Capítulo Único
7 de Março, 2015
O corpo de tremeu quando os primeiros berros de , em pleno sábado por volta das 6h da manhã, atingiram seus tímpanos.
– Meu Deus, mulher, qual é o seu problema? – ele resmungou, ainda deitado e com os olhos levemente cerrados pelo sono. Ele observou de soslaio a atônita mulher sentada, agarrando o lençol sobre o corpo nu como se a protegesse do rapaz. Ele quis rir, mas ela só surtaria mais ainda, então ele apenas enterrou o rosto no travesseiro.
– O que você está fazendo na minha cama? – gritou.
O rapaz não se conteve, sua risada foi abafada pelo travesseiro.
– É a minha cama, amor.
Pela primeira vez, a garota olhou ao redor. Ela já havia estado ali antes, tantas vezes que já reconhecia cada canto do cômodo. Mas ela nunca havia dormido ali, muito menos nua na mesma cama que ele.
– E o que eu estou fazendo no seu quarto? – ela queria parar, mas não podia conter sua voz que teimava em gritar.
O rapaz não respondeu.
– ! – gritou, sentindo o pânico tomar conta de seu corpo. Sem nem ao menos olhá-la, ele sabia que a expressão dela era de confusão. Os olhos marejados, o corpo trêmulo e a boca levemente aberta buscando por ar o fez conter sua vontade de encará-la. Ele sabia que se o fizesse, sentiria culpa.
– Meu Deus, isso não pode estar acontecendo – ela, pela primeira vez, sussurrou, tropeçando em seu próprio corpo enquanto saía da cama. – Não, não, não...
colocou-se de pé na frente dos olhos, agora atentos, de . Um lençol fino e branco cobria as curvas da mulher, embora aquilo não fosse necessário, uma vez que ele já havia mapeado cada milímetro da pele dela. Mas ela não precisava saber disso.
– , por favor – pediu, ao vê-lo fechar os olhos e respirar profundamente. – Me diz que o que eu estou pensando não aconteceu.
– Eu não sei o que você está pensando, amor, eu não leio mentes – ele brincou, embora não sorrisse, com a única intenção de diminuir a vermelhidão em seu rosto causado pelo nervosismo da situação.
– ! – suplicou.
– Não aconteceu.
Ela pensou que, se ouvisse essas palavras saindo da boca dele, diminuiria o aperto em seu peito, mas isso só piorou. O que ela estava pensando? Não importava quantas vezes ela pedisse para ele mentir, ela sabia tanto quanto ele que havia acontecido algo.
– Não ajudou – praguejou, sua voz aumentando algumas oitavas. – Porra, nós transamos!
– Sim, sim – disse, deitando-se de barriga para cima para ter uma melhor visão de . – O prédio todo não precisa saber sobre nossa noite.
– Como você pode achar graça, seu filho da puta? – a mulher acusou. pousou seus olhos sobre o rosto dela, constatando tudo que ele não desejava ver. Ele respirou fundo e, então, olhou para o teto. viu aquele ato como uma demonstração de indiferença, embora ele, definitivamente, não estivesse indiferente.
– Se você pretende continuar com o surto, é melhor eu providenciar um café – ele afastou o lençol que cobria seu corpo, levantando-se.
– ! – berrou, cobrindo os olhos com uma mão enquanto a outra ainda agarrava o lençol sobre o próprio corpo.
– O quê? – fingiu inocência. – Ontem você fez muito mais que olhar.
– Pelo amor de Deus! – grunhiu, contendo a curiosidade em abaixar a mão.
– Tudo bem! Tudo pra você parar de gritar – ele resmungou, fazendo-a abrir os olhos. Ela observou ele andar despreocupadamente até a porta. Embora estivesse de cueca, ela não pôde conter os olhos que insistiam em passear pelo corpo definido. Pensar que ela havia aproveitado daquilo e mal se lembrava a fazia querer se socar – se por fazer ou por não lembrar, ela não sabia.
tomou um banho, não porque se sentia suja, mas apenas para evitar a conversa que estava por vir. Ela tentou lembrar-se de detalhes sórdidos, mas apenas se lembrava de estar na festa dada pelo , e de beber. Mas o fato dela não se lembrar dos detalhes não queria dizer que ela não sentia a queimação que as digitais de deixaram em seu corpo. Ou o fato de se sentir mais leve, de se sentir completa. E todos esses sentimentos só pioravam sua situação, porque ela não deveria se sentir assim. Porra, ela havia amado a noite de ontem! E ela nem ao menos se lembrava dela.
Depois de vestir sua calça que havia achado no chão do quarto e uma camisa de , ela desceu as escadas. Cada passo como se estivesse andando no corredor da morte. O rapaz estava na cozinha, tomando seu café. Ela tentou não secar o corpo dele, mas era extremamente difícil, uma vez que ele permanecia apenas de cueca.
– É minha camisa? – ele apontou para a mulher que apenas acenou, receosa. Ele sorriu torto, guardando aquela imagem em sua mente sobre sete chaves, junto às imagens do corpo mapeado de e outras pequenas provas que ela havia deixado ao longo dos anos em seu apartamento, sem saber.
– Sobre ontem...
Ela esperou que ele discutisse com ela sobre como levariam aquilo adiante, ela queria que houvesse uma discussão, embora sentisse medo, mas, ao invés disso, ele foi prático e abaixou todas as muralhas que havia criado enquanto enrolava no banho.
– Somos melhores amigos e estávamos bêbados. – disse, calmamente. – A noite de ontem foi um erro.
Aquilo atingiu como um soco. Ela nem ao menos sabia o que sentir diante do que aconteceu, muito menos diante da reação de , então tudo o que ela fez foi responder:
– Tudo bem, eu... – puxou o ar, tropeçando em suas próprias palavras. – Eu preciso ir.
acenou, novamente indiferente. Ele observou o café, enquanto a porta da frente batia e tudo que ele fez foi xingar-se.
Babaca!
9 de Março, 2015.
cursava o terceiro ano de psicologia, ela morava em uma cidade distante da universidade e, para facilitar seu dia a dia, resolveu dividir um lugar com outros alunos. O que ela não esperava era que fosse com mais quatro homens. Em outras circunstâncias, seus pais não permitiriam, mas ela havia crescido com seus dois irmãos mais velhos e a casa era realmente perto da universidade, apenas cerca de dez minutos a pé. Isso fora no primeiro ano e o que ela não esperava era que fosse desenvolver uma amizade tão forte com quatro rapazes que insistiam em chamar a casa de “Toca”.
E havia , que já era amigo dos outros quatro antes mesmo de se alojar na cidade. Ele tinha grana o suficiente para pagar seu próprio apartamento, obviamente, porque seus pais eram nada menos que advogados renomados. Talvez fosse por isso que ele cursava advocacia. Então, tendo amigos em comum e estudando na mesma universidade, era de se esperar que ela não conseguiria fugir de mesmo que quisesse.
E ela quis, mas não adiantou muito, pois na segunda-feira seguinte após o ocorrido que ela se esforçava a esquecer, o homem já caminhava sorridente em sua direção. A metade feminina do campus todo olhava para ele e não podia culpá-las, nem ela conseguia desviar o olhar do sorriso largo que pertencia ao seu melhor amigo.
– Encheram a cara ontem, não é? – perguntou, referindo-se aos outros meninos. Ele os conhecia muito bem para saber que, se não estavam com , estavam em casa sofrendo os males da ressaca. Ao se aproximar, ele passou o braço sobre os ombros da amiga. Não era a primeira vez que ele fazia isso, mas, pela primeira vez, sentiu uma diferença no ato.
– Não sei como acreditei que eles viriam – bufou, fazendo o rapaz rir.
– Eles precisam ter umas aulinhas comigo – ele brincou, sorrindo timidamente para algumas pessoas que passavam por ele, cumprimentando-o. era tímido, um fato constantemente esquecido por , uma vez que era muito brincalhão quando estava com os garotos ou até mesmo com ela. – Vem, eu te acompanho até lá. engasgou, tentando disfarçar sua surpresa e pavor com uma risada nervosa.
– Por quê?
Ele sorriu torto enquanto a guiava pela calçada, afastando-se do campus.
– Por que não?
Manter uma conversa nunca fora tão difícil antes, admirava o esforço de em manter o assunto. À medida que seus passos aumentavam, menos ela prestava atenção no que ele realmente dizia. Ela só conseguia pensar na noite que havia perdido e em como queria poder ao menos se lembrar dela. Seus olhos desceram pelo corpo do rapaz, tentando imaginar tudo o que havia visto e feito. O olhar não passou despercebido.
– Pare de me olhar assim – ele pediu, timidamente risonho. piscou, reprendendo a si mesma por não notar que encarava o amigo.
– Assim como?
– Como se estivesse me imaginando pelado.
– Cala a boca, ! – esbravejou, seu rosto ardendo em labaredas.
– Espera, você estava me imaginando pelado, não estava? – ele gargalhou, fazendo-a ficar mais envergonhada.
– Claro que não, seu idiota! – bateu seu ombro contra o rapaz, tirando os olhos atentos de seu rosto que parecia arder mais a cada minuto.
Ele ainda ria quando eles finalmente chegaram à Toca. Era uma casa pequena, apenas uma fachada simples, quartos o suficiente e um quintal atrás, de onde vinham as risadas escandalosas de e os gritos histéricos de , e .
riu de antecipação, caminhando ao lado de até os fundos da Toca. Era um espaço razoavelmente grande, onde havia uma churrasqueira raramente usada, algumas cadeiras, uma pequena quadra para jogar basquete e uma mesa de ping pong que estava sendo usada por e .
Antes que fossem notados pelos amigos, segurou no ombro de , impedindo-o de ir até eles. Os olhos azuis a perfuraram de surpresa e, por um segundo, ela se arrependeu por olhar diretamente para eles.
– O que foi? – ele franziu as sobrancelhas, levemente preocupado e curioso pela forma que a mulher lhe fitava.
– Você... – sua voz tremeu. – Você contou para alguém?
a fitou, sua expressão suavizando e um sorriso divertido pintando seus lábios. Era cômico e amargo o fato de que a maior das preocupações da amiga fosse a discrição.
– Não, por quê?
– Nada, apenas curiosidade.
– Isso foi apenas um erro, , não precisamos falar sobre isso – ele disse, embora não soubesse se para ela ou para si mesmo.
Ele se lembrava daquela noite toda vez que deitava na cama e repetia para si mesmo que havia sido um erro, com a esperança de que se tornasse verdade em sua cabeça, que insistia em ver aquela noite como algo bom.
Mas não era bom, ele soube disso assim que olhou para o rosto apavorado de naquela manhã, quando ela acordou ao seu lado. Então, toda a felicidade se apagou, deixando-o com o pensamento que o assombrava daquele dia em diante. Foi apenas um erro.
– Eu sei.
10 de Março, 2015.
– ! Passa pra mim! – gritava, pulando em volta de e , que riam.
estava livre, porém, optou por lançar a bola em direção ao - que estava próximo demais de , que tomou a bola de suas mãos, marcando mais uma cesta.
– Eu pedi pra passar pra mim!
– Você tem mãos tortas.
– Claro que não!
– Na verdade, – interviu. – Você tem mãos tortas, sim.
– É, cara, seus dedos não são normais – concordou.
– Mas eu não estava marcado! – ele retorquiu, marcando um ponto na discussão. bagunçou os cabelos dos amigos, recebendo xingamentos em troca.
Ele caminhou até , enquanto batia a bola de basquete contra o chão. A garota tentou se focar no barulho que o ato provocava ou até mesmo na discussão dos outros rapazes sobre quem havia entregado o jogo. Tudo para evitar os olhos de , pois ela estava disposta a tentar agir normalmente, mas sabia que se o olhasse diretamente, não conseguiria.
– Quanto?
– 36 cestas! – ela disse alto o suficiente para que os meninos vaiassem. e riram. Por um momento ela se sentiu segura em agir, sem receios.
– Quer assistir um filme hoje?
Não seria a primeira vez, afinal, ela havia perdido as contas de quantas vezes eles haviam saído para o cinema. Era apenas mais um programa entre amigos, talvez as coisas voltassem ao normal se eles agissem como agiam antes.
– Não posso, tenho um encontro.
conhecia o suficiente para saber que seus encontros não eram convencionais, não eram como ir ao cinema, tomar um café ou jantar. Ela sabia que o único objetivo dele era transar e constatar isso, incrivelmente, a deixou mais cabisbaixa do que se ele fosse para um encontro de verdade.
– Ah – ela sorriu, tentando conter a frustração em sua voz. – Tudo bem. Não adiantou, pois notou o sorriso amarelo no rosto da garota. Ele odiava aquele sorriso, pois sabia que ele só aparecia quando ela estava chateada com algo. O fato era que olhá-la já era difícil o suficiente, ele precisava ocupar sua mente com uma pessoa que ele pudesse tocar sem receios. Ele precisava tirar de seus pensamentos e ele sabia que isso dependia do encontro que ele teria hoje, então, teria que esperar.
– Ouvi dizer que o Will vai dar uma festa amanhã na casa dele – mudou de assunto, fitando despreocupadamente suas mãos que ainda batiam a bola contra o chão. – Você vai?
– Sim! – sorriu. Embora ela não falasse muito com Will, um veterano que cursava engenharia, ela conhecia algumas amigas dele e, por fim, acabou sendo convidada. – Falam que as festas dele são incríveis, eu estou animada!
– Apenas tenha certeza de que não vai beber demais dessa vez, ok? O sorriso de murchou, ela ergueu as sobrancelhas para o amigo, embora ele estivesse ocupado demais brincando com a bola de basquete para notar o olhar confuso da amiga.
– Por que não?
Ele ergueu a cabeça, sua feição descontraída não condizendo com suas palavras.
– Assim não vamos acabar cometendo o mesmo erro da última festa. Antes que pudesse respondê-lo e, provavelmente iniciar uma briga, uma bola de ping pong atingiu a nuca de , fazendo os outros meninos gargalharem.
– Você pode até ser bom no basquete, mas queremos ver no ping pong! – desafiou.
– Preparem-se para perder! – gritou, correndo entre risadas até a mesa.
– , marque a derrota desse perdedor! – pediu e a garota riu, acenando.
Embora risse das palhaçadas, sua mente repetia frequentemente as palavras de e tudo que ela mais queria era cometer o mesmo erro da última festa. Ela não sabia, mas ele também queria.
15 de Março, 2015.
acordou tarde, ela sabia disso apenas por constatar que os garotos estavam acordados também. Não seria surpresa nenhuma, se não fosse um domingo.
Todos estavam na sala de jantar, embora ainda comessem o café da manhã. Alguns mais acordados que outros, que dormiam praticamente sobre as tigelas de cereais.
– Bom dia, porquinhos! – cumprimentou, bocejando.
– Bom dia, mãe ursa – sorriu.
– Por que você está arrumada? Vai pra onde? – observou.
– Ah, eu vou pra...
se calou no momento em que saiu da cozinha, entrando diretamente na sala. Ele sorriu, parecendo satisfeito pela reação dela e, então, cruzou os braços. Ela sabia que ele viria, afinal, era domingo e este era o motivo pelo qual ela fugiria para o parque da cidade, enquanto ele estivesse na Toca. Mas ela não esperava que ele chegasse a tempo de encontrá-la, ele nunca chegava tão cedo.
– ?
– Eu não tenho te visto há quase uma semana – ele ergueu as sobrancelhas, deixando-a sem graça por estarem tendo aquela conversa na frente dos outros rapazes que, de repente, pareciam tão acordados. Na terça-feira, notou que não daria certo. havia a chamado para a festa de Will, um estudante de engenharia que morava no mesmo condomínio que . Ela aceitou, mas não foi para a festa.
Ela já não almoçava mais com os garotos, sempre corria para ir embora do campus antes de todos e não atendia as ligações. Tudo isso para evitar . E esses dias haviam se passado em uma lentidão tão grande, que ela estava surpresa em descobrir que fora apenas uma semana e não um mês.
– Eu estive ocupada – fugindo dele, ela poderia completar.
– Você está me evitando, ?
– Não – mentiu, embora sua voz trêmula a denunciasse. – Por que estaria?
Ela se xingou mentalmente. Os meninos fitavam os dois, escutando atentamente cada palavra, e pedir que dissesse o porquê da briga não era algo muito inteligente no momento.
– Você me diz.
suspirou de alívio, embora não se sentisse totalmente livre, uma vez que os olhos de ainda estavam sobre ela.
– Vai me dizer por que está agindo estranho?
– Eu não tenho o que dizer, porque não estou estranha, eu só estou estudando muito.
Sua voz era firme e, se repetisse mais algumas vezes, ela poderia até acreditar naquilo. Mas, infelizmente, não acreditou.
– Você vai precisar de uma desculpa melhor – ele avisou, seu rosto neutro a fazendo se encolher.
– Olha, eu to atrasada, se você não acredita, o problema é seu.
franziu as sobrancelhas, seu rosto demonstrando os primeiros sinais de irritação e frustração.
– Espera! – despertou, finalmente piscando, uma vez que a discussão havia, supostamente, acabado. – Para onde você vai?
– Estudar.
– Hoje é domingo – lembrou e a garota o fuzilou, embora ele não soubesse que estava ferrando com o plano dela.
– Vou estudar na casa da Chloe!
E antes que mais alguém dissesse o que não devia, saiu rapidamente pela porta. Certo, agora ela precisava achar alguma Chloe. Talvez uma passagem só de ida para a Flórida, também.
– Quem é Chloe? – indagou, confuso.
– Era uma desculpa, idiota – estapeou a cabeça do amigo.
– A pergunta certa seria: por que ela mentiu? – sugeriu e, abruptamente, todos os olhos da sala estavam sobre , que estava submerso em pensamentos enquanto fitava a porta por onde havia saído.
– ! – berrou, jogando um pote de Nutella no amigo, que despertou em um pulo.
– Filho da puta! – grunhiu, passando a mão sobre o braço atingido. – O que vocês querem?
– Queremos saber o que aconteceu com a .
apertou os lábios, ele queria mais do que tudo saber o que havia de errado com ela. Ele havia cometido um erro, ela havia surtado e ele propôs que fingissem que nada tinha acontecido. Mas então por que ela continuava a evitá-lo? Ele não fazia ideia.
– Eu não sei!
– Claro que sabe! – jogou sua tigela vazia no rapaz que, dessa vez, desviou.
– Ela está estranha apenas com você – observou, ignorando os olhos fulminantes de sobre , que erguia os ombros em um pedido claro de desculpas.
– E isso começou depois daquela festa que você deu na sua casa – acrescentou.
– Que, por acaso, ela voltou no dia seguinte e logo em seguida se trancou no quarto.
fechou os olhos, sabendo que os meninos juntariam as peças e, assim que abriu os olhos, aconteceu.
– Espera, vocês...
– Puta que pariu!
– Eu não entendi.
– Você transou com a ?
Quatro olhares espantados e julgadores estavam sobre ele, não poderia recuar, sabia disso. E, incrivelmente, se sentia mais leve diante da descoberta. Talvez eles pudessem ajudá-lo. O problema era que admitir que ele havia feito isso em voz alta era mais difícil do que ele imaginava, sua culpa pesava cada vez mais sobre seu peito.
– Bem... – suspirou, seu rosto ficando subitamente vermelho – Mais ou menos.
– Como assim? Não tem como transar mais ou menos – bufou, impaciente.
– A não ser que uma de suas pernas continuasse dentro da calça.
– Ainda sim não seria mais ou menos, – retorquiu. – Só se metade do pênis estivesse dentro da calça, mas isso é impossível.
– Sim, eu transei com a ! – confirmou, interrompendo aquela discussão que ele sabia que seguiria em frente se ele não o fizesse. – Estávamos bêbados.
A reação seguinte foi a esperada: mais xingamentos.
– Isso não está me ajudando – o rapaz interviu, impaciente. Os meninos se calaram, olhando atentamente para o amigo com caras de enterro e isso era pior que a chuva de palavrões. – Vocês acham que é por isso que ela está assim?
– Ah, pelo amor de Deus! – estapeou o próprio rosto. – É claro, seu idiota!
passou os dedos, levemente, sobre as lombadas dos livros nas enormes estantes da única biblioteca da cidade. Ela gostava de ir para lá quando não tinha mais para onde ir, ou quando precisava de um tempo. Bem, ela não tinha para onde ir e precisava de tempo, então, estava ali apenas absorvendo o cheiro de papel que a acalmava e, às vezes, até observava as pessoas que frequentavam aquele lugar. Das pessoas que não tinham para onde ir até aquelas que só estavam ali para fingir ser alguém que não eram.
E então seus olhos pararam sobre aquele que, mesmo se ela o estudasse minuciosamente, ainda não o entenderia. passava pelas portas da biblioteca pública a tempo de se esconder atrás de uma das várias estantes de livros.
Embora ambos dividissem o amor pela leitura, ela sabia que não estava ali para ler.
Ele olhou em volta, fazendo-a implorar que fosse embora quando não a encontrasse. Mas, ao invés disso, ele se aproximou. O rapaz procurava entre os espaços vazios das estantes pelo rosto da garota e ela sabia que ele a encontraria. Por impulso, se abaixou, rastejando pelo chão com o único objetivo de sair do local sem ser notada.
Ela estava tão focada em fugir que só percebeu o par de pernas diante dela quando virou o rosto. Prendeu a respiração, xingando-se por não ter sido capaz nem de sair imperceptivelmente.
– Perdeu algo? – ela fechou os olhos diante da clara provocação. sabia que ela estava fugindo dele e sabia que nada que ela dissesse o faria acreditar no contrário.
– Como me achou? – suspirou, ignorando a questão anterior enquanto se levantava para enfrentar os olhos do rapaz a sua frente, ele sorria torto. Ah, o amor pela leitura!
– Nos conhecemos há três anos, , você não devia me subestimar. – ele sorriu – Você praticamente morava aqui, se lembra do que você disse quando perguntei o porquê de passar tanto tempo aqui? – Eu queria poder viver como nos livros – ela murmurou, não contendo um sorriso doce à lembrança. Ele suspirou, colocando as mãos dentro dos bolsos de sua calça. ergueu as sobrancelhas, curiosa sobre o repentino nervosismo. – Acha que podemos conversar hoje à noite? Sobre a última festa e tudo o que aconteceu.
– Eu... – ela limpou a garganta, tentando amenizar a sensação do nó que prendia suas palavras. – Eu não acho uma boa ideia. Você mesmo disse, foi um erro e não precisamos falar sobre isso.
– Eu contei para os meninos sobre isso e...
– Você o quê? – ela ergueu o tom de voz e a bibliotecária pediu silêncio, fazendo-a sussurrar a próxima pergunta, embora sua vontade fosse gritar. – Por que você contou?
– Porque você está agindo estranho e eu não sabia o porquê – ele comprimiu os lábios, sua feição ansiosa e confusa parecendo adorável aos olhos de .
– Tudo bem, eu te encontro na sua casa hoje à noite.
E, antes que ele pudesse falar qualquer coisa, ela saiu rapidamente. A imagem de um inseguro diante de si a fazendo sorrir durante todo o caminho até a casa.
Enquanto o elevador subia, pensou que morreria. Seu coração batia tão rápido que não poderia ser saudável, e tudo que ela fazia era repetir em sua mente a conversa que havia tido com os meninos, assim que chegou em casa. Ela havia surtado, berrava para os quatro pobres rapazes o que eles haviam dito para que o fez mudar de ideia sobre ignorar o acontecimento daquela noite. Ela estava apavorada ao ponto de cogitar não ir.
Mas os meninos não permitiriam, eles a incentivaram dizendo que era apenas uma conversa e nada demais. Ela só precisava falar o que sentia, disseram. Mas era difícil quando nem mesmo ela sabia o que sentia.
– Isso é estranho – disse, após sua confissão e ela riu. Ele estava certo. Ela estava estranha desde a última vez que havia estado naquele apartamento. Pensar que entraria ali novamente e ficaria a sós com o rapaz de sorriso torto e olhos azuis lhe tirava o fôlego de antecipação. Antes de apertar a campainha, ela puxou o máximo de ar possível, assegurando que teria o suficiente. Mas, quando a porta foi aberta, ela soltou o ar que nem chegou perto de ser o suficiente.
O filho da puta estava sem camisa e usava óculos de grau.
Merda, o óculos era covardia!
Todas as esperanças de ter uma conversa no mínimo tranquila se dissiparam com aquela imagem. Os cabelos molhados e desgrenhados, os olhos levemente escuros, os lábios apertados em uma linha fina, os músculos tensos sobre a pele. Tudo parecia estar a favor de foder com os sentidos e hormônios de , e ela nem ao menos havia entrado no apartamento ainda.
Em contra partida, não teve a intenção alguma de provocá-la. Pelo contrário, ele queria realmente ter essa conversa, ele queria acertar as coisas de uma vez, mas ela apareceu com aquele vestido curto, os cabelos soltos e os olhos ansiosos, lembrando-lhe que ela era sua maior fraqueza. Nenhum outro vestido seria capaz de fazê-lo querer tanto rasgá-lo como aquele maldito vestido floral. Apenas ela ficaria tão irresistível em algo tão inocente. Seu corpo ficou trêmulo sobre os olhos atentos de , talvez ele a estivesse assustando como da última vez. Mas era tão difícil se manter concentrado com ela deslizando furtivamente pelo seu lado, entrando em seu apartamento. Eles estavam a sós e conversar, de repente, se tornou a menor de suas prioridades.
Se soubesse do poder que tinha sobre ele, que Deus o salvasse.
– Pensei que não viria – confessou, observando-a atentamente jogar a bolsa no sofá. Ela caminhou lentamente até a enorme estantes de livros, que ocupava grande parte da sala de . Aquele era o lugar favorito dela em todo apartamento.
– E eu não ia vir – ela suspirou, virando-se para vê-lo andar na sua direção. Ela se sentia como uma presa prestes a morrer, sem saída. Então, procurou focar-se na discussão que eles precisavam ter ao invés de se preocupar com o corpo de que se aproximava, gradativamente, do dela. – O que te fez mudar de ideia? Há alguns dias você disse que não deveríamos falar sobre isso.
Ele parou, dois passos de distância dela. A distância que ele julgou ser no mínimo segura para continuar o rumo da conversa sem que ele perdesse a sanidade. Seus olhos focaram-se nos olhos de , embora não fosse a melhor das ideias.
– Isso foi antes de você começar a me evitar.
– Eu não estou...
– Sim, você está! – ele a interrompeu, tentando inutilmente manter a conversa em um rumo que a probabilidade de fim fosse, ao menos, boa. Mas foi tarde demais, desde que havia passado pela porta. – Passávamos mais tempo juntos do que um dia já passei com minha própria mãe, , e agora tudo o que você faz é fugir de mim. – acusou. – Algo mudou na nossa amizade.
Não havia argumentos para isso, sabia que ele estava certo e ele sabia disso, também.
– Nós transamos, – ela murmurou, tão baixo que ele precisou ler seus lábios, vermelhos rubro pelo batom, para ter certeza sobre as palavras dela. – O que você esperava?
Ele esperava por muitas coisas. Esperava que se saciasse, não apenas sexualmente, mas emocionalmente, também. Esperava parar de pensar nela mais do que em qualquer outra coisa. Esperava conseguir olhá-la sem almejá-la. Escutar sua voz e não classificar aquele como o melhor som do mundo. Esperava poder ficar, no mínimo, algumas horas distante dela sem se sentir como a porra de um viciado em abstinência. Mas nada disso aconteceu. Na verdade, tudo apenas piorou de uma forma que ele achou não ser possível antes. Ele até havia quase transado com outra garota na semana anterior, e fora um completo desastre, uma vez que tudo o que ele mais desejava era que fosse ali. Ele nunca ficou tão frustrado.
havia cometido o erro daquela festa achando que as coisas melhorariam, mas fora um tiro no próprio pé, pois aqui estava ele, encarando-a e sentindo todos aqueles sentimentos inúmeras vezes mais forte do que antes. Com o plus de que, agora, ela também o evitava.
– Eu não sei – ele por fim respondeu, não querendo assustá-la novamente. – Eu estou confuso.
– E eu não estou? – ela trocou o peso do corpo, mordendo levemente os lábios, incerta do que fazer. a observou, atentamente.
– E então? O que faremos?
fitou a estante, à procura de uma resposta certa no meio de todas aquelas lombadas com títulos chamativos e, outros, nem tanto. Sua estante de livros nunca fora tão cheia, até resolver preenchê-la junto a ele, tornando aqueles pedaços de madeiras e folhas de ambos. Talvez houvesse alguma resposta ali. Ou talvez ele tivesse que resolver as coisas por conta própria.
O fato era que aquela era a chance dele. Ele poderia salvar a amizade que tinha com ou destruir tudo. Era o pior que ele poderia fazer, mas ele estava apto a escolher a segunda opção.
– Eu não sei. Você quer... – ele sorriu torto, seu rosto enrubescendo à medida que ele se aproximava do corpo trêmulo de sua amiga. – Fazer isso de novo?
abriu a boca, em uma clara evidência de que ela estava chocada com as palavras de . Ela engasgou com o próprio ar, seus olhos arregalados mostravam toda sua incerteza e confusão. Ela parecia tão perdida.
– Você é um filho da puta – ela acusou e ele esperou pacientemente pelo tapa que ele tinha certeza que receberia, com merecimento.
Todavia, nenhum tapa atingiu seu rosto. Ela sorria, o que já era estranho o suficiente, pois ela devia estar furiosa com a audácia de suas palavras. Então, ela fez algo que o surpreendeu mais que seu sorriso.
Ela o beijou.
Era o primeiro beijo deles. Pelo menos, o primeiro em que ambos estavam sóbrios. Embora soubesse que “sóbrio” não era a melhor definição para ele no momento, nem toda bebida do mundo o deixaria tão embriagado quanto os lábios de .
16 de Março, 2015.
Naquela manhã, acordou com um bom humor incomum. O outro lado da cama ainda estava quente, comprovando-o que o que aconteceu na noite anterior não havia sido obra de sua mente. Ele se vestiu, apenas o essencial para descer as escadas e verificar se permanecia no seu apartamento. Ele podia sentir o perfume doce enquanto caminhava em direção à cozinha, para encontrar a mulher sentada no balcão, uma xícara de café em mão e um livro pego em sua estante na outra. Infelizmente, ela estava vestida. O vestido floral cobrindo suas curvas, deixando seu busto e pernas à disposição dos olhos profundos de .
percebeu o olhar sobre si e cruzou as pernas, como uma clara mensagem para ele tirar os olhos dali, embora seu ato apenas tenha aumentado a vontade que o rapaz nutria em tirar seu vestido e repetir o acontecido da noite anterior.
– Estamos atrasados – ele observou a forma como ela curvava os lábios já delineados com o batom vermelho, um sorriso culpado e divertido preenchendo eles à medida que ela erguia a xícara de café.
– Não me importo em ficar mais – ele sorriu maroto, aproximando-se.
– Nem pense – ela fechou o livro, colocando-o sobre a mesa e fazendo-o parar. Ela parecia risonha ao tomar seu café. Suas pernas nuas balançavam, como se para provocá-lo sobre o fato de não poder tocá-la, uma vez que ela estava disposta a ir para aula. Enquanto ele nem ao menos lembrava que era segunda-feira.
– Então, o que você acha de fazer disso uma coisa?
Ele não queria assustá-la, mas ele já havia passado aquela linha de limite duas vezes e sabia que não tinha volta. Porra, ele só precisava ouvir um sim.
– Você está tentando me pedir para ser sua amiga com benefícios, ? – ela sorriu marota.
– Talvez? – ele indagou, risonho, com as bochechas vermelhas. Seus dedos já passeavam pelas pernas de , dos joelhos até suas coxas, erguendo o bendito vestido floral para ter um melhor acesso. O corpo dela tremeu.
– , isso nunca acaba bem – ela murmurou, sua voz tão trêmula quanto suas pernas.
sorriu, beijando o canto de seus lábios vermelhos, quando seus dedos alcançaram a calcinha da mulher. O rapaz seguiu com seus lábios pela mandíbula de , guiando-se até sua orelha, ela suspirou.
– E por que tem que acabar?
Isso foi o bastante para . Ela deixou a xícara de café sobre o balcão, afastando-se de aos tropeços, enquanto pegava sua bolsa e seguia rapidamente até a porta. Antes que desistisse e faltasse à aula.
– Eu odeio quando você incorpora o advogado – ela deixou claro.
– Isso é um sim? – ele perguntou alto, o sorriso quase lhe rasgando o rosto.
– Hoje à noite – suas palavras prometiam e, logo em seguida, a porta da frente bateu.
voltou o olhar para a bancada, o único indício de que estivera ali era a xícara de café manchada com seu batom vermelho. Ele sorriu para si mesmo. Ela sempre manchava as xícaras de . No começo, ele odiava e vivia apenas para repreendê-la por isso, ele sabia que era de propósito, ela gostava de deixar suas marcas. Com o tempo, ele pegou-se as segurando na mão, invejando o fato da porcelana frágil ter os lábios de . Imaginar o gosto daquelas manchas de batom já não era o bastante, assim como apenas olhá-la também não o satisfazia mais. E, quando ele descobriu isso, foi quando ele decidiu dar a festa em seu apartamento.
E agora ele tinha mais do que os lábios da garota que ele tanto almejava.
– Eu entendi direito? – indagou, erguendo o braço para fazer se calar. – Pra apagar o clima estranho por vocês terem transado, vocês... Transaram de novo?
Após a aula, decidiu ir para a biblioteca fazer algumas pesquisas para adiantar a próxima apresentação. A oportunidade perfeita para os garotos se unirem em uma pizzaria perto do campus para fazer o que garotas chamariam de fofocar. Mas eles eram garotos, então era apenas uma conversa casual sobre suas vidas particulares.
Dessa vez, a vida particular de .
– Correto – sorriu orgulhoso por ter conseguido fazê-los entender. gargalhou, fazendo bater a palma contra o próprio rosto para deixar claro o desgosto pela situação.
– Vocês dois se merecem – confessou, risonho, balançando a cabeça negativamente.
– Eu sei – gargalhou.
– Sabe qual é a probabilidade disso dar certo? – interviu, fazendo todos os olhares da mesa voltarem-se para o rapaz. – Qual é? Eu sou o único que vê que isso não terminará bem?
– Não fode, cara! – replicou e, como apoio, e jogaram as bordas de suas pizzas no rosto do amigo que apenas ergueu o dedo do meio em resposta.
odiava quando estava certo. E, para sua infelicidade, ele sempre estava certo.
31 de Março, 2015.
deveria saber que as coisas, eventualmente, sairiam de seu controle. Na manhã seguinte após aquela festa, ao ver saindo aos tropeços de seu apartamento, ele prometeu a si mesmo que não voltaria a cometer o mesmo erro. A quem ele queria enganar? Ele já havia experimentado o gosto de , não havia mais volta. E ter pedido para ela ser sua amiga com benefícios era a maior prova disso.
E, como para reforçar sua certeza, lá estava ele, encostado contra a parede enquanto esperava pacientemente andar, calmamente, até ele. O corredor estava praticamente vazio, afinal, ela estava atrasada. Estando quase completamente sozinhos, ele se permitiu olhá-la sem ter que se vigiar. Ela estava de vestido, o que se tornou frequente uma vez que ela descobriu ser o ponto fraco de . Ele riu, é claro que ela usaria aquilo contra ele.
– Dormiu bem? – seus lábios delineados se abriram em um sorriso maroto.
No dia anterior, eles haviam passado o dia juntos. o provocou o dia inteiro, aproveitando-se da falta de privacidade. No almoço com os meninos, sua mão pequena pousava quase inocentemente sobre o colo do rapaz e sua perna, às vezes, sem querer, deslizava contra a dele. Ela degustava a comida de uma forma sugestiva, seus olhos profundos não tiravam os olhos do rapaz durante toda refeição. não fazia a mínima ideia de como havia aguentado todas as provocações e insinuações de , ele apenas sabia que a noite ele a faria se arrepender de cada olhar. O que ele não esperava era que, após alguns minutos de preliminares em seu apartamento, ela iria embora, dizendo ter se esquecido de terminar um trabalho para o dia seguinte.
– Poderia ter sido melhor, amor – ele sorriu falsamente, fazendo-a rir ao vê-lo corar. – Mas eu vou equilibrar as coisas.
Antes que ela questionasse, ele puxou sua cintura em direção ao banheiro feminino, apenas alguns passos de distância de onde eles inicialmente estavam. Assim que a porta se fechou, agarrou a cintura de , puxando-a para seu colo e a pressionando contra a parede. Ela arfou com o movimento abrupto e, antes que pudesse recuperar o fôlego, os lábios de alcançaram seu pescoço, fazendo-a gemer.
– , você está louco? Pode ter pessoas aqui – ela murmurou, sua risada saindo entrecortada pela falta de ar. Ela olhava ao redor.
– Não tem – respondeu com convicção, afinal ele havia esperado por ela tempo o suficiente para se certificar de que mais ninguém estava no banheiro.
Ele segurou firmemente o rosto dela, calando suas inseguranças em um beijo forte. Os dedos apertavam seus cabelos macios e longos, o cheiro de seu shampoo invadindo os sentidos dele como um soco. As pequenas mãos de agarravam seus ombros e, tê-la ali, inteiramente para ele, deixava-o perturbado. Seus lábios abandonaram os dela apenas para, logo em seguida, atacar seu pescoço. Beijando e chupando sua pele até seu ombro, as alças finas de seu vestido caíam, deixando-os livres para .
– – ela gemeu ao sentir os dedos dele apertarem fortemente suas coxas, seus lábios descendo em direção aos seus seios ainda cobertos pelo vestido. – , estamos no banheiro feminino do campus.
– Eu sei – ele resmungou, sua voz abafada pela pele da garota que tremeu sobre seu hálito quente.
– Isso parece uma medida muito desesperada para você.
Ela estava certa. sempre pensava bem nas coisas, calculava riscos e escolhia as melhores opções, afinal, ele estudava para ser, futuramente, pago por fazer isso. Era desse jeito de advogado que tanto reclamava e era ela quem destruía todo esse preparo. Ela era o maior de seus riscos, a opção incerta e o pensamento mal pensado. Ele era incapaz de considerar qualquer coisa que a envolvesse. E, para seu modo de vida, isso era um problema.
– Eu não me importo.
– Mas devia, – os lábios de rapidamente se afastaram de sua pele, seus olhos azuis à altura dos dela, suas sobrancelhas erguidas não revelavam o porquê de sua reação, deixando-a confusa.
– Do que você me chamou? – ela riu quando notou do que se tratava. Um suspiro aliviado escapou de seus lábios ainda avermelhados pelos beijos.
– Isso importa, ? – sorriu maliciosamente, movimentando seu quadril lascivamente contra .
– Isso é fodidamente quente – ele arfou, deslizando suas mãos pelas longas pernas de . – Como eu nunca notei?
Ela gargalhou e engasgou-se com a própria risada quando as mãos fortes e quentes de chegaram até sua calcinha, puxando-a.
– É por isso que eu amo vestidos.
4 de Abril, 2015
– , fala comigo – pediu, sua voz quebrando.
não a olhou, embora soubesse que em sua expressão predominava confusão e receio. Ele queria tranquilizá-la, mas preferiu não fazê-lo, uma vez que ele não conseguia se auto tranquilizar. Podia escutar seus batimentos cardíacos, o sangue fervendo em suas veias como água quente. Ele estava furioso e nunca tinha o visto dessa forma antes.
– O que aconteceu? – a mulher indagou, tentando arrancar qualquer informação que a deixasse menos nervosa. O elevador ainda subia, como se nunca fosse chegar ao andar desejado. Até que as portas de aço se abriram, permitindo que ela respirasse o ar que não havia notado ter prendido.
pegou a mão de novamente, guiando-a em direção ao seu apartamento da mesma forma que havia a guiado para fora da festa de Will. Sua mão forte contra a sua, seus passos pesados e seu rosto fechado denunciavam o quão irritado ele estava e ela nem ao menos sabia o porquê. Ela repassou tudo o que havia feito durante a festa à procura do motivo. Will conversava animadamente com a mulher enquanto pegava uma bebida, até que se aproximou, sussurrando no seu ouvido flertes. Ela não soube como corresponder, ele era um cara legal e atraente, mas ela tinha algo com . Algo que supostamente deveria ser apenas sexo casual, sem cobranças ou compromisso, mas ela não sabia responder o porquê do desconforto ao pensamento de flertar com outro homem.
E, antes que ela se decidisse, chegou. Com o rosto avermelhado, apenas a pegou pela mão e a guiou para fora da festa, sem ao menos dizer uma palavra.
E continuava em um silêncio agoniante, até passarem pela porta de seu apartamento. se virou abruptamente em direção à , fazendo-a hesitar, mas não havia para onde fugir, uma vez que a única que coisa atrás de si era a porta recentemente fechada com certa violência por .
Seus olhos azuis escurecidos a fitavam de uma forma nunca feita antes, fazendo-a se sentir nua, não apenas sem roupas mas como se estivesse sem a própria pele.
Ela esperou pelo início da discussão, que não veio. Ao invés disso, os lábios de a surpreenderam ao se chocarem contra os dela. A mão do rapaz segurou firmemente seu rosto, intensificando o beijo que era tão forte que poderia ser doloroso, mas não era. Sem delongas, suas mãos desceram pelas curvas da mulher até chegar à ponta de seu vestido para, então, arrancá-lo. O ar gelado se chocou contra sua pele nua, mas ela não teve tempo para se preocupar com o frio, pois, tão rápido quanto se afastou, o corpo de voltou para ela, pegando-a no colo. As longas pernas de se entrelaçaram em volta do quadril de , fazendo-o arfar com o contato. Ele a empurrou contra a porta principal do apartamento e ela esperava que não houvesse ninguém no corredor para escutar todo o barulho que os dois estavam dispostos a oferecer.
– Porra – ela grunhiu quando suas costas bateram novamente contra a porta, a adrenalina e o tesão disparavam pelo seu sangue enquanto os lábios de desciam pelo seu pescoço com uma pressão que deixaria marcas.
Ele inalou profundamente o perfume doce que a pele dela exalava e, naquele momento, ele era um refém. Ele estava preso ao seu cheiro, ao gosto de sua pele e ao doce e amargo que dividiam espaço em sua boca. Ele estava sem defesas e sem seus sentidos. E aquilo era tão bom.
– Minha – ela pôde ouvi-lo dizer em meio às mordidas e chupões e, então, como um flash, ela entendeu.
Ele estava com ciúme.
E, naquele ponto, ele também havia entendido. Eles sabiam que amigos com benefícios não deveriam se sentir dessa forma, mas eles se sentiam. seria capaz de fazer o mesmo se visse com outra. E, naquele momento, os dois sabiam que não havia mais rótulos para definir a relação deles.
– Meu – respondeu.
Os beijos fortes e possessivos abruptamente pararam. ergueu a cabeça para trocar um longo olhar com . Ela deveria sentir medo da reação dele, mas não sentia, pois sabia que ele não iria embora. Seus corações batiam em sincronia e eles podiam sentir um ao outro, como se escutassem a si mesmos. Como se estivessem em apenas um corpo.
Ele roçou os lábios contra os dela, de uma forma tão leve que parecia imperceptível após todos os beijos rudes. E como se aquela simples e única palavra amolecesse sua raiva, seus toques se tornaram mais suaves e doces, quase como pedidos silenciosos de desculpas. Os beijos se tornaram penas que deslizavam sobre sua pele, deixando um rastro de queimação prazerosa. Ele a afastou da porta e, ainda a tendo em seu colo, caminhou até o sofá. Suas costas agradeceram pelo apoio mais confortável, assim como seu corpo tremia em agradecimento pelos beijos e toques de e, no meio disso tudo, um último agrado. Por sua vez, o coração dela batia fortemente em gratidão e regalo a apenas três palavras que escaparam despretensiosamente dos lábios de .
– Eu amo você.
A última linha de limite tinha sido ultrapassada.
5 de Abril, 2015.
Quando acordou, já não estava mais no quarto. Ela se revirou na cama, um sorriso bobo pendia em seus lábios e sua barriga parecia estar infestada de criaturinhas inquietas. E ela continuou dessa forma, mesmo depois de lavar o rosto e se trocar. Sentir-se como uma adolescente apaixonada nunca fora tão bom. Sim, apaixonada. Depois da noite anterior, tudo se tornou mais claro. Ele a amava e agora ela sabia disso, não apenas por ele ter dito as três palavras, mas por tê-las dito no momento certo. Ela nunca tinha sido tocada, olhada e beijada como a noite anterior e ela o conhecia bem o suficiente para dizer por ele que ele nunca tinha feito essas coisas com outras garotas, em seus encontros, com a mesma intensidade. Isso teria sido o bastante, mas ele confirmou com palavras, ele disse que a amava.
Enquanto descia as escadas, se surpreendeu por não estar com medo como da primeira vez. Ela não estava apavorada em vê-lo, pois sabia que, independente do rumo da conversa, as coisas acabariam bem para os dois.
Ela não poderia estar mais errada.
quase deixou a xícara de café cair ao sentir os lábios mornos de em seu pescoço. Ele puxou o ar, reprendendo-se por demonstrar fraqueza. Ele já havia feito isso ontem.
– O que foi? – perguntou desconfiada ao vê-lo se afastar de seus lábios.
– Nada, você apenas me assustou – ele explicou e, embora isso não a convencesse, ela apenas acenou e sentou-se.
Novamente, ela usava uma camiseta aleatória de seu guarda roupa, observou. Seus encontros com ela apenas aumentavam à mesma proporção que suas camisetas sumiam, mas ele nunca reclamou, uma vez que amava a forma como suas roupas realçavam as curvas da mulher e amava mais ainda o cheiro que insistia em ficar no tecido, mesmo após ela lavá-lo e devolvê-lo. Os longos e escuros cabelos de caiam selvagemente sobre seus ombros enquanto ela adoçava seu café, suas longas pernas balançavam incessantemente em baixo da mesa e, em outras circunstâncias, tudo isso deixaria louco e eles passariam mais um dia inteiro na cama.
Mas, agora, aos seus olhos, predominava a beleza acima da volúpia. A simplicidade de seus atos como afastar os cabelos rebeldes do rosto ou de seus traços ao não pegar a xícara quente de café pela orelha dela. E, mesmo fazendo uma careta diante da ardência pelo dedo queimado, gostou daquela visão. Ela em sua cozinha, tão confortável como se estivesse em sua própria casa e desejou ter o dom da arte para poder pintar aquele momento enquanto seu cérebro ainda funcionasse ou de ser um fotógrafo e guardar o que via não apenas em suas memórias. Mas ele não era nada disso, ele era apenas a porra de um estudante de direito controlador perdendo o controle.
Enquanto ela tomava o café, a observou. Assim como a tinha observado durante as últimas sete horas, após ela ter dormido. Ele a admirou pelos próximos dez minutos de silêncio que se seguiram.
O silêncio foi quebrado por .
– , você está com a cara pior do que quando está com ressaca – ela zombou, abaixando a xícara contra a mesa da cozinha apenas para lançar a ele um sorriso de escárnio.
Em outras circunstâncias, ele retrucaria com o mesmo nível de sarcasmo usado por ela, mas ele não o fez e isso a preocupou instantaneamente.
– Merda – ela praguejou em um murmúrio, sentindo-se subitamente nervosa com o olhar silencioso do rapaz. – ...
Ele fechou os olhos em covardia, e antes que pudesse repensar, as palavras saltaram de seus lábios:
– Foi um erro.
Houve um silêncio, as suas palavras ainda flutuavam pelo cômodo, seu coração batia fortemente contra seu peito e aquilo doía. A dor só piorou quando ele, finalmente, abriu os olhos.
O sorriso de tinha desaparecido, dando lugar a uma expressão de dor e olhos marejados. Ele quis tocá-la e dizer que não pretendia magoá-la, mas sua cabeça estava em um turbilhão de pensamentos. Seu corpo implorava por ela, sua mente implorava pelo resto de sanidade que sobrara. E no meio de tantas súplicas, o de parecia apenas mais um.
– O quê? – ela indagou, sua voz tão trêmula quanto seu corpo.
– Eu estou dizendo que foi um erro – ele focou-se na mesa, incapaz de olhá-la enquanto destruía todas as suas expectativas. – Foi errado te pedir para fazer do erro daquela festa algo, seguir com essa loucura e continuar nela até o ponto que me fez te arrastar daquela festa como se tivéssemos algo. A noite de ontem foi um erro.
– Você disse que me amava – ela murmurou, tão baixo que ele não seria capaz de ouvi-la se o único som audível não fosse de suas respirações pesadas e o som de se sufocando com sua mágoa.
– Foi outro erro.
Mesmo sem olhá-la, sabia que o rosto de ficava gradativamente avermelhado conforme suas emoções aumentavam. Ele podia dizer o quão magoada, furiosa e triste ela estava apenas pelo modo como sua respiração saía ruidosamente, seus fungos numa tentativa falha de não chorar e pelo barulho de sua mandíbula fortemente apertada. E, quando sua voz se fez ouvir mais alta e selvagem, ele teve sua confirmação.
– Você disse que me amava! – ela gritou, sua voz embargada denunciava o choro que estava por vir. Ela estava de pé, seu calor corporal, cheiro e respiração mais próximos do que ele poderia suportar. apertou os olhos e fechou os punhos, esforçando-se em não desabar. – Não, você não vai fazer isso comigo, não de novo. Não depois de ontem.
permaneceu em silêncio.
– Por que você não olha pra mim? – questionou em desespero, fazendo-o desviar os olhos, embora eles ainda estivessem fechados. – Olha pra mim! – ela pediu, sem resultado. – Olhe pra mim enquanto diz toda essa merda. Olhe para meu rosto, porra!
Ele respirou profundamente antes de olhá-la para, logo, então se arrepender.
Ela parecia tão vulnerável à sua frente, pedindo-o com os olhos marejados que esquecesse o que pretendia fazer.
Mas ele não podia, porque ele estava cansado. Cansado do improviso, do imprevisível, da avalanche de sentimentos desconexos e da dependência que ela lhe provocava. E ele estava tão desesperado para sair daquela instabilidade, que quis acreditar que a dor que sentia em vê-la daquela forma na sua frente passaria quando ela se conformasse.
– – ele a repreendeu. Se por ela gritar ou por xingar, ela não sabia. E nem se importava.
– Não ouse falar comigo como se estivéssemos na porra de um tribunal – ela advertiu, furiosa. – Não ouse ficar aí sentado dizendo as probabilidades de isso ser errado e esperando que eu não diga nada!
– É o certo, – ele disse firme, embora não soubesse o que dizer para diminuir o impacto da situação.
– Eu odeio quando você faz isso – ela confessou, fitando-o de uma maneira tão profunda que ele quase podia senti-la atravessando por ele. – Odeio quando age como um advogado, pesando tudo, querendo provas e tentando controlar tudo. O que temos não precisa ser pesado, provado ou controlado, !
Mas era, pelo menos na mente cheia e embaralhada de , era. Controle era tudo o que ele tinha. Ele tinha controle sobre os próprios horários, sobre a própria vida, sobre os estudos e metas e, quando isso era ameaçado por alguém, ele resolvia como o bom advogado que pretendia ser. Mas, desde aquela noite, vem bagunçando sua vida tanto, que ele nem poderia achar os meios de resolver aquilo. Porque ele não queria.
E ele continuava a não querer. Mas eles estavam em outro patamar e não estava preparado para o próximo.
– Eu te amo, merda, qual é a dificuldade disso?
estreitou os olhos, seu corpo afastando-se de e de suas palavras que soaram como um palavrão. Ele desviou o olhar dos olhos feridos da mulher à sua frente e, quando sua voz saiu, estava tão rouca, que ele mal a reconheceu.
– Acabou.
respirou ruidosamente, um sinal claro que ela havia o ouvido e ele ainda não sabia dizer se isso era algo ruim ou bom. Quando escutou o soluço sufocado de , ele bateu o punho contra a mesa, apertando-o contra a madeira tão fortemente que podia sentir a dor subir pelo seu braço. se assustou com o ato de , pulando para longe dele e, ainda magoada, o fitou.
Ele sentiu os olhos arderem e afastou o olhar para que ela não notasse as lágrimas que pendiam em seus olhos enquanto ele a ouvia caminhar para longe dele.
– – sua voz rouca requisitou o nome da mulher, aproveitando o gosto doce de seu nome e o olhar quente dela sobre suas costas uma vez que ela parou.
Ela seria capaz de desistir de ir embora se ele falasse algo. Mas ele não disse.
estava parada na saída da cozinha, ambos de costas, tornando a distância entre eles maior.
– Ele mexe comigo, esse garoto. Sempre – a voz trêmula de recitou a frase de A Menina que Roubava Livros como se recitasse uma poesia, uma poesia que a sufocava. – É sua única desvantagem. Ele pisoteia meu coração. Ele me faz chorar.
E então veio o silêncio, sendo seguido pelo barulho da porta da frente batendo fortemente, marcando o momento que ela havia ido embora, e aquele barulho o machucara mais que a pressão que mantinha sobre o pulso.
Seus olhos caíram sobre a xícara de café manchada de batom sobre a mesa. Ele prendeu a respiração quando o peso caiu sobre si, ele não imaginou que seria tão difícil e não imaginou que, mesmo após terminar, ele ainda se sentiria vulnerável. Mas ele se sentia preso entre pedras e, quando a porta se fechou, as pedras caíram sobre ele. Soterrando-o.
jogou a porcelana contra a parede, destruindo-a em pedaços.
10 de Abril, 2015.
Dormir se tornou um martírio, porque era o único momento do dia em que ficava completamente sozinho e não havia nada para ocupar sua mente, que insistia em repetir tudo relacionado à . Ele fechava os olhos e via seu sorriso, escutava sua risada, sua voz, o som de seus gemidos, o gosto da sua pele, o cheiro de seus cabelos e a quentura de seu corpo. Quando abria os olhos para escapar das imagens que o perturbava, seus olhos caíam automaticamente sobre a fronha do travesseiro ao seu lado. A fronha que abrigava poucos fios de cabelo deixados esporadicamente, pois ele não tinha coragem de lavá-la e apagar os resquícios de inocência que deixara ali. E porque abrigava também seu cheiro, tão forte e presente que ele quase podia visualizá-la ou sentir o calor que o lado vazio da cama emanava. Um calor tão quente e agradável que ele seria capaz de deitar ali para queimar naquele calor o dia inteiro. Mas a cama estava fria, ela já havia ido embora e aquilo tudo era apenas mais um peça que seu cérebro lhe pregava.
faltou durante quatro dias. Ela não ia para a faculdade, não aparecia na biblioteca e isso o preocupava. Ele tentava seguir em frente, queria acreditar que se fingisse não se importar, deixaria de se importar, mas não funcionava. Notou isso no segundo dia quando decidiu perguntar aos meninos sobre ela. É claro que eles o ignoraram, o olharam feio e apenas se afastaram. No quarto dia, ele parou de sentir auto piedade e entendeu que merecia o ódio que recebia dos amigos e estava disposto a tentar outra abordagem, quando ela surgiu, andando pelos corredores como se nada tivesse acontecido. Ela conversava, ria, brincava e até fingia sua inexistência quando o encontrava nos corredores ou no campus. E ele estaria feliz por ela, se não a conhecesse tão bem. E ele apenas enxergou isso quando a observou sentada em uma das mesas do campus, com os rapazes. Às vezes abaixava o olhar, esfregando os olhos para tentar amenizar a vermelhidão do choro que havia sido seu companheiro nos últimos dias. Ele não se importaria se ela o odiasse, se o batesse ou o superasse, mas ele não poderia suportar vê-la daquela forma.
E foi isso que o levou até a Toca, naquela mesma noite. Por incrível que pareça, para uma sexta, os garotos se encontravam na casa e foram eles que o recepcionaram quando ele gritou, pela primeira vez, o nome de diante de sua janela.
– Mas que porra, ! – gritou, avançando em direção ao suposto amigo. Batendo a porta logo atrás dele e quase atingindo o rosto de . Antes que os punhos de alcançassem o rosto de , se colocou entre os dois.
– ! – ele repreendeu, empurrando-o para longe. – Se controla! – Eu preciso falar com ela – falou, apto a enfrentá-los se fosse necessário, embora não fosse uma ideia sensata, levando em consideração que eram quatro contra um.
– Para que? Propor outra transa e depois tratá-la como uma vadia? – o olhou furioso.
– Não! – se defendeu, olhando diretamente para o amigo que já havia se soltado de . – Eu não... Eu não esperei que as coisas acabassem dessa forma.
– E esperava o que, ? – disse calmamente, embora suas palavras ainda cortassem. – É de que estamos falando. Ela vê as coisas com sentimentos e você vê como pesagem de consequências. Não poderia terminar de outra forma.
e se mantiveram em silêncio, como se não soubessem se posicionar diante da discussão.
– Eu errei – ele confessou, não apenas para eles, mas para si mesmo. – Eu só quero consertar as coisas.
respirou profundamente, olhando para os amigos ao seu lado que o incentivavam a se acalmar. Depois de longos segundos, ele relaxou.
– , não é uma boa ideia – avisou. – Ela está melhor e não vou arriscar jogar isso no lixo só para que você se sinta menos culpado.
– Eu não preciso que me defendam – surgiu pela porta, deixando todos tensos. Os rapazes se entreolharam e, por fim, decidiram entrar, uma vez que sabiam que era uma conversa apenas dos dois. Porém, na porta, eles hesitaram. – Eu cuido disso. – ela direcionou a eles um olhar profundo, fazendo-os entrar tão rápido que fez cogitar fugir também. Sua vontade de escapar aumentou quando os olhos profundos e furiosos de caíram sobre ele.
– ...
– Saia daqui! – sua voz firme como ele jamais havia escutado.
– Precisamos conversar – disse calmamente, esperando que sua calma a acalmasse. Mas isso não aconteceu.
– Não, não precisamos! – sentenciou. – Só me deixe em paz.
o deu as costas e ele estava disposto a impedi-la de ir embora novamente, quando surgiu na porta, guiando pelo ombro para dentro e dando fim à conversa de ambos.
Enquanto entrava, em nenhum momento ela direcionou o olhar para ele.
– Deixe – murmurou, interrompendo os prováveis protestos de .
Quando já estava dentro de casa e longe o suficiente para não ouvi-los, se aproximou dele.
– Eu preciso conversar com ela – suspirou, recebendo, surpreendentemente, um olhar sereno por parte de .
– Eu sei – ele murmurou, bagunçando os cabelos escuros. – Veja, eu poderia te odiar ou te dar um soco.
o fitou de forma neutra, no fundo ele não se importava de receber um soco, porque ele sabia que merecia e não recuaria diante disso, caso o amigo desejasse.
– Mas não vou fazer isso, porque imagino pelo o que está passando – ele suspirou. – Ela precisa de um tempo e você também. No próximo final de semana será o aniversário de e daremos uma festa.
– Eu não acho que serei bem-vindo.
– Desde quando você se importa? – debochou, sorrindo levemente. – Eu cuido deles. E dela.
– E por que você faria isso? – ele questionou, confuso. Ele deveria dar-lhe um soco e não ajudá-lo.
– Nunca a vi tão feliz nos últimos dias – olhou em direção à janela de . seguiu seu olhar e, mesmo a luz estando apagada, ele podia imaginá-la deitada, repassando os acontecimentos até pegar no sono e ele só desejou que ela se lembrasse dos bons momentos. – E nem você. – ele desceu os olhos para o amigo. – E eu estou cansado de te ignorar e de vê-la fingir estar bem.
sorriu, e em um momento de euforia e agradecimento, abraçou o amigo de surpresa. ergueu os braços, recusando-se a retribuir aquele abraço, que recebeu com uma careta.
– Ah, qual é, cara! – ele bufou, risonho. – Depois de apaixonado você se tornou uma bicha!
se afastou abruptamente. não notou a hesitação do amigo ao confirmar que ele estava apaixonado, por isso, apenas andou em direção a casa.
– Ah, ! – ele o despertou de seu transe. – Estou te ajudando, mas se você fizer outra merda, eu arranco suas bolas!
17 de Abril, 2015
– Abaixa o som – pediu discretamente para o DJ, enquanto passava o microfone para o amigo nervoso ao seu lado. – É sua chance, não estrague.
Essas palavras deixaram mais nervoso à medida que ele subia no pequeno palco improvisado nos fundos da Toca, exatamente onde o DJ que antes trabalhava, agora apenas observava. Incrivelmente, seu nervosismo nada tinha a ver com o fato de estar diante de mais de cem olhos curiosos ou pelo o que estava prestes a fazer. Ele estava exclusivamente e totalmente nervoso diante da reação da dona do único par de olhos que lhe importava naquela maldita festa. Quando chegou, ele optou por se manter distante de e, apesar da Toca não ser tão grande, ele conseguiu ficar longe dos olhos descontraídos da mulher, aproveitando da passividade de estar próximo a ela para observá-la. Durante longos minutos, olhando-a, desejou que seu largo sorriso e olhos brilhosos fossem para ele e não para suas amigas da faculdade.
Mas, agora, o sorriso havia sumido de seu rosto levemente pálido e estar diante dos olhos surpresos dela era apavorador.
Ele desejou ter aceitado a bebida oferecida por , um pouco mais cedo.
– Foi mal pela interrupção – limpou a garganta, tentando, inutilmente, se recompor dos olhos de . – Só vou tomar alguns minutos, mas logo vocês terão a música novamente para continuar a beber ou transar.
– Ou para xingar o idiota que interrompeu a festa! – alguém gritou. Todos riram, exceto por , que ainda parecia perplexa e , que estava ocupado demais tentando manter a cabeça no lugar.
– Isso também – ele gesticulou para o rapaz que tinha se manifestado, mais pessoas riram levemente. – Bem, eu não os culparia por isso. Porque, se eu estou aqui agora, em cima de um palco improvisado, atrapalhando a festa de – ele acenou levemente para o amigo, que apenas ergueu os polegares para cima, fazendo todos rirem novamente – é inteiramente minha culpa.
Ele respirou fundo, desviando seus olhos por um momento dos de , apenas para pensar melhor e organizar suas palavras. Era tão cansativo a forma como, apenas em olhá-lo, ela conseguia fazê-lo ser imprevisível e inconsequente. Mas, agora, ele não podia se dar o luxo.
– Meu nome é , curso Direito e quem me conhece sabe que eu... – suspirou, sorrindo sem humor. – Sabe que eu sou um completo idiota. Eu sempre penso, não apenas uma, mas várias vezes antes de fazer algo. Sempre tenho um segundo plano, um argumento em uma das mãos e sei exatamente o que fazer e falar.
– Já saí com um assim – uma garota gritou. – Um completo panaca! As pessoas riram, dessa vez, até mesmo , que apenas maneou a cabeça em concordância.
– Vai que foi você, ! – gritou do lado do palco, arrancando risadas dos jovens. ergueu o dedo do meio para o amigo e, então, se recompôs.
– Eu... – ele limpou a garganta, fazendo todos se silenciarem. – Há um mês, eu fiz algo que foi contra todos meus princípios, e achei que tinha cometido o maior erro da minha vida.
o fitava, congelada demais para fugir ou para subir no palco e confrontá-lo. Ela fora pega com a guarda baixa e levantá-la não era tão fácil quando estava a sua frente, depois de tudo, dizendo para mais de cem pessoas que havia errado. não era assim, ele não fazia coisas do tipo. Ele raramente confessava estar errado, pois ele sempre achava que estava certo. Mas agora ele estava fazendo isso, expondo seus defeitos para várias pessoas. E tudo isso por ela.
– E eu estava tão preocupado em não cometer mais erros, que acabei cometendo piores – ele apertou o punho, segurando o microfone firmemente enquanto, com um longo suspiro, direcionou seu olhar diretamente para , que ainda o fitava, pasma. – Eu fui um panaca, sim. Eu fui um completa idiota e vou entender se você me odiar, porque quando eu penso no que fiz, eu também me odeio. Mas eu me odiaria mais ainda se não subisse aqui, diante de centenas de pessoas, para pedir desculpas. Eu me odiaria se não dissesse que eu...
Ele puxou o ar, não desviando seus olhos por um momento. E, de repente, tudo se tornou claro.
– Se seus sentimentos são os mesmos de abril passado, então diga-me de uma vez. Minha afeição e meus desejos não mudaram, mas uma palavra irá me silenciar para sempre – ele a encarava, tão profundamente que a fez se sentir invadida e desnorteada ao ponto de demorar a compreender o que ele fazia. Ele recitava Orgulho e Preconceito. – Se, contudo, seus sentimentos tenham mudado, eu terei de dizer: você me enfeitiçou, corpo e alma, e eu amo, eu amo, eu amo você.
Todos pareciam surpresos e até podiam se escutar suspiros vindos de outras garotas, mas permanecia congelada.
– Eu não sou Mr. Darcy, não vivemos em um livro, mas essa é a nossa história, .
Todos os olhos caíram sobre ela e, embora ela estivesse com os olhos fixos em um esperançoso, sabia disso apenas pela ardência em sua pele. Especialmente em seu rosto que, gradativamente, ficava avermelhado. Seus olhos se encheram de lágrimas, deixando a imagem de turva, assim como tudo em sua volta. As paredes pareciam estar se fechando contra ela e o silêncio zumbia em seus ouvidos. Uma de suas amigas do campus, que estava ao seu lado, sussurrou algo, mas ela não compreendeu. E ela nem ao menos se importava, ela tremia e ter todos aqueles olhos sobre ela a fez querer vomitar.
Não apenas , mas todos pareciam esperançosos pela sua reação. Esperavam que ela se jogasse nos braços dele para que tivessem algo a comentar no campus durante a semana. Mas não foi o que ela fez. A última coisa que ela viu antes de fechar os olhos e correr para fora da casa foi o olhar machucado de .
Os saltos de batiam rítmica e pesadamente contra o chão. A cada passo, o barulho da música ficava cada vez mais distante. Infelizmente, havia outro par de passos atrás dela e ela só queria poder sair dali o mais rápido possível.
Uma mão agarrou fortemente seu braço, fazendo-a parar abruptamente e virando-a para que ela pudesse olhá-lo. As sobrancelhas de estavam franzidas, seus lábios contorcidos em uma expressão de dor que apenas aumentou quando empurrou sua mão para longe dela.
– Que porr... Porra! Você... – esbravejou, seus pensamentos confusos atropelando suas palavras, empurrando-o pelos ombros. Suas lágrimas agora caíam de seus olhos cansados.
– , por favor...
– Não! – ela interrompeu, sua respiração acelerada tanto quanto seu coração. Ela fungava, chorava, gritava e arfava. Seus pequenos punhos batendo contra o peito do rapaz em uma rápida crise de fúria. Ele manteve-se parado, disposto a receber quantos socos fossem necessários para vê-la mais calma. – Você não pode fazer isso comigo! Não de novo!
Duraram longos minutos até que os socos diminuíssem, fazendo com que o choro se tornasse abruptamente mais audível. tentou alcançar, pela primeira vez, as mãos dela, na esperança de tranquilizá-la. Mas antes que seu toque ansioso pudesse obter as mãos frias de , ela o empurrou em uma lufada de súbita firmeza.
– Você tomou sua decisão, , você não pode fazer isso comigo. fechou os olhos, podia claramente escutar a mágoa na voz de , e ele se afastaria, apenas para não magoá-la mais. Ele se afastaria se não estivesse disposto a arrumar a bagunça que tinha feito.
– Me deixe falar.
– Eu já deixei, e você escolheu o silêncio, lembra? – ela esfregou as mãos contra o rosto, tentando apagar as marcas das lágrimas.
Era impossível esquecer. Por mais que, durante o dia, ele se ocupasse o bastante para esquecer disso por alguns minutos, a noite sempre vinha com a promessa de torturá-lo. A fronha de seu travesseiro ainda tinha o cheiro dela, doce e suave, como se ela tivesse acabado de se levantar, mas ele sabia que, se olhasse pelo seu apartamento, não a acharia. E embora ela apenas dormisse lá esporadicamente, cada mobília guardava alguma memória, não permitindo que ele se esquecesse nem por um minuto.
– Aí estão vocês! – se aproximou, olhando cuidadosamente para o casal, como se eles fossem uma bomba prestes a explodir, e isto era uma ótima comparação para o momento.
– Mentiroso! – apontou para , que se encolheu, denunciando sua própria culpa. – Você disse que ele não viria!
– Você não me disse que ela sabia? – direcionou um olhar furioso para o amigo, que parecia se arrepender de ter se colocado entre os dois.
– Não, eu disse que eu cuidaria dela – ele corrigiu, erguendo os braços em sinal de rendição.
– Você é um idiota – bufou, pronta para ir embora.
prendeu a respiração ao vê-la virar-se, prestes a escapar de seus dedos exatamente da mesma forma que a última vez, sem nem ao menos poder fazê-la entender. Sem ao menos poder tentar se entender, também.
– Espera – pediu e ela parou abruptamente. não pôde deixar de sentir ciúme, pois ele sabia que se fosse ele a pedir que ela esperasse, ela ainda sim iria embora. – Eu só queria que vocês se resolvessem logo. Todos nós estamos cansados de ver vocês dois brigados.
olhava esperançoso para , e o seu cansaço era tão visível que achou, por um momento, que ela desistiria de fugir. Após um tempo, o silêncio foi cortado pelo suspiro da mulher.
– Eu vou embora – murmurou, ignorando a explicação de .
– Pra onde? Aqui é sua casa – ele replicou, acenando levemente para a casa de onde vinha a música.
Apesar da clara referência à Toca, os três sabiam que não era apenas sobre aquilo. A casa dela era com eles, não importa para onde ela fosse ou até mesmo se voltasse para a casa de seus pais, ela sabia que ali sempre seria seu lugar.
– E é o aniversário do .
se manteve em silêncio, sabendo que se falasse algo, poderia fazê-la ir embora. Como recompensa pelo seu esforço, ela suspirou novamente e acenou em resposta ao , que apenas olhou para os dois por um momento, antes de voltar para a casa, calmamente.
E de novo o silêncio se abateu entre eles. esfregou os braços em um claro sinal de frio, provavelmente pela noite ser fria e estar sem seu casaco. esperou pacientemente pela reação dela, esperando por algo que, no mínimo, permitisse que eles conversassem em paz. Mas isso não aconteceu.
– Só... – ela se engasgou, sua voz quebrando em um sussurro. – Só fique longe de mim.
Ela voltou para a casa sem olhar para trás.
– Eu acho melhor ir embora – suspirou.
As poucas pessoas que ainda estavam na Toca, saíam aos poucos. Ainda era manhã, provavelmente seus objetivos fossem ir para outra festa, mas o objetivo de era outro. Era manter-se longe de na esperança de que, se respeitasse seu pedido, ela permitiria uma conversa.
Mas isso não aconteceu e, cada segundo, parecia uma tortura. Os garotos estavam levemente altos, de uma forma que rir era tão normal quanto respirar. estava na cozinha com suas colegas, provavelmente bebendo algo para amenizar a pressão da situação e, reconhecia, era um péssimo momento para resolver as coisas.
Talvez ela precisasse de mais tempo.
E ele estava disposto a dá-la, estava apto a dar qualquer coisa que ela pedisse.
– Não me diga que desistiu – pediu, soltando um suspiro risonho, tentando erguer o saco cheio de latas de cerveja. Apenas um saco a menos de todo o lixo que ainda havia no fundo da Toca.
– Não, eu não desisti, eu só acho que hoje não é um bom dia – confessou, fechando a grande sacola preta em suas mãos. – As coisas não saíram como esperado.
– Então faça com que saiam – o amigo sorriu debilmente para e, apesar de alto, era um bom conselho.
Durante poucos minutos que pareceram durar muito mais, empilhou as sacolas, pensando no que fazer em seguida.
Ela, obviamente, queria espaço. E ele queria voltar para casa sem aquele sentimento fantasmagórico de que algo estava faltando. Suas vontades não se encaixavam, novamente. Estava cansado de toda aquela dificuldade imposta pelos dois.
Ele estava tão submerso em pensamentos que apenas notou o tumulto do outro lado do jardim quando correu desastrosamente até . O amigo dele estava curvado, a mão pressionada contra o peito e a respiração pesada. Os garotos o seguravam, falavam alto e discutiam, só tomou consciência do que acontecia quando se aproximou rapidamente.
– Ele está tendo um ataque de asma! – guinchou em direção ao , antes mesmo que ele perguntasse.
– Faz tanto tempo que ele não tem uma crise – olhou confuso para e , que trocaram olhares complacentes. caiu em seus joelhos, tentando puxar o ar violentamente.
– Onde está a bombinha dele? – pediu rapidamente, olhando preocupado para o amigo que agora era amparado por , que tentava acalmá-lo.
– Eu não sei... – gaguejou, olhando para em um claro pedido de ajuda.
– Na dispensa!
– Por que, diabos, a bombinha dele está na dispensa?
– , ele precisa da bombinha agora! – apressou, desesperadamente, quando começou a chiar barulhos estranhos. Em outras circunstâncias, teria sido mais observador. Mas ele estava desligado demais para notar o pequeno sorriso no rosto de antes de correr para dentro da Toca.
A dispensa era assim como o resto da casa, pequena, mas arrumada de uma forma que a fazia parecer maior. Ao abrir a porta, ele procurou rapidamente pelo interruptor, sendo uma tarefa mais difícil do que imaginava que seria e decepcionante quando ao, finalmente achá-la, perceber que ela não funcionava. O cômodo era pequeno, mas permitia que duas longas prateleiras ocupassem o espaço, tornando a procura de mais difícil, como se não bastasse não haver luz.
Felizmente, pela porta de madeira escapavam feixes de luz que vinham do corredor. passou rapidamente pelo corredor, suas mãos deslizando impacientemente sobre as prateleiras à procura de algo pequeno o suficiente para ser uma bombinha. Por que, diabos, os meninos guardavam aquilo ali?
A porta da dispensa se abriu e, mesmo sem se virar, pensou que seria um dos garotos com a intenção de ajudá-lo. Alguns segundos depois da porta bater, ele escutou o interruptor sendo ligado, inutilmente.
– Droga – alguém praguejou.
congelou.
Ele seria capaz de reconhecer aquela voz mesmo naquele cômodo ligeiramente escuro. Era . No mesmo cômodo que ele, quase podia apalpar o cheiro doce que já emanava de sua pele e, automaticamente, prendeu a respiração na esperança de fugir do torpor.
– Quem está aí? – questionou, aproximando-se e fazendo-o soltar a respiração copiosamente.
– Sou eu – respondeu, hesitante pela reação da mulher. Ela parou e, embora estivesse escuro por estarem mais distantes da porta, ele sabia que o rosto dela estava vermelho. Sabia disso pelo resquício de raiva ainda em sua voz, sabia disso, pois quando ela estava chateada, seu rosto enrubescia e isso o afetava. Mesmo quando não a enxergava.
– O que você está fazendo aqui?
suspirou, compreendendo toda a situação. É óbvio que aquilo era armação.
– Deixa eu adivinhar. Bombinha?
– Droga! – bufou e levou aquilo como um sim.
Antes que tentassem entender o plano dos amigos, o barulho da fechadura ecoou pelo pequeno cômodo e, mesmo que soubessem o que aquilo significava, foram rapidamente até a porta na intuição vaga de abri-la.
Eles estavam trancados e os garotos riam do lado de fora.
– Filhos da puta! – berrou, insistindo na maçaneta. Agora, tendo o rosto dela mais visível pelos pequenos feixes de luz, ele contemplou o que imaginou. Maçãs do rosto avermelhadas, olhos inchados e o rosto pálido. Enquanto ela lutava, inutilmente, para abrir a porta, uma mecha de cabelo caiu sobre seu rosto. desejou poder esticar sua mão apenas alguns centímetros, apenas o suficiente para afastar os fios rebeldes e desfrutar novamente da textura de sua pele. Mas ele sabia que seu toque não seria recebido como algo agradável, então fechou os punhos, afastando esses pensamentos. – Abram essa porta, porra!
poderia agradecê-los por aproximá-lo de . Era, provavelmente, a melhor oportunidade que ele teria para fazê-la escutar o que ele tinha para dizer. Mas aquilo era errado, e ele enxergou isso quando viu o pânico no rosto de , como se ela estivesse presa com algum monstro. Desviou o olhar para a porta, repreendendo a si mesmo por se permitir sentir mágoa.
– Vocês precisam nos deixar sair – ele pediu aos garotos, sua voz firme não transparecendo nada além da calma.
– Não abriremos até que vocês digam um para o outro o que sentem! – anunciou sobre as risadas dos outros rapazes.
Eles teriam se olhado, talvez até encontrado nos olhos do outro que os rapazes estavam certos. Mas eles não o fizeram por mágoa e medo. Então, simultaneamente e despretensiosamente, ambos abaixaram o olhar.
– , você é um gênio! – gargalhou para o amigo.
– Isso tem que acabar – justificou, sorrindo orgulhoso para si mesmo enquanto trocava um high five com .
suspirou, sentando-se no chão ao concluir que a porta não seria aberta tão cedo. , pelo contrário, parecia disposta a quebrá-la a qualquer momento, mesmo sendo fisicamente e emocionalmente incapaz de partir uma madeira daquela ao meio.
– Vocês precisam de algo? – a voz de caçoou alta. – Água, comida, livros, uma camisinha?
O punho de se chocou contra a porta, fazendo , com o rosto levemente avermelhado, pular diante do barulho.
– Vá para o inferno!
– Isso é um sim? – indagou, falsamente confuso.
– Eu odeio vocês – ela retrucou, fazendo-os rir mais alto.
– Eu odeio o dia em que conheci vocês – murmurou mais para si mesmo do que para eles.
Inicialmente, parecia uma boa ideia, mas agora ele só queria fugir das palavras cortantes de . E ele odiava saber que estava preso a ela e odiava mais ainda saber que não era apenas aquela porta que os prendiam um ao outro.
– Isso é para ser, supostamente, sobre o que vocês sentem um pelo outro, não por nós – interviu.
– Quando eu sair daqui, diga adeus aos seus quadrinhos – guinchou para o amigo.
– Vocês complicam tanto! – exasperou do outro lado da porta. – Só digam o que sentem um pelo outro e deixaremos vocês irem.
Seria um ótimo acordo, se colocar o pedido em prática não fosse tão difícil. segurou firmemente a porta, encostando sua testa contra a madeira fria enquanto desejava poder sumir dali. Ela podia sentir os olhos quentes de sobre ela, sua respiração contra sua pele e seu toque, embora nada daquilo estivesse realmente acontecendo. Desejou arduamente que a porta fosse destrancada e ela pudesse fugir para o mais longe do rapaz sentado ao lado.
– Tudo bem – interrompeu o silêncio. – Voltamos depois para ver como vocês estão.
– Espera! – despertou, tentando chamar a atenção deles, embora eles fingissem não escutá-la. – Desgraçados.
Os rapazes já haviam ido, sobre risadas e, ao longe, jurou escutá-los falar sobre videogame.
– Merda – ele sussurrou. – Eles não vão voltar.
arfou, furiosa ao ouvir o que tinha dito. Ainda sem olhá-lo ou direcioná-lo a palavra, ela se apoiou contra a porta, se negando a sentar e se dar por vencida. Longos minutos de silêncio se passaram, tão longos que já eram incontáveis. Aquilo era uma tortura para , que estava tão inquieto no chão a fitá-la. Demorou um tempo razoável para que ele juntasse a coragem necessária para desfazer aquele silêncio, ainda incerto se era a escolha certa.
– Foi proposital – murmurou, sua voz rouca fazendo tremer contra a porta.
Ela estava disposta a lhe dar um tratamento de silêncio, de apenas fechar os olhos e fingir que ele não estava ali. Mas sua curiosidade era maior que seu orgulho.
– O que foi proposital? – fingiu indiferença.
– Ter ficado bêbado naquela festa – esclareceu, recebendo um olhar pasmo da mulher. A primeira vez que ela o olhava diretamente desde que ela saíra de seu apartamento e isso foi o suficiente para fazê-lo seguir em frente. – Você sabe que não sou do tipo que bebe muito, .
– Por quê? – ela perguntou simplesmente, a voz saindo afetada, largando a porta para se virar totalmente em direção ao rapaz, sentado agora à sua frente.
Ele sorriu, infeliz. Ela realmente não tinha noção do quanto o desconcertava.
– Porque foi a única forma que encontrei de parar de pensar tanto.
– O quê? – o rosto da mulher ficou, subitamente, avermelhado. Suas sobrancelhas franzidas e lábios apertados em uma linha tênue deixavam claro sua súbita raiva. – Você transou comigo de propósito!
a fitou, surpreso pela dedução que ela havia tomado. Seu silêncio, todavia, apenas aumentou a fúria nela.
– Como pôde?
– Eu não pude! – ele esbravejou, olhando-a firmemente. – Quando fui contra minha própria ética e enchi a cara, minha intenção não era te levar pra cama, droga!
se calou, embora sua cabeça estivesse cheias de perguntas. Ela respirava com dificuldade, seu sangue, aos poucos, voltando a circular pelo seu corpo normalmente. Quando ambos estavam mais calmos, prosseguiu:
– Eu queria que você me visse como vejo você e eu não conseguiria fazer isso sóbrio. Era para ser apenas uma conversa, mas quando acordei na manhã seguinte com seus berros...
suspirou, dando-se por vencida e sentando-se no chão, seu tornozelo em um contato suave com o tornozelo de . Eles estavam um de frente para o outro e eles sentiam aquilo, não apenas fisicamente. Ambos se fitavam, embora a falta de luz não os permitisse uma visão clara do rosto do outro.
– Você se arrependeu – ela concluiu, sentindo o peso de suas palavras sobre o ar, que eles respiravam tão ruidosamente.
– Como posso me arrepender pela melhor noite da minha vida? – ele sorriu fraco. – Meu único arrependimento daquele dia foi estar bêbado demais para me lembrar dos detalhes.
O rosto de enrubesceu fortemente, fazendo-a conter a vontade de esconder o rosto, usando a falta de luz como consolo. Mas, graças aos pequenos feixes de luz que entravam pela porta, contemplou a vermelhidão presente no rosto dela.
– Então por que você me disse que foi um erro? Por que pediu que eu esquecesse? – a confusão e dor claras na voz dela sendo o suficiente para fazê-lo abaixar o olhar.
– Eu estava confuso e... – ele prendeu a respiração diante da imagem que surgiu em sua mente. – Quando eu olhei para você naquela manhã, você parecia tão apavorada...
– Porque eu estava! – ela o interrompeu. – Eu havia acordado ao lado de um dos meus melhores amigos, como você esperava que eu reagisse?
– Eu não sei. Eu só sei que olhei para você e desejei que você esquecesse. Eu achei que seria melhor se achássemos que foi apenas um erro.
– Mas não foi melhor! – ela contestou, tentando chamar a atenção dos olhos, ainda baixos, do rapaz. – Não foi o melhor.
– Eu soube disso quando vi que estava te perdendo – ele murmurou em resposta, seus olhos ainda direcionados ao chão afligiam a mulher, que desejou pelos profundos olhos azuis de . – Uma semana sem você pareceu uma eternidade.
– Não foi uma semana – murmurou, fazendo-o revirar os olhos. – Eu estava fugindo de você – ela confessou, envergonhada ao se lembrar de todas as mudanças de hábitos que havia feito apenas para evitar encontrá-lo. Sua confissão a fez ganhar os olhos azuis de como recompensa. Um sorriso singelo e levemente bem humorado estava em seus lábios, ela estaria disposta a confidenciar mais confissões como aquela em troca de mais sorrisos como aquele.
– Eu sabia, por isso fui atrás de você – a lembrança de engatinhando entre as estantes da biblioteca a fez ficar mais vermelha, o que passou imperceptível pelos olhos abruptamente desatentos de . – Era para ser apenas uma conversa, resolveríamos tudo e decidiríamos o que fazer, mas de novo meus planos foram estragados.
– O que deu de errado? – ela questionou, curiosa para entender o que o fez mudar de ideia.
– Você. Você foi o que deu de errado.
engasgou com o ar, fitando-o incrédula.
– Eu?
– Durante aquela semana eu não consegui parar de pensar em você por um minuto sequer, eu tentei de todas as maneiras entender o porquê, mas quando te vi no batente da minha porta, me encarando com aquele olhar ansioso, de repente entendi – ele sorriu torto. – Eu já tinha experimentado o sentimento que era te ter, eu agi como um viciado estúpido. Eu não deveria ter feito aquela proposta.
– Eu aceitei – lembrou, calmamente, fazendo o sorriso no rosto de aumentar por um momento.
– E isso me surpreendeu mais do que se você tivesse me dado um tapa. apertou os dedos contra seu colo. O clima estava menos tenso e ambos podiam até sorrir diante das próprias lembranças, embora nem todas lhe agradassem em todas as perspectivas, mas agora ele havia chegado ao limite. Sabia que a partir dali, sua narração não receberia uma boa reação de , porque era dali em diante que tudo havia saído dos trilhos. Aquela era a parte da história que ambos se machucavam e o pior de tudo, que ele a machucava.
O sorriso no rosto de já não estava mais presente, tornando o ar subitamente difícil de se respirar, pelo menos para .
– Eu, mais que ninguém, deveria saber que as coisas não terminariam bem. Eu deveria saber – ele murmurou para si mesmo, mas o ambiente silencioso permitiu que o escutasse. – me avisou, mas eu queria tanto que desse certo, que só notei que havíamos pegado o caminho errado quando já estávamos no final dele.
– Como? – ela murmurou, uma resposta tão vaga, que qualquer resposta concreta lhe satisfaria.
– Era para ser apenas sobre sexo, . É disso que se trata amizade com benefícios – ele disse suavemente, seu rosto avermelhado, todavia, denunciando seu nervosismo. – Eu não deveria te querer cada vez mais, não deveria perder as rédeas da situação muito menos... – seus olhares se encontraram, a hesitação se dissipando ao ver a ansiedade no olhar dela. A mesma ansiedade que preenchiam os olhos de quando ele abriu a porta de seu apartamento. De repente, ele sentia alívio ao dizer: – Me apaixonar mais ainda por você.
Então como um flash de luz, se lembrou de quando ele havia dito que amava no auge do torpor que compartilhavam. Lembrou-se de tudo o que ele tinha dito no dia seguinte e da palavra “acabou” escapando dos lábios dele como uma sentença, como algo sem volta. E agora ali estava ele, dizendo pela segunda vez na mesma noite o que sentia por ela. Ouvir que ele a amava era tão bom, que ele queria poder gravar para poder escutar mais vezes. Mas a dor de ouvi-lo chamar a confissão de seus sentimentos por ela “um erro” era uma dor maior que qualquer felicidade que poderia lhe causar.
– E amanhã? Você dirá que hoje foi mais um erro? Que você estava bêbado ou fora de controle? – ela arqueou as sobrancelhas, fitando-o com uma mágoa tão afiada quanto uma faca.
– Não – ele disse calmamente, tentando não se afetar com as palavras de . – Eu não planejei estar trancado em uma dispensa com você, tentando nos fazer entender o que aconteceu ou a convencendo sobre meus sentimentos, mas aqui estou eu. Improvisando como ando fazendo desde que você tirou o controle da minha vida das minhas mãos, e eu me arrependo de muitas coisas que calculei, mas não me arrependo desse agora improvisado.
Os olhos de estavam marejados e ela agradeceu por seu rosto estar longe da visão de mas, como se a ouvisse, ele se aproximou vagarosamente e, quando perto o suficiente para visualizar as lágrimas no rosto de , suspirou. Um longo e profundo suspiro. Sua mão entrou em contato com a pele quente dela, tão natural quanto poderia ser e, então, limpou suas lágrimas. Durante um curto tempo, ambos aproveitaram do toque com saudades. Quando abriu os olhos novamente, ela pôde contemplar o rosto de . Os dois dividiam o mesmo feixe de luz.
– Você disse que me amava – murmurou, e ela não precisou explicar para que ele entendesse que ela se referia à noite da festa de Will. – Se é verdade, por que me afastou?
Aquela pergunta seria feita uma hora ou outra e sempre soube disso. Desde que as três palavras escaparam de sua boca, ele sabia que seria amaldiçoado por elas. Sabia que teria de travar uma batalha consigo mesmo quando a pergunta fosse feita, mas nunca pensou que seria dentro de uma dispensa.
Ele fechou os olhos e arfou antes de abri-los novamente para responder.
– Eu entrei em pânico! – confessou, fitando-a incessantemente. – Te amar é uma montanha russa, eu nunca sei o que vai acontecer e minha vida não é assim, . Você fez uma tremenda bagunça e eu tentei arrumar, mas depois do que aconteceu, eu notei que aquela bagunça faria parte de mim dali em diante, eu não tinha mais controle sobre nada.
Dizer aquilo em voz alta parecia soar como inúmeros palavrões. E lembrar-se de que, em seu último momento de controle – ou perda dele – ele havia a afastado, tornava tudo pior.
– Eu tentei te expulsar da minha vida. O que não havia notado ainda era que você é a minha vida. Sempre foi, desde o momento em que coloquei meus olhos sobre você.
sorriu, sentindo o aperto em seu peito se dissipar. Estavam próximos o suficiente para que um pudesse escutar e sentir a respiração do outro e, por alguns minutos, esse foi o único som audível. arqueou quando, para sua surpresa, os pequenos e gélidos dedos de alcançaram seu rosto. Um toque hesitante, mas reconfortante, tão bom que ele não pôde conter o peso que o obrigava a fechar os olhos, apenas para usufruir da eletricidade que saía do contato com a mulher. Suas pernas dobradas possibilitavam uma melhor aproximação, mas era o toque que compartilhavam que os unia naquele momento. Os dedos de contra o rosto relaxado de e os dedos dele faziam desenhos aleatórios nas fartas coxas de . Não era algo carnal, mas foi provavelmente o momento mais intenso que dividiram entre si. E estava tão submerso no próprio torpor, que quando os lábios doces de moldaram os seus, ele tremeu. Não esperava por aquilo e, ainda hesitante em machucá-la, ele permaneceu segurando suavemente a cintura da garota enquanto ela o tirava da abstinência. Não havia luxúria alguma naquele beijo, apenas um contato suave e significativo.
Quando se afastou, ela contemplou a vermelhidão no rosto do rapaz, que apenas sorriu debilmente para ela.
– Perder o controle, às vezes, é bom – murmurou, sorrindo com humor.
– Acho que posso me acostumar com isso – ele confidenciou, unindo suas testas, fazendo a maior proximidade permitir que sentissem cada respiração ou suspiro. E, naquele momento, os corações de ambos batiam no mesmo ritmo acelerado.
– Então me deixe ver se entendi – ela puxou o ar, sorrindo de forma feliz. – Isso tudo aconteceu apenas por que você era apaixonado por mim e não tinha coragem de me dizer?
O rubro intensificou-se nas bochechas do rapaz, fazendo-a rir.
– Sim.
– Você poderia ter apenas me convidado para tomar um café.
afastou-se, fazendo uma careta. Então, ambos riram até que o fôlego sumisse de seus pulmões. Uma risada que compartilhava o alívio e a descontração de tudo ter, finalmente, dado certo. Ambos haviam aberto mão de coisas importantes, como o orgulho para , ou o controle para , mas eles nunca se sentiram tão felizes estando completamente sem orgulho e sem controle.
– É um bom conselho, talvez eu use na próxima vez.
arqueou as sobrancelhas, deixando claro seu descontentamento ao comentário de , que sorriu ao tomar as mãos da mulher para beijá-las.
– Você gostaria de tomar um café comigo?
– Hum – ela fingiu pensar, ignorando a ardência no rosto e, sobre o olhar crítico do rapaz, deu-se por vencida com uma risada descontrolada. – Eu amaria.
Um sorriso largo apossou-se do rosto de e, ainda com os lábios próximos às mãos dela, ele soprou seus dedos finos com a intenção de esquentá-los. observou a forma como o rosto do rapaz ainda estava avermelhado, e pensar que sua presença ainda o deixava daquela forma, a fez sorrir para si mesma.
– Prometa que amanhã eu não serei um erro – ela pediu, sua voz insegura fazendo-o erguer os olhos para o rosto da mulher. Os lábios quentes e macios de ainda estavam contra sua mão, seu hálito quente esquentando a pele de seus dedos quando ele sorriu largamente, achando graça do medo de . Ele nunca mais a deixaria e, se ela fosse realmente um erro, ele estaria fardado a cometê-lo pelo resto de sua vida.
– Prometo, por todos os meus amanhãs.
O corpo de tremeu quando os primeiros berros de , em pleno sábado por volta das 6h da manhã, atingiram seus tímpanos.
– Meu Deus, mulher, qual é o seu problema? – ele resmungou, ainda deitado e com os olhos levemente cerrados pelo sono. Ele observou de soslaio a atônita mulher sentada, agarrando o lençol sobre o corpo nu como se a protegesse do rapaz. Ele quis rir, mas ela só surtaria mais ainda, então ele apenas enterrou o rosto no travesseiro.
– O que você está fazendo na minha cama? – gritou.
O rapaz não se conteve, sua risada foi abafada pelo travesseiro.
– É a minha cama, amor.
Pela primeira vez, a garota olhou ao redor. Ela já havia estado ali antes, tantas vezes que já reconhecia cada canto do cômodo. Mas ela nunca havia dormido ali, muito menos nua na mesma cama que ele.
– E o que eu estou fazendo no seu quarto? – ela queria parar, mas não podia conter sua voz que teimava em gritar.
O rapaz não respondeu.
– ! – gritou, sentindo o pânico tomar conta de seu corpo. Sem nem ao menos olhá-la, ele sabia que a expressão dela era de confusão. Os olhos marejados, o corpo trêmulo e a boca levemente aberta buscando por ar o fez conter sua vontade de encará-la. Ele sabia que se o fizesse, sentiria culpa.
– Meu Deus, isso não pode estar acontecendo – ela, pela primeira vez, sussurrou, tropeçando em seu próprio corpo enquanto saía da cama. – Não, não, não...
colocou-se de pé na frente dos olhos, agora atentos, de . Um lençol fino e branco cobria as curvas da mulher, embora aquilo não fosse necessário, uma vez que ele já havia mapeado cada milímetro da pele dela. Mas ela não precisava saber disso.
– , por favor – pediu, ao vê-lo fechar os olhos e respirar profundamente. – Me diz que o que eu estou pensando não aconteceu.
– Eu não sei o que você está pensando, amor, eu não leio mentes – ele brincou, embora não sorrisse, com a única intenção de diminuir a vermelhidão em seu rosto causado pelo nervosismo da situação.
– ! – suplicou.
– Não aconteceu.
Ela pensou que, se ouvisse essas palavras saindo da boca dele, diminuiria o aperto em seu peito, mas isso só piorou. O que ela estava pensando? Não importava quantas vezes ela pedisse para ele mentir, ela sabia tanto quanto ele que havia acontecido algo.
– Não ajudou – praguejou, sua voz aumentando algumas oitavas. – Porra, nós transamos!
– Sim, sim – disse, deitando-se de barriga para cima para ter uma melhor visão de . – O prédio todo não precisa saber sobre nossa noite.
– Como você pode achar graça, seu filho da puta? – a mulher acusou. pousou seus olhos sobre o rosto dela, constatando tudo que ele não desejava ver. Ele respirou fundo e, então, olhou para o teto. viu aquele ato como uma demonstração de indiferença, embora ele, definitivamente, não estivesse indiferente.
– Se você pretende continuar com o surto, é melhor eu providenciar um café – ele afastou o lençol que cobria seu corpo, levantando-se.
– ! – berrou, cobrindo os olhos com uma mão enquanto a outra ainda agarrava o lençol sobre o próprio corpo.
– O quê? – fingiu inocência. – Ontem você fez muito mais que olhar.
– Pelo amor de Deus! – grunhiu, contendo a curiosidade em abaixar a mão.
– Tudo bem! Tudo pra você parar de gritar – ele resmungou, fazendo-a abrir os olhos. Ela observou ele andar despreocupadamente até a porta. Embora estivesse de cueca, ela não pôde conter os olhos que insistiam em passear pelo corpo definido. Pensar que ela havia aproveitado daquilo e mal se lembrava a fazia querer se socar – se por fazer ou por não lembrar, ela não sabia.
tomou um banho, não porque se sentia suja, mas apenas para evitar a conversa que estava por vir. Ela tentou lembrar-se de detalhes sórdidos, mas apenas se lembrava de estar na festa dada pelo , e de beber. Mas o fato dela não se lembrar dos detalhes não queria dizer que ela não sentia a queimação que as digitais de deixaram em seu corpo. Ou o fato de se sentir mais leve, de se sentir completa. E todos esses sentimentos só pioravam sua situação, porque ela não deveria se sentir assim. Porra, ela havia amado a noite de ontem! E ela nem ao menos se lembrava dela.
Depois de vestir sua calça que havia achado no chão do quarto e uma camisa de , ela desceu as escadas. Cada passo como se estivesse andando no corredor da morte. O rapaz estava na cozinha, tomando seu café. Ela tentou não secar o corpo dele, mas era extremamente difícil, uma vez que ele permanecia apenas de cueca.
– É minha camisa? – ele apontou para a mulher que apenas acenou, receosa. Ele sorriu torto, guardando aquela imagem em sua mente sobre sete chaves, junto às imagens do corpo mapeado de e outras pequenas provas que ela havia deixado ao longo dos anos em seu apartamento, sem saber.
– Sobre ontem...
Ela esperou que ele discutisse com ela sobre como levariam aquilo adiante, ela queria que houvesse uma discussão, embora sentisse medo, mas, ao invés disso, ele foi prático e abaixou todas as muralhas que havia criado enquanto enrolava no banho.
– Somos melhores amigos e estávamos bêbados. – disse, calmamente. – A noite de ontem foi um erro.
Aquilo atingiu como um soco. Ela nem ao menos sabia o que sentir diante do que aconteceu, muito menos diante da reação de , então tudo o que ela fez foi responder:
– Tudo bem, eu... – puxou o ar, tropeçando em suas próprias palavras. – Eu preciso ir.
acenou, novamente indiferente. Ele observou o café, enquanto a porta da frente batia e tudo que ele fez foi xingar-se.
Babaca!
9 de Março, 2015.
cursava o terceiro ano de psicologia, ela morava em uma cidade distante da universidade e, para facilitar seu dia a dia, resolveu dividir um lugar com outros alunos. O que ela não esperava era que fosse com mais quatro homens. Em outras circunstâncias, seus pais não permitiriam, mas ela havia crescido com seus dois irmãos mais velhos e a casa era realmente perto da universidade, apenas cerca de dez minutos a pé. Isso fora no primeiro ano e o que ela não esperava era que fosse desenvolver uma amizade tão forte com quatro rapazes que insistiam em chamar a casa de “Toca”.
E havia , que já era amigo dos outros quatro antes mesmo de se alojar na cidade. Ele tinha grana o suficiente para pagar seu próprio apartamento, obviamente, porque seus pais eram nada menos que advogados renomados. Talvez fosse por isso que ele cursava advocacia. Então, tendo amigos em comum e estudando na mesma universidade, era de se esperar que ela não conseguiria fugir de mesmo que quisesse.
E ela quis, mas não adiantou muito, pois na segunda-feira seguinte após o ocorrido que ela se esforçava a esquecer, o homem já caminhava sorridente em sua direção. A metade feminina do campus todo olhava para ele e não podia culpá-las, nem ela conseguia desviar o olhar do sorriso largo que pertencia ao seu melhor amigo.
– Encheram a cara ontem, não é? – perguntou, referindo-se aos outros meninos. Ele os conhecia muito bem para saber que, se não estavam com , estavam em casa sofrendo os males da ressaca. Ao se aproximar, ele passou o braço sobre os ombros da amiga. Não era a primeira vez que ele fazia isso, mas, pela primeira vez, sentiu uma diferença no ato.
– Não sei como acreditei que eles viriam – bufou, fazendo o rapaz rir.
– Eles precisam ter umas aulinhas comigo – ele brincou, sorrindo timidamente para algumas pessoas que passavam por ele, cumprimentando-o. era tímido, um fato constantemente esquecido por , uma vez que era muito brincalhão quando estava com os garotos ou até mesmo com ela. – Vem, eu te acompanho até lá. engasgou, tentando disfarçar sua surpresa e pavor com uma risada nervosa.
– Por quê?
Ele sorriu torto enquanto a guiava pela calçada, afastando-se do campus.
– Por que não?
Manter uma conversa nunca fora tão difícil antes, admirava o esforço de em manter o assunto. À medida que seus passos aumentavam, menos ela prestava atenção no que ele realmente dizia. Ela só conseguia pensar na noite que havia perdido e em como queria poder ao menos se lembrar dela. Seus olhos desceram pelo corpo do rapaz, tentando imaginar tudo o que havia visto e feito. O olhar não passou despercebido.
– Pare de me olhar assim – ele pediu, timidamente risonho. piscou, reprendendo a si mesma por não notar que encarava o amigo.
– Assim como?
– Como se estivesse me imaginando pelado.
– Cala a boca, ! – esbravejou, seu rosto ardendo em labaredas.
– Espera, você estava me imaginando pelado, não estava? – ele gargalhou, fazendo-a ficar mais envergonhada.
– Claro que não, seu idiota! – bateu seu ombro contra o rapaz, tirando os olhos atentos de seu rosto que parecia arder mais a cada minuto.
Ele ainda ria quando eles finalmente chegaram à Toca. Era uma casa pequena, apenas uma fachada simples, quartos o suficiente e um quintal atrás, de onde vinham as risadas escandalosas de e os gritos histéricos de , e .
riu de antecipação, caminhando ao lado de até os fundos da Toca. Era um espaço razoavelmente grande, onde havia uma churrasqueira raramente usada, algumas cadeiras, uma pequena quadra para jogar basquete e uma mesa de ping pong que estava sendo usada por e .
Antes que fossem notados pelos amigos, segurou no ombro de , impedindo-o de ir até eles. Os olhos azuis a perfuraram de surpresa e, por um segundo, ela se arrependeu por olhar diretamente para eles.
– O que foi? – ele franziu as sobrancelhas, levemente preocupado e curioso pela forma que a mulher lhe fitava.
– Você... – sua voz tremeu. – Você contou para alguém?
a fitou, sua expressão suavizando e um sorriso divertido pintando seus lábios. Era cômico e amargo o fato de que a maior das preocupações da amiga fosse a discrição.
– Não, por quê?
– Nada, apenas curiosidade.
– Isso foi apenas um erro, , não precisamos falar sobre isso – ele disse, embora não soubesse se para ela ou para si mesmo.
Ele se lembrava daquela noite toda vez que deitava na cama e repetia para si mesmo que havia sido um erro, com a esperança de que se tornasse verdade em sua cabeça, que insistia em ver aquela noite como algo bom.
Mas não era bom, ele soube disso assim que olhou para o rosto apavorado de naquela manhã, quando ela acordou ao seu lado. Então, toda a felicidade se apagou, deixando-o com o pensamento que o assombrava daquele dia em diante. Foi apenas um erro.
– Eu sei.
10 de Março, 2015.
– ! Passa pra mim! – gritava, pulando em volta de e , que riam.
estava livre, porém, optou por lançar a bola em direção ao - que estava próximo demais de , que tomou a bola de suas mãos, marcando mais uma cesta.
– Eu pedi pra passar pra mim!
– Você tem mãos tortas.
– Claro que não!
– Na verdade, – interviu. – Você tem mãos tortas, sim.
– É, cara, seus dedos não são normais – concordou.
– Mas eu não estava marcado! – ele retorquiu, marcando um ponto na discussão. bagunçou os cabelos dos amigos, recebendo xingamentos em troca.
Ele caminhou até , enquanto batia a bola de basquete contra o chão. A garota tentou se focar no barulho que o ato provocava ou até mesmo na discussão dos outros rapazes sobre quem havia entregado o jogo. Tudo para evitar os olhos de , pois ela estava disposta a tentar agir normalmente, mas sabia que se o olhasse diretamente, não conseguiria.
– Quanto?
– 36 cestas! – ela disse alto o suficiente para que os meninos vaiassem. e riram. Por um momento ela se sentiu segura em agir, sem receios.
– Quer assistir um filme hoje?
Não seria a primeira vez, afinal, ela havia perdido as contas de quantas vezes eles haviam saído para o cinema. Era apenas mais um programa entre amigos, talvez as coisas voltassem ao normal se eles agissem como agiam antes.
– Não posso, tenho um encontro.
conhecia o suficiente para saber que seus encontros não eram convencionais, não eram como ir ao cinema, tomar um café ou jantar. Ela sabia que o único objetivo dele era transar e constatar isso, incrivelmente, a deixou mais cabisbaixa do que se ele fosse para um encontro de verdade.
– Ah – ela sorriu, tentando conter a frustração em sua voz. – Tudo bem. Não adiantou, pois notou o sorriso amarelo no rosto da garota. Ele odiava aquele sorriso, pois sabia que ele só aparecia quando ela estava chateada com algo. O fato era que olhá-la já era difícil o suficiente, ele precisava ocupar sua mente com uma pessoa que ele pudesse tocar sem receios. Ele precisava tirar de seus pensamentos e ele sabia que isso dependia do encontro que ele teria hoje, então, teria que esperar.
– Ouvi dizer que o Will vai dar uma festa amanhã na casa dele – mudou de assunto, fitando despreocupadamente suas mãos que ainda batiam a bola contra o chão. – Você vai?
– Sim! – sorriu. Embora ela não falasse muito com Will, um veterano que cursava engenharia, ela conhecia algumas amigas dele e, por fim, acabou sendo convidada. – Falam que as festas dele são incríveis, eu estou animada!
– Apenas tenha certeza de que não vai beber demais dessa vez, ok? O sorriso de murchou, ela ergueu as sobrancelhas para o amigo, embora ele estivesse ocupado demais brincando com a bola de basquete para notar o olhar confuso da amiga.
– Por que não?
Ele ergueu a cabeça, sua feição descontraída não condizendo com suas palavras.
– Assim não vamos acabar cometendo o mesmo erro da última festa. Antes que pudesse respondê-lo e, provavelmente iniciar uma briga, uma bola de ping pong atingiu a nuca de , fazendo os outros meninos gargalharem.
– Você pode até ser bom no basquete, mas queremos ver no ping pong! – desafiou.
– Preparem-se para perder! – gritou, correndo entre risadas até a mesa.
– , marque a derrota desse perdedor! – pediu e a garota riu, acenando.
Embora risse das palhaçadas, sua mente repetia frequentemente as palavras de e tudo que ela mais queria era cometer o mesmo erro da última festa. Ela não sabia, mas ele também queria.
15 de Março, 2015.
acordou tarde, ela sabia disso apenas por constatar que os garotos estavam acordados também. Não seria surpresa nenhuma, se não fosse um domingo.
Todos estavam na sala de jantar, embora ainda comessem o café da manhã. Alguns mais acordados que outros, que dormiam praticamente sobre as tigelas de cereais.
– Bom dia, porquinhos! – cumprimentou, bocejando.
– Bom dia, mãe ursa – sorriu.
– Por que você está arrumada? Vai pra onde? – observou.
– Ah, eu vou pra...
se calou no momento em que saiu da cozinha, entrando diretamente na sala. Ele sorriu, parecendo satisfeito pela reação dela e, então, cruzou os braços. Ela sabia que ele viria, afinal, era domingo e este era o motivo pelo qual ela fugiria para o parque da cidade, enquanto ele estivesse na Toca. Mas ela não esperava que ele chegasse a tempo de encontrá-la, ele nunca chegava tão cedo.
– ?
– Eu não tenho te visto há quase uma semana – ele ergueu as sobrancelhas, deixando-a sem graça por estarem tendo aquela conversa na frente dos outros rapazes que, de repente, pareciam tão acordados. Na terça-feira, notou que não daria certo. havia a chamado para a festa de Will, um estudante de engenharia que morava no mesmo condomínio que . Ela aceitou, mas não foi para a festa.
Ela já não almoçava mais com os garotos, sempre corria para ir embora do campus antes de todos e não atendia as ligações. Tudo isso para evitar . E esses dias haviam se passado em uma lentidão tão grande, que ela estava surpresa em descobrir que fora apenas uma semana e não um mês.
– Eu estive ocupada – fugindo dele, ela poderia completar.
– Você está me evitando, ?
– Não – mentiu, embora sua voz trêmula a denunciasse. – Por que estaria?
Ela se xingou mentalmente. Os meninos fitavam os dois, escutando atentamente cada palavra, e pedir que dissesse o porquê da briga não era algo muito inteligente no momento.
– Você me diz.
suspirou de alívio, embora não se sentisse totalmente livre, uma vez que os olhos de ainda estavam sobre ela.
– Vai me dizer por que está agindo estranho?
– Eu não tenho o que dizer, porque não estou estranha, eu só estou estudando muito.
Sua voz era firme e, se repetisse mais algumas vezes, ela poderia até acreditar naquilo. Mas, infelizmente, não acreditou.
– Você vai precisar de uma desculpa melhor – ele avisou, seu rosto neutro a fazendo se encolher.
– Olha, eu to atrasada, se você não acredita, o problema é seu.
franziu as sobrancelhas, seu rosto demonstrando os primeiros sinais de irritação e frustração.
– Espera! – despertou, finalmente piscando, uma vez que a discussão havia, supostamente, acabado. – Para onde você vai?
– Estudar.
– Hoje é domingo – lembrou e a garota o fuzilou, embora ele não soubesse que estava ferrando com o plano dela.
– Vou estudar na casa da Chloe!
E antes que mais alguém dissesse o que não devia, saiu rapidamente pela porta. Certo, agora ela precisava achar alguma Chloe. Talvez uma passagem só de ida para a Flórida, também.
– Quem é Chloe? – indagou, confuso.
– Era uma desculpa, idiota – estapeou a cabeça do amigo.
– A pergunta certa seria: por que ela mentiu? – sugeriu e, abruptamente, todos os olhos da sala estavam sobre , que estava submerso em pensamentos enquanto fitava a porta por onde havia saído.
– ! – berrou, jogando um pote de Nutella no amigo, que despertou em um pulo.
– Filho da puta! – grunhiu, passando a mão sobre o braço atingido. – O que vocês querem?
– Queremos saber o que aconteceu com a .
apertou os lábios, ele queria mais do que tudo saber o que havia de errado com ela. Ele havia cometido um erro, ela havia surtado e ele propôs que fingissem que nada tinha acontecido. Mas então por que ela continuava a evitá-lo? Ele não fazia ideia.
– Eu não sei!
– Claro que sabe! – jogou sua tigela vazia no rapaz que, dessa vez, desviou.
– Ela está estranha apenas com você – observou, ignorando os olhos fulminantes de sobre , que erguia os ombros em um pedido claro de desculpas.
– E isso começou depois daquela festa que você deu na sua casa – acrescentou.
– Que, por acaso, ela voltou no dia seguinte e logo em seguida se trancou no quarto.
fechou os olhos, sabendo que os meninos juntariam as peças e, assim que abriu os olhos, aconteceu.
– Espera, vocês...
– Puta que pariu!
– Eu não entendi.
– Você transou com a ?
Quatro olhares espantados e julgadores estavam sobre ele, não poderia recuar, sabia disso. E, incrivelmente, se sentia mais leve diante da descoberta. Talvez eles pudessem ajudá-lo. O problema era que admitir que ele havia feito isso em voz alta era mais difícil do que ele imaginava, sua culpa pesava cada vez mais sobre seu peito.
– Bem... – suspirou, seu rosto ficando subitamente vermelho – Mais ou menos.
– Como assim? Não tem como transar mais ou menos – bufou, impaciente.
– A não ser que uma de suas pernas continuasse dentro da calça.
– Ainda sim não seria mais ou menos, – retorquiu. – Só se metade do pênis estivesse dentro da calça, mas isso é impossível.
– Sim, eu transei com a ! – confirmou, interrompendo aquela discussão que ele sabia que seguiria em frente se ele não o fizesse. – Estávamos bêbados.
A reação seguinte foi a esperada: mais xingamentos.
– Isso não está me ajudando – o rapaz interviu, impaciente. Os meninos se calaram, olhando atentamente para o amigo com caras de enterro e isso era pior que a chuva de palavrões. – Vocês acham que é por isso que ela está assim?
– Ah, pelo amor de Deus! – estapeou o próprio rosto. – É claro, seu idiota!
passou os dedos, levemente, sobre as lombadas dos livros nas enormes estantes da única biblioteca da cidade. Ela gostava de ir para lá quando não tinha mais para onde ir, ou quando precisava de um tempo. Bem, ela não tinha para onde ir e precisava de tempo, então, estava ali apenas absorvendo o cheiro de papel que a acalmava e, às vezes, até observava as pessoas que frequentavam aquele lugar. Das pessoas que não tinham para onde ir até aquelas que só estavam ali para fingir ser alguém que não eram.
E então seus olhos pararam sobre aquele que, mesmo se ela o estudasse minuciosamente, ainda não o entenderia. passava pelas portas da biblioteca pública a tempo de se esconder atrás de uma das várias estantes de livros.
Embora ambos dividissem o amor pela leitura, ela sabia que não estava ali para ler.
Ele olhou em volta, fazendo-a implorar que fosse embora quando não a encontrasse. Mas, ao invés disso, ele se aproximou. O rapaz procurava entre os espaços vazios das estantes pelo rosto da garota e ela sabia que ele a encontraria. Por impulso, se abaixou, rastejando pelo chão com o único objetivo de sair do local sem ser notada.
Ela estava tão focada em fugir que só percebeu o par de pernas diante dela quando virou o rosto. Prendeu a respiração, xingando-se por não ter sido capaz nem de sair imperceptivelmente.
– Perdeu algo? – ela fechou os olhos diante da clara provocação. sabia que ela estava fugindo dele e sabia que nada que ela dissesse o faria acreditar no contrário.
– Como me achou? – suspirou, ignorando a questão anterior enquanto se levantava para enfrentar os olhos do rapaz a sua frente, ele sorria torto. Ah, o amor pela leitura!
– Nos conhecemos há três anos, , você não devia me subestimar. – ele sorriu – Você praticamente morava aqui, se lembra do que você disse quando perguntei o porquê de passar tanto tempo aqui? – Eu queria poder viver como nos livros – ela murmurou, não contendo um sorriso doce à lembrança. Ele suspirou, colocando as mãos dentro dos bolsos de sua calça. ergueu as sobrancelhas, curiosa sobre o repentino nervosismo. – Acha que podemos conversar hoje à noite? Sobre a última festa e tudo o que aconteceu.
– Eu... – ela limpou a garganta, tentando amenizar a sensação do nó que prendia suas palavras. – Eu não acho uma boa ideia. Você mesmo disse, foi um erro e não precisamos falar sobre isso.
– Eu contei para os meninos sobre isso e...
– Você o quê? – ela ergueu o tom de voz e a bibliotecária pediu silêncio, fazendo-a sussurrar a próxima pergunta, embora sua vontade fosse gritar. – Por que você contou?
– Porque você está agindo estranho e eu não sabia o porquê – ele comprimiu os lábios, sua feição ansiosa e confusa parecendo adorável aos olhos de .
– Tudo bem, eu te encontro na sua casa hoje à noite.
E, antes que ele pudesse falar qualquer coisa, ela saiu rapidamente. A imagem de um inseguro diante de si a fazendo sorrir durante todo o caminho até a casa.
Enquanto o elevador subia, pensou que morreria. Seu coração batia tão rápido que não poderia ser saudável, e tudo que ela fazia era repetir em sua mente a conversa que havia tido com os meninos, assim que chegou em casa. Ela havia surtado, berrava para os quatro pobres rapazes o que eles haviam dito para que o fez mudar de ideia sobre ignorar o acontecimento daquela noite. Ela estava apavorada ao ponto de cogitar não ir.
Mas os meninos não permitiriam, eles a incentivaram dizendo que era apenas uma conversa e nada demais. Ela só precisava falar o que sentia, disseram. Mas era difícil quando nem mesmo ela sabia o que sentia.
– Isso é estranho – disse, após sua confissão e ela riu. Ele estava certo. Ela estava estranha desde a última vez que havia estado naquele apartamento. Pensar que entraria ali novamente e ficaria a sós com o rapaz de sorriso torto e olhos azuis lhe tirava o fôlego de antecipação. Antes de apertar a campainha, ela puxou o máximo de ar possível, assegurando que teria o suficiente. Mas, quando a porta foi aberta, ela soltou o ar que nem chegou perto de ser o suficiente.
O filho da puta estava sem camisa e usava óculos de grau.
Merda, o óculos era covardia!
Todas as esperanças de ter uma conversa no mínimo tranquila se dissiparam com aquela imagem. Os cabelos molhados e desgrenhados, os olhos levemente escuros, os lábios apertados em uma linha fina, os músculos tensos sobre a pele. Tudo parecia estar a favor de foder com os sentidos e hormônios de , e ela nem ao menos havia entrado no apartamento ainda.
Em contra partida, não teve a intenção alguma de provocá-la. Pelo contrário, ele queria realmente ter essa conversa, ele queria acertar as coisas de uma vez, mas ela apareceu com aquele vestido curto, os cabelos soltos e os olhos ansiosos, lembrando-lhe que ela era sua maior fraqueza. Nenhum outro vestido seria capaz de fazê-lo querer tanto rasgá-lo como aquele maldito vestido floral. Apenas ela ficaria tão irresistível em algo tão inocente. Seu corpo ficou trêmulo sobre os olhos atentos de , talvez ele a estivesse assustando como da última vez. Mas era tão difícil se manter concentrado com ela deslizando furtivamente pelo seu lado, entrando em seu apartamento. Eles estavam a sós e conversar, de repente, se tornou a menor de suas prioridades.
Se soubesse do poder que tinha sobre ele, que Deus o salvasse.
– Pensei que não viria – confessou, observando-a atentamente jogar a bolsa no sofá. Ela caminhou lentamente até a enorme estantes de livros, que ocupava grande parte da sala de . Aquele era o lugar favorito dela em todo apartamento.
– E eu não ia vir – ela suspirou, virando-se para vê-lo andar na sua direção. Ela se sentia como uma presa prestes a morrer, sem saída. Então, procurou focar-se na discussão que eles precisavam ter ao invés de se preocupar com o corpo de que se aproximava, gradativamente, do dela. – O que te fez mudar de ideia? Há alguns dias você disse que não deveríamos falar sobre isso.
Ele parou, dois passos de distância dela. A distância que ele julgou ser no mínimo segura para continuar o rumo da conversa sem que ele perdesse a sanidade. Seus olhos focaram-se nos olhos de , embora não fosse a melhor das ideias.
– Isso foi antes de você começar a me evitar.
– Eu não estou...
– Sim, você está! – ele a interrompeu, tentando inutilmente manter a conversa em um rumo que a probabilidade de fim fosse, ao menos, boa. Mas foi tarde demais, desde que havia passado pela porta. – Passávamos mais tempo juntos do que um dia já passei com minha própria mãe, , e agora tudo o que você faz é fugir de mim. – acusou. – Algo mudou na nossa amizade.
Não havia argumentos para isso, sabia que ele estava certo e ele sabia disso, também.
– Nós transamos, – ela murmurou, tão baixo que ele precisou ler seus lábios, vermelhos rubro pelo batom, para ter certeza sobre as palavras dela. – O que você esperava?
Ele esperava por muitas coisas. Esperava que se saciasse, não apenas sexualmente, mas emocionalmente, também. Esperava parar de pensar nela mais do que em qualquer outra coisa. Esperava conseguir olhá-la sem almejá-la. Escutar sua voz e não classificar aquele como o melhor som do mundo. Esperava poder ficar, no mínimo, algumas horas distante dela sem se sentir como a porra de um viciado em abstinência. Mas nada disso aconteceu. Na verdade, tudo apenas piorou de uma forma que ele achou não ser possível antes. Ele até havia quase transado com outra garota na semana anterior, e fora um completo desastre, uma vez que tudo o que ele mais desejava era que fosse ali. Ele nunca ficou tão frustrado.
havia cometido o erro daquela festa achando que as coisas melhorariam, mas fora um tiro no próprio pé, pois aqui estava ele, encarando-a e sentindo todos aqueles sentimentos inúmeras vezes mais forte do que antes. Com o plus de que, agora, ela também o evitava.
– Eu não sei – ele por fim respondeu, não querendo assustá-la novamente. – Eu estou confuso.
– E eu não estou? – ela trocou o peso do corpo, mordendo levemente os lábios, incerta do que fazer. a observou, atentamente.
– E então? O que faremos?
fitou a estante, à procura de uma resposta certa no meio de todas aquelas lombadas com títulos chamativos e, outros, nem tanto. Sua estante de livros nunca fora tão cheia, até resolver preenchê-la junto a ele, tornando aqueles pedaços de madeiras e folhas de ambos. Talvez houvesse alguma resposta ali. Ou talvez ele tivesse que resolver as coisas por conta própria.
O fato era que aquela era a chance dele. Ele poderia salvar a amizade que tinha com ou destruir tudo. Era o pior que ele poderia fazer, mas ele estava apto a escolher a segunda opção.
– Eu não sei. Você quer... – ele sorriu torto, seu rosto enrubescendo à medida que ele se aproximava do corpo trêmulo de sua amiga. – Fazer isso de novo?
abriu a boca, em uma clara evidência de que ela estava chocada com as palavras de . Ela engasgou com o próprio ar, seus olhos arregalados mostravam toda sua incerteza e confusão. Ela parecia tão perdida.
– Você é um filho da puta – ela acusou e ele esperou pacientemente pelo tapa que ele tinha certeza que receberia, com merecimento.
Todavia, nenhum tapa atingiu seu rosto. Ela sorria, o que já era estranho o suficiente, pois ela devia estar furiosa com a audácia de suas palavras. Então, ela fez algo que o surpreendeu mais que seu sorriso.
Ela o beijou.
Era o primeiro beijo deles. Pelo menos, o primeiro em que ambos estavam sóbrios. Embora soubesse que “sóbrio” não era a melhor definição para ele no momento, nem toda bebida do mundo o deixaria tão embriagado quanto os lábios de .
16 de Março, 2015.
Naquela manhã, acordou com um bom humor incomum. O outro lado da cama ainda estava quente, comprovando-o que o que aconteceu na noite anterior não havia sido obra de sua mente. Ele se vestiu, apenas o essencial para descer as escadas e verificar se permanecia no seu apartamento. Ele podia sentir o perfume doce enquanto caminhava em direção à cozinha, para encontrar a mulher sentada no balcão, uma xícara de café em mão e um livro pego em sua estante na outra. Infelizmente, ela estava vestida. O vestido floral cobrindo suas curvas, deixando seu busto e pernas à disposição dos olhos profundos de .
percebeu o olhar sobre si e cruzou as pernas, como uma clara mensagem para ele tirar os olhos dali, embora seu ato apenas tenha aumentado a vontade que o rapaz nutria em tirar seu vestido e repetir o acontecido da noite anterior.
– Estamos atrasados – ele observou a forma como ela curvava os lábios já delineados com o batom vermelho, um sorriso culpado e divertido preenchendo eles à medida que ela erguia a xícara de café.
– Não me importo em ficar mais – ele sorriu maroto, aproximando-se.
– Nem pense – ela fechou o livro, colocando-o sobre a mesa e fazendo-o parar. Ela parecia risonha ao tomar seu café. Suas pernas nuas balançavam, como se para provocá-lo sobre o fato de não poder tocá-la, uma vez que ela estava disposta a ir para aula. Enquanto ele nem ao menos lembrava que era segunda-feira.
– Então, o que você acha de fazer disso uma coisa?
Ele não queria assustá-la, mas ele já havia passado aquela linha de limite duas vezes e sabia que não tinha volta. Porra, ele só precisava ouvir um sim.
– Você está tentando me pedir para ser sua amiga com benefícios, ? – ela sorriu marota.
– Talvez? – ele indagou, risonho, com as bochechas vermelhas. Seus dedos já passeavam pelas pernas de , dos joelhos até suas coxas, erguendo o bendito vestido floral para ter um melhor acesso. O corpo dela tremeu.
– , isso nunca acaba bem – ela murmurou, sua voz tão trêmula quanto suas pernas.
sorriu, beijando o canto de seus lábios vermelhos, quando seus dedos alcançaram a calcinha da mulher. O rapaz seguiu com seus lábios pela mandíbula de , guiando-se até sua orelha, ela suspirou.
– E por que tem que acabar?
Isso foi o bastante para . Ela deixou a xícara de café sobre o balcão, afastando-se de aos tropeços, enquanto pegava sua bolsa e seguia rapidamente até a porta. Antes que desistisse e faltasse à aula.
– Eu odeio quando você incorpora o advogado – ela deixou claro.
– Isso é um sim? – ele perguntou alto, o sorriso quase lhe rasgando o rosto.
– Hoje à noite – suas palavras prometiam e, logo em seguida, a porta da frente bateu.
voltou o olhar para a bancada, o único indício de que estivera ali era a xícara de café manchada com seu batom vermelho. Ele sorriu para si mesmo. Ela sempre manchava as xícaras de . No começo, ele odiava e vivia apenas para repreendê-la por isso, ele sabia que era de propósito, ela gostava de deixar suas marcas. Com o tempo, ele pegou-se as segurando na mão, invejando o fato da porcelana frágil ter os lábios de . Imaginar o gosto daquelas manchas de batom já não era o bastante, assim como apenas olhá-la também não o satisfazia mais. E, quando ele descobriu isso, foi quando ele decidiu dar a festa em seu apartamento.
E agora ele tinha mais do que os lábios da garota que ele tanto almejava.
– Eu entendi direito? – indagou, erguendo o braço para fazer se calar. – Pra apagar o clima estranho por vocês terem transado, vocês... Transaram de novo?
Após a aula, decidiu ir para a biblioteca fazer algumas pesquisas para adiantar a próxima apresentação. A oportunidade perfeita para os garotos se unirem em uma pizzaria perto do campus para fazer o que garotas chamariam de fofocar. Mas eles eram garotos, então era apenas uma conversa casual sobre suas vidas particulares.
Dessa vez, a vida particular de .
– Correto – sorriu orgulhoso por ter conseguido fazê-los entender. gargalhou, fazendo bater a palma contra o próprio rosto para deixar claro o desgosto pela situação.
– Vocês dois se merecem – confessou, risonho, balançando a cabeça negativamente.
– Eu sei – gargalhou.
– Sabe qual é a probabilidade disso dar certo? – interviu, fazendo todos os olhares da mesa voltarem-se para o rapaz. – Qual é? Eu sou o único que vê que isso não terminará bem?
– Não fode, cara! – replicou e, como apoio, e jogaram as bordas de suas pizzas no rosto do amigo que apenas ergueu o dedo do meio em resposta.
odiava quando estava certo. E, para sua infelicidade, ele sempre estava certo.
31 de Março, 2015.
deveria saber que as coisas, eventualmente, sairiam de seu controle. Na manhã seguinte após aquela festa, ao ver saindo aos tropeços de seu apartamento, ele prometeu a si mesmo que não voltaria a cometer o mesmo erro. A quem ele queria enganar? Ele já havia experimentado o gosto de , não havia mais volta. E ter pedido para ela ser sua amiga com benefícios era a maior prova disso.
E, como para reforçar sua certeza, lá estava ele, encostado contra a parede enquanto esperava pacientemente andar, calmamente, até ele. O corredor estava praticamente vazio, afinal, ela estava atrasada. Estando quase completamente sozinhos, ele se permitiu olhá-la sem ter que se vigiar. Ela estava de vestido, o que se tornou frequente uma vez que ela descobriu ser o ponto fraco de . Ele riu, é claro que ela usaria aquilo contra ele.
– Dormiu bem? – seus lábios delineados se abriram em um sorriso maroto.
No dia anterior, eles haviam passado o dia juntos. o provocou o dia inteiro, aproveitando-se da falta de privacidade. No almoço com os meninos, sua mão pequena pousava quase inocentemente sobre o colo do rapaz e sua perna, às vezes, sem querer, deslizava contra a dele. Ela degustava a comida de uma forma sugestiva, seus olhos profundos não tiravam os olhos do rapaz durante toda refeição. não fazia a mínima ideia de como havia aguentado todas as provocações e insinuações de , ele apenas sabia que a noite ele a faria se arrepender de cada olhar. O que ele não esperava era que, após alguns minutos de preliminares em seu apartamento, ela iria embora, dizendo ter se esquecido de terminar um trabalho para o dia seguinte.
– Poderia ter sido melhor, amor – ele sorriu falsamente, fazendo-a rir ao vê-lo corar. – Mas eu vou equilibrar as coisas.
Antes que ela questionasse, ele puxou sua cintura em direção ao banheiro feminino, apenas alguns passos de distância de onde eles inicialmente estavam. Assim que a porta se fechou, agarrou a cintura de , puxando-a para seu colo e a pressionando contra a parede. Ela arfou com o movimento abrupto e, antes que pudesse recuperar o fôlego, os lábios de alcançaram seu pescoço, fazendo-a gemer.
– , você está louco? Pode ter pessoas aqui – ela murmurou, sua risada saindo entrecortada pela falta de ar. Ela olhava ao redor.
– Não tem – respondeu com convicção, afinal ele havia esperado por ela tempo o suficiente para se certificar de que mais ninguém estava no banheiro.
Ele segurou firmemente o rosto dela, calando suas inseguranças em um beijo forte. Os dedos apertavam seus cabelos macios e longos, o cheiro de seu shampoo invadindo os sentidos dele como um soco. As pequenas mãos de agarravam seus ombros e, tê-la ali, inteiramente para ele, deixava-o perturbado. Seus lábios abandonaram os dela apenas para, logo em seguida, atacar seu pescoço. Beijando e chupando sua pele até seu ombro, as alças finas de seu vestido caíam, deixando-os livres para .
– – ela gemeu ao sentir os dedos dele apertarem fortemente suas coxas, seus lábios descendo em direção aos seus seios ainda cobertos pelo vestido. – , estamos no banheiro feminino do campus.
– Eu sei – ele resmungou, sua voz abafada pela pele da garota que tremeu sobre seu hálito quente.
– Isso parece uma medida muito desesperada para você.
Ela estava certa. sempre pensava bem nas coisas, calculava riscos e escolhia as melhores opções, afinal, ele estudava para ser, futuramente, pago por fazer isso. Era desse jeito de advogado que tanto reclamava e era ela quem destruía todo esse preparo. Ela era o maior de seus riscos, a opção incerta e o pensamento mal pensado. Ele era incapaz de considerar qualquer coisa que a envolvesse. E, para seu modo de vida, isso era um problema.
– Eu não me importo.
– Mas devia, – os lábios de rapidamente se afastaram de sua pele, seus olhos azuis à altura dos dela, suas sobrancelhas erguidas não revelavam o porquê de sua reação, deixando-a confusa.
– Do que você me chamou? – ela riu quando notou do que se tratava. Um suspiro aliviado escapou de seus lábios ainda avermelhados pelos beijos.
– Isso importa, ? – sorriu maliciosamente, movimentando seu quadril lascivamente contra .
– Isso é fodidamente quente – ele arfou, deslizando suas mãos pelas longas pernas de . – Como eu nunca notei?
Ela gargalhou e engasgou-se com a própria risada quando as mãos fortes e quentes de chegaram até sua calcinha, puxando-a.
– É por isso que eu amo vestidos.
4 de Abril, 2015
– , fala comigo – pediu, sua voz quebrando.
não a olhou, embora soubesse que em sua expressão predominava confusão e receio. Ele queria tranquilizá-la, mas preferiu não fazê-lo, uma vez que ele não conseguia se auto tranquilizar. Podia escutar seus batimentos cardíacos, o sangue fervendo em suas veias como água quente. Ele estava furioso e nunca tinha o visto dessa forma antes.
– O que aconteceu? – a mulher indagou, tentando arrancar qualquer informação que a deixasse menos nervosa. O elevador ainda subia, como se nunca fosse chegar ao andar desejado. Até que as portas de aço se abriram, permitindo que ela respirasse o ar que não havia notado ter prendido.
pegou a mão de novamente, guiando-a em direção ao seu apartamento da mesma forma que havia a guiado para fora da festa de Will. Sua mão forte contra a sua, seus passos pesados e seu rosto fechado denunciavam o quão irritado ele estava e ela nem ao menos sabia o porquê. Ela repassou tudo o que havia feito durante a festa à procura do motivo. Will conversava animadamente com a mulher enquanto pegava uma bebida, até que se aproximou, sussurrando no seu ouvido flertes. Ela não soube como corresponder, ele era um cara legal e atraente, mas ela tinha algo com . Algo que supostamente deveria ser apenas sexo casual, sem cobranças ou compromisso, mas ela não sabia responder o porquê do desconforto ao pensamento de flertar com outro homem.
E, antes que ela se decidisse, chegou. Com o rosto avermelhado, apenas a pegou pela mão e a guiou para fora da festa, sem ao menos dizer uma palavra.
E continuava em um silêncio agoniante, até passarem pela porta de seu apartamento. se virou abruptamente em direção à , fazendo-a hesitar, mas não havia para onde fugir, uma vez que a única que coisa atrás de si era a porta recentemente fechada com certa violência por .
Seus olhos azuis escurecidos a fitavam de uma forma nunca feita antes, fazendo-a se sentir nua, não apenas sem roupas mas como se estivesse sem a própria pele.
Ela esperou pelo início da discussão, que não veio. Ao invés disso, os lábios de a surpreenderam ao se chocarem contra os dela. A mão do rapaz segurou firmemente seu rosto, intensificando o beijo que era tão forte que poderia ser doloroso, mas não era. Sem delongas, suas mãos desceram pelas curvas da mulher até chegar à ponta de seu vestido para, então, arrancá-lo. O ar gelado se chocou contra sua pele nua, mas ela não teve tempo para se preocupar com o frio, pois, tão rápido quanto se afastou, o corpo de voltou para ela, pegando-a no colo. As longas pernas de se entrelaçaram em volta do quadril de , fazendo-o arfar com o contato. Ele a empurrou contra a porta principal do apartamento e ela esperava que não houvesse ninguém no corredor para escutar todo o barulho que os dois estavam dispostos a oferecer.
– Porra – ela grunhiu quando suas costas bateram novamente contra a porta, a adrenalina e o tesão disparavam pelo seu sangue enquanto os lábios de desciam pelo seu pescoço com uma pressão que deixaria marcas.
Ele inalou profundamente o perfume doce que a pele dela exalava e, naquele momento, ele era um refém. Ele estava preso ao seu cheiro, ao gosto de sua pele e ao doce e amargo que dividiam espaço em sua boca. Ele estava sem defesas e sem seus sentidos. E aquilo era tão bom.
– Minha – ela pôde ouvi-lo dizer em meio às mordidas e chupões e, então, como um flash, ela entendeu.
Ele estava com ciúme.
E, naquele ponto, ele também havia entendido. Eles sabiam que amigos com benefícios não deveriam se sentir dessa forma, mas eles se sentiam. seria capaz de fazer o mesmo se visse com outra. E, naquele momento, os dois sabiam que não havia mais rótulos para definir a relação deles.
– Meu – respondeu.
Os beijos fortes e possessivos abruptamente pararam. ergueu a cabeça para trocar um longo olhar com . Ela deveria sentir medo da reação dele, mas não sentia, pois sabia que ele não iria embora. Seus corações batiam em sincronia e eles podiam sentir um ao outro, como se escutassem a si mesmos. Como se estivessem em apenas um corpo.
Ele roçou os lábios contra os dela, de uma forma tão leve que parecia imperceptível após todos os beijos rudes. E como se aquela simples e única palavra amolecesse sua raiva, seus toques se tornaram mais suaves e doces, quase como pedidos silenciosos de desculpas. Os beijos se tornaram penas que deslizavam sobre sua pele, deixando um rastro de queimação prazerosa. Ele a afastou da porta e, ainda a tendo em seu colo, caminhou até o sofá. Suas costas agradeceram pelo apoio mais confortável, assim como seu corpo tremia em agradecimento pelos beijos e toques de e, no meio disso tudo, um último agrado. Por sua vez, o coração dela batia fortemente em gratidão e regalo a apenas três palavras que escaparam despretensiosamente dos lábios de .
– Eu amo você.
A última linha de limite tinha sido ultrapassada.
5 de Abril, 2015.
Quando acordou, já não estava mais no quarto. Ela se revirou na cama, um sorriso bobo pendia em seus lábios e sua barriga parecia estar infestada de criaturinhas inquietas. E ela continuou dessa forma, mesmo depois de lavar o rosto e se trocar. Sentir-se como uma adolescente apaixonada nunca fora tão bom. Sim, apaixonada. Depois da noite anterior, tudo se tornou mais claro. Ele a amava e agora ela sabia disso, não apenas por ele ter dito as três palavras, mas por tê-las dito no momento certo. Ela nunca tinha sido tocada, olhada e beijada como a noite anterior e ela o conhecia bem o suficiente para dizer por ele que ele nunca tinha feito essas coisas com outras garotas, em seus encontros, com a mesma intensidade. Isso teria sido o bastante, mas ele confirmou com palavras, ele disse que a amava.
Enquanto descia as escadas, se surpreendeu por não estar com medo como da primeira vez. Ela não estava apavorada em vê-lo, pois sabia que, independente do rumo da conversa, as coisas acabariam bem para os dois.
Ela não poderia estar mais errada.
quase deixou a xícara de café cair ao sentir os lábios mornos de em seu pescoço. Ele puxou o ar, reprendendo-se por demonstrar fraqueza. Ele já havia feito isso ontem.
– O que foi? – perguntou desconfiada ao vê-lo se afastar de seus lábios.
– Nada, você apenas me assustou – ele explicou e, embora isso não a convencesse, ela apenas acenou e sentou-se.
Novamente, ela usava uma camiseta aleatória de seu guarda roupa, observou. Seus encontros com ela apenas aumentavam à mesma proporção que suas camisetas sumiam, mas ele nunca reclamou, uma vez que amava a forma como suas roupas realçavam as curvas da mulher e amava mais ainda o cheiro que insistia em ficar no tecido, mesmo após ela lavá-lo e devolvê-lo. Os longos e escuros cabelos de caiam selvagemente sobre seus ombros enquanto ela adoçava seu café, suas longas pernas balançavam incessantemente em baixo da mesa e, em outras circunstâncias, tudo isso deixaria louco e eles passariam mais um dia inteiro na cama.
Mas, agora, aos seus olhos, predominava a beleza acima da volúpia. A simplicidade de seus atos como afastar os cabelos rebeldes do rosto ou de seus traços ao não pegar a xícara quente de café pela orelha dela. E, mesmo fazendo uma careta diante da ardência pelo dedo queimado, gostou daquela visão. Ela em sua cozinha, tão confortável como se estivesse em sua própria casa e desejou ter o dom da arte para poder pintar aquele momento enquanto seu cérebro ainda funcionasse ou de ser um fotógrafo e guardar o que via não apenas em suas memórias. Mas ele não era nada disso, ele era apenas a porra de um estudante de direito controlador perdendo o controle.
Enquanto ela tomava o café, a observou. Assim como a tinha observado durante as últimas sete horas, após ela ter dormido. Ele a admirou pelos próximos dez minutos de silêncio que se seguiram.
O silêncio foi quebrado por .
– , você está com a cara pior do que quando está com ressaca – ela zombou, abaixando a xícara contra a mesa da cozinha apenas para lançar a ele um sorriso de escárnio.
Em outras circunstâncias, ele retrucaria com o mesmo nível de sarcasmo usado por ela, mas ele não o fez e isso a preocupou instantaneamente.
– Merda – ela praguejou em um murmúrio, sentindo-se subitamente nervosa com o olhar silencioso do rapaz. – ...
Ele fechou os olhos em covardia, e antes que pudesse repensar, as palavras saltaram de seus lábios:
– Foi um erro.
Houve um silêncio, as suas palavras ainda flutuavam pelo cômodo, seu coração batia fortemente contra seu peito e aquilo doía. A dor só piorou quando ele, finalmente, abriu os olhos.
O sorriso de tinha desaparecido, dando lugar a uma expressão de dor e olhos marejados. Ele quis tocá-la e dizer que não pretendia magoá-la, mas sua cabeça estava em um turbilhão de pensamentos. Seu corpo implorava por ela, sua mente implorava pelo resto de sanidade que sobrara. E no meio de tantas súplicas, o de parecia apenas mais um.
– O quê? – ela indagou, sua voz tão trêmula quanto seu corpo.
– Eu estou dizendo que foi um erro – ele focou-se na mesa, incapaz de olhá-la enquanto destruía todas as suas expectativas. – Foi errado te pedir para fazer do erro daquela festa algo, seguir com essa loucura e continuar nela até o ponto que me fez te arrastar daquela festa como se tivéssemos algo. A noite de ontem foi um erro.
– Você disse que me amava – ela murmurou, tão baixo que ele não seria capaz de ouvi-la se o único som audível não fosse de suas respirações pesadas e o som de se sufocando com sua mágoa.
– Foi outro erro.
Mesmo sem olhá-la, sabia que o rosto de ficava gradativamente avermelhado conforme suas emoções aumentavam. Ele podia dizer o quão magoada, furiosa e triste ela estava apenas pelo modo como sua respiração saía ruidosamente, seus fungos numa tentativa falha de não chorar e pelo barulho de sua mandíbula fortemente apertada. E, quando sua voz se fez ouvir mais alta e selvagem, ele teve sua confirmação.
– Você disse que me amava! – ela gritou, sua voz embargada denunciava o choro que estava por vir. Ela estava de pé, seu calor corporal, cheiro e respiração mais próximos do que ele poderia suportar. apertou os olhos e fechou os punhos, esforçando-se em não desabar. – Não, você não vai fazer isso comigo, não de novo. Não depois de ontem.
permaneceu em silêncio.
– Por que você não olha pra mim? – questionou em desespero, fazendo-o desviar os olhos, embora eles ainda estivessem fechados. – Olha pra mim! – ela pediu, sem resultado. – Olhe pra mim enquanto diz toda essa merda. Olhe para meu rosto, porra!
Ele respirou profundamente antes de olhá-la para, logo, então se arrepender.
Ela parecia tão vulnerável à sua frente, pedindo-o com os olhos marejados que esquecesse o que pretendia fazer.
Mas ele não podia, porque ele estava cansado. Cansado do improviso, do imprevisível, da avalanche de sentimentos desconexos e da dependência que ela lhe provocava. E ele estava tão desesperado para sair daquela instabilidade, que quis acreditar que a dor que sentia em vê-la daquela forma na sua frente passaria quando ela se conformasse.
– – ele a repreendeu. Se por ela gritar ou por xingar, ela não sabia. E nem se importava.
– Não ouse falar comigo como se estivéssemos na porra de um tribunal – ela advertiu, furiosa. – Não ouse ficar aí sentado dizendo as probabilidades de isso ser errado e esperando que eu não diga nada!
– É o certo, – ele disse firme, embora não soubesse o que dizer para diminuir o impacto da situação.
– Eu odeio quando você faz isso – ela confessou, fitando-o de uma maneira tão profunda que ele quase podia senti-la atravessando por ele. – Odeio quando age como um advogado, pesando tudo, querendo provas e tentando controlar tudo. O que temos não precisa ser pesado, provado ou controlado, !
Mas era, pelo menos na mente cheia e embaralhada de , era. Controle era tudo o que ele tinha. Ele tinha controle sobre os próprios horários, sobre a própria vida, sobre os estudos e metas e, quando isso era ameaçado por alguém, ele resolvia como o bom advogado que pretendia ser. Mas, desde aquela noite, vem bagunçando sua vida tanto, que ele nem poderia achar os meios de resolver aquilo. Porque ele não queria.
E ele continuava a não querer. Mas eles estavam em outro patamar e não estava preparado para o próximo.
– Eu te amo, merda, qual é a dificuldade disso?
estreitou os olhos, seu corpo afastando-se de e de suas palavras que soaram como um palavrão. Ele desviou o olhar dos olhos feridos da mulher à sua frente e, quando sua voz saiu, estava tão rouca, que ele mal a reconheceu.
– Acabou.
respirou ruidosamente, um sinal claro que ela havia o ouvido e ele ainda não sabia dizer se isso era algo ruim ou bom. Quando escutou o soluço sufocado de , ele bateu o punho contra a mesa, apertando-o contra a madeira tão fortemente que podia sentir a dor subir pelo seu braço. se assustou com o ato de , pulando para longe dele e, ainda magoada, o fitou.
Ele sentiu os olhos arderem e afastou o olhar para que ela não notasse as lágrimas que pendiam em seus olhos enquanto ele a ouvia caminhar para longe dele.
– – sua voz rouca requisitou o nome da mulher, aproveitando o gosto doce de seu nome e o olhar quente dela sobre suas costas uma vez que ela parou.
Ela seria capaz de desistir de ir embora se ele falasse algo. Mas ele não disse.
estava parada na saída da cozinha, ambos de costas, tornando a distância entre eles maior.
– Ele mexe comigo, esse garoto. Sempre – a voz trêmula de recitou a frase de A Menina que Roubava Livros como se recitasse uma poesia, uma poesia que a sufocava. – É sua única desvantagem. Ele pisoteia meu coração. Ele me faz chorar.
E então veio o silêncio, sendo seguido pelo barulho da porta da frente batendo fortemente, marcando o momento que ela havia ido embora, e aquele barulho o machucara mais que a pressão que mantinha sobre o pulso.
Seus olhos caíram sobre a xícara de café manchada de batom sobre a mesa. Ele prendeu a respiração quando o peso caiu sobre si, ele não imaginou que seria tão difícil e não imaginou que, mesmo após terminar, ele ainda se sentiria vulnerável. Mas ele se sentia preso entre pedras e, quando a porta se fechou, as pedras caíram sobre ele. Soterrando-o.
jogou a porcelana contra a parede, destruindo-a em pedaços.
10 de Abril, 2015.
Dormir se tornou um martírio, porque era o único momento do dia em que ficava completamente sozinho e não havia nada para ocupar sua mente, que insistia em repetir tudo relacionado à . Ele fechava os olhos e via seu sorriso, escutava sua risada, sua voz, o som de seus gemidos, o gosto da sua pele, o cheiro de seus cabelos e a quentura de seu corpo. Quando abria os olhos para escapar das imagens que o perturbava, seus olhos caíam automaticamente sobre a fronha do travesseiro ao seu lado. A fronha que abrigava poucos fios de cabelo deixados esporadicamente, pois ele não tinha coragem de lavá-la e apagar os resquícios de inocência que deixara ali. E porque abrigava também seu cheiro, tão forte e presente que ele quase podia visualizá-la ou sentir o calor que o lado vazio da cama emanava. Um calor tão quente e agradável que ele seria capaz de deitar ali para queimar naquele calor o dia inteiro. Mas a cama estava fria, ela já havia ido embora e aquilo tudo era apenas mais um peça que seu cérebro lhe pregava.
faltou durante quatro dias. Ela não ia para a faculdade, não aparecia na biblioteca e isso o preocupava. Ele tentava seguir em frente, queria acreditar que se fingisse não se importar, deixaria de se importar, mas não funcionava. Notou isso no segundo dia quando decidiu perguntar aos meninos sobre ela. É claro que eles o ignoraram, o olharam feio e apenas se afastaram. No quarto dia, ele parou de sentir auto piedade e entendeu que merecia o ódio que recebia dos amigos e estava disposto a tentar outra abordagem, quando ela surgiu, andando pelos corredores como se nada tivesse acontecido. Ela conversava, ria, brincava e até fingia sua inexistência quando o encontrava nos corredores ou no campus. E ele estaria feliz por ela, se não a conhecesse tão bem. E ele apenas enxergou isso quando a observou sentada em uma das mesas do campus, com os rapazes. Às vezes abaixava o olhar, esfregando os olhos para tentar amenizar a vermelhidão do choro que havia sido seu companheiro nos últimos dias. Ele não se importaria se ela o odiasse, se o batesse ou o superasse, mas ele não poderia suportar vê-la daquela forma.
E foi isso que o levou até a Toca, naquela mesma noite. Por incrível que pareça, para uma sexta, os garotos se encontravam na casa e foram eles que o recepcionaram quando ele gritou, pela primeira vez, o nome de diante de sua janela.
– Mas que porra, ! – gritou, avançando em direção ao suposto amigo. Batendo a porta logo atrás dele e quase atingindo o rosto de . Antes que os punhos de alcançassem o rosto de , se colocou entre os dois.
– ! – ele repreendeu, empurrando-o para longe. – Se controla! – Eu preciso falar com ela – falou, apto a enfrentá-los se fosse necessário, embora não fosse uma ideia sensata, levando em consideração que eram quatro contra um.
– Para que? Propor outra transa e depois tratá-la como uma vadia? – o olhou furioso.
– Não! – se defendeu, olhando diretamente para o amigo que já havia se soltado de . – Eu não... Eu não esperei que as coisas acabassem dessa forma.
– E esperava o que, ? – disse calmamente, embora suas palavras ainda cortassem. – É de que estamos falando. Ela vê as coisas com sentimentos e você vê como pesagem de consequências. Não poderia terminar de outra forma.
e se mantiveram em silêncio, como se não soubessem se posicionar diante da discussão.
– Eu errei – ele confessou, não apenas para eles, mas para si mesmo. – Eu só quero consertar as coisas.
respirou profundamente, olhando para os amigos ao seu lado que o incentivavam a se acalmar. Depois de longos segundos, ele relaxou.
– , não é uma boa ideia – avisou. – Ela está melhor e não vou arriscar jogar isso no lixo só para que você se sinta menos culpado.
– Eu não preciso que me defendam – surgiu pela porta, deixando todos tensos. Os rapazes se entreolharam e, por fim, decidiram entrar, uma vez que sabiam que era uma conversa apenas dos dois. Porém, na porta, eles hesitaram. – Eu cuido disso. – ela direcionou a eles um olhar profundo, fazendo-os entrar tão rápido que fez cogitar fugir também. Sua vontade de escapar aumentou quando os olhos profundos e furiosos de caíram sobre ele.
– ...
– Saia daqui! – sua voz firme como ele jamais havia escutado.
– Precisamos conversar – disse calmamente, esperando que sua calma a acalmasse. Mas isso não aconteceu.
– Não, não precisamos! – sentenciou. – Só me deixe em paz.
o deu as costas e ele estava disposto a impedi-la de ir embora novamente, quando surgiu na porta, guiando pelo ombro para dentro e dando fim à conversa de ambos.
Enquanto entrava, em nenhum momento ela direcionou o olhar para ele.
– Deixe – murmurou, interrompendo os prováveis protestos de .
Quando já estava dentro de casa e longe o suficiente para não ouvi-los, se aproximou dele.
– Eu preciso conversar com ela – suspirou, recebendo, surpreendentemente, um olhar sereno por parte de .
– Eu sei – ele murmurou, bagunçando os cabelos escuros. – Veja, eu poderia te odiar ou te dar um soco.
o fitou de forma neutra, no fundo ele não se importava de receber um soco, porque ele sabia que merecia e não recuaria diante disso, caso o amigo desejasse.
– Mas não vou fazer isso, porque imagino pelo o que está passando – ele suspirou. – Ela precisa de um tempo e você também. No próximo final de semana será o aniversário de e daremos uma festa.
– Eu não acho que serei bem-vindo.
– Desde quando você se importa? – debochou, sorrindo levemente. – Eu cuido deles. E dela.
– E por que você faria isso? – ele questionou, confuso. Ele deveria dar-lhe um soco e não ajudá-lo.
– Nunca a vi tão feliz nos últimos dias – olhou em direção à janela de . seguiu seu olhar e, mesmo a luz estando apagada, ele podia imaginá-la deitada, repassando os acontecimentos até pegar no sono e ele só desejou que ela se lembrasse dos bons momentos. – E nem você. – ele desceu os olhos para o amigo. – E eu estou cansado de te ignorar e de vê-la fingir estar bem.
sorriu, e em um momento de euforia e agradecimento, abraçou o amigo de surpresa. ergueu os braços, recusando-se a retribuir aquele abraço, que recebeu com uma careta.
– Ah, qual é, cara! – ele bufou, risonho. – Depois de apaixonado você se tornou uma bicha!
se afastou abruptamente. não notou a hesitação do amigo ao confirmar que ele estava apaixonado, por isso, apenas andou em direção a casa.
– Ah, ! – ele o despertou de seu transe. – Estou te ajudando, mas se você fizer outra merda, eu arranco suas bolas!
17 de Abril, 2015
– Abaixa o som – pediu discretamente para o DJ, enquanto passava o microfone para o amigo nervoso ao seu lado. – É sua chance, não estrague.
Essas palavras deixaram mais nervoso à medida que ele subia no pequeno palco improvisado nos fundos da Toca, exatamente onde o DJ que antes trabalhava, agora apenas observava. Incrivelmente, seu nervosismo nada tinha a ver com o fato de estar diante de mais de cem olhos curiosos ou pelo o que estava prestes a fazer. Ele estava exclusivamente e totalmente nervoso diante da reação da dona do único par de olhos que lhe importava naquela maldita festa. Quando chegou, ele optou por se manter distante de e, apesar da Toca não ser tão grande, ele conseguiu ficar longe dos olhos descontraídos da mulher, aproveitando da passividade de estar próximo a ela para observá-la. Durante longos minutos, olhando-a, desejou que seu largo sorriso e olhos brilhosos fossem para ele e não para suas amigas da faculdade.
Mas, agora, o sorriso havia sumido de seu rosto levemente pálido e estar diante dos olhos surpresos dela era apavorador.
Ele desejou ter aceitado a bebida oferecida por , um pouco mais cedo.
– Foi mal pela interrupção – limpou a garganta, tentando, inutilmente, se recompor dos olhos de . – Só vou tomar alguns minutos, mas logo vocês terão a música novamente para continuar a beber ou transar.
– Ou para xingar o idiota que interrompeu a festa! – alguém gritou. Todos riram, exceto por , que ainda parecia perplexa e , que estava ocupado demais tentando manter a cabeça no lugar.
– Isso também – ele gesticulou para o rapaz que tinha se manifestado, mais pessoas riram levemente. – Bem, eu não os culparia por isso. Porque, se eu estou aqui agora, em cima de um palco improvisado, atrapalhando a festa de – ele acenou levemente para o amigo, que apenas ergueu os polegares para cima, fazendo todos rirem novamente – é inteiramente minha culpa.
Ele respirou fundo, desviando seus olhos por um momento dos de , apenas para pensar melhor e organizar suas palavras. Era tão cansativo a forma como, apenas em olhá-lo, ela conseguia fazê-lo ser imprevisível e inconsequente. Mas, agora, ele não podia se dar o luxo.
– Meu nome é , curso Direito e quem me conhece sabe que eu... – suspirou, sorrindo sem humor. – Sabe que eu sou um completo idiota. Eu sempre penso, não apenas uma, mas várias vezes antes de fazer algo. Sempre tenho um segundo plano, um argumento em uma das mãos e sei exatamente o que fazer e falar.
– Já saí com um assim – uma garota gritou. – Um completo panaca! As pessoas riram, dessa vez, até mesmo , que apenas maneou a cabeça em concordância.
– Vai que foi você, ! – gritou do lado do palco, arrancando risadas dos jovens. ergueu o dedo do meio para o amigo e, então, se recompôs.
– Eu... – ele limpou a garganta, fazendo todos se silenciarem. – Há um mês, eu fiz algo que foi contra todos meus princípios, e achei que tinha cometido o maior erro da minha vida.
o fitava, congelada demais para fugir ou para subir no palco e confrontá-lo. Ela fora pega com a guarda baixa e levantá-la não era tão fácil quando estava a sua frente, depois de tudo, dizendo para mais de cem pessoas que havia errado. não era assim, ele não fazia coisas do tipo. Ele raramente confessava estar errado, pois ele sempre achava que estava certo. Mas agora ele estava fazendo isso, expondo seus defeitos para várias pessoas. E tudo isso por ela.
– E eu estava tão preocupado em não cometer mais erros, que acabei cometendo piores – ele apertou o punho, segurando o microfone firmemente enquanto, com um longo suspiro, direcionou seu olhar diretamente para , que ainda o fitava, pasma. – Eu fui um panaca, sim. Eu fui um completa idiota e vou entender se você me odiar, porque quando eu penso no que fiz, eu também me odeio. Mas eu me odiaria mais ainda se não subisse aqui, diante de centenas de pessoas, para pedir desculpas. Eu me odiaria se não dissesse que eu...
Ele puxou o ar, não desviando seus olhos por um momento. E, de repente, tudo se tornou claro.
– Se seus sentimentos são os mesmos de abril passado, então diga-me de uma vez. Minha afeição e meus desejos não mudaram, mas uma palavra irá me silenciar para sempre – ele a encarava, tão profundamente que a fez se sentir invadida e desnorteada ao ponto de demorar a compreender o que ele fazia. Ele recitava Orgulho e Preconceito. – Se, contudo, seus sentimentos tenham mudado, eu terei de dizer: você me enfeitiçou, corpo e alma, e eu amo, eu amo, eu amo você.
Todos pareciam surpresos e até podiam se escutar suspiros vindos de outras garotas, mas permanecia congelada.
– Eu não sou Mr. Darcy, não vivemos em um livro, mas essa é a nossa história, .
Todos os olhos caíram sobre ela e, embora ela estivesse com os olhos fixos em um esperançoso, sabia disso apenas pela ardência em sua pele. Especialmente em seu rosto que, gradativamente, ficava avermelhado. Seus olhos se encheram de lágrimas, deixando a imagem de turva, assim como tudo em sua volta. As paredes pareciam estar se fechando contra ela e o silêncio zumbia em seus ouvidos. Uma de suas amigas do campus, que estava ao seu lado, sussurrou algo, mas ela não compreendeu. E ela nem ao menos se importava, ela tremia e ter todos aqueles olhos sobre ela a fez querer vomitar.
Não apenas , mas todos pareciam esperançosos pela sua reação. Esperavam que ela se jogasse nos braços dele para que tivessem algo a comentar no campus durante a semana. Mas não foi o que ela fez. A última coisa que ela viu antes de fechar os olhos e correr para fora da casa foi o olhar machucado de .
Os saltos de batiam rítmica e pesadamente contra o chão. A cada passo, o barulho da música ficava cada vez mais distante. Infelizmente, havia outro par de passos atrás dela e ela só queria poder sair dali o mais rápido possível.
Uma mão agarrou fortemente seu braço, fazendo-a parar abruptamente e virando-a para que ela pudesse olhá-lo. As sobrancelhas de estavam franzidas, seus lábios contorcidos em uma expressão de dor que apenas aumentou quando empurrou sua mão para longe dela.
– Que porr... Porra! Você... – esbravejou, seus pensamentos confusos atropelando suas palavras, empurrando-o pelos ombros. Suas lágrimas agora caíam de seus olhos cansados.
– , por favor...
– Não! – ela interrompeu, sua respiração acelerada tanto quanto seu coração. Ela fungava, chorava, gritava e arfava. Seus pequenos punhos batendo contra o peito do rapaz em uma rápida crise de fúria. Ele manteve-se parado, disposto a receber quantos socos fossem necessários para vê-la mais calma. – Você não pode fazer isso comigo! Não de novo!
Duraram longos minutos até que os socos diminuíssem, fazendo com que o choro se tornasse abruptamente mais audível. tentou alcançar, pela primeira vez, as mãos dela, na esperança de tranquilizá-la. Mas antes que seu toque ansioso pudesse obter as mãos frias de , ela o empurrou em uma lufada de súbita firmeza.
– Você tomou sua decisão, , você não pode fazer isso comigo. fechou os olhos, podia claramente escutar a mágoa na voz de , e ele se afastaria, apenas para não magoá-la mais. Ele se afastaria se não estivesse disposto a arrumar a bagunça que tinha feito.
– Me deixe falar.
– Eu já deixei, e você escolheu o silêncio, lembra? – ela esfregou as mãos contra o rosto, tentando apagar as marcas das lágrimas.
Era impossível esquecer. Por mais que, durante o dia, ele se ocupasse o bastante para esquecer disso por alguns minutos, a noite sempre vinha com a promessa de torturá-lo. A fronha de seu travesseiro ainda tinha o cheiro dela, doce e suave, como se ela tivesse acabado de se levantar, mas ele sabia que, se olhasse pelo seu apartamento, não a acharia. E embora ela apenas dormisse lá esporadicamente, cada mobília guardava alguma memória, não permitindo que ele se esquecesse nem por um minuto.
– Aí estão vocês! – se aproximou, olhando cuidadosamente para o casal, como se eles fossem uma bomba prestes a explodir, e isto era uma ótima comparação para o momento.
– Mentiroso! – apontou para , que se encolheu, denunciando sua própria culpa. – Você disse que ele não viria!
– Você não me disse que ela sabia? – direcionou um olhar furioso para o amigo, que parecia se arrepender de ter se colocado entre os dois.
– Não, eu disse que eu cuidaria dela – ele corrigiu, erguendo os braços em sinal de rendição.
– Você é um idiota – bufou, pronta para ir embora.
prendeu a respiração ao vê-la virar-se, prestes a escapar de seus dedos exatamente da mesma forma que a última vez, sem nem ao menos poder fazê-la entender. Sem ao menos poder tentar se entender, também.
– Espera – pediu e ela parou abruptamente. não pôde deixar de sentir ciúme, pois ele sabia que se fosse ele a pedir que ela esperasse, ela ainda sim iria embora. – Eu só queria que vocês se resolvessem logo. Todos nós estamos cansados de ver vocês dois brigados.
olhava esperançoso para , e o seu cansaço era tão visível que achou, por um momento, que ela desistiria de fugir. Após um tempo, o silêncio foi cortado pelo suspiro da mulher.
– Eu vou embora – murmurou, ignorando a explicação de .
– Pra onde? Aqui é sua casa – ele replicou, acenando levemente para a casa de onde vinha a música.
Apesar da clara referência à Toca, os três sabiam que não era apenas sobre aquilo. A casa dela era com eles, não importa para onde ela fosse ou até mesmo se voltasse para a casa de seus pais, ela sabia que ali sempre seria seu lugar.
– E é o aniversário do .
se manteve em silêncio, sabendo que se falasse algo, poderia fazê-la ir embora. Como recompensa pelo seu esforço, ela suspirou novamente e acenou em resposta ao , que apenas olhou para os dois por um momento, antes de voltar para a casa, calmamente.
E de novo o silêncio se abateu entre eles. esfregou os braços em um claro sinal de frio, provavelmente pela noite ser fria e estar sem seu casaco. esperou pacientemente pela reação dela, esperando por algo que, no mínimo, permitisse que eles conversassem em paz. Mas isso não aconteceu.
– Só... – ela se engasgou, sua voz quebrando em um sussurro. – Só fique longe de mim.
Ela voltou para a casa sem olhar para trás.
– Eu acho melhor ir embora – suspirou.
As poucas pessoas que ainda estavam na Toca, saíam aos poucos. Ainda era manhã, provavelmente seus objetivos fossem ir para outra festa, mas o objetivo de era outro. Era manter-se longe de na esperança de que, se respeitasse seu pedido, ela permitiria uma conversa.
Mas isso não aconteceu e, cada segundo, parecia uma tortura. Os garotos estavam levemente altos, de uma forma que rir era tão normal quanto respirar. estava na cozinha com suas colegas, provavelmente bebendo algo para amenizar a pressão da situação e, reconhecia, era um péssimo momento para resolver as coisas.
Talvez ela precisasse de mais tempo.
E ele estava disposto a dá-la, estava apto a dar qualquer coisa que ela pedisse.
– Não me diga que desistiu – pediu, soltando um suspiro risonho, tentando erguer o saco cheio de latas de cerveja. Apenas um saco a menos de todo o lixo que ainda havia no fundo da Toca.
– Não, eu não desisti, eu só acho que hoje não é um bom dia – confessou, fechando a grande sacola preta em suas mãos. – As coisas não saíram como esperado.
– Então faça com que saiam – o amigo sorriu debilmente para e, apesar de alto, era um bom conselho.
Durante poucos minutos que pareceram durar muito mais, empilhou as sacolas, pensando no que fazer em seguida.
Ela, obviamente, queria espaço. E ele queria voltar para casa sem aquele sentimento fantasmagórico de que algo estava faltando. Suas vontades não se encaixavam, novamente. Estava cansado de toda aquela dificuldade imposta pelos dois.
Ele estava tão submerso em pensamentos que apenas notou o tumulto do outro lado do jardim quando correu desastrosamente até . O amigo dele estava curvado, a mão pressionada contra o peito e a respiração pesada. Os garotos o seguravam, falavam alto e discutiam, só tomou consciência do que acontecia quando se aproximou rapidamente.
– Ele está tendo um ataque de asma! – guinchou em direção ao , antes mesmo que ele perguntasse.
– Faz tanto tempo que ele não tem uma crise – olhou confuso para e , que trocaram olhares complacentes. caiu em seus joelhos, tentando puxar o ar violentamente.
– Onde está a bombinha dele? – pediu rapidamente, olhando preocupado para o amigo que agora era amparado por , que tentava acalmá-lo.
– Eu não sei... – gaguejou, olhando para em um claro pedido de ajuda.
– Na dispensa!
– Por que, diabos, a bombinha dele está na dispensa?
– , ele precisa da bombinha agora! – apressou, desesperadamente, quando começou a chiar barulhos estranhos. Em outras circunstâncias, teria sido mais observador. Mas ele estava desligado demais para notar o pequeno sorriso no rosto de antes de correr para dentro da Toca.
A dispensa era assim como o resto da casa, pequena, mas arrumada de uma forma que a fazia parecer maior. Ao abrir a porta, ele procurou rapidamente pelo interruptor, sendo uma tarefa mais difícil do que imaginava que seria e decepcionante quando ao, finalmente achá-la, perceber que ela não funcionava. O cômodo era pequeno, mas permitia que duas longas prateleiras ocupassem o espaço, tornando a procura de mais difícil, como se não bastasse não haver luz.
Felizmente, pela porta de madeira escapavam feixes de luz que vinham do corredor. passou rapidamente pelo corredor, suas mãos deslizando impacientemente sobre as prateleiras à procura de algo pequeno o suficiente para ser uma bombinha. Por que, diabos, os meninos guardavam aquilo ali?
A porta da dispensa se abriu e, mesmo sem se virar, pensou que seria um dos garotos com a intenção de ajudá-lo. Alguns segundos depois da porta bater, ele escutou o interruptor sendo ligado, inutilmente.
– Droga – alguém praguejou.
congelou.
Ele seria capaz de reconhecer aquela voz mesmo naquele cômodo ligeiramente escuro. Era . No mesmo cômodo que ele, quase podia apalpar o cheiro doce que já emanava de sua pele e, automaticamente, prendeu a respiração na esperança de fugir do torpor.
– Quem está aí? – questionou, aproximando-se e fazendo-o soltar a respiração copiosamente.
– Sou eu – respondeu, hesitante pela reação da mulher. Ela parou e, embora estivesse escuro por estarem mais distantes da porta, ele sabia que o rosto dela estava vermelho. Sabia disso pelo resquício de raiva ainda em sua voz, sabia disso, pois quando ela estava chateada, seu rosto enrubescia e isso o afetava. Mesmo quando não a enxergava.
– O que você está fazendo aqui?
suspirou, compreendendo toda a situação. É óbvio que aquilo era armação.
– Deixa eu adivinhar. Bombinha?
– Droga! – bufou e levou aquilo como um sim.
Antes que tentassem entender o plano dos amigos, o barulho da fechadura ecoou pelo pequeno cômodo e, mesmo que soubessem o que aquilo significava, foram rapidamente até a porta na intuição vaga de abri-la.
Eles estavam trancados e os garotos riam do lado de fora.
– Filhos da puta! – berrou, insistindo na maçaneta. Agora, tendo o rosto dela mais visível pelos pequenos feixes de luz, ele contemplou o que imaginou. Maçãs do rosto avermelhadas, olhos inchados e o rosto pálido. Enquanto ela lutava, inutilmente, para abrir a porta, uma mecha de cabelo caiu sobre seu rosto. desejou poder esticar sua mão apenas alguns centímetros, apenas o suficiente para afastar os fios rebeldes e desfrutar novamente da textura de sua pele. Mas ele sabia que seu toque não seria recebido como algo agradável, então fechou os punhos, afastando esses pensamentos. – Abram essa porta, porra!
poderia agradecê-los por aproximá-lo de . Era, provavelmente, a melhor oportunidade que ele teria para fazê-la escutar o que ele tinha para dizer. Mas aquilo era errado, e ele enxergou isso quando viu o pânico no rosto de , como se ela estivesse presa com algum monstro. Desviou o olhar para a porta, repreendendo a si mesmo por se permitir sentir mágoa.
– Vocês precisam nos deixar sair – ele pediu aos garotos, sua voz firme não transparecendo nada além da calma.
– Não abriremos até que vocês digam um para o outro o que sentem! – anunciou sobre as risadas dos outros rapazes.
Eles teriam se olhado, talvez até encontrado nos olhos do outro que os rapazes estavam certos. Mas eles não o fizeram por mágoa e medo. Então, simultaneamente e despretensiosamente, ambos abaixaram o olhar.
– , você é um gênio! – gargalhou para o amigo.
– Isso tem que acabar – justificou, sorrindo orgulhoso para si mesmo enquanto trocava um high five com .
suspirou, sentando-se no chão ao concluir que a porta não seria aberta tão cedo. , pelo contrário, parecia disposta a quebrá-la a qualquer momento, mesmo sendo fisicamente e emocionalmente incapaz de partir uma madeira daquela ao meio.
– Vocês precisam de algo? – a voz de caçoou alta. – Água, comida, livros, uma camisinha?
O punho de se chocou contra a porta, fazendo , com o rosto levemente avermelhado, pular diante do barulho.
– Vá para o inferno!
– Isso é um sim? – indagou, falsamente confuso.
– Eu odeio vocês – ela retrucou, fazendo-os rir mais alto.
– Eu odeio o dia em que conheci vocês – murmurou mais para si mesmo do que para eles.
Inicialmente, parecia uma boa ideia, mas agora ele só queria fugir das palavras cortantes de . E ele odiava saber que estava preso a ela e odiava mais ainda saber que não era apenas aquela porta que os prendiam um ao outro.
– Isso é para ser, supostamente, sobre o que vocês sentem um pelo outro, não por nós – interviu.
– Quando eu sair daqui, diga adeus aos seus quadrinhos – guinchou para o amigo.
– Vocês complicam tanto! – exasperou do outro lado da porta. – Só digam o que sentem um pelo outro e deixaremos vocês irem.
Seria um ótimo acordo, se colocar o pedido em prática não fosse tão difícil. segurou firmemente a porta, encostando sua testa contra a madeira fria enquanto desejava poder sumir dali. Ela podia sentir os olhos quentes de sobre ela, sua respiração contra sua pele e seu toque, embora nada daquilo estivesse realmente acontecendo. Desejou arduamente que a porta fosse destrancada e ela pudesse fugir para o mais longe do rapaz sentado ao lado.
– Tudo bem – interrompeu o silêncio. – Voltamos depois para ver como vocês estão.
– Espera! – despertou, tentando chamar a atenção deles, embora eles fingissem não escutá-la. – Desgraçados.
Os rapazes já haviam ido, sobre risadas e, ao longe, jurou escutá-los falar sobre videogame.
– Merda – ele sussurrou. – Eles não vão voltar.
arfou, furiosa ao ouvir o que tinha dito. Ainda sem olhá-lo ou direcioná-lo a palavra, ela se apoiou contra a porta, se negando a sentar e se dar por vencida. Longos minutos de silêncio se passaram, tão longos que já eram incontáveis. Aquilo era uma tortura para , que estava tão inquieto no chão a fitá-la. Demorou um tempo razoável para que ele juntasse a coragem necessária para desfazer aquele silêncio, ainda incerto se era a escolha certa.
– Foi proposital – murmurou, sua voz rouca fazendo tremer contra a porta.
Ela estava disposta a lhe dar um tratamento de silêncio, de apenas fechar os olhos e fingir que ele não estava ali. Mas sua curiosidade era maior que seu orgulho.
– O que foi proposital? – fingiu indiferença.
– Ter ficado bêbado naquela festa – esclareceu, recebendo um olhar pasmo da mulher. A primeira vez que ela o olhava diretamente desde que ela saíra de seu apartamento e isso foi o suficiente para fazê-lo seguir em frente. – Você sabe que não sou do tipo que bebe muito, .
– Por quê? – ela perguntou simplesmente, a voz saindo afetada, largando a porta para se virar totalmente em direção ao rapaz, sentado agora à sua frente.
Ele sorriu, infeliz. Ela realmente não tinha noção do quanto o desconcertava.
– Porque foi a única forma que encontrei de parar de pensar tanto.
– O quê? – o rosto da mulher ficou, subitamente, avermelhado. Suas sobrancelhas franzidas e lábios apertados em uma linha tênue deixavam claro sua súbita raiva. – Você transou comigo de propósito!
a fitou, surpreso pela dedução que ela havia tomado. Seu silêncio, todavia, apenas aumentou a fúria nela.
– Como pôde?
– Eu não pude! – ele esbravejou, olhando-a firmemente. – Quando fui contra minha própria ética e enchi a cara, minha intenção não era te levar pra cama, droga!
se calou, embora sua cabeça estivesse cheias de perguntas. Ela respirava com dificuldade, seu sangue, aos poucos, voltando a circular pelo seu corpo normalmente. Quando ambos estavam mais calmos, prosseguiu:
– Eu queria que você me visse como vejo você e eu não conseguiria fazer isso sóbrio. Era para ser apenas uma conversa, mas quando acordei na manhã seguinte com seus berros...
suspirou, dando-se por vencida e sentando-se no chão, seu tornozelo em um contato suave com o tornozelo de . Eles estavam um de frente para o outro e eles sentiam aquilo, não apenas fisicamente. Ambos se fitavam, embora a falta de luz não os permitisse uma visão clara do rosto do outro.
– Você se arrependeu – ela concluiu, sentindo o peso de suas palavras sobre o ar, que eles respiravam tão ruidosamente.
– Como posso me arrepender pela melhor noite da minha vida? – ele sorriu fraco. – Meu único arrependimento daquele dia foi estar bêbado demais para me lembrar dos detalhes.
O rosto de enrubesceu fortemente, fazendo-a conter a vontade de esconder o rosto, usando a falta de luz como consolo. Mas, graças aos pequenos feixes de luz que entravam pela porta, contemplou a vermelhidão presente no rosto dela.
– Então por que você me disse que foi um erro? Por que pediu que eu esquecesse? – a confusão e dor claras na voz dela sendo o suficiente para fazê-lo abaixar o olhar.
– Eu estava confuso e... – ele prendeu a respiração diante da imagem que surgiu em sua mente. – Quando eu olhei para você naquela manhã, você parecia tão apavorada...
– Porque eu estava! – ela o interrompeu. – Eu havia acordado ao lado de um dos meus melhores amigos, como você esperava que eu reagisse?
– Eu não sei. Eu só sei que olhei para você e desejei que você esquecesse. Eu achei que seria melhor se achássemos que foi apenas um erro.
– Mas não foi melhor! – ela contestou, tentando chamar a atenção dos olhos, ainda baixos, do rapaz. – Não foi o melhor.
– Eu soube disso quando vi que estava te perdendo – ele murmurou em resposta, seus olhos ainda direcionados ao chão afligiam a mulher, que desejou pelos profundos olhos azuis de . – Uma semana sem você pareceu uma eternidade.
– Não foi uma semana – murmurou, fazendo-o revirar os olhos. – Eu estava fugindo de você – ela confessou, envergonhada ao se lembrar de todas as mudanças de hábitos que havia feito apenas para evitar encontrá-lo. Sua confissão a fez ganhar os olhos azuis de como recompensa. Um sorriso singelo e levemente bem humorado estava em seus lábios, ela estaria disposta a confidenciar mais confissões como aquela em troca de mais sorrisos como aquele.
– Eu sabia, por isso fui atrás de você – a lembrança de engatinhando entre as estantes da biblioteca a fez ficar mais vermelha, o que passou imperceptível pelos olhos abruptamente desatentos de . – Era para ser apenas uma conversa, resolveríamos tudo e decidiríamos o que fazer, mas de novo meus planos foram estragados.
– O que deu de errado? – ela questionou, curiosa para entender o que o fez mudar de ideia.
– Você. Você foi o que deu de errado.
engasgou com o ar, fitando-o incrédula.
– Eu?
– Durante aquela semana eu não consegui parar de pensar em você por um minuto sequer, eu tentei de todas as maneiras entender o porquê, mas quando te vi no batente da minha porta, me encarando com aquele olhar ansioso, de repente entendi – ele sorriu torto. – Eu já tinha experimentado o sentimento que era te ter, eu agi como um viciado estúpido. Eu não deveria ter feito aquela proposta.
– Eu aceitei – lembrou, calmamente, fazendo o sorriso no rosto de aumentar por um momento.
– E isso me surpreendeu mais do que se você tivesse me dado um tapa. apertou os dedos contra seu colo. O clima estava menos tenso e ambos podiam até sorrir diante das próprias lembranças, embora nem todas lhe agradassem em todas as perspectivas, mas agora ele havia chegado ao limite. Sabia que a partir dali, sua narração não receberia uma boa reação de , porque era dali em diante que tudo havia saído dos trilhos. Aquela era a parte da história que ambos se machucavam e o pior de tudo, que ele a machucava.
O sorriso no rosto de já não estava mais presente, tornando o ar subitamente difícil de se respirar, pelo menos para .
– Eu, mais que ninguém, deveria saber que as coisas não terminariam bem. Eu deveria saber – ele murmurou para si mesmo, mas o ambiente silencioso permitiu que o escutasse. – me avisou, mas eu queria tanto que desse certo, que só notei que havíamos pegado o caminho errado quando já estávamos no final dele.
– Como? – ela murmurou, uma resposta tão vaga, que qualquer resposta concreta lhe satisfaria.
– Era para ser apenas sobre sexo, . É disso que se trata amizade com benefícios – ele disse suavemente, seu rosto avermelhado, todavia, denunciando seu nervosismo. – Eu não deveria te querer cada vez mais, não deveria perder as rédeas da situação muito menos... – seus olhares se encontraram, a hesitação se dissipando ao ver a ansiedade no olhar dela. A mesma ansiedade que preenchiam os olhos de quando ele abriu a porta de seu apartamento. De repente, ele sentia alívio ao dizer: – Me apaixonar mais ainda por você.
Então como um flash de luz, se lembrou de quando ele havia dito que amava no auge do torpor que compartilhavam. Lembrou-se de tudo o que ele tinha dito no dia seguinte e da palavra “acabou” escapando dos lábios dele como uma sentença, como algo sem volta. E agora ali estava ele, dizendo pela segunda vez na mesma noite o que sentia por ela. Ouvir que ele a amava era tão bom, que ele queria poder gravar para poder escutar mais vezes. Mas a dor de ouvi-lo chamar a confissão de seus sentimentos por ela “um erro” era uma dor maior que qualquer felicidade que poderia lhe causar.
– E amanhã? Você dirá que hoje foi mais um erro? Que você estava bêbado ou fora de controle? – ela arqueou as sobrancelhas, fitando-o com uma mágoa tão afiada quanto uma faca.
– Não – ele disse calmamente, tentando não se afetar com as palavras de . – Eu não planejei estar trancado em uma dispensa com você, tentando nos fazer entender o que aconteceu ou a convencendo sobre meus sentimentos, mas aqui estou eu. Improvisando como ando fazendo desde que você tirou o controle da minha vida das minhas mãos, e eu me arrependo de muitas coisas que calculei, mas não me arrependo desse agora improvisado.
Os olhos de estavam marejados e ela agradeceu por seu rosto estar longe da visão de mas, como se a ouvisse, ele se aproximou vagarosamente e, quando perto o suficiente para visualizar as lágrimas no rosto de , suspirou. Um longo e profundo suspiro. Sua mão entrou em contato com a pele quente dela, tão natural quanto poderia ser e, então, limpou suas lágrimas. Durante um curto tempo, ambos aproveitaram do toque com saudades. Quando abriu os olhos novamente, ela pôde contemplar o rosto de . Os dois dividiam o mesmo feixe de luz.
– Você disse que me amava – murmurou, e ela não precisou explicar para que ele entendesse que ela se referia à noite da festa de Will. – Se é verdade, por que me afastou?
Aquela pergunta seria feita uma hora ou outra e sempre soube disso. Desde que as três palavras escaparam de sua boca, ele sabia que seria amaldiçoado por elas. Sabia que teria de travar uma batalha consigo mesmo quando a pergunta fosse feita, mas nunca pensou que seria dentro de uma dispensa.
Ele fechou os olhos e arfou antes de abri-los novamente para responder.
– Eu entrei em pânico! – confessou, fitando-a incessantemente. – Te amar é uma montanha russa, eu nunca sei o que vai acontecer e minha vida não é assim, . Você fez uma tremenda bagunça e eu tentei arrumar, mas depois do que aconteceu, eu notei que aquela bagunça faria parte de mim dali em diante, eu não tinha mais controle sobre nada.
Dizer aquilo em voz alta parecia soar como inúmeros palavrões. E lembrar-se de que, em seu último momento de controle – ou perda dele – ele havia a afastado, tornava tudo pior.
– Eu tentei te expulsar da minha vida. O que não havia notado ainda era que você é a minha vida. Sempre foi, desde o momento em que coloquei meus olhos sobre você.
sorriu, sentindo o aperto em seu peito se dissipar. Estavam próximos o suficiente para que um pudesse escutar e sentir a respiração do outro e, por alguns minutos, esse foi o único som audível. arqueou quando, para sua surpresa, os pequenos e gélidos dedos de alcançaram seu rosto. Um toque hesitante, mas reconfortante, tão bom que ele não pôde conter o peso que o obrigava a fechar os olhos, apenas para usufruir da eletricidade que saía do contato com a mulher. Suas pernas dobradas possibilitavam uma melhor aproximação, mas era o toque que compartilhavam que os unia naquele momento. Os dedos de contra o rosto relaxado de e os dedos dele faziam desenhos aleatórios nas fartas coxas de . Não era algo carnal, mas foi provavelmente o momento mais intenso que dividiram entre si. E estava tão submerso no próprio torpor, que quando os lábios doces de moldaram os seus, ele tremeu. Não esperava por aquilo e, ainda hesitante em machucá-la, ele permaneceu segurando suavemente a cintura da garota enquanto ela o tirava da abstinência. Não havia luxúria alguma naquele beijo, apenas um contato suave e significativo.
Quando se afastou, ela contemplou a vermelhidão no rosto do rapaz, que apenas sorriu debilmente para ela.
– Perder o controle, às vezes, é bom – murmurou, sorrindo com humor.
– Acho que posso me acostumar com isso – ele confidenciou, unindo suas testas, fazendo a maior proximidade permitir que sentissem cada respiração ou suspiro. E, naquele momento, os corações de ambos batiam no mesmo ritmo acelerado.
– Então me deixe ver se entendi – ela puxou o ar, sorrindo de forma feliz. – Isso tudo aconteceu apenas por que você era apaixonado por mim e não tinha coragem de me dizer?
O rubro intensificou-se nas bochechas do rapaz, fazendo-a rir.
– Sim.
– Você poderia ter apenas me convidado para tomar um café.
afastou-se, fazendo uma careta. Então, ambos riram até que o fôlego sumisse de seus pulmões. Uma risada que compartilhava o alívio e a descontração de tudo ter, finalmente, dado certo. Ambos haviam aberto mão de coisas importantes, como o orgulho para , ou o controle para , mas eles nunca se sentiram tão felizes estando completamente sem orgulho e sem controle.
– É um bom conselho, talvez eu use na próxima vez.
arqueou as sobrancelhas, deixando claro seu descontentamento ao comentário de , que sorriu ao tomar as mãos da mulher para beijá-las.
– Você gostaria de tomar um café comigo?
– Hum – ela fingiu pensar, ignorando a ardência no rosto e, sobre o olhar crítico do rapaz, deu-se por vencida com uma risada descontrolada. – Eu amaria.
Um sorriso largo apossou-se do rosto de e, ainda com os lábios próximos às mãos dela, ele soprou seus dedos finos com a intenção de esquentá-los. observou a forma como o rosto do rapaz ainda estava avermelhado, e pensar que sua presença ainda o deixava daquela forma, a fez sorrir para si mesma.
– Prometa que amanhã eu não serei um erro – ela pediu, sua voz insegura fazendo-o erguer os olhos para o rosto da mulher. Os lábios quentes e macios de ainda estavam contra sua mão, seu hálito quente esquentando a pele de seus dedos quando ele sorriu largamente, achando graça do medo de . Ele nunca mais a deixaria e, se ela fosse realmente um erro, ele estaria fardado a cometê-lo pelo resto de sua vida.
– Prometo, por todos os meus amanhãs.
FIM
Nota da autora: Ufa! Vou dizer a vocês, escrever essa fanfic foi um sufoco. Quem me conhece sabe que não me dou bem com prazos e sou a lerdeza em pessoa quando se trata de escrever mas estou extremamente orgulhosa comigo mesma, por ter conseguido finalizar essa história em um pouquinho mais de um mês. E, embora seja uma short, foram as 24 páginas escritas em tempo recorde em toda minha vida! HUAHAUHUAHUA Como é a minha primeira short no site eu ainda to meia desconfiada mas acho que no geral, gostei do resultado. E espero que vocês gostem também.
Um ENOME obrigada à Mel, por ter me mandado um email me convidado (confesso que quase pulei pela casa de felicidade pelo convite) e por ter aturado minhas perguntas chatas. Às meninas do site que são umas fofas e compartilharam os altos e baixos dessa corrida contra o tempo e um eterno pedido de desculpas à Carol, juro que as 24 páginas não foram de próposito e que eu tentei diminui-las! HAUHAUAHAUHAUAHUAHUAHUAHUA
Então não se esqueçam de comentar e de ler as outras fanfics que fazem parte desse especial maravilhoso <3
Um beijo e um queijo!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Um ENOME obrigada à Mel, por ter me mandado um email me convidado (confesso que quase pulei pela casa de felicidade pelo convite) e por ter aturado minhas perguntas chatas. Às meninas do site que são umas fofas e compartilharam os altos e baixos dessa corrida contra o tempo e um eterno pedido de desculpas à Carol, juro que as 24 páginas não foram de próposito e que eu tentei diminui-las! HAUHAUAHAUHAUAHUAHUAHUAHUA
Então não se esqueçam de comentar e de ler as outras fanfics que fazem parte desse especial maravilhoso <3
Um beijo e um queijo!
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