Capítulo Único
Even though it hurt, i should have loved a little more
I’ll laugh for only you, ill cry for only you
Daegu
2010
2010
E apesar de tudo ela estava ali. No final das contas, era a única a se importar verdadeiramente com ele naquela cidade, a única que o pediu, quase implorou, para ficar e a única que irá vê-lo partir. não era o tipo de homem que demonstrava emoções ou se apegava facilmente, nunca fora. Por isso sabia que seus sentimentos por eram os mais fortes e sinceros. Ele a amava, muito. Mas não o suficiente. Seu amor por ela não o faria ficar em Daegu.
O pior é que ela o entendia.
compreendia seus motivos e apesar de não aceitá-los muito bem, respeitava a decisão que ele tomou. precisava daquilo, ele precisava do reconhecimento, precisava provar a todos daquela cidade que ele sabia sim fazer música, que ele era capaz. Por esse motivo resolveu se mudar para Seul. Durante três anos, o rapaz juntou o dinheiro que precisava, trabalhando dia e noite em todo tipo de serviço, tudo que queria era um futuro na música e ele teria, esse sempre foi seu objetivo, só não contava que conheceria a garota da sua vida ainda em Daegu e que deixá-la fosse tão doloroso.
- Você sabe que pode vir comigo, não é? – Ele tentou convencê-la tantas vezes, mas ela declinou. sempre foi mais inteligente que ele.
- , eu sei disso. – Ela suspirou, tentando ao máximo controlar as lágrimas, as mãos pequenas acolheram o rosto magro do rapaz de 20 anos. – Mas você só tem dinheiro para se sustentar. A vida em Seul vai ser difícil e eu não quero ser um empecilho.
- Como se você fosse... – Ele bufou chateado. – Eu também não quero atrasar sua vida, ... Por isso, eu acho melhor nós terminarmos.
- Eu sabia que você ia me pedir isso. – As lágrimas finas já rolavam bochechas abaixo. Aquilo doía nele também. Ela fungou, limpando o rosto e tentando sorrir. – Tudo bem. Eu... Seus motivos... Eu quero entender…
- Eu não mereço você. – a abraçou, aconchegando-a em seus braços e apertando-a como se fosse a sua própria vida ali parada.
Ficaram assim por sabe-se lá quanto tempo, mas estava ficando tarde e , sem tempo. Um barulho alto avisou que logo o trem iria partir e eles deviam se separar. As lágrimas dela encharcaram a camiseta preferida dele. Suspirou e afastou a garota de si, empurrando-a levemente pelos ombros. Depois envolveu o rosto dela em suas mãos, limpando as lágrimas com os dedos. Abaixou a cabeça até que a fitasse diretamente nos olhos.
- Antes de eu ir eu preciso dizer isso. Eu preciso que você tenha certeza, , que eu amo você e sempre vou amar. – Havia aquele bolo em sua garganta, aquilo também era difícil para ele. – Mas eu não sei que tipo de vida vou ter em Seul e sei que você está certa sobre absolutamente tudo. Eu... Eu espero, , que você seja feliz caso eu não volte. Mas eu te prometo uma coisa. Se eu conseguir tudo o que eu quero eu juro que volto e se você ainda quiser, te levo comigo pra Seul.
- Como se você fosse lembrar de mim quando for famoso... – Ela revirou os olhos, rindo. – Se você conseguir e não voltar, eu irei atrás de você, .
Ele riu levemente, satisfeito por ter arrancado um mínimo sorriso dela antes de ir embora. Ele respirou fundo e sabia o que ia fazer. Beijou-a. Profundamente, como se aquele fosse o último, porque talvez fosse.
- Eu te amo. – Ela disse com a voz embargada, ele sorriu.
- Eu também.
E virou as costas sem olhar para trás uma vez sequer. agradeceu por isso, não queria que visse o que deixou para trás. Era melhor assim.
Seul
2016
2016
Ela sempre gostou do outono e das muitas coisas que ela amou na vida, a chegada daquela estação parecia ser a mais forte e significante. Junto às folhas amareladas e o clima frio vinham as inúmeras memórias dos diversos outonos que vivera ao lado de alguém especial. Para o outono sempre trazia um pouco dos anos que ela sempre jurou serem os melhores de sua vida. Suspirou pesadamente, perguntando-se quando ela finalmente conseguiria deixar aqueles sentimentos e lembranças no passado. Estava seguindo a sua vida e sabia que ele também.
Com as mãos nos bolsos entrou na pequena cafeteria de esquina em um bairro suburbano da capital. Gostava daquele ambiente e desde que se mudou para Seul, há 2 anos, acostumou-se a frequentar o lugar quase diariamente. Seu olhar recaiu no belo rapaz que geria o caixa. Como sempre, sorriu de forma amistosa para a moça, enquanto anotava o pedido quase de forma automática.
- Bom dia, , um Americano, certo? - Ele perguntou como se quisesse garantir sua certeza. A garota sorriu assentindo. - E o que vai comer?
- Depende.... O que você fez de bom esta manhã? - Ela respondeu com um sorriso travesso.
- Acho que vai gostar das panquecas de banana. - O rapaz falou, anotando em um pequeno pedaço de papel. - E como você é minha cliente mais fiel… Vou te dar a honra de experimentar um melado especial que preparei!
- Hey, , acho que não faz mais do que sua obrigação. - Ela sorriu convencida observando o amigo terminar o café que pedira. - Você mesmo disse, sou sua cliente mais fiel… E também a mais bonita!
- Poupe-me, . - O rapaz revirou os olhos antes de sorrir de canto. - Sabe muito bem que a minha beleza é mais do que suficiente para esse estabelecimento.
- Sua autoconfiança será sua ruína, . - A garota disse enquanto pegava o grande copo de café Americano que o rapaz colocou no balcão.
- Posso dizer o mesmo de você, . - O rapaz conclui com uma piscadela que fez a garota revirar os olhos.
- Estarei esperando as minhas panquecas na mesa de sempre, ok? - Ela disse antes de se virar.
Não ouviu a resposta resmungada do amigo, e até mesmo se esqueceu do que iria fazer e até de onde estava. No momento em que encontrou o par de olhos castanho tão familiares, sentiu todo o corpo gelar.
Daegu
2009
2009
- Hey! O que está fazendo?
Ela sempre se aproximava daquele jeito, barulhenta e destrambelhada, largando-se ao lado dele na cama já bagunçada demais. fitou a garota com uma cara irritada, ela não se importou, depois de três anos de namoro, estava mais do que acostumada com o gênio irritadiço de e, na verdade, ainda achava aquilo bastante fofo. Sorriu para o rapaz, um daqueles sorrisos que desestabilizava a mente de qualquer ser humano pensante. Ele não conseguia ficar irritado com ela e por isso se irritou mais, soltando um palavrão e tentando se concentrar no pedaço de papel rabiscado a sua frente.
- Vai me ignorar assim? - Ela fingiu estar chateada e se ajeitou na cama ao lado dele para espiar o que ele escrevia. Na verdade, sabia muito bem que ele estava compondo.
- Você está me atrapalhando, pra variar. - Ele respondeu, mal-humorado e ela fechou a cara, não deveria estar em um bom dia.
- Desculpe, então. - Ela sussurrou verdadeiramente chateada.
Deitou-se de barriga para cima na cama e cruzou os braços fechando os olhos. soube de imediato que ela estava com raiva e sorriu só porque sabia que ela não veria o quanto ele achava fofa sua expressão irritada. Ele parou por um momento, apoiando seu rosto na mão apenas para observá-la. Estavam juntos há tanto tempo e mesmo em meio a tantas brigas, discussões, idas e vindas e tudo mais que uma relação poderia ter, ela não perdeu nem por um segundo o brilho que ele viu desde o primeiro instante em que pôs os olhos nela.
Mordeu o lábio.
Ele tinha sorte por existir alguém no mundo capaz de amar seu gênio forte e mal-humorado como ela fazia e agradecia secretamente a Deus por aquilo todos os dias. Chegou mais perto do rosto dela analisando cada centímetro da pele, dos contornos, estava longe de ser perfeita, ele viu algumas acnes aqui e ali e os lábios dela estavam um tanto rachados. Ainda assim, era lindo, maravilhoso, como tudo naquela garota. Desceu o olhar. Ah sim… Gostava daquilo. Ela tinha um belo corpo. Um corpo de matar, ele diria. O rapaz se impressionava todos os dias com a perfeição e a suavidade de suas curvas, de suas faltas, de seus excessos. Amava cada pedacinho de pele, já havia explorado tudo e não se cansava do cheiro, da textura, do calor...
Riu baixinho.
- Yah! Vá trabalhar e pare de ficar olhando para minha cara, ou melhor, pros meus peitos. - Ouviu a voz dela soar preguiçosa, e voltou seu olhar para o dela, o sorriso brincalhão que ele tanto gostava.
- Fique calada. - Ele disse sorrindo e ela riu também.
O sorriso de era o que tinha de mais precioso no pequeno universo de , quando via a boca pequena do rapaz se abrir mostrando quase todos os dentes pequenos e brancos era como se todo o mundo sorrisse para também. Ficaram assim, se olhando, se analisando enquanto dividiam mais um momento de felicidade. Ela encantada por ter o namorado, apesar de rabugento, mais lindo de todo universo e ele admirado pela avalanche de sentimentos que só ela lhe podia ocasionar.
Repentinamente, viu um brilho passar pelos olhos de e ela soube que a música lhe veio a mente.
Logo ele se voltou inteiramente para o papel a sua frente, escrevendo várias e várias linhas com uma letra horrível e rápida. até tentou espiar, mas ao fazer apenas menção de se levantar recebeu um olhar quase mortal do namorado.
- Apenas fique parada. - Ele disse e deixou seu olhar se perder um pouco na namorada até que o sorriso lhe voltasse aos lábios.
Ele escrevia sem parar, cortava palavras, as substituía, mudava a ordem e intercalava sua escrita incessante com algumas olhadelas para a garota deitada imóvel ao seu lado. Em um dos momentos chegou até beijá-la rapidamente, e ela se permitiu rir em silêncio enquanto observava voltar ao trabalho. A tarde passou quase inteira e os dois sabiam que ela teria que ir embora em pouco tempo, ele terminou faltando mais ou menos uma hora para que ela tivesse que partir. Satisfeito, ele ergueu o papel até seus olhos e se sentiu permitida a sair da posição em que ficara por horas para olhar a mais nova obra prima de seu namorado.
Ela pegou a folha da mão do rapaz e se sentou para ler.
- Yah! - Ele reclamou um pouco, sempre ficava envergonhado quando ela lia algo que ele lhe escrevera. Ela não ouviu, continuou a ler enquanto continha o choro que vinha até a garganta e ali ficava preso.
Ao final ela sorriu.
- Vai ser seu maior sucesso. - Ela disse, lhe devolvendo a folha.
Ele sorriu de lado olhando para o que tinha escrito, provavelmente, a maior declaração de amor que escreveria em toda sua vida. Sentou-se na cama, apoiando as costas na cabeceira e observou a namorada se aproximar felinamente e sentar-se em seu colo, jogando os braços em volta de sua nuca.
- Como tem tanta certeza? - Ele perguntou, levando a mão até o rosto dela e contornando seus lábios com o polegar.
- Porque eu inspiro você. - Ela sorriu presunçosa.
Ele não teve nem como negar.
- Bom, Srta. Musa inspiradora do gênio , temos mais ou menos uma hora até você ter que voltar. - Deixou que a mão livre posicionasse no início das suas costas e deslizasse lentamente pela curva de seu corpo, se arrepiou. - O que quer fazer?
Ela sorriu de lado, brincalhona, maliciosa, e se inclinou para alcançar os lábios dele. não precisava de respostas.
Seul
2016
2016
estava irritado. Não que a condição estivesse muito distante de seu estado “normal” de espírito (ele sempre carregou o título de rabugento por onde passava), mas naquela manhã de outono, as coisas pareciam ter sido programadas minuciosamente para darem errado. A começar pela notícia de que teria que produzir boa parte da trilha sonora de um dorama. Ele sequer via televisão e o colocaram como coordenador principal do projeto. O que levava ao segundo motivo de seu mau-humor: odiava trabalhar em grupo.
Céus! Se o rapaz não conseguia lidar com as pessoas diariamente, quem dirá durante o seu precioso trabalho.
E para completar, a emissora que procurou por seus serviços fica localizada do outro lado da cidade, acabando com as chances do rapaz de dormir até mais tarde e ainda chegar a tempo para o serviço. Com uma reunião marcada para o fim da manhã, o rapaz acabou chegando duas horas mais cedo pela incessante encheção de saco de seu manager. O rapaz de boa cara e voz suave sempre sabia dar um jeito de fazê-lo funcionar sem sofrer as consequências de seu mau-humor, talvez por isso Park Jimin, eventualmente, se tornou o único capaz de controlar o gênio difícil do compositor a ponto de ser considerado o melhor amigo de .
Entretanto, nem toda a doçura e persuasão de Jimin foi capaz de livrar de ficar a beira de um ataque de nervos. Nesses casos, a única solução possível seria uma boa dose de café puro seguido de um cigarro, hábito que desenvolveu durante os anos na capital. Ao explorar a região em que estaria preso pelos próximos meses, o rapaz descobriu uma pequena cafeteria. O espaço era aconchegante e lembrava o clima de lar, algo do qual já havia perdido a noção. O cheiro de café fresco era inebriante como em nenhum outro lugar, ele achou o lugar inspirador. A música de fundo também era agradável. Ele sorriu levemente enquanto caminhava até o balcão.
Seus olhos recaíram a silhueta feminina logo a sua frente, não pode deixar de notar as curvas, o cabelo, o jeito familiar demais. Mas foi quando a voz soou em seus ouvidos que sentiu o coração falhar uma batida.
- Estarei esperando as minhas panquecas na mesa de sempre, ok? - Ela disse antes de se virar.
Desde que abrira os olhos naquela manhã, ele sentiu que o dia não seria comum, porém a última coisa que esperava era encontrar em uma cafeteria de bairro. Jamais imaginaria também que mesmo após tanto tempo ela estaria ainda mais deslumbrante do que se lembrava. O cabelo estava maior e mais cheio, as feições mais maduras, as curvas ainda firmes e perigosas. O olhar leve, doce e firme.
- …
Ele soprou o apelido e ela sentiu todo o seu corpo tremer. Há anos ela ouvia aquela voz apenas pelos fones de ouvido, sussurrando as palavras que ela sonhava em escutar ao vivo da boca do rapaz. A voz continuava a mesma, um pouco mais rouca talvez, mas ainda profunda e irritantemente atrativa, juntamente com o rosto do rapaz. Os olhos expressivos, os lábios separados e trêmulos. Ela podia dizer o quanto ele estava surpreso.
- Há quanto tempo, . - Ela disse, abaixando o olhar para o chão.
- Seis anos. - Ele disse com a certeza de quem contava os meses, os dias, as horas e até os segundos que se passaram desde a última vez que se viram.
- Como… tem passado? - Ela levantou o olhar, tomando coragem. - Não gostaria de se sentar um pouco… comigo?
A incerteza na voz dela o fez ponderar, mas sabia que não podia recusar aquela oportunidade.
- Claro…
- Hey, . Poderia levar um duplo americano para minha mesa também? - A moça se virou para o rapaz do balcão que assentiu com um pequeno sorriso.
Como sempre, ele estava a seguindo pelo lugar. sempre foi o tipo de garota a tomar a frente, fazer e acontecer, enquanto ele ficava na barra de sua saia como um cachorro perdido. Ela parecia ainda dominá-lo apenas andando. Seguiu-a até a mesa no canto mais isolado do lugar, mas que ficava perto de uma imensa janela que dava a visão parcial da rua e das pessoas que passavam.
- Você não esqueceu. - Foi a começar a conversa. - Do duplo americano, digo.
- Oh, claro… A única coisa que poderia aplacar o seu mau humor era um bom café. - Ela disse sorrindo e fitando as mãos. - Não acho que isso tenha mudado.
- Tem razão… Mas não era a única coisa a me acalmar… - O rapaz sorriu de canto como se lembrasse de algo. - Mas o que faz em Seul?
- Eu me mudei há dois anos, depois que terminei a faculdade em Daegu. Fui contratada como roteirista em uma emissora de TV, ajudo a escrever capítulos de algumas novelas, mas estou apenas começando…
- Uau, ! Isso é ótimo… Quero dizer, o seu grande sonho sempre foi se tornar escritora. - se sentiu genuinamente feliz pela garota, mas não deixou de notar uma ponta de melancolia em seu olhar.
- Sim, eu gosto muito de escrever alguns roteiros… Mas não é o que achei que fosse ser… Algo complicado demais para ser debatido agora. - Ela suspirou pesadamente antes de abrir um sorriso.
Com um timing perfeito, chegou com os pedidos e conseguiu dar aquele assunto tão delicado para ela como encerrado. Seu trabalho em Seul estava bem distante dos seus sonhos, mas não queria jogar tudo aquilo no colo de . Sequer sabia se tinham intimidade o bastante para isso… Um tanto perdida em seus pensamentos, quase não notou a música que começara a tocar no local.
Quando se deu conta dos primeiros acordes tão familiares de The muse of a genius, ela subiu o olhar.
“Droga !” Ela pensou.
- É sempre um pouco constrangedor quando uma das minhas músicas começa a tocar em alguns lugares… - O rapaz disse, provando um pouco do café.
- Suas músicas são excelentes, . Não há motivo para se sentir assim… Além do mais, eu disse que ela seria seu maior sucesso.
pensou novamente o quanto o universo poderia odiá-lo. Reencontrar o amor de sua vida anos após praticamente tê-la abandonado ao som da maior declaração de amor que ele já dedicou a alguém. Só poderia ser uma cena de filme sem graça onde o protagonista está fadado aos desencontros.
- Eu… Te acompanhei, . - Ela começou, tomando um pouco de fôlego e coragem para encará-lo propriamente. - Quero dizer, eu ouço suas músicas, você na voz de outros cantores… Até mesmo ganhou um prêmio como produtor musical… Estou tão orgulhosa de você!
- Obrigado, … Isso significa muito para mim.
- Eu sei.
Por algum motivo, a partir dali a conversa passou a fluir quase naturalmente. parecia realmente interessada no trabalho do ex-namorado e não parava de questionar sobre suas novas músicas. Ele também não deixou de questioná-la sobre os cincos anos que passaram. Perguntou sobre a faculdade, sobre Daegu, sobre os pais dela. Ela também quis saber sobre os pais dele, se ainda mantinham contato. Confidenciou que eles a procuraram logo depois do lançamento de seu primeiro sucesso. Contou ainda que boa parte da vizinhança a atormentou por um autógrafo do grande produtor de Daegu entre outras coisas. De repente, estavam presos em um papo nostálgico e divertido ao se lembrarem dos anos que passaram juntos.
- Você lembra quando a Sulli deu em cima do Taehyung com aquela ex-namorada insuportável dele do lado? - perguntou com animação.
- Impossível esquecer o Tae tentando separar as meninas e apanhando das duas no final.
- Ele terminou com aquela insuportável três dias depois e… Céus! Eu estou muito atrasada! - A garota constatou quando olhou o celular de relance. - Eu tenho uma reunião em exatos 10 minutos. Tenho que ir .
Como sempre, o jeito estabanado da garota tomou conta. O rapaz apenas conseguiu observá-la juntar as coisas rapidamente e sempre deixando algo cair. Ouviu os xingamentos baixos que ela murmurava e não deixou de sorrir um segundo sequer.
- Hey! Quando vou poder te ver de novo? - quase gritou quando percebeu que a garota já estava se afastado. Ele a viu morder o lábio, ponderando.
- Estou aqui todos os dias de manhã! - ela gritou de volta antes de sair correndo porta a fora deixando um vazio, mas ao mesmo tempo esperançoso. Nunca tentou se enganar, o rapaz sabia plenamente que jamais deixou de amar aquela mulher. Vendo-a e conversando com ela apenas tornou tudo mais claro. Talvez o universo não estivesse tão ruim assim, talvez aquela era a chance pelo qual ele sempre clamou a todas as divindades amorosas (e não amorosas) que conhecia.
Talvez.
Daegu
2008
2008
Ele estava atrasado.
A garota suspirou impaciente se perguntando porque, diabos, tinha um namorado que simplesmente nunca conseguia chegar no horário. Claro, ela entendia que tinha problemas com os pais que o prendiam demais em casa e regulavam cada passo do garoto temendo que ele se aventurasse demais no mundo da música e nunca mais voltasse a focar no que “realmente importava”. Mas ela não conseguia evitar em se irritar quando estava sozinha na porta do cinema com a sessão de cinema praticamente perdida no dia de seu aniversário.
Dez minutos depois do filme começar, apareceu. O rosto vermelho e suado, além da respiração ofegante denunciavam que ele veio correndo. Ao fitar o rosto da namorada, ele sabia que estava encrencado.
- Nós perdemos o filme não é? - Ele perguntou com cautela.
- Sim, , nós perdemos o filme. - Ela respondeu tentando controlar a raiva que lhe subia a cabeça, respirou fundo. - O que houve dessa vez?
- Eu precisava terminar uma canção, mas meu pai sempre batia na porta quando ouvia alguma coisa. Você sabe como ele fica quando o assunto é a música… - O rapaz tentou se justificar, mas apenas viu a namorada revirar os olhos em frustração e raiva. Ainda assim, ela parecia a mulher mais linda do mundo.
- Tudo bem, eu entendi, vamos para outro lugar… - Ela disse com pesar.
suspirou fundo, mais uma vez havia decepcionado a garota que amava. Enquanto ela se virava para sair do local, sentiu a mão do rapaz fechar em um de seus ombros, ela parou, mas não fez questão de olhá-lo. Ele desceu o tato para o braço e deslizou a mão até que ela se entrelaçasse com a da menina.
- Hey, , não fique assim. - Ele sussurrou sentindo um pouco de culpa. Ainda mais porque sabia que logo ela se esqueceria de mais uma de suas mancadas e voltaria ao normal como se ele jamais tivesse pisado na bola com ela. - Olhe para mim, por favor. - Ele disse enquanto enfiava a outra mão no bolso. A garota lentamente se virou e quando finalmente levantou olhar se deparou com um colar simples de ouro com um pingente de piano pendurado na ponta. Sabia que aquilo deveria ter custado uma pequena fortuna para o namorado e logo se arrependeu de ficar tão brava.
- Céus! … - Ela pegou o colar entre os dedos, admirando. - Isso deve ter custado tanto…
- Desculpa não poder te dar algo melhor, . Mas queria que lembrasse de mim nesses momentos que estou longe. - Ele murmurou envergonhado, não estava acostumado a dizer palavras bonitas e emotivas daquela forma. No entanto, valia a pena se o que ganhasse em troca o sorriso radiante da namorada.
- Eu amei! - Os braços curtos da menina avançaram sobre o rapaz, enlaçando-o pelo pescoço. Sem saída, respondeu abraçando sua cintura. - Apesar de que não preciso de um colar para ficar pensando em você.
Ele riu envergonhado e deixou seu rosto se afundar ainda mais na curva do pescoço dela. Talvez não soubesse ainda, mas aquilo era imensamente recíproco. O mundo de parecia girar em torno dela e da música, músicas sobre ela. A sua musa.
- Feliz aniversário, .
Seul
2016
2016
- Hey, você ficou segurando esse colar o dia todo hoje. - ouviu uma voz masculina lhe despertar dos devaneios. - Você nunca o tira, mas sempre o escondeu debaixo dessas roupas. É de alguém especial?
- Oh! Sim, desculpe… - Ela riu sem graça e fitou o pequeno pingente que enfeitava o colo. - Alguém me deu há muito tempo.
- Yah, você sabe que pode me falar sobre essas coisas, afinal, sou seu namorado, . - Pela primeira vez a garota fitou o rosto belo de desde o início daquela conversa e sentiu o estômago revirar com a sensação de traição que lhe percorreu.
- Não é de ninguém importante, não se preocupe. - Ela forçou um sorriso. - Está com ciúmes?
- Confesso que poderia estar já que a minha linda namorada resolveu prestar mais atenção nesse colar enquanto trabalhei inteiro ao seu lado. - Ele respondeu brincalhão, o tom irônico do rapaz arrancou uma risada baixa da escritora.
Song foi a primeira pessoa a falar com ela na empresa. Também era um dos redatores contratados para escreverem cenas de alguns doramas produzidos ali, por isso, trabalhavam lado a lado. Em geral, ela se encarregava dos diálogos mais perspicazes do enredo, e ele das cenas de ação. Não demorou para que os dois ficassem amigos e quando a chamou para sair, viu uma boa oportunidade de tentar algo diferente. Estão juntos há um ano e ela não podia reclamar. Ficavam lado a lado o dia todo, ele era educado, inteligente e engraçado.
Mas ainda assim faltava algo que ela insistia em ignorar.
- Hey! Casal! - Um dos funcionários chamou-lhes a atenção. - Estão chamando todos os redatores para a sala de reunião, parece que vão conhecer o famigerado gênio da música que irá produzir a trilha sonora do novo trabalho de vocês.
havia ouvido falar daquilo, um gênio da produção musical da atualidade tinha sido contratado para fazer parte da equipe por algum tempo, mas resolveram manter surpresa até que fechasse de vez o contrato. Ela estava curiosa, pois sabia bem que teriam que trabalhar juntos na maior parte do tempo. Como responsável por boa parte das cenas dramáticas, sempre dava seus pitacos nas trilhas que acompanhavam seus roteiros.
Ela e caminhavam lado a lado nos corredores, trocando conversas e até arriscando nomes de produtores famosos.
- Você sabe, Jaeho fez trilhas muito boas para The Musician, talvez tenham conseguido ele. - Ela disse ao namorado.
- Sim, mas por algum motivo acho que não é alguém necessariamente especialista em trilhas sonoras. Pode ser um produtor musical de outro estilo… Rock, jazz...- O rapaz ponderou.
Poderia ter pensado em todos os nomes do mundo. Mas jamais teria acertado o que estava bem na sua frente. Ela não soube esconder o choque ao ver ninguém mais, ninguém menos que sentado na ponta da mesa da sala de reuniões, ao seu lado, um belo rapaz loiro sorria enquanto conversava com o diretor geral do projeto. Seus ouvidos já não captavam as palavras de , estavam surdos, assim como seus olhos só podiam ver o ex-namorado que, quando percebeu sua presença, pareceu tão surpreso quanto.
- ! ! - O diretor disse, indo de encontro ao casal de roteiristas. - Que bom que chegaram! Quero lhes apresentar o nosso novo produtor musical: ! Vocês já devem conhecer o trabalho dele...
- Uau! - interrompeu o chefe, indo até o rapaz que estava sentado. Sentindo-se um tanto desconfortável, se levantou para apertar a mão do roteirista. Aquela cena fez o estômago de se revirar. - Eu adoro suas músicas, cara!
- Fico grato pelo reconhecimento… - A voz do rapaz era baixa e ele se controlava para não fitar diretamente a garota que estava petrificada na porta.
- Vem, , não vai cumprimentá-lo? - Ouviu seu chefe dizer.
Oh, sim! Claro. - Ela respondeu, tentando espantar os pensamentos ruins da cabeça. Caminhou até o rapaz sem saber o que dizer.
- Hey, quando contou que era roteirista jamais poderia imaginar que era desta empresa. - sorriu e ela entrou em desespero.
- Eu também não imaginei que você era o produtor genial que todos estavam comentando…
- Espera! Vocês se conhecem? - perguntou surpreso, o sorriso no rosto do rapaz era enorme. Ela sequer sabia que conhecia as músicas de . - Como assim minha própria namorada não conta que conhece um dos melhores produtores musicais da atualidade?!
Namorada.
Namorada.
Namorada.
Aquela palavra soou como um soco para e o desespero no olhar de se tornou compreensível. Claro, uma mulher linda e especial, como ela estaria sozinha? Como ele foi idiota em pensar que aquele encontro de mais cedo poderia ser uma providência divina para que ele finalmente pudesse se redimir com a mulher que sempre amou? Era mesmo um idiota.
- Nós… - Ela tentou explicar, mas foi cortada pela voz grossa e rouca de . Ela ainda o conhecia bem o bastante para saber o quão bravo e decepcionado ele estava apenas pelo tom no qual falava.
- Nós nos conhecemos no colégio, crescemos na mesma vizinha em Daegu e por acaso nos encontramos essa manhã. - Ele disse seriamente. De todo o modo, aquilo era a mais pura verdade. - É muito bom conhecer vocês, mas eu tenho que me retirar por alguns instantes…
Sem pensar muito saiu da sala a passos rápidos, deixando todos completamente atônitos.
- Acho que ele não está passando muito bem… - Foi a primeira desculpa que pensou. - É melhor eu ir checar.
E sendo a mulher impulsiva que era, foi atrás do rapaz pelos corredores. Quando o alcançou estavam perto do elevador. Ela nem esperou que ele dissesse alguma coisa, apenas o pegou pela mão e o arrastou para dentro. Desesperado e estressado, ele apertou o botão do térreo, queria sair daquele prédio o mais rápido possível. Como uma criança mimada, ela apertou todos os botões como estratégia para mantê-los mais tempo ali.
- O que está fazendo, ?! - Ele esbravejou.
- Eu só quero conversar. - A respiração pesada do rapaz denunciava que não estava bem, ela sabia. Em geral não conseguia lidar com situações de pressão e emoções intensas demais sem sentir sintomas físicos daquilo.
- Acho que não temos nada para conversar… Quero dizer, não temos mais nada um com outro, você está namorando e…
- Então por que está agindo dessa forma?! Por que está agindo como eu estivesse errada?! - Ela gritou de volta completamente irada pelo comportamento do rapaz. Quem era ele para fazê-la se sentir daquele jeito?! Como se estivesse o traindo? Por que diabos ainda mexia tanto com ela?
O rapaz não soube responder ou não teve coragem o bastante. Ele sabia que não tinha o direito, sabia que deveria ter superado aquele amor há muito tempo. Mas o que ele poderia fazer se apenas aquela conversa na parte da manhã foi capaz de reacender a chama do amor que ele havia jurado ter apagado de si? Mais uma vez tentou fugir quando as portas se abriram para um dos andares que ela havia selecionado. conseguiu impedi-lo colocando-se a frente dele.
- Para de fugir, droga! - Ela disse.
- O que quer que eu faça, então? - Ele soltou em um suspiro. - Quer que eu fique feliz por você ter me superado, o que dê os parabéns para o seu namorado já que ele conseguiu o que eu não fui capaz de fazer? Eu não consigo, …
- Não é isso que eu quero! Quero apenas que pare de fugir, porra! Nós somos adultos agora, eu não sou mais a sua namorada, mas temos que trabalhar juntos independente de tudo… Independente da onda de sentimentos que isso nos causa…
Ela fala no plural, ele percebeu.
- Droga, ! - Ele abaixou a cabeça e sorriu com melancolia. - Você tem sempre que estar certa…
- Faz parte do meu trabalho… - Ela respondeu com o mesmo sorriso triste. - Você é um idiota, , e sei que será quase impossível trabalhar com você, mas espero que fique tudo bem entre nós…
- É… Eu também.
Não ficou.
Daegu
2007
2007
- Yah, , isso não é ilegal? - Ela tentou dizer enquanto corria atrás do rapaz. Estavam entrando em uma propriedade abandonada da região, ele tinha uma sacola com três latinhas de cerveja pendurada em um dos braços ao qual ela não tinha ideia como conseguiu. Tinham dezessete anos e estavam completando o ensino médio, aquilo poderia gerar sérios problemas a eles.
- Por que seria? A casa não é de ninguém, então não tem problema se usarmos o espaço um pouquinho… - Ele respondeu, forçando a porta dos fundos para abrir.
A garota suspirou, sequer se lembrado do motivo absurdo que havia trazido ela àquele lugar medonho. Oh, claro, seu amor praticamente cego por e a sua incapacidade de lhe dizer não. Aquilo ainda seria a ruína da garota. Com a luz de uma pequena lanterna, achou as escadas que davam para o segundo andar. Aquela casa tinha a melhor vista do céu de Daegu que ele teve o prazer de conhecer e queria que experimentasse aquilo uma vez. Subiram cuidadosamente e logo a guiou para uma espécie de quarto com varanda de onde podia ver toda a cidade.
- Uau! É incrível! - Ela disse ao se deparar com a imensidão de luzes e formas que a noite proporcionava.
- Com certeza… Fico feliz que tenha gostado. - Ele se sentou no chão e ela o seguiu, logo o rapaz pegou duas das cervejas da sacola, entregou uma a garota e abriu a outra. - Sei que estava se sentindo mal ultimamente, o que houve?
Ela engoliu seco e abriu um sorriso triste.
- Meus pais não apoiam o meu sonho de ser escritora… Querem que eu faça direito ou qualquer outro curso que dê possibilidades mais rentáveis no futuro…
Um breve silêncio pairou e ela podia ouvir os goles que o rapaz dava na cerveja.
- Eu sei muito bem como é… - O tom de voz do rapaz era melancólico apesar da pequena risada que ele soltou no final. - Eu queria ser músico. Sabe, é a minha vocação… Mas meus pais acham uma perda de tempo, já chegaram a dizer que o maior erro deles foi ter me colocado na aula de piano…
- Eu sinto muito, …
- Não sinta, . Apesar disso, ainda escrevo algumas coisas, alguns sons… Quero dizer, não é nada muito bom, mas me ajuda a extravasar de tudo.
- Eu também tenho alguns rascunhos. Histórias curtas, personagens…
- Deveria me deixar ler algo seu um dia desses. - Ele disse, fitando o rosto da garota com um sorriso. Ela sentiu como se o mundo tivesse parado de girar apenas para contemplar a beleza do rapaz.
- Você também… Deveria me mostrar uma de suas músicas…
O silêncio voltou a reinar e finalmente a garota conseguiu prestar atenção em algo que não fosse o rapaz ao seu lado. Observou a movimentação da cidade dali de cima, as luzes, os prédios, as casas, seus formatos. Ela saboreava a cerveja com satisfação, agora entendia porque os adultos gostavam tanto daquilo, tinha o gosto amargo da liberdade.
- Hey, . - Ela o chamou e espero que o olhar dele se trancasse no dela, o rapaz já bebia a latinha extra que levaram. - Vamos fazer uma promessa. Aconteça o que acontecer, não vamos desistir dos nossos sonhos! Eu vou ser uma escritora e vender vários livros e você vai se um produtor musical de muito sucesso! O que acha?
- Seria maravilhoso, … - Ele disse, sorrindo com tristeza. - E como podemos selar essa promessa?
Ela pensou um pouco antes de levantar o mindinho e sugerir o jeito tradicional.
- Acho que tenho uma ideia melhor… - sorriu de lado, agarrando o mindinho da garota e abaixando-o levemente.
o fitou com confusão quando ele se aproximou, mas logo sentiu os lábios do rapaz sob os seus e não teve escolha a não ser se perder nos braços de .
Seul
2016
2016
As primeiras semanas de trabalho foram um verdadeiro inferno. Para começar, era extremamente perfeccionista e pediu para ler tudo o que estava pronto do roteiro com antecedência, como não podia ser diferente, ele fez comentários desconfortáveis sobre algumas cenas, em especial, àquelas que ela deveria estar encarregada. Dizia que não conseguia sentir bem a expressão e as emoções dos personagens para criar as canções perfeitas, e ela se sentiu pessoalmente atacada pelas críticas. Para completar, tinha se tornado o maior baba-ovo de e fazia tudo o que ele queria. Ela estava de saco cheio daquilo tudo.
- Yah! , será que pode prestar um pouco mais de atenção no que estou dizendo? - Ouviu a voz grossa e entediada de lhe chamar a atenção. Ela revirou os olhos.
- Pode dizer, estou ouvindo.
- Não… Não está! Na verdade, acho que não ouviu nada do que eu disse nos últimos três dias! O que está acontecendo com você, ?
Ela ficou calada. Não queria ser obrigada a responder que ele estava lhe tirando o sono, que todos os dias o cheiro dele se impregnava em suas narinas e jamais sumia. Que havia semanas que ela e não trocavam um beijo sequer e o pensamento ainda a causava um mal estar horrendo. Não podia dizer isso a ele, então optou por ficar quieta e apenas balançar a cabeça negativamente. Ouviu o rapaz suspirar cansado.
- Ok, não vai ter jeito. Chega disso por hoje. - Ele disse e ela assentiu, arrumando os papéis de seu roteiro espalhados na pequena mesa de escritório que arranjaram para os dois. - Mas quero que vá a um lugar comigo hoje.
- Para que? Seria melhor terminar essas coisas… - Ela questionou, mas o rapaz estava determinado.
- Você vai ver, vamos ver se você consegue melhorar seja lá o que estiver acontecendo com você.
A garota bufou insatisfeita, mas acabou aceitando. Estava tarde e já era noite quando ele pediu que a esperasse ali na sala para que pudessem sair. Demorou um pouco mais que 15 minutos para o rapaz aparecer com uma sacola estranha pendura nos braços, ele nem chegou a entrar na saleta novamente, apenas pediu que a garota o seguisse. Eles andaram pelos corredores vazios até um dos elevadores e quando entraram, ficou surpresa ao notar pressionando o botão para o último andar. As portas se abriram para um lugar que ela nunca tinha visitado mesmo após dois anos trabalhando naquela empresa. Era uma espécie de terraço decorado do prédio. Um espaço aberto onde era possível ver todo o bairro onde estavam e um pouco além. O céu escuro também completava a paisagem com as poucas estrelas que não eram ofuscadas pelas luzes intensas demais da cidade. viu sentar em um dos bancos vazios e acabou por segui-lo. Ele tirou duas latinhas de cerveja de dentro da sacola e a estendeu uma delas. Em silêncio ela aceitou e o acompanhou enquanto abriram a lata. Após alguns goles, finalmente o rapaz quebrou o silêncio.
- O que está acontecendo, ? Seu roteiro… Suas palavras… Não é o que eu estava acostumado a ler, aquilo não é você. - Ele destilou fazendo com que a garota prendesse a respiração. - Eu sei que você não está feliz com o seu trabalho, posso sentir nas suas palavras, no seu texto.
Ela quis beber todo o conteúdo da latinha de uma só vez, mas se segurou tomando apenas alguns goles antes de respondê-lo.
- Não era isso que eu queria para mim quando enfrentei meus pais e decidi me formar em letras. Queria ser escritora de livros, não apenas escrever umas cenas românticas típicas de dorama. Eu quero mais … - Ela finalmente falou, aquilo que estava trancado ao seu coração desde o momento que entrou na empresa. - Não é que eu não goste do que faço, mas me desespera saber que a única possibilidade de eu expressar o meu trabalho seja através desses roteiros quase prontos. Aqui seguimos ordens do diretor, da roteirista principal e até de parceiros econômicos para sair uma história que seja possível de ser transmitida com tranquilidade na televisão. Não era isso o que queria...
Ele apenas assentia ouvindo todas as reclamações da garota. Quando ela terminou ouviu um suspiro de pesar.
- Você não precisa ficar presa a isso, Você sabe.
Ela sabia o que ele queria dizer. Liberta-se das amarras da própria profissão para criar algo inteiramente dela. riu, chacoalhando os ombros.
- No final, apenas você manteve a sua promessa.
- Não diga isso, você ainda tem tempo. Tempo e talento, . Eu sei que você consegue. - Ele fitou a garota e sorriu.
sentiu o tempo parar, as lágrimas desceram uma por uma pelos olhos da garota. Pela primeira vez em muito tempo ela sentiu que nem tudo estava perdido e mais do que isso, ela teve certeza que não haveria como escapar mais. Continuava perdidamente apaixonada pelo homem ao seu lado.
- Obrigada, .
Após aquele dia, as discussões e brigas acabaram. Por algum motivo, ela e estavam se dando tão bem que pareciam o jovem casal de antes. Perdiam horas conversando sobre a vida e debatendo cada detalhe do roteiro. Trocavam funções enquanto ele escrevia alguns dos diálogos e ela arriscava alguns versos das canções. O projeto parecia estar indo de vento em poupa e eles se divertiam mais do que nunca. O único que não estava gostando muito daquele novo clima de trabalho era .
- O que acha desse diálogo, ? - Ela perguntou estendendo uma das folhas de papel. Esperou o rapaz ler com calma e apenas apreciou o sorriso que passou pelos lábios finos.
- Está ótimo, ! Era exatamente disso que eu estava falando, a dor do protagonista que está cansado de ver a amada fugindo dele e dos sentimentos de ambos!
Ela sorriu como se tivesse ganhado o melhor dos presentes e acenou com a cabeça. Ela estava prestes a acrescentar algumas palavras ao roteiro quando viu a porta da sala se escancarar. estava possesso.
- , precisamos conversar. - Ele disse, se dirigindo a garota para agarrá-la pelo braço, mas foi impedido por .
- Hey, o que acha que está fazendo no meio do trabalho?! Além disso, nem pense em tocá-la estando com tanta raiva.
- E você vai fazer o quê? Ela é minha namorada, cara! Goste você ou não! E quero conversar com a MINHA namorada agora!
- Yah ! Eu não sei o que fiz, mas eu não vou a lugar nenhum com você enquanto você não se acalmar!
- Vai ser assim então? Ok! Então vou dizer tudo aqui mesmo! - A essa altura boa parte da empresa acompanhava a cena. - Por que não me disse que você e esse cara namoraram por anos?! É por isso que estão tão amigos agora? Por que estão transando novamente?
mal teve tempo de raciocinar o que estava acontecendo, apenas viu desferir um soco em e logo a confusão estava armada. Não se lembrava de ter visto o produtor musical tão irado mesmo em seus anos de namoro.
- Eu jamais vou permitir que você fale dela desse jeito! O que eu e tivemos no passado não é do seu interesse e você deveria ficar feliz por ter alguém como ela ao seu lado!
- Não mais… - A garota estava chorando, sentia-se humilhada e exposta. - Nós terminamos aqui, ! Eu não vou deixar que alguém como você fale dessa forma comigo, ainda mais depois de todos os recentes rumores de você e uma das meninas do RH. Ou você acha que isso não chegaria até mim? Quem é você para me cobrar respostas? Eu confiei em você mesmo com todos esses rumores e quando você descobre de uma relação passada você surta? Não mesmo!
Àquela altura, todo o andar havia se aproximado para ver a confusão. Não demorou muito para o diretor geral aparecer para aplacar a cena protagonizada pelo triângulo amoroso mais improvável que ele poderia pensar. Se não fossem os rumores, jamais teria desconfiado da relação entre e , muito menos que eles se envolveriam em um escândalo dentro da empresa.
- Já chega! - O diretor gritou assim que viu um derrubado no chão, um ofegante e enraivecido e uma perdida em lágrimas. - Vocês três estão dispensados por hoje, vão para casa e resolvam seus assuntos longe daqui!
Não precisou de muito, pegou o máximo de seus pertences e correu porta a fora com ao seu encalço. O rapaz não se importava com os olhares ou julgamentos por onde passavam, apenas queria a chance de abraçá-la e confortá-la ainda que não se achasse no direito de fazê-lo. Seguiu a garota até o lado de fora do prédio onde ele já não queria mais se conter. Tomando um pouco mais de fôlego alcançou-a até ficar próximo o bastante para impedi-la de correr mais.
- Hey, , me espere. - Ele gritou, tentando fazer com que a garota parasse.
- Eu só quero sair daqui, .
Os olhos vermelhos e inchados da garota faziam a raiva, o desespero e a adrenalina correm ainda mais fortes pelas suas veias. Ele assentiu sem saber até que ponto poderia ajudá-la. Por isso, resolveu levá-la ao único amigo que conhecia.
a recebeu de braços abertos na cafeteria e a levou para dentro da cozinha. não se atreveu a segui-la desta vez, sabia que estava em boas mãos e que provavelmente não seria a melhor hora para conversarem.
Deixou o local aos suspiros perdidos e com uma ponta de esperança de que pudessem resolver tudo no dia seguinte.
- Eu sinto muito, , mas ela pediu demissão pouco antes de você chegar.
estava em choque. Após a confusão, os três foram orientados a ficar alguns dias longe do trabalho. A empresa estava uma bagunça e a última coisa que os diretores queriam era que a produção caísse por causa de escândalos amorosos melhores do que os roteiros que estavam sendo trabalhados ali. Nesses poucos dias, apenas se atreveu a procurar para perguntar como a garota estava.
- Ela ainda está processando tudo, mas sabe que você não tem culpa de nada. - O dono da cafeteria disse com um sorriso triste. - Hey, não se preocupe, ela vai ficar bem…
As palavras de não pareciam ter convencido o rapaz, mas resolveu não insistir. achou que eventualmente se encontrariam de novo no trabalho e ele usaria a oportunidade para falar todas as coisas que assombraram sua mente nas últimas semanas. Ele estava pronto para pedir perdão a ela pelos anos perdidos, por não terem dado uma chance ao relacionamento à distância, por nunca a ter esquecido quando jurou que superaria aquele amor. Estava pronto para contar a ela do que sentiu ao vê-la novamente, de quanto amou que ela não havia mudado tanto, mas ainda assim estava diferente.
Estava pronto para pedir uma chance a ela. Uma vez mais ele queria tentar fazê-la feliz.
- Ela disse o que ia fazer quando saísse daqui? - O rapaz perguntou ao diretor da emissora que apenas balançou a cabeça negativamente.
- Só disse que tinha uma promessa a cumprir e que, depois de tudo o que aconteceu aqui, não achava correto que ela permanecesse. Não posso culpá-la, é uma perda enorme para os roteiristas, mas odiaria trabalhar aqui após toda essa confusão. - Ele respondeu e sentiu uma pontada de esperança. Uma promessa. Se ele estivesse certo… Tinha que achá-la.
- Tudo bem, eu também entendo. Muito obrigado, diretor.
- Se houver algo em que eu possa ajudá-lo…
- Apenas avise a equipe de produção musical que estarei ausente pelo resto do dia.
E mais uma vez o rapaz saiu às pressas do prédio.
Não foi muito longe, ele sabia que apenas seria capaz de dar a ele a informação que queria. Quando entrou no lugar, parecia estar o esperando.
- Yah! Achei que nunca viria! - Ele disse já tirando um papel de debaixo do balcão. - Esse é o endereço dela, aquela maluca quer voltar para Daegu, ela acha que só assim vai conseguir cumprir a promessa que vocês fizeram. Ontem quando fui visitá-la, ela estava fazendo as malas.
- Aish! Aquela idiota! Obrigado, , fico devendo essa a você. - disse, já correndo para fora do estabelecimento. apenas sorriu satisfeito por finalmente ter ajudado sua amiga.
O rapaz pegou o primeiro táxi que conseguiu e partiu para o endereço anotado ali. Não era longe, em menos de 10 minutos o carro estacionou em frente a um prédio simples. Tirou da carteira uma quantidade de dinheiro um tanto superior ao necessário, não esperou o troco e entrou no lugar, subiu as escadas até o quinto andar, as pessoas que o viam deveriam pensar que ele estava louco. E talvez estivesse. Ele nunca se sentiu tão desesperado em toda sua vida. Assim que achou o apartamento 505 tocou a campainha. Cada segundo de espera parecia horas de tortura, mas quando ela abriu a porta, sentiu todo o peso ser tirado de suas costas.
- , o que está… - Ela não teve tempo de completar a frase.
Sentiu os braços do rapaz envolverem todo o seu corpo no abraço mais apertado de sua vida. O olhar dele procurou o rosto dela, assustado e deixou que uma de suas mãos subisse até o rosto da garota, acariciando-o levemente enquanto a outra mão permanecia firme em sua cintura. A garota estava sem palavras, uma avalanche de sensações tomava conta do seu corpo. Há quanto tempo ela queria senti-lo daquela forma? Teve tanta saudade de seu tato, de seu calor, de como se sentia acolhida e protegida naqueles braços. Céus.
Ele se perguntou porque parecia tão errado o desejo incontrolável que ele tinha de beijá-la, de prová-la novamente. A respiração ofegante dele apenas aumentava as milhões de coisas que queria fazer com ela naquele momento, mas antes tinha que ter certeza que ela o aceitaria de volta, que aquilo não era mais um dos seus sonhos malucos em que poderia tê-la novamente, amá-la novamente.
- Me dê mais uma chance, . - Ele implorou, como se fosse impossível para ela voltar para ele. - Quando eu sai de Daegu achei que nunca mais a veria, tinha certeza que a vida em Seul não daria certo para mim e que eu iria acabar como meus pais sempre temeram. Eu tinha certeza que não poderia te dar uma vida boa ou te ajudar com seus sonhos. Então eu quis terminar, quis que você seguisse em frente e focasse nos seus próprios objetivos… Você merece muito mais do um garoto metido a gênio da música que sempre bagunça as coisas no final das contas.
- Como pode dizer isso? Você foi o único que conseguiu manter sua promessa, olha onde eu estou agora? - Ela respirou fundo para conter as lágrimas que surgiam urgentes no canto de seus olhos. - Quando eu deixei você ir, tinha certeza que conseguiria e que quanto estivesse no topo, nem iria se lembrar de mim…
- Droga, , você é mais idiota do que eu pensei. - Ele riu. - Como eu poderia esquecer de você?
Ele não pode mais se conter. Desceu seu rosto em direção ao dela até colarem os lábios em um beijo que começou vagaroso, tímido, mas que ganhou força a medida que se reconheciam e matavam as saudades do calor, do gosto, da textura. Ela se agarrou na camisa larga do rapaz enquanto as mãos dele trilhavam seu corpo, dedilhavam as curvas. Beijaram-se com ânsia um do outro, quase incontrolável. fechou a porta - que até então estava aberta - com um dos pés, enquanto caminhava com grudado ao seu corpo até o sofá. Ele caiu primeiro e ela veio por cima, encaixando-se em seu colo. Continuaram aos toques intensos, beijos sedentos e suspiros de saudade até que o rapaz diminuísse o ritmo. Ela parou para fitá-lo.
- Eu só preciso saber de mais uma coisa. - Ele disse nas pausas de sua respiração ofegante. - É verdade que está voltando para Daegu?
A garota o olhou surpresa.
- O quê? Não! De onde tirou isso, ?
- Quando me contaram que pediu demissão fui correndo ver o que estava acontecendo, mas eu só poderia recorrer ao …
- Aquele idiota… Provavelmente disse isso para você correr atrás de mim. - Ela revirou os olhos e riu. - Eu pedi demissão porque queria cumprir a minha parte da promessa, vou me concentrar em terminar um dos meus projetos e terminá-lo como um livro de ficção-científica. Durante o tempo que trabalhei, consegui juntar dinheiro o bastante para pagar uma parte das contas, talvez eu tenha que dividir o apartamento com alguém…
- Hey, você está sugerindo o que estou pensando que está? - Ele sorriu maliciosamente.
- Depende, o que está pensando?
- Que meu apartamento é grande demais só para mim…
Seul
2017
2017
A cafeteria estava cheia. pensou que nunca tivera tantos clientes, mas não esperava menos para aquele dia. Era especial. O lançamento do livro de sua amiga estava sendo um sucesso. Claro, como era seu primeiro trabalho, a quantidade de pessoas que foram para discutir a obra e, quem sabe, ganhar um autógrafo era pequena se comparada aos escritores já conhecidos, o que não tirava o mérito de uma novata ter atraído tantos fãs.
- Yah… Quanta gente. - disse para a garota sentada na mesa principal do café, alguns exemplares estavam ao seu lado. Desde que chegou ao lugar, era a primeira vez que tinha um tempo de folga. - Não sabia que os seus anos como roteirista iriam lhe render tantos fãs.
- Talvez a maioria esteja aqui por minha beleza. - Ela disse rindo. - Mas o dorama que deixei inacabado se tornou muito popular, ter meu nome vinculado a ele ajudou bastante e, claro, sem falar no meu status de musa do gênio .
- Oh, claro! Ainda tenho as matérias sobre você guardadas, quero mostrar para seus filhos em alguns anos, não muitos, provavelmente! - Ele disse, se referindo ao anel de noivado que reluzia em sua mão.
- Você é um babaca, !
Enquanto os amigos riam, um rapaz de touca e máscara entrava na cafeteria. Indo diretamente à mesa da jovem escritora percebeu que ela abrira um sorriso assim que encontrou os olhos do misterioso rapaz. nunca gostou de chamar atenção e com o sucesso de seus últimos trabalhos, frequentemente era reconhecido nas ruas. Não se importava em atender as pessoas que gostavam de seu trabalho, mas a fama (mesmo que pequena) era cansativa.
- Será que posso ganhar um autógrafo dessa bela senhorita? - Ele disse em tom brincalhão enquanto abaixava a máscara.
- Só se tiver comprado o livro. - Ela respondeu, provocativa.
Olha… Talvez eu tenha algo melhor… - Ele disse, retirando do bolso do casaco um exemplar de CD. Os olhos da garota se iluminaram ao fitar o pequeno objeto e ela se levantou, contornando a mesa para se aproximar do namorado.
- Meu Deus !! É o seu primeiro disco solo! - Ela disse, passando a mão pela capa azul e pelas letras douradas do título “One more time”.
- Ainda vai demorar um pouco para sair nas lojas, mas eu queria dar o primeiro exemplar para a musa inspiradora de quase todas a músicas desse álbum.
- Nada mais justo, não é mesmo. - Ela sorriu antes de envolver o rapaz em seus braços. - Obrigada, .
- Não acha que eu era quem deveria estar agradecido? - Ele sussurrou no ouvido dela, a voz rouca e melodiosa que sempre lhe causava arrepios.
- Ok, pombinhos, já chega dessa melação. , você ainda tem muitos livros para assinar e , pode ficar ai do lado, porque vai sobrar para você. - disse, tocando no ombro de cada um deles.
O casal apenas riu, concordando com o amigo. Mas antes que ele a deixasse voltar para o seu posto, não pode deixar de sussurrar no ouvido da garota.
- Agora que cumprimos a nossa promessa de 10 anos, quero que faça outra… - Ele fitou os olhos da garota em seus braços e sorriu. - Promete que não vai me deixar ir novamente?
- Eu não sei… Se não nos casarmos em comunhão de bens, talvez precise ficar com você para sempre.
- Yah! - Ela riu da cara desgostosa que o rapaz fez antes de abrir o sorriso mais sincero que poderia.
- Eu prometo.
Fim.
Nota da autora: Olá! Essa é a primeira fanfic que publico aqui no Obssession, também faz um tempo que não escrevo de verdade, então não sei como ficou. De qualquer forma, espero que vocês tenham gostado! Agradeço a oportunidade de ter participado desse Ficstape, talvez a história tenha ficado um pouco cansativa ou corrida (para ser sincera, gostaria de ter desenvolvido melhor a relação dos personagens), mas gostei bastante de escrevê-la. Espero ver vocês novamente!
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