Finalizada em: 02/05/2020

Prólogo

– Bom, parece que tudo deu certo. – falou quando saiu do restaurante com em seu encalço.
– Certo? Você viu a cara da minha mãe? – Ele passou o braço pelos ombros da agora da noiva, que exibia uma fina aliança de diamante no dedo anelar.
– Eu sabia que ela não gostava de mim, mas agora ficou muito na cara. – riu fracamente, sentindo-o dar um beijo em sua testa.
– Me desculpe por isso, ela... – A garota negou com a cabeça.
– Relaxa, , não é o primeiro obstáculo que enfrentamos em nosso relacionamento e posso garantir que não vai ser o último. – Ele sorriu, dando um curto beijo nos lábios da garota. – E você fez para provocar que eu sei.
– Ah, também não é assim... – Ele tentou se explicar, ficando de frente para a garota, a poucos passos da saída do shopping.
– Você chamou seus pais e meus pais para me pedir em casamento na frente de todos. – Ela passou os braços pelos ombros dele. – Quando você sabe...
– Sim, eu deveria ter pedido na nossa casa, só nós dois e nossos três cachorros. – Ela assentiu com a cabeça. – Você não gosta de nada extravagante...
– Adoro, você sabe, mas é nosso lar, criamos nossas vidas lá... – Ela deu de ombros. – Não preciso de mais nada. – Ele sorriu, se debruçando sobre ela e colando os lábios dos dois.
– Mas foi bom, vai...
– Foi ótimo! – A garota gargalhou junto dele, fazendo suas vozes ecoarem no primeiro andar do estacionamento garagem.
– Adoro como sua mãe me ama e me chama de filho, apesar de tudo que te fiz passar no passado, e a minha é uma megera, sendo que eu sempre fui a tranqueira... – Ele falou, franzindo os lábios.
– Quem sabe com uns 30 anos de casados nós não conseguimos resolver isso? – Ela deu de ombros.
– Amor, nem se ela morrer, e não é porque eu sou o filhinho favorito. O Scott tem esse posto.
– Para quem tem quatro filhos, é meio maldade... – Ele deu de ombros.
– Da mesma forma que você, eu também me acostumei com isso. – Ele suspirou. – E como você mesma diz: não devemos nos acostumar com coisas ruins. – Ela deu um pequeno sorriso, fazendo uma careta logo em seguida.
– Ah, esses sapatos estão me matando... – Ela se apoiou no noivo, erguendo uma perna e passando a mão no calcanhar.
– Eu vou pegar o carro e você espera aqui. – Ele falou.
, não tem necessidade. – Ela reclamou, mas ele não deu bola e saiu correndo pelo estacionamento, fazendo seus sapatos ecoarem pelo espaço.
A garota suspirou, se apoiando na murada próxima à uma área em construção, e matutou como a noite havia sido engraçada. Ela já suspeitava que a pediria, ele estava muito curioso com o tamanho de seu anel para ser um simples presente de aniversário, que também aconteceria dali seis meses.
Apesar de sua mãe ser meio arredia, eles estavam juntos há bons 15 anos entre se conhecerem, se afastarem, se reencontrarem, namorar e morarem juntos, tinham três cachorros e muitos planos para o futuro. Era só questão de tempo.
– A mocinha está perdida aqui? – A garota ouviu a voz e preferiu ignorar a presença do desconhecido. – Não vai me responder? – Ela levou as mãos até as pernas, tentando cobrir mais as pernas expostas devido ao vestido curto. – Que isso, garota, eu não mordo. – Ele falou e a menina deu dois passos para o lado, percebendo a aproximação.
– Poderia me dar licença, por favor? – Ela falou, se afastando para mais perto das pedras.
– Só quero conversar... – Ele falou, novamente se aproximando.
deu mais dois passos, tropeçando nas pedras no caminho escuro, e caiu para trás, sentindo seu corpo doer com o desnivelamento do solo. Ela tentou se levantar rapidamente, mas o homem deu uma rasteira em sua perna, fazendo com que ela caísse mais uma vez, e o mesmo se debruçou por cima dela, segurando seus braços acima da cabeça.
– Sai de cima de mim! – A menina cuspiu no rosto dele, tentando se desvencilhar do homem que se forçava cada vez mais para cima dela.
– É rapidinho, não vai doer nada. – Ele falou e a menina percebeu o mesmo mexer na braguilha da calça.
– Me solta, por favor. – Ela falou mais alto, quase como um gemido.
– Fica quietinha para eu gostar de você, vai... – Ele se aproximou do rosto da mesma, fazendo-a virar o seu, e se assustou ao ouvir um barulho alto de freio, assustando ambos.
! – A menina gritou e, no segundo seguinte, seu noivo já tinha pulado em cima do homem.
– Meu Deus, . Você está bem? – Ele estendeu as mãos para a noiva e a mesma se levantou rapidamente, ajeitando seu vestido com rapidez.
– Ah, seu playboyzinho... – O cara se levantou e avançou na direção de .
, cuidado! – gritou, vendo seu noivo e um possível estuprador saindo nos socos e tapas na frente de seus olhos.
– Liga para polícia e vai lá para dentro agora! – gritou e a garota pegou sua bolsa no chão, procurando o telefone e discando 911 rapidamente.
– Polícia, qual sua emergência?
– Moça, aqui no estacionamento do Copley Place, um homem tentou me estuprar e meu namorado está brigando com ele agora.
– Uma viatura está a caminho! – Ela falou e a ligação foi desligada.
voltou a prestar atenção na briga e se surpreendeu ao perceber que homem tinha uma faca na mão, fazendo-a arregalar os olhos. Ele e já brigavam no chão sujo do estacionamento. tinha experiência com lutas corporais, mas fazia tempo que ele não brigava com facas e armas.
– Cuidado, ! – A garota gritou.
– Vai lá para dentro, amor! – Ele gritou e o homem atingiu a faca no ombro de , segurando-o pelas mãos da mesma forma que fez com .
– Sua garota é uma delícia, sabia? – O homem resmungava.
– Cala a boca! – gritou.
, completamente desesperada, sem saber o que fazer, viu diversas pedras quebradas, as mesmas nas quais ela tinha tropeçado. Ela pegou uma das grandes, segurando com as duas mãos, e voltou a observar a cena.
, vai para dentro! – gritou novamente.
A menina mal via a mancha de sangue por cima de seu paletó escuro, mas a feição de dor de seu noivo dizia muito. A garota se aproximou com cuidado do homem, mediu mais ou menos a cabeça dele e respirou fundo.
, cuidado com a cabeça! – Ela gritou e jogou a pedra com força na cabeça do homem, fazendo ela e seu noivo fecharem os olhos.
Ambos só ouviram o barulho da pedra duas vezes, uma batendo na cabeça do homem, outra batendo no chão. Eles abriram os olhos quando ouviram um terceiro baque. O homem estava desacordado.
– Você está bem? – correu para ajudar e o mesmo gemeu, tirando o paletó.
– Foi só um corte. – Ele reclamou, fazendo-a colocar as mãos em seu rosto. – Você deveria ter ido para dentro.
– Só Deus sabe o que ele faria contigo se eu não estivesse aqui. – Ela falou e ambos se abraçaram fortemente, a garota finalmente liberando as lágrimas presas em seus olhos.
– Você está bem? – Ele perguntou.
– Sim, estou. – Ela suspirou. – Ele não conseguiu fazer nada. – Ela falou, suspirando. – Ele... – Ambos viraram para o homem jogado.
– Ele está desacordado. – falou e ambos se aproximaram do corpo. – ... – Ela se aproximou do noivo, vendo uma enorme mancha vermelha sair da nuca do cara.
– Ah, meu Deus! – Ela falou desesperada e ajoelhou no chão, procurando pulso na nuca do homem. – Ele está bem?
ficou em silêncio, ouvindo somente alguns carros passando na avenida, e ele não conseguiu sentir nada, somente a adrenalina de seu próprio corpo, fazendo-o respirar fundo com a boca. Ele olhou para sua namorada, negando com a cabeça.
– Nada.
– Meu Deus! – Ela começou a chorar, desesperada. – Eu o matei?
– Calma! Calma! – se levantou rapidamente. – Você já ligou para polícia?
– Já! – Ela falou com as mãos no rosto. – Eu não posso ser presa, eu... Nós... Ah, meu Deus!
– Calma! Deixa eu pensar! – Ele falou, seguindo até a pedra e pegou a mesma, conferindo o sangue e a forma com que havia pego nela, pressionando as mãos fortemente.
– O que você está fazendo? – Ela perguntou.
– Colocando minhas digitais na pedra. – Ele falou.
– Por quê? – Ela perguntou, receosa.
– Porque eu o matei, não você.
– Mas ...
– Não! – Ele falou, segurando o rosto da sua noiva. – Eu fiz isso, ok?!
, não...
– Sim! – Ele falou firme. – Eu fiz isso.
– Mas eles vão te prender.
– Não se eu puder evitar. – Ele falou rapidamente. – Vai lá para dentro e encontre seus pais novamente. – Ele falou, dando um rápido beijo nos lábios da mulher.
, o que você vai fazer? – Ela falava em meio às lágrimas.
– O que eu sempre fiz: proteger você! – Ele disse. – Vai! – Ele gritou e a menina ficou indecisa, se assustando com o barulho da sirene. – Agora! – Ele disse e a mesma tropeçou um passo para trás, negando com a cabeça e saindo correndo de volta para dentro do shopping.
observou o corpo caído à sua frente e respirou fundo, sentindo as lágrimas finalmente caírem de seu rosto. Ele se virou para o carro ao seu lado. Precisaria de algo mais rápido para aquilo, ia para casa e pegaria sua antiga moto.
Ele olhou para o corpo mais uma vez, fez um sinal da cruz, pedindo proteção para sua noiva, e entrou no carro, fechando-a porta com força. O carro arrancou no estacionamento do shopping e o mesmo saiu rapidamente, deixando para trás somente as marcas de pneu.


Capítulo Único

– Senhora , por favor, me diga mais uma vez o que aconteceu. – O policial do interrogatório falava e eu já estava totalmente alheia àquilo.
Deveria fazer uns três dias que eu estava ali, com a mesma roupa do acontecido, cheirando a algo muito pior do que o perfume de . As lágrimas em meu rosto já haviam secado havia muito tempo, o rímel já estava colado nas bochechas e o sono estava me cansando aos poucos. Suspirei, erguendo o rosto da mesa, me endireitando na cadeira, e olhei para o homem novamente.
– Eu e meu noivo estávamos saindo do shopping Copley Plaza, eu estava com os pés doendo, ele foi pegar o carro e um cara se aproximou, claramente com intenção de me estuprar... – Falei, já desanimada. – Eu tentei me defender, mas não consegui. Com sorte, meu noivo, , chegou e impediu o cara. Eles brigaram no braço e bateu uma pedra na cabeça dele...
– E fugiu? – Ele perguntou pela milésima vez.
– É! – Falei firme. – Oficial Dockery, eu não tenho mais o que falar para você. – Puxei a respiração, passando a mão no nariz. – Ele só foi embora. Eu perguntei por qual razão ele faria aquilo e ele só mandou eu entrar, agora estamos conversando aqui...
– Ele não pode simplesmente ter ido... – Ele falou.
– Ele só foi! – Gritei, encarando-o, e senti o choro subir novamente.
– Oficial Dockery? – Ouvi um barulho na porta e o policial se levantou e saiu, fazendo outra pessoa tomar o lugar dele. – Filha? – Ergui o rosto, encontrando meu pai, chefe de polícia.
– Você não deveria se meter nisso. – Falei, engolindo em seco.
– Tentei, mas estamos aqui há mais de três dias, não podemos mais te segurar aqui. – Suspirei.
– Eu não fiz nada, pai. – Puxei a respiração.
– Eu conheço o , ele também não faria isso. – Olhei sugestivamente para ele.
– Você sabe que...
– O passado está no passado, ele mudou depois daquilo. – Suspirei.
– Foi um acidente! – Falei firme. – Ele queria só fazer o cara parar de tentar bater nele, não sei... – Neguei com a cabeça.
– Achamos suas digitais na pedra, filha. – Ele falou e eu ergui o rosto, piscando algumas vezes. – Aquela parte em que vocês estavam não tem câmera por estar em reforma... – Tive um estalo.
– Quando eu tentei fugir do cara, eu tropecei em umas pedras, eu apoiei nelas, eu... – Neguei com a cabeça. – Eu não sei mais o que eu posso falar, pai. – Suspirei. – Eu conheço meu noivo e ele não seria capaz disso intencionalmente...
– Então por que ele fugiu? – Ele perguntou. – Se foi legítima defesa, ele pegaria uma pena leve, ele...
– Eu não sei, pai. – Neguei com a cabeça. – Não tivemos muito tempo para pensar, eu queria saber também... – Suspirei.
– Pensa, filha, por favor...
– Eu estou pensando, pai, mas eu não sei mais o que vocês podem querer de mim. Eu já contei tudo o que sabia... – Suspirei. – E você não deveria nem estar falando comigo, isso vai bagunçar a investigação, podem te exonerar do cargo e... – Revirei os olhos, evitando continuar a falar.
– Eu sei, mas não queria ver o Dockery sendo mais rude contigo...
– Ele estava me entediando, na verdade. – Suspirei e ele deu um meio sorriso.
– Só me diga mais uma coisa, filha... – Ergui o rosto para meu pai.
– O quê? – Perguntei, apoiando os braços na mesa.
– Onde ele está? – Ele perguntou, olhando fundo em meus olhos.
– Pela milésima vez, eu não sei. – Falei honesta, suspirando em seguida. – Eu não tenho a mínima ideia.

***


Avistei um posto de longe, sentindo o sol bater em meus olhos, e dei seta, entrando no mesmo, ouvindo as rodas mudarem a trilha sonora do asfalto para a areia e levantarem um pouco de poeira. Andei devagar até a parada de moto e senti meu corpo até duro quando eu tirei as mãos do guidão.
As pernas e costas doíam devido a tensão e muita coisa tinha acontecido durante aqueles dias. Faziam 12 ou 14 horas que eu andava pelas rodovias do estado de Massachusetts. Apesar da falta de sono, eu andava sem rumo, sem saber para onde ir, somente vendo os números do contador de quilometragem aumentar aos poucos.
Para falar a verdade, acho que já havia saído do estado de Massachusetts logo no primeiro dia, já devia ter passado pela Pensilvânia, Ohio, e poderia estar próximo de Indiana, mas não sabia dizer. Às vezes, eu dormia em qualquer pensão ou na mesa de algum restaurante como aquele mas, às vezes, eu não dormia por vários dias.
Eu não conseguia uma noite de sono decente desde o acontecido. E pensar que eu planejava uma noite mais que confortável com minha agora noiva, depois de um bom tempo pensando em como ou quando pedir sua mão depois de tudo o que passamos. Pensando melhor, provocar minha mãe não parecia exatamente o pedido ideal. sabia o quanto eu a amava, não precisava expô-la dessa forma.
Eu havia escolhido a forma mais difícil de poder voltar e fazer algo mais privado, só nós dois. Pensar daquela forma parecia ridículo quando eu não tinha perspectiva e plano nenhum de vê-la novamente.
Balancei a cabeça, seguindo diretamente para o banheiro, e encarei meu rosto no espelho. O sol já estava judiando meu corpo e eu não pensei em pegar um protetor solar quando eu decidir ir embora. Na verdade, eu não havia pensado em nada quando fiz a decisão, só queria proteger a pessoa que eu mais amava no mundo: .
Foi um acidente, eu sei. Talvez ter fugido parecesse a pior decisão então. Deixá-la sozinha e desamparada em Boston? Parecia pior ainda. Acho que é esse tipo de coisa que você faz quando ama uma pessoa incondicionalmente e conhece a pessoa tempo suficiente para saber que seu lugar não é na cadeia.
Talvez nem o meu fosse, meus tempos de pena acabaram havia muito tempo, mas não tinha muito escolha. Como dizia minha mãe, em seu jeito nada maternal: ‘fez a cama, agora deita’. Mas eu realmente só pensava em , em como ela deveria estar aguentando as coisas.
Lavei bem o rosto, sentindo-o aliviar com a água gelada. Passei na nuca e também nos braços para ver se conseguia ao menos me relaxar, mas o efeito era só instantâneo. Logo, o corpo começava a ferver como se estivesse esfumaçando. Fiz minhas necessidades e saí do banheiro, seguindo em direção ao restaurante.
Olhei lá dentro, me surpreendendo ao ver que já era meio dia, o que queria dizer que eu estava na estrada há umas 15 horas e simplesmente não via o tempo passando ou sentia alguma necessidade fisiológica para parar quando fosse necessário. Talvez só o calor do verão para realmente me fazer parar.
– Boa tarde. – Uma garçonete me atendeu quando sentei na banqueta do balcão.
– Boa tarde. – Falei e a mesma me entregou o cardápio. – Me vê uma água, por favor.
– Claro! – Ela falou, me estendendo um copo e uma garrafa de vidro.
– Obrigado. – Falei, ignorando o copo e virando a garrafa inteira em um gole. – Me vê um número quatro, por favor! – Falei um pouco alto para a garçonete, que já estava longe, e a mesma assentiu com a cabeça, anotando no papel.
– Com licença... – Virei para o lado, vendo um homem barbudo sentado algumas banquetas olhar para mim.
– Oi...
– Aquela Harley lá fora é sua? – Ele perguntou e virei para olhar minha moto, que brilhava no sol.
– Sim. – Falei, engolindo em seco.
– Bom gosto, rapaz! – Ele falou e eu assenti com a cabeça. – É motoqueiro?
– Já fui há muito tempo. – Falei. – Voltando a hábitos antigos.
– Para onde está indo? – Ele perguntou.
Queria dizer que não sabia, mas falei a primeira coisa idiota que se passou pela minha cabeça.
– Las Vegas, o pessoal está se encontrando novamente para um casamento de um antigo amigo.
– Está bem mauricinho para encontrar os motoqueiros, hein?! – Ri fracamente, dando de ombros.
– Não dá para correr sempre. – Falei e ele assentiu com a cabeça. – E você? Para onde está indo?
– Texas, carregamento de animais vivos para o rodeio.
– Viaja só à noite? – Perguntei.
– Os animais não aguentam nesse calor. – Ele falou.
– Aqui. – A garçonete deixou o prato com o número quatro.
– Boa viagem, cara! – Falei para o caminhoneiro e o mesmo estendeu a caneca, me cumprimentando.
Olhei para meu lanche com fritas e imediatamente senti muita fome, atacando o prato como quem não via comida decente havia uma semana... O que era mais ou menos o que acontecia.

***


Saí do banho, seguindo até o quarto, e suspirei ao encontrá-lo vazio novamente. Já passava da meia noite, mais um dia tinha acabado, e nada de . Fazia dias que eu não tinha retorno dele e, cada vez mais, parecia que as coisas ficavam mais lentas e insuportáveis.
Sentei-me na beirada da cama, passando a mão onde seria o seu lado e suspirei, negando com a cabeça. Por que ele faria aquilo? Por que não conversamos mais? Aquela noite ainda passava em flashes na minha cabeça e, cada vez que eu pressionava, sentia que as coisas poderiam ter sido diferentes. Foi legítima defesa, foi um acidente... Fui eu quem o matou.
O pior de tudo era que, com desaparecido, ir à polícia e falar que a culpa era minha não me parecia um bom jeito de agradecer pelo o que ele estava fazendo por mim. Estiquei o corpo, peguei o celular jogado entre as almofadas e tentei discar mais uma vez para , colocando o telefone no viva-voz, criando a tradicional esperança dentro de mim mas sabendo que o telefone chamaria até cair. E foi o que aconteceu.
Joguei-o de volta na cama e me levantei, seguindo até a cozinha. Os dias estavam bagunçados e eu não sabia mais o que era dia, o que era noite, se era hora de que refeição e se eu deveria fazê-la. Os dias realmente só passavam, eu não os vivia mais. Olhei as opções no armário, mas não tinha pique para fazer alguma coisa. Segui até o congelador, peguei mais uma das comidas prontas e coloquei sem ânimo no micro-ondas, apertando a minutagem indicada na embalagem.
Ouvi o barulho da campainha e franzi a testa, conferindo novamente se eu havia visto o horário certo – e havia mesmo. Segui em direção ao interfone, vendo a câmera acesa, e revirei os olhos quando vi meu pai na mesma. Puxei o telefone, colocando na orelha.
– Eu quero ficar sozinha, pai. – Falei com o mesmo tom de mais cedo na delegacia.
– Abre, . – Ele falou e eu apertei o botão da chave, devolvendo o telefone no gancho.
Ouvi seus passos pela escada que dava para o segundo andar, o primeiro da nossa casa, e o vi aparecer pela porta da cozinha. O mesmo se apoiou no batente e me deu o mesmo olhar que ele me dava havia uns nove dias.
– O que foi? – Perguntei. – Já viu que horas são?
– Eu te faria essa mesma pergunta se isso fosse relevante. – Ele se aproximou de mim, dando um beijo em minha cabeça. – Sabia que estaria acordada. – Suspirei, ouvindo o micro-ondas apitar.
– O que aconteceu? Você não foi para casa? – Perguntei.
– Aparentemente, pela sua relação comigo e pela sua relação com o , eles estão fazendo uma busca mais precisa em tudo...
– O oficial Deaton te odeia, pai. – Falei.
– Ele quer meu trabalho há uns 20 anos, ele achou o motivo para me desacreditar... – Neguei com a cabeça.
– Me desculpe te fazer passar por isso. – Suspirei.
– Eu que deveria me desculpar por vocês. Alguma notícia do ? – Ele perguntou.
– Nada! – Suspirei e ele assentiu com a cabeça.
– Eles vão pedir um mandato de busca e apreensão... – Franzi os olhos.
– Para quê? Eu estou falando faz 10 dias que foi um acidente... – Falei, sentindo as lágrimas de novo.
– Me desculpe, filha. – Ele falou. – Só esteja acordada às oito, ok?!
– Como se fosse fácil dormir. – Suspirei.
– Quer que eu fique contigo? – Ele perguntou e eu neguei com a cabeça.
– Tente proteger seu emprego antes, ok?! – Falei, sentindo-o me abraçar.
– Eu só quero que você fique bem. – Ele falou e eu suspirei.
– Eu vou sobreviver.

***


Abaixei o copo mais uma vez, assoviando para o barman que estava um pouco mais afastado, e apontei para a garrafa de tequila na minha frente mas do outro lado do balcão. Ele assentiu com a cabeça. Peguei a mesma, virando-a no meu copo, e acabou antes de completar uma dose, me fazendo suspirar.
Se eu contasse toda bebida alcóolica que eu estava ingerindo naqueles últimos dias, provavelmente seriam mais garrafas do que dias, mas era o que dava para fazer nos tempos de descanso: tentar fugir da realidade.
Quando eu voltava para ela, eu só conseguia pensar em sendo atacada por aquele ser perverso, nojento, asqueroso... Como alguém tinha coragem de fazer aquilo com uma pessoa? Não importando o gênero! Minha mãe podia ser uma bruxa com minhas namoradas desde cedo, e eu também não era exatamente flor que se cheirasse, mas ela havia me ensinado como tratar uma mulher e aquele ser não tinha aprendido nem um por cento disso.
Quando eu ouvi o baque forte e o corpo dele desfaleceu automaticamente em cima do meu, eu só conseguia ficar aliviado. Apesar de ter meu histórico em lutas nos meus anos mais jovens, fazia uns bons 10 anos que eu não praticava com o mesmo afinco e, com certeza, duas horas por semana não estavam me deixando em tão melhor forma. Eu perderia aquela luta, era fácil.
Perder não seria a pior coisa, mas a facada em meu ombro – quase inteira curada àquela altura – me assustou de forma que senti que algo pior podia acontecer. Lutas eram corporais. Quando se tinham armas em jogo, boa parte dos lutadores profissionais começavam a pensar com a razão. E pensar em perder minha noiva, a mulher que eu lutei tanto para ficar junto, não me parecia uma boa opção. Antes eu do que ela.
Puxei o celular do bolso, vendo-o com pouca bateria, e abri o aplicativo do telefone, seguindo em ligações recentes e vendo diversas vezes o nome de . Eu queria muito retornar ou atender quando ela ligava, mas ela talvez estivesse vivendo o mesmo terror que eu, e não era nem enfrentar a polícia para interrogatórios e tudo mais. Seu pai era chefe da polícia do condado, ele deveria estar mexendo alguns pauzinhos, mas a questão era deixá-la sozinha. A cabeça prega algumas peças e nem sempre nos damos conta do que é real e do que é ficção.
Tirei minha carteira do bolso, pegando minhas últimas notas de dólares, e deixei no balcão, vendo o barman em minha frente assentir com a cabeça. Segui para fora do bar, observando a rua deserta daquela pequena cidade em Indiana. Eu havia caído ali e as placas rústicas daquele bar me chamaram a atenção.
Peguei a moto, empurrando-a cerca de 50 metros até um hotel de beira de estrada, e estacionei junto de outras duas motos. Segui até a recepção acesa, com somente um garoto de uns 20 anos ouvindo alguma música atual que estourava dos fones de ouvido.
– Boa noite. – Ele falou.
– Boa noite, me vê um quarto, por favor. – Falei, abrindo a carteira, e respirei fundo. – Tem caixa eletrônico por aqui? – Perguntei e o mesmo negou com a cabeça.
Suspirei e estendi meu cartão para ele.
– Débito.
Ele passou, eu coloquei minha senha e, logo, tinha uma chave em minhas mãos. Segui até o quarto indicado na chave e entrei no mesmo, sentindo um forte cheiro de mofo. Não era exatamente o Ritz. Chequei no relógio, percebendo que era pouco mais de nove da noite do dia 12 ou 13 e sabia que, depois de passado o cartão, era questão de horas para chegarem em mim. Eu teria poucas horas de sono.
Fui em direção ao banheiro, tomando um banho completo, feliz por ter sabonete e xampu ali, e saí do banheiro, pegando uma roupa limpa dentro da minha mochila. Enfiei a outra de qualquer jeito e peguei o carregador.
Conectei o mesmo na tomada e programei quatro horas. Esperava que eu conseguisse dormir para poder seguir viagem, ou pelo menos observar o andamento caso eu não acordasse sendo preso. Senti meu corpo reclamar devido à cama dura e fechei os olhos, tentando ignorar os pensamentos que se passavam em minha cabeça.

***


– Bom dia, senhorita . – Uma das policiais e colegas do meu pai me cumprimentou e esticou uma xícara de café para mim.
– Bom dia. – Respondi fracamente, dando um curto gole na mesma. – Sabe o motivo de me chamarem para voltar aqui? Alguma novidade nas buscas em casa?
– Não encontraram nada, mas parece que seu noivo usou o cartão de crédito na noite de ontem. – Arregalei os olhos.
– O quê? – Deixei o copo na mesa de lado e me levantei.
– Um hotel em Mishawaka, Indiana. – Ela falou e eu suspirei. – Sabe se tem alguma relação? – Ela perguntou.
– Ele deve estar andando sem rumo. – Falei. – Como eu falei, Anna, não foi planejado, ele não tem para onde ir, não tem o que fazer...
– Por que ele não volta, então? Já faz duas semanas... – Suspirei, negando com a cabeça.
– Eu não sei, eu juro. – Engoli em cima. – Eu deveria ter impedido. – Ela assentiu com a cabeça.
– Bom dia, filha! – Vi meu pai aparecer e o mesmo me abraçou fortemente, me fazendo dar um pequeno sorriso.
Eu deveria estar muito mal para ganhar abraços apertados 14 dias seguidos.
– Por que me chamaram aqui? – Perguntei. – Anna disse que ele usou o cartão.
– Sim, estão falando com a polícia de Indiana para irem atrás dele. Cada estado tem uma política, complica um pouco, mas estão no rastro. – Ele falou.
– Poderia ter me falado pelo telefone. – Comentei.
– Tem outro problema. Você vai ter que depor de novo. – Ele falou e eu franzi a testa.
– Por quê? – Falei firme.
– O cara que o matou...
– Não fala isso. – Falei.
– Enfim, ele é filho do governador Perry. – Arregalei os olhos.
– O quê? E ele tentou me estuprar? – Perguntei um tanto alto e ele me puxou pelo braço, seguindo para fora da delegacia.
– Ele está pedindo a cabeça do . O caso acabou de ficar um pouco mais complicado. – Senti meu coração palpitar, me fazendo respirar fundo.
– Ah, meu Deus.
– É bom o colaborar pois, do contrário, eles vão atirar para matar. – Senti minha respiração faltar, as pernas viraram gelatina, mas Anna me amparou prontamente. – Respira fundo... – Tentei obedecer, mas o cérebro não obedecia.
– Meu Deus. – Passei as mãos nos olhos.
– Se acalma! – Ele falou e ouvimos passos apressados, nos afastando alguns metros da porta.
– Eu não me importo se ele é genro do chefe , ele vai pagar pelo o que fez! – Vi o governador aparecer totalmente exacerbado. – Eu quero ele vivo ou morto, não importa. Só quero ele aqui agora! – Ele gritou e seu olhar caiu sobre o meu. – Então é você a cúmplice do crime. – Ele se aproximou de mim e policial Dockery se colocou entre a gente.
– E você é o cúmplice da tentativa de estupro? – Respondi com a mesma soberba dele.
– Você não sabe com quem se meteu, mocinha. – Ele falou.
– Aparentemente com o pai de um estuprador. – Falei, dando um meio sorriso, e ele ficou mais vermelho do que um tomate.
– Levem-na para depor agora! – Ele falou alto, assustando os diversos policiais na entrada.
– Venha, filha! – Meu pai passou as mãos em meus ombros.
– Eles vão pagar, senhor , eles vão! – O governador ainda gritou.
– Senhor Perry, se acalme. Seu filho não tem moral nenhuma aqui, já foi feito exame de corpo de delito e bate com a explicação de . Seu filho tem sorte de estar morto, pois esse estado não aceita violência contra mulher. – Maura, chefe de polícia junto do meu pai, falou firme, e só faltou ver fumaça subir pela cabeça do governador.

***


Entrei em mais um posto de serviço, perto de Rapid City, Dakota do Sul, e me sentei na beirada do balcão novamente, vendo o cardápio em minha frente. Observei as opções e senti meu estômago roncar.
– Um combo número sete, por favor. – Falei para a atendente e a mesma assentiu com a cabeça, me dando um bonito sorriso que me fez retribuir. – Com Coca Cola, por favor.
– É para já. – Ela falou.
Eu respirei fundo, coçando a testa, e tirei o boné e os óculos da cabeça. Segundos depois, a moça já deixou a larga caneca de refrigerante em minha frente e eu bebi metade em um longo gole. Eu estava com muita sede. Apesar de ter ido para o norte e o calor ter dado uma aliviada, o sol ainda era meu maior inimigo.
Ouvi um barulho baixo que não vinha da antiga jukebox ali do lado e percebi algumas televisões espalhadas pelo lugar. Um jornal local, ou algo parecido, passava diversas imagens. Franzi a testa ao perceber que estava falando sobre os últimos crimes, reconheci a cena de 18 dias atrás e respirei fundo, vendo o governador Perry falando sobre o assunto.
O som não estava audível, mas a linha fina falava “homem fugitivo matou Jordan Perry, filho do governador Perry, MA”.
– Meu Deus! – Comentei um pouco alto.
Que merda nós tínhamos feito?
Eu me assustei com a foto de e seu pai aparecendo logo em seguida e os escritos “ , filha do chefe de polícia , é suspeita de cúmplice, namorado está fugido”. Abaixei meu rosto quando uma foto minha antiga apareceu e espiei com os olhos até que a reportagem passou.
– Aqui, senhor! – Eu me assustei com a garçonete. – Opa, me desculpe. – Ela riu fracamente. – O senhor deve estar muito cansado.
– Ah, um pouco! – Comentei e ela olhou para TV.
– Essas notícias são tristes, não é mesmo? Viu a história do filho do governador de Massachusetts?
– Ah, ouvi falar rapidamente.
– O governador está jogando duro para os suspeitos, mas falam que ele tentou estuprar a moça. – Ela falou.
– Teve o que mereceu então. – Falei um pouco baixo e a mesma concordou comigo.
– Nesse caso, eu realmente não posso negar. – Ela falou. – Bom apetite. – Ela disse e se afastou.
Comi rapidamente, mal sentindo a comida passar pelos dentes, e deixei algumas notas novas em cima do balcão, saindo com rapidez do restaurante, pegando o celular no bolso e discando um número de quem eu não tinha contato há bons anos: Ned Stephan.
Sabia que você acabaria me ligando eventualmente. – Ouvi sua voz sarcástica e respirei fundo.
– Você viu?
Eu e os Estados Unidos inteiro. – Ele falou e eu engoli em seco. – Onde você está, cara?
– Dakota do Sul. – Falei simplesmente. – Eu preciso de ajuda, cara.
Você matou o filho do governador, cara, como você quer que eu te ajude nessa?
– Não fui eu, cara. Foi a , e foi um acidente. – Falei, respirando fundo.
A história dela é verdadeira? – Ele perguntou.
– Não falo com ela desde então, não sei o que ela falou, mas ela jogou a culpa em mim, como eu pedi. Foi legítima defesa, mas ela jogou a pedra. – Engoli em seco.
Por que você está protegendo-a, cara? A é forte, mano, você sabe o que ela passou com você lá...
– Eu sei, cara, eu sei. – Interrompi. – Mas eu não podia deixar ela enfrentar isso. – Falei rapidamente.
O que você precisa, cara? – Ele falou, aparentemente cansado de tentar receber explicações.
– Proteção. – Falei, respirando fundo.
Por quê? – Ele perguntou.
– Eu vou ter que voltar. Achei que fugir ia ajudar a ficar livre mas, depois dessa reviravolta, não é só meu lombo que está correndo risco. – Suspirei. – E eu não posso deixar nada acontecer com ela.
Depois que você saiu, , o pessoal começou a jogar para valer. Se eu pedir proteção para eles, você sabe que a conta pode ficar alta depois. – Suspirei.
– Eu preciso, cara, já liberaram um alerta sobre mim. Eu preciso chegar em Boston porque eu posso não conseguir voltar. – Suspirei. – Me querem morto.
Ned soltou um longo suspiro e, se alguma coisa não tinha mudado em 10 anos, era que ele ainda era meu amigo e me proteger sempre vinha em primeiro lugar, lá atrás e ali. Apesar da distância, ele era o cara que eu sabia que ia me ajudar, mesmo se passassem anos, e ele também podia contar comigo.
Consegue chegar em Lincoln, Nebraska? – Ele perguntou depois de um tempo.
– Consigo, em umas sete ou oito horas. – Falei.
Os caras vão te encontrar lá. Não fure. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
– Valeu, cara! – Suspirei.
- Te cuida, . Você não saiu daquela vida para morrer de graça. – Respirei fundo.
– Posso te garantir, Ned, que, se eu morrer, não vai ser de graça, vai ser para proteger a . – Dei um pequeno sorriso, vendo o sol de pôr ao longe.
Ela merece a proteção, mas aposto que ela prefere viver com você vivo. – Engoli em seco.
– Espero conseguir. – Falei, ouvindo a ligação cair e respirando fundo.

***


Ouvi o celular tocar e me levantei em um pulo, pegando o mesmo na esperança de ser , mas só encontrei um número desconhecido com o código de área 702... O código não me era estranho, mas fazia muito tempo para eu me lembrar de cor.
– Las Vegas! – Falei rápido e atendi o mesmo em silêncio.
? – Ouvi uma voz do outro lado.
? – Perguntei incerta.
Ned Stephan, garota! – Ele respondeu, me fazendo arrepiar.
– Ned? – Falei surpresa. – Meu Deus, o que aconteceu? O que aconteceu com ele?
Está tudo bem, , está tudo bem. – Ele falou rapidamente. – Sei que combinamos de nos falarmos se desse uma merda muito grande, mas está tudo bem. Ele me ligou.
– O que aconteceu? – Perguntei.
Ele ficou sabendo do alerta contra ele e pediu ajuda para os caras, . – Respirei fundo.
– O quê? – Perguntei.
Não posso falar mais nada além disso.
– Ned, por favor! – Falei firme. – Eu já vi muita coisa acontecer isso, eu já estive em toda parte por causa de vocês, já passei por poucas e boas. Já vi um milhão de rostos me encarando com essa mesma pena e eu abalei todos. – Suspirei. – Que porra está acontecendo? – Falei firme.
Não é a mesma coisa, , nunca tivemos a polícia em nossos pés.
– Vocês eram motoqueiros de uma gangue que traficava drogas também, Ned, não vamos nos lembrar daqueles três dias em que eu fiquei em cativeiro por causa de 200 quilos de cocaína. – Falei alto, sentindo vontade de chorar. – O me ama e ele aceitou sair dessa vida por causa de mim, trabalhar em um escritório de merda para viver uma história de amor, mas eu já aguentei muita coisa para ficar de graça agora.
O mesmo ficou em silêncio e eu sabia que ele podia simplesmente desligar na minha cara, mas ouvi sua respiração abafada do outro lado da ligação. Ele sabia que eu tinha razão, mas 10 anos era muito tempo, suficiente para que as coisas mudassem.
Ele está voltando, . – Ele falou e eu respirei fundo. – E ele acha que pode ser morto no meio do caminho.
– Pelo que eu ouvi do governador Perry, ele tem razão. – Suspirei.
Fiquem bem, ok?! Como você disse: vocês já passaram por muita coisa para caírem agora. – Suspirei.
– Obrigada, Ned. – Suspirei. – Ficarei preparada.
Eu te amo, garota. Fica bem, ok?!
– Você também. – Suspirei, tirando o celular da orelha a ponto de vê-lo desligar em minha mão.

***


Ouvi um ronco de motor alto, estiquei o corpo apoiado na minha moto e vi algumas luzes pequenas me cegarem com a aproximação. Senti minha respiração faltar por alguns segundos. Fazia anos que eu não via aquele grupo em particular e, apesar de ter tido o apoio da gangue inteira quando eu decidi sair, eu prometi que nunca mais pediria ajuda deles para me livrar dos meus problemas. Parecia que eu precisava de ajuda mais uma vez.
As motos pararam em formação na minha frente e as luzes foram apagadas quando todos desligaram os motores. O líder, que tomava meu antigo lugar, desceu da moto e se aproximou de mim com os braços cruzados.
. – Ele falou sério.
– Mit. – Falei com calma e o mesmo me puxou para um abraço, me apertando fortemente e me fazendo rir.
– Que saudades, cara! – Ele me sacudiu um pouco, me fazendo rir. – Cadê o cabelo e barba grande? Machucados no rosto? Está parecendo um bebê! – Rimos juntos.
– Muitas coisas mudaram, cara!
– Não muitas, pelo visto. Você ainda continua encrencado. – Suspirei, assentindo com a cabeça.
– Só protegendo a , cara. – Falei e ele assentiu com a cabeça. – Ela merece.
– Eu sei! – Ele disse. – Todos sabemos. Ned explicou um pouco sua situação.
– Preciso voltar para Boston sem ser morto. – Falei e ele respirou fundo.
– Vamos te escoltar até lá, é nossa missão. – Ele falou, me fazendo assentir com a cabeça.
– Todos estão alertas de que pode ter perseguição quando chegarmos perto? – Falei um tanto mais alto.
– Estamos contigo. – Mit falou e os caras, muitas caras novas, assentiram com a cabeça.
– Bom, vamos. – Falei, colocando meu capacete de novo.
– Antes... – Mit falou, se aproximando de sua moto e pegando alguma coisa. – Se você vai andar como cowboy, é bom que esteja a caráter. – Ele me estendeu minha antiga jaqueta e eu respirei fundo.
– Achei que ia queimar ela quando eu saí. – Ele riu fracamente.
– Você não merecia isso. – Vesti a mesma, sentindo o corpo um pouco mais magro para a jaqueta.
– Vamos, galera, temos umas 22 horas até Boston. A viagem vai ser longa e cansativa. – Mit falou e eu subi em meu cavalo de aço, como falávamos na época da gangue.
O ronco das diversas motos ecoou atrás do posto de gasolina e imitei o gesto. Firmei as mãos no guidão, olhando para Mit, e o mesmo assentiu com a cabeça, indicando para eu ir na frente. Saí do estacionamento lentamente, seguindo para a estrada, vendo Mit se colocar ao meu lado quase imediatamente.
Observei o céu estrelado acima de mim e sabia que tinha a noite do meu lado, pois os cowboys se escondiam entre a noite. Eu estava pronto para dirigir a noite toda só para voltar para casa, e seria bom que valesse à pena.

***


Observei os rostos frios do meu advogado e do advogado do governador Perry por detrás do vidro e a conversa acalorada me fazia perceber que não estava nada bem lá dentro. Passei a mão na testa, vendo mais um copo de café vazio, e observei a cafeteira a uns seis passos de distância. Ela estava vazia, e provavelmente eu tinha sido a responsável por acabar com o líquido.
Vi meu pai sair de dentro da sala dos advogados, visivelmente nervoso. E quem diria que, com 32 anos nas costas, eu ainda estaria dando trabalho para meu paia a cinco meses de sua esperada aposentadoria?
– Está tudo bem? – Perguntei para o mesmo, vendo-o se sentar ao meu lado.
– Eles querem pena de morte para o . – Virei para o lado, surpresa.
– Foi legítima defesa, pai, e é a primeira morte dele.
– Eles sabem da época da gangue dele.
– Ele nunca matou ninguém, pai. – Falei firme.
– Eu sei, mas sabemos que também essas gangues não são flor que se cheire, né?! Sabemos que você sofreu muito por causa disso. – Bufei.
– Eles não podem, pai. Eu não posso deixar que eles façam isso. – Eu me levantei e ele pegou meu braço, me fazendo sentar novamente.
– Eles acham que você não está contado algo. – Ele falou firme. – E eu também.
– Eu não estou escondendo nada, pai. – Tentei ser o mais verdadeira possível.
– Tem certeza? – Ele perguntou mais baixo. – Você pode mudar seu depoimento e... – Segurei sua mão.
– Pai, eu sei como funcionam essas coisas. Não importa o que eu falar de diferente, só vão mudar os nomes. É tudo igual. – Respirei fundo. – O cara quer sangue, precisamos de um juiz que não seja comprado.
– O Langdon está tentando a juíza Palmer. – Ele falou do meu advogado e eu assenti com a cabeça.
– Ela é boa. – Suspirei, vendo-o se encostar no sofá. – Você não me parece bem, pai. – Comentei.
– Eu só estou preocupado contigo, com o ... – Ele suspirou. – Eu nunca duvidei dele pois, no momento em que vocês saíram de Las Vegas e vieram para Boston, você se afastou dele, escolheu se afastar dele devido ao histórico inteiro. E ele escolheu mudar por você. – Ele suspirou. – Desde aquele dia em que ele apareceu sem aquela jaqueta de cowboy, eu sabia que ele tinha mudado e que cuidaria de você para valer, sem problemas. – Ele engoliu em seco. – E acho que ele está fazendo isso mais uma vez.
– Eu não sei o que você está falando, pai. – Comentei.
– Você sabe sim, mas entendo, é melhor que eu não saiba. – Ele falou e se levantou quando sua colega, Maura, saiu da sala.
As engrenagens em minha cabeça começaram a funcionar rápido demais. A questão c’ontar a verdade para salvar ’ começava a funcionar em meu cérebro, e eu sabia que era só questão de tempo.

***


Senti meu corpo cansado devido aos quase dois dias de viagem, mas faltava somente alguns metros para chegar no meu destino. A delegacia de Boston parecia mais distante ainda, mas eu sabia que as coisas poderiam começar a serem resolvidas e podia livrar daquela. Parei a moto na frente da delegacia, ouvindo o ronco dos diversos motores atrás de mim, e desci da moto.
– É melhor eu seguir sozinho daqui, cara! – Falei para Mit e o mesmo assentiu com a cabeça.
– Talvez sim. – Ele falou, esticando a mão, e fizemos um cumprimento rápido.
– Aqui. – Fiz menção de tirar a jaqueta e ele parou minha mão.
– Fica, é sua! – Ele falou e ouvi as sirenes dos carros de polícia que nos seguiram nos últimos 60 quilômetros pararem apressados em nossa volta.
– Obrigado! – Falei firme. – Agora saiam daqui antes que sobre para vocês. – Falei sugestivamente e Mit assentiu com a cabeça.
– Se cuida, cowboy! – Ele falou e eu suspirei, andando alguns passos para frente e entrando na delegacia.
! – Ouvi um grito e os braços de estavam em volta de mim.
– Você está bem, graças a Deus! – Falei, apertando-a fortemente, ouvindo-a chorar em meus ombros.
– Você também. – Ela levou as mãos em meu rosto. – Você está muito queimado.
– Eu estou bem! – Falei, sentindo-a colar nossos lábios rapidamente.
– Você não deveria ter vindo... – Ela falou apressada.
– Vai ficar tudo bem. – Falei.
– Senhor ? – Um dos policiais que me seguiam entrou na delegacia, fazendo vários outros ficarem em minha volta, identifiquei o pai de um pouco mais longe. – Você está preso pelo assassinato de Jordan Perry. Você tem o direito de ficar calado, tudo o que dizer pode e será usado contra você no julgamento. Você tem direito a um advogado. Se não tiver como pagar um, o estado proverá para você. – Vi o rosto de se desmanchar em lágrimas e ela pressionar as mãos nos olhos, respirando fundo.
– Por favor... – falava olhando para mim, negando com a cabeça.
– Eu cuido disso, meu amor. – Falei para ela, pedindo para que ela ficasse em silêncio sobre a verdade dos fatos.
– Você entendeu os direitos que eu acabei de ler para você, senhor ? – O policial falou para mim.
– Sim! – Falei, respirando fundo, sentindo as algemas em meus pulsos e sendo empurrado para andar. – Eu te amo. – Falei um pouco alto para e fui levado para a cela nos fundos da delegacia.

***


– Senhorita ? – Ergui o rosto, vendo o oficial de justiça me indicar a porta aberta, e eu respirei fundo.
Eu me levantei, ajeitando meu vestido preto, e segui em direção ao tribunal. Prendi a respiração quando encontrei ali. Fazia uns 20 dias que eu não o via e, se não fosse o filho do governador, aposto que demoraria muito mais para seu caso seguir para o julgamento. Ele não estava muito diferente da última vez em que eu o vi, só a barba que havia sumido e os cabelos estavam um pouco longos demais para o meu gosto.
– Senhorita ? – Outro oficial estava em minha frente com uma Bíblia e eu coloquei a mão na mesma. – Jura dizer a verdade, somente a verdade, em nome de Deus? – Ele falou.
– Juro. – Falei firme, me sentando no local indicado, e olhei para , que parecia suplicar com o olhar.
O advogado da acusação se levantou primeiro e eu sabia que vinha bomba por ali. O olhar suplicante de não dizia nada para as outras pessoas mas, para mim, sim. Ele queria que eu não falasse a verdade, por obséquio. Infelizmente, eu tive muito tempo para pensar até aquele dia e sabia que os motivos para ele me proteger eram muito plausíveis. Fazia muito sentido, na verdade, mas eu não podia vê-lo sofrer, talvez até morrer, somente para me proteger.
Ele já tinha feito muito aquilo aos longos dos anos. Nós nos conhecemos quando a loja em que eu trabalhava em Las Vegas foi atacada por duas gangues rivais e saiu tiroteio durante meu turno. Fui levada para cuidados e acabei me apaixonado pelo líder dos cowboys. Tentamos viver uma vida normal, mas eu era peça chave e sempre tentavam me sequestrar para usar como barganha.
não conseguia se desligar. Ele também estava completamente apaixonado para simplesmente me deixar ir, então decidiu sair da gangue e se mudar para Boston comigo. Infelizmente, eu fui sequestrada uma última vez, três dias presa em cativeiro, esperando que viessem me buscar, por causa de um carregamento de 200 quilos de cocaína que os cowboys pegaram antes. Ainda tinha cicatrizes nos pulsos para comprovar.
Depois que foi resolvido, eu terminei tudo. Não queria mais sair com ele e nem fazer nada. Foi aí que ele descobriu que precisava mudar de verdade para ficar comigo. Foram cinco anos tentando me mostrar que as coisas realmente tinham mudado para eu confiar e dar uma chance para ele novamente.
Ele trocou a moto pelo carro de família, o trabalho animado na gangue por um trabalho de escritório, noites regadas a bebida por três cachorros e uma mulher, tudo por mim. As coisas mudaram, eu sabia disso, mas, quando o vi entrar na delegacia com as jaquetas do cowboys, sabia que eles ainda afetavam minha vida.
– Senhorita , poderia contar para mim e para os presentes novamente o que aconteceu naquela fatídica noite? – O advogado perguntou, olhando para mim, e eu desviei o olhar para , pressionando os lábios.
– Estávamos saindo do Copley Plaza, combinou um jantar com nossos pais para me pedir em casamento. – Falei, engolindo em seco. – Eu estava com dores nos pés devido a um calçado novo e pediu para que eu o esperasse ali, pois ele iria pegar o carro que estava estacionado longe. – Suspirei. – Foi quando apareceu Jordan Perry. Ele tentou me cantar, depois tentou me tocar. Quando eu me afastei, eu tropecei em algumas pedras que estavam ali e caí no chão. – Tentei ignorar os pesadelos de relembrar a cena. – Ele me atacou e me segurava imóvel com as mãos, e foi aí que eu percebi que seria estuprada.
– Como pode dizer isso? – O advogado falou.
– Um cara debruçado em cima de você, contra sua vontade, com o pau duro e abrindo a braguilha da calça diz algo de diferente? – Falei firme, vendo a expressão de horror dos jurados.
– Continue, senhorita . – A juíza falou.
– Com sorte, chegou com o carro e...
– Matou meu cliente? – O advogado falou.
– Meritíssima, insinuação em cima do meu cliente. – O advogado Langdom falou.
– Prossiga. – A juíza falou para mim.
– Eles brigaram, o tirou de cima de mim e eles se enfrentaram com tapas e socos, até que o seu cliente estuprador deu uma facada no ombro de . – Engoli em seco. – Naquele momento, eu sabia que as coisas não se resolveriam no soco, Jordan Perry iria matar meu noivo. – Mordi meu lábio inferior.
– Continue. – Ele falou.
– Foi aí que eu peguei uma pedra e joguei na cabeça de Jordan Perry. – bateu a cabeça na mesa, visivelmente decepcionado com o que eu disse.
Seu rosto passava raiva e eu sabia que ele queria evitar aquilo. Enquanto isso, os jurados e presentes pareciam surpresos.
– Eu só queria evitar que ele matasse meu namorado, foi um acidente. – Falei um tanto alto.
– Você matou Jordan Perry? – O advogado perguntou novamente.
– Sim! – Falei firme, engolindo em seco, e vi os oficiais de justiça perto de mim.
– Espere! – A juíza falou para os oficiais. – Vamos esperar o fim do depoimento.
– E por que o senhor levou a culpa por você? – O advogado perguntou.
– Para me proteger. – Respirei fundo.
– Da cadeia? – Ele continuou.
– Sim. – Engoli em seco, encarando fundo os olhos de . – Porque eu estou grávida. – Falei, vendo o olhar de se pressionar e meu pai me olhar surpreso.
– Levem-na. – A juíza falou.
Senti meu corpo ser levado dali pelos oficiais e as lágrimas voltaram a cair de meus olhos.

***


– Você não deveria ter feito isso, você deveria ter deixado eu te proteger. – Falava apressado e baixo para ao meu lado no banco dos réus.
– Já passou da hora de você parar de me proteger. – Ela falou e eu a abracei de lado.
– Como vamos fazer? – Perguntei e ela negou com a cabeça.
– Ainda temos nossas famílias. – Suspirei, negando com a cabeça.
– Você não deveria ter feito isso. – Negou com a cabeça.
– Cala a boca. – Ela falou e eu suspirei.
– Todos em pé para receber a juíza Palmer. – O oficial de justiça falou e nos levantamos junto dos presentes.
– Podem sentar! – Ela falou e nos sentamos.
– Senhor Williams, soube que os senhores chegaram em um veredicto. – A juíza falou.
– Sim, meritíssima. – Ele falou.
– Para o senhor ? – A juíza falou. – Para o crime de homicídio. Inocente ou culpado?
– Inocente. – Ele falou e fechei os olhos.
– Para o crime de perjúrio?
– Culpado. – Ele falou.
– E a pena indicada?
– 10 meses, agravada para um ano e meio por não prestar socorro à vítima. – Ele falou.
– E para a senhorita ? – Olhei firme para o tal do senhor Williams.
– Para o crime de homicídio. Inocente ou culpada? – Ela perguntou.
– Culpada. – Pressionei os lábios, respirando fundo.
– Pena indicada? – Ele falou.
– Seis anos. Reduzida para três anos e dois meses devido a legítima defesa e gravidez. – Ele falou e eu respirei fundo.
– E pelo crime de perjúrio? – Ele perguntou.
– Inocente, meritíssima. – Suspirei.
– Penas aceitas e devem começar a serem cumpridas a partir de agora. – Ela falou e eu fechei os olhos, respirando fundo.

***


– Me deem dois minutos, por favor! – falou e nos encaramos.
– Eu vou ficar bem. – Falei e ele passou as mãos em meu rosto.
– Eu te amo, ok?! – Ele falou. – Se proteja, se cuide. Eu quero notícias suas sempre.
– Nos falamos por cartas. – Falei, respirando fundo. – Eu vou proteger nosso filho. – Engoli em seco.
– Quando eu sair, eu cuido do nosso filho. Eu vou te visitar, talvez consigamos reduzir a pena por bom comportamento. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
– Fique feliz pelas penas brandas, meu amor, nos livramos de pena de morte. – Engoli em seco.
– Eles não podem fazer isso com uma grávida, a criança não tem culpa de nada. – Ri fracamente.
– Não sei se isso se aplica, mas fico feliz. – Suspirei. – Você me deve essa para sempre. – Ele riu fracamente.
– Precisamos ir. – O oficial falou.
– Nos falamos, ok?! Fica em contato com meus pais, eles sabem de tudo e entendem. – Falei apressadamente.
– Se cuida! Eu te amo! – Ele falou rapidamente e eu fui puxada pelos oficiais.
Seguimos para fora do tribunal, indo em direção à garagem, e fui colocada em um camburão, o que me fez respirar fundo. Dois oficiais entraram comigo e neguei com a cabeça, tentando ignorar como seria minha vida pelos próximos três anos.
– O que acontece agora? – Perguntei para os oficiais. – Comigo? Com o bebê?
– Você tem uma cela separada até o nascimento do bebê. Tem médicos na cadeia que cuidarão de você lá. Quando for a hora do parto, te levamos para o hospital. Você tem a criança, passa pelos cuidados, faz os trâmites legais e passa a custódia para quem quiser, seus pais, talvez... – Assenti com a cabeça. – Em seguida, você volta para cadeia para cumprir o resto da pena. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
– Uma dica? – A outra oficial falou. – Fica na sua. Não se envolva com as milícias dentro da cadeia e não dirija o olhar para ninguém, pense que você tem uma criança para cuidar. Qualquer encrenca pode aumentar sua pena. – Confirmei com a cabeça.
– Só quero que isso acabe logo. – Falei, engolindo em seco.

***


Dei a descarga no vaso sanitário e lavei as mãos rapidamente, voltando a me deitar em minha cama. Peguei o pedaço de carvão ali perto e anotei mais um risquinho, suspirando ao ver que faltava menos agora.
– Um ano, Walt. – Comentei com meu colega de cela.
– Um ano? – Ele perguntou, rindo fracamente.
– Se Deus quiser. – Falei e suspirei.
– Eu vou te ajudar nisso, cara. Você tá sem se meter em encrenca faz seis meses, vai dar certo.
– Espero que sim. O John já sabe do meu passado, ele pode encrencar. – Falei.
– Ele que não encha o saco ou vai sobrar para ele também. – Ele falou.
– Vou ter avaliação com meu advogado semana que vem, espero que reduzam a pena.
– Vão sim, tomara.
? – Olhei para porta, vendo Nico, responsável pelas entregas, passando na porta. – Carta para você! – Ele falou e eu levantei animado.
– Obrigado! – Falei, me sentando novamente, vendo Walt descer do beliche.
– É dela? – Ele perguntou e eu vi a caligrafia de .
– É sim! – Sorri, vendo o envelope já aberto devido à inspeção e peguei a folha de papel lá dentro.
Abri a mesma, vendo algo cair de meu colo e prendi a respiração.
– Nasceu! – Falei alto, sentindo lágrimas escorrerem pela minha bochecha.
Era uma foto dela com nosso filho. Tinha certeza de que foi logo após o parto. estava descabelada ainda, mas tinha um largo sorriso nos lábios. O pacotinho em seu braço mostrava um bebê gorducho e ainda bastante avermelhado.
– Olha! – Estendi a foto para ele e peguei o papel.
“Oi, amor. Finalmente ela nasceu! Isso me dá alegria, pois sei que falta menos para você sair daí e ir para casa.
Fomos surpreendidos novamente. Não é um menino, como aparentava no ultrassom. É uma menina. Não estávamos planejando por isso. Optei por chamá-la de Naomi, espero que goste. Preciso decidir rápido para registrar e voltar a cumprir minha pena. Dei a custódia provisória para minha mãe, ela disse que vai mandar fotos e cartas para você acompanhar o crescimento da nossa pequena.
O parto foi normal, ela nasceu com três quilos e 200, bem gordinha, por sinal, e com 49 centímetros. Apesar de tudo, é bem saudável e perfeita. Em breve, você estará com ela e, depois, estaremos juntos.
Amo você, beijos”.
– Naomi . – Falei para Walt. – É uma menina!
– Não era um menino? – Ele perguntou.
– Pois é! – Falei rindo fracamente e me levantei.
– Parabéns, cara! – Ele me abraçou fortemente. – Ela é linda! – Sorri, sentindo lágrimas deslizarem pelo meu rosto.
Peguei a foto novamente, respirando fundo e segui até a porta da minha cela, já que era de segurança mínima e só fechava à noite.
– Nasceu! É uma menina! – Gritei pelo presídio, ouvindo os homens gritarem, me fazendo gargalhar.
– Parabéns, . – Um oficial falou e eu assenti com a cabeça. – Frango de almoço para comemorar?
– Um grande banquete! – Falei, vendo-o gargalhar.

***


Observei Naomi no berço e respirei fundo, abotoando o último botão da blusa, e mordi meu lábio inferior. Minha filha dormia calmamente e eu sentia por saber que eu não a veria pelos próximos dois anos e meio. Muita coisa aconteceria naquele tempo, eu perderia muito até lá.
– Está na hora de ir. – O oficial de justiça falou e eu respirei fundo, vendo meus pais se levantarem do sofá ao meu lado.
– Cuida dela, mãe. Por favor. – Falei, respirando fundo.
– Eu vou, meu amor. Ela é nosso bem mais precioso. – Assenti com a cabeça, sentindo-a me abraçar fortemente. – Eu a levo para te visitar.
– Não, mãe. – Suspirei. – Melhor não. – Engoli em seco. – Prisão não é lugar para uma criança. – Suspirei. – Eu ficarei quieta, no meu canto, farei minhas atividades, o foco é reduzir minha pena.
– Tem certeza? – Ela perguntou.
– Tenho sim. Levem fotos para mim, mandem fotos para o . Vai passar rápido. – Suspirei, sentindo-a me beijar na testa.
– Fique bem, meu amor. – Meu pai falou, me abraçando também.
– Eu vou ficar bem. Com seis meses, já deu para perceber o andamento da prisão. Logo, eu estarei com vocês de novo. – Suspirei e eles assentiram com a cabeça.
Eu me aproximei do berço de Naomi, pegando-a no colo mais uma vez, vendo que aquilo não atrapalhou o sono dela, e dei um beijo em sua testa, sentindo uma lágrima solitária escapar de minha bochecha, mas dei um pequeno sorriso. Eu e havíamos feito um bom trabalho.
– Fica bem, meu anjo. Mamãe e papai te amam muito e tudo o que fizemos foi para proteger você. – Suspirei, abraçando-a levemente.
– Vamos, senhorita . – O oficial falou e eu entreguei Naomi para meu pai, vendo-o assentir com a cabeça.
– Eu amo vocês, ok?! Vocês três.
– Nós também, meu amor. – Eles falaram e eu acenei com a mão, tocando mais uma vez na coberta rosa de minha filha e seguindo até o oficial Walker.
– Vamos, Alex. – Falei para o oficial, ficando de frente para ele, sentindo-o colocar as algemas em mim novamente. – Amo vocês! – Falei mais uma vez, vendo-os sorrirem.
Segui pelo corredor do hospital, evitando contato visual com as pessoas ali em volta, e fui colocada novamente no camburão. Eu me sentei, vendo dois oficiais entrarem no mesmo, e suspirei.
– Parabéns, senhorita . Ela é linda! – O oficial Walker falou e eu sorri.
– Obrigada. – Falei, respirando fundo. – Mal vejo a hora de vê-la novamente.
– Em breve. – Ele falou e eu assenti com a cabeça, passando as mãos nas lágrimas e suspirando.

***


– Chegamos. – Meu sogro falou e eu respirei fundo.
– Eu estou nervoso. – Falei, respirando fundo.
– É normal, , completamente normal. – Ele falou e eu sorri. – Ela está te esperando. – Assenti com a cabeça.
Entramos na casa dos meus sogros e o mesmo levou minha mala, deixando ao lado da porta. Segui até a sala. Entrando devagar. Vi minha sogra no centro da sala e dei dois toques no batente da porta. Ela se virou, abrindo um largo sorriso para mim.
– Ah, meu querido! – Ela veio rapidamente em minha direção, me abraçando com força, e eu a tirei do chão, ouvindo-a rir. – Que surpresa deliciosa te ter aqui antes.
– Não acredito que consegui sair antes. – Suspirei.
– Sabia que você conseguiria, vocês fizeram tudo certo. – Sorri. – Como você está? Bem? Saudável?
– Perfeitamente bem e sem novas tatuagens! – Brinquei e ela riu fracamente.
– Que bom, querido! – Ela me abraçou fortemente. – Tem alguém que quer te conhecer. – Ela falou e eu prendi a respiração por um momento.
Minha sogra se afastou da minha frente, eu vi o carrinho colocado no centro da sala e me aproximei do mesmo, vendo o bebê de seis meses chupando o dedo do pé. Senti as lágrimas começarem a deslizar pelas minhas bochechas. Eu me ajoelhei na frente do carrinho, vendo o bebê me encarar curioso, e suspirei.
– Oi, meu amor. – Falei, não contendo as lágrimas. – É o papai. – Coloquei a mão em seu corpinho, estudando como ela agiria.
– Pega ela, , ela é muito calminha. – Ouvi minha sogra falando.
Passei as mãos embaixo do corpo de minha filha e a ergui para cima, me fazendo respirar fundo. A mesma me observou com o olhar e a apoiei em meu peito, sentindo as lágrimas deslizarem pela orelha.
– É o papai, meu amor. – Falei, movimentando meu corpo devagar, ninando-a. – Eu estou aqui. – Suspirei.
– Está tudo bem agora, . – Meu sogro falou e eu virei o corpo para ele, vendo-os sorrirem para mim.
– Está sim, está quase tudo perfeito. – Falei, vendo-os assentirem com a cabeça.

***


– Oi, meu amor! – Falei, vendo quando entrei na sala de visitas, e ele sorriu, se levantando rapidamente e me dando um curto abraço para nos sentarmos antes que os oficiais reclamassem.
– Como você está? – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
– Está tudo bem. E você? Naomi? Meus pais? – Perguntei rapidamente.
– Está tudo bem, meu amor. Eu trouxe fotos da Naomi, ela está crescendo rápido. – Falei, pegando meu celular e abrindo a galeria, virando para ela.
– Ah, meu amor. – Suspirei. – Ela está tão linda... – Sorri.
– A cada dia, mais ela se parece contigo. – Suspirei.
– Parece mesmo. – Olhei para ele. – Eu tenho novidades. – Falei.
– Quais? – Perguntei animado.
– Eu vou sair antes. – Falei e ele me olhou surpreso.
– Mesmo? – Ele perguntou.
– Sim, semana que vem. – Falei, assentindo com a cabeça.
– Ah, meu amor, isso é demais! – Ele falou, apoiando a mão em cima da minha, e eu sorri.
– Eu te chamei aqui para gente ver como vamos fazer, vai ser difícil para Naomi se acostumar comigo tão rápido. – Suspirei.
– Eu falo de você frequentemente, mostro fotos, vídeos... Ela me parece animada, mas entendo. – Assentimos com a cabeça.
– Você consegue fazer algo para prepará-la?
– Consigo sim. – Ele assentiu com a cabeça. – Vou tentar fazer algo sutil, mas já falar da sua chegada. Vai ficar tudo bem.
– Eu sei, vai sim. – Suspirei. – Só preciso ter calma. – Ele sorriu, segurando minhas mãos fortemente.
– Sim, por favor. Você está falando com a psicóloga, não está? – Ele perguntou.
– Sim, estou, ela que indicou fazer essa preparação. – Ele assentiu com a cabeça.
– Vão ser passos de formiguinha mas, daqui a um tempo, vai ser como se nada tivesse acontecido. – Ele falou e eu sorri.
– Por favor, chega de surpresas para minha vida. – Falei e ele sorriu, dando um rápido beijo em minha mão.
– Só uma vida chata e entediante. – Ele falou e eu ri fracamente.

***


– Agora vamos conhecer uma pessoa muito especial, meu amor. – Falei para Naomi, dando um beijo em sua cabeça.
– Quem? – Naomi perguntou, mexendo nos botões da minha blusa.
– Sua mãe. – Falei, vendo-a olhar surpresa para mim.
– Mamãe? – Ela perguntou e eu assenti com a cabeça.
– Sim, meu anjo. – Suspirei. – Ela precisou ficar fora durante esses dois anos e meio, mas ela te ama muito e sentiu muito sua falta.
– Ela vai gostar de mim? – Naomi perguntou e eu sorri.
– Claro que vai, meu amor. Ela te ama muito. – Sorri, passando as mãos em seus cabelos.
– Estou com medo. – Ela falou e eu suspirei.
– Não precisa ter medo, meu amor. Está tudo bem. – Falei, sentindo-a me abraçar fortemente e sorri, vendo o carro parar em frente a nossa casa.
Apontei o carro para Naomi. Observei, do alto, sair do carro, e respirei fundo, sorrindo. Olhei para Naomi e ela parecia surpresa com a semelhança com a mãe. Eu a coloquei no chão, vendo-a se esconder atrás das minhas pernas. Ouvi o barulho das escadas e segui até a mesma.
– Finalmente! – Falei quando vi aparecer no pé da escada e a mesma abriu um largo sorriso.
– Você está aqui! – Ela falou, me abraçando, e abri um sorriso.
Ela me fez girá-la pelo cômodo e ouvi sua risada ecoar pelo meu ouvido. Encarei seu rosto quando ela olhou para mim e ela sorriu. Passei a mão em sua bochecha, sentindo-a molhada, e percebi que ela estava um pouco mais magra do que eu conhecia, mas ela estava incrivelmente linda.
– Eu senti sua falta. – Ela falou.
– Eu também! – Falei, colando nossos lábios fortemente, sentindo-a me abraçar pelos ombros, me fazendo suspirar. – Estava com saudades. – Falei.
– Onde está ela? – Ela perguntou baixo e eu a segurei pela cintura, virando o corpo, vendo Naomi parada da mesma forma que antes.
– Vai devagar, ela está um pouco nervosa. – Comentei e assentiu com a cabeça.
Dei alguns passos em direção a Naomi e a mesma estendeu as mãos para mim. Eu a peguei no colo, vendo-a esconder o rosto na dobra do meu pescoço, e eu dei um beijo em sua bochecha. se aproximou com aquele olhar esperançoso e nervoso.
– Naomi, essa é , sua mãe. – Falei, apertando-a em meus braços. – O amor da minha vida.
Naomi demorou um pouco para afastar o rosto do meu pescoço, mas o fez e estudou devagar . A mesma olhava com um pouco de expectativa, mas falamos sobre aquilo quando começaram as discussões sobre ela conseguir sair mais cedo. Apesar de mostrar fotos e vídeos, era difícil fazer virar mãe de Naomi no primeiro estalo.
– Oi, meu amor. Eu sou sua mãe. – falou com um sorriso de lado.
– Oi. – Naomi falou baixo, fazendo sorrir.
– Fiquei sabendo que você gosta de picolé de uva. – falou e eu sorri. – Eu sei fazer um bem gostoso, sabia? – Ela comentou.
– Com creme? – Naomi falou baixo.
– É, com creme. Você quer que eu faça para você? – ofereceu.
– Quero. – A mesma falou baixo, mas já ergueu seu corpo em meu colo.
– Você quer ir para o colo dela? – Ofereci.
– Quero. – Naomi falou baixo, estendeu suas mãos e Naomi foi para seu colo, ainda tímida. – Vem com a gente, papai. – Naomi falou e assentