Finalizada em 21/03/2021

Capítulo Único

O GRANDE DIA

Estava exatamente como ela tinha sonhado desde que brincava com bonecas. As orquídeas brancas e rosas espalhadas, o corredor com piso de espelho, refletindo o teto bem pintado da pequena capela. Ao fundo, ouvia-se os violinistas e coral cantarem e tocarem uma das músicas preferidas dela na adolescência.
Todos os detalhes estavam impecáveis. Tudo no seu devido lugar, deixando um toque clássico e elegante.
estava lindíssima. O longo vestido com rendas e bordados delicados realçava a silhueta e a deixavam esplêndida. O véu foi arrumado por uma das organizadoras do casamento, deixando o tecido gigante bem esticado e evidente a frase bordada ‘til death do us part. Era o verdadeiro vestido de princesa e a mulher se sentia como uma.
O relacionamento com o noivo, , era como um conto de fadas. Ele a amava, respeitava e fazia de tudo para vê-la feliz e sorridente.
mordeu o lábio inferior e sentiu o estômago borbulhar. Olhou para a organizadora, que sussurrou baixinho que iriam abrir as portas da igreja. Apertou o buquê com força e respirou fundo disfarçadamente, abrindo em seguida o melhor sorriso que poderia dar.
Ninguém imaginava, nem mesmo nos piores pesadelos. Era para ser um dos melhores dias da vida dela, afinal.
As portas se abriram e deu o primeiro passo em direção ao altar, mirando o rosto de enquanto este tinha lágrimas de felicidade descendo por todo o rosto, surpreso ao vê-la no vestido e admirado pela beleza que ela tinha.
Ele a amava tanto. Todos sabiam como eles eram apaixonados e não imaginavam mais como seria a vida de sem e de sem . Ele a admirava. Acima de amor, acima de qualquer sentimento carnal. a admirava pela força, pela inteligência, pela determinação e, principalmente, pela bondade. Bondade essa que o ajudou nos piores momentos e sem nunca julgá-lo por algo. Ele devia sua vida, sua melhora como pessoa à ela, acima de tudo.
O homem a esperava de braços abertos, com uma careta no rosto por tentar conter o choro e um sorriso aberto. Ele não olhava para mais ninguém ali além dela, além dos olhos miúdos que ela tinha quando sorria.
, por outro lado, olhava para todos ao redor. Tias distantes, primos que eram quase irmãos, amigas da infância, a mãe com o olhar orgulhoso. Todos eles derramavam lágrimas de felicidade e ela sorria, vez ou outra sussurrando algumas gracinhas para os convidados, que retribuiam o sorriso.
Quando pararam em frente ao altar, desceu os degraus e se juntou à e ao pai dela. A mulher olhou para o homem e segurou a gargalhada ao vê-lo desabando em lágrimas, enxugando-as com um pequeno lenço.
— Cuida bem dela, . - Tentou fazer cara de bravo para intimidar o mais novo, mas caiu em lágrimas novamente, abraçando-o com um sorriso no rosto.
A relação deles era boa. Arthur tinha como um filho, até mesmo o convidava para os churrascos mesmo que não fosse. Iam à jogos, bares e restaurantes juntos. era pro Senhor o filho que ele nunca teve.
— O Senhor sabe que ela está em boas mãos. - O casal subiu os degraus com cuidado para que a mulher não tropeçasse no vestido. Eles haviam combinado todos esses pequenos detalhes uma semana antes, enquanto comiam pizza deitados no sofá. morria de medo de escorregar na igreja e pagar mico, já pediu para que ela não o deixasse beber vodka, não queria perder a memória e esquecer do melhor dia. E assim foi feito o acordo dos dois, eles se ajudariam.
— Boa noite a todos. — O padre começou e todos os convidados se sentaram, ficando em silêncio. — Estamos aqui hoje para celebrarmos o amor, o companheirismo e a confiança desse casal.



