Prólogo
– Eu gostaria da atenção de todos. – falou ao pegar o microfone que se encontrava sobre o balcão. – Há alguns dias, mãe de Jack mandou uma mensagem perguntando se eu estaria apta para fazer uma declaração no velório. Para ser sincera, parte de mim queria dizer não. Essa mesma parte não gostaria de estar aqui, essa pequena parte ainda acreditava que, se eu não olhasse para o caixão, ele ainda estaria aqui. – Ela respirou fundo e se virou para o caixão onde estava o corpo morto do noivo. – Mas fiz a parte se calar. Eu precisava estar aqui porque ele merecia isso.
conseguia sentir a pena esvaziando-se de todas as pessoas a sua frente. Ela não se sentia mal ou inferior por isso, até ela sentia pena de si mesmo. Quem não sentiria dó de alguém que perdeu o amor aos vinte anos?
– Jack gostava de olhar as estrelas. Nunca se importou com o nome delas; era o brilho que o agradava. Leu praticamente três livros durante a sua vida toda, ele odiava livros que não falavam sobre o mar. Ele amava o mar, o azul intenso que pintava os oceanos, as ondas que levavam todas as sujeiras da praia e traziam novamente no dia seguinte. Ele me disse uma vez que a vida era como o mar. Não entendi bem o que ele quis dizer com isso, até o dia em que recebi a notícia do seu suicídio. A vida é como o mar, Jack desistiu de nadar e deixou-se levar pela correnteza.
Capítulo 1
A dor não é concreta ou complexa, nem um pouco prática. A dor é imparcial. Não é normal que você sinta a mesma coisa que seu parente mais próximo, afinal você é tão única quanto a sua dor.
era sozinha em sua dor. Durante o primeiro mês de luto, ela se esforçou para não mostrar a ninguém o quanto estava sofrendo. Escondia-se toda vez que ia chorar, desabafava apenas com o seu ursinho de pelúcia, e no final de cada uma das trinta noites, ela orava pedindo refúgio. Ao fim do primeiro mês, ela percebeu que ninguém estava julgando-a, então permitiu-se sofrer.
Antes que seu corpo escondesse todos os vestígios de um amor, deixou-se sofrer. Ela perdeu o emprego, os amigos, sua casa e o peixinho dourado. A vida estava passando pela eterna linha tênue da depressão, a menina podia sentir a antiga amiga de seu ex-noivo transitar por sua vida. Antes que a depressão a abraçasse com todas as forças, aconteceu algo totalmente previsível: encontrou Deus.
Três anos depois
Ódio era uma palavra muito fraca para descrever o sentimento de naquele momento. Ela entrou na larga sala branca à procura de algum banco para deixar sua bolsa, encontrou uma cadeira encostada no canto que parecia estar livre, e despejou suas coisas sobre ela.
A sala era grande, as paredes pintadas de branco aumentavam ainda mais a noção de espaço. O local estava em silêncio, o que era estranho se notasse que, no centro, havia um círculo de cadeiras ocupadas. A máquina de café começou a produzir o barulho que deu origem a outros, como o teclar de um celular e a conversa baixa entre os participantes da reunião.
enrolou a blusa de frio sobre a cintura para tentar esconder qualquer vazamento recorrente. Ela odiava estar menstruada. Sentou-se em uma das cadeiras e desbloqueou o celular. Antes de colocar no modo silencioso, mandou uma mensagem para sua mãe pedindo que comprasse absorvente.
A última pessoa a preencher a sala foi uma mulher loira, com um sorriso radiante. Qualquer pessoa em um raio de 1 km de distância conseguia sentir a felicidade daquela mulher, o que fez todos na sala abaixarem a cabeça.
– Olá, como vocês estão? – A mulher jogou a bolsa sobre o chão. – Para quem não me conhece, eu me chamo Marie, e sou a orientadora desse projeto. Antes de começarmos, vamos fazer uma oração e agradecer ao nosso Pai pelo dia maravilhoso que nos foi concedido.
Marie iniciou a oração agradecendo pela semana e pelas vidas que haviam entrado na igreja e terminou pedindo para que Ele cuidasse de cada uma das pessoas daquela sala.
– Eu costumo trabalhar com um grupo muito tímido, mas eu gostaria de escutar as vozes de vocês. – Marie se levantou. – Devo dizer que eu perdi alguém muito importante há muito tempo, e foi quando aconteceu a desordem do meu mundo. Eu parei de comer e comecei a chorar todos os dias antes de dormir. Eu sabia que aquilo não iria fazer ele voltar, mas era uma forma do meu corpo lidar com o sofrimento. – A dor que ela sentia era uma dor compartilhada por todos daquela sala. – O meu luto durou por mais tempo que o necessário, até que minha melhor chegou e abriu todas as minhas janelas e disse "Deixe que a paz entre novamente, você precisa seguir em frente". Eu decidi canalizar a minha dor para ajudar as pessoas e... por incrível que pareça, ela diminuiu com o passar do tempo. Hoje em dia, ela é como um parente, e só aparece em feriados e dias especiais. Eu sou a Marie, e perdi meu marido para o câncer nove anos atrás.
Ela sabia que, de alguma forma, alguém tinha sentido algo ou que precisava desabafar sobre. As pessoas aplaudiram a superação de Marie com toda a sua angústia, algumas até abraçaram ela. Todos os que conheciam Marie, inclusive , sabiam o quanto a mulher tinha batalhado por um grupo de apoio para as pessoas que perderam seus entes queridos, ou como ela gostaria de chamar, "Grupo de Apoio dos Futuros Felizinhos". A maioria das pessoas não lida bem com a perda. De acordo com Marie, há chances imensas de suicídio, depressão, ansiedade e outros problemas psicológicos após a morte de alguém. A mesma havia passado por isso, e ela estava decidida a ajudar pessoas com as mesmas crises que ela já teve.
Diferente dos grupos de apoio ou terapia que passam em filmes ou algo do gênero, o Grupo dos Felizinhos era composto por pessoas que realmente queriam estar ali. Pessoas desde adolescentes a adultos, que precisavam desabafar sem serem julgadas e dos conselhos e apoio de pessoas que já passaram pela mesma situação. O grupo existia há dois anos e já haviam passado diversas pessoas por lá. No momento havia doze participantes, dois deles pela primeira vez.
– Alguém gostaria de participar com algo? – Perguntou Marie a todos os participantes da roda, mas olhando especificamente os novos. – Gostariam de se apresentar?
Os dois entrelaçaram os olhares como quem brigava silenciosamente pelo direito de não ser o primeiro. Isso durou alguns segundos, até que o homem, que deveria ter desistido ou apenas perdido a lutinha de olhos, levantou-se e respirou fundo.
– Olá... Eu não sei bem como fazer isso...
– É só se sentir à vontade e dizer o que quiser. – Com um sotaque forte e inesquecível, exprimiu Helena, uma das participantes.
– No último encontro, eu falei sobre meus gatos – Citou, arrancando sorrisos o pequeno Josh.
– Se quiser seguir algum roteiro. – Explicou . – Fale como foi sua perda, como isso afetou você e depois diga seu nome. Assim como a Marie fez.
Ela deu um sorriso sereno para o homem, que decidiu seguir suas instruções.
– Eu nunca dei muita atenção ao meu filho. Não era culpa do trabalho ou de amantes, nunca dei atenção para ele porque eu realmente não sabia como ser pai. – Ele observou a todos, tentando achar qualquer vestígio de julgamento, mas tudo que pode encontrar foi o ponderar de uma curiosidade e calmaria para o que ele tinha que contar. – Numa noite, ele chegou em mim e falou "Pai, eu acho que gosto de meninos". Eu levei um choque e comecei a culpar-me por não ter sido presente, não ter ajudado ele. Na minha mente, aquilo era uma maldição, eu poderia ter salvado ele. Não o mandei embora ou falei que iria leva-lo à psiquiatra, eu apenas fiquei calado, e isso ocorreu durante dois anos. – Ele se sentou novamente, as pernas pesavam demais. – Eu me chamo , meu filho cometeu suicídio há dois anos.
A palavra “suicídio” fez o estômago de revirar. Ela se sentia mal toda vez que pensava nisso.
– É difícil não se culpar, não carregar para si o peso de todas as consciências do mundo. – Marie falou. – Alguém quer acrescentar algo?
– Sabe o que você deve pensar? De alguma forma seu filho é uma lição, você deve se abrir para o mundo e apoiar as diferenças... – Josh comentou, atraindo cabeças que concordaram com ele.
– É... As pessoas me falam isso….
observou o quanto ele se sentia desconfortável, haviam se passado três anos, e parecia que havia sido ontem. Ela estremeceu ao perceber que ela agia da mesma forma.
– Você poderia ter salvado ele, eu entendo o peso da palavra “salvar”. Você poderia ter salvado ele, mas não soube como, e quando percebeu isso, já era tarde. A culpa pode ser sua ou da sociedade que não ensina a aceitar, o grande problema é que ele já se foi. Você tem que olhar para frente e desejar melhorar e mudar, porque a única coisa que você pode fazer agora é seguir em frente. – Os olhares foram atraídos para ela, que mal respirava. – Você não pode consertar nada que passou, mas pode consertar o que vai acontecer, e eu sei que isso é porre. O grande problema da vida é que ela volta.
– E eu deveria conviver com isso? – Perguntou , sentando-se novamente
– Deveria ao menos tentar…
– Você conseguiu?
– Com a dor ou com a consciência? – Ela respirou fundo. – Eu aprendi a conviver com a dor porque ela passa, já a minha consciência me atormenta todos os dias. Por isso eu tento ajudar as pessoas, talvez eu consiga… salvar alguém.
O silêncio, um dos amigos mais famosos do grupo, adentrou a sala e instalou-se em meio àquelas pessoas. Era difícil trabalhar com sentimentos quando ninguém era profissional e todos sabiam o que era aquela dor. Em alguns casos, como a conversa entre e , as pessoas decidiam ficar quietas e esperavam que desse para sentir-se no ar a solidariedade e pena, que se esvaziava de cada um.
– Eu quero me apresentar… – A jovem que estava junto com se levantou. O sorriso dela era algo contagioso. – Meu pai já apresentou toda história do meu irmão, então… Meu nome é Samantha, eu perdi meu irmão alguns anos atrás, e foi a minha ideia vir a esse grupo.
As pessoas aplaudiram a apresentação dela e a olharam com ternura, ela parecia ter uns 15 anos e tinha um tom carinhoso em sua voz.
– Por que escolheu se juntar a esse grupo? – Um dos caras do grupo questionou.
– Meu pai estava cansado de escutar as minhas reclamações sozinho.
a olhou e revirou os olhos.
era um homem incrível, e por intermédio do universo, vazio. Desde a morte do filho, há três anos, ele havia perdido o sentido que tinha encontrado para a vida. O casamento foi destruído meses depois, quando a própria esposa não conseguia aguentar estar ao lado de alguém tão deprimido. Ele sabia que ela o culpava pela morte do filho, mas ele não a julgava, pois ele também se culpava. A filha tinha escolhido ficar com a mãe, mas depois de um tempo foi morar com o pai, porque o mesmo estava destruindo-se. No final de qualquer coisa que poderia ser dita, era um solteirão de 32 anos que era fisioterapeuta de um time de futebol americano da segunda divisão, e às vezes chorava antes de dormir pensando em como a “vida dos sonhos” tinha se transformado numa merda tão grande.
Marie conduziu o resto do grupo da melhor forma que podia: entre piadas, choros, conselhos e pausa para comer. Ela concluiu a reunião com uma pequena oração agradecendo pela maravilhosa tarde e clamando para que o Senhor cuide de todas as pessoas que foram levadas para morar com ele.
Após a reunião, ajudou a organizar a igreja e resolveu ir ao banheiro verificar se o seu absorvente estava realmente certo. Ela odiava menstruar. Ao sair da igreja, o céu estava escurecendo e dando o ar de que iria chover. A moça se sentou em um dos bancos e retirou o celular da bolsa para ver se sua mãe a daria uma carona de volta para casa, mas antes que ela pudesse discar o número, o som de choro havia chamado sua atenção. O barulho vinha de um sedã preto a poucos metros da igreja. Ela mudou sua atenção para o veículo e reconheceu as pessoas da reunião dentro dele.
Em sua mente, ela contou até dez, pensando que seria invasão de privacidade ir ver o que estava acontecendo, mas algo dentro dela, que era considerado bom, implorava para que ela fosse ver. Ela se levantou, e quanto mais perto chegava, mais a situação se tornava estranha. Samantha estava debruçada ao volante, chorando, enquanto seu pai tentava acalmá-la.
– Desculpa… – Ele a olhou desesperado. – Eu… O que está acontecendo?
– Ela teve uma crise, é normal. Só vou acalmar ela para ir para casa.
– Crises nunca são normais. – chegou mais perto e colocou sua mão sobre os cabelos de Samantha. Antes que pudesse obrigá-la a ir embora, ela estava falando com Sam e tentando ajudá-la.
Como se fosse algo que ela já tivesse visto diversas vezes, conversou com Sam enquanto fazia carinho em sua cabeça, esperando que ela diminuísse o choro e pudesse fazer um exercício para controlar a respiração. Com o tempo, a jovem foi acalmando-se e conversando.
– Desculpe-me por te incomodar. – falou assim que viu a filha melhor. – Eu só não sei lidar muito bem com tudo isso.
– Tudo bem, eu que vim ajudar. Você precisa se acalmar antes de tentar acalmar ela.
– Eu preciso achar um jeito de ajudar ela. Achei que o grupo fosse ajudar… – Ele deu um sorriso fraco em direção à menina. Ele não aguentava essa situação, estar à beira de perder outra pessoa.
– O grupo foi um gatilho para ela.
Samantha segurou a mão de . Com uma voz diminuída e nada clara, ela pediu desculpa pelo surto. a tirou do volante e a colocou deitada no banco de trás do carro.
– Obrigado. Ela teve depressão e muitas vezes acontece essa recaída. Eu tirei ela da escola e estamos tentando tratar, mas é complicado.
– Eu sei, doenças mentais são complicadas demais. Elas fazem um grande estrago que poucas pessoas podem perceber. – respondeu. Ela começou a mexer na bolsa, atrás de um cartão. Após achá-lo, entregou para . – Eu sou psicóloga, se ela quiser conversar com alguém… Tem o endereço da clínica e meu número.
Se Samantha já fazia terapia, foi educado demais a não jogar na cara de , na hora, que não precisava de seus serviços. Ele apenas guardou o cartão no bolso traseiro da calça e deu um adeus agradecido a . Aquela foi a primeira noite em que os dois conversaram, mas diferentes das demais, o único sentimento recíproco era a dor.
Capítulo 2
Quando e conversaram novamente, a primavera já tinha dado lugar ao verão. Eles haviam se encontrado em diversas reuniões do grupo, mas o assunto havia ficado restrito a “Como está Samantha?” e “Bem”. Nenhum dos dois esperava uma amizade da relação ou qualquer coisa que passasse de uma mulher desconhecida preocupada com a filha depressiva de homem anônimo.
A reunião sempre acontecia na parte de trás da igreja, uma pequena sala com ventiladores, que em sua maioria funcionavam, paredes brancas como uma nuvem e algumas aranhas fazendo família em algum dos cantos. O local era aconchegante quando estava cheio de cadeiras e pessoas, afinal essas mesmas pessoas lotavam a mesa de comida, e a sala de conversas e lágrimas. O local era realmente aconchegante quando estava cheio, mas fatigante quando se era a única pessoa limpando e convivendo com as aranhas. E costumava ser esta “única pessoa”.
Era um sábado de manhã, o dia não estava tão maravilhoso quanto o meteorologista avisou que estaria. estava tentando organizar o lugar para a reunião de domingo, mas, como sempre, a preguiça tomou conta do seu ser. Ela não era muito boa em organizar as coisas, seu quarto e o fato de ainda morar com a mãe comprovam esse fato, mas ela não conseguia negar ajuda quando Marie dava um sorriso e, pressionava, pedia para ela.
sentou-se em uma cadeira e retirou o celular do bolso para entrar no Facebook, mas assim que ela escutou um barulho, deixou o celular de lado e tentou pegar uma vassoura.
—Olá, Marie? – chamou assim que escutou os passos novamente, mas, ao invés da amiga, foi que apareceu na porta. – ? O que faz aqui?
