto, tomou um susto com a mãe sentada em sua cama, adormecida.
— Mãe? — A mais velha despertou com a voz dela. — O que faz aqui? — Deixou a mochila que carregava na cadeira, ao lado da porta.
— Te esperava… Nem parece que moramos na mesma casa, , você sai, não toma café da manhã conosco, não te vejo durante as outras refeições, está tão mudada, querida. Custo a acreditar… — A estudante de música suspirou fundo, cansada de escutar aquilo.
— Estou ajudando meu pai, não nos encontramos, é como se não morássemos juntos, eu não me esqueci da expulsão, mãe, estou juntando dinheiro, tentando achar um emprego fixo para sair de casa.
— Não fale isso, ok? Eu não vou permitir, que besteira, aqui é sua casa, sempre foi e sempre será, seu pai estava de cabeça quente, foi da boca para fora.
— Não foi, mãe, a senhora sabe disso… Mas enfim, não quero ter essa conversa agora, por que me esperava?
— Amanhã temos um evento de seu pai, é importante que vá.
— Eu não frequento mais esses eventos, mãe, achei que já tivesse deixado isso claro, chega, eu só faço o que eu quero agora. — A mais velha soltou o ar que prendia nos pulmões, a filha não facilitaria em nada.
— Seu pai está concorrendo ao empresário do ano, , ele é o favorito ao prêmio, não é qualquer evento, é o evento. Ele está tão radiante, querida. Finalmente foi reconhecido, precisa que nós o apoiemos.
— Mãe…
— Por favor, pense com carinho. Esteja ao meu lado para prestigiá-lo.
— Ele não vai me querer lá…
— Ao contrário, ele quer sim, querida, ele pode estar magoado com você, mas ele te ama muito, e mesmo que você não compreenda tudo o que fazemos a você, é por amor.
— Chega, eu não quero escutar as razões das atitudes devassas de vocês, não tem explicação.
— Ok, de qualquer forma, tomei a liberdade de comprar um vestido lindo a você, esteja lá querida, só mais essa vez. — suspirou fundo. Abriu a porta do quarto, em um gesto mudo para que a mãe saísse do cômodo. — Dorme bem, querida. — Balançou a cabeça, afirmando, fechando a porta assim que a mulher saiu.
Foi tirando a roupa de qualquer jeito e rumando ao banheiro de seu quarto, colocando em cheque os prós e contras sobre ir ou não ao evento, a lista pesando muito mais aos contras.
— , querida, está linda! — Seline tinha os olhos brilhando enquanto via a filha descendo as escadas. — Não está, Orlando? — Perguntou ao homem que estava sentado no sofá, que murmurou um sim em resposta quando a visualizou. negou com a cabeça, Deus sabia o sacrifício que era para ela ir a aquele evento.
— Podemos ir? Não posso chegar atrasado. — O homem resmungou, e as duas assentiram saindo porta fora da mansão.
Não soube quanto tempo foi o trajeto até o local onde seria o evento, mas percebeu que não era tão perto assim da residência deles. Desceram do mesmo e percebeu que aquele evento era mesmo diferente, tinha até alguns fotógrafos ali. Agora compreendia o porquê era importante que fosse, tinham que aparentar ser a família feliz de propaganda de margarina. Já estava se arrependendo da decisão que havia tomado.
Entrou sem forçar simpatia, inclusive recebendo alguns apertos no braço da mãe para que sorrisse nas fotos, ela não fingiria nunca mais ser quem não era, então permaneceu séria em todas as fotos. Foram liberados para entrarem.
entrou pelo evento e logo foi apresentada para inúmeras pessoas, sempre muito séria e calada, as vezes lhe escapava um sorriso ou outro quando era elogiada. Enquanto estava em uma roda de conversas com sua mãe, ela notou um rosto muito familiar por ali. Pela primeira vez naquela noite ela sorriu verdadeiramente, pediu licença e caminhou em direção a pessoa, porém sentiu seu braço ser segurado. Fechou o sorriso quando percebeu quem era.
— Oi, , como está? — A moça suspirou fundo, enquanto o encarava.
— Olá, , estou muito bem, e você?
— Estou indo, na medida do possível. – Ele abriu aquele sorriso de lado, o sorriso que sempre a abalou, mas que agora não a abalava mais.
— Que bom, mas eu preciso ir. — Forçou um sorriso, tentando sair, mas ele novamente segurou seu braço. Ela revirou os olhos.
— Você não sente um pingo de saudades de nós dois?
— … Primeiro de tudo, aqui não é lugar para isso, e não, não sinto saudades de um relacionamento de mentira, estou muito mais feliz agora. Agora eu já posso ir?
— Que hostilidade, meu Deus. Está mesmo muito diferente.
— Você não tem ideia do quanto. — Soltou-se de sua mão e retomou a caminhada em busca da pessoa, mas não a perdeu de vista. Bufou baixinho, decidida a procurar. Sorriu quando o viu segurando a bandeja em suas mãos. Se aproximou com um grande sorriso no rosto. — Olha, quando me disse que trabalharia em uma festa, não imaginava que fosse nessa aqui.
— , oi! — Ele se virou com um enorme sorriso e lhe deu um beijo na bochecha. — E o evento que você viria com sua família seria justamente esse? A vida gosta mesmo de nos pregar peças.
— Com certeza sim, estou tão feliz que você esteja aqui, mesmo que a trabalho. Me sinto sufocada nesses eventos, é tanta gente falsa.
— Devo concordar, em todos as rodinhas que eu estou levando os champagnes, sempre tem alguém falando mal de alguém. — Ela deu de ombros.
— Vou precisar buscar algumas taças, se não, você sabe. — Ela concordou, mas fez um pouco de manha.
— Não me deixe só, de longe você é a melhor pessoa dessa noite. — Ele deu sua piscadinha característica, e foi retomando os passos com a bandeja.
— Eu volto. — sorriu, enquanto o encarava caminhar para longe dela. Suspirou, encarando as unhas. Ele terminou de pegar as taças vazias, levando-as para a cozinha, para que pudesse abastecer a bandeja novamente.
— Uma taça por seus pensamentos. – Ele surgiu na frente dela, que aceitou a taça estendida em sua direção.
— Nada que você já não possa não imaginar. — Levantou a taça, bebericando um pouco o conteúdo dela. — está aqui.
— E como você se sentiu em relação a ele? — Tinha os olhos preocupados em sua direção.
— Bem, eu realmente o superei, , como dizia minha avó, estou pronta para outra. — O encarou com um pequeno sorriso, que sumiu quando seu pai a pegou pelo braço, segurando-a com força.
— O que pensa que está fazendo, ? Essa noite é importante para mim, e você fica cheia de risinhos e conversa com esse tipo de gente? — sentiu-se um inseto com a fala do pai dela.
— O quê? Lava a sua boca para falar do , diferente de você e de todas essas pessoas fúteis e bajuladoras, tem caráter, é integro, verdadeiro e desinteressado! — Ela já aumentava seu tom de voz, e algumas pessoas prestavam atenção a cena.
— , por favor… — tentava de alguma forma acalmá-la, mas ela não deixaria que ele fosse ofendido.
— Pare já com isso, as pessoas estão olhando, e não fale comigo desse modo, ainda sou seu pai… — O homem forçava um sorriso, para minimizar o impacto daquilo.
— Eu não vou admitir que você o humilhe! Meça suas palavras da próxima vez que for se direcionar a qualquer pessoa que seja de classe social diferente da sua!
— Filha, por Deus… Acalme-se. – Sua mãe brotou por ali, tentando fazê-la voltar a razão. Sorria, sem graça para os convidados.
— Quer saber de uma coisa? — Ela se aproximou de forma perigosa de , e o encarou de forma séria, não tinha planejado aquilo, mas seria maravilhoso que seus pais tivessem uma lição de uma vez por todas.
Pegou em sua nuca e o beijou. O rapaz não esperava aquilo, e acabou derrubando a bandeja no chão, ocasionando muito mais atenção ao ato. O beijo no início foi apenas um selinho, mas pediu passagem e suas línguas se encontraram, a trouxe para mais perto de si. De todas as formas que havia imaginado beijar a garota, nenhuma pareceu tão boa quanto estava sendo. Se separaram ofegantes, estava muito chocado com tudo.
— Vamos? — Ela levantou o vestido para que pudesse andar com mais agilidade, estendendo sua mão na direção do rapaz, que prontamente a pegou, e juntos eles correram para a saída do local.
Depois da cena presenciada, todos encaravam o casal e cochichavam entre si, Seline estava com as bochechas em chamas, completamente desconcertada, diferente de Orlando que era possível ver a veia de sua testa aparecendo. estaria muito ferrada.
— Você é louca! Meu Deus! — Ele ria de nervoso.
— Só se for louca por você. – Piscou para ele enquanto saiam correndo da premiação.
O carro foi diminuindo a velocidade até que parasse de vez. deixou a chave na ignição para o manobrista e esperou pacientemente até que ele abrisse a porta para ela e ela descesse. ajeitou o vestido em seu corpo, segurou o braço estendido a ela e caminharam para mais uma tortura em forma de jantar.
— Vamos falar com seu pai, ele deve estar nos procurando. — Ela abriu um sorriso forçado a ele, concordando. — Olá, senhor . — Estendeu a mão a ele que a apertou firmemente.
— Se demorassem mais um pouco, ia buscar vocês. — Falou entredentes, revirou os olhos discretamente.
— Minha culpa, acabei demorando um pouco para escolher um vestido adequado para a ocasião, mas não é para tanto, meu pai, já estamos aqui e é o que importa. — Sorriu a ele, enquanto o abraçava rapidamente.
— Tudo bem. — Ele sorriu. — , venha comigo quero te apresentar alguns possíveis investidores, preciso do seu poder de persuasão. — como o belo puxa-saco que era, seguiu o pai dela, a deixando sozinha.
Infelizmente ela já estava acostumada a isso, eram dois anos de um relacionamento no qual seu namorado sempre priorizou a empresa ou seu pai. Estava sozinha ao redor de tantas pessoas, suspirou fundo, procurando por algum rosto conhecido que tornasse sua noite um pouco menos monótona, mas ninguém, a não ser algumas madames alcoviteiras e ela não queria saber de nenhuma fofoca.
Pegou uma taça de champagne e começou a explorar o lugar. Visualizou sua mãe acompanhada por mais duas senhoras, ela ia dar meia volta, mas Seline chamou sua atenção com um aceno. E devagar, ela se direcionou a ela, detestava aquelas senhoras que estavam a acompanhando, era sempre uma sessão de tortura manter diálogo com elas.
— Meu amor, está linda nesse vestido. — Sorriu, abraçando-a ternamente.
— Obrigada, mãe. Olá, senhora Graham e senhora Miranda. — As cumprimentou com beijos em suas bochechas.
— Olá, querida, temos que concordar, está deslumbrante neste vestido Prada vermelho. — sorriu forçadamente, agradecendo. — Veio acompanhada?
— Claro, de meu namorado .
— Ele é de alguma família que eu conheço? — Graham perguntou. suspirou fundo, tentando não deixar transparecer seu descontentamento.
— Guerrero. — Sorriu forçadamente. — atualmente trabalha com meu pai, é seu braço direito.
— Nunca ouvi falar… — Graham comentou ácida. engoliu a resposta que veio na ponta de sua língua, sua mãe percebeu seu desconforto e apertou seu braço delicadamente, lhe repreendendo.
— Já marcaram a data do casamento? Pelo que sei estão juntos há muito tempo. — Miranda comentou. olhou para lado e mais uma cascavel chegava, como detestava a senhora Hipólito.
— Não, ainda não marcaram, mas será em breve. — Sua mãe interviu. abriu mais um de seus sorrisos falsos para as mulheres.
— Com licença. — Saiu o mais rápido que conseguiu dali, indo para a sacada do hotel, antes só do que mal acompanhada, definitivamente.
Ela olhava aquelas pessoas todas com todos aqueles sorrisos e se sentia tão distante daquilo, era como se não pertencesse àquele mundo. Suspirou fundo, exausta. Desde que nasceu, sua vida estava traçada por seus pais, e ela não poderia de forma alguma sair daquilo que havia lhe sido proposto.
Filha única, herdaria todo o império dos e, para isso, estava no segundo ano de administração, curso ao qual ela também não pôde escolher. No auge de seus 20 anos, ela nunca pôde decidir qualquer coisa sobre ela mesma.
Sua única escolha foi estar com que, apesar de ser o genro que seu pai pediu a Deus, era um homem muito bom, gostava de sua companhia, mas longe daquele mundo podre. parecia ser outra pessoa quando estava na presença de seu pai e aquilo a incomodava muito, tanto que já tiveram inúmeras discussões sobre isso.
Apoiou seu corpo na sacada e olhou a noite que estava bem estrelada em pleno verão, tudo o que ela queria era ter coragem de ir embora para sua casa, trancar-se em seu quarto e assistir séries na Netflix até que ficasse com sono e dormisse.
— Amor, estava te procurando, seu pai quer que você conheça algumas pessoas. — Ela se assustou com a chegada repentina do namorado.
— Alguma chance de você dizer a ele que não me encontrou? — Piscou seus olhos de forma doce, tentando tocar aquele coraçãozinho de gelo.
— Não mesmo, ele me mata e você sabe. Vamos. — Se aproximou dela, roubando-lhe um rápido selinho e ela deixou-se ser levada para aquela tortura novamente.
Levantou-se, desanimada e foi até o banheiro tomar um banho para que despertasse. Vestiu uma roupa mais simples, optou por uma calça jeans e um moletom preto, colocou um tênis Vans, prendeu o cabelo em um rabo de cavalo e desceu as escadas para tomar um bom café da manhã. Surpreendeu-se por encontrar ainda ali, achou estranho, mas depois lhe perguntaria, e sua mãe ao seu lado, seu pai já não estava mais ali.
Teve que aguentar os protestos da mãe lhe dizendo que uma não deveria se vestir daquela forma, inclusive a obrigou a subir até o quarto e trocar de roupa, bufou, mas fez o que a mãe lhe ordenou. Trocou os tênis Vans por uma sapatilha, tirou o casaco de moletom e colocou um cardigã e passou um pouco de pó no rosto.
Voltou até a sala de jantar, e a mãe abriu um sorrisinho esperto, dizendo que não estava excelente, mas apresentável. Ela revirou os olhos, sentando-se ao lado do namorado e finalmente começando seu desjejum.
se ofereceu para levá-la até a faculdade e ela prontamente aceitou, não estava com muita vontade de dirigir e seria perfeito passar mais um tempinho com o namorado.
— Confesso que estou mesmo surpresa de você não ter ido trabalhar ainda e me levar para a faculdade. A que devo a honra de tê-lo como meu motorista particular nesta manhã? — Sorriu, enquanto encarava o perfil do namorado. Mordeu o lábio, era mesmo um homem muito bonito, as vezes nem ela acreditava na sorte que tinha.
— Um namorado não pode levar a namorada no primeiro dia de aula? — Ele abriu um sorriso de lado. Ela o encarou. — Seu pai me deixou entrar mais tarde, inclusive foi ele quem sugeriu. — Ela desmanchou o sorriso no mesmo momento.
— Claro, sempre meu pai, ele pisca e você o obedece, até em decisões do nosso relacionamento ele se mete… Às vezes acho que o namoro, no fim das contas!
— … Por favor, não tem nada a ver! — Direcionou o olhar a janela, emburrada. Ele dirigiu por mais um tempo com o silêncio dela o incomodando profundamente. Ele suspirou, encostando o carro em um local. — , olha para mim. — Ele puxou o rosto dela, delicadamente. — Eu gosto tanto de você, pensei que já tivesse deixado isso claro.
— É que às vezes eu acho que você só faz essas coisas porque meu pai quer, me sinto tão frustrada…
— Não fique, se eu não deixo claro, quero que saiba que você é minha prioridade, ok? — Ela soltou o cinto de segurança e o abraçou desajeitadamente. sorriu, afagando suas costas.
— Ok. — Ela suspirou fundo. — Eu amo você, . — Soprou em seu pescoço, sentindo o cheiro de seu perfume. Ficaram um tempinho abraçados, trocaram alguns beijos até ela apressá-lo e ele colocar o carro novamente para andar. — E então? Animada para o segundo ano do curso?
— Na verdade, não. — Deu de ombros.
— Mas por quê, ? Pensa que é menos um, afinal são quatro anos. — Ele abriu um lindo sorriso, olhando rapidamente em sua direção.
— Às vezes eu tenho a impressão que eu estou fazendo porque eu tenho que fazer. — Referia-se a ultimato que seu pai tinha lhe dado sobre ela começar a cursar administração. — O que é uma tortura.
— Mas, , que outro curso você faria se não fosse esse? — Ela o encarou, buscando por uma resposta, que infelizmente não veio.
— Eu não sei, eu nunca pensei nisso para falar a verdade. Tudo sempre foi planejado em minha vida, que nunca me dei ao trabalho de tentar pensar diferente. — Olhou pela janela, desapontada. Nunca soube quando teve controle de sua vida.
— Não fale assim, , eles querem te preparar para que assuma os negócios da família, você é a única filha deles, estão preocupados com seu bem-estar.
— É, você está certo. — Preciso ser a filha que eles querem que eu seja, e a namorada que você quer que eu seja. Completou mentalmente. Ele sorriu, com a mão livre alisou sua perna, ela sorriu de volta, mas seu sorriso não era verdadeiro, mas ela já estava acostumada a sorrir assim. Ele estacionou o veículo em frente a universidade e antes que ela pudesse pensar em abrir a porta, ele o fez.
— Não sei se hoje consigo ir a sua casa, vamos nos falando pelo WhatsApp. — Ela desceu do carro e eles trocaram um rápido selinho. — Boa aula, princesa.
— Certo. Bom trabalho. — Ela agarrou a alça da bolsa com força, enquanto o via entrar no carro e sair. Suspirou fundo, entrando no campus, cabisbaixa.
Aula de economia... Para não havia matéria pior que aquela, levantou-se discretamente, pegou seu material e saiu quando o professor virou de costas, já havia assinado a lista de presença, com falta ela não ficaria.
Foi andando pelo campus, sua cabeça fervilhando em pensamentos, tudo o que vinha em sua mente era a conversa que tivera mais cedo com , se ela não gostava de administração do que gostava? Ela forçava-se a pensar, mas nada vinha a mente, e aquilo era desesperador… Teste vocacional seria interessante fazer, certo? Ela tinha que se identificar com alguma coisa.
Não percebeu que estava em frente a uma sala com alguns instrumentos, provavelmente era a sala dos alunos de música. Olhou pela janelinha da porta e percebeu que estava vazia, colocou a mão na maçaneta e a mesma estava aberta, decidiu que entraria ali. Visualizou a sala por inteiro e reparou que havia alguns instrumentos espalhados por ali, mas o que lhe chamou a atenção foi um piano, há quanto tempo não tocava em um? Desde o falecimento de sua avó materna. Se ela tinha algum conhecimento no instrumento era graças a velha senhora que sempre gostou de tocar.
Caminhou em direção ao instrumento e se sentou no banco que havia ali, levantou a tampa do piano e dedilhou por algumas teclas, sem tocar nada muito efetivo. Lembrou-se da canção Imagine do John Lennon, era uma das músicas preferidas de sua avó, procurou no celular a cifra para que pudesse se recordar e começou a dedilhar.
— Imagine there's no heaven, It's easy if you try, No hell below us, Above us only sky... — Conforme cantava e tocava, lembranças das tardes na casa de sua avó vinham com força, foi impossível não se emocionar. Sentia saudades daquele tempo. — Imagine all the people, Living for today... — Deu uma alongada na última nota.
Já não olhava mais a cifra no celular, se lembrava do restante das notas. Finalizou a música com um grande sorriso e se assustou quando escutou palmas atrás de si. Olhou para trás assustada e visualizou um lindo rapaz que tinha um grande sorriso na face. Arfou, envergonhada.
— Ah, meu Deus, me desculpe, não deveria estar aqui… — Se levantou alarmada, mas o estranho se aproximou, negando com a cabeça. Ela voltou a se sentar.
— Por favor, a sala de música pode ser usada por todos, fique tranquila, não é à toa que ela está aberta. — Ele a encarou, sentando-se ao lado dela, que por reflexo se afastou dele de forma delicada. — Você tem muito potencial, tocou divinamente bem e tem um timbre de voz tão doce… Te escutaria pela eternidade. — Sorriu, ela direcionou os olhos ao chão, completamente tímida. — Mas não conheço seu rosto, caloura no curso de música?
— Obrigada pelos elogios. — Abriu um pequeno sorriso. — Na verdade faço administração, estou no meu segundo ano.
— Puxa, você é tão talentosa, fiquei realmente surpreso agora. — Ele a encarou. — Me conte, por que administração?
— Estou fazendo administração porque… — Deteve-se, não iria contar a um estranho os reais motivos. — Porque estava em dúvida, e como administração engloba um pouco de tudo, optei por ela. Mas no caminho para cá estava em uma crise existencial, com dúvidas se fiz a escolha certa.
— Não quero parecer intrometido, mas você poderia ter escolhido esperar, refletir sobre o que realmente gosta de fazer e depois bater o martelo. Nunca foi obrigatório ter que entrar na faculdade com 18 anos.
— Sim, você tem razão, mas me senti um pouco pressionada, todos os meus colegas haviam decidido o que fazer, meus pais me perguntando o que eu queria... — Deu de ombros, mentindo.
— Sempre tenha em mente que você não é todo mundo. — O encarou, surpresa. — O que você gosta de fazer? — Pareceu ponderar, mas a resposta simplesmente surgiu com uma rapidez incrível.
— Bom, tudo o que me vem à mente agora é que gosto de tocar piano e cantar. A sensação é libertadora. — Ela o encarou com um brilho no olhar. — Era uma atividade que sempre compartilhei com a minha avó que já não está mais nesse mundo, me senti tão conectada a ela agora enquanto tocava…
— Sinto muito. — Ele tocou em suas costas em forma de afago, e involuntariamente ela se arrepiou ao toque. — Se você tivesse visto seus olhos e a forma como brilharam quando mencionou tocar e cantar… Foi muito bonito de se ver. — Ele parou de afagar suas costas, tirando a mão do local.
— Eu… — De repente ela ficou sem o que dizer. — Preciso ir. — Se levantou, com pressa.
— Nós vemos por aí. — Ele piscou um dos olhos em sua direção e ela arfou, sentindo as bochechas esquentarem. acabou sorrindo uma última vez para o rapaz, virando-se em direção a saída da sala de música.
— E então, a gente conseguiu fechar aquele contrato, depois de tanto sacrifício. Seu pai mais uma vez ficou orgulhoso de mim, e você sabe como é gratificante para mim cada reconhecimento dele, não é? — Ela balançou a cabeça concordando. — Eu estou muito feliz! — Abriu um sorriso de lado. — Estou tagarelando tanto aqui… E você tão calada... — Segurou a mão dela, o que a fez encará-lo. — Está tudo bem com você?
— Está sim, . — Abriu um sorriso, levando a taça de vinho aos lábios. Ficaram calados por um tempo. Ele não perguntou mais e ela de repente quis contar, ele era seu namorado, deveria compreendê-la e até ajudá-la. — Na verdade, não está bem. — O despertou, ele enviava uma mensagem a alguém, mas parou o que fazia para prestar atenção nela.
— Me conte, talvez eu possa te ajudar. — Ela entrelaçou sua mão com a dele.
— Eu não sei se quero mais fazer administração, não me identifico em nada com o curso, é torturante.
— O que você pensa em fazer? Direito? Marketing? Gestão de projetos? — molhou os lábios, os umedecendo. pegou a taça de vinho e levou até a própria boca.
— Conversando com um rapaz na faculdade me fez refletir muito sobre o que eu gosto de fazer, o que eu sinto paixão... Decidi que quero fazer música. — O rapaz quase cuspiu o vinho.
— Isso é uma brincadeira, certo, ? — Ele riu, mas viu que ela não o acompanhava e inclusive o encarava de forma séria. Ela desentrelaçou suas mãos.
— Não, estou falando sério, está me vendo rir? — Arqueou a sobrancelha, não havia gostado nadinha de sua reação.
— Seu pai jamais aceitaria, , isso seria uma afronta e desgosto a ele, você é herdeira do Império Têxtil , tem que estudar e se preparar para administrar aquilo que será seu.
— Não! Não! — Largou a taça de qualquer jeito na mesa, quase a derrubando. — Eu não gosto, , eu detesto essa empresa e tudo que ela representa em minha vida, estou tão cansada de fazer coisas que não gosto de fazer!
— Você está sendo mimada, ! Para com isso, seu pai dá o sangue pela empresa, se você tem a vida que tem, é graças a ela!
— Eu não sei nem porque eu tento conversar com você, , de verdade, eu sou uma tremenda idiota!
— Eu não vou apoiar essa loucura, você está sendo irracional! Música?! Sério?! Isso é coisa de vagabundo ou de quem não tem o que fazer! — A mulher abriu a boca em completo choque.
— Meu Deus, você está sendo tão retrógrado, esperava esse argumento do meu pai! — O encarava horrorizada. — Mas não me surpreende no fim das contas. Às vezes eu acho que você está comigo porque quer uma fatia dessa empresa quando meu pai vir a falecer!
— Você está me ofendendo, . Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Você me ofendeu antes quando disse que sou vagabunda por querer ir para o curso de música. — Ela se levantou da mesa, procurou a bolsa com o olhar e a encontrou em cima do sofá. — Eu vou embora.
— Acho melhor, a gente está indo por um lado perigoso. Esfria essa cabeça, você nem parece você mesma, . — Ela deteve seus passos até a sala e suspirou profundamente.
— Talvez essa aqui seja a verdadeira e você passou dois anos sem conhecê-la de verdade. — Voltou a caminhar, pegou a bolsa e saiu batendo a porta.
Mordeu os lábios, sentindo os olhos ficarem úmidos. Chamou o elevador e o mesmo não demorou a vir, estava com tanto ódio dentro de si, sentia-se tão sozinha, não tinha com quem contar. Seu namorado, deveria ser seu melhor amigo, mas, na verdade, era o de seu pai. Sempre foi uma pessoa muito fechada, então não tinha amigos, sua vida se resumia a .
Desceu do elevador, passou pelo saguão do prédio e saiu, olhou o celular vendo que se passava das 21 horas, não queria ir para casa, não queria se sentir presa novamente. Colocou as mãos no bolso do moletom, vestiu o capuz e começou a andar sem rumo, sabia que as ruas da cidade poderiam ser perigosas, mas naquele momento seus pensamentos não estavam naquilo.
Não soube por quanto tempo andou, mas acabou parada em frente a um barzinho de música ao vivo, decidiu entrar, talvez beber um pouco não lhe faria mal. O local não estava tão movimentado, o que lhe causou estranheza por ser uma sexta-feira. Sentou-se sozinha em uma mesa, o garçom veio lhe atender e ela pediu uma cerveja. Aguardou e rapidamente a garrafa acompanhada de um copo estava a sua frente, se sua mãe estivesse ali, com toda certeza a repreenderia.
