Capítulo Único
Bonah Park ia ser casar!
Em um dia elas estavam cortando e arrancando os cabelos das bonecas, odiando garotos e tudo o que eles representavam, no outro estava vendo a melhor amiga carregar uma aliança que tinha um peso muito maior do que a pedra que estava incrustada nele por um homem. Tão rápido quanto a glória e a felicidade vieram, os problemas surgiram. Estavam na reta final dos preparativos para o tão esperado dia dos noivos. A cada imprevisto que surgia, Bonah sentia um tufo de cabelo cair. A sorte dela era ter uma amiga como para salvar tudo.
Elas estavam no buffet fechando os detalhes de como seria a apresentação do cardápio já fechado no início dos preparativos. Compartilhando a mesa, estava o noivo, , e o melhor amigo que seria o padrinho, , que opinavam no necessário, visto que as mulheres tinham tudo no controle e não pareciam muito abertas para críticas a essa altura do campeonato. Então, o celular de Bonah tocou. Em movimentos sincronizados, todos desceram o olhar para o aparelho nas mãos dela e repararam no nome que o visor exibia.
Costureira Vestido Noiva.
Bonah naturalmente buscou a amiga e os olhares se encontraram. Ambas se encararam por dois segundos até levarem as mãos às bochechas a abrirem a boca em um “O” para soltarem gritinho agudos até se recomporem, um costume que carregavam desde a adolescência. Os gestos já conhecidos despertaram risos nos homens que em deboche reproduziram a cena, mas sem a sincronia.
— Idiotas. — Bonah disparou, não menos nervosa com o celular que continuava a vibrar — Você segura a sua barra, , ou desisto agora mesmo do casamento. — a ameaça não era séria, porém se tornou uma artimanha a qual passou a recorrer desde as situações mais comuns às esdrúxulas.
— Ih, o clima pesou… Pesou. — brincou gesticulando com o indicador em frente ao pescoço, como se alguém estivesse com a corda no pescoço — Mas sem brincadeira: deveriam tentar fazer isso, é ótimo para aliviar o estresse.
Antes que a discussão fora do foco pudesse continuar, teve o celular da amiga empurrado contra si.
— Atende para mim, amiga? Se for outra péssima notícia, eu juro que não aguento! Vou entender como um sinal divino que de alguém lá de cima não apoia essa união. — olhou para cima com expressão forçada de dor.
aceitou o aparelho com os olhos revirados. buscou as mãos da mulher para dar conforto.
— Alô? Não, não é ela, mas pode falar. — no momento que atendeu, três pares de olhos fixaram-se nela — O quê? — o tom de voz aumentou.
— Ai meu deus, o que aconteceu? — Bonah ficou tão aflita que sentiu as pernas ficarem moles.
precisou de alguns segundos para processar a informação que recebera. Bonah surtaria. Passou os olhos rapidamente pelos três que a acompanhavam e pensou mais um pouco. Ótima que era em se livrar de situações que sufocavam, optou por disfarçar que o grito indignado que dera foi por não ouvir bem.
— A ligação está péssima! — fingiu com uma careta, afastando o aparelho do ouvido — Não consegui entender nada. Vou ver o que a costureira está tentando me dizer, lá fora. Podem continuar com o buffet. Eu já volto.
— O que será? — os homens perceberam que o brilho da noiva sumiu um pouco.
Parado ao lado do casal, assistiu a amiga deitar a cabeça nos ombros de com cara de choro. Este a puxou para mais perto, fazendo leves carinhos no rosto.
— Nem deve ser nada, Bonah. Vou deixar vocês terem um momento de casal e vou ver onde foi.
Assim que ficaram a sós, o casal permaneceu na mesma posição. Bonah buscou as mãos do marido para entrelaçar os dedos.
— Ele ainda gosta dela, não é? — perguntou em tom baixinho.
— Ele é louco por ela. — o noivo confirmou.
Do lado externo do restaurante, no estacionamento improvisado, encontrou a mulher andando de um lado para o outro com a ligação ainda acontecendo. A mão dela que estava livre puxava e bagunçava o rabo de cavalo insistentemente. Aproximou-se devagar para que ela o notasse e não se assustasse. Com um único gesto de mão, fez que era para ele ficar onde estava e esperar.
— Mas como é que isso aconteceu? Eu sinto muito, não estou diminuindo a gravidade da situação, mas a senhora entende que temos que resolver isso, certo? — pausa para ouvir o que o outro lado tinha a dizer — Tudo bem. Ok. Vamos marcar. Como disse, não é irreversível, né? Ótimo. — quando estavam prestes a desligar, lembrou — Ah, será que poderia não ligar mais para o telefone de Bonah? — limpou a garganta ao receber um olhar suspeito de — Com os preparativos, ela tem estado muito ocupada nas finalizações dos outros detalhes. Pode deixar que desse assunto, eu mesma tratarei com a senhora. Não mande mais mensagens também. Isso mesmo. Tudo para o meu número que vou te passar agora. Tem uma caneta?
juntou as mãos atrás do corpo.
— O que você acabou de fazer? — questionou temeroso.
— Mexendo os meus pauzinhos, . — retrucou em uma postura mais dura que imaginou. A conversa havia a deixado de mau humor — Se ninguém se mexer, não vai ter casamento!
— Hey, calma. — segurou-a pelo braço com delicadeza — O que aconteceu? — ambos se encararam e as expressões rígidas no rosto da mulher foram se suavizando e sem querer, as mãos fecharam-se em punhos. Reflexo da raiva da situação e também do efeito que a proximidade de causava.
desvencilhou-se do toque e deu um passo para trás. Em seguida, repetiu a mesma cena de antes com Bonah: levou os dedos até cobrir o rosto e gritou com toda a potência que a garganta tinha, procurando não fazer muito barulho. Quase como uma gralha esganiçada, fez a comparação mentalmente. Dessa vez, a mulher também se contorceu toda como uma criança birrenta que não recebeu o doce que pediu.
— Está tudo sob controle. — assegurou depois do episódio de instabilidade, passando a mão pelos cabelos.
— Tem certeza? — sabia que ela era uma boa mentirosa.
— Absoluta. Vou pedir pela amizade que tem com Bonah que não comente nada do que aconteceu aqui, está ouvindo?
— Eu posso te ajudar se me falar o que deu com a costureira, …
— Não. — foi curta — Não tem porquê envolver todo mundo. Muita gente só costuma ocupar mais tempo. Diga a eles que tive um imprevisto na escola e vou ter que voltar correndo para dar uma aula extra no lugar de outro professor que faltou, por favor.
— … — deixou os ombros caírem. Ela sempre resolvia tudo sozinha — Acha mesmo que eles vão cair nessa?
— Eu não me importo se vão acreditar. — olhou-o rapidamente — O dever de vocês nesse dia, seu e do , vai ser distrair Bonah de qualquer tentativa de lembrar, falar sobre ou contatar a costureira. Pode ser?
— Temos escolha? — rolou os olhos.
— Bom garoto. — sorriu satisfeita, mandando um beijo no ar antes de disparar para o outro compromisso marcado.
O ateliê onde Bonah Park encomendou o vestido de noiva perfeito havia sido inundado por um vazamento de um cano antigo do andar de cima. Não era algo em nível estratosférico, mas a quantidade de água acumulada no piso serviu para molhar a impecável cauda e as barras do traje branco volumoso reservado que ficava ali exposto no manequim. Quando chegou ao local para conferir, sentiu a pontada no peito ao perceber que o tecido que parecia a neve mais pura estava manchado. E agora?
— Não quero ir contra os direitos trabalhistas, mas a gente precisa dar um jeito nisso não importa o tempo que leve. — dinheiro não era problema para o casal de amigos, o que seria um rim a mais, ou a menos, dependendo da perspectiva — Ele precisa estar intacto antes de Bonah descobrir sobre o acidente. Se precisarem de um apoio para processar os malucos de cima, podem avisar também.
A partir daquele momento, não havia mais bondade ou consideração no mundo, seria ela contra todos que aparecerem para atrasar aquele casamento.
✨
— Eu não acredito que você fez tudo isso por mim! — Park berrava histérica comendo a porção de salada no pote que compraram em um mercadinho do caminho. Com a proximidade do grande dia, a noiva estava seguindo uma dieta restritiva em prol de boas fotos dentro do vestido. Seria ela e as folhas verdes no meio do restaurante de carnes.
— Pois acredite. Se alguém algum dia disser que eu não te amo, mande matar.
— Muito obrigada, ! — Bonah pulou em cima da amiga — Não sei o que seria de nós sem você.
— Nadinha, pode falar. — a empurrou para que se afastasse — Cuidado com onde aponta essa faca aí. — fez cara feia.
— Não, mas é sério! — Bonah ignorou o surto pelo talher de plástico — Você está sempre por aí cobrindo as pontas soltas. Obrigada. — a noiva pressionou os lábios em um bico para não chorar — É por isso que sempre penso em você em primeiro lugar e não poderia ser outra pessoa a saber das novidades que vem por aí. — fez desenhos aleatórios com a ponta do garfo no ar.
— O quê? — ficou visivelmente interessada, como a boa fofoqueira que era.
— Minha despedida de solteira! — Park jogou os braços para o alto enquanto colocava a língua para fora e a balançava em um semblante bizarro.
— Quais os planos? — foi se acomodando no sofá acolchoado de couro em L enquanto aguardavam o restante do grupo para comer.
— Uma noite inesquecível no bar dos meninos. Muita música, bebidas e homens gostosos. — o brilho no olhar com que Bonah recitava a lista de vantagens para aquela festa causava arrepios em . As coisas nunca ficavam só no que a amiga falava. Havia uma carta na manga que ela certamente só descobriria no dia.
— O que o disse a respeito dos homens gostosos? arqueou as sobrancelhas.
— Ele não tem que dizer nada. O evento é meu. Além disso, ele sabe que não tem nada a temer. — soltou um riso maroto — Depois que começamos a namorar, ele fez minhas exigências para homens subirem lá em cima. Ou é ou não é nada.
— Nossa, tocou meu coração, sabia? — zombou com uma mão no sobre o peito.
— Que coração… Nada a ver. — desdenhou — Você queria mesmo era alguém tocando em outra coisa sua. — mordeu a língua para fora.
— Acha mesmo que é de bom tom eu ir?
— Como assim? Que tipo de pergunta sem noção é essa?
— Faz tempo que eu não sou do tipo de pessoa que bebe até cair. Os bares não são os meus lugares preferidos para se estar.
— Corrigindo: você NUNCA foi de beber até cair, mas não precisa fazer isso. Só queria a presença e companhia das pessoas mais importantes nesse dia especial para mim. — então, suspirou — Até os meninos vão estar lá.
— Vivo desdenhando do bar deles. Se eu for, não vai soar como se estivesse cuspindo no prato que comi?
— Correção: você só desdenha do bar para provocar o .
— Vai ficar corrigindo tudo que eu falo agora? — ficou nervosa.
— E ele só retruca, porque precisa de motivos para conversar contigo. — continuou, fingindo que não foi interrompida — E respondendo ao seu questionamento: se suas falas não estiverem sendo condizentes: sim, vou corrigir! Você não tem nada contra o lugar, já não posso falar a mesma coisa para uns dos sócios.
— Eu não tenho implicância com o . Só acho engraçado o cara que não bota uma gota de álcool para dentro do corpo em prol do físico ter se tornado um dos sócios de um bar.
— Você zoa ele como se não fosse farinha do mesmo saco. Na boa, nunca vi duas pessoas tão certinhas que nem vocês.
— Podemos parar de falar dele, por favor?
Um ambiente que exibia o lado mais sensual das pessoas somado com bebidas dos mais variados gostos era uma equação com resposta óbvia: corria sérios riscos de acabar com a língua dentro da boca de e em várias outras regiões dele. O motivo que tornava tentador perder toda a razão era o mesmo que a repelia. No fim, não precisou nem disso para que ela desistisse de comparecer.
Não era como se ela precisasse de muita coisa para furar os encontros da turma também.
Com a correria para ajudar Bonah a não enlouquecer, nem pular no pescoço de alguém e ser presa antes do casamento somado às aulas que dava ao jardim de infância, estava exausta. Seu corpo pedia por um dia de sono sem culpa ou preocupações.
Com a pulseira holográfica que servia de passe para a despedida de solteira em mãos, avisou a amiga que não iria mais e que estava repassando o convite dela, pois sabia como essas coisas eram disputadas e não gostaria de estar segurando um lugar que poderia ser de alguém.
— Está ok, amiga. Te entendemos e não vamos te forçar a ir. Você sempre trabalha muito mesmo. Deixe-me saber se mudou de ideia.
Psicologia reversa agia de forma estranha. Bonah nunca fora tão compreensiva e fácil de convencer como agora. Geralmente, ela falava muito mais é só se dava por vencida pelo cansaço. quase se sentiu mal por não estar indo, mas não foi o suficiente para fazê-la mudar de ideia, até…
— , onde você está? — era a voz de Bonah do outro lado da linha, toda arrastada e anasalada. quase jurou ter ouvido um fungar.
— Eu estou em casa, doida. — conferiu as horas e concluiu que a despedida deveria ter começado a pouco — Como estão as coisas aí, se divertindo muito?
— Tá todo mundo bem doidão lá fora. Estou no banheiro agora. Não estou me sentindo muito bem. — o tom dela ficou emotivo de súbito.
— Cadê o ? — ficou um pouco nervosa — Onde estão os meninos para te ajudar? — franziu o cenho ainda que a amiga não pudesse ver.
— Não sei. — respondeu simplesmente seguindo com uma risada grogue — Todo mundo sumiu. Ou será que sou eu que não estou reconhecendo um palmo na minha frente? — outra risada que deixou em alerta — Acho que estou apagando aqui… Será que você poderia vir? Não estou me sentindo muito… — a voz foi ficando mais baixa até ficar inaudível. A ligação durou poucos segundos mais, tudo que se ouviu era os ruídos estranhos do ambiente.
O coração de foi à boca. Olhou para si mesma sentada na cama, de pijama e disparou a reagir. Colocou uma jaqueta de couro preta sob o moletom do pijama para disfarçar os trajes de dormir e a primeira calça que encontrou foi uma flare preta que usava para caminhar às vezes. Socou os documentos e o cartão e disparou a correr. Chegando lá, só faltou pular em cima do segurança.
— Eu não tenho o ingresso, mas se você chamar qualquer um dos proprietários e explicar…
— Entrada autorizada somente para pessoas com ingressos, senhora.
— Senhora? Quer mesmo que acredite que todos que estão aí dentro usaram de formas lícitas? — apontou para um ponto qualquer sobre os ombros do homem.
— Não vai entrar a menos que tenha ingresso. — foi duro, reforçando a própria presença ali na porta para evitar penetras.
— Chame qualquer um dos seus chefes para resolvermos isso agora. — estava afoita, sem ter mais notícias da amiga e sem ver ninguém conhecido. — Eles me conhecem! Não quero ficar na sua festa, estou procurando uma pessoa urgente, pessoa essa que é ninguém mais, ninguém menos que a anfitriã!
As ameaças não fizeram nem cócegas no “armário”, como o apelidou internamente. O homem não se intimidou em nenhum momento e a mulher ficou sem saber o que fazer. Não iria usar o discurso mesquinho de que o emprego do cara estaria por um fim se soubesse que ela era amiga próxima das pessoas que o colocaram para estar ali. Sentia-se bem imbecil já por estar usando o passe de “amiga dos donos” para poder passar.
— Por que a senhora não liga para algum deles e os chama aqui para provar que realmente os conhece?
— Mas é isso que vou fazer mesmo! — arregalou os olhos com tamanha afronta. Se os astros estavam a favor dela ainda não era seguro de concluir, mas reconheceu naquele instante a figura de passando por trás deles — ! ! ! — gritou desesperada para vencer a música e ser vista.
Bar… O estabelecimento estava beirando mais para uma boate naquele dia.
— ? — ele surgiu ao lado do segurança com um copo em mãos — O que está fazendo aqui? — colocou-se do lado de fora para conversar com ela.
— Você está bebendo? — a mulher mirou torto para o copo e balançou a cabeça — Cadê a Bonah?
— Não sei. — pensou — Perdida no meio das pessoas? A festa é para ela mesmo.
— Pede para esse cara me deixar passar. Preciso falar com a Bonah. — ou pelo menos só certificar que ela estava bem — Expliquei e expliquei e ele não quis me ouvir. “Só com o ingressos”. — imitou a fala, enfezada.
riu.
— Eu não entendo. Se a gente afrouxa na segurança, reclamam. Se contratamos uma empresa e treinamos bem os profissionais, reclamam. O que quer, ?
— Nesse momento, só ver a Bonah.
— Cadê a pulseirinha que ela te deu?
— Eu devolvi!
— Situação engraçada, não é? Você está implorando para entrar no meu bar e…
— Tira esse sorrisinho dessa boca, pois eu jamais pediria algo assim, se não fosse sério. Bonah me ligou e estava passando mal. Se você me achar ela e confirmar que está tudo bem, não preciso nem pisar no seu solo sagrado aí.
— Peraí, tem certeza do que está falando? — enxergou um resquício de seriedade se apossando no homem.
— Claro que sim.
— Vamos. — ofereceu um papel de mesmo acabamento holográfico das pulseiras especiais da despedida de solteira.
— Que isso? — analisava o ticket frente e verso desconfiada.
— Seu passe livre para tudo aqui dentro, . — ia a conduzindo com um toque leve nas costas no meio daquela bagunça de pessoas — Se mostrar isso aos funcionários, eles vão se colocar à disposição para qualquer coisa que precisar.
— Interessante… — olhou uma última vez para o papel com atenção antes de pressioná-lo bem entre os dedos — E quantos desses já distribuiu por aí, querido? — puxou conversa enquanto procurava pela figura da amiga pelos cantos.
— Você é a primeira e única. Esse é o meu passe de sócio.
Ela travou. lançou aquela informação como se não fosse nada, então ela rapidamente fingiu que não era nada demais. Embora fosse. Ele estava confiando poder total a ela. Entretanto, aquela não era a melhor hora para pensar naquilo…
— Onde Bonah te disse que estava mesmo? — por ser mais alto, ele enxergava melhor entre as pessoas.
— Ela não disse.
— Vai ser difícil encontrá-la desse jeito. Devíamos nos separ… — uma sirene estridente o interrompeu, fazendo holofotes vermelhos piscarem freneticamente.
— O que está acontecendo?
— Preciso subir no palco e seguir com a programação.
— Nossa melhor amiga sumiu, pode estar morrendo e você está preocupado em continuar a festa?
A decepção tinha um gosto mais amargo do que ela se lembrava. Viu dar os ombros e se afastar ao mesmo tempo que aquela sirene irritante continuava soando para atiçar as pessoas e deixá-la ainda mais irritada. Ela estava tão chocada e brava para conseguir reagir o suficiente e ir atrás dele para cobrar explicações. Então, todos começaram a se voltar para os balcões improvisados de palco.
As luzes se apagaram e depois começaram a piscar, revelando as silhuetas dos homens distribuídas em vários pontos do palco. O público gritou em incentivo. Com os olhos apertados, conseguiu identificar cada um deles, pouco a pouco, à medida que iam saindo da escuridão para os spots de luzes específicos dispostos em uma linha. A mulher levou as mãos à boca. estava no centro e em ambos os lados, os amigos que faziam parte do grupo deles acompanhavam. Pelo canto, avistou chegando para fechar a linha.
O que estava acontecendo?
O show de luzes foi de um vermelho para um rosa sensual e um holofote se iluminou sobre cada um dos homens. Nenhum deles disse alguma coisa, mantendo assim o conceito misterioso.
Batidas instrumentais de um pop lento começaram a preencher o espaço e com eles, os amigos iam fazendo movimentos para lá de provocantes. estava muito interessada em acompanhar só para ver aonde tudo aquilo levaria, contudo estava dividida entre o dever de encontrar a amiga também. Não era possível que o marido dela estivesse sensualizando ali na frente de todos e Bonah pudesse estar jogada em qualquer canto, apagada pelo álcool… Era?
Como se mais uma vez os céus estivessem respondendo suas perguntas, viu os homens formarem um círculo em volta de uma cadeira que estava no centro da estrutura. Ela estava tão distraída pelos movimentos deles que nenhum momento percebeu alguém colocando o móvel lá e… Feito mágica, Bonah Park surgiu com um sorriso de orelha a orelha, reluzente, no meio dos homens.
Os gritos de empolgação se tornaram mais fortes e permaneceu paralisada no mesmo lugar. Mas que porra estava acontecendo? Presa entre o dilema de descer a porrada na melhor amiga ou ir embora visto que estava tudo bem, nem se deu conta de que acabou assistindo o show com muito mais afinco do que gostaria. As camisas pretas levemente transparentes com os botões de cima entreabertos, as calças de couro mais apertadas do que deveriam ser deixavam a imaginação rolar.
Quando as luzes se iluminaram um pouco mais, a mulher no meio de um monte de convidados parou para analisar lentamente cada um deles. Naquele momento, os olhos dela cruzaram-se com os de .
De repente, se viu sedenta.
Poderiam haver comentários sobre a eloquência de Baekhyun, a sensualidade de Minseok e Kai, ou o carisma de Chanyeol, mas os olhos traidores de sempre recaiam em . A maldita dualidade que ele portava desde os tempos de escola primária que compartilharam. Aquele homem exalava um tipo de poder que a fazia paralisar, reagindo com um suspiro frustrado depois.
Desde pequenos, era conhecido por ser de uma família da alta sociedade, com o pai como juiz de muita influência na Corte, carregava o título de “Garoto de Ouro”. Com a seriedade e responsabilidade de alguém muito mais vivido, educação de primeira classe, gentileza e empatia de outra era, a reputação dele era impecável de imbatível. Entretanto, não era aquilo. Correção: não só aquilo... Pelo menos com ela. Fora dos olhares alheios, ele era piadista e sabia incorporar bem o papel de chato que pegava no pé dela, usando de exemplo o incidente na entrada da festa. O homem também exalava sensualidade sem sequer perceber, quase como um pacote completo.
Ao se dar conta de que ele estava dançando com a atenção fixada nela, prendeu a respiração involuntariamente, permitindo-se levar pelas densas sensações que despertava com maestria. Era somente ele e ela por alguns instantes.
Engoliu seco.
Aquele lugar estava um forno. Ideia idiota dela de sair agasalhada como se estivessem em um inverno rígido. As blusas pretas coladas nos corpos bem cuidados dos homens sobre o palco mostravam bem que não era só ela que estava passando por dificuldades. O rosto de faltava só pingar de suor e por mais incrível e assustador que fosse, a transpiração o tornava mais atraente. Os fios de cabelo antes moldados com um pouco de gel começaram a cair e grudar na testa. O rosto esculpido pelos deuses nunca esteve tão evidente com a ajuda do brilho do suor.
Céus, aquilo a relembrava dele em outras situações.
O evento era de Bonah. Não só aquele, mas todos os dias que estavam por vir seriam dedicados apenas à Bonah e . Não era de se esperar menos que eles fossem os que mais estivessem aproveitando e se divertindo com o circo armado. Os amigos dançavam de forma provocativa em volta de Park, como se ela fosse a rainha ali. Pelos fortes laços de amizade, a noiva só tinha olhos para o futuro marido e apesar de toda aura mais pesada envolvendo o local, ela só sabia rir dos movimentos do grupo. Sexys vistos de longe, mas muito desengonçados de perto. Os homens de longa data que aceitaram entrar na dinâmica também estavam só sorrisos com o efeito que estavam causando. Não havia um ali que recusasse atenção. Quando o instrumental terminou, se perguntou de onde a amiga tirou forças para se colocar de pé. Amizades à parte, não era a coisa mais fácil de aguentar ter mais de meia dúzia de homens gostosos dançando e se esfregando em você pelos quase cinco minutos mais longos da vida.
Pouco a pouco, as luzes cênicas foram se apagando, dando lugar para as lâmpadas mais quentes e claras. Bonah ria boba, satisfeita pela atenção toda. Com um microfone finalmente em mãos e avistando no meio das pessoas, concluiu que tudo estava sendo exatamente como ela queria, apesar da outra não estar com o semblante dos mais amigáveis.
Uma mentirinha do bem às vezes se fazia necessária.
O mal estar foi apenas uma isca para atrair a melhor amiga até lá. Conheciam-se o bastante para saber que jamais colocaria a saúde de alguém em dúvida.
Em poucas palavras, agradeceu a presença e o vigor de todos por estarem fazendo da ocasião um dos dias mais memoráveis que não se importaria de carregar consigo para repassar aos netos. Também introduziu um curto discurso de como e ela haviam chegado até ali e como o papel de cada amigo foi essencial na construção da relação, então Bonah finalmente conseguiu chegar aonde queria desde o início da noite.
— Todas as pessoas são muito importantes para a nossa história. No entanto, ainda tem uma essencial que não havia mencionado até agora. , essa é para você. — apontou com o indicador para onde ela estava — Uma pessoa que está todos os dias ao meu lado, dando apoio incondicional e tira forças até do bueiro. — risos gerais — Jamais aceitaria que não estivesse aqui hoje. Estar presente nos momentos difíceis é importante, mas saber dividir os bons também é, ! Não é à toa que diz que se compartilhamos a dor com alguém, ela diminui pela metade, mas se escolhemos dividir as vitórias, o sabor vem em dobro. É sobre isso! Queremos te ver feliz! Por isso, hoje, vamos dividir as glórias dessa noite. Tragam ela aqui.
— O quê? Não…
não achava que estava apresentável. Tentou se desvencilhar de todas aquelas mãos a empurrando para cima e falhou. Sabe-se lá de que inferno brotaram todas aquelas pessoas a fechando.
— Meu deus, eu vou te matar. — ameaçou entredentes na primeira oportunidade do dia que teve de estar de frente para Bonah, enquanto era levada e amarrada em uma cadeira, feito prisioneira.
Os amigos que ela tinha eram fãs ou haters?
Então, as luzes ficaram na coloração rosa outra vez e a introdução composta de batidas instrumentais que começou a tocar serviu quase que de prefácio para o que estava por vir. Enquanto o show não começava, viu pelo canto dos olhos meia dúzia de vítimas sendo colocadas em posições como a dela. Diferente dela, as demais pareciam bem à vontade para o que viria a seguir. No entanto, o breve momento de distração foi cortado no instante em que alguém se colocou na frente dela.
olhou para cima e deu de cara com mais sério que o normal, com um semblante de alguém que estava determinado a fazer um bom trabalho. Ela engoliu seco ao sentir um ponto abaixo do ventre apertar. Analisou-o de cima a baixo, passeando por todos os traços bem desenhados e soltou o ar. Ele, percebendo que estava sendo devorado com os olhos antes mesmo de começar tudo que tinham preparado, não conseguiu evitar de sorrir sacana, levando a língua levemente para fora da boca para sentir o raspar dos dentes.
Aquele momento era perfeito para roubar o coração dela.
Em um dia elas estavam cortando e arrancando os cabelos das bonecas, odiando garotos e tudo o que eles representavam, no outro estava vendo a melhor amiga carregar uma aliança que tinha um peso muito maior do que a pedra que estava incrustada nele por um homem. Tão rápido quanto a glória e a felicidade vieram, os problemas surgiram. Estavam na reta final dos preparativos para o tão esperado dia dos noivos. A cada imprevisto que surgia, Bonah sentia um tufo de cabelo cair. A sorte dela era ter uma amiga como para salvar tudo.
Elas estavam no buffet fechando os detalhes de como seria a apresentação do cardápio já fechado no início dos preparativos. Compartilhando a mesa, estava o noivo, , e o melhor amigo que seria o padrinho, , que opinavam no necessário, visto que as mulheres tinham tudo no controle e não pareciam muito abertas para críticas a essa altura do campeonato. Então, o celular de Bonah tocou. Em movimentos sincronizados, todos desceram o olhar para o aparelho nas mãos dela e repararam no nome que o visor exibia.
Costureira Vestido Noiva.
Bonah naturalmente buscou a amiga e os olhares se encontraram. Ambas se encararam por dois segundos até levarem as mãos às bochechas a abrirem a boca em um “O” para soltarem gritinho agudos até se recomporem, um costume que carregavam desde a adolescência. Os gestos já conhecidos despertaram risos nos homens que em deboche reproduziram a cena, mas sem a sincronia.
— Idiotas. — Bonah disparou, não menos nervosa com o celular que continuava a vibrar — Você segura a sua barra, , ou desisto agora mesmo do casamento. — a ameaça não era séria, porém se tornou uma artimanha a qual passou a recorrer desde as situações mais comuns às esdrúxulas.
— Ih, o clima pesou… Pesou. — brincou gesticulando com o indicador em frente ao pescoço, como se alguém estivesse com a corda no pescoço — Mas sem brincadeira: deveriam tentar fazer isso, é ótimo para aliviar o estresse.
Antes que a discussão fora do foco pudesse continuar, teve o celular da amiga empurrado contra si.
— Atende para mim, amiga? Se for outra péssima notícia, eu juro que não aguento! Vou entender como um sinal divino que de alguém lá de cima não apoia essa união. — olhou para cima com expressão forçada de dor.
aceitou o aparelho com os olhos revirados. buscou as mãos da mulher para dar conforto.
— Alô? Não, não é ela, mas pode falar. — no momento que atendeu, três pares de olhos fixaram-se nela — O quê? — o tom de voz aumentou.
— Ai meu deus, o que aconteceu? — Bonah ficou tão aflita que sentiu as pernas ficarem moles.
precisou de alguns segundos para processar a informação que recebera. Bonah surtaria. Passou os olhos rapidamente pelos três que a acompanhavam e pensou mais um pouco. Ótima que era em se livrar de situações que sufocavam, optou por disfarçar que o grito indignado que dera foi por não ouvir bem.
— A ligação está péssima! — fingiu com uma careta, afastando o aparelho do ouvido — Não consegui entender nada. Vou ver o que a costureira está tentando me dizer, lá fora. Podem continuar com o buffet. Eu já volto.
— O que será? — os homens perceberam que o brilho da noiva sumiu um pouco.
Parado ao lado do casal, assistiu a amiga deitar a cabeça nos ombros de com cara de choro. Este a puxou para mais perto, fazendo leves carinhos no rosto.
— Nem deve ser nada, Bonah. Vou deixar vocês terem um momento de casal e vou ver onde foi.
Assim que ficaram a sós, o casal permaneceu na mesma posição. Bonah buscou as mãos do marido para entrelaçar os dedos.
— Ele ainda gosta dela, não é? — perguntou em tom baixinho.
— Ele é louco por ela. — o noivo confirmou.
Do lado externo do restaurante, no estacionamento improvisado, encontrou a mulher andando de um lado para o outro com a ligação ainda acontecendo. A mão dela que estava livre puxava e bagunçava o rabo de cavalo insistentemente. Aproximou-se devagar para que ela o notasse e não se assustasse. Com um único gesto de mão, fez que era para ele ficar onde estava e esperar.
— Mas como é que isso aconteceu? Eu sinto muito, não estou diminuindo a gravidade da situação, mas a senhora entende que temos que resolver isso, certo? — pausa para ouvir o que o outro lado tinha a dizer — Tudo bem. Ok. Vamos marcar. Como disse, não é irreversível, né? Ótimo. — quando estavam prestes a desligar, lembrou — Ah, será que poderia não ligar mais para o telefone de Bonah? — limpou a garganta ao receber um olhar suspeito de — Com os preparativos, ela tem estado muito ocupada nas finalizações dos outros detalhes. Pode deixar que desse assunto, eu mesma tratarei com a senhora. Não mande mais mensagens também. Isso mesmo. Tudo para o meu número que vou te passar agora. Tem uma caneta?
juntou as mãos atrás do corpo.
— O que você acabou de fazer? — questionou temeroso.
— Mexendo os meus pauzinhos, . — retrucou em uma postura mais dura que imaginou. A conversa havia a deixado de mau humor — Se ninguém se mexer, não vai ter casamento!
— Hey, calma. — segurou-a pelo braço com delicadeza — O que aconteceu? — ambos se encararam e as expressões rígidas no rosto da mulher foram se suavizando e sem querer, as mãos fecharam-se em punhos. Reflexo da raiva da situação e também do efeito que a proximidade de causava.
desvencilhou-se do toque e deu um passo para trás. Em seguida, repetiu a mesma cena de antes com Bonah: levou os dedos até cobrir o rosto e gritou com toda a potência que a garganta tinha, procurando não fazer muito barulho. Quase como uma gralha esganiçada, fez a comparação mentalmente. Dessa vez, a mulher também se contorceu toda como uma criança birrenta que não recebeu o doce que pediu.
— Está tudo sob controle. — assegurou depois do episódio de instabilidade, passando a mão pelos cabelos.
— Tem certeza? — sabia que ela era uma boa mentirosa.
— Absoluta. Vou pedir pela amizade que tem com Bonah que não comente nada do que aconteceu aqui, está ouvindo?
— Eu posso te ajudar se me falar o que deu com a costureira, …
— Não. — foi curta — Não tem porquê envolver todo mundo. Muita gente só costuma ocupar mais tempo. Diga a eles que tive um imprevisto na escola e vou ter que voltar correndo para dar uma aula extra no lugar de outro professor que faltou, por favor.
— … — deixou os ombros caírem. Ela sempre resolvia tudo sozinha — Acha mesmo que eles vão cair nessa?
— Eu não me importo se vão acreditar. — olhou-o rapidamente — O dever de vocês nesse dia, seu e do , vai ser distrair Bonah de qualquer tentativa de lembrar, falar sobre ou contatar a costureira. Pode ser?
— Temos escolha? — rolou os olhos.
— Bom garoto. — sorriu satisfeita, mandando um beijo no ar antes de disparar para o outro compromisso marcado.
O ateliê onde Bonah Park encomendou o vestido de noiva perfeito havia sido inundado por um vazamento de um cano antigo do andar de cima. Não era algo em nível estratosférico, mas a quantidade de água acumulada no piso serviu para molhar a impecável cauda e as barras do traje branco volumoso reservado que ficava ali exposto no manequim. Quando chegou ao local para conferir, sentiu a pontada no peito ao perceber que o tecido que parecia a neve mais pura estava manchado. E agora?
— Não quero ir contra os direitos trabalhistas, mas a gente precisa dar um jeito nisso não importa o tempo que leve. — dinheiro não era problema para o casal de amigos, o que seria um rim a mais, ou a menos, dependendo da perspectiva — Ele precisa estar intacto antes de Bonah descobrir sobre o acidente. Se precisarem de um apoio para processar os malucos de cima, podem avisar também.
A partir daquele momento, não havia mais bondade ou consideração no mundo, seria ela contra todos que aparecerem para atrasar aquele casamento.
— Eu não acredito que você fez tudo isso por mim! — Park berrava histérica comendo a porção de salada no pote que compraram em um mercadinho do caminho. Com a proximidade do grande dia, a noiva estava seguindo uma dieta restritiva em prol de boas fotos dentro do vestido. Seria ela e as folhas verdes no meio do restaurante de carnes.
— Pois acredite. Se alguém algum dia disser que eu não te amo, mande matar.
— Muito obrigada, ! — Bonah pulou em cima da amiga — Não sei o que seria de nós sem você.
— Nadinha, pode falar. — a empurrou para que se afastasse — Cuidado com onde aponta essa faca aí. — fez cara feia.
— Não, mas é sério! — Bonah ignorou o surto pelo talher de plástico — Você está sempre por aí cobrindo as pontas soltas. Obrigada. — a noiva pressionou os lábios em um bico para não chorar — É por isso que sempre penso em você em primeiro lugar e não poderia ser outra pessoa a saber das novidades que vem por aí. — fez desenhos aleatórios com a ponta do garfo no ar.
— O quê? — ficou visivelmente interessada, como a boa fofoqueira que era.
— Minha despedida de solteira! — Park jogou os braços para o alto enquanto colocava a língua para fora e a balançava em um semblante bizarro.
— Quais os planos? — foi se acomodando no sofá acolchoado de couro em L enquanto aguardavam o restante do grupo para comer.
— Uma noite inesquecível no bar dos meninos. Muita música, bebidas e homens gostosos. — o brilho no olhar com que Bonah recitava a lista de vantagens para aquela festa causava arrepios em . As coisas nunca ficavam só no que a amiga falava. Havia uma carta na manga que ela certamente só descobriria no dia.
— O que o disse a respeito dos homens gostosos? arqueou as sobrancelhas.
— Ele não tem que dizer nada. O evento é meu. Além disso, ele sabe que não tem nada a temer. — soltou um riso maroto — Depois que começamos a namorar, ele fez minhas exigências para homens subirem lá em cima. Ou é ou não é nada.
— Nossa, tocou meu coração, sabia? — zombou com uma mão no sobre o peito.
— Que coração… Nada a ver. — desdenhou — Você queria mesmo era alguém tocando em outra coisa sua. — mordeu a língua para fora.
— Acha mesmo que é de bom tom eu ir?
— Como assim? Que tipo de pergunta sem noção é essa?
— Faz tempo que eu não sou do tipo de pessoa que bebe até cair. Os bares não são os meus lugares preferidos para se estar.
— Corrigindo: você NUNCA foi de beber até cair, mas não precisa fazer isso. Só queria a presença e companhia das pessoas mais importantes nesse dia especial para mim. — então, suspirou — Até os meninos vão estar lá.
— Vivo desdenhando do bar deles. Se eu for, não vai soar como se estivesse cuspindo no prato que comi?
— Correção: você só desdenha do bar para provocar o .
— Vai ficar corrigindo tudo que eu falo agora? — ficou nervosa.
— E ele só retruca, porque precisa de motivos para conversar contigo. — continuou, fingindo que não foi interrompida — E respondendo ao seu questionamento: se suas falas não estiverem sendo condizentes: sim, vou corrigir! Você não tem nada contra o lugar, já não posso falar a mesma coisa para uns dos sócios.
— Eu não tenho implicância com o . Só acho engraçado o cara que não bota uma gota de álcool para dentro do corpo em prol do físico ter se tornado um dos sócios de um bar.
— Você zoa ele como se não fosse farinha do mesmo saco. Na boa, nunca vi duas pessoas tão certinhas que nem vocês.
— Podemos parar de falar dele, por favor?
Um ambiente que exibia o lado mais sensual das pessoas somado com bebidas dos mais variados gostos era uma equação com resposta óbvia: corria sérios riscos de acabar com a língua dentro da boca de e em várias outras regiões dele. O motivo que tornava tentador perder toda a razão era o mesmo que a repelia. No fim, não precisou nem disso para que ela desistisse de comparecer.
Não era como se ela precisasse de muita coisa para furar os encontros da turma também.
Com a correria para ajudar Bonah a não enlouquecer, nem pular no pescoço de alguém e ser presa antes do casamento somado às aulas que dava ao jardim de infância, estava exausta. Seu corpo pedia por um dia de sono sem culpa ou preocupações.
Com a pulseira holográfica que servia de passe para a despedida de solteira em mãos, avisou a amiga que não iria mais e que estava repassando o convite dela, pois sabia como essas coisas eram disputadas e não gostaria de estar segurando um lugar que poderia ser de alguém.
— Está ok, amiga. Te entendemos e não vamos te forçar a ir. Você sempre trabalha muito mesmo. Deixe-me saber se mudou de ideia.
Psicologia reversa agia de forma estranha. Bonah nunca fora tão compreensiva e fácil de convencer como agora. Geralmente, ela falava muito mais é só se dava por vencida pelo cansaço. quase se sentiu mal por não estar indo, mas não foi o suficiente para fazê-la mudar de ideia, até…
— , onde você está? — era a voz de Bonah do outro lado da linha, toda arrastada e anasalada. quase jurou ter ouvido um fungar.
— Eu estou em casa, doida. — conferiu as horas e concluiu que a despedida deveria ter começado a pouco — Como estão as coisas aí, se divertindo muito?
— Tá todo mundo bem doidão lá fora. Estou no banheiro agora. Não estou me sentindo muito bem. — o tom dela ficou emotivo de súbito.
— Cadê o ? — ficou um pouco nervosa — Onde estão os meninos para te ajudar? — franziu o cenho ainda que a amiga não pudesse ver.
— Não sei. — respondeu simplesmente seguindo com uma risada grogue — Todo mundo sumiu. Ou será que sou eu que não estou reconhecendo um palmo na minha frente? — outra risada que deixou em alerta — Acho que estou apagando aqui… Será que você poderia vir? Não estou me sentindo muito… — a voz foi ficando mais baixa até ficar inaudível. A ligação durou poucos segundos mais, tudo que se ouviu era os ruídos estranhos do ambiente.
O coração de foi à boca. Olhou para si mesma sentada na cama, de pijama e disparou a reagir. Colocou uma jaqueta de couro preta sob o moletom do pijama para disfarçar os trajes de dormir e a primeira calça que encontrou foi uma flare preta que usava para caminhar às vezes. Socou os documentos e o cartão e disparou a correr. Chegando lá, só faltou pular em cima do segurança.
— Eu não tenho o ingresso, mas se você chamar qualquer um dos proprietários e explicar…
— Entrada autorizada somente para pessoas com ingressos, senhora.
— Senhora? Quer mesmo que acredite que todos que estão aí dentro usaram de formas lícitas? — apontou para um ponto qualquer sobre os ombros do homem.
— Não vai entrar a menos que tenha ingresso. — foi duro, reforçando a própria presença ali na porta para evitar penetras.
— Chame qualquer um dos seus chefes para resolvermos isso agora. — estava afoita, sem ter mais notícias da amiga e sem ver ninguém conhecido. — Eles me conhecem! Não quero ficar na sua festa, estou procurando uma pessoa urgente, pessoa essa que é ninguém mais, ninguém menos que a anfitriã!
As ameaças não fizeram nem cócegas no “armário”, como o apelidou internamente. O homem não se intimidou em nenhum momento e a mulher ficou sem saber o que fazer. Não iria usar o discurso mesquinho de que o emprego do cara estaria por um fim se soubesse que ela era amiga próxima das pessoas que o colocaram para estar ali. Sentia-se bem imbecil já por estar usando o passe de “amiga dos donos” para poder passar.
— Por que a senhora não liga para algum deles e os chama aqui para provar que realmente os conhece?
— Mas é isso que vou fazer mesmo! — arregalou os olhos com tamanha afronta. Se os astros estavam a favor dela ainda não era seguro de concluir, mas reconheceu naquele instante a figura de passando por trás deles — ! ! ! — gritou desesperada para vencer a música e ser vista.
Bar… O estabelecimento estava beirando mais para uma boate naquele dia.
— ? — ele surgiu ao lado do segurança com um copo em mãos — O que está fazendo aqui? — colocou-se do lado de fora para conversar com ela.
— Você está bebendo? — a mulher mirou torto para o copo e balançou a cabeça — Cadê a Bonah?
— Não sei. — pensou — Perdida no meio das pessoas? A festa é para ela mesmo.
— Pede para esse cara me deixar passar. Preciso falar com a Bonah. — ou pelo menos só certificar que ela estava bem — Expliquei e expliquei e ele não quis me ouvir. “Só com o ingressos”. — imitou a fala, enfezada.
riu.
— Eu não entendo. Se a gente afrouxa na segurança, reclamam. Se contratamos uma empresa e treinamos bem os profissionais, reclamam. O que quer, ?
— Nesse momento, só ver a Bonah.
— Cadê a pulseirinha que ela te deu?
— Eu devolvi!
— Situação engraçada, não é? Você está implorando para entrar no meu bar e…
— Tira esse sorrisinho dessa boca, pois eu jamais pediria algo assim, se não fosse sério. Bonah me ligou e estava passando mal. Se você me achar ela e confirmar que está tudo bem, não preciso nem pisar no seu solo sagrado aí.
— Peraí, tem certeza do que está falando? — enxergou um resquício de seriedade se apossando no homem.
— Claro que sim.
— Vamos. — ofereceu um papel de mesmo acabamento holográfico das pulseiras especiais da despedida de solteira.
— Que isso? — analisava o ticket frente e verso desconfiada.
— Seu passe livre para tudo aqui dentro, . — ia a conduzindo com um toque leve nas costas no meio daquela bagunça de pessoas — Se mostrar isso aos funcionários, eles vão se colocar à disposição para qualquer coisa que precisar.
— Interessante… — olhou uma última vez para o papel com atenção antes de pressioná-lo bem entre os dedos — E quantos desses já distribuiu por aí, querido? — puxou conversa enquanto procurava pela figura da amiga pelos cantos.
— Você é a primeira e única. Esse é o meu passe de sócio.
Ela travou. lançou aquela informação como se não fosse nada, então ela rapidamente fingiu que não era nada demais. Embora fosse. Ele estava confiando poder total a ela. Entretanto, aquela não era a melhor hora para pensar naquilo…
— Onde Bonah te disse que estava mesmo? — por ser mais alto, ele enxergava melhor entre as pessoas.
— Ela não disse.
— Vai ser difícil encontrá-la desse jeito. Devíamos nos separ… — uma sirene estridente o interrompeu, fazendo holofotes vermelhos piscarem freneticamente.
— O que está acontecendo?
— Preciso subir no palco e seguir com a programação.
— Nossa melhor amiga sumiu, pode estar morrendo e você está preocupado em continuar a festa?
A decepção tinha um gosto mais amargo do que ela se lembrava. Viu dar os ombros e se afastar ao mesmo tempo que aquela sirene irritante continuava soando para atiçar as pessoas e deixá-la ainda mais irritada. Ela estava tão chocada e brava para conseguir reagir o suficiente e ir atrás dele para cobrar explicações. Então, todos começaram a se voltar para os balcões improvisados de palco.
As luzes se apagaram e depois começaram a piscar, revelando as silhuetas dos homens distribuídas em vários pontos do palco. O público gritou em incentivo. Com os olhos apertados, conseguiu identificar cada um deles, pouco a pouco, à medida que iam saindo da escuridão para os spots de luzes específicos dispostos em uma linha. A mulher levou as mãos à boca. estava no centro e em ambos os lados, os amigos que faziam parte do grupo deles acompanhavam. Pelo canto, avistou chegando para fechar a linha.
O que estava acontecendo?
O show de luzes foi de um vermelho para um rosa sensual e um holofote se iluminou sobre cada um dos homens. Nenhum deles disse alguma coisa, mantendo assim o conceito misterioso.
Batidas instrumentais de um pop lento começaram a preencher o espaço e com eles, os amigos iam fazendo movimentos para lá de provocantes. estava muito interessada em acompanhar só para ver aonde tudo aquilo levaria, contudo estava dividida entre o dever de encontrar a amiga também. Não era possível que o marido dela estivesse sensualizando ali na frente de todos e Bonah pudesse estar jogada em qualquer canto, apagada pelo álcool… Era?
Como se mais uma vez os céus estivessem respondendo suas perguntas, viu os homens formarem um círculo em volta de uma cadeira que estava no centro da estrutura. Ela estava tão distraída pelos movimentos deles que nenhum momento percebeu alguém colocando o móvel lá e… Feito mágica, Bonah Park surgiu com um sorriso de orelha a orelha, reluzente, no meio dos homens.
Os gritos de empolgação se tornaram mais fortes e permaneceu paralisada no mesmo lugar. Mas que porra estava acontecendo? Presa entre o dilema de descer a porrada na melhor amiga ou ir embora visto que estava tudo bem, nem se deu conta de que acabou assistindo o show com muito mais afinco do que gostaria. As camisas pretas levemente transparentes com os botões de cima entreabertos, as calças de couro mais apertadas do que deveriam ser deixavam a imaginação rolar.
Quando as luzes se iluminaram um pouco mais, a mulher no meio de um monte de convidados parou para analisar lentamente cada um deles. Naquele momento, os olhos dela cruzaram-se com os de .
De repente, se viu sedenta.
Poderiam haver comentários sobre a eloquência de Baekhyun, a sensualidade de Minseok e Kai, ou o carisma de Chanyeol, mas os olhos traidores de sempre recaiam em . A maldita dualidade que ele portava desde os tempos de escola primária que compartilharam. Aquele homem exalava um tipo de poder que a fazia paralisar, reagindo com um suspiro frustrado depois.
Desde pequenos, era conhecido por ser de uma família da alta sociedade, com o pai como juiz de muita influência na Corte, carregava o título de “Garoto de Ouro”. Com a seriedade e responsabilidade de alguém muito mais vivido, educação de primeira classe, gentileza e empatia de outra era, a reputação dele era impecável de imbatível. Entretanto, não era aquilo. Correção: não só aquilo... Pelo menos com ela. Fora dos olhares alheios, ele era piadista e sabia incorporar bem o papel de chato que pegava no pé dela, usando de exemplo o incidente na entrada da festa. O homem também exalava sensualidade sem sequer perceber, quase como um pacote completo.
Ao se dar conta de que ele estava dançando com a atenção fixada nela, prendeu a respiração involuntariamente, permitindo-se levar pelas densas sensações que despertava com maestria. Era somente ele e ela por alguns instantes.
Engoliu seco.
Aquele lugar estava um forno. Ideia idiota dela de sair agasalhada como se estivessem em um inverno rígido. As blusas pretas coladas nos corpos bem cuidados dos homens sobre o palco mostravam bem que não era só ela que estava passando por dificuldades. O rosto de faltava só pingar de suor e por mais incrível e assustador que fosse, a transpiração o tornava mais atraente. Os fios de cabelo antes moldados com um pouco de gel começaram a cair e grudar na testa. O rosto esculpido pelos deuses nunca esteve tão evidente com a ajuda do brilho do suor.
Céus, aquilo a relembrava dele em outras situações.
O evento era de Bonah. Não só aquele, mas todos os dias que estavam por vir seriam dedicados apenas à Bonah e . Não era de se esperar menos que eles fossem os que mais estivessem aproveitando e se divertindo com o circo armado. Os amigos dançavam de forma provocativa em volta de Park, como se ela fosse a rainha ali. Pelos fortes laços de amizade, a noiva só tinha olhos para o futuro marido e apesar de toda aura mais pesada envolvendo o local, ela só sabia rir dos movimentos do grupo. Sexys vistos de longe, mas muito desengonçados de perto. Os homens de longa data que aceitaram entrar na dinâmica também estavam só sorrisos com o efeito que estavam causando. Não havia um ali que recusasse atenção. Quando o instrumental terminou, se perguntou de onde a amiga tirou forças para se colocar de pé. Amizades à parte, não era a coisa mais fácil de aguentar ter mais de meia dúzia de homens gostosos dançando e se esfregando em você pelos quase cinco minutos mais longos da vida.
Pouco a pouco, as luzes cênicas foram se apagando, dando lugar para as lâmpadas mais quentes e claras. Bonah ria boba, satisfeita pela atenção toda. Com um microfone finalmente em mãos e avistando no meio das pessoas, concluiu que tudo estava sendo exatamente como ela queria, apesar da outra não estar com o semblante dos mais amigáveis.
Uma mentirinha do bem às vezes se fazia necessária.
O mal estar foi apenas uma isca para atrair a melhor amiga até lá. Conheciam-se o bastante para saber que jamais colocaria a saúde de alguém em dúvida.
Em poucas palavras, agradeceu a presença e o vigor de todos por estarem fazendo da ocasião um dos dias mais memoráveis que não se importaria de carregar consigo para repassar aos netos. Também introduziu um curto discurso de como e ela haviam chegado até ali e como o papel de cada amigo foi essencial na construção da relação, então Bonah finalmente conseguiu chegar aonde queria desde o início da noite.
— Todas as pessoas são muito importantes para a nossa história. No entanto, ainda tem uma essencial que não havia mencionado até agora. , essa é para você. — apontou com o indicador para onde ela estava — Uma pessoa que está todos os dias ao meu lado, dando apoio incondicional e tira forças até do bueiro. — risos gerais — Jamais aceitaria que não estivesse aqui hoje. Estar presente nos momentos difíceis é importante, mas saber dividir os bons também é, ! Não é à toa que diz que se compartilhamos a dor com alguém, ela diminui pela metade, mas se escolhemos dividir as vitórias, o sabor vem em dobro. É sobre isso! Queremos te ver feliz! Por isso, hoje, vamos dividir as glórias dessa noite. Tragam ela aqui.
— O quê? Não…
não achava que estava apresentável. Tentou se desvencilhar de todas aquelas mãos a empurrando para cima e falhou. Sabe-se lá de que inferno brotaram todas aquelas pessoas a fechando.
— Meu deus, eu vou te matar. — ameaçou entredentes na primeira oportunidade do dia que teve de estar de frente para Bonah, enquanto era levada e amarrada em uma cadeira, feito prisioneira.
Os amigos que ela tinha eram fãs ou haters?
Então, as luzes ficaram na coloração rosa outra vez e a introdução composta de batidas instrumentais que começou a tocar serviu quase que de prefácio para o que estava por vir. Enquanto o show não começava, viu pelo canto dos olhos meia dúzia de vítimas sendo colocadas em posições como a dela. Diferente dela, as demais pareciam bem à vontade para o que viria a seguir. No entanto, o breve momento de distração foi cortado no instante em que alguém se colocou na frente dela.
olhou para cima e deu de cara com mais sério que o normal, com um semblante de alguém que estava determinado a fazer um bom trabalho. Ela engoliu seco ao sentir um ponto abaixo do ventre apertar. Analisou-o de cima a baixo, passeando por todos os traços bem desenhados e soltou o ar. Ele, percebendo que estava sendo devorado com os olhos antes mesmo de começar tudo que tinham preparado, não conseguiu evitar de sorrir sacana, levando a língua levemente para fora da boca para sentir o raspar dos dentes.
Aquele momento era perfeito para roubar o coração dela.
Fim!
Nota da autora: Oieeeee! Se você está lendo isso, obrigada por chegar até aqui <3 Eu tô só o pó da gaita, mas vencemos mais essa! KKKK O EXO é tudo e Kim Junmyeon é o maior. Sem mais declarações e só a minha opinião importa! KKKKK Eu estou morrendo de saudades de todos eles e Suho tem um lugarzinho especial guardado aqui sempre <3 Quando esse ficstape sair, acredito que pelo menos ele e Jongdae já vão estar de volta à civilização nos servindo muito.
É isso.
Bebam água e se cuidem, precisamos estar vivíssimas para o retorno do OT9!
Beijos,
Ale
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É isso.
Bebam água e se cuidem, precisamos estar vivíssimas para o retorno do OT9!
Beijos,
Ale
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