DEZOITO HORAS ANTES

A mulher sonhava com a lua de mel que teria na Jamaica quase que com um sorriso no rosto. Aquele era o estado mais calmo que estivera desde que ela e o noivo marcaram o casamento. Nunca tinha imaginado que escolher flores, docinhos, vestido e a orquestra perfeita fosse tão difícil. até sugeriu para a noiva contratar uma cerimonialista, mas durona e teimosa como era, negou. Se arrependimento matasse…
Foi bruscamente acordada no melhor momento, o que pulava na piscina de mãos dadas com enquanto o sol se punha no horizonte. Abriu os olhos assustada e conferiu o celular. Nenhuma mensagem, uma da manhã. Será que havia esquecido algo? O porteiro não deixaria qualquer um subir assim e o assaltante não toca a campainha quinhentas vezes.
Foi bocejando do quarto até a sala, praguejando o futuro marido baixinho por tê-la acordado. era difícil de dormir e às vezes tomava remédios para isso - todos com receita médica. Sabia que demoraria horas para voltar e que teria que acordar cedo no dia seguinte para o dia da noiva.
Bufando, abriu a porta, mantendo no rosto a típica cara de tédio que fazia quando achava algo uma merda. A expressão mudou rapidamente para pânico e então para surpresa. Antes que o homem pudesse balbuciar algo, assustou-se com a porta batendo em sua cara. A mulher, no lado de dentro do apartamento, coçava os olhos com força, pensando que talvez pudesse ser algum efeito colateral do remédio que havia tomado. Ouviu a campainha tocar mais algumas vezes e uma voz rouca a chamar. Merda, merda, merda.
Com o coração acelerado, o nó entalado na garganta e milhões de pensamentos por minuto, ela abriu a porta e o olhou fazendo pouco caso. Se ao menos ele soubesse tudo que passava dentro dela…
— Eu pensei que quatro anos depois você teria aprendido a ter educação. - Sorriu, debochando da situação que haviam passado no último encontro dos dois, logo após descobrir que ela não era a única mulher que ele ficava e tê-lo tocado do apartamento, o jogado no hall com as mudas de roupa e batido a porta na cara dele.
— O que faz aqui? - E só então reparou nele. Cabelos cacheados bagunçados, olhos e nariz vermelhos, quase como se ele tivesse chorado, uma garrafa de bourbon quase vazia na mão, um cigarro atrás da orelha - dizia que era o charme do cigarro ali que a havia conquistado. A camisa azul marinho com pequenos corações brancos amassada e com alguns botões faltando. Ele estava um trapo, além de feder álcool. — Cristo, ainda não jogou essa camisa fora?
— Ela me lembrava você. - viu uma perna fraquejar e segurou-se com força no batente da porta. — Uma versão reclamona de você, mas mesmo assim…
— O que você veio fazer aqui?
— E isso não é óbvio? Vim acabar com seu casamento, é claro. - Como se tivesse sido trazida para a realidade do que estava rolando ali, a mulher sentiu raiva. Muita raiva. Quem ele pensava que era? Fez menção para fechar a porta nele mais uma vez, mas ele a segurou com força e entrou no apartamento sem ter sido convidado.
— Vou chamar um uber pra você, . - Buscou o telefone no bolso do roupão e o desbloqueou, procurando pelo aplicativo. prestava atenção em todos os detalhes. Ela finalmente havia feito uma reforma na sala como ela tanto sonhara. O cômodo era integrado com a cozinha, deixando tudo amplo. Os móveis eram novos, a parede bem pintada e ela havia até colocado gesso no teto, mesmo falando sempre que era coisa de casa de mãe e pai. — Ele chega em cinco minutos.
— Acho que a única coisa que continua igual ao que eu me lembrava é você. - Ainda não a olhava.
— Eu não sou a mesma mais, .
— Meu deus, você jogou o porta retrato que eu te dei fora? - Ele a ignorou, olhando para um cantinho cheio de fotografias. - Você amava.
— Sim, mas precisei.
— Por que?
— Me lembrava você. — Ele engoliu seco e olhou para a camisa, se sentindo um idiota pelo que havia falado minutos atrás. - Ele chega em dois minutos, acho melhor você descer.
— Cancela. - Deu de ombros e mais um gole na bebida que carregava. Logo retirou a garrafa da mão dele, a colocando na mesa.
— Olha, eu não sei o que você esperava vindo aqui ou o que você realmente queria, mas esse papel de ex ficante não superado tá feio, até mesmo pra você. - Levantou a sobrancelha, provocando-o ao usar o título que eles se davam: ficantes.
Eles nunca foram sérios. Nunca combinaram exclusividade, apenas que eram a prioridade sempre. Em todo rolê que ela ia, todos sabiam que ela e ficariam. Mesma coisa quando ele aparecia de repente, os homens até desistiam de chegar na loira.
Era perceptível a química que eles tinham e muitas vezes invejável. Qual mulher não gostaria de a olhando da forma que olhava ? Era só vê-la que o sorriso brotava no rosto, a fala era mansa e os olhos brilhavam. Ninguém mais existia quando eles estavam no mesmo lugar.
E, bom, isso foi tudo. Nenhum dos dois nunca soube explicar exatamente o que havia acontecido para o fim. Claro que o ataque de ciúmes da mulher quando descobriu que ele havia ficado com uma pessoa conhecida foi o gatilho, mas os dois sabem que já havia acabado antes disso. Talvez fosse pela imaturidade dela ou então por nunca admitir o que sentia, mesmo sabendo muito bem. Foi um conjunto de imaturidade, infantilidade e falta de comunicação. Grandes venenos para um casal que tinha tudo para estar junto.
, eu já volto. Não chame uber novamente. - O olhou com confusão, vendo-o correr para o banheiro e pôde escutar o barulho da porta sendo fechada e a tampa da privada sendo aberta com certo desespero. O próximo som escutado por ela não foi um dos mais agradáveis.
— Porra, . Você aparece aqui depois de quatro anos e vomita no meu banheiro. - Batia na porta irritada. As narinas grandes enquanto respirava fundo, o cenho franzido e a cara de poucos amigos. costumava dizer que ela combinava com o próprio signo quando estava com raiva, pois realmente parecia um touro.
Teve que berrar algumas vezes com o homem, que só depois do décimo quinto xingamento e uma ameaça, abriu a porta rapidamente, voltando a cabeça para a privada segundos depois.
Primeiro o olhava com raiva e braços cruzados, pensando que havia lavado o banheiro dois dias antes. O que antes cheirava flores, agora estava impregnado de álcool e macarrão.
Ao ver que ele não pararia tão cedo, a preocupação se fez presente. Logo estava com a mão nos cabelos dele, o abanando com a outra. Assoprou a nuca do homem e até molhou, na tentativa de que o mesmo melhorasse.
Quando parou de colocar tudo para fora, se apoiou na parede e ficou com os olhos fechados. estava agachada ao seu lado, preparada para caso ele tivesse alguma ânsia novamente.
Os minutos se passaram e o silêncio era presente ali. Aos poucos voltava ao seu estado normal e cada vez mais que o álcool perdia o efeito, ele se consumia por vergonha. Eles não conversavam por anos, ele sequer mandava parabéns no aniversário dela ou mandou alguma mensagem quando descobriu que o pequeno gato, o xodó da mulher, havia falecido e agora estava ali, trancado no banheiro onde já fizeram de tudo, em uma posição desconfortável. O que diabos havia passado na cabeça dele quando decidiu andar da casa da irmã até a dela?
— Olha, eu sinto muito. - Disse em um sussurro, abrindo os olhos verdes e encontrando com os dela, que o olhava com curiosidade. — Eu não tinha o direito de aparecer aqui.
— Já conversamos sobre isso, . - Ele deu um mini sorriso ao perceber o apelido que ela costumava o chamar e percebeu como realmente sentia saudade disso, mesmo que dos mínimos detalhes.
se levantou e o ajudou a fazer o mesmo.
— Toma um banho antes que eu vomite também. Vou pegar algumas roupas pra você. - E saiu do cômodo antes que ele pudesse dizer algo.
O homem se encarou no espelho, fazendo uma careta ao perceber o quão acabado estava, além de ter a boca levemente suja. Entrou no box de roupa e ficou alguns minutos com os olhos fechados sentindo a água gelada bater em cada pedacinho do corpo.
Não sabia muito bem como seria a conversa que teriam assim que ele saísse dali e duvidava que fosse fácil. Tentava ensaiar algumas frases explicando o real motivo de estar ali, além de um ato inconsequente do bêbado. Sabia que esqueceria tudo assim que passasse pela porta, mas o confortava ensaiar.
— Tem toalha limpa no armário embaixo da pia. - A ouviu dizer e murmurou algo em resposta. Lavou os cabelos com o shampoo mais caro que ela tinha, rindo ao lembrar-se das vezes em que tomavam banho juntos e ela insistia para que ele lavasse o cabelo com qualquer marca barata que tivesse, com a desculpa de que o cabelo dele não era descolorido e não precisaria de um grande tratamento pros fios. sempre soube que ela era apenas muito mão de vaca.
Saiu do banheiro um tempo depois com a toalha enrolada na cintura, parando na sala sem saber para onde ir. gelou quando o viu semi nu e cobriu os olhos com uma mão, apontando o quarto dela com a outra.
— Tá na minha cama.
— Obrigado.
segurou o riso ao retirar a toalha da cintura e secar os cabelos. Como se ela nunca tivesse visto e tocado em tudo isso antes.
Assim que seco, olhou para as peças masculinas e sentiu o peito afundar. Com certeza tudo aquilo era dele. Pensava em como o noivo dela se sentiria ao saber que tinha outro homem pelado no quarto da noiva, vestindo as roupas dele. Aquilo era uma distração boa o suficiente para que não deixasse a tristeza o consumir por completo.
Passou pela sala e foi para a cozinha, percebendo pelo cheiro que ela estava cozinhando algo.
— Miojo. - Mexia a panela lentamente e o olhou, sem graça. — Acho que vai fazer bem pra você comer algo.
— Pensei que depois de quatro anos você teria ao menos aprendido a cozinhar. - Riu e recebeu o dedo do meio como resposta.
— Sou muito ocupada com o trabalho, .
— Colocou o tempero dessa vez? Da última ficou sem gosto. - Foi a vez dela de sorrir e sentir uma pequena pontinha de felicidade ao saber que ele ainda se lembrava.
se aproximou do fogão para dar uma olhada na panela e sentiu o coração quase sair pela boca. Ele estava muito perto.
As pernas logo bambearam, a mão suada quase deixando a colher de pau escapar. Ele sabia do efeito que causava ali, com um sorriso esperto no rosto por tempo demais.
— Que cheiro é esse? - Ela quebrou a tensão e ele se fez de desentendido.
— De miojo, ué. Você tá cozinhando. - estreitou os olhos e cruzou os braços.
— Qual shampoo você usou? - segurou o riso e desligou o fogo.
— Você ia deixar queimar.
— E você não me respondeu.
— Kérastase. Sente o cheirinho. - A puxou delicadamente pela cintura, fazendo com que ficassem com o rosto colado. sentiu a boca secar e não conseguiu se mover. se curvou para frente, fazendo com que o nariz da mulher roçasse nos cachos dele. — Muito melhor que aquele Juice que você usava. Olha como meu cabelo tá brilhante.
— É Joico, .

Ambos sentaram no sofá para comer, cada um com seu prato cheio de miojo e nuggets. Não haviam tocado no assunto principal até o momento, apenas conversaram sobre pequenas coisinhas. Era como se tivessem sido transportados para 2017, quando ainda se falavam.
— Esse programa é bom. - Ele deu uma golada no suco, tentando disfarçar o riso.
— Você é um grande idiota. - jogou uma almofada, fazendo com que batesse no copo dele e derrubasse um pouco de suco na roupa. Buscou o controle e alterou de Com quem $@!# me casei? para um desenho qualquer do Cartoon.
— Agora sujei toda a camiseta do seu noivo, !
— É só lavar depois. - Ele respirou fundo. Aquela era a confirmação que precisava, era dele mesmo. Levou os dois pratos e copos para a cozinha e se apoiou na bancada, encostando a testa no armário. Era agora. Tinha que ser agora. Ele não poderia passar a madrugada inteira aqui e não tocar nisso.
— Eu só preciso de dez segundos de coragem. Só dez. - Dizia para si mesmo incontáveis vezes, a fim de finalmente entender e colocar em prática.
— Tá tudo bem, ? Esqueceu o caminho de volta? Tá começando Ben 10. - A escutou dizer e mordeu o lábio com força, nervoso.
— Tô voltando pro meu monstrinho preferido. - Ela sorriu quando o viu e aumentou um pouco o volume da televisão.
— Eu tinha uma crush no Ben quando eu era criança. - Comentou rindo. — Bem gatinho.
— Você já viu uma trend no TikTok que diz que seu namorado parece o seu crush de infância? - encarou-a.
tem olhos castanhos. - Levantou as sobrancelhas o desafiando. Por mais que uma parte dele tenha quebrado em milhões de pedaços depois disso, outra parte dele sabia que ela havia entendido e estava brincando.
— E eu tenho olhos verdes. Logo, você está com o cara errado. - Sorriu orgulhoso ao terminar de falar. Os dois se olhavam no olho intensamente, sabiam que por trás de uma brincadeira tinham muitas verdades.
— Eu acho que não.
— Duvido que o - disse com voz de desdém. — Ande da casa da mãe até aqui depois de chorar no churrasco da família por você.
— Você chorou?
— Pra caralho. - Riu sem graça e umedeceu o lábio. Subitamente sentiu a vontade de voltar a chorar, então desviou o olhar o dela. — Eu descobri hoje sobre o lance do casamento.
— Se não tivesse me bloqueado de tudo, você saberia. - Tentou quebrar o gelo da conversa de alguma forma e arrancou um pequeno sorriso dele.
— Você que me bloqueou, . Até do snap e a gente não usa isso há muito, muito tempo. - Deu de ombros. — Nathália me contou. Na realidade, ela pensou que eu já soubesse. Me mostrou a foto que você postou no Instagram com a contagem regressiva e comentou como você tá linda.
— Eu sinto muito que tenha descoberto dessa forma, .
— E você realmente tá. - Pegou uma das mãos dela e entrelaçou com a sua. — Você não é mais a menina que costumava ficar comigo e acho legal ver isso. Nath me atualizou sobre sua vida quando perguntei. Sei que você tá quase se formando e trabalha também. Sei que perdeu uma avó durante esse tempo que nos falamos e doeu muito saber que eu não estava ali pra você quando você precisava. - Fazia carinho com o polegar e olhava para o gesto fixamente, sem saber se estava sonhando ainda ou se realmente estava acontecendo.
, não faz isso…
— Eu preciso, . Quando eu percebi no banheiro o que o bêbado havia me metido, eu preferi levar como um sinal do destino e aproveitar a chance que eu mesmo me dei. Tá entalado aqui há anos. - Apontou para a garganta e respirou fundo. Não podia deixá-la falar, não podia dar a si mesmo a oportunidade de perder a coragem. — Não vou demorar mais aqui, eu prometo. Sei como o dia de amanhã é importante pra você.
“Quando eu descobri que vocês estavam juntos, eu surtei. Enchi meu cu de droga e bebi tanto que no dia seguinte eu senti o maior arrependimento da minha vida. Eu nunca tinha experimentado nem maconha, você sabe. Eu chorei por dias e dias, os meninos tentavam me consolar e nada funcionava. Até que um dia passou. Comecei a sair com uma menina, até namorei por ela por um ano e meio, mas quando percebi que ainda gostava de você, preferi abrir mão.”
— Foi difícil pra mim também quando terminamos o que não tínhamos começado, , não pense que não. O que me confortava na época era saber que tudo acontece por uma razão e que realmente não fazia sentido algum a gente junto.
— Não fazia mesmo ou essa era uma desculpa que você se dava pra não tentar? - Ele sorriu triste. Os olhos estavam cheios de lágrimas. — Eu dava esse tipo de desculpa pra mim mesmo quando eu parava pra pensar em nós dois e chegava a conclusão que eu poderia ter te impedido de ir. Eu poderia ter demonstrado o que eu sentia, ter assumido algo mais sério contigo e sinto tanto, todos os dias, por ter aberto mão de você.
— Você sabe que a culpa nunca foi sua. Você demonstrava do seu jeito, seja postando foto comigo ou me apresentando pra sua família inteirinha. Eu não percebia isso. Não percebia que você só tinha medo de falar, mas demonstrava e a todo momento. Seja obrigando sua amiga a me mandar bom dia pelo seu celular todos os dias para que tivesse um motivo pra falar comigo, seja por me escutar sempre. Não se culpe por não termos dado certo, eu tenho uma parcela de culpa nisso muito, muito maior que você.
O silêncio voltou. Ambos perdidos demais em seus próprios pensamentos para pensar em abrir a boca. Ambos confusos pelas palavras que tinham escutado, por terem visto, pela primeira vez, o ponto de vista um do outro sobre um assunto que deveria ter sido resolvido há anos.
— Acho que a gente era muito imaturo. - Ele quebrou o silêncio e a viu concordar balançando a cabeça. — Adolescente é uma merda mesmo.
— Pelo menos a gente tem um monte de história pra contar. - Ela riu ao se lembrar de algumas delas. — Lembra que eu fiquei puta da vida contigo quando você não foi no meu aniversário e você entrou em desespero e me ligou a festa inteirinha?
— Eu tava ajudando meu amigo que deu PT, . - Revirou os olhos. — Se eu soubesse das mancadas que ele daria comigo, eu tinha deixado ele lá.
— Duvido. - Sorriram juntos. Ele era gentil demais para deixar alguém passando mal pra trás e hoje, cinco anos depois do episódio da festa de aniversário, ela o entendia perfeitamente.
— Sinto sua falta. — Suspirou e olhou para o teto, com a cabeça apoiada no encosto do sofá. — Todo santo dia. Me pego pensando em você várias vezes por dia há anos.
— Isso também acontecia comigo, . Eu apenas parei pra pensar se eu realmente sentia sua falta ou eu sentia falta do que tínhamos. - Ele a olhou atentamente, pedindo para que prosseguisse com o raciocínio. — A gente não se conhece mais. Aquela menina que você era apaixonado, não existe mais. O menino que me deixava boba, não existe mais. A gente sente falta do que éramos.
— Então admitiu que você sente falta?
— Eu sinto, confesso. Tudo acontece por uma razão. - assentiu.
— Saiba que eu estou disposto a te conhecer, a conhecer cada pedacinho de você. Seus novos medos, seus novos sonhos, saber por cada coisinha que você passou enquanto estive longe. Estou realmente disposto. - Quando percebeu que a mulher não responderia, levantou-se atrapalhado. — Me desculpa por ter vindo aqui e por ter te feito perder horas de sono. Eu não podia simplesmente ver o amor da minha vida se casando com outro e não fazer nada.
— Tá tudo bem. É bom colocar as coisas no lugar. - Ela levantou também, esperando pelo próximo passo dele.
— Preciso ir. - Ela assentiu e andaram juntos até a porta. pegou as coisas e roupas molhadas na mesa de jantar. — Pensa no que eu te disse.
— Vou pensar. Eu prometo. - O sorriso no rosto dele foi espontâneo. No fundo, havia uma leve esperança.
esperou o homem chamar o elevador, o observando pelo batente da porta, em silêncio. Quando ele abriu a porta, virou-se para ela e acenou.
?
— Sim? - Segurou a porta que já se fechava com desespero, a fim de ouvir o que ela teria para dizer.
— Essas roupas que te emprestei. - Apontou para ele, que já não tinha mais o sorriso no rosto. — Elas ficam melhores em você que no meu pai.

O GRANDE DIA

Todos estavam em silêncio, a olhando assustados e a mulher já podia ouvir até alguns comentários maldosos. apertava sua mão levemente pelo nervoso e sentia o pânico crescer dentro dele a cada segundo que ela demorava para responder.
sorria tentando disfarçar a confusão que tinha em sua mente naquele momento. O padre rezava para que ela respondesse logo.
, é de livre e espontânea vontade que você aceita como seu companheiro em matrimônio? - Ela ouviu o padre repetir e respirou fundo mais uma vez antes de dizer algo que mudaria sua vida para sempre.



FIM



Nota da autora: Sem nota.



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