Alguém tocava alguma coisa no pequeno palco improvisado, ela direcionou o olhar e se assustou quando reconheceu aquele rosto, era o estranho que havia a visto tocar na faculdade, riu desacreditada. Ela havia passado a semana inteira, mesmo que secretamente, o procurando pelos corredores.
não sabia explicar, mas ele tinha uma áurea diferente, ao contrário dela, ele era tão leve, tão livre… Parecia não ter problemas. Não conseguiu desgrudar os olhos dele, enquanto bebia sua cerveja. O rapaz cantava tão bem, ele tinha experiência e com maestria tocava aquele violão.
Ela continuou a encará-lo, e como bar não estava tão cheio, não demorou para que ele a flagrasse, o homem abriu um sorriso bonito em sua direção, e ela acabou por corresponder, tinha sido tão espontâneo que aquilo a assustou. Terminou os acordes da música com os olhos nos dela.
— Eu conheço você, mocinha. — Ele falou no microfone e fechou os olhos, sentindo as bochechas ficarem quentes. — Galera, essa menina canta bem demais. O que vocês acham de um dueto essa noite? — Ela arregalou os olhos, negando com o dedo indicador. O pouco público que estava ali começou a se agitar, dizendo que ela deveria ir até lá. Riu sem graça, mas as pessoas não paravam de incentivá-la a subir. Levantou-se e com as pernas bambas, caminhou até o pequeno palco. — Oi! — Ele sorriu.
— Oi! — falou envergonhada.
— Conhece a música Best Part da H. E. R com o Daniel Caesar? Apesar de eu não tocá-la em meu repertório, acho que combinaria.
— Sim, eu gosto.
— Mike, você tem mais um microfone? — Ele gritou para o rapaz, que negou. — A gente vai ter que dividir o mesmo. Vem, senta aqui do meu lado. — Ele puxou outra baqueta.
— Você é louco… Meu Deus! Eu não canto nada bem. — Ficou mais próxima a ele, sentando-se ao seu lado.
— Você deveria se escutar mais vezes. — Ele começou a dedilhar a música, segurou o microfone de forma que ficasse próximo dos dois, e juntos, em tom baixo começaram a cantar a música.
You don't know, babe
When you hold me
And kiss me slowly
It's the sweetest thing
You're the coffee that I need in the morning
You're my sunshine in the rain when it's pouring
Won't you give yourself to me
Give it all, oh
I just wanna see how beautiful you are
You know that I see it
I know you're a star
Where you go I follow
No matter how far
If life is a movie
Oh you're the best part, oh oh oh
You're the best part, oh oh oh
Best part
Terminaram a música com grandes sorrisos, o público aplaudia veemente, ele levou os olhos aos seus lábios, e ela recuou rapidamente, sabendo que a intenção dele poderia ocasionar em algo errado.
Virou-se ao público, agradecendo contente, nunca imaginou que cantasse tão bem daquele jeito, as pessoas realmente tinham gostado e se ela tinha alguma dúvida, foi sanada naquele momento.
— Obrigada, mais uma vez. — Ele lhe deu uma piscadela e ela ia descendo do palco, mas a sua fala a fez parar:
— Me espera terminar, só falta umas quatro músicas, quero conversar um pouco com você. — Ela ponderou, porém decidiu que não seria uma boa ideia, afinal, ela namorava e era nítido que o rapaz tinha segundas intenções no ato.
— Não posso, está ficando tarde.
— Me diz pelo menos o seu nome… — Fez uma carinha fofa, abriu um sorriso instantâneo.
— …
— Bonito nome, não esquecerei. — Piscou novamente para ela. — Para que estejamos familiarizados em um próximo encontro, grava o meu nome também, é . Nos vemos na Universidade.
— Nos vemos. — Finalmente desceu do palco, e ele retomou os acordes do violão dessa vez tocando uma música mais animada. Ela pagou pela cerveja, tendo os olhos do rapaz avaliando-a a cada movimento, se virou uma última vez, acenou para ele que acenou de volta, e ela foi embora do local, dessa vez chamando um motorista de aplicativo e tendo como destino sua casa.
Seus pensamentos voaram para instantes atrás, tinha sentindo uma energia incrível por ter cantado com o rapaz, queria ter mais daqueles momentos… E tinha algo dentro de si que havia ficado mexido com o contato tão íntimo que compartilhou com ele, não tinha como negar, estava se sentindo extremamente atraída por ele e aquela era uma zona proibida para quem tinha um relacionamento sério.
Suspirou fundo enquanto aguardava, aquela noite só veio reforçar aquilo que ela já estava com vontade de fazer desde que havia conversado com , na segunda-feira ela procuraria a secretaria do campus e trocaria de curso. Já não tinha nenhuma dúvida, era isso o que ela queria.
Nesse meio tempo não havia trocado uma mensagem sequer com , essa era a primeira vez que tinham passado tanto tempo sem se falar. Sabia que não estava errada, então não daria o braço a torcer. Entrou na sala e sentou na carteira mais afastada, foi pegando seu material, para a disciplina de Produção Musical.
— Olá. — Uma moça se sentou próxima a ela com um grande sorriso.
— Oi. — Sorriu, encarando a moça.
— Me chamo Katherine Evans. — A moça estendeu a mão em direção a ela, que a apertou.
— . Perdi uma semana de aula, estou muito ferrada?
— Na verdade não, foi mais apresentação das disciplinas, dos professores, nada demais. Nessa semana acho que as coisas começam a andar. — Concordou com um pequeno sorriso. — Se não for muito indelicado perguntar, e tudo bem se não quiser responder, mas perdeu a primeira semana, por quê?
— Teoricamente, eu não a perdi, eu fiz um ano de administração, mas não era o que eu queria, então me transferi para cá, acho que agora me encontrei.
— Ah, meu Deus, que loucura, mas nunca é tarde para descobrir o que gosta, certo? O importante é que você se encontrou. Você escolheu música, por quê?
— Porque eu amo cantar… Quero descobrir muito mais sobre o que a música pode me oferecer. E você?
— Já vou te adiantando que o curso de música não é só isso, hein? — Brincou. — Bom, eu quero lidar com os bastidores, quero trabalhar com produção musical, é uma área incrível e que merece grande enaltecimento.
— Certo, muito bom. Mas eu imaginava que o curso não é só isso, quero ver muito mais o que ele pode me oferecer, tenho certeza que não vou me arrepender.
— Já gostei de você. — Sorriu, enquanto a encarava. — Bom, essa aula é uma das melhores... Por que será, não é? — Riu. — Mas o professor me pareceu uma boa pessoa também.
— Sério? E como ele se chama?
— Bom dia, gente. — Ah não, não e não, esses eram os pensamentos de após escutar a voz de quem lecionaria a disciplina. Ela se afundou ainda mais na carteira.
— Ele é o professor? — Sussurrou.
— Não, esse é o , o monitor, ele está no último ano do curso, mas pelo o que nos foi explicado, ele nos auxiliará nos relatórios das atividades complementares, acho que conta como bônus para ele, ele até explicou, mas eu não prestei muita atenção.
— Ah. — suspirou, aliviada. Mas se repreendeu no instante seguinte, por que estava aliviada se não ia ter nada com ele? Balançou a cabeça em negação.
— Ele é um gato, não é? Todas as meninas ficam em cima dele para tirar dúvidas, mas, no fundo, todas querem é o WhatsApp dele. — riu.
— E ele namora?
— Sabe que eu não sei? Mas acho que não… Ficou interessada também, não é? Eu não te culpo.
— Ah, não, eu tenho namorado. — Mostrou a aliança para Kath. — Só perguntei por curiosidade mesmo.
conversava com as meninas e ainda não tinha a visto, tinha agradecido por isso, não gostava das sensações que o rapaz lhe causava. Mas como o destino gostava de brincar com ela, não demorou para que ele a visse. Não era segredo para ninguém que o homem havia gostado dela desde a primeira vez que a viu tocando piano na sala de música, algo nela o deixou intrigado e curioso, e adorava se sentir assim.
Ele caminhou em direção à mesa dela, e abriu um sorriso lindo, que a fez sentir as bochechas ficarem quentes, tudo o que ela pensava era que tinha que ser proibido que o rapaz sorrisse daquele jeito.
— Ei, ! Estou realmente feliz por te ver aqui.
— Oi! Ah, pois é. — Kath os encarava em completa surpresa, então quer dizer que a novata conhecia ele... Tinha achado aquilo bem interessante. — Tenho que te agradecer por aquela conversa daquele dia, me fez abrir os olhos.
— Que nada. Inclusive, sou o monitor das atividades complementares, peço que me encontre na hora do intervalo para eu te explicar como funciona.
— Tudo bem, sem problemas por mim. — O rapaz umedeceu os lábios, enquanto a fitava.
— Certo, nos vemos depois. — Saiu da sala e deixou uma extremamente sem graça com toda aquela atenção direcionada a ela.
— Ok, você já o conhece e parece que bem… — Katherine abriu um sorrisinho malicioso.
