Capítulo 1
As estações
São como emoções
Umas duram tempo demais
Mas não se pode voltar atrás
Quão fugaz
Esse leve e traz
Efusivo,
Confuso
Imperativo
Oh belo amor
Quanta dor
Poderá gerar
Se eu não parar
De o amar?
Autora: Karoline Bordin — Obra: Inesperados.
— !
O ar parecia ser insuficiente, minha visão estava embaçada, meus batimentos descoordenados. A necessidade de respirar era a mesma de tê-lo ao meu lado. Faziam exatos três anos, em uma noite, no exato instante em que adormeci fui tirada dele! Maldito barco! Maldito labirinto! Maldito sentimento!
Em todos os anos de minha vida não sabia o que era me apaixonar. O amor era meramente fraternal, amava meus pais, amava meu irmão, amava meu povo; nada além disso! Agora tinha de conviver com a ausência dele! . O homem que me tomara por inteiro! Um homem que neste século nem imaginava nascer! O anel de noivado ainda permanecia comigo, agora, no entanto, tinha de usá-lo preso à uma gargantilha. Algo simples, mas que o mantinha escondido. Bem longe dos olhos dos abutres que ficaram insatisfeito por ter reaparecido.
Após meu desaparecimento, meus pais se empenharam em realizar buscas por todas as terras conhecidas e levou homens a explorar territórios em busca de algo que levasse a mim. Porém tudo fora em vão até que sem nenhuma explicação me encontraram desacordada flutuando no mesmo barco que desapareci.
Me levantei após longos minutos deitada, havia sido mais uma noite envolta de pesadelos, a mínima chance de revê-lo (em meus sonhos) eram anuladas por conta dos malditos pesadelos! Marcela e Carolina, minhas criadas, me esperavam quietas, prontas para me deixar preparada pelo longo dia que teria pela frente.
°~°~°~°~°~°~°~°~°~°~°~°~°~°~°~°~°~°~°
Havia tomado meu café da manhã em meu gabinete. Papa sempre pairava, como uma coruja, à minha volta. Atento, preparado para qualquer coisa, fosse lá o que ele esperasse. O problema era que desde a minha volta, ambos, Martino e Graziela, não me deixavam sozinha. Estavam sempre por perto. E naquela manhã apática, lá estava papa: tomando seu chá despreocupadamente enquanto observava alguns documentos, eu sabia que ele apenas fingia lê-los. Seus olhos sempre desviavam-se para a minha figura.
— Seu irmão em breve nos fará uma visita. — Papa quebra o silêncio tirando minha atenção dos papéis que minutos atrás fingia ler.
— Collete provavelmente está grávida novamente. — Comentei de modo despreocupado enquanto me recostava sobre a cadeira acolchoada.
— Devemos preparar uma grande recepção. — Papa sorri demonstrando que a provável notícia lhe deixava em êxtase.
— Mama já deve estar dando os arranjos finais quanto a isto. — Voltei meus olhos para os papéis. — Graziela não deixaria passar desapercebido a volta de Henrico.
— , amore mio... — Papa ajoelhou-se ao meu lado fazendo com que o olhasse. — Mia bella figlia... — Papa colocou sua mão sobre minha face. — Seus olhos sempre vívidos estão sem vida. Figlia mia, o que posso fazer para lhe trazer esse brilho de volta?
— Nada, papa. — O abracei sentindo-me segura nos braços de meu genitor. — Hoje é só um dia difícil.
— Quantos mais ainda terá pela frente? — Ao me indagar, senti a fisgada em meu peito. A dor sempre constante, me recordando a ausência dele. — Isso está nos matando, querida. Sua mãe e eu não sabemos mais o que fazer.
— Papa, per favore, não faça isso consigo mesmo! — Minha voz saiu abafada por conta que ainda o abraçava. — Eu sinto tanto por fazer com que você e mama sofram por algo que não tenho controle!
— Mia cara, não se pode controlar as coisas do coração. — Papa beijou o topo de meus cabelos enquanto falava num tom brando. — Gostaria de tê-lo conhecido.
Me afastei brevemente de papa o olhando surpresa; desde o dia que retornei não tocamos no assunto. O meu desaparecimento era algo evitado e isso de certa forma me confortava. Somente citá-lo era doloroso, porém ouvir meu pai falar, indiretamente, dele era algo surpreendente.
— Você teria assustado-o, porém tenho certeza que iria gostar dele. — Soltei a sentença com um singelo sorriso em meus lábios.
— Não tenho dúvidas. — Papa comentou em seu tom cômico arrancando uma breve gargalhada minha. — Me conte sobre ele.
— Papa, io... — Ele me interrompeu.
— É a primeira vez em meses que a vejo sorrir verdadeiramente. Essa, de fato, é a minha filha Espossito Bianchi. — Papa ficou de pé e nos levou ao longo sofá que ficava de frente à imensa janela, a qual exibia o meu saudoso oceano. — Agora me conte sobre ele.
— Ele era capitão de um navio, papa! — Iniciei recordando do momento que o vi, olhos verde-esmeralda, misteriosos, mas tão intensos!
— Já entendi o porquê de cativá-la. — Papa soltou a sentença sorrindo me incentivando a prosseguir.
— Ele tinha um gênio forte. Era um homem valoroso. Tinha a mesma paixão que io pelo oceano, mas era o fato de não tolerar injustiças que me cativou. ...— Pausei brevemente a fala, dizer o nome dele em voz alta para outra pessoa estava sendo menos doloroso que imaginava. — era como a brisa do mar, agradável, era tudo o que jamais será. — Completei evasiva.
Era difícil definir , ele era muitas coisas, um excelente companheiro, me compreendia sem que fosse necessário lhe dizer em voz alta o que sentia. exercia em mim o mesmo que o oceano. Após longos minutos, iniciei a pequenos monólogos sobre acontecimentos que presenciei e alguns fatos sobre mim e . Se tornou mais fácil prosseguir falando a respeito dele enquanto narrava minhas aventuras ao lado da frota irlandesa. Ver meu pai gargalhando também havia me incentivado. Vê-lo tão despreocupado revelava o quanto havia me fechado. O quanto estava machucando, mesmo que indiretamente, àqueles que mais amava!
Ao longo desses três anos, havia fortificado as frotas italianas com o conhecimento adquirido com a minha breve passagem pelo século 21. Havia procurado respostas quanto ao que me levara até , porém foram todas infrutíferas. Nenhuma explicação era plausível. Não havia registros, vestígios ou qualquer prova que indicasse como, mas eu sabia, em meu interior que havia algo relacionado ao labirinto.
No entanto, o reino havia crescido territorialmente e economicamente; com as frotas marítimas era possível explorar horizontes até então desconhecidos. Nesse meio tempo evitei o mar, não havia posto meus pés sobre nenhuma embarcação. Desejava ter um meio de não perder minha família e ainda ter . Embora soubesse que era impossível! Porém era o que ansiava.
— Eu ouvi gargalhadas. — Mama adentrou a sala se aproximando beijou minha fronte antes de se sentar ao lado de meu pai.
— Nossa bambina estava me contando sobre . — Papa beijou a mão de mama entrelaçando-as.
— ? — Mama indagou confusa recostando-se em papa enquanto seus olhos me olhavam atentamente em busca de explicações.
— . — E então iniciei a contar detalhes sobre o homem que estava há séculos de distância. Não era oceanos ou territórios que me separava dele! Era o TEMPO!
Enquanto falava sobre , meu amado Almirante, pude observar meus pais. Martino e Graziela eram o meu maior exemplo de amor. Eles eram pais calorosos, rígidos na medida certa, mas de fato afetuosos, porém quando se tratavam sobre eles não havia dúvidas que um nascera para o outro. Papa olhava para mama como se nenhuma outra mulher existisse além dela, seus olhos sempre exibiam o amor, respeito e admiração que sentia por sua esposa. Ele a tinha em mais alto pedestal. Mama era determinada, graciosa, entre tantas outras coisas, seus olhos sempre procuravam papa em qualquer lugar em que estivesse. Ambos pareciam ter uma linguagem própria. Um mundo que pertencia somente aos dois. Era realmente inspirador o que transmitiam com gestos e olhares o quanto se amavam, mas naquele exato dia, era como ter um lembrete do que havia perdido. Enquanto discorria sobre fatos que ocorreram comigo sentia-me cada fez mais fraca, até terminar em lágrimas quando mostrei o anel de noivado.
— Sorella? — A voz de Henrico se fez presente surpreendendo a todos.
Após desabar em prantos, meus pais me acolheram em seus braços, estava confortavelmente deixando a dor ser vista. Era sufocante mantê-la em sigilo. Mas assim que ouvi a voz de meu irmão, não senti a costumeira alegria e a calorosa animação. Estaria cercada pelas pessoas que amava, porém sendo lembrada que minha outra metade não estava ao meu lado.
— , ma cherie! — Collete, esposa de Henrico pronunciou-se exibindo sua surpresa ao ver meu estado.
— Apenas um dia ruim, famiglia. — Me levantei secando minha face elegantemente, minha voz exibia humor, o qual era forjado, mas havia sido treinada a mascarar minhas emoções desde sempre.
— O que houve, sorella? — Henrico se aproximou à passos apressados, porém mama o parou antes que chegasse mais perto.
— Sua irmã já lhe informou, figlio. — Ela segurava seu braço delicadamente. — Nada com o que tenha de se preocupar.
— Seja bem-vinda de volta, mia cara! — Papa saudou Collete a conduzindo para fora do recinto.
— Porque não nos informou que chegaria uma semana antes do esperado? — Mama ralhou com Henrico.
— Queria fazer uma surpresa. — Henrico comentou distraído enquanto me indagava com seus olhos o que havia acontecido.
— Estou bem. — Rolei os olhos seguindo para fora do gabinete. O ar havia se tornado incrivelmente pesado.
Com passos rápidos e tomando cuidado para o menor número de criados verem o meu estado, consegui chegar ao último andar do palácio, o terraço, conseguia ter a visão ampla de toda a cidade e o oceano completava a paisagem. Dispensei os guardas com um aceno e me sentei sobre a balaustrada que rodeava o terraço. Por vezes, havia passado horas dessa mesma forma. Meus pés estavam descalços enquanto balançava-os sobre o vácuo. O sol começava a se pôr no longo horizonte.
— Havia me prometido que não me contaria mentiras. — A voz de Henrico soou extremamente alta revelando sua chateação.
— Promessas são quebradas o tempo todo. — O respondi sem olhá-lo, meus olhos permaneciam fixos no horizonte.
— O que houve com io sou parte de ti e você é parte de mim? — Henrico apoiou-se sobre a balaustrada ao meu lado, permanecendo de costas para o horizonte.
— Per favore, fratello. — Suspirei voltando meu olhar para ele. — Cuide para que sua esposa não diga nada a ninguém sobre o que viu em meu gabinete.
— , o que está acontecendo? — Henrico indagou preocupado.
— Um dia ruim. — Falei de modo evasivo.
— Esse não é o real motivo, mia cara. — Henrico me tirou cuidadosamente de sobre a balaustrada e me carregou em seu colo até seu antigo aposento. — Não esconda de mim o que lhe aflige.
— Eu sinto a falta dele... — Soltei a sentença em um tom baixo, receosa. — Eu sei que fazem três anos, porém ...
— É como se sentisse que precisa dele para voltar a respirar. — Henrico completou me segurando de modo protetor em seus braços.
— Como? Quando? — Indaguei confusa.
— Collete. — Henrico sorriu afagando meus cabelos. — Quando ficamos separados após ter partido em uma viagem que durou meses afastado dela. — Henrico comentou calmamente. — Eu entendo que é a ausência é dolorosa, porém não consigo ir mais além. O que houve com você é inexplicável!
— Quando desperto penso que o que vivi fora um sonho apenas, porém quando vejo o anel tenho a certeza que tudo fora real. — Sussurrei tirando o anel da gargantilha entregando-o a Henrico. — Eu sei que tudo o que me ocorrera é algo inexplicável, confuso, mas tenho provas suficiente de que não fora apenas um delírio.
— Eu sei disso, mia cara. — Henrico devolveu o anel.
— Me perdoe pelo modo que o tratei. — O abracei com força, não suportava permanecer brava com o meu melhor amigo.
— Eu nunca consigo ficar com raiva de você. — Henrico envolveu seus braços ao meu redor me dando a certeza que tudo estava bem entre nós.
— Onde está meu sobrinho? — Comentei quebrando o silêncio.
— Com nosso papa, eu suponho. — Henrico riu.
— Papa é louco por Luca. — Sorri enquanto admirava o brilho no olhar de meu irmão. Havia sentido a falta dele. Estava enganada, ter ele por perto era a melhor coisa que poderia desejar. — Obrigada.
— Pelo o quê? — Henrico arqueou uma de suas sobrancelhas.
— Por ser o melhor irmão que poderia ter. — Soltei a sentença de modo sincero.
— Io sou parte de ti e você faz parte de mim! — Henrico sorriu para mim.
— Io sou parte de ti e você faz parte de mim. — Devolvi a sentença.
Esse era o nosso lema, uma marca. Éramos inseparáveis mesmo que estivéssemos longe um do outro. Ele era o meu melhor amigo, era a pessoa em que mais confiava. Henrico, mesmo morando em Paris, não deixava de nos visitar ou estar o mais presente que podia. Porém como ele auxiliava Collete no comando do reino francês era difícil conciliar as obrigações como rei com visitas à Itália. Portanto desfrutava de suas visitas como se fosse a última vez que o veria.
Quando encontrei Collete no jantar, me desculpei e passamos um tempo juntas, conversando e nos atualizando. Ao fim, Collete acabara se mostrando uma excelente amiga. Henrico não poderia ter escolhido melhor esposa do que ela. Após permitir-me conhecê-la enfim pude ver que meus caprichos haviam me cegado.
Nota da autora: algumas palavras estão em italiano deixarei ao final de cada capítulo o significado delas.
Per favore: por favor.
Sorella: irmã.
Fratello: irmão.
Mia cara: minha querida.
Famiglia: família.
Figlia/Figlio: filha/filho.
Bambina/Bambino: mesmo sentido de pequena, pequeno.
Amore mio: meu amor
Ma cherie (é francês e fora usada devido que Collete é francesa): minha querida.
Mama/Papa: mãe/pai.
São como emoções
Umas duram tempo demais
Mas não se pode voltar atrás
Quão fugaz
Esse leve e traz
Efusivo,
Confuso
Imperativo
Oh belo amor
Quanta dor
Poderá gerar
Se eu não parar
De o amar?
Autora: Karoline Bordin — Obra: Inesperados.
— !
O ar parecia ser insuficiente, minha visão estava embaçada, meus batimentos descoordenados. A necessidade de respirar era a mesma de tê-lo ao meu lado. Faziam exatos três anos, em uma noite, no exato instante em que adormeci fui tirada dele! Maldito barco! Maldito labirinto! Maldito sentimento!
Em todos os anos de minha vida não sabia o que era me apaixonar. O amor era meramente fraternal, amava meus pais, amava meu irmão, amava meu povo; nada além disso! Agora tinha de conviver com a ausência dele! . O homem que me tomara por inteiro! Um homem que neste século nem imaginava nascer! O anel de noivado ainda permanecia comigo, agora, no entanto, tinha de usá-lo preso à uma gargantilha. Algo simples, mas que o mantinha escondido. Bem longe dos olhos dos abutres que ficaram insatisfeito por ter reaparecido.
Após meu desaparecimento, meus pais se empenharam em realizar buscas por todas as terras conhecidas e levou homens a explorar territórios em busca de algo que levasse a mim. Porém tudo fora em vão até que sem nenhuma explicação me encontraram desacordada flutuando no mesmo barco que desapareci.
Me levantei após longos minutos deitada, havia sido mais uma noite envolta de pesadelos, a mínima chance de revê-lo (em meus sonhos) eram anuladas por conta dos malditos pesadelos! Marcela e Carolina, minhas criadas, me esperavam quietas, prontas para me deixar preparada pelo longo dia que teria pela frente.
Havia tomado meu café da manhã em meu gabinete. Papa sempre pairava, como uma coruja, à minha volta. Atento, preparado para qualquer coisa, fosse lá o que ele esperasse. O problema era que desde a minha volta, ambos, Martino e Graziela, não me deixavam sozinha. Estavam sempre por perto. E naquela manhã apática, lá estava papa: tomando seu chá despreocupadamente enquanto observava alguns documentos, eu sabia que ele apenas fingia lê-los. Seus olhos sempre desviavam-se para a minha figura.
— Seu irmão em breve nos fará uma visita. — Papa quebra o silêncio tirando minha atenção dos papéis que minutos atrás fingia ler.
— Collete provavelmente está grávida novamente. — Comentei de modo despreocupado enquanto me recostava sobre a cadeira acolchoada.
— Devemos preparar uma grande recepção. — Papa sorri demonstrando que a provável notícia lhe deixava em êxtase.
— Mama já deve estar dando os arranjos finais quanto a isto. — Voltei meus olhos para os papéis. — Graziela não deixaria passar desapercebido a volta de Henrico.
— , amore mio... — Papa ajoelhou-se ao meu lado fazendo com que o olhasse. — Mia bella figlia... — Papa colocou sua mão sobre minha face. — Seus olhos sempre vívidos estão sem vida. Figlia mia, o que posso fazer para lhe trazer esse brilho de volta?
— Nada, papa. — O abracei sentindo-me segura nos braços de meu genitor. — Hoje é só um dia difícil.
— Quantos mais ainda terá pela frente? — Ao me indagar, senti a fisgada em meu peito. A dor sempre constante, me recordando a ausência dele. — Isso está nos matando, querida. Sua mãe e eu não sabemos mais o que fazer.
— Papa, per favore, não faça isso consigo mesmo! — Minha voz saiu abafada por conta que ainda o abraçava. — Eu sinto tanto por fazer com que você e mama sofram por algo que não tenho controle!
— Mia cara, não se pode controlar as coisas do coração. — Papa beijou o topo de meus cabelos enquanto falava num tom brando. — Gostaria de tê-lo conhecido.
Me afastei brevemente de papa o olhando surpresa; desde o dia que retornei não tocamos no assunto. O meu desaparecimento era algo evitado e isso de certa forma me confortava. Somente citá-lo era doloroso, porém ouvir meu pai falar, indiretamente, dele era algo surpreendente.
— Você teria assustado-o, porém tenho certeza que iria gostar dele. — Soltei a sentença com um singelo sorriso em meus lábios.
— Não tenho dúvidas. — Papa comentou em seu tom cômico arrancando uma breve gargalhada minha. — Me conte sobre ele.
— Papa, io... — Ele me interrompeu.
— É a primeira vez em meses que a vejo sorrir verdadeiramente. Essa, de fato, é a minha filha Espossito Bianchi. — Papa ficou de pé e nos levou ao longo sofá que ficava de frente à imensa janela, a qual exibia o meu saudoso oceano. — Agora me conte sobre ele.
— Ele era capitão de um navio, papa! — Iniciei recordando do momento que o vi, olhos verde-esmeralda, misteriosos, mas tão intensos!
— Já entendi o porquê de cativá-la. — Papa soltou a sentença sorrindo me incentivando a prosseguir.
— Ele tinha um gênio forte. Era um homem valoroso. Tinha a mesma paixão que io pelo oceano, mas era o fato de não tolerar injustiças que me cativou. ...— Pausei brevemente a fala, dizer o nome dele em voz alta para outra pessoa estava sendo menos doloroso que imaginava. — era como a brisa do mar, agradável, era tudo o que jamais será. — Completei evasiva.
Era difícil definir , ele era muitas coisas, um excelente companheiro, me compreendia sem que fosse necessário lhe dizer em voz alta o que sentia. exercia em mim o mesmo que o oceano. Após longos minutos, iniciei a pequenos monólogos sobre acontecimentos que presenciei e alguns fatos sobre mim e . Se tornou mais fácil prosseguir falando a respeito dele enquanto narrava minhas aventuras ao lado da frota irlandesa. Ver meu pai gargalhando também havia me incentivado. Vê-lo tão despreocupado revelava o quanto havia me fechado. O quanto estava machucando, mesmo que indiretamente, àqueles que mais amava!
Ao longo desses três anos, havia fortificado as frotas italianas com o conhecimento adquirido com a minha breve passagem pelo século 21. Havia procurado respostas quanto ao que me levara até , porém foram todas infrutíferas. Nenhuma explicação era plausível. Não havia registros, vestígios ou qualquer prova que indicasse como, mas eu sabia, em meu interior que havia algo relacionado ao labirinto.
No entanto, o reino havia crescido territorialmente e economicamente; com as frotas marítimas era possível explorar horizontes até então desconhecidos. Nesse meio tempo evitei o mar, não havia posto meus pés sobre nenhuma embarcação. Desejava ter um meio de não perder minha família e ainda ter . Embora soubesse que era impossível! Porém era o que ansiava.
— Eu ouvi gargalhadas. — Mama adentrou a sala se aproximando beijou minha fronte antes de se sentar ao lado de meu pai.
— Nossa bambina estava me contando sobre . — Papa beijou a mão de mama entrelaçando-as.
— ? — Mama indagou confusa recostando-se em papa enquanto seus olhos me olhavam atentamente em busca de explicações.
— . — E então iniciei a contar detalhes sobre o homem que estava há séculos de distância. Não era oceanos ou territórios que me separava dele! Era o TEMPO!
Enquanto falava sobre , meu amado Almirante, pude observar meus pais. Martino e Graziela eram o meu maior exemplo de amor. Eles eram pais calorosos, rígidos na medida certa, mas de fato afetuosos, porém quando se tratavam sobre eles não havia dúvidas que um nascera para o outro. Papa olhava para mama como se nenhuma outra mulher existisse além dela, seus olhos sempre exibiam o amor, respeito e admiração que sentia por sua esposa. Ele a tinha em mais alto pedestal. Mama era determinada, graciosa, entre tantas outras coisas, seus olhos sempre procuravam papa em qualquer lugar em que estivesse. Ambos pareciam ter uma linguagem própria. Um mundo que pertencia somente aos dois. Era realmente inspirador o que transmitiam com gestos e olhares o quanto se amavam, mas naquele exato dia, era como ter um lembrete do que havia perdido. Enquanto discorria sobre fatos que ocorreram comigo sentia-me cada fez mais fraca, até terminar em lágrimas quando mostrei o anel de noivado.
— Sorella? — A voz de Henrico se fez presente surpreendendo a todos.
Após desabar em prantos, meus pais me acolheram em seus braços, estava confortavelmente deixando a dor ser vista. Era sufocante mantê-la em sigilo. Mas assim que ouvi a voz de meu irmão, não senti a costumeira alegria e a calorosa animação. Estaria cercada pelas pessoas que amava, porém sendo lembrada que minha outra metade não estava ao meu lado.
— , ma cherie! — Collete, esposa de Henrico pronunciou-se exibindo sua surpresa ao ver meu estado.
— Apenas um dia ruim, famiglia. — Me levantei secando minha face elegantemente, minha voz exibia humor, o qual era forjado, mas havia sido treinada a mascarar minhas emoções desde sempre.
— O que houve, sorella? — Henrico se aproximou à passos apressados, porém mama o parou antes que chegasse mais perto.
— Sua irmã já lhe informou, figlio. — Ela segurava seu braço delicadamente. — Nada com o que tenha de se preocupar.
— Seja bem-vinda de volta, mia cara! — Papa saudou Collete a conduzindo para fora do recinto.
— Porque não nos informou que chegaria uma semana antes do esperado? — Mama ralhou com Henrico.
— Queria fazer uma surpresa. — Henrico comentou distraído enquanto me indagava com seus olhos o que havia acontecido.
— Estou bem. — Rolei os olhos seguindo para fora do gabinete. O ar havia se tornado incrivelmente pesado.
Com passos rápidos e tomando cuidado para o menor número de criados verem o meu estado, consegui chegar ao último andar do palácio, o terraço, conseguia ter a visão ampla de toda a cidade e o oceano completava a paisagem. Dispensei os guardas com um aceno e me sentei sobre a balaustrada que rodeava o terraço. Por vezes, havia passado horas dessa mesma forma. Meus pés estavam descalços enquanto balançava-os sobre o vácuo. O sol começava a se pôr no longo horizonte.
— Havia me prometido que não me contaria mentiras. — A voz de Henrico soou extremamente alta revelando sua chateação.
— Promessas são quebradas o tempo todo. — O respondi sem olhá-lo, meus olhos permaneciam fixos no horizonte.
— O que houve com io sou parte de ti e você é parte de mim? — Henrico apoiou-se sobre a balaustrada ao meu lado, permanecendo de costas para o horizonte.
— Per favore, fratello. — Suspirei voltando meu olhar para ele. — Cuide para que sua esposa não diga nada a ninguém sobre o que viu em meu gabinete.
— , o que está acontecendo? — Henrico indagou preocupado.
— Um dia ruim. — Falei de modo evasivo.
— Esse não é o real motivo, mia cara. — Henrico me tirou cuidadosamente de sobre a balaustrada e me carregou em seu colo até seu antigo aposento. — Não esconda de mim o que lhe aflige.
— Eu sinto a falta dele... — Soltei a sentença em um tom baixo, receosa. — Eu sei que fazem três anos, porém ...
— É como se sentisse que precisa dele para voltar a respirar. — Henrico completou me segurando de modo protetor em seus braços.
— Como? Quando? — Indaguei confusa.
— Collete. — Henrico sorriu afagando meus cabelos. — Quando ficamos separados após ter partido em uma viagem que durou meses afastado dela. — Henrico comentou calmamente. — Eu entendo que é a ausência é dolorosa, porém não consigo ir mais além. O que houve com você é inexplicável!
— Quando desperto penso que o que vivi fora um sonho apenas, porém quando vejo o anel tenho a certeza que tudo fora real. — Sussurrei tirando o anel da gargantilha entregando-o a Henrico. — Eu sei que tudo o que me ocorrera é algo inexplicável, confuso, mas tenho provas suficiente de que não fora apenas um delírio.
— Eu sei disso, mia cara. — Henrico devolveu o anel.
— Me perdoe pelo modo que o tratei. — O abracei com força, não suportava permanecer brava com o meu melhor amigo.
— Eu nunca consigo ficar com raiva de você. — Henrico envolveu seus braços ao meu redor me dando a certeza que tudo estava bem entre nós.
— Onde está meu sobrinho? — Comentei quebrando o silêncio.
— Com nosso papa, eu suponho. — Henrico riu.
— Papa é louco por Luca. — Sorri enquanto admirava o brilho no olhar de meu irmão. Havia sentido a falta dele. Estava enganada, ter ele por perto era a melhor coisa que poderia desejar. — Obrigada.
— Pelo o quê? — Henrico arqueou uma de suas sobrancelhas.
— Por ser o melhor irmão que poderia ter. — Soltei a sentença de modo sincero.
— Io sou parte de ti e você faz parte de mim! — Henrico sorriu para mim.
— Io sou parte de ti e você faz parte de mim. — Devolvi a sentença.
Esse era o nosso lema, uma marca. Éramos inseparáveis mesmo que estivéssemos longe um do outro. Ele era o meu melhor amigo, era a pessoa em que mais confiava. Henrico, mesmo morando em Paris, não deixava de nos visitar ou estar o mais presente que podia. Porém como ele auxiliava Collete no comando do reino francês era difícil conciliar as obrigações como rei com visitas à Itália. Portanto desfrutava de suas visitas como se fosse a última vez que o veria.
Quando encontrei Collete no jantar, me desculpei e passamos um tempo juntas, conversando e nos atualizando. Ao fim, Collete acabara se mostrando uma excelente amiga. Henrico não poderia ter escolhido melhor esposa do que ela. Após permitir-me conhecê-la enfim pude ver que meus caprichos haviam me cegado.
Nota da autora: algumas palavras estão em italiano deixarei ao final de cada capítulo o significado delas.
Per favore: por favor.
Sorella: irmã.
Fratello: irmão.
Mia cara: minha querida.
Famiglia: família.
Figlia/Figlio: filha/filho.
Bambina/Bambino: mesmo sentido de pequena, pequeno.
Amore mio: meu amor
Ma cherie (é francês e fora usada devido que Collete é francesa): minha querida.
Mama/Papa: mãe/pai.
Capítulo 2
Durante uma semana, após a chegada de Henrico ao palácio, ficara ocupada com assuntos do reino. Havia deveres, reuniões, problemas para se resolver. O baile preparado por mama ocorreria naquela noite. Durante dias me mantive focada em atender o meu povo, os raros momentos livres que tinha eram desfrutados na presença da minha família. Luca sempre estava envolta de seu avô, Henrico e eu sempre competíamos em jogos de estratégia, Collete e mama falavam sobre o novo integrante que nasceria em seis meses, e papa não se cansava de Luca. Sempre estava a entreter seu neto fosse com histórias, jogos, brincadeiras. Papa era tão bom avô quanto era como pai.
Ao adentrar meus aposentos aquela tarde, após encerrar o dia de trabalho senti a vontade de dormir durante o resto do dia, porém sabia que era necessário permanecer desperta. Afinal, o baile tão bem planejado iniciaria em algumas horas. Como rainha, tinha a obrigação de comparecer e fazer dela uma das melhores mesmo que soubesse que mama havia preparado tudo perfeitamente.
Encarar o trono havia sido minha válvula de escape. Assumir o poder não fora tão ruim. Amava meu povo, amava minha família, e por eles faria o que fosse necessário. E era exatamente por isso que estava trajada em meu vestido mais belo. Ele era de um tom carmesim repleto de rubis e opalas. Estava com minha tiara de diamantes e , em meus braços estavam as características luvas, porém elas eram do mesmo tom que o vestido. Em meus ombros estavam o manto marsala, meu cabelo estava perfeitamente preso em um elegante penteado ornamental.
Quando desci as escadas principais, encontrei todos os convidados me aguardando, os saudei antes de fazer um breve discurso. Agradeci pela presença deles, comentei sobre a organização de mama e como estávamos felizes de receber Henrico de volta. Pronunciamentos eram sempre algo necessário a se fazer. Após encerrá-lo, passei a cumprimentar e agradecer a presença de cada convidado. Era necessário manter a cordialidade, era por esse motivo que agora estava de frente com Margareth e . Encarar após um longo período sem vê-lo era incômodo. Ele fora meu melhor amigo, uma presença constante em minha vida. Confiava nele. Não mais! Um ano após o meu desaparecimento, ele uniu-se a Margareth, ela o cercara com sua teia de mentiras e manipulações conquistando assim o que queria. Porém, como agora era rainha, ela não ousava ofender-me. Sua inveja não diminuíra, no entanto. Seus olhos deslizavam por minhas vestes, se tornara capitão da frota inglesa. O pai de Margareth, James, se mudara para a Inglaterra e como um bom comerciante conseguiu um bom cargo para . Isso o mantinha o mais distante de mim e era grata a James por manter a filha longe. Meu amigo permaneceu no passado. Permaneceria com as velhas e agradáveis lembranças.
— e Margareth . — Os saudei de forma cordial.
— Majestade. — Ambos se curvaram em respeito.
— Espero que estejam apreciando o baile. — Comentei casualmente, sem revelar qualquer emoção.
— Tudo está maravilhoso, sua majestade, a rainha Graziela, não cansa de nos surpreender. — Margareth soltou a sentença com uma provocação subentendida.
— Margareth! — a repreendeu em um tom baixo.
— Tenho de concordar, mia cara. — Sorri de forma confiante não caindo em sua provocação. — Desfrutem de uma ótima noite. — Sorrio de forma triunfante antes de seguir meu caminho.
— . — me alcança segurando levemente meu cotovelo. — Podemos conversar?
— Majestade. — O corrigi. — Me chame de majestade, nós não somos nada um para o outro. — Retirei sua mão, dispensando com um aceno os guardas que estavam atentos aos movimentos de .
— Isso não é verdade. — respondeu em um tom baixo, porém Margareth se aproximou irritada de nós.
— Retirem-se de minha presença antes que eu ordene para lhes tirarem do palácio. — Os avisei em um tom brando com um falso sorriso. Aparência era importante.
Sem esperar por respostas, continuei a saudar os convidados perdendo horas em conversas sem sentido, ou ouvindo bajulação. Mas paciente, cortês, graciosa permaneci sempre receptiva. Em alguns momentos tive de exercer a autoridade que possuía para demonstrar que eu estava no comando.
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O sol estava nascendo, a aurora despontava iluminando pouco a pouco as águas do oceano. Estava novamente no terraço. O baile perdurara até algumas horas atrás, porém a recepção duraria por mais duas semanas se tudo prosseguisse conforme o que mama planejara. Meus sapatos estavam ao meu lado, havia passado horas em cima deles e estar finalmente descalça era um alívio. O vento estava frio embora o sol começava sua jornada até iluminar todos os cantos de Turim. O palácio seria reorganizado para receber alguns familiares e amigos. Os nobres só retornariam ao alvorecer. Ao longe conseguia ouvir a cantoria de meu povo comemorando a notícia de que Henrico teria mais um descendente. Ele era amado antes mesmo de nascer. Sorri apoiando minha cabeça em minhas mãos, meus cabelos estavam soltos em cascata. O sono havia me abandonado. Admirava o meu amado oceano. Ele parecia me chamar como uma sereia, porém resistia aos seus encantos. Enquanto divagava em meus pensamentos ouvi passos apressados pelas escadarias que levavam até o terraço até que meu irmão apareceu com sua face exibindo uma expressão de choque.
— O que houve, fratello? — Indaguei preocupada me aproximando imediatamente de meu irmão.
— Os pescadores resgataram de destroços de uma embarcação um homem que chamava por você... — Henrico iniciou sua fala, porém a pausou cauteloso. — Pode ser apenas um pescador perdido... — Sua voz demonstrava sua incerteza.
— Um pescador chamando por sua rainha? — Falei receosa enquanto sentia a urgência de verificar com os meus olhos a situação.
— Seria uma situação incomum, porém ainda assim plausível. — Henrico segurou minhas mãos.
— Preciso ir... — Soltei as mãos de meu irmão enquanto seguia em direção a escada.
— Espere, sorella! — Henrico gritou enquanto me seguia.
Descia as escadas o mais rápido que conseguia, meus passos ecoavam pelas longas escadas, minha respiração estava irregular, audível, meus batimentos soavam alto demais em meus ouvidos. A apreensão era sufocante, porém as dúvidas me impulsionavam, não conseguiria descansar enquanto não tivesse visto com os meus próprios olhos o náufrago.
Ao chegar no salão de entrada, vi papa caminhar intempestivamente em direção ao seu gabinete. Ele parecia furioso. Segui em direção a ala leste. Passava apressada pelos criados e guardas, mas não os enxergava de fato, eram como borrões. Adentrei o salão da corte encontrando os principais conselheiros reunidos num debate e então papa adentrou pela entrada oeste e Henrico o acompanhando.
— O que está acontecendo? — Pronunciei chamando a atenção deles.
— Majestades, estamos analisando como podemos acalmar os pescadores. — Joseph, comentou cauteloso.
— Exijo uma explicação! — Me sentei sobre a cadeira no centro da sala.
— O náufrago tomou o navio do pescador que o tirou dos destroços e eliminou todos os tripulantes, o prendemos, porém temos de tomar uma decisão quanto a ele. — Franz comentou cauteloso.
— Reúnam os pescadores e os envolvidos no paço central. — Papa se pronunciou de modo calmo, porém conseguia identificar em suas orbes a raiva. Algo havia ocorrido!
— E quanto ao agitador? — Vermont indagou.
— A lei será seguida! — Me pronunciei atraindo toda a atenção. Me levantei preocupada, precisava ver quem havia causado tal furor em meu pai. — Mas enquanto perdurar as festividades, o manteremos preso. — Findei minha fala seguindo para fora da sala sendo acompanhada por meu pai e Henrico.
— O que a levou tomar esta decisão? — Papa me parou indagando-me em um tom de voz baixo.
— Discutiremos isso em seu gabinete papa. — Fui breve, porém decidida.
— Espero que saiba o que está fazendo. — Ouvi meu irmão soltar a sentença contrariado.
Sem demonstrar minha surpresa com suas palavras, segui para o terceiro andar até que adentramos o cômodo que papa agora usava para o lazer, mas que antes de subir ao trono ele o utilizava para resolver assuntos do reino. A sala era ampla, havia três portas duplas e a vista exibia o majestoso jardim e o oceano. Um conjunto agradável de se admirar. Havia móveis em mogno e carvalho todos feito por artistas da marcenaria. No canto esquerdo havia a estante que tomava uma parede inteira repleta de livros, o chão era parcialmente recoberto com tapeçaria persa e chinesa. Havia quadros que exibiam retratos de meus pais, avós e de nossa família. No centro estava a imponente mesa de mogno preto e a cadeira que papa confortavelmente estava sentado, Henrico e eu nos sentamos nas outras duas que ficavam sempre dispostas ao canto do recinto, mas que naquele momento estava à frente da mesa. Meu irmão estava como de costume sentado na esquerda e eu ocupava a direita. Sempre tomávamos os mesmos lugares. Nunca me sentara na outra, era inconsciente que tomávamos os lugares. Papa me olhava em silêncio, seus olhos exibiam perguntas que eu não possuía respostas.
— Amore mio. — Mama adentrou o cômodo surpreendendo a todos.
— Mia bella. — Papa carinhosamente beijou as mãos de mama antes de voltar seus olhos para meu irmão e eu.
— Ouvi notícias terríveis sobre o que ocorrera no porto. — Mama continuou aflita até que seus olhos identificaram como estava vestida. — ! Deveria ter passado a noite em seu quarto, não no terraço!
Sorri de modo inconsciente de sua repreensão, era reconfortante saber que mama me conhecia bem. Passava boa parte de meu tempo com papa, porém os momentos que passava com mama era tão agradáveis quanto. Ao longo desses anos, sempre fora mais próxima de meu pai e Henrico de nossa mãe, mas isso nunca nos levara a entrar em conflito. Ambos conhecíamos profundamente e, naquele instante me dei conta que não saberia viver sem eles. Não era dependência. Estava muito longe disto!
O fato era que quando fora parar em um século diferente, me senti incompleta mesmo tendo ao meu lado. O amava! Muito mais do que saberia explicar, porém eles eram a minha família. Perdê-los por dois anos fora imensuravelmente doloroso. Escondia de o quanto sofria pela ausência deles. Não se tratava da posição que ocupava, mas sim de ter quem lhe criara com tanto amor por perto. Sabia que se eles partissem em uma viagem para o oriente ficaria meses sem vê-los, porém chegaria o dia em que eles retornariam. Mas em séculos diferentes não havia o que pudesse fazer.
E era esse o meu real obstáculo. Não se tratava de longas distâncias, nações diferentes ou mares que me separavam de meu amado. O que me separava de era o tempo!
— Mama, há outras questões no qual tenho de me preocupar no momento. — Falei de modo suave. — Papa, o que aconteceu no porto?
— Um homem, o náufrago, tomou a embarcação de James e executou todos os tripulantes. Fora preciso de mais de 10 homens para pará-lo. — Henrico se ocupou em me responder. Ele me informou que o homem falava apenas irlandês e que enfrentou nosso pai num confronto pessoal quando fora indagado a respeito de seu nome.
— está bem? — Questionei quando ouvi que toda a tripulação do navio de James, um comerciante amigo próximo de papa fora morto. Ele era o pai de Margareth e embora não gostasse dela não desejava algo tão terrível.
— Margareth e haviam passado a noite na casa de Lady Marcela. Somente James e os tripulantes foram mortos. — Papa respondeu-me com pesar ao pronunciar o nome de James.
Absorvendo a notícia senti-me dividia entre pesar e alívio. estava bem, porém sentia a morte de James; ele era um bom homem. Me levantei preocupada; sentia a necessidade de ver o assassino de James mesmo que fosse algo confuso de se compreender. Olhando para a face de papa, compreendi o porquê de sua raiva. Ele estava consternado após a perda de um grande amigo.
— Preciso ir à um lugar.
Saí da sala sem maiores explicações. Se não fosse até a prisão ao norte de Turim não conseguiria ir em qualquer outro momento. Segui a passos rápidos pelos longos corredores até atingir à escada usada pelos criados do palácio. Desci os lances da escada até atingir a cozinha, desviando dos cozinheiros e alguns lacaios consegui chegar até a ala sudeste do palácio saindo próxima ao curral. Ergui o manto enquanto me dirigia até a baia de Opala, a égua ébano parecia me aguardar, sua cabeça estava inclinada em direção as selas. Não demorando mais que alguns minutos, a selei e a montei. Seguindo assim em direção aos portões imponentes, com apenas uma ordem eles se abriram.
Descalça, com os cabelos soltos, trajada em um vestido de gala e com a tiara firmemente presa em meus cabelos, galopei pelas ruas de Turim o mais rápido que Opala conseguia. A impulsionava com assovios sentindo a mesma sensação de desespero e saudade me atingirem. As longas vielas, ruelas, pareciam não ter fim. Convencendo a cidade melhor do que qualquer um, tomei a trilha leste da floresta que ladeava o oeste de Turim. Com apenas as árvores e alguns camponeses que moravam na floresta consegui chegar à prisão. Era uma construção circular, de apenas um andar aparente, haviam várias seções construídos no subsolo. Meu avô contara que piratas eram mantidos ali, perto demais do oceano, mas impossibilitado de vê-lo. Haviam guardas da corte em frente a porta dupla da construção. Um deles se aproximou e segurou as rédeas de Opala.
— Majestade. — Ele fez uma breve mesura antes de me estender uma de suas mãos. Desmontei de Opala e o agradeci com um aceno enquanto seguia para a enigmática construção.
— Majestade. — Um a um os guardas iam me saudando enquanto seguia pelos corredores até atingir as escadas que me lavariam aos andares inferiores.
— Me levem ao náufrago desta manhã. — Ordenei aos carcereiros que guardavam à entrada das escadas.
— Vossa majestade, rei Martino proibiu qualquer contato com o prisioneiro. — O mais velho dos dois se pronunciou.
— Compreendo sua atitude, porém quem está a sua frente é a atual rainha deste país. — Meu tom de voz demonstrava apenas frieza. — Portanto, reforço a ordem de me levar até o prisioneiro.
Sem mais uma palavra, o mais jovem me levou pelos lances de escada, seguindo para as seções cada vez mais profundas. Com a falta da luz solar, alguns prisioneiros morriam pela insuficiência de vitamina que precisava para viver. O ar era pesado e os corredores cada vez mais escuro e frio. Cobri meus braços com o manto, proporcionando-me certo calor e conforto. E então, na última cela, estava a figura masculina do homem resgatado por James. Ele estava encolhido no chão da cela, encoberto pela escuridão. As tochas pouco iluminavam o corredor deixando as celas no escuro.
— Aqui estamos, minha rainha. — O carcereiro me estendeu a tocha.
A segurei sem lhe direcionar qualquer palavra. Me aproximei da cela com passos silenciosos.
— Qual o seu nome, maledetto? — Minha voz estava desprovida de qualquer emoção embora sentisse meu coração acelerado em meu peito.
Ouvi o som das correntes indicando que o prisioneiro estava se levantando, e assim que consegui iluminar sua figura ofeguei diante o choque. Olhos espelhavam a saudade que carregava ao longo desses três anos. Uma lágrima solitária escorreu pela minha face enquanto analisava a figura masculina, sua face estava marcada pelos ferimentos do que houvera ocorrido naquela madrugada, havia manchas de sangue em suas vestes. Seu físico estava mais esguio, indicando que ele havia perdido peso. Porém as vestes molhadas marcavam seus músculos. trajava a farda da matinha irlandesa.
— Abra essa cela! — Ordenei contendo o desespero para tocar .
— Mas, majestade... — Interrompi o carcereiro.
— Abra esta cela AGORA! — Falei num tom inflexível.
— Sì, majestade. — Ele abriu a cela me entregando as chaves sem mais uma palavra.
— Me deixe a sós com o prisioneiro. — Falei enquanto olhava diretamente nos olhos de .
— Rei Martino me mataria caso fizesse isso, minha rainha. — O carcereiro prontamente se opôs.
— Isso não ocorrerá, mio caro. — Soltei a sentença num tom comedido. — Permaneça no corredor, porém alguns metros afastado.
— Eu não posso... — O interrompi novamente.
— Está questionando minha autoridade? — Virei-me de frente para o carcereiro. — Não terá de se preocupar com a sentença de meu pai, se for morto por questionar a autoridade de sua rainha.
— Perdoe-me. — Ele curvou-se temeroso.
— Permaneça distante desta cela até que eu lhe diga o contrário. — Ordenei antes de adentrar a cela de .
Abri ela rapidamente e então coloquei a tocha sobre o apoio antes de cobrir com o meu manto. Toquei sua face receosa. Parecia que estava presa num sonho. Seus olhos se fecharam com o contato e seus braços automaticamente envolveram minha cintura antes de me envolver em um abraço. O apertei cuidadosamente deixando-me absorver a sensação de ter seu corpo junto ao meu. Seu coração batia no mesmo ritmo que o meu, rápido e irregular.
— Se isto for um sonho, por favor, não me acorde. — A voz grave de soou num sussurro contra os meus cabelos. Ele parecia tão desacreditado quanto eu.
— Não é um sonho, amore mio. — Ergui minha face para olhá-lo diretamente em seus olhos. — Trocamos os papéis, não acha? — Fiz referência à quando nos encontramos pela primeira vez. Estava molhada por conta da tempestade e ele estava prestes a me prender.
— De fato. — Ele sorriu, colocando uma mecha de meu cabelo atrás da minha orelha. Seus olhos estavam fixos nos meus. — Então assumiu o trono.
— Alguns meses após deixá-lo. — Comentei em um tom baixo. — Não consigo acreditar que está aqui!
— Muito menos eu. — Ele abaixou sua face de forma que enquanto falava seus lábios roçavam nos meus.
Sem me importar com o lugar em que estava, o beijei. Necessitava disso mais do que houvera imaginado. Os lábios de moldavam-se aos meus de forma intensa. Seus braços me prendiam a ele de forma a eliminar qualquer milímetro que nos separassem. Sua língua encontrava a minha numa dança familiar, saudosa, seu perfume inebriava meus sentidos fazendo-me esquecer quem era. beijava-me de forma calorosa, as correntes tilintavam contra o chão enquanto ele me içava acima do chão de forma a envolver sua cintura com minhas pernas, porém meu vestido atrapalhava-me.
— O que pensa que está fazendo Espossito Bianchi. — A voz de meu pai me trouxe de volta à realidade.
Nota da autora: Palavras em italiano utilizadas nessa história terão seu significado no final de cada capítulo.
Sorella/Fratello: Irmã e irmão respectivamente.
Amore mio: meu amor, expressão carinhosa entre casais.
Maledetto: maldito, desgraçado, palavra usada de forma a ofender a pessoa de forma pessoal.
Mama/Papa: Mãe e pai respectivamente.
Figlio/Figlia: filho e filha respectivamente.
Mia bella: minha bela, expressão carinhosa entre casais.
Mio caro: meu senhor, meu caro, o equivalente a mio signore.
Ao adentrar meus aposentos aquela tarde, após encerrar o dia de trabalho senti a vontade de dormir durante o resto do dia, porém sabia que era necessário permanecer desperta. Afinal, o baile tão bem planejado iniciaria em algumas horas. Como rainha, tinha a obrigação de comparecer e fazer dela uma das melhores mesmo que soubesse que mama havia preparado tudo perfeitamente.
Encarar o trono havia sido minha válvula de escape. Assumir o poder não fora tão ruim. Amava meu povo, amava minha família, e por eles faria o que fosse necessário. E era exatamente por isso que estava trajada em meu vestido mais belo. Ele era de um tom carmesim repleto de rubis e opalas. Estava com minha tiara de diamantes e , em meus braços estavam as características luvas, porém elas eram do mesmo tom que o vestido. Em meus ombros estavam o manto marsala, meu cabelo estava perfeitamente preso em um elegante penteado ornamental.
Quando desci as escadas principais, encontrei todos os convidados me aguardando, os saudei antes de fazer um breve discurso. Agradeci pela presença deles, comentei sobre a organização de mama e como estávamos felizes de receber Henrico de volta. Pronunciamentos eram sempre algo necessário a se fazer. Após encerrá-lo, passei a cumprimentar e agradecer a presença de cada convidado. Era necessário manter a cordialidade, era por esse motivo que agora estava de frente com Margareth e . Encarar após um longo período sem vê-lo era incômodo. Ele fora meu melhor amigo, uma presença constante em minha vida. Confiava nele. Não mais! Um ano após o meu desaparecimento, ele uniu-se a Margareth, ela o cercara com sua teia de mentiras e manipulações conquistando assim o que queria. Porém, como agora era rainha, ela não ousava ofender-me. Sua inveja não diminuíra, no entanto. Seus olhos deslizavam por minhas vestes, se tornara capitão da frota inglesa. O pai de Margareth, James, se mudara para a Inglaterra e como um bom comerciante conseguiu um bom cargo para . Isso o mantinha o mais distante de mim e era grata a James por manter a filha longe. Meu amigo permaneceu no passado. Permaneceria com as velhas e agradáveis lembranças.
— e Margareth . — Os saudei de forma cordial.
— Majestade. — Ambos se curvaram em respeito.
— Espero que estejam apreciando o baile. — Comentei casualmente, sem revelar qualquer emoção.
— Tudo está maravilhoso, sua majestade, a rainha Graziela, não cansa de nos surpreender. — Margareth soltou a sentença com uma provocação subentendida.
— Margareth! — a repreendeu em um tom baixo.
— Tenho de concordar, mia cara. — Sorri de forma confiante não caindo em sua provocação. — Desfrutem de uma ótima noite. — Sorrio de forma triunfante antes de seguir meu caminho.
— . — me alcança segurando levemente meu cotovelo. — Podemos conversar?
— Majestade. — O corrigi. — Me chame de majestade, nós não somos nada um para o outro. — Retirei sua mão, dispensando com um aceno os guardas que estavam atentos aos movimentos de .
— Isso não é verdade. — respondeu em um tom baixo, porém Margareth se aproximou irritada de nós.
— Retirem-se de minha presença antes que eu ordene para lhes tirarem do palácio. — Os avisei em um tom brando com um falso sorriso. Aparência era importante.
Sem esperar por respostas, continuei a saudar os convidados perdendo horas em conversas sem sentido, ou ouvindo bajulação. Mas paciente, cortês, graciosa permaneci sempre receptiva. Em alguns momentos tive de exercer a autoridade que possuía para demonstrar que eu estava no comando.
O sol estava nascendo, a aurora despontava iluminando pouco a pouco as águas do oceano. Estava novamente no terraço. O baile perdurara até algumas horas atrás, porém a recepção duraria por mais duas semanas se tudo prosseguisse conforme o que mama planejara. Meus sapatos estavam ao meu lado, havia passado horas em cima deles e estar finalmente descalça era um alívio. O vento estava frio embora o sol começava sua jornada até iluminar todos os cantos de Turim. O palácio seria reorganizado para receber alguns familiares e amigos. Os nobres só retornariam ao alvorecer. Ao longe conseguia ouvir a cantoria de meu povo comemorando a notícia de que Henrico teria mais um descendente. Ele era amado antes mesmo de nascer. Sorri apoiando minha cabeça em minhas mãos, meus cabelos estavam soltos em cascata. O sono havia me abandonado. Admirava o meu amado oceano. Ele parecia me chamar como uma sereia, porém resistia aos seus encantos. Enquanto divagava em meus pensamentos ouvi passos apressados pelas escadarias que levavam até o terraço até que meu irmão apareceu com sua face exibindo uma expressão de choque.
— O que houve, fratello? — Indaguei preocupada me aproximando imediatamente de meu irmão.
— Os pescadores resgataram de destroços de uma embarcação um homem que chamava por você... — Henrico iniciou sua fala, porém a pausou cauteloso. — Pode ser apenas um pescador perdido... — Sua voz demonstrava sua incerteza.
— Um pescador chamando por sua rainha? — Falei receosa enquanto sentia a urgência de verificar com os meus olhos a situação.
— Seria uma situação incomum, porém ainda assim plausível. — Henrico segurou minhas mãos.
— Preciso ir... — Soltei as mãos de meu irmão enquanto seguia em direção a escada.
— Espere, sorella! — Henrico gritou enquanto me seguia.
Descia as escadas o mais rápido que conseguia, meus passos ecoavam pelas longas escadas, minha respiração estava irregular, audível, meus batimentos soavam alto demais em meus ouvidos. A apreensão era sufocante, porém as dúvidas me impulsionavam, não conseguiria descansar enquanto não tivesse visto com os meus próprios olhos o náufrago.
Ao chegar no salão de entrada, vi papa caminhar intempestivamente em direção ao seu gabinete. Ele parecia furioso. Segui em direção a ala leste. Passava apressada pelos criados e guardas, mas não os enxergava de fato, eram como borrões. Adentrei o salão da corte encontrando os principais conselheiros reunidos num debate e então papa adentrou pela entrada oeste e Henrico o acompanhando.
— O que está acontecendo? — Pronunciei chamando a atenção deles.
— Majestades, estamos analisando como podemos acalmar os pescadores. — Joseph, comentou cauteloso.
— Exijo uma explicação! — Me sentei sobre a cadeira no centro da sala.
— O náufrago tomou o navio do pescador que o tirou dos destroços e eliminou todos os tripulantes, o prendemos, porém temos de tomar uma decisão quanto a ele. — Franz comentou cauteloso.
— Reúnam os pescadores e os envolvidos no paço central. — Papa se pronunciou de modo calmo, porém conseguia identificar em suas orbes a raiva. Algo havia ocorrido!
— E quanto ao agitador? — Vermont indagou.
— A lei será seguida! — Me pronunciei atraindo toda a atenção. Me levantei preocupada, precisava ver quem havia causado tal furor em meu pai. — Mas enquanto perdurar as festividades, o manteremos preso. — Findei minha fala seguindo para fora da sala sendo acompanhada por meu pai e Henrico.
— O que a levou tomar esta decisão? — Papa me parou indagando-me em um tom de voz baixo.
— Discutiremos isso em seu gabinete papa. — Fui breve, porém decidida.
— Espero que saiba o que está fazendo. — Ouvi meu irmão soltar a sentença contrariado.
Sem demonstrar minha surpresa com suas palavras, segui para o terceiro andar até que adentramos o cômodo que papa agora usava para o lazer, mas que antes de subir ao trono ele o utilizava para resolver assuntos do reino. A sala era ampla, havia três portas duplas e a vista exibia o majestoso jardim e o oceano. Um conjunto agradável de se admirar. Havia móveis em mogno e carvalho todos feito por artistas da marcenaria. No canto esquerdo havia a estante que tomava uma parede inteira repleta de livros, o chão era parcialmente recoberto com tapeçaria persa e chinesa. Havia quadros que exibiam retratos de meus pais, avós e de nossa família. No centro estava a imponente mesa de mogno preto e a cadeira que papa confortavelmente estava sentado, Henrico e eu nos sentamos nas outras duas que ficavam sempre dispostas ao canto do recinto, mas que naquele momento estava à frente da mesa. Meu irmão estava como de costume sentado na esquerda e eu ocupava a direita. Sempre tomávamos os mesmos lugares. Nunca me sentara na outra, era inconsciente que tomávamos os lugares. Papa me olhava em silêncio, seus olhos exibiam perguntas que eu não possuía respostas.
— Amore mio. — Mama adentrou o cômodo surpreendendo a todos.
— Mia bella. — Papa carinhosamente beijou as mãos de mama antes de voltar seus olhos para meu irmão e eu.
— Ouvi notícias terríveis sobre o que ocorrera no porto. — Mama continuou aflita até que seus olhos identificaram como estava vestida. — ! Deveria ter passado a noite em seu quarto, não no terraço!
Sorri de modo inconsciente de sua repreensão, era reconfortante saber que mama me conhecia bem. Passava boa parte de meu tempo com papa, porém os momentos que passava com mama era tão agradáveis quanto. Ao longo desses anos, sempre fora mais próxima de meu pai e Henrico de nossa mãe, mas isso nunca nos levara a entrar em conflito. Ambos conhecíamos profundamente e, naquele instante me dei conta que não saberia viver sem eles. Não era dependência. Estava muito longe disto!
O fato era que quando fora parar em um século diferente, me senti incompleta mesmo tendo ao meu lado. O amava! Muito mais do que saberia explicar, porém eles eram a minha família. Perdê-los por dois anos fora imensuravelmente doloroso. Escondia de o quanto sofria pela ausência deles. Não se tratava da posição que ocupava, mas sim de ter quem lhe criara com tanto amor por perto. Sabia que se eles partissem em uma viagem para o oriente ficaria meses sem vê-los, porém chegaria o dia em que eles retornariam. Mas em séculos diferentes não havia o que pudesse fazer.
E era esse o meu real obstáculo. Não se tratava de longas distâncias, nações diferentes ou mares que me separavam de meu amado. O que me separava de era o tempo!
— Mama, há outras questões no qual tenho de me preocupar no momento. — Falei de modo suave. — Papa, o que aconteceu no porto?
— Um homem, o náufrago, tomou a embarcação de James e executou todos os tripulantes. Fora preciso de mais de 10 homens para pará-lo. — Henrico se ocupou em me responder. Ele me informou que o homem falava apenas irlandês e que enfrentou nosso pai num confronto pessoal quando fora indagado a respeito de seu nome.
— está bem? — Questionei quando ouvi que toda a tripulação do navio de James, um comerciante amigo próximo de papa fora morto. Ele era o pai de Margareth e embora não gostasse dela não desejava algo tão terrível.
— Margareth e haviam passado a noite na casa de Lady Marcela. Somente James e os tripulantes foram mortos. — Papa respondeu-me com pesar ao pronunciar o nome de James.
Absorvendo a notícia senti-me dividia entre pesar e alívio. estava bem, porém sentia a morte de James; ele era um bom homem. Me levantei preocupada; sentia a necessidade de ver o assassino de James mesmo que fosse algo confuso de se compreender. Olhando para a face de papa, compreendi o porquê de sua raiva. Ele estava consternado após a perda de um grande amigo.
— Preciso ir à um lugar.
Saí da sala sem maiores explicações. Se não fosse até a prisão ao norte de Turim não conseguiria ir em qualquer outro momento. Segui a passos rápidos pelos longos corredores até atingir à escada usada pelos criados do palácio. Desci os lances da escada até atingir a cozinha, desviando dos cozinheiros e alguns lacaios consegui chegar até a ala sudeste do palácio saindo próxima ao curral. Ergui o manto enquanto me dirigia até a baia de Opala, a égua ébano parecia me aguardar, sua cabeça estava inclinada em direção as selas. Não demorando mais que alguns minutos, a selei e a montei. Seguindo assim em direção aos portões imponentes, com apenas uma ordem eles se abriram.
Descalça, com os cabelos soltos, trajada em um vestido de gala e com a tiara firmemente presa em meus cabelos, galopei pelas ruas de Turim o mais rápido que Opala conseguia. A impulsionava com assovios sentindo a mesma sensação de desespero e saudade me atingirem. As longas vielas, ruelas, pareciam não ter fim. Convencendo a cidade melhor do que qualquer um, tomei a trilha leste da floresta que ladeava o oeste de Turim. Com apenas as árvores e alguns camponeses que moravam na floresta consegui chegar à prisão. Era uma construção circular, de apenas um andar aparente, haviam várias seções construídos no subsolo. Meu avô contara que piratas eram mantidos ali, perto demais do oceano, mas impossibilitado de vê-lo. Haviam guardas da corte em frente a porta dupla da construção. Um deles se aproximou e segurou as rédeas de Opala.
— Majestade. — Ele fez uma breve mesura antes de me estender uma de suas mãos. Desmontei de Opala e o agradeci com um aceno enquanto seguia para a enigmática construção.
— Majestade. — Um a um os guardas iam me saudando enquanto seguia pelos corredores até atingir as escadas que me lavariam aos andares inferiores.
— Me levem ao náufrago desta manhã. — Ordenei aos carcereiros que guardavam à entrada das escadas.
— Vossa majestade, rei Martino proibiu qualquer contato com o prisioneiro. — O mais velho dos dois se pronunciou.
— Compreendo sua atitude, porém quem está a sua frente é a atual rainha deste país. — Meu tom de voz demonstrava apenas frieza. — Portanto, reforço a ordem de me levar até o prisioneiro.
Sem mais uma palavra, o mais jovem me levou pelos lances de escada, seguindo para as seções cada vez mais profundas. Com a falta da luz solar, alguns prisioneiros morriam pela insuficiência de vitamina que precisava para viver. O ar era pesado e os corredores cada vez mais escuro e frio. Cobri meus braços com o manto, proporcionando-me certo calor e conforto. E então, na última cela, estava a figura masculina do homem resgatado por James. Ele estava encolhido no chão da cela, encoberto pela escuridão. As tochas pouco iluminavam o corredor deixando as celas no escuro.
— Aqui estamos, minha rainha. — O carcereiro me estendeu a tocha.
A segurei sem lhe direcionar qualquer palavra. Me aproximei da cela com passos silenciosos.
— Qual o seu nome, maledetto? — Minha voz estava desprovida de qualquer emoção embora sentisse meu coração acelerado em meu peito.
Ouvi o som das correntes indicando que o prisioneiro estava se levantando, e assim que consegui iluminar sua figura ofeguei diante o choque. Olhos espelhavam a saudade que carregava ao longo desses três anos. Uma lágrima solitária escorreu pela minha face enquanto analisava a figura masculina, sua face estava marcada pelos ferimentos do que houvera ocorrido naquela madrugada, havia manchas de sangue em suas vestes. Seu físico estava mais esguio, indicando que ele havia perdido peso. Porém as vestes molhadas marcavam seus músculos. trajava a farda da matinha irlandesa.
— Abra essa cela! — Ordenei contendo o desespero para tocar .
— Mas, majestade... — Interrompi o carcereiro.
— Abra esta cela AGORA! — Falei num tom inflexível.
— Sì, majestade. — Ele abriu a cela me entregando as chaves sem mais uma palavra.
— Me deixe a sós com o prisioneiro. — Falei enquanto olhava diretamente nos olhos de .
— Rei Martino me mataria caso fizesse isso, minha rainha. — O carcereiro prontamente se opôs.
— Isso não ocorrerá, mio caro. — Soltei a sentença num tom comedido. — Permaneça no corredor, porém alguns metros afastado.
— Eu não posso... — O interrompi novamente.
— Está questionando minha autoridade? — Virei-me de frente para o carcereiro. — Não terá de se preocupar com a sentença de meu pai, se for morto por questionar a autoridade de sua rainha.
— Perdoe-me. — Ele curvou-se temeroso.
— Permaneça distante desta cela até que eu lhe diga o contrário. — Ordenei antes de adentrar a cela de .
Abri ela rapidamente e então coloquei a tocha sobre o apoio antes de cobrir com o meu manto. Toquei sua face receosa. Parecia que estava presa num sonho. Seus olhos se fecharam com o contato e seus braços automaticamente envolveram minha cintura antes de me envolver em um abraço. O apertei cuidadosamente deixando-me absorver a sensação de ter seu corpo junto ao meu. Seu coração batia no mesmo ritmo que o meu, rápido e irregular.
— Se isto for um sonho, por favor, não me acorde. — A voz grave de soou num sussurro contra os meus cabelos. Ele parecia tão desacreditado quanto eu.
— Não é um sonho, amore mio. — Ergui minha face para olhá-lo diretamente em seus olhos. — Trocamos os papéis, não acha? — Fiz referência à quando nos encontramos pela primeira vez. Estava molhada por conta da tempestade e ele estava prestes a me prender.
— De fato. — Ele sorriu, colocando uma mecha de meu cabelo atrás da minha orelha. Seus olhos estavam fixos nos meus. — Então assumiu o trono.
— Alguns meses após deixá-lo. — Comentei em um tom baixo. — Não consigo acreditar que está aqui!
— Muito menos eu. — Ele abaixou sua face de forma que enquanto falava seus lábios roçavam nos meus.
Sem me importar com o lugar em que estava, o beijei. Necessitava disso mais do que houvera imaginado. Os lábios de moldavam-se aos meus de forma intensa. Seus braços me prendiam a ele de forma a eliminar qualquer milímetro que nos separassem. Sua língua encontrava a minha numa dança familiar, saudosa, seu perfume inebriava meus sentidos fazendo-me esquecer quem era. beijava-me de forma calorosa, as correntes tilintavam contra o chão enquanto ele me içava acima do chão de forma a envolver sua cintura com minhas pernas, porém meu vestido atrapalhava-me.
— O que pensa que está fazendo Espossito Bianchi. — A voz de meu pai me trouxe de volta à realidade.
Nota da autora: Palavras em italiano utilizadas nessa história terão seu significado no final de cada capítulo.
Sorella/Fratello: Irmã e irmão respectivamente.
Amore mio: meu amor, expressão carinhosa entre casais.
Maledetto: maldito, desgraçado, palavra usada de forma a ofender a pessoa de forma pessoal.
Mama/Papa: Mãe e pai respectivamente.
Figlio/Figlia: filho e filha respectivamente.
Mia bella: minha bela, expressão carinhosa entre casais.
Mio caro: meu senhor, meu caro, o equivalente a mio signore.
Capítulo 3
me colocou novamente no chão, sua postura havia enrijecido. Podia sentir seus músculos rígidos, preparado para qualquer coisa que fosse ocorrer. Respirei fundo antes de encarar meu pai. Ajeitei meu cabelo e espanei a saia do meu vestido, me virando então para meu pai. Seus olhos me lançavam um olhar duro, sua expressão demonstrava seu desagrado, porém ele não estava sozinho, ao seu lado estava meu irmão que encarava como se a qualquer momento fosse o matá-lo.
— Explique-se. — Papa vociferou
— Eu lhe darei a explicação que deseja, mas antes tenho que tirá-lo daqui, papa. — Indiquei com um olhar.
— Não me diga que está apaixonada por um assassino, ! — Papa riu sem qualquer humor.
— E não estou. — Falei causando um olhar confuso em . — Ele é , o homem que eu amo.
Henrico me olhou como se estivesse louca, papa no entanto calou-se. Seus olhos me observavam de modo a verificar se estava mentindo. Não havia como explicar o fato do homem que lhe contei no dia anterior viera a matar seu grande amigo; porém não podia deixá-lo preso.
— Não é momento para gracejos, sorella. — Henrico falou num tom de aviso.
— Ela não está mentindo. — A voz de papa soou surpresa embora seus olhos demonstrassem dúvidas.
— Isso é impossível! — Henrico rebateu.
— Assim como o desaparecimento sem explicações dela, figlio. — Papa o respondeu lembrando-o do que havia ocorrido anos atrás.
— Papa? — Indaguei, atraindo o olhar dele. — Como vamos tirá-lo daqui?
— Você deseja libertá-lo? — Mama surgiu surpreendendo-nos. — Você está louca, ! Ele é um assassino.
— Pessoas sem ter o que perder são capazes de qualquer coisa. — se pronunciou atraindo os olhares para ele. Seu italiano estava perfeito! O olhei surpresa, quando ele havia aprendido o idioma?!
— Isso não justifica... — Interrompi minha mãe.
— Perdão, mama, porém terei de discordar. estava perdido... — O olhei brevemente deixando claro que ele havia perdido a si mesmo. — Numa realidade diferente à qual vivia.
— ?! — Mama exclamou olhando um a um.
— Exatamente. — Concordei.
— Ainda teremos de encontrar termos para um acordo com os envolvidos no incidente do porto. — Papa soltou a sentença num tom grave. A situação de não era favorável. — Não estou de acordo com o que faremos, porém eu a respeito, mia bambina. — Papa se aproximou parando em frente à . — Há uma única razão de ainda estar respirando, signore , quero que recorde-se disso sempre.
Papa então iniciou num tom baixo uma série de instruções. Havia uma maneira de solucionar o problema, porém era arriscado. teria de ser “enforcado” diante os pescadores. Era necessário tomar toda atenção e controle sobre eles. teria de seguir bem cada instrução, caso contrário ele poderia morrer e apenas a hipótese de isso ocorrer me deixava angustiada.
Após repassado e salientar cada detalhe, nos afastamos da cela de . Deixá-lo para trás fazia parte de mim enfrentar todos os que queria ele morto, era um ato impulsivo e sem nenhuma lógica, porém havia uma outra parte que me mandava seguir o plano. Meu manto cobria novamente meus ombros. Atravessamos toda a prisão até chegar ao lado de fora, e então coloquei o plano em ação. Ordenei para que montassem a forca no pátio do paço central, papa enviou seu mensageiro para o palácio afim de informar os conselheiros. Conforme havia dito na reunião os pescadores estavam nos aguardando em frente ao paço central de Turim, próximo a catedral.
Deixei que papa tomasse a frente a partir dali. Ele discorria sobre o incidente e como estava abalado pela morte de seu grande amigo, porém sentia-me ansiosa e nervosa sobre o que aconteceria. Meus olhos acompanhavam aquela massa de pessoas. Guardas muito bem treinados os levou até a estrutura interna em que a forca estava sendo montada. Não seria um show, era a solução para o problema central, mas não me agradava em nada. Ao fim permaneci como uma estátua. Frígida, distante acompanhando o homem que mais amava sendo executado diante dos meus olhos. Os pescadores estavam exultantes e exibiam sorrisos, gestos, palavras em agrado diante o ato que acabara de acontecer. O corpo fora tirado e colocado dentro de um saco. Me distanciei do palanque e segui para fora adentrando a carruagem, minha família entrou algum tempo depois, fomos levados de volta ao palácio. Assim que pus os pés dentro do castelo saí em disparada para o meu quarto.
Sentia-me sufocada, ver sendo empurrado pelo meio da multidão tendo sua face golpeada por aldeões furiosos, a cada golpe era como se eles me atingissem. A face cruel da humanidade ainda me causava náuseas. Tirei às pressas meu vestido, manto, tiara e luvas, mergulhando na banheira em segundos. Imergi completamente antes de voltar para a superfície quando o ar se fizera necessário. Após me lavar, vesti uma camisola como no século 21 diriam, porém estava esgotada demais para pensar em qualquer coisa. Um misto de emoções me envolvia, angústia, felicidade, tristeza, saudades, preocupação... Eram inúmeras dúvidas que rondavam minha mente. Estava perdida entre meus pensamentos que não notei uma figura masculina adentrar o recinto.
— O que lhe preocupas, mia bella?
Assustada virei-me encontrando os olhos cinzentos de . Ele estava próximo demais. Seus olhos emitiam um brilho intenso. O tom usado era carinhoso, desejoso. Dei um passo para trás recuando.
— O que pensas que está fazendo? — O indaguei irritada. Pela manhã havia me preocupado com seu bem estar devido ao carinho que sentia por ele devido aos longos anos de amizade, porém naquele instante sentia a urgência de me afastar dele.
— Tentei te esquecer...— falou de modo calmo enquanto se aproximava e eu ainda continuava a recuar, estava atrás da minha adaga que naquele momento havia sumido. — Quando desapareceu no meio daquela tempestade, percebi que minha vida era insignificante . Io não passava de um espectro, mi amor. — Ele me encurralou contra a porta.
— Você é um homem comprometido ! — Exclamei, lembrando de Margareth. Não importava se ela me detestasse; não gostaria de ter o homem que amava atrás de outra mulher. — Você uniu-se em matrimônio com Margareth, eu e você não passamos de bons amigos. , olhe bem para você mesmo. — O encarei seriamente. — O que está fazendo não é algo que normalmente mio amico faria. sempre fora um cavalheiro, companheiro, alguém em que eu podia confiar. — Falei calmamente enquanto o afastava delicadamente. — Você não era um espectro, estava muito longe disto. Idealista, sagaz, decidido, eram as características que mais admirava em você, porém hoje tornara-se um mero feixe do que fora um dia. — Suspirei construindo sair de perto dele. — Margareth pode não ser a minha pessoa favorita, porém ela não merece isso, . Ela perdeu seu genitor. Deveria estar ao lado dela, dando-lhe suporte e não aqui.
— Io te amo, mia bella! — falou de modo firme com seus olhos tempestuosos. — Sempre a amei, de fato! — Ele deu passadas longas até segurar meus braços. — Não consegui a esquecer. Jamais conseguirei. — E então ele me beijou.
Surpresa pelo ato impulsivo, permaneci imóvel por breves minutos e fora exatamente no instante que tomou meus lábios nos dele que a porta de meu quarto fora aberta e a adentrou. Seus olhos exprimiam surpresa, porém eles logo foram tomados pela raiva. Empurrei de modo violento, estalando a palma da minha contra sua face.
— Está louco? —Cuspi as palavras furiosa.
— Eu assumo daqui, meu amor. — beijou minha mão antes de seguir em direção à enquanto se aproximava de com uma postura tranquila, mas seus olhos exibiam sua raiva.
se aproximou com passadas tranquila de e, então, o ergueu pela gola de sua camisa, o jogando para trás, fazendo-o chocar-se contra o baú, o ofego dele fora audível. Ele então o ergueu acima do chão, a diferença entre eles era gritante. Mesmo mais magro possuía um porte forte, intimidador. Naquele momento ele trajava as vestes de meu irmão. Reconheceria as peças que Henrico utilizara tantas vezes, porém em elas ficavam mais justas contornando sua estrutura corporal, no entanto possuía um porte comum, seus músculos ficavam escondidos sob o tecido de suas vestes; ele era mais magro que e era menor que meu amado por uns bons 15 centímetros. o aproximou de forma que ele pudesse o encarar.
— Você não sabe quem eu sou ou o que posso fazer, mas...— deu um sorriso sádico — Acredite, não vai desejar descobrir do que sou capaz de fazer com você, signore, se tocar nela novamente. — o largou com desprezo no chão antes de lhe dar um soco em sua face como aviso.
— Tirem-no do palácio! — Ordenei aos guardas que sempre estavam à postos em minha porta. Vi ser arrastado e quando as portas se fecharam corri para os braços de .
— Você está bem, princesa? — perguntou preocupado enquanto examinava minha face. De modo inconsciente ele me chamara pelo apelido que antes detestava até que descobri meus reais sentimentos por ele.
— Tecnicamente, é rainha agora. — O respondi com graça sentindo-o selar seus lábios nos meus em uma expressão muda de carinho. — Finalmente está aqui. — O abracei com força ouvindo os batimentos de seu coração.
— Estava perdido até vê-la novamente. — Seu tom era baixo, porém carinhoso. — É loucura como acabara exatamente como você. — Ele riu por um breve momento, havia me esquecida quão maravilhoso era o som de sua risada.
— Meus dias tem sido uma batalha constante, amore mio. — O levei até minha cama sentando-nos sobre o colchão. — Despertei exatamente no último lugar em que desejava estar. — Entrelacei nossas mãos sentindo os calos das mãos dele. Ele havia se ocupado com o trabalho!
— Acordar e não tê-la ao meu lado fora a pior sensação que senti em toda a minha vida. — Ele tocou minha face com sua mão livre, deslizando-a suavemente por ela, seguindo então para meu pescoço, colo parando na gargantilha que usava, ele a elevou revelando o anel. O mesmo que havia me pedido em casamento.
— O mantive próximo ao meu coração. A melhor recordação do homem que me cativou. — Sorri de forma sincera, sorrir havia se tornado uma tarefa difícil assim que despertei na França três anos atrás, quando a realidade havia novamente bagunçado minha vida. Mas naquele instante, com , era algo natural. Admira-lo absorvendo todas as imperfeições tão perfeitas era instintivo.
— Não imaginava que isso a acompanhara. — Ele falou surpreso e delicadamente retirou minha gargantilha podendo pegar o anel. Ele então segurou minha mão esquerda beijando-a carinhosamente e delicadamente encaixou o anel em meu dedo anelar. — Ele pertence a este lugar.
— Como chegou ... Você sabe. — Falei confusa.
— Estava no oriente, em uma das tantas missões que acabei assumindo, quando em meio à um confronto contra traficantes, fui apunhalado por um deles sendo lançado ao mar. — Ele contava-me com o olhar perdido enquanto afagava de modo distraído minhas mãos. — Lembro-me que meus últimos pensamentos fora você.
— O oceano parece ser exatamente o que nos uniu. — Me ergui sobre meus joelhos ficando sobre a mesma altura que .
— O mistério não contado sobre como encontramos um ao outro. — falou suavemente me puxando delicadamente para seu colo. — Poder tocá-la novamente é como encontrar um oásis no deserto. — Ele sussurrou beijando minha fronte antes de olhar-me profundamente. — Quero estar onde estiver, . — Sua voz grave reverberou pelo meu corpo deixando-me extasiada. — Mas desta vez, para sempre.
— Atravessamos séculos enquanto estávamos dormindo. Isso não é um sonho, . — O beijei sentindo-o suspirar contra meus lábios, seus braços envolveram minha cintura enquanto meu cabelo caía como uma cortina escondendo nossas faces do resto.
inverteu a posição, me colocando abaixo dele, sua mão descia vagarosamente pela lateral de meu corpo deixando um rastro quente, como se pudesse marcar minha pele. Sua boca deslizava pelo meu pescoço, ocupando-se em enviar ondas de desejo pelo meu corpo inteiro. Minhas mãos ocupavam-se em despi-lo. Odiava como aquele traje de meu irmão era um empecilho em sentir a pele de contra a minha. Entre longos suspiros, arfares, sons lânguidos produzidos em êxtase e peças de roupas lançadas displicente ao acaso unimo-nos em um, encaixe perfeito. Saciando não apenas o desejo da carne, mas aniquilando a ausência de vez da alma.
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— Está acordada? — Ouvi a voz de ecoar no quarto silencioso.
— Sì. — Ergui minha cabeça a apoiando sobre o tronco desnudo de .
— Estava me recordando sobre a primeira vez que adormeceu em meus braços. — Ele deslizava carinhosamente sua mão pelas minhas costas nuas. — Sentia que se caso fosse preciso daria minha vida por você. Foi bem ali, naquele momento fugaz em que dormia serenamente que me dei conta que a amava. — Seus olhos exibiam seu mais profundo sentimento e tinha certeza que os meus refletiam exatamente o mesmo sentimento.
— Olívia e eu estávamos desfrutando de um momento juntas numa das tantas cidades que atracávamos quando o avistei sozinho, sentado sobre a grama com os olhos perdidos no oceano. — Deslizei distraída meus dedos pelo tronco dele, fazendo desenhos imaginários. — Seu semblante estava límpido, era a primeira vez que via sua real verdadeira natureza. — Me limitei a beijá-lo antes de prosseguir. — , você parecia estar em paz. Seu olhar era real e honesto. Brevemente nossos olhares se cruzaram, nesse olhar não havia barreiras, havia apenas a verdade. Naquele breve momento em que meus olhos encontraram os seus descobri que o amava. — Revelei sem cerimônia.
— Havia me esquecida dessa passagem por Bristol. — Ele sorriu verdadeiramente antes de colar seus lábios aos meus novamente. — Olívia iria adorar vê-la novamente.
— Sinto a falta dela também. Me pergunto se um dia poderei vê-la outra vez. — Minha voz denotava a saudade que sentia de minha amiga.
— Talvez um dia. — sussurrou carinhosamente colocando a mecha de cabelo atrás da minha orelha, seus cabelos estavam mais rentes à cabeça do que a última vez que o vi.
— . — Sussurrei, vendo as lumes iluminarem-se quando o chamei pelo seu apelido. Apenas as pessoas mais importantes para o chamava assim. — Me conte sobre o que ocorreu no porto.
— Uma tragédia. Pessoas inocentes no local e na hora errada. — Ele comentou de forma vaga.
— Scusa. — Beijei seu peito erguendo-me um pouco. — Deixei de navegar, estava com medo de perder minha família outra vez e não encontrá-lo. — Confessei.
— Há quanto tempo não sobe em um navio? — Sua voz revelava surpresa.
— Há dois anos, seis meses e 15 dias. — Categoricamente enumerei o tempo.
— Tempos sombrios. — Ele beijou minha fronte sentando-se na cama. — Imagino que fora tão difícil voltar aos mares quanto regressar para nossa casa. — Ele sempre mantinha suas mãos em mim, como forma de ter a certeza que não estava sonhando.
— , amore mio. — Elevei suas mãos até meus lábios beijando cada calo, cicatriz carinhosamente. — Você não está sonhando. Isso não é um sonho! — Me sentei pouco me importando se deixaria meu tronco nu, havia-nos desnudado não só a carne, mas sim a alma. Portanto não havia motivos para esconder-me dele. — A situação finalmente está melhorando para nós; eu pensei que nunca veria o dia em que poderia tê-lo ao meu lado novamente. Seu sorriso ilumina a minha vida. Sem você por perto é como se fosse uma casca vazia.
— Você por acaso está me pedindo para ser rei? — Ele arqueou suas sobrancelhas fazendo com que eu risse.
— Exatamente, porém vamos esperar os ânimos se acalmarem no reino e ser oficialmente banido do reino. — Falei calmamente enquanto me aconchegava em seus braços suspirando serenamente.
— Seu pai me odeia. — Ele riu após pronunciar a sentença. — Seu irmão me quer morto e sua mãe não veria problemas se eu desaparecesse. — continuou num tom relaxado.
— Eles não o odeiam de fato. — Me sentei sobre as pernas dele. — Papa está temporariamente zangado com você por causa de James, o comerciante que o resgatou. — Falei num tom cuidadoso enquanto segurava ambos os lados de sua face com minhas mãos. — Quanto ao meu irmão está apenas fazendo birra, ciúmes de irmão. Você tinha de ver como agi com ele quando anunciou que abandonaria o direito de assumir o trono para se casar com Collete. — Gargalhei de modo audível. — Quanto a minha mãe, está apenas tentando me proteger. Papa é visto como o protetor de nossa família, mas mal sabem quem é o verdadeiro guardião. — Me inclinei apoiando meus braços nos ombros dele. — Minha família respeita minhas escolhas e sempre me apoiam em tudo. Sem eles não seria metade do que sou. Apenas dê uma chance a eles. Você vai descobrir o quanto pode ser amado apenas por ser você mesmo. — Após finalizar meu rápido monólogo o beijei intensamente envolvendo seu pescoço com meus braços sentindo suas mãos apertarem minha cintura.
— Mal posso esperar para isso acontecer... — falou contra meus lábios interrompendo o beijo por breves momentos e então me virou na cama me fazendo sentir amada por completo.
não havia me feito amá-lo através de sua beleza. era lindo, de fato! Porém tivemos momentos controversos no qual sentia à vontade de matá-lo antes de conhecê-lo verdadeiramente. sempre fora um enigma até pouco a pouco, pacientemente desvendando as pistas chegar a quem ele era. Quando o conheci tive a sensação de que estaria ligado a ele para o resto de minha vida, mas não imaginava que seria um laço tão forte que atravessaria a barreira do tempo.
Antes dele, não havia experimentado o amor, o que havia vivenciado eram apenas momentos efêmeros, superficiais , sem importância. tocou meus pensamentos antes de chegar ao meu coração. Inconscientemente habitou meus pensamentos antes de fazer morada em meu coração, desnudou minha alma antes de desnudar meu corpo. Ele não disse que era bonita de primeira ... Ele me chamou de teimosa, desagradável, antes de nos apaixonarmos e quando me fez um elogio não fora direcionado a beleza, mas sim sobre minha mente.
Enfim quando pude descansar, o fiz nos braços de meu amado. Sua pele tocando a minha. Não havia mais barreiras que nos separavam.
— Eu te amo, minha princesa.
— Rainha... Sua rainha...
— Explique-se. — Papa vociferou
— Eu lhe darei a explicação que deseja, mas antes tenho que tirá-lo daqui, papa. — Indiquei com um olhar.
— Não me diga que está apaixonada por um assassino, ! — Papa riu sem qualquer humor.
— E não estou. — Falei causando um olhar confuso em . — Ele é , o homem que eu amo.
Henrico me olhou como se estivesse louca, papa no entanto calou-se. Seus olhos me observavam de modo a verificar se estava mentindo. Não havia como explicar o fato do homem que lhe contei no dia anterior viera a matar seu grande amigo; porém não podia deixá-lo preso.
— Não é momento para gracejos, sorella. — Henrico falou num tom de aviso.
— Ela não está mentindo. — A voz de papa soou surpresa embora seus olhos demonstrassem dúvidas.
— Isso é impossível! — Henrico rebateu.
— Assim como o desaparecimento sem explicações dela, figlio. — Papa o respondeu lembrando-o do que havia ocorrido anos atrás.
— Papa? — Indaguei, atraindo o olhar dele. — Como vamos tirá-lo daqui?
— Você deseja libertá-lo? — Mama surgiu surpreendendo-nos. — Você está louca, ! Ele é um assassino.
— Pessoas sem ter o que perder são capazes de qualquer coisa. — se pronunciou atraindo os olhares para ele. Seu italiano estava perfeito! O olhei surpresa, quando ele havia aprendido o idioma?!
— Isso não justifica... — Interrompi minha mãe.
— Perdão, mama, porém terei de discordar. estava perdido... — O olhei brevemente deixando claro que ele havia perdido a si mesmo. — Numa realidade diferente à qual vivia.
— ?! — Mama exclamou olhando um a um.
— Exatamente. — Concordei.
— Ainda teremos de encontrar termos para um acordo com os envolvidos no incidente do porto. — Papa soltou a sentença num tom grave. A situação de não era favorável. — Não estou de acordo com o que faremos, porém eu a respeito, mia bambina. — Papa se aproximou parando em frente à . — Há uma única razão de ainda estar respirando, signore , quero que recorde-se disso sempre.
Papa então iniciou num tom baixo uma série de instruções. Havia uma maneira de solucionar o problema, porém era arriscado. teria de ser “enforcado” diante os pescadores. Era necessário tomar toda atenção e controle sobre eles. teria de seguir bem cada instrução, caso contrário ele poderia morrer e apenas a hipótese de isso ocorrer me deixava angustiada.
Após repassado e salientar cada detalhe, nos afastamos da cela de . Deixá-lo para trás fazia parte de mim enfrentar todos os que queria ele morto, era um ato impulsivo e sem nenhuma lógica, porém havia uma outra parte que me mandava seguir o plano. Meu manto cobria novamente meus ombros. Atravessamos toda a prisão até chegar ao lado de fora, e então coloquei o plano em ação. Ordenei para que montassem a forca no pátio do paço central, papa enviou seu mensageiro para o palácio afim de informar os conselheiros. Conforme havia dito na reunião os pescadores estavam nos aguardando em frente ao paço central de Turim, próximo a catedral.
Deixei que papa tomasse a frente a partir dali. Ele discorria sobre o incidente e como estava abalado pela morte de seu grande amigo, porém sentia-me ansiosa e nervosa sobre o que aconteceria. Meus olhos acompanhavam aquela massa de pessoas. Guardas muito bem treinados os levou até a estrutura interna em que a forca estava sendo montada. Não seria um show, era a solução para o problema central, mas não me agradava em nada. Ao fim permaneci como uma estátua. Frígida, distante acompanhando o homem que mais amava sendo executado diante dos meus olhos. Os pescadores estavam exultantes e exibiam sorrisos, gestos, palavras em agrado diante o ato que acabara de acontecer. O corpo fora tirado e colocado dentro de um saco. Me distanciei do palanque e segui para fora adentrando a carruagem, minha família entrou algum tempo depois, fomos levados de volta ao palácio. Assim que pus os pés dentro do castelo saí em disparada para o meu quarto.
Sentia-me sufocada, ver sendo empurrado pelo meio da multidão tendo sua face golpeada por aldeões furiosos, a cada golpe era como se eles me atingissem. A face cruel da humanidade ainda me causava náuseas. Tirei às pressas meu vestido, manto, tiara e luvas, mergulhando na banheira em segundos. Imergi completamente antes de voltar para a superfície quando o ar se fizera necessário. Após me lavar, vesti uma camisola como no século 21 diriam, porém estava esgotada demais para pensar em qualquer coisa. Um misto de emoções me envolvia, angústia, felicidade, tristeza, saudades, preocupação... Eram inúmeras dúvidas que rondavam minha mente. Estava perdida entre meus pensamentos que não notei uma figura masculina adentrar o recinto.
— O que lhe preocupas, mia bella?
Assustada virei-me encontrando os olhos cinzentos de . Ele estava próximo demais. Seus olhos emitiam um brilho intenso. O tom usado era carinhoso, desejoso. Dei um passo para trás recuando.
— O que pensas que está fazendo? — O indaguei irritada. Pela manhã havia me preocupado com seu bem estar devido ao carinho que sentia por ele devido aos longos anos de amizade, porém naquele instante sentia a urgência de me afastar dele.
— Tentei te esquecer...— falou de modo calmo enquanto se aproximava e eu ainda continuava a recuar, estava atrás da minha adaga que naquele momento havia sumido. — Quando desapareceu no meio daquela tempestade, percebi que minha vida era insignificante . Io não passava de um espectro, mi amor. — Ele me encurralou contra a porta.
— Você é um homem comprometido ! — Exclamei, lembrando de Margareth. Não importava se ela me detestasse; não gostaria de ter o homem que amava atrás de outra mulher. — Você uniu-se em matrimônio com Margareth, eu e você não passamos de bons amigos. , olhe bem para você mesmo. — O encarei seriamente. — O que está fazendo não é algo que normalmente mio amico faria. sempre fora um cavalheiro, companheiro, alguém em que eu podia confiar. — Falei calmamente enquanto o afastava delicadamente. — Você não era um espectro, estava muito longe disto. Idealista, sagaz, decidido, eram as características que mais admirava em você, porém hoje tornara-se um mero feixe do que fora um dia. — Suspirei construindo sair de perto dele. — Margareth pode não ser a minha pessoa favorita, porém ela não merece isso, . Ela perdeu seu genitor. Deveria estar ao lado dela, dando-lhe suporte e não aqui.
— Io te amo, mia bella! — falou de modo firme com seus olhos tempestuosos. — Sempre a amei, de fato! — Ele deu passadas longas até segurar meus braços. — Não consegui a esquecer. Jamais conseguirei. — E então ele me beijou.
Surpresa pelo ato impulsivo, permaneci imóvel por breves minutos e fora exatamente no instante que tomou meus lábios nos dele que a porta de meu quarto fora aberta e a adentrou. Seus olhos exprimiam surpresa, porém eles logo foram tomados pela raiva. Empurrei de modo violento, estalando a palma da minha contra sua face.
— Está louco? —Cuspi as palavras furiosa.
— Eu assumo daqui, meu amor. — beijou minha mão antes de seguir em direção à enquanto se aproximava de com uma postura tranquila, mas seus olhos exibiam sua raiva.
se aproximou com passadas tranquila de e, então, o ergueu pela gola de sua camisa, o jogando para trás, fazendo-o chocar-se contra o baú, o ofego dele fora audível. Ele então o ergueu acima do chão, a diferença entre eles era gritante. Mesmo mais magro possuía um porte forte, intimidador. Naquele momento ele trajava as vestes de meu irmão. Reconheceria as peças que Henrico utilizara tantas vezes, porém em elas ficavam mais justas contornando sua estrutura corporal, no entanto possuía um porte comum, seus músculos ficavam escondidos sob o tecido de suas vestes; ele era mais magro que e era menor que meu amado por uns bons 15 centímetros. o aproximou de forma que ele pudesse o encarar.
— Você não sabe quem eu sou ou o que posso fazer, mas...— deu um sorriso sádico — Acredite, não vai desejar descobrir do que sou capaz de fazer com você, signore, se tocar nela novamente. — o largou com desprezo no chão antes de lhe dar um soco em sua face como aviso.
— Tirem-no do palácio! — Ordenei aos guardas que sempre estavam à postos em minha porta. Vi ser arrastado e quando as portas se fecharam corri para os braços de .
— Você está bem, princesa? — perguntou preocupado enquanto examinava minha face. De modo inconsciente ele me chamara pelo apelido que antes detestava até que descobri meus reais sentimentos por ele.
— Tecnicamente, é rainha agora. — O respondi com graça sentindo-o selar seus lábios nos meus em uma expressão muda de carinho. — Finalmente está aqui. — O abracei com força ouvindo os batimentos de seu coração.
— Estava perdido até vê-la novamente. — Seu tom era baixo, porém carinhoso. — É loucura como acabara exatamente como você. — Ele riu por um breve momento, havia me esquecida quão maravilhoso era o som de sua risada.
— Meus dias tem sido uma batalha constante, amore mio. — O levei até minha cama sentando-nos sobre o colchão. — Despertei exatamente no último lugar em que desejava estar. — Entrelacei nossas mãos sentindo os calos das mãos dele. Ele havia se ocupado com o trabalho!
— Acordar e não tê-la ao meu lado fora a pior sensação que senti em toda a minha vida. — Ele tocou minha face com sua mão livre, deslizando-a suavemente por ela, seguindo então para meu pescoço, colo parando na gargantilha que usava, ele a elevou revelando o anel. O mesmo que havia me pedido em casamento.
— O mantive próximo ao meu coração. A melhor recordação do homem que me cativou. — Sorri de forma sincera, sorrir havia se tornado uma tarefa difícil assim que despertei na França três anos atrás, quando a realidade havia novamente bagunçado minha vida. Mas naquele instante, com , era algo natural. Admira-lo absorvendo todas as imperfeições tão perfeitas era instintivo.
— Não imaginava que isso a acompanhara. — Ele falou surpreso e delicadamente retirou minha gargantilha podendo pegar o anel. Ele então segurou minha mão esquerda beijando-a carinhosamente e delicadamente encaixou o anel em meu dedo anelar. — Ele pertence a este lugar.
— Como chegou ... Você sabe. — Falei confusa.
— Estava no oriente, em uma das tantas missões que acabei assumindo, quando em meio à um confronto contra traficantes, fui apunhalado por um deles sendo lançado ao mar. — Ele contava-me com o olhar perdido enquanto afagava de modo distraído minhas mãos. — Lembro-me que meus últimos pensamentos fora você.
— O oceano parece ser exatamente o que nos uniu. — Me ergui sobre meus joelhos ficando sobre a mesma altura que .
— O mistério não contado sobre como encontramos um ao outro. — falou suavemente me puxando delicadamente para seu colo. — Poder tocá-la novamente é como encontrar um oásis no deserto. — Ele sussurrou beijando minha fronte antes de olhar-me profundamente. — Quero estar onde estiver, . — Sua voz grave reverberou pelo meu corpo deixando-me extasiada. — Mas desta vez, para sempre.
— Atravessamos séculos enquanto estávamos dormindo. Isso não é um sonho, . — O beijei sentindo-o suspirar contra meus lábios, seus braços envolveram minha cintura enquanto meu cabelo caía como uma cortina escondendo nossas faces do resto.
inverteu a posição, me colocando abaixo dele, sua mão descia vagarosamente pela lateral de meu corpo deixando um rastro quente, como se pudesse marcar minha pele. Sua boca deslizava pelo meu pescoço, ocupando-se em enviar ondas de desejo pelo meu corpo inteiro. Minhas mãos ocupavam-se em despi-lo. Odiava como aquele traje de meu irmão era um empecilho em sentir a pele de contra a minha. Entre longos suspiros, arfares, sons lânguidos produzidos em êxtase e peças de roupas lançadas displicente ao acaso unimo-nos em um, encaixe perfeito. Saciando não apenas o desejo da carne, mas aniquilando a ausência de vez da alma.
— Está acordada? — Ouvi a voz de ecoar no quarto silencioso.
— Sì. — Ergui minha cabeça a apoiando sobre o tronco desnudo de .
— Estava me recordando sobre a primeira vez que adormeceu em meus braços. — Ele deslizava carinhosamente sua mão pelas minhas costas nuas. — Sentia que se caso fosse preciso daria minha vida por você. Foi bem ali, naquele momento fugaz em que dormia serenamente que me dei conta que a amava. — Seus olhos exibiam seu mais profundo sentimento e tinha certeza que os meus refletiam exatamente o mesmo sentimento.
— Olívia e eu estávamos desfrutando de um momento juntas numa das tantas cidades que atracávamos quando o avistei sozinho, sentado sobre a grama com os olhos perdidos no oceano. — Deslizei distraída meus dedos pelo tronco dele, fazendo desenhos imaginários. — Seu semblante estava límpido, era a primeira vez que via sua real verdadeira natureza. — Me limitei a beijá-lo antes de prosseguir. — , você parecia estar em paz. Seu olhar era real e honesto. Brevemente nossos olhares se cruzaram, nesse olhar não havia barreiras, havia apenas a verdade. Naquele breve momento em que meus olhos encontraram os seus descobri que o amava. — Revelei sem cerimônia.
— Havia me esquecida dessa passagem por Bristol. — Ele sorriu verdadeiramente antes de colar seus lábios aos meus novamente. — Olívia iria adorar vê-la novamente.
— Sinto a falta dela também. Me pergunto se um dia poderei vê-la outra vez. — Minha voz denotava a saudade que sentia de minha amiga.
— Talvez um dia. — sussurrou carinhosamente colocando a mecha de cabelo atrás da minha orelha, seus cabelos estavam mais rentes à cabeça do que a última vez que o vi.
— . — Sussurrei, vendo as lumes iluminarem-se quando o chamei pelo seu apelido. Apenas as pessoas mais importantes para o chamava assim. — Me conte sobre o que ocorreu no porto.
— Uma tragédia. Pessoas inocentes no local e na hora errada. — Ele comentou de forma vaga.
— Scusa. — Beijei seu peito erguendo-me um pouco. — Deixei de navegar, estava com medo de perder minha família outra vez e não encontrá-lo. — Confessei.
— Há quanto tempo não sobe em um navio? — Sua voz revelava surpresa.
— Há dois anos, seis meses e 15 dias. — Categoricamente enumerei o tempo.
— Tempos sombrios. — Ele beijou minha fronte sentando-se na cama. — Imagino que fora tão difícil voltar aos mares quanto regressar para nossa casa. — Ele sempre mantinha suas mãos em mim, como forma de ter a certeza que não estava sonhando.
— , amore mio. — Elevei suas mãos até meus lábios beijando cada calo, cicatriz carinhosamente. — Você não está sonhando. Isso não é um sonho! — Me sentei pouco me importando se deixaria meu tronco nu, havia-nos desnudado não só a carne, mas sim a alma. Portanto não havia motivos para esconder-me dele. — A situação finalmente está melhorando para nós; eu pensei que nunca veria o dia em que poderia tê-lo ao meu lado novamente. Seu sorriso ilumina a minha vida. Sem você por perto é como se fosse uma casca vazia.
— Você por acaso está me pedindo para ser rei? — Ele arqueou suas sobrancelhas fazendo com que eu risse.
— Exatamente, porém vamos esperar os ânimos se acalmarem no reino e ser oficialmente banido do reino. — Falei calmamente enquanto me aconchegava em seus braços suspirando serenamente.
— Seu pai me odeia. — Ele riu após pronunciar a sentença. — Seu irmão me quer morto e sua mãe não veria problemas se eu desaparecesse. — continuou num tom relaxado.
— Eles não o odeiam de fato. — Me sentei sobre as pernas dele. — Papa está temporariamente zangado com você por causa de James, o comerciante que o resgatou. — Falei num tom cuidadoso enquanto segurava ambos os lados de sua face com minhas mãos. — Quanto ao meu irmão está apenas fazendo birra, ciúmes de irmão. Você tinha de ver como agi com ele quando anunciou que abandonaria o direito de assumir o trono para se casar com Collete. — Gargalhei de modo audível. — Quanto a minha mãe, está apenas tentando me proteger. Papa é visto como o protetor de nossa família, mas mal sabem quem é o verdadeiro guardião. — Me inclinei apoiando meus braços nos ombros dele. — Minha família respeita minhas escolhas e sempre me apoiam em tudo. Sem eles não seria metade do que sou. Apenas dê uma chance a eles. Você vai descobrir o quanto pode ser amado apenas por ser você mesmo. — Após finalizar meu rápido monólogo o beijei intensamente envolvendo seu pescoço com meus braços sentindo suas mãos apertarem minha cintura.
— Mal posso esperar para isso acontecer... — falou contra meus lábios interrompendo o beijo por breves momentos e então me virou na cama me fazendo sentir amada por completo.
não havia me feito amá-lo através de sua beleza. era lindo, de fato! Porém tivemos momentos controversos no qual sentia à vontade de matá-lo antes de conhecê-lo verdadeiramente. sempre fora um enigma até pouco a pouco, pacientemente desvendando as pistas chegar a quem ele era. Quando o conheci tive a sensação de que estaria ligado a ele para o resto de minha vida, mas não imaginava que seria um laço tão forte que atravessaria a barreira do tempo.
Antes dele, não havia experimentado o amor, o que havia vivenciado eram apenas momentos efêmeros, superficiais , sem importância. tocou meus pensamentos antes de chegar ao meu coração. Inconscientemente habitou meus pensamentos antes de fazer morada em meu coração, desnudou minha alma antes de desnudar meu corpo. Ele não disse que era bonita de primeira ... Ele me chamou de teimosa, desagradável, antes de nos apaixonarmos e quando me fez um elogio não fora direcionado a beleza, mas sim sobre minha mente.
Enfim quando pude descansar, o fiz nos braços de meu amado. Sua pele tocando a minha. Não havia mais barreiras que nos separavam.
— Eu te amo, minha princesa.
— Rainha... Sua rainha...
Fim.
Nota da autora: Participar desse ficstape foi mágico! Espero que tenham desfrutado tanto de Looking Up quanto eu em escrevê-la. Ela foi algo especial.
Para quem possa estar perdido essa é apenas a parte dois da história de Pérola e Heinrich. A primeira parte é Write Your Name.
Bem, tenho planos para esse casal ainda, mas é muito cedo para falar disso.
Agradeço à toda equipe do ficstape e a vocês leitores. Vocês fazem o dia de nós autoras/autores.
Atenciosamente, Karoline Pereira.
Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Para quem possa estar perdido essa é apenas a parte dois da história de Pérola e Heinrich. A primeira parte é Write Your Name.
Bem, tenho planos para esse casal ainda, mas é muito cedo para falar disso.
Agradeço à toda equipe do ficstape e a vocês leitores. Vocês fazem o dia de nós autoras/autores.
Atenciosamente, Karoline Pereira.