—Desculpa, vim conversar com a Marie, mas ainda não achei ela.
– Ela não costuma vir no dia da limpeza. – “Aquela caloteira”, quis acrescentar. – Está tudo bem? Quer que eu dê algum recado para ela?
– Eu precisava... Não importa, acredito que ela esteja desesperada para se livrar de mim. Vou parar de incomodá-la. – Ele respondeu e começou a dar a volta para sair da sala.
– Espera! É importante sim. O que está acontecendo? Talvez eu possa ajudar.
passava uma sensação de conforto para as pessoas a sua volta. Nem sempre foi assim, mas os muitos anos de terapia e a faculdade de psicologia fizeram um verdadeiro milagre em sua pessoa. realmente odiava incomodar as pessoas, e o homem sentia que estava fazendo isso com Marie nas últimas semanas, mas o desespero havia batido na sua porta da vida e entrado sem convite. Ele necessitava de ajuda, então não se importou de deixar a chave do carro na mesa e sentar-se para desabafar com a desconhecida, que ele havia conhecido há dois meses num grupo de apoio e que era psicóloga. A conversa começou com um “Explique-me toda a sua situação” e foi parar em “Você precisa perdoar a si mesmo”.
– Como vocês estavam na época? – perguntou.
– Ele queria tirar a carteira de habilitação, eu estava ensinando algumas coisas. Não tínhamos nada profundo. Nunca tive uma conversa de verdade com ele. – Ele suspirou, com dor.
– Você sabia que a maioria dos adolescentes não tem conversas de verdade com os pais. Tem alguns que chegam a falar apenas “Oi” e a “Janta está pronta?” durante semanas. Demorei dois anos para contar a minha mãe que namorava. Você procura todos os seus erros e coloca-os num pedestal, como se isso te fizesse um demônio, mas a verdade é que você cometeu erros paternos que a maioria dos pais cometem. – Ele olhou com serenidade para os olhos dela. – Seria saudável e maravilhoso se os pais conversassem com os filhos. Pode ter certeza que, se isso acontecesse, eu não teria um emprego agora, mas isso não acontece .
– Você não conseguiu resolver isso com seu filho, mas Samantha ainda precisa de você. Eu aprendi com algumas pessoas do grupo que você nunca deve fechar os olhos e aceitar que acabou, porque sempre existe um recomeço. – Ela finalizou a fala e pode perceber que faltava pouco para chorar em sua frente, mas, com toda certeza, ele não deixaria isso transparecer.
– Obrigado por conversar comigo. Eu pedi à psicóloga de Sam, mas ela se negou a falar comigo por conta…
– Rola conflito de interesses, é antiético atender pessoas da mesma família. Não se preocupe, eu estou à disposição.
– Obrigado. Acredito que te devo algo pela consulta? – perguntou tentando aliviar o clima
– Isso não foi uma consulta, e mesmo que fosse, eu não cobro das pessoas que participam do grupo. É uma regra minha. – Ela havia feito diversas promessas diferentes sobre ajudar as pessoas, não envolver dinheiro era parte de uma delas.
– Quantas pessoas você atende que não participam do grupo?
Ela sorriu porque sabia onde isso iria dar: poucas — ou quase nenhuma. A maioria das pessoas conhecia ela pelo grupo ou ela indicava para frequentar o grupo.
– Você deve passar fome. – falou, sorrindo.
– Esse é um dos vários motivos do porquê ainda moro com a minha mãe.
– E qual o principal motivo para ainda morar com a sua mãe?
E esse foi o momento em que poderia ter previsto que as coisas dariam errado entre os dois. Ela já havia escutado essa pergunta algumas vezes, talvez não tão direta ou curiosa, mas ela sempre dava alguma resposta já planejada, como “dinheiro”, “tempo” ou até mesmo “saudade”, mas ela nunca, ou apenas para a terapeuta, havia sido honesta na resposta. E, por algum motivo, enquanto estava suja, cansada, atrasada na sua limpeza e aconselhando um colega de igreja pareceu um bom momento.
– Eu... tenho medo de ficar sozinha. Minha mãe sempre está comigo desde que... bom, ela me protege. – As palavras saíram apreensivas.
estava com a boca carregada de sentimentos, e tudo o que ela conseguia especular era a palavra medo.
– Te proteger do quê?
– Meus próprios demônios.
– Como assim? – Ele questionou quando se aproximou de para tocar seus ombros.
– Eu não sou uma pessoa madura e equilibrada. Eu fui queimada por total quando Jack me deixou. – Antes que ele pudesse interromper, ela continuou. – Sei que não foi como se ele estivesse realmente indo embora, mas ele se matou, ele me abandonou sozinha...
—Você está viva e cheia de pessoas a sua volta, não está sozinha.
– Estou viva, mas sem ele. Jack me derrubou e... eu sou egoísta demais por não pensar na dor dele.
despertou-se a chorar sob o peito de , que tentava, sem êxito, acalmá-la. Ela havia perdido o seu controle, isso costumava acontecer quando a mesma passava muito tempo sem ir à terapia. desistiu do tratamento por já se considerar "100% bem", o que estava claramente confirmado como mentira.
desistiu de tentar falar algo e resolveu mudar da teórica para prática. Ele levantou o frágil corpo de e apertou contra o seu em um abraço silencioso. Por alguns segundos, que pareceram horas, sentiu seu couro ser aquecido por um homem. A última vez em que havia sido abraçada por alguém do sexo masculino tinha sido na semana do suicídio de Jack. negou-se a acreditar, enquanto se separou de e prestou atenção em seus olhos, lábios e toda sua face, mas, depois de quatro anos, havia tensão sexual sendo liberada pelo seu corpo. Esse primeiro contato foi também a primeira vez que a doutora percebeu o quanto era lindo.
Enquanto esses pensamentos percorriam na velocidade da luz pela mente dela, se aproximou e capturou os seus lábios em um agradável beijo. O beijo era doce e suave, fora um gesto carinhoso que alegrava profundamente o coração da psicóloga. Mesmo atormentada e louca para dar o fora, havia uma parte de si que havia adorado o beijo e queria novamente, e essa parte começou a destruir ela.
Após desenvolvido esse pensamento, saiu correndo para fora da sala. Ela tinha que fugir do mesmo ambiente que o "tal homem", e precisava fazer algo que não fazia há algumas semanas: visitar Jack.
Capítulo 3
Quando era criança, seu pai resolver ir embora. Era uma terça-feira ensolarada e animada, e seu pai saiu pela porta com o argumento de que não havia como viver um casamento sem amor. Sua mãe chorou por apenas cinco minutos e decidiu cortar o cabelo. entendeu que a cada recomeço sua mãe mudava a si mesma. Com o novo corte de cabelo e seu coração partido, Anna, mãe de , saiu a procura de um novo amor. Após vários fracassos, ela encontrou Adam. No dia do casamento dos dois, a irmã de Adam anunciou que iria fazer o discurso.
Ela disse: “Vocês sabem o significado de casa? O amor é o significado de casa.”
só foi entender essa frase quando estava com 16 anos e decidiu fugir para passar o ano novo com Jack. Eles estavam em meio a Times Square, e o céu estava preenchido por fogos de artifício. Quando o primeiro beijo do ano acabou, Jack pronunciou a frase mais romântica que poderia ter escutado.
– Você queira estar em casa? – Ela negou com a cabeça. – Saiba que eu estou em casa. Você é minha casa!
Naquele momento ela entendeu o significado de casa e o de amor.
dirigiu rapidamente até o cemitério. O lugar era apenas um grande campo verde cheio de lápides. Havia flores, cartões, joias e até mesmo garrafas de álcool sob as lápides. Jack se encontrava em uma das últimas fileiras, em seu túmulo estava escrito toda a dedicatória de sua mãe e, sobre o mesmo, algumas flores e fotos antigas dele com amigos. sentiu o ar bater em seu rosto e abaixou-se para colocar o seu barco de papel ao lado das rosas.
– Oi, meu amor. Eu fiz esse com a minha conta de gás, então é bem importante. – Ela o conheceu bem demais para saber que ele não era fã de flores, por isso sempre trazia uma dobradura que lembrasse o mar.
Ela ficou por algum tempo falando apenas das novidades: que sua mãe comprou um carro, Marie planejou reformar o apartamento e que o lixeiro deixou um bilhete pedindo para que ela cuidasse do jardim.
– Eu não te disse ainda, mas tem pessoas novas no grupo da igreja. Há a Sam e o pai dela, são pessoas legais, mas acho que nenhum dos dois estão bem. Inclusive, conversei com o pai dela hoje, ele se chama . – Ela respirou e continuou a conversa em que o diálogo só acontecia em sua mente. – Eu o achei bonito, e eu sei que isso não é um pecado, mas me senti estranha. Marie diz que eu deveria seguir em frente e começar a namorar, ela até me inscreveu no Tinder, e... eu não consigo, amor... Eu não me vejo seguindo em frente.
Os olhos começaram a lacrimejar, e em instantes, seu rosto foi possuído por uma inundação de lágrimas. Seu coração estava apertado e ela segurou-se a si mesma para não perder o controle novamente. Jack era seu grande amor, era o famigerado homem da sua vida, como ela poderia trocar ele ou pensar em sair com outro? Mesmo que ele estivesse morto, uma parte de si considerava todo aquele pensamento uma traição. Ela sabia quando começou a amá-lo que estava entrando em uma via de mão única, depois de amar Jack não há como voltar.
O céu começou a nublar, e a chuva estava espreguiçando-se para dar “olá” para a cidade. olhou para cima e deu um sorriso.
– Eu sei que você deve estar olhando-me e querendo que eu vá para casa descansar, mas, amor, a minha casa foi embora há alguns anos. Como eu vou descansar sem você?
Capítulo 4
É estranho como um sentimento consegue existir e ser aprisionado por tanto tempo. não se sentia atraída por alguém havia anos, aquele sentimento de tesão, ou simplesmente vontade, encontrava-se em escassez no corpo da mulher, mas quando ela pensava no e no beijo, era como se ela deixasse se libertar.
Você tem que ligar para ele e explicar o que aconteceu...
– O que eu iria falar? – Respondeu a Marie. – Desculpe por ter fugido do seu beijo, é que eu precisava ir ver meu ex-noivo que se matou, porque na profundidade da minha mente fudida eu acho que estou traindo ele?
– Talvez um pouco menos sincera.
sentou-se no chão ao lado de Marie. Era difícil para ela superar tudo, mesmo que já tivesse passado tanto tempo. Era difícil ter que conviver com a dor.
– Liga para ele. – Marie abraçou a amiga.
– Ele me mandou mensagem.
– O que ele mandou? – Marie levantou-se e foi atrás do celular de , que se encontrava sobre a mesa. Ela desbloqueou o celular e foi direto no aplicativo de mensagens.
– Desculpe-me, podemos nos encontrar para conversar? – Assim que Marie acabou de ler a conversa, a mesma começou a surtar.
As duas entendiam que a conversa não significa apenas uma "conversa" e sim algo mais.
– Vocês marcaram algo? – A amiga perguntou, bloqueando novamente o celular e entregando para .
– Não, e não vamos.
Marie deu um olhar feroz em direção a .
– Você sabe que precisa seguir em frente. Aceitar, conversar seria um bom começo.
– Não sei, Marie. – O celular em sua mão parecia estar clamando por resposta.
– É só uma conversa...
negava totalmente a menção de aceitar o convite, mas ela sabia que a conversa duraria a noite semana toda até ela ser obrigada a aceitar. E seria algo extremamente legal para a psicóloga sair de casa. Em sua própria, cabeça ela decidiu enganar a si mesma e aceitar o convite por Marie, mas ela sabia que parte de si gostaria demais de dizer sim.
– É, vou dizer que não posso ir.
Era uma sexta-feira à noite quando eles tiveram o primeiro encontro. Eles estavam em um restaurante iluminado, as paredes brancas faziam com que o lugar parecesse aconchegante. Havia um muro de madeira separando as mesas da cozinha, a mesma era fechada; as mesas eram cobertas por uma toalha bege e uma folha de centro.
Os dois fizeram o pedido e conversaram sobre como Samantha estava indo no tratamento.
– , sobre o beijo... Eu não deveria ter te beijado, foi um erro. – Exclamou . – Desculpe-me.
– Por que foi um erro?
não estava esperando por isso.
– Porque você fugiu.
– Eu não estava preparada para o beijo. – O garçom entregou os pedidos: torta de frango e de tomate, e as bebidas. – E eu fui infantil de ter sumido.
acariciou o pulso de , era uma forma de falar que “tudo estava bem” sem ter que usar palavras.
– Eu sei sobre o seu noivo… – interrompeu para corrigi-lo. – Okay, Jack, eu sei sobre Jack e que você deve me achar um tolo por ter te beijado, mas, , você é uma mulher linda e forte. Mesmo que eu não te conheça perfeitamente, posso dizer algo que talvez te faça fugir daqui também… Sinto-me atraído por você.
A proteção em volta de toda a frieza que havia planejado para a noite estava em cacos depois que escutou as palavras. Poderia ser algo de adolescente, ela só tinha 24 anos, mas ele tinha dito a palavra “linda”, era o primeiro homem depois de Jack que havia a chamado de linda.
– Você me acha linda? – Questionou , deixando sua torta de lado.
– Desde quando entrei na igreja. Você estava toda solta e ajudando todo mundo, e então você me ajudou com a Samantha.
pegou sua bolsa preta e retirou alguns dólares, jogando pela mesa. Ela sentia-se sufocada, precisava sair de perto do moço a sua frente. Ela iria fugir mais uma vez, só que desta vez a seguiu.
– Aonde está indo? – Ele gritou para que ela parasse.
A mulher parou e se virou para ele, seus olhos brilhavam como chamas de uma fogueira. A noite enaltecia ainda mais o seu estado de espírito.
– Você está falando loucuras, pare de falar que se sente atraído por mim ou que eu sou linda.
– Por quê? – Indagou , com uma voz oscilando entre gritar e não falar nada.
– Porque eu posso começar a acreditar. – Ela revidou com a voz pesada. – E eu não posso acreditar, porque eu também me sinto atraída por você.
– E qual o problema? Você está solteira e eu também, somos adultos... – atrapalhou sua fala com um grunhido de raiva.
– Você não entende? Eu amo aquele homem e não tem como parar de amá-lo.
– E quem te pediu para parar?
acariciou o pulso dela novamente, logo após segurou com força, o que a fez olhar dentro dos seus olhos. O olho era exatamente algo para admirar, parecia feito de vidro e magia, algo naquele órgão a fez ficar enfeitiçada e se deixar levar para mais um beijo. O beijo durou alguns segundos, mas pareceu que o mundo ficou em câmera lenta. A noite estava tão silenciosa que podia escutar seu coração, e ele batia forte, não por , ou por fome, mas porque seu corpo entendia que aquele beijo havia quebrado toda a ideia dela sobre tesão.
– Você não precisa parar de amar ele ou qualquer outra besteira que esteja passando pela sua cabeça. – Ele franziu a testa ao imaginar a loucura. – Só te peço para entrar naquele restaurante e me dar uma chance. Por uma noite, você pode esquecer de tudo e fingir que somos pessoas sem bagagem alguma, apenas tentando se conhecer?
Ela não podia, e ele sabia disso, mas mesmo assim, cinco minutos depois, os dois entraram no restaurante mais uma vez, e pelo resto da noite foi tudo tranquilo e calmo.
Capítulo 5
O mês passou rápido como um foguete. Os encontros se tornaram mais urgentes e frequentes, e a troca de mensagem virou algo cotidiano. Os dois estavam juntos mesmo que nenhum deles dissessem isso em voz alta, pareciam apenas dois adolescentes com troca de olhares, risadas, mensagens de texto até altas horas da madrugada e encontros toda semana. As pessoas ao redor adoravam a relação, era algo que fazia os dois melhores.
– Você tem três chances para adivinhar qual o meu filme preferido. – fez um três com as mãos e começou a pular sentada na cama. – Vamos , você tem que tentar.
– Barbie? – Ele deu risada da cara irritada que a menina fez.
– Você precisa se esforçar.
– Para?
– Conquistar-me! – Ele deu um sorriso folgado para .
– Eu já te conquistei.
deitou-se sobre , beijou-a enquanto fazia carinho em seu cabelo. Era fácil estar com , ela era linda, inteligente e supergentil. Ela o fazia bem, e estar bem era algo que ele desconheceu desde a morte do filho. Estar com o fazia mais do que bem, ter ela era como uma arma secreta para si, ele tinha mais chance de qualquer coisa com aquela mulher ao seu lado.
– Eu queria lhe fazer uma pergunta, por favor, não surte. – Ele segurou sua mão e repetiu o pedido em sua mente, era difícil falar em voz alta. – Quer namorar comigo?
Falar não surte era algo tão desnecessário no momento. Era impossível para não surtar, ele estava pedindo-a em namoro. Quando ela escutou as palavras, sua mente brilhou outra vez, ela tinha ido muito longe achando que poderia ser feliz sem Jack, que poderia deixar ele para trás.
– Você não vai fugir. – Ele a segurou na cama. – , o que está acontecendo?
– Eu não posso aceitar isso, . Eu não posso trair o Jack mais do que já estou traindo.
parecia ter se embriagado com angústia quando escutou o choro de .
– Quando você irá entender que não está traindo ele? Ele se foi, e você tem que deixar ele ir, assim como você me ensinou a deixar meu filho ir.
A mulher colocou a cabeça sobre o ombro de e as lágrimas começaram a fazer parte do corpo do mesmo.
– Ele me amava demais.
– É por te amar demais que eu sei que ele não gostaria que você parasse de viver por ele. – Os soluços se tornaram intensos. – Ouça, eu gosto muito de você e temos algo bom, algo que não me traz sofrimento, mas eu não posso te controlar ou esperar que você me aceite como namorado enquanto não consegue aceitar a ideia de seguir em frente.
– Eu segui em frente… – Foi dito entre soluços.
– Queria muito que isso fosse verdade.
limpou seu rosto na manga da blusa, despediu-se de com o coração totalmente quebrado. Ela precisava sair da casa antes que se quebrasse mais.
– Meu coração acaba de ser quebrado. – Falou, levando a mão ao lado esquerdo do peito. – Muito obrigada por ter feito eu me sentir viva novamente, e desculpe por ter bagunçado a sua vida.
– . – a chamou. – Isso não é um adeus, volte para bagunçar a minha vida quando estiver seguindo em frente.
Capítulo 6
falou com a mãe mais tarde naquela noite, contou tudo sobre o pedido e sobre o . Seu desabafo foi uma intensa bagunça, sua mãe prestou atenção em cada palavra e no final a deu um abraço forte. O desabafo durou bastante, mas elas só perceberam isso quando observaram as xícaras de café frio a sua frente. Anna sorriu para a filha, andou até a mesa de correspondência e procurou uma carta antiga. Foi sentar-se ao lado da filha após ter achado a carta.
– Talvez, só talvez, você deva dar uma chance para ele. – Disse ela, fazendo os olhos de reviraram.
– Mamãe! Você também? – Resmungou . – Marie só consegue falar disso.
Anna riu da raiva da filha. – Não é como se eu estivesse dizendo-te para você se casar com ele ou apagar Jack da sua mente. Mas a forma como você fala sobre ele, o sorriso e o brilho... Você gosta dele.
– Eu não...
– Não perca seu tempo falando mentiras que nem mesmo você acredita. – Anna colocou a carta na mão da filha. – Você me pediu para guardar essa carta porque não estava preparada para ler, eu fiz esse favor sem nem ao mesmo questionar nada. Agora peço que faça um favor por mim, considere toda a sua situação com o e com si mesma. Você merece seguir em frente.
reconheceu o papel a sua frente como a carta de suicídio que Jack havia escrito para ela. Respirando fundo e com o coração acelerado demais, escolher ler a carta mesmo destruindo-a apenas com a caligrafia.
Querida ,
Você deve estar querendo respostas mesmo já sabendo cada uma delas. Desde dos meus 14 anos, tenho lutado contra a depressão, você deve lembrar de cada crise e caixas de remédio.
Eu não sei te explicar o porquê de eu ter essa doença. Talvez seja algo de família, mesmo que eu não saiba de ninguém que seja suicida na minha família, talvez seja um vírus ou um pós-trauma. De acordo com o Google, uma em cada quatro pessoas tem alguma doença mental, então talvez eu seja apenas mais uma estatística.
Eu gostaria que você soubesse que ficar vivo me fazia sofrer. Viver não era liberdade, era uma forma de prisão. Eu não sou tão forte, por isso eu decidi acabar com tudo. Sei que é egoísmo, mas seria pior continuar preso em meu quarto escutando você perdendo a sua vida para tentar me salvar. Baby, você me melhorou, salvou todos os meus dias e esteve comigo apesar de tudo. Eu amo você.
Sempre vou te amar, você é única para mim. Agradeço-te por ter existido, e espero que não sinta-se presa a mim. Você merece o mundo, . Não pare a sua vida porque eu parei a minha. Sei que vai encontrar alguém na caminhada da vida e ele irá te fazer bem, você não vai precisar ser a babá de nenhum marido. Irá ser feliz e realizar todos os seus sonhos.
Peço-te para, quando você chegar no auge da sua vida, não se esqueça de mim, porque não teve um momento na minha vida que eu me esqueci de você.
Eu te amo, . Sempre vou te amar.
Capítulo 7
Os joelhos de se fixaram no chão de madeira do seu quarto, os cotovelos estavam posicionados em seu colchão. Em segundos, ela fechou os olhos e uniu as mãos em direção ao céu. Ela estava pronta para conversar com Deus, e desta vez, a primeira em muito tempo, iria falar dela.
– Oi, papai, sei que o Senhor deve estar ocupado com as guerras e a poluição, mas eu precisava conversar. – Suspirou . – Eu queria pedir para que você cuide do Jack por mim. Durante muito tempo, eu acreditei que eu não poderia gostar de ninguém, então apareceu e fez com que eu me colocasse em primeiro lugar. Eu gosto do , realmente gosto dele, e não vou me culpar por ter esse sentimento, porque ele é bom e eu mereço coisas boas.
Um leve sorriso apareceu no rosto de . Foi a primeira vez que ela demonstrou algum gesto de felicidade em meio às orações.
– Eu gostaria que o Senhor fosse o primeiro a saber que eu fiz a minha decisão sobre o que quero para a minha vida.
Ela continuou a oração agradecendo pelas pessoas que entraram em sua vida, terminou com o amém e levantou-se do chão.
Sentia-se mais leve depois do desabafo, algo realmente saiu dos seus ombros, fazendo com ela pudesse respirar com serenidade. caminhou até a sua suíte, abriu a decorada porta de madeira e jogou uma água em seu rosto. Como se fosse um pequeno milagre o toque de consciência, sua mente começou a caminhar para uma direção e ela iria seguir.
Desceu rapidamente as escadas, caminhou para o porta Chaves e retirou a que pertencia ao carro. Pegou o bloco de notas que estava ao lado e escreveu um bilhete para sua mãe.
"Fui atrás do ”.
correu até o carro, e assim que colocou a chave no contato, percebeu que ainda estava de pijama. Olhou para o horário no painel do carro e marcava 4h da manhã. Pensou em parar e voltar para casa, mas o pensamento de finalmente se entregar falava mais forte em sua mente que o de esperar.
O carro foi ligado, e no GPS o endereço foi registrado. Demorou uns 20 minutos para que chegasse no destino, e mais uns 10 para que suas pernas funcionassem e não desistissem de entrar.
Assim que a porta foi aberta, um sonolento, com os olhos semiabertos, uma calça de pijama preta, uma camisa de seda e surpreso pela mulher a sua frente.
– ? O que está fazendo aqui? – Perguntou .
Ele tocou o braço da mulher para ter certeza que não estava alucinando.
– Eu precisava conversar com você. Estive pensando, e devo colocar as coisas em ordem, começando por você.
– Que coisas em ordem? Não estou entendendo...
Ela respirou fundo e falou com uma voz fraca:
– Eu decidi seguir em frente.
Não precisou de qualquer outra palavra ou frase. a segurou nos braços, beijou-a para acabar com a distância entre os corpos e trazer para si a serenidade que os lábios dela o dava. No fim, o amor curou a dor.
Epílogo
Assim como concluiu Einstein, o tempo é algo relativo, e a dor também. Para algumas pessoas, pode durar uma eternidade, e para outras, segundos. Algumas pessoas sentem tanta dor que decidem retirar a sua vida, e outras conseguem sobreviver com a dor. Para e , o sofrimento foi presente por um longo momento que pareceu uma eternidade. A dor da perda infringiu neles um medo e falta de esperança que foi devastador. Assim como a relatividade pode ser cogitada em quando se pensa na escuridão de alguém, ela também pode ser presente na luz. A dor tinha passado, havia se casado novamente e deixado o amor entrar.
Era uma tarde quente, e estava com um vestido fresco que a deixava andar livremente e se divertir com a brisa que batia contra o seu corpo. A mulher encontrava-se no cemitério, ela precisava ter uma conversa importante com alguém impossível de ser esquecido. Haviam se passado 7 anos e muita coisa tinha mudado, como as visitas que deixaram de ser constantes.
Ela chegou perto a lápide, e se abaixou com dificuldade para colocar uma réplica de um navio ao chão. Uma fisgada percorreu suas costas, que a fez dar um gemido de dor.
– Oi, Jack, eu sei o que você deve estar pensando. – Ela falou, com um sorriso iluminando seu rosto. – Eu estou tão sumida. Tenho uma ótima explicação para isso tudo, antes que você comece a me julgar.
apontou sua mão esquerda para o céu, mostrando a delicada aliança que enfeitava seu dedo.
– Eu me casei, meu amor. E o é maravilhoso... – Seu coração bateu mais forte quando pensou no que iria dizer em seguida. – Eu o amo tanto, e eu não imaginei que pudesse sentir isso por alguém além de você.
As lágrimas começaram a nascer em seus olhos.
– Eu demorei para vir te ver porque eu gostaria de te contar algo. – As suas mãos foram em direção à curva da barriga. – Não sei se você reparou que estou um pouco gorda?
Suas mãos alisaram a barriga, e sua respiração começou a soar mais forte e tranquila.
– Estou de 7 meses, é um menino... Ele vai se chamar Jack.
O cemitério pareceu se comprimir em meio à cena. As árvores se encontravam com mais intensidade, e o vento veio se intrometer na conversa como se fosse um aviso que alguém estava escutando-a, ao menos para era um aviso que Jack estava escutando-a.
– Muito obrigada por ter entrado na minha vida. A pessoa que sou hoje só existe graças a tudo que você me ensinou. Você foi embora cedo demais e... eu te perdoo por isso... – Uma paz inundou o coração de .
– Eu te amo, Jack, sempre vou te amar.
começou a andar para a saída do cemitério. Algumas folhas começaram a cair e voar em sua direção. A mulher sentiu um aperto forte em seu peito, e algo em sua mente pediu para que ela olhasse, para que parasse por alguns segundos. Quando seus pés se fixaram na grama sem nenhum movimento, ela pode ouvir a voz doce e conhecida que sempre penetrou seus sonhos.
– Eu te amo, . Sempre vou te amar
Fim.
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