— Não, conversamos duas vezes só, não é nada demais, não malicie. Eu já disse, tenho namorado. — fechou a face.
— Tá bom, não está mais aqui quem falou, mas você terá que deixar isso mais explícito, viu, digamos que só pelo jeito que ele te olha e a sua postura, indicam que ele está afim.
— Bom dia, turma! Vamos trabalhar?! — O professor interrompeu a resposta que daria a Katherine.
Ela não era boba, havia percebido e a noite do barzinho só havia afirmado aquilo. Katherine nem a conhecia, mas ela tinha razão, ela deveria mesmo deixar as coisas claras a ele, antes que chegasse a um ponto em que ela perdesse o controle.
havia saído uns minutinhos mais cedo da aula, estava ansioso para encontrar de novo, estava louco por aquela mulher, e já não conseguia esconder aquilo. Esperou do lado de fora da sala dela e não tardou muito para que a visse saindo.
— Oi! — Ela colocou a mão no peito, assustada. — Não foi minha intenção te assustar, me desculpe.
— Está tudo bem. — Sorriu. — Vamos ao refeitório, comemos algo e você me explica. — acenou a Katherine em despedida e juntos eles foram em direção ao local.
— Você podia ir mais vezes no Dod’s, foi muito legal o dueto que a gente fez. — colocou as mãos no bolso, enquanto a encarava.
— Sim, gostei bastante, aquele momento foi o divisor de águas, eu ainda tinha um pouco de dúvidas sobre mudar ou não de curso, mas cantando para aquelas poucas pessoas me fez perceber o quão eu quero isso para mim e antes que me diga, eu sei que a faculdade de música não é só isso.
— Isso é verdade. Você vai entender com o tempo de curso, e poderá até gostar das outras áreas. Eu, por exemplo, gosto de cantar, tocar, mas também amo lecionar, inclusive me inscrevi para a monitoria exatamente por isso. — Chegaram ao local, fizeram seus pedidos, pagaram e foram em direção a uma mesa.
— Está aí, algo que eu gostaria de fazer também, lecionar… Dar aulas de canto. — Ela deu uma mordida em seu lanche natural. — Conversar com você sempre me faz enxergar por outra perspectiva.
— E isso é bom ou ruim? — Fez uma caretinha.
— Hum… Deixa eu pensar. — Brincou. — É maravilhoso, você sempre sabe o que dizer.
— Que nada. — Bebericou um pouco de seu suco de laranja. — Mas e seus pais, aceitaram bem?
— Eu posso não ter contado ainda. — As sobrancelhas do rapaz se juntaram. — É uma história bem complicada, .
— Se você quiser me contar, serei um bom ouvinte. — Ela suspirou fundo. estava sendo o mais parecido de um amigo para ela, de repente compartilhar com alguém que não tivesse tão dentro de sua realidade lhe faria bem.
— Olha, eu sou filha única, meu pai é empresário, e ele tem como objetivo que eu seja a nova CEO da empresa, inclusive eu estava fazendo a faculdade para assumir os negócios da família, mas eu não gosto, nunca gostei. Eu tive meu destino traçado no momento em que eu nasci, mas eu me cansei. Eu tenho direito a escolher as coisas que eu gosto de fazer, certo?
— Acho que isso é o mínimo para qualquer pessoa. Eu não faço ideia do que é isso que você está passando, mas compreendo. Quando eu escolhi música, meus pais não gostaram no início, afinal, as pessoas têm certo preconceito, mas hoje em dia, eles me apoiam muito, porque sabem que é o que eu gosto de fazer.
— Queria ter pais compreensivos como os seus. — suspirou fundo.
— Talvez eles relutem no início, vai ser um choque, mas eles terão que aprender a lidar, ninguém deve direcionar a sua vida.
— Tenho medo que eles não aceitem e me façam trancar o curso. Você não tem noção, , de como meus pais são.
— Você é bolsista? — Ela negou. — Seu pai paga a faculdade mensalmente?
— Quanto a isso eu não me preocupo, meu pai quitou a faculdade inteira ano passado, tanto que quando eu pedi a transferência de cursos, apesar de eu ter feito um ano de administração, não teve quase diferença de valores, porque o bacharel em música é mais barato que administração.
— Entendo, tudo conspirou ao seu favor. — Ele sorriu, dando mais uma mordida em seu lanche e terminando a refeição.
— Sim, tudo mesmo, mas não é algo que eu possa esconder, estou criando coragem para contar.
— Vai dar tudo certo, , se não der, sabe que estou aqui para o que precisar. — Ele segurou a mão dela, a apertando com a sua. Ela mordeu os lábios, gostando da sensação de ter sua mão envolta da dele.
— Obrigada. — Se encararam por um tempo, até ela desviar o olhar e desfazer o contato. — Conversamos demais e você não fez aquilo que deveria, me explicar como funciona as atividades complementares.
— É inevitável não desviar do foco quando estou ao seu lado. — Deu uma piscadinha para ela com um sorriso de canto. Ah, , já havia percebido sua tática de seduzi-la.
— Bobo! — Sorriu, enquanto o via pegar dentro da mochila algumas folhas.
Ela o esperava do lado de fora da sala para irem embora juntos. Ele saiu do local sorridente e passou o braço pelo ombro da moça, começando a andar em direção à saída.
— Não estou com a mínima vontade de voltar para casa, , que desânimo. — Já fazia cinco dias da briga entre ela e , ele não havia a procurado, e ela tampouco, não daria o braço a torcer, estava cansada de fingir estar tudo bem para agradá-lo, ele precisava entender que as coisas não eram assim.
— Bom, eu tenho meia hora, tenho que trabalhar, mas a gente pode ir na sala de música tocar alguma coisa. — Deu de ombros, ela balançou a cabeça, concordando.
no período da tarde trabalhava em uma loja de CDs e vinis. Era assim que complementava sua renda e conseguia manter as despesas. Era bolsista, e não era da cidade, morava no interior, havia ido para a capital exclusivamente para estudar e de sexta a domingo tocava no barzinho e as vezes fazia alguns bicos em buffet. Adentraram a sala de música.
— Você é a garota do piano. — Ela sorriu, negando.
— Não é bem assim, eu sei tocar alguma coisa ou outra, não sou expert não, ok? Mas confesso que desde a primeira vez que toquei aqui, tenho pesquisado algumas cifras. — sorriu. Tirou o pano que cobria o piano, levantou a tampa do instrumento e procurou no celular a música que queria tocar. — Segura assim para mim, . — Deu o celular na mão dele e o ajeitou de uma forma que ele pudesse visualizar. — Skinny love da Birdy, conhece?
— Conheço sim, apesar de não saber a letra de cabeça. — A viu começando a dedilhar a melodia no piano.
— A cifra não é tão difícil, mas não estou completamente confortável. — Sorriu. — Come on, skinny love, just last the year, Pour a little salt we were never here, My, my, my, my, my, my, my, my, Staring at the sink of blood and crushed veneer… — Era muito bonito ver como tocava, era um brilho lindo em seu olhar, que o fazia não querer desgrudar os olhos dela. Ele foi a acompanhando em alguns trechos na música, até a última estrofe.
— Who will love you? Who will fight? Who will fall far behind? Come on, skinny love, My, my, my, my, my, my, my, my, my. — Ela foi terminando de dedilhar as teclas até que finalizasse tudo.
— Eu poderia ver você tocando a vida inteira que eu não me cansaria, , você é maravilhosa.
— Obrigada. — Ela o encarou, e viu o quão próxima dele estava, conseguia ver algumas pintinhas que ele tinha espalhadas pela face, seus olhos de um tom tão bonito, ela os encarava e sentia-se perdida, tinha um olhar muito marcante. O rapaz se aproximou mais, ela não se moveu.
— Atrapalho algo? — virou-se bruscamente em direção a porta, sabia de quem era aquela voz. Da porta da sala apareceu com uma cara muito brava. A proximidade deles…
— Claro que não. , este é , meu namorado. , este é , meu amigo. — se levantou do banco, desconcertada, se não tivesse aparecido, ela com certeza não saberia o que poderia ter acontecido.
— Prazer. — nada disse, apenas fez um gesto com a cabeça.
— Vamos, , a gente precisa conversar. — Ela concordou, pegando sua bolsa que havia ficado em cima do piano. Acenou a e saiu da sala acompanhada do namorado. — Se eu não tivesse chegado você com certeza teria beijado esse cara. — Ela arregalou os olhos.
— Você está louco? Jamais, meu Deus. Ficamos envolvidos com a vibe de uma música, eu te respeito, acho que namoramos ainda, não é?
— Me responde você, anda tão diferente que eu já não sei de mais nada. Cinco dias, e você não me mandou uma mensagem sequer.
— Exato, por que tinha que ser eu? Não, , eu não estava errada, não tem porque eu te pedir desculpas, você me ofendeu.
— Eu te ofendi? Quem me chamou de interesseiro? — Bufou alto. — Não vim aqui para que a gente brigasse mais… Mas vejo que você está até me trocando por outro já.
— Não estou, isso soa absurdo, ! é meu amigo e não vai passar disso.
— Você ainda me ama, ? — Ela balançou a cabeça, concordando, se fosse há um tempo ela estaria convicta, mas dentro de seu íntimo as coisas já não eram como antes. Ele a abraçou apertadamente. — Eu senti tanto a sua falta, querida.
— Eu também senti. — Ela correspondeu ao abraço, fechando os olhos fortemente.
— Me desculpa, não quero ficar mais longe de você. — Ela suspirou fundo.
— Eu também não quero. — Se separaram do abraço e ele se aproximou dela a beijando ternamente, ela o correspondeu, mas enquanto o tinha em seus braços, a imagem de veio a sua mente. Ela o empurrou, assustada.
— O que foi? — A encarava surpreso, com os lábios vermelhos.
— É, bom… É… Estamos em público, não é adequado. — Sorriu, sem graça, extremamente nervosa.
— Você tem razão. Vamos embora, quero que almoçamos juntos, te deixo em casa e depois eu volto a empresa. Contei ao seu pai que estávamos brigados, e ele até achou uma boa ideia que eu viesse aqui.
— Então a ideia foi do meu pai... — Riu, nervosa. — Claro, tinha que ser mesmo.
— , eu não disse que a ideia foi dele, disse que contei a ele e ele achou uma boa ideia. — Revirou os olhos, chateada.
— Está bem, vamos embora logo, estou com fome. — Desistiu do assunto. O puxou pela mão para que saíssem do campus.
espiava tudo calado, decepção, era essa a palavra que passava em sua cabeça. Que merda! Estava gostando de uma menina que amava outro cara… É, nunca tivera muito tato para essas coisas. Por que não havia reparado nos sinais? sempre se esquivando dele, e tinha o anel… Aquele bonito anel no dedo anelar direito dela, não era enfeite no fim das contas. Tolo, imbecil! Segurou fortemente a alça da mochila e saiu dali.
O jantar corria bem para um sábado à noite, felizmente todos estavam ali, era a primeira vez naquela semana, era a oportunidade perfeita para lhes contar que havia trocado de curso há exatas duas semanas. Ela havia escondido até do namorado, sabia que ele era contra, mas mentir daquele jeito a estava sufocando. Era melhor abrir o jogo de uma vez. A comida estava sendo difícil de engolir, mas se esforçava porque detestava desperdício. Eles estavam embalados em uma conversa animada, enquanto tudo o que ela queria era sumir.
— Não é, ? — Seline a encarou com um enorme sorriso.
— Me desculpe, não prestava atenção ao assunto. — Cutucou a comida, sem graça.
— Falávamos sobre o evento dos Stanleys semana passada e como foi rentável ao seu pai. — comentou, tinha um enorme sorriso, como sempre, fazendo o seu papel.
— Ah. — Deu de ombros, voltando sua atenção ao seu prato.
— Filha, você anda tão estranha esses dias, está tudo bem com você? — Seline a encarava preocupada. respirou fundo, largando os talheres no prato, fazendo um ruído que foi censurado com olhar por sua mãe.
— Eu também tenho a notado estranha por esses dias, quando toco no assunto, ela evita. — concordou com a sogra. Seu pai só encarava a cena, calado.
— Estão certos, estou escondendo algo de vocês… — Suspirou, arrumando um jeito delicado de falar aquilo, obviamente falhou. — Mudei de curso na faculdade, estou matriculada em música. — Seline engasgou-se com a saliva.
— Não acredito que fez isso, ! — arregalou os olhos, sabendo que a casa ruiria em poucos segundos.
— Sim, eu fiz e foi a melhor decisão da minha vida! — O encarou brevemente.
— , você sabia dessa maluquice e não me comunicou?! Você me deve lealdade! — olhava para o pai incrédula demais. Como assim, ele devia lealdade ao pai?
— Eu achei que ela não o faria, nunca pensei que… Me desculpe, senhor , estou muito arrependido. — A moça o encarava extremamente magoada.
Ele parecia um cachorrinho que havia aprontado, não sabia como se defender. era um capacho mesmo de seu pai, e aquilo era muito deprimente, só agora depois de dois anos ela foi capaz de conseguir perceber aquilo com tanta clareza.
— , onde você está com a cabeça?! — Seu pai alterou o tom de voz. — Você tem uma empresa para gerenciar daqui alguns anos, você não pode simplesmente mudar de curso, tem que fazer administração, isso não é uma escolha. — Ela negava com a cabeça com um sorriso morto. — Vamos voltar a universidade segunda-feira, e conversaremos para trocar seu curso novamente, entendido?
— Filha, por favor, tenha mais juízo! — Sua mãe comentou com a voz estranha após o engasgo.
— Não! Chega! Eu não estou perguntando a opinião de vocês, eu já tenho maioridade e posso fazer minhas escolhas.
— E quem vai cuidar da empresa quando eu vir a faltar?
— , deixa tudo no nome dele, ele é o filho perfeito que você não tem. — Os pais a encaravam horrorizados. — Tem os outros sócios também, eu não me importo, eu nunca quis isso para mim. Eu cansei de ser a boneca em que todo mundo nessa mesa brinca, isso acabou aqui e agora! — Ela jogou o guardanapo na mesa, enfurecida. Levantou-se empurrando a cadeira ruidosamente. encarava a namorada espantado demais.
— Se você não voltar ao curso de administração na segunda, esqueça os cartões de crédito, seu carro, roupas novas, você estará por conta própria, eu não vou custear seus caprichos.
— Se esse for o preço para a minha liberdade, eu aceito muito feliz. — Saiu pisando forte da sala de jantar.
— , eu ainda não terminei! — O homem gritava, mas ela já subia as escadas, o ignorando. — Você é um imbecil, , saia da minha frente agora! — O rapaz se levantou alarmado, caminhando para a saída da casa. Seline encarava o marido em choque.
— De onde vem essa revolta toda, Orlando? sempre foi um doce de menina, agora vem cheia de ideias revolucionárias, onde erramos?
— Eu não sei, mas ela vai voltar a fazer administração sim, não aceito! Música... Eu lá tenho filha à toa?! De jeito nenhum!
trancou a porta do quarto e se jogou na cama, emburrada, mas em partes, aliviada por ter finalmente contado aquilo que lhe tirava o sono. O problema agora seria enfrentar o que poderia vir a acontecer, sabia como seu pai era, se ele tinha dito que ela estava por conta própria, ela sabia mesmo que estava.
— E então? Como foi com seus pais, ? — sentou-se ao seu lado após buscar a refeição deles.
— Péssimo, eu contei, teve muita gritaria e ameaças, resumindo, meu cartão de crédito está bloqueado, tirou meu carro, e tudo o que você possa imaginar, estou por conta própria. De acordo com meu pai, eu só terei minhas “regalias” de volta, assim que voltar ao curso de administração, e isso está longe de acontecer.
— Nossa, eu sinto muito. — Ele segurou a mão dela, acalentando-a.
— Está tudo bem, eu já sabia o que poderia acontecer, posso lidar com isso. — Deu-lhe um sorriso triste. — Estou à procura de emprego, inclusive, se souber de alguma coisa que não exija experiência, eu estou dentro.
— Bom, eu faço as vezes uns bicos em buffet, não é uma grana muito alto, mas, pelo menos, vai dando para você sobreviver.
— Feito, eu agradeço, , já disse que você é o melhor amigo que alguém poderia ter? Se eu não disse, quero deixar isso bem claro. — Sorriu realmente agradecida. O rapaz sentiu um incomodo grande ao escutar aquelas palavras, ele não queria ser só amigo dela, mas era a única coisa que teria, tinha que se contentar.
— Hoje ainda não. – Sorriu. — Vou conversar com a menina que sempre me passa os bicos. Posso ver também no barzinho que toco, se não rola de você ganhar por fazer parceria comigo, mas esse eu não posso afirmar.
— Obrigada, de verdade. Você está fazendo por mim o que nunca teve coragem de fazer. — Mordeu os lábios, temendo as lágrimas que viriam a seguir. — Estou tão decepcionada, acho que meu namoro foi uma mentira.
— Por que diz isso?
— Sábado, durante o jantar, foi a gota d’água. Creio que nos termos sido apresentados naquele evento foi premeditado, foi minha mãe que chamou minha atenção para ele. – Suspirou fundo, limpando rapidamente as lágrimas que desciam. — Cada passo na nossa relação, meu pai ou ela sempre estavam presentes, agora faz tanto sentido. nunca me amou, ele nunca falou um eu te amo, só queria agradar meu pai e conseguir sua confiança. Eu não queria enxergar, , porque dói, mas essa é a realidade. — As lágrimas já banhavam seu rosto.
— Meu Deus, … — Ele a abraçou de lado, tentando de alguma forma consolá-la. — Você é uma pessoa maravilhosa, me corta o coração te ver desse jeito.
— Obrigada por estar ao meu lado durante todo esse processo de autodescobrimento, você tem um papel fundamental nisso tudo.
— Estou aqui para o que precisar, você sabe disso. — Ela assentiu, apertando-se ainda mais ao seu abraço. — O que fará com relação ao seu namoro?
— Nunca foi verdadeiro, sabe? Então eu vou fazer aquilo que deveria ter feito desde o início, colocar um ponto final. Alguém que é leal ao meu pai, não é leal a mim ou aos meus ideais. — Fungou. – Só que não é fácil, sabe? — Sentiu a voz embargar e arranhou a garganta.
— São dois anos, quem disse que é fácil?
— Oi, , estava preocupado com você, não atendia minhas ligações, não respondia minhas mensagens, não estava entendendo seus motivos, afinal, a briga foi com seus pais, não comigo. — tagarelava sem parar enquanto entrava pelo apartamento do rapaz como um furacão.
— Terminou o monólogo? — Ela se sentou no sofá enquanto tinha os olhos fixos ao rapaz. Ele assentiu. — Sente-se aqui, quero conversar sério com você. — Bateu uma das mãos no sofá, ele o fez.
— Ok, sobre o que quer conversar?
— Você e eu e nossa relação de mentirinha. — Foi direita, o assustando.
— Relação de mentirinha? Você está louca, ?
— Não estou não, estou sendo bem racional aqui, vamos lá, , me conte a verdade sobre tudo.
— Do que está falando? — Se levantou bruscamente do sofá, confuso.
— Meu pai te pagou para ficar comigo?
— Claro que não, você falar algo assim me ofende, eu já te disse que não sou interesseiro, inclusive foi de muito mal gosto você falar a seu pai para deixar a empresa em meu nome.
— Talvez eu acredite que você não seja interesseiro, então me explica, por que você deixava meu pai ter tanta influência em nossa relação? — O rapaz ficou calado, pensativo.
— Seu pai é uma figura muito autoritária, você mais do que ninguém sabe disso e, bom, namorar você, sua única filha, era algo muito complexo. — o encarava apática.
— No início você se interessou de verdade por mim ou por eu ser a filha do seu chefe? Por favor, pelo dois anos de namoro, seja sincero comigo uma única vez. — soltou o ar com força dos pulmões.
— As duas coisas. — Ele se sentou novamente, a olhando. — Seu pai fazia muito gosto que nós namorássemos, Império Têxtil é uma das melhores empresas no ramo, almejava conquistar sim a confiança de seu pai, eu faria qualquer coisa por isso. — Ela fez uma careta, doía escutar aquilo. — Mas quando eu te olhei, percebi que não seria sacrifício nenhum estar ao seu lado. Você é linda demais e uma mulher incrível. — Ele se aproximou para tocá-la e ela recuou. Fechou os olhos e lágrimas saíram por eles.
— Eu estou me sentido um lixo, porque no fundo eu já sabia de todas essas coisas e preferi fingir não perceber, era cômodo para mim. – Se levantou do sofá, limpando as lágrimas de forma brusca.
— Não foi desse jeito…
— E como foi? , por Deus, eu estou sendo sensata, seja também! Você queria ser o queridinho do chefe e conseguiu isso. Parabéns, agora não precisa mais de mim, conquistou tudo o que almeja. – Suspirou fundo. — Eu nem preciso dizer que acabou, não é?
— , por favor, vamos conversar. No começo foi, mas hoje eu gosto mesmo de você.
— Eu te amava, entende a diferença? Você nunca sentiu o mesmo, eu sei. Segue sua vida. — Caminhou em direção a porta, mas parou, segurando a maçaneta. — Ah, para que você não se prejudique com meu pai, diga que eu enlouqueci, e eu terminei com você. — Saiu batendo a porta do apartamento, o deixando sem reação nenhuma.
Apertava o botão daquele elevador incessantemente como se aquela ação fizesse com que o mesmo chegasse mais rápido ali, doce ilusão. queria se trancar em seu quarto e nunca mais sair, estava chateada, triste e desiludida. Havia sido enganada e manipulada demais por toda a sua vida.
Seu pai nunca mais lhe deu um centavo sequer, e em uma das discussões que eles tiveram a colocou para fora de casa, mas a mãe da garota não permitiu, dizendo que aquilo estava passando dos limites e que se fosse embora, ela também iria.
Desde então, , passava a maior parte dos dias fora daquele recinto, ficava altas horas na faculdade tocando, estudando, ou trabalhando como garçonete em festas junto a . O dinheiro não era muito, mas com certeza a fazia conseguir comprar algumas materiais para faculdade, ou mesmo comprar coisas de uso pessoal para ela, não estava sendo fácil, mas, com certeza, valeria cada esforço.
O rapaz desistira de se declarar a , sabia que ela estava em uma fase que não era adequada para um novo relacionamento, por isso ficava na dele, na espreita, sendo o melhor amigo que ela poderia ter. Se ela, ou quando ela tivesse pronta, talvez ele tentasse algo, ou talvez não, temia estragar a amizade tão bonita que eles tinham.
Em uma dessas noites de sexta-feira no qual serviu como garçonete em um evento, chegou por volta de umas duas horas da manhã em casa, tudo o que ela mais precisava no mundo era de um banho bem quente, e sua cama, estava muito cansada. Assim que ligou a luz do quarto, tomou um susto com a mãe sentada em sua cama, adormecida.
— Mãe? — A mais velha despertou com a voz dela. — O que faz aqui? — Deixou a mochila que carregava na cadeira, ao lado da porta.
— Te esperava… Nem parece que moramos na mesma casa, , você sai, não toma café da manhã conosco, não te vejo durante as outras refeições, está tão mudada, querida. Custo a acreditar… — A estudante de música suspirou fundo, cansada de escutar aquilo.
— Estou ajudando meu pai, não nos encontramos, é como se não morássemos juntos, eu não me esqueci da expulsão, mãe, estou juntando dinheiro, tentando achar um emprego fixo para sair de casa.
— Não fale isso, ok? Eu não vou permitir, que besteira, aqui é sua casa, sempre foi e sempre será, seu pai estava de cabeça quente, foi da boca para fora.
— Não foi, mãe, a senhora sabe disso… Mas enfim, não quero ter essa conversa agora, por que me esperava?
— Amanhã temos um evento de seu pai, é importante que vá.
— Eu não frequento mais esses eventos, mãe, achei que já tivesse deixado isso claro, chega, eu só faço o que eu quero agora. — A mais velha soltou o ar que prendia nos pulmões, a filha não facilitaria em nada.
— Seu pai está concorrendo ao empresário do ano, , ele é o favorito ao prêmio, não é qualquer evento, é o evento. Ele está tão radiante, querida. Finalmente foi reconhecido, precisa que nós o apoiemos.
— Mãe…
— Por favor, pense com carinho. Esteja ao meu lado para prestigiá-lo.
— Ele não vai me querer lá…
— Ao contrário, ele quer sim, querida, ele pode estar magoado com você, mas ele te ama muito, e mesmo que você não compreenda tudo o que fazemos a você, é por amor.
— Chega, eu não quero escutar as razões das atitudes devassas de vocês, não tem explicação.
— Ok, de qualquer forma, tomei a liberdade de comprar um vestido lindo a você, esteja lá querida, só mais essa vez. — suspirou fundo. Abriu a porta do quarto, em um gesto mudo para que a mãe saísse do cômodo. — Dorme bem, querida. — Balançou a cabeça, afirmando, fechando a porta assim que a mulher saiu.
Foi tirando a roupa de qualquer jeito e rumando ao banheiro de seu quarto, colocando em cheque os prós e contras sobre ir ou não ao evento, a lista pesando muito mais aos contras.
— , querida, está linda! — Seline tinha os olhos brilhando enquanto via a filha descendo as escadas. — Não está, Orlando? — Perguntou ao homem que estava sentado no sofá, que murmurou um sim em resposta quando a visualizou. negou com a cabeça, Deus sabia o sacrifício que era para ela ir a aquele evento.
— Podemos ir? Não posso chegar atrasado. — O homem resmungou, e as duas assentiram saindo porta fora da mansão.
Não soube quanto tempo foi o trajeto até o local onde seria o evento, mas percebeu que não era tão perto assim da residência deles. Desceram do mesmo e percebeu que aquele evento era mesmo diferente, tinha até alguns fotógrafos ali. Agora compreendia o porquê era importante que fosse, tinham que aparentar ser a família feliz de propaganda de margarina. Já estava se arrependendo da decisão que havia tomado.
Entrou sem forçar simpatia, inclusive recebendo alguns apertos no braço da mãe para que sorrisse nas fotos, ela não fingiria nunca mais ser quem não era, então permaneceu séria em todas as fotos. Foram liberados para entrarem.
entrou pelo evento e logo foi apresentada para inúmeras pessoas, sempre muito séria e calada, as vezes lhe escapava um sorriso ou outro quando era elogiada. Enquanto estava em uma roda de conversas com sua mãe, ela notou um rosto muito familiar por ali. Pela primeira vez naquela noite ela sorriu verdadeiramente, pediu licença e caminhou em direção a pessoa, porém sentiu seu braço ser segurado. Fechou o sorriso quando percebeu quem era.
— Oi, , como está? — A moça suspirou fundo, enquanto o encarava.
— Olá, , estou muito bem, e você?
— Estou indo, na medida do possível. – Ele abriu aquele sorriso de lado, o sorriso que sempre a abalou, mas que agora não a abalava mais.
— Que bom, mas eu preciso ir. — Forçou um sorriso, tentando sair, mas ele novamente segurou seu braço. Ela revirou os olhos.
— Você não sente um pingo de saudades de nós dois?
— … Primeiro de tudo, aqui não é lugar para isso, e não, não sinto saudades de um relacionamento de mentira, estou muito mais feliz agora. Agora eu já posso ir?
— Que hostilidade, meu Deus. Está mesmo muito diferente.
— Você não tem ideia do quanto. — Soltou-se de sua mão e retomou a caminhada em busca da pessoa, mas não a perdeu de vista. Bufou baixinho, decidida a procurar. Sorriu quando o viu segurando a bandeja em suas mãos. Se aproximou com um grande sorriso no rosto. — Olha, quando me disse que trabalharia em uma festa, não imaginava que fosse nessa aqui.
— , oi! — Ele se virou com um enorme sorriso e lhe deu um beijo na bochecha. — E o evento que você viria com sua família seria justamente esse? A vida gosta mesmo de nos pregar peças.
— Com certeza sim, estou tão feliz que você esteja aqui, mesmo que a trabalho. Me sinto sufocada nesses eventos, é tanta gente falsa.
— Devo concordar, em todos as rodinhas que eu estou levando os champagnes, sempre tem alguém falando mal de alguém. — Ela deu de ombros.
— Vou precisar buscar algumas taças, se não, você sabe. — Ela concordou, mas fez um pouco de manha.
— Não me deixe só, de longe você é a melhor pessoa dessa noite. — Ele deu sua piscadinha característica, e foi retomando os passos com a bandeja.
— Eu volto. — sorriu, enquanto o encarava caminhar para longe dela. Suspirou, encarando as unhas. Ele terminou de pegar as taças vazias, levando-as para a cozinha, para que pudesse abastecer a bandeja novamente.
— Uma taça por seus pensamentos. – Ele surgiu na frente dela, que aceitou a taça estendida em sua direção.
— Nada que você já não possa não imaginar. — Levantou a taça, bebericando um pouco o conteúdo dela. — está aqui.
— E como você se sentiu em relação a ele? — Tinha os olhos preocupados em sua direção.
— Bem, eu realmente o superei, , como dizia minha avó, estou pronta para outra. — O encarou com um pequeno sorriso, que sumiu quando seu pai a pegou pelo braço, segurando-a com força.
— O que pensa que está fazendo, ? Essa noite é importante para mim, e você fica cheia de risinhos e conversa com esse tipo de gente? — sentiu-se um inseto com a fala do pai dela.
— O quê? Lava a sua boca para falar do , diferente de você e de todas essas pessoas fúteis e bajuladoras, tem caráter, é integro, verdadeiro e desinteressado! — Ela já aumentava seu tom de voz, e algumas pessoas prestavam atenção a cena.
— , por favor… — tentava de alguma forma acalmá-la, mas ela não deixaria que ele fosse ofendido.
— Pare já com isso, as pessoas estão olhando, e não fale comigo desse modo, ainda sou seu pai… — O homem forçava um sorriso, para minimizar o impacto daquilo.
— Eu não vou admitir que você o humilhe! Meça suas palavras da próxima vez que for se direcionar a qualquer pessoa que seja de classe social diferente da sua!
— Filha, por Deus… Acalme-se. – Sua mãe brotou por ali, tentando fazê-la voltar a razão. Sorria, sem graça para os convidados.
— Quer saber de uma coisa? — Ela se aproximou de forma perigosa de , e o encarou de forma séria, não tinha planejado aquilo, mas seria maravilhoso que seus pais tivessem uma lição de uma vez por todas.
Pegou em sua nuca e o beijou. O rapaz não esperava aquilo, e acabou derrubando a bandeja no chão, ocasionando muito mais atenção ao ato. O beijo no início foi apenas um selinho, mas pediu passagem e suas línguas se encontraram, a trouxe para mais perto de si. De todas as formas que havia imaginado beijar a garota, nenhuma pareceu tão boa quanto estava sendo. Se separaram ofegantes, estava muito chocado com tudo.
— Vamos? — Ela levantou o vestido para que pudesse andar com mais agilidade, estendendo sua mão na direção do rapaz, que prontamente a pegou, e juntos eles correram para a saída do local.
Depois da cena presenciada, todos encaravam o casal e cochichavam entre si, Seline estava com as bochechas em chamas, completamente desconcertada, diferente de Orlando que era possível ver a veia de sua testa aparecendo. estaria muito ferrada.
— Você é louca! Meu Deus! — Ele ria de nervoso.
— Só se for louca por você. – Piscou para ele enquanto saiam correndo da premiação.
Epílogo
— Então você já sabia que eu tinha interesse em você? — sorriu, enquanto os dois estavam em uma praça comendo um hot dog após a saída triunfal do evento.
— Sabia, digamos que você não é um bom mentiroso. – Riu, enquanto colocava um pouco mais de ketchup no lanche. — Confesso que no início isso me assustou, porque o sentimento também foi recíproco de imediato, mas eu tinha um namorado. Depois, eu achei que você deixou de gostar de mim, afinal, se passou muito tempo, então nem tentei nada.
— Eu me apaixonei mesmo por você no momento em que a gente cantou Best Part naquela noite de sexta-feira. — Ela se aproximou dele, lhe roubando um selinho. — Tudo em você me encanta e, bom, eu respeitei seu tempo, não quis forçar nada, porque temia que você pudesse achar que eu estava aproveitando de seu momento de fragilidade. Depois, bom, ficamos muito amigos e ficou difícil de tentar algo.
— Fomos tão idiotas, poderíamos estar juntos há muito mais tempo. — Ela deu uma última mordida em seu lanche, terminando-o.
— E como vai ser? Você destruiu a noite de seu pai, .
— Talvez eu seja expulsa de casa, , nem minha mãe consegue conter a fúria de meu pai, eu fui além da conta, eu sei. Eu só fiz o que eu tinha vontade. — Suspirou. — Vou ter que arrumar um emprego de verdade.
— Olha, onde eu moro é bem pequeno, mas você pode ir para lá comigo, nem tem muito luxo, claro, mas na rua você não fica. — Ela sorriu.
— Obrigada, obrigada! Eu vou acabar aceitando, não posso mais ficar naquele ambiente. Vamos para minha casa, vou buscar minhas roupas, aposto que meus pais estão naquele maldito evento ainda, é o tempo de eu pegar tudo lá e partir sem que não precise vê-los.
— Então vamos lá. — Ele jogou os papéis e copos na lixeira.
— Eu amo tanto você, ! — Ela se aproximou dele, o beijando rapidamente.
— Pode apostar eu te amo muito mais. Vai dar tudo certo, eu te prometo.
— Sabia, digamos que você não é um bom mentiroso. – Riu, enquanto colocava um pouco mais de ketchup no lanche. — Confesso que no início isso me assustou, porque o sentimento também foi recíproco de imediato, mas eu tinha um namorado. Depois, eu achei que você deixou de gostar de mim, afinal, se passou muito tempo, então nem tentei nada.
— Eu me apaixonei mesmo por você no momento em que a gente cantou Best Part naquela noite de sexta-feira. — Ela se aproximou dele, lhe roubando um selinho. — Tudo em você me encanta e, bom, eu respeitei seu tempo, não quis forçar nada, porque temia que você pudesse achar que eu estava aproveitando de seu momento de fragilidade. Depois, bom, ficamos muito amigos e ficou difícil de tentar algo.
— Fomos tão idiotas, poderíamos estar juntos há muito mais tempo. — Ela deu uma última mordida em seu lanche, terminando-o.
— E como vai ser? Você destruiu a noite de seu pai, .
— Talvez eu seja expulsa de casa, , nem minha mãe consegue conter a fúria de meu pai, eu fui além da conta, eu sei. Eu só fiz o que eu tinha vontade. — Suspirou. — Vou ter que arrumar um emprego de verdade.
— Olha, onde eu moro é bem pequeno, mas você pode ir para lá comigo, nem tem muito luxo, claro, mas na rua você não fica. — Ela sorriu.
— Obrigada, obrigada! Eu vou acabar aceitando, não posso mais ficar naquele ambiente. Vamos para minha casa, vou buscar minhas roupas, aposto que meus pais estão naquele maldito evento ainda, é o tempo de eu pegar tudo lá e partir sem que não precise vê-los.
— Então vamos lá. — Ele jogou os papéis e copos na lixeira.
— Eu amo tanto você, ! — Ela se aproximou dele, o beijando rapidamente.
— Pode apostar eu te amo muito mais. Vai dar tudo certo, eu te prometo.
Fim.
Nota da autora: Obrigada a você leitora por ler essa loucura toda em forma de plot. Inclusive, preciso agradecer a Lari por ter me dado o princípio da ideia e a Flávia por aceitar betar e me ajudar com mais ideias para finalizá-la! Agradeço a Hellica por me deixar a cargo dessa música e a Julia Mattar pela capinha maravilhosa! E se você leu até aqui, não se esqueça de deixar um comentário, é muito importante! Beijoos <3
Outras Fanfics:
A Casualty of Love — [Restritas — Esportistas — Em Andamento]
Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Outras Fanfics: