Capítulo único
estava cansada de correr. Era a segunda vez que a máfia de Chicago, a Outfit, a encontrava. Estava na Noruega daquela vez e os bastardos conseguiram rastreá-la. Apesar de estar cansada da vida de gato e rato, às vezes se perguntava por que eles a queriam tanto. Retaliação, era claro.
— Não adianta fugir, . — Um dos homens que a seguia falou.
Ofegante, ela tentava controlar as lágrimas que teimavam em cair no momento em que ela mais precisava enxergar. Assim que ela conseguiu limpá-las, acabou tropeçando e, naquele momento, viu seu fim se aproximar. Os capangas que a seguiam soltaram uma gargalhada alta e ela viu pés femininos surgirem em seu campo de visão.
— Está tudo bem, querida. — Uma mulher de cabelos curtos disse em italiano. Rapidamente, disparos foram ouvidos e ouviu o som dos corpos caindo no chão. Ela não teve coragem de olhar, no entanto. A mesma mulher que atirou, se agachou e a ajudou a se levantar.
— Vamos, o pesadelo acabou.
— Q-quem é você? — tremeu.
— Alana. — Ela lhe deu um sorriso de conforto. — Está tudo bem agora, . Mas precisamos correr.
— Você é camorrista? — ela perguntou com um alívio na voz.
Alana mostrou-lhe seu braço, no qual Esposito pôde ver sua tatuagem. A Camorra finalmente havia chegado para socorrê-la. A menina se levantou com a ajuda de Alana e, mesmo que sentisse um grande alívio, seu mundo estava desmoronando ao redor.
— Tudo bem por aqui? — um homem moreno alto apareceu e perguntou.
— Está tudo ótimo, não vê? — Alana foi sarcástica. — Estávamos apenas conversando sobre a moda na Noruega, Luigi.
— V-você não deveria falar c-com ele… — arregalou seus olhos por perceber quem ele era.
— Tudo bem, . — Luigi lhe ofereceu um sorriso. — Minha esposa costuma não me valorizar.
— Vamos voltar para casa. — Alana disse firme. — Você não está machucada, né?
— Não, acho que só ralei o braço ao cair.
— Ótimo, o jatinho está nos esperando. — Luigi anunciou.
— Minhas coisas… Eu vou perder tudo?
— Você é uma protegida da Camorra agora, . Terá tudo do bom e do melhor. — Alana avisou.
— E para onde estamos indo?
— Las Vegas, Nevada. — Luigi tentou lhe oferecer um sorriso reconfortante.
O clima seco no estado era algo que incomodava um pouco, mas o sol era sempre agradável e bem-vindo. e Grace estavam na beira da piscina aproveitando a tarde como sempre faziam e, apesar de terem coisas da faculdade para fazer, aquele era o momento de conexão dos irmãos. Grace estava inquieta com as mudanças na casa e aquilo fazia sua garganta coçar pois, de modo contrário a ela, seu irmão pouco se importava.
— Fale logo. — Ele bufou.
— Como você acha que ela vai ser, ? — a menina se virou para o irmão mais novo. — Faz tanto tempo que não a vemos.
— Fechada, desconfiada, calada, distante… não sei. — Ele a respondeu. — A menina passou por muita coisa, não é justo que queiramos que ela seja um poço de alegria ou coisa parecida.
— Tudo bem. Isso significa que devemos ignorar sua existência?
— Grace, por Deus, não é bem assim. — Ele disse. — Só tenha calma com a menina, tudo bem? passou por coisas horríveis.
— Eu não sou frágil como você pensa. — Os dois se assustaram com a voz que apareceu no jardim. A voz de tinha, misturada com o sotaque carregado, raiva.
— Eu não disse isso, boneca. — lhe ofereceu um sorriso torto. — De modo algum.
— Você nem mesmo me conhece, stronzo! — a menina rugiu. Grace rapidamente se levantou da espreguiçadeira para apaziguar as coisas. — A gente só interagiu algumas vezes quando éramos pequenos.
— ! Quanto tempo. — Grace disse animada.
Quase como uma ordem, tinha aulas de autodefesa com Kara, Alana e Grace desde que havia chegado em Las Vegas. A menina tinha aulas individuais com as três, mas ela era péssima. Quando era mais nova, seu pai havia ensinado ela a atirar, mas Matteo e Luigi acharam que ela precisava se defender sem arma primeiro, pois a menina nem sempre estaria armada.
— Por favor, podemos parar por hoje? — a menina estava exausta. Fazia dois anos que estava em Vegas, mas precisava de um tempo só.
— Tudo bem, . — Alana sorriu.
— Vamos para casa, então? — Kara perguntou.
— Sim, por favor. — Grace pediu. — Eu tenho muitas coisas da faculdade para fazer.
— Eu vou ficar. — disse. — Vou treinar um pouco sozinha, vocês me deixam nervosa.
As três saíram do ringue em que estavam e deixaram-na sozinha. ficou um tempo trocando socos e chutes com o saco de pancada que tinha ali e, quando parou para se refrescar, percebeu a presença de . Ela suspirou e sentou-se no chão.
— Você está melhorando. — a elogiou. — Minha mãe falou da sua evolução.
— Isso é bom. — Ela abraçou os joelhos. — Mas eu não gosto da luta corporal.
— É inevitável, ainda mais quando a maioria dos homens são mais fortes que você. — Di Biasi comentou.
— Não sou fraca. — Ela disse séria.
— E, pela trigésima vez, você interpreta o que eu falo erroneamente. — Ele deu uma risada sarcástica. — Você não é fraca, . Ele, fisicamente, é mais forte que você.
A menina franziu o nariz e suspirou. Ela sabia que isso acontecia frequentemente entre os dois e sempre se arrependia se sua errônea interpretação. No entanto, não facilitava as coisas para ela também. Quando eram mais novos, e nunca tiveram problemas, mas eles eram outras pessoas naquela época. Ele ainda não era um homem feito e ainda não havia sofrido as coisas que a vida tinha preparado para ela.
— Desculpa. — Ela sussurrou.
— Desculpe, o quê? — ele sorriu.
— Não vou repetir e eu sei que você ouviu.
soltou uma risada e estendeu a mão para a menina. De maneira contrária ao que ele esperava, ela a aceitou de bom grado.
— Vamos treinar. — Ele afirmou. — E você vai lutar comigo como se eu fosse alguém que queira te matar.
— E você não é? — ela brincou.
— Bem pensado. — Ele sorriu. A feição de mudou e ele se pareceu absurdamente com sua mãe. Quando ele estava relaxado, parecia bastante com Matteo Di Biasi, o Capo da Camorra, mas a sua feição assustadora… bem, mostrava que ele era realmente filho de Montanari.
— ? — sua voz vacilou.
— Corre. — Ele deu um sorriso forte.
Sem hesitar, correu rinque afora e apesar de suas pernas serem bastante curtas, ela era bem rápida. a seguiu quando ela virou pelo corredor para cortar caminho apenas para ela sentir a vantagem. Ele conhecia aquela academia de trás para frente, uma vez que passara quase todos os anos de sua vida por ali. Quando se cansou de brincar, apressou o passo e cortou caminho pelo vestiário. Em silêncio, a viu olhar para trás pela entrada oeste do ringue e aquele foi o momento no qual ele decidiu atacá-la.
— Peguei você. — ele falou baixo e a agarrou. Num pulo, tentou escapar do “abraço” forte de , mas não conseguiu. Respirou fundo e tentou se lembrar das dicas que Alana lhe deu.
“Você é pequena, é fácil escapar. — a ex-policial disse. — Mas antes… Machuque o bastardo que lhe agarrou. Primeiro, dê com o cotovelo em suas costelas. Assim que ele sentir a falta de ar, você escolhe entre socar seu queixo ou dar-lhe um belo soco no diafragma para que ele perca o ar de vez.”
Ela não queria machucar , mas aquele era seu treino. De supetão, depositou toda sua força em seus braços e atingiu em cheio nas costelas. O garoto tentou respirar fundo para que não ficasse sem ar, mas de início foi inevitável. Assim que ele se afastou, deu um chute giratório que bateu no supercílio do garoto e ele, pelo impacto, cambaleou.
— Ai, meu Deus! — ela deu um grito. — , eu não queria te machucar.
A menina deu atenção ao machucado que havia feito no rosto dele. Mesmo dolorido, estava sorridente.
— Então você precisa sentir medo. — Ele sorriu. — Bom modo de defesa, .
— Vamos, precisamos ir para casa cuidar disso.
— Não precisa, eu me costuro. — Ele disse como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. Ela o encarou incrédula. — É sério, eu aprendi.
— Vou te ajudar, então. — Ela anunciou. — Fui eu que fiz.
— Tudo bem. — Ele se esticou sem demonstrar dor alguma na costela e ela percebeu que aquele golpe não havia o machucado, apenas o desestabilizou.
Os dois foram até o vestiário mais próximo e acenderam a luz. Assim que o fizeram, percebeu o suor escorrendo por todo corpo de e aquilo o arrepiou por completo. Ela era linda. Os cabelos castanhos cor de mel estavam desgrenhados no rabo de cavalo e ela estava ofegante.
— O quê? — ela fez careta.
— Não é nada. — Ele engoliu em seco.
— Sua camiseta está toda suja. — Ela o informou. tirou a camisa sem pestanejar.
— Você pode pegar a caixa de primeiros socorros, por favor? — ele pediu. — Se eu me abaixar, vai sangrar mais ainda.
Depois de sair do estado de transe que estava, rapidamente foi até o armário. Sem dizer uma palavra, ela o observou pegar as coisas da caixa como se tivesse a maior facilidade do mundo em manuseá-las. Ela imaginou que sim, uma vez que ele era o sucessor para ser o Capo da Camorra e ele era obrigado a treinar.
— Você já fez isso antes? — ela mordeu o lábio inferior.
— Já. Não é nada demais. — Ele deu de ombros.
— Posso tentar ajudar? — ela levantou a sobrancelha. Nem confiava em suas habilidades, mas estava se sentindo mal.
— Claro. — Ele se aproximou da menina e a pegou pela cintura como se pesasse o mesmo que uma pena.
— Eu poderia ter vindo sozinha. — Ela cruzou o braço emburrada.
deu risada da infantilidade da menina e ajeitou a agulha, linha e álcool para higienizar as mãos. Tudo.
— Você já costurou? — ele perguntou.
— Só tecido.
— Bom, minha pele não deixa de ser um tecido. — Ele riu. — Mas tudo bem, é só fazer o mesmo. A consistência é diferente, mas nada absurdo.
— Tudo bem.
Com atenção e cuidado, prosseguiu para o supercílio de . A menina estava com medo de machucá-lo, apesar de saber que, naquele caso, era impossível. Quando a agulha perfurou a carne pela primeira vez, ela soltou um gritinho. Ele achou fofo. No entanto, sua atenção estava voltada para o pequeno top que ela usava naquele dia. Conforme ela ia se acostumando, a sutura parecia ir mais rápido. Delicadamente, ao finalizar, ela deu um pequeno nó.
— Espero que dê certo. — ela disse. Quando terminou de fazê-lo, percebeu que as mãos de estavam em suas coxas, dando-lhe uma noção de quão grandes eram. Só quando percebeu aquilo, um calor lhe invadiu. — Tudo bem?
— Tudo. Você quer que eu chame o motorista para lhe levar para casa? Eu ainda vou me limpar.
— Eu te ajudo, . — Ela pulou da pia, ficando com seu corpo grudado no dele.
Di Biasi posicionou suas mãos na cintura dela novamente e ela se arrepiou. Estavam geladas, contrastavam bem com o quente de sua pele. No fim, o que ela sentia era gostoso.
— O que vo…
Antes que ela pudesse recobrar o senso, uniu seus lábios ao dela, coisa que ele queria fazer há um bom tempo. Diferentemente de sua irmã, era mais calado. Era o gene Di Biasi, afinal. Um vinha carismático e o outro era reservado. Bem, não é que ele não fosse sentimental. Ele era. A sensação de beijar era diferente, tinha tanta vontade que ele nem sabia da proporção da intensidade. A garota levou sua mão à nuca dele, puxando seu cabelo com força. Em resposta, aproximou mais seus corpos e apertou sua cintura com mais força, fazendo-a gemer. Tempos depois, e foram obrigados a parar por falta de ar.
— Isso foi… Uau. — Ele disse ofegante.
— Estranho. Mas uau. — disse, intercalando seus olhares entre a boca dele e seus olhos.
— Você quer sair daqui, ? — ele lhe ofereceu um sorriso lascivo.
Em muito tempo em Las Vegas, aquela menina apenas seguia regras. Aulas de defesa pessoal, horários para estar em determinados lugares, seus acompanhantes, tudo. Daquela vez, sentiu que quem deveria fazer as regras era ela.
— Quero muito. — Ela entrelaçou seus dedos aos dele e os dois largaram tudo pelo caminho, indo em direção à saída do centro de treinamento.
A família Di Biasi estava comemorando o aniversário de Alana em sua residência. O casal formado pelo Di Biasi mais novo e a ex-policial não morava na casa de Matteo e Kara, apesar de sua presença no local ser recorrente. Kara e Grace organizaram uma festa surpresa — não tão surpresa assim porque Alana já sabia — para ela. O jantar foi responsabilidade de Luigi, já que ele era quem cozinhava a comida favorita da aniversariante. Para , o cheiro estava enjoativo, mas ela não faria desfeita.
— Feliz aniversário para a pessoa mais teimosa do mundo! — Luigi levantou a taça para brindar, mas antes que os outros pudessem fazer isso, uma bala atravessou a janela da sala e a taça, estraçalhando ambos vidros.
— Esse vai ser o melhor presente de aniversário do mundo. — A mulher rosnou.
— Alguém ferido? — Kara foi a primeira a perguntar.
— Não! — os outros responderam em uníssono.
— Quero que os que estão desarmados peguem suas armas. — Matteo ordenou.
Grace e engatinharam até um armário que sabiam que tinha armas e facas, se organizando. sabia que o tempo que ela ficou oculta na sociedade foi útil para que a Outfit continuasse sua pesquisa. Rapidamente, a italiana buscou pela bala que atingira o vidro e a encontrou. A flor de Lótus estava lá. Eram eles.
— É a Outfit. — A voz dela tremeu.
— Se acalme, você não pode deixar o pânico alastrar. — Alana falou calma com a menina.
foi até ela e, como uma conexão, entendeu o que ele dizia. No fim, tudo daria certo.
— Ok, vamos lá. — Matteo anunciou. — Cuidado, não esqueçam dos rastreadores. Grace, leve para o quarto de proteção e fiquem lá.
Grace e não se separaram em momento algum. A família estava espalhada pela casa e o Capo da Camorra já havia chamado reforços. As meninas se depararam com dois homens que vasculhavam a parte dos quartos.
— Shh… — ela pediu para que Grace não fizesse barulho. — No três.
As duas apareceram e atiraram nos dois, sem nem mesmo dar-lhes a chance de ver quem havia atirado. Quando estavam chegando na parte oeste da casa, um homem saiu de uma sala e agarrou Grace.
— Qualquer estupidez e ela morre. — ele ameaçou. Ela o reconhecia, no entanto. Ele era um dos subchefes mais temidos na cidade de Chicago.
— Tudo bem. — se abaixou para colocar sua arma no chão. O homem acompanhou seus movimentos cautelosamente, até que Grace lhe golpeou nas bolas e ele urrou de dor. Aquilo não fora suficiente para que elas fugissem, de modo que ele deu uma coronhada na menina para que ela apagasse.
— Grace! — se aproximou da melhor amiga e ouviu o barulho do gatinho.
— Vamos acabar logo com isso, Esposito.
— Por que minha família? — foi a única coisa que lhe interessava. Se estava prestes a morrer, que ao menos soubesse porque morreria.
— Diga onde estão os diamantes. — Ele ordenou.
— Que diamantes?
— Da carga bilionária que vocês interceptaram. — Ele disse sério.
— Eu não sei do que você está falando. — Ela foi honesta. O homem posicionou o dedo no gatilho e, quando estava prestes a atirar, levou uma facada no pescoço. Facada essa que foi suficiente para fazer sangue jorrar por todo canto. Lentamente, o corpo de começou a formigar e uma fraqueza pareceu dominar.
— , precisamos levantar. — Grace, com a voz fraca, se levantou. — Vamos.
Antes que a italiana pudesse fazer algo, seu corpo fraquejou e ela sentiu algo escorrer em suas pernas. Ótimo, havia sangue ali também. Grace a encarou assustada.
— ? — a amiga arregalou os olhos. — Por que tem sangue escorrendo das suas pernas?
E aquela fora a última coisa que ela ouviu na noite. Os gritos de Grace buscando por ajuda não foram suficientes para acordá-la. Era como se seu corpo tivesse desistido. E no fundo, ela também tinha.
•
O barulho contínuo incomodou a ponto de acordá-la. Ou era a dor que ela sentia. A claridade também lhe incomodou. Assim que ela abriu os olhos, encontrou Grace sentada ao seu lado.
— ? — ela pareceu preocupada. — Ainda bem que você está bem. O médico disse que poderia levar algumas horas até você acordar.
— O que ac-aconteceu? — a italiana perguntou com dificuldade.
— A Outfit tentou te pegar. — Ela falou baixinho. — E aquele cara te assustou tanto que você, hm… Perdeu o bebê.
— Que bebê? — ela tentou se sentar, mas a melhor amiga impediu.
— Você estava grávida. — Ela falou baixinho. — contou tudo. Eu já desconfiava também.
— O que ele contou?
— Que vocês estavam tendo uma coisa. — Ela disse um pouco cabisbaixa.
— Por que vocês me trouxeram pra cá e não chamaram um médico da família?
— não quis esperar o médico. Achamos que você estava morrendo.
— Todos estão bem? E você? — ela perguntou baixinho.
— Concussão leve. — Ela apontou para o ferimento tratado em sua cabeça. — Meu pai levou um tiro de raspão tentando proteger minha mãe e minha tia está com um corte na coxa. No entanto, estão todos bem.
— E-eu sinto muito. — A voz de embargou. — Eu sabia que vocês iam se machucar, eu não queria isso.
— Nós sentimos por você, . — Alana chamou atenção das duas. — Você perdeu um bebê.
— Alana… — tentou falar, mas a ex-policial a impediu.
— Nós somos a máfia, querida. Sempre estaremos em risco. — A mulher se aproximou da cama do hospital. — Está na lei da nossa vida, mas você… Você não merece o que está passando.
Ao ver a perna de Alana avermelhada por causa do corte, os batimentos cardíacos de começaram a acelerar e Grace apertou o botão de chamar a enfermeira, que rapidamente apareceu, injetando sedativo em sua veia.
O corpo de pareceu se acalmar conforme o líquido viscoso adentrava seu corpo, até que ela adormeceu. Naquela noite, o quarto de hospital ficou rodeado de capangas, assim como o hospital inteiro. Já na poltrona ao lado da cama, o local estava certamente ocupado. tinha mil coisas a pensar naquela noite. Tinha preparado tudo para contar aos familiares sobre oficialmente, apesar de todos desconfiarem. E ela estava grávida. De um filho seu! O coração dele parecia explodir de tristeza e ódio. Seu corpo formigava com a intensidade das sensações e ele não duvidava que a sede de dilaceração que sentia poderia tornar-se algo real. Mas então ele se lembrou do sorriso de diante das circunstâncias mais simples da vida, como assistir ao episódio daquela série que ela tanto gostava, The Mentalist. E apenas tristeza sobrou em seu coração. Em silêncio, remoeu a noite inteira sobre as inúmeras possibilidades que seu futuro perdeu naquela noite. Tudo por uma estúpida vingança, da qual nem tinha culpa.
Pela manhã, a italiana só acordou com a enfermeira retirando seu acesso e marcador de batimentos, uma vez que ela estava de alta. Luigi estava de prontidão para levá-la para casa. Mas não era para lá que ela iria.
— Luigi… — ela falou baixinho.
— Sim? — ele não desviou o olhar para ela, uma vez que ele estava atento na saída do hospital.
— Será que você conseguiria me mandar para um lugar bem longe daqui? — ela perguntou.
— Para onde você quer ir, querida?
— Qualquer lugar do mundo que você ache mais seguro. — Ela falou. — Não quero mais estar aqui.
— Tudo bem, resolverei isso. — Ele pegou o telefone.
Em questão de minutos, Luigi fez algumas ligações e conseguiu para um passaporte falso e um destino para ir. Ele sabia que ela estava fazendo aquilo pelos Di Biasi, o que ele achou ser uma atitude honrosa.
— Você sabe falar espanhol, não sabe? Se não souber, é melhor aprender. — Ele sorriu.
— Você vai me mandar para Espanha? — ela arregalou os olhos.
— México. — Ele disse. — Você não vai ficar tão longe da Camorra assim.
— Obrigada, Luigi. — Ela sorriu.
— Você é muito maior que aqueles que te perseguem, . — Ele disse sério. O jeito que ele falava realmente mostrava o quanto ele acreditava na menina. — Eu acho que você está cometendo um grande erro, mas não posso impedir seu livre arbítrio.
— Muito obrigada. — Ela ignorou a pose de durão de Luigi e o abraçou. — Vocês foram para mim uma família, eu nunca vou esquecer disso.
O homem assentiu e foram diretamente para o aeroporto. iria para o México com um avião privado da Camorra, que decolaria em algumas horas. Quando chegaram, Matteo chamou Luigi para um trabalho com Kara e ele precisou deixá-la.
— Nós somos sua família, . — Ele acariciou seus fios. — A Camorra está de portas abertas para você sempre. O dinheiro dos diamantes está na sua conta bancária.
— Dinheiro? — ela arregalou os olhos. — Eu tenho dinheiro?
— Claro que sim. — Ele sorriu. — Seu dinheiro está em uma conta na Suíça, o banco é protegido por nós. Faça bom uso.
Ele estendeu a ela um cartão a ela e ela o pegou.
— Obrigada, Luigi. — Ela sorriu e lágrimas apareceram em seus olhos.
— Pode me chamar de tio, . — Ele sorriu. — Eu já te considero família.
A menina sorriu e seguiu seu caminho, sozinha. Na Camorra ela havia aprendido muito e, como havia se apegado, não achava justo que eles passassem por certas coisas apenas porque ela era a visita inconveniente. Porém, os Di Biasi a consideravam um deles. E ela sempre seria.
acompanhou o caminho do tio pela sala de estar. não estava com ele, mas se algo tivesse acontecido, ele provavelmente não estaria tão calmo assim. Alana franziu a testa ao vê-lo desacompanhado e foi a primeira a questioná-lo.
— Você foi ao hospital buscar a chica e voltou sem ela? — a mulher fez uma careta.
— Ela foi embora, corazón. — Ele falou calmamente.
— Como assim ela foi embora? Para onde? — deu um grito.
— Ela foi embora, tipo, saiu do país. — Ele respondeu. — Do mesmo jeito que sua tia Alana fez. Meteu o pé.
— Você só pode estar brincando, não é possível. — Grace rosnou. — Tio!
— Ok, eu vou dizer só uma vez. — ele fechou a cara. — Você é igual ao seu pai, . Se ela ficasse aqui, você jamais tomaria uma atitude se continuasse no conforto da sua casa.
— Você é um stronzo! — Alana o xingou de idiota em italiano e deu-lhe um forte tapa na cabeça.
— Ai! — ele resmungou. — Acalmem os nervos. Ela só está autorizada a decolar se, depois que meu querido sobrinho a encontrar, ela ainda assim decidir partir.
— O que isso significa? — o perguntou confuso.
— Significa que se você não for atrás dela eu vou te dar uma surra, seu caga fralda! — Luigi ameaçou. — Ande, ela está no aeroporto.
deu um pulo e Grace o seguiu sem hesitar. Os dois se importavam com na mesma intensidade. O que era curioso, afinal aquela menina havia conquistado seu espaço no coração de todos da casa, em especial àqueles que diziam que não tinham um.
— Por que você fez isso? — Alana perguntou baixinho. — Ele não merece, Luigi.
— Ele merece um chute na bunda tanto quanto o pai. — Luigi disse carrancudo. — Eles não iriam atrás das mulheres que gostam se eles não tivessem prestes a perdê-las.
Alana deu risada da ideia torta de seu marido. Mas ele não mentia, no entanto. Dos três homens da família, ele foi o único que não teve problemas em admitir que gostava de Alana. Do contrário, ele admitiu até antes dela.
O caminho até o aeroporto estava sendo rápido, uma vez que Grace apertou o pé no acelerador. A menina jamais deixaria o irmão dirigir no estado em que estava, seria quase que uma versão real do GTA. Ela também estava nervosa em perder a melhor amiga, apesar de ter em mente que deveria respeitar sua escolha.
— Me prometa uma coisa. — Grace disse enquanto parava no único sinal vermelho que viu no caminho.
— Não.
— Prometa.
— Tudo bem, prometo.
— Me promete que vai respeitar se ela quiser ir embora mesmo? — a mais velha fez uma careta. — Eu sei que vai doer, mas vai ser pior se ela não quiser ficar e for obrigada.
— Desfaço minha promessa, Grace. — Ele disse sem nem mesmo cogitá-la. — Gosto dela de verdade, temos nos visto há uns dois meses e acho que foi o período que mais foi agradável pra mim.
— Quando você soube que gostava dela? — a irmã voltou a acelerar o carro.
— Quando ela fez uma piadinha sobre me bater. — Ele disse. — E ela realmente o fez.
— Então vocês estavam treinando juntos? — ela deu um sorrisinho.
— Desde o dia em que ela abriu meu supercílio. — Ele riu.
— Tudo bem, vamos tentar trazer nossa garota para casa. — Grace puxou o freio bruscamente e os dois adentraram o local lotado.
Rapidamente, os dois foram colocados para sala de embarque e procuraram pela menina. Nada. não estava em canto nenhum, até que olhou pelo vidro e a viu pelo corredor que a levaria para a aeronave. correu até o local o mais rápido que pôde e chegou até ela quando ela estava se instalando no avião particular.
— ! — ele a chamou ofegante.
— ? — a menina franziu o nariz ao vê-lo.
— Você não pode ir, . — Ele pediu. Era possível ver em seu rosto que ele estava nervoso. Quase que desesperado.
— Eu não vou ficar, . — Ela falou baixo. — Eu arrisquei a vida da sua família inteira. Sua irmã está com o supercílio machucado por minha causa. Seu pai levou um tiro de raspão tentando defender sua mãe.
— …
— Sua tia está com um corte gigante na coxa. — Ela deixou o choro sair. — Tudo isso porque meu pai desviou uma carga milionária de diamantes.
— Quando eu tinha seis anos, tentaram sequestrar minha irmã, . — Ele disse sério. — Minha mãe levou um tiro no ombro. Meu tio tem uma cicatriz até hoje. Nós somos uma família, estamos todos no mesmo barco.
— Eu não quero essa responsabilidade para mim. — Lágrimas grossas escorriam por seu rosto. — Não quero perder vocês.
— Cheguei. — Grace apareceu ofegante. — Eu odeio ter pernas pequenas, uh! Você já disse a ela?
— Dizer o quê? — perguntou.
— Que eu amo você, . — Ele admitiu. — E eu não quero te perder. Pouco me importa se tivermos que entrar nesse avião e ir pro México juntos, eu vou se você pedir. Viveria uma vida inteira usando nomes falsos se necessário.
— …
— Pouco me importa se eu não sei espanhol, ou se eu vou odiar a comida apimentada de lá… Onde você está, eu quero estar.
I'll go wherever you are
I'll follow behind
— A gente ama você, Esposito. — Foi a vez da melhor amiga dela falar. — Não existe Grace e sem você, por favor, fica. Você é da família.
— Eu perdi um bebê por isso. — Ela falou baixinho. — Eu não quero perder vocês.
— Carino, por favor, me ouça. — se aproximou de , entrelaçando seus dedos aos dela. — Eu amo você, nós vamos ter muitos filhos ainda, mas pra isso, você precisa deixar eu ficar. O destino é a coisa mais imprevisível que existe, mas eu tenho a chance de escolher com quem eu quero ficar. Seja em Las Vegas ou na Ciudad de México, eu quero ficar com você.
— … — ela abraçou o garoto, desabando em um choro profundo. — Me desculpa.
— Eu sinto muito pelo que você passou, carino. — Ele afagou seus cabelos. — Mas eu estou aqui agora, prometo proteger você com a minha vida.
— Eu também te amo, apesar de você ser um idiota que quer arriscar sua vida por mim.
— Sempre, carino. — Ele riu. — Você é minha casa.
— Vocês são a minha também.
Dito aquilo, Grace abraçou a menina e os três saíram do avião, cancelando todo itinerário dos comissários. achava que tinha motivos para ir embora, mas todo seu coração estava em Las Vegas agora. Era, mais uma vez, seu recomeço. Mas aquele era um que continha o final feliz que ela tanto esperou.
Fim
Nota da autora: OOi, gente! Parece que cheguei com um spin off do futuro, né? Espero que gostem de conhecer os filhos da Kara e do Matteo. Em breve tem mais.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Lindezas, o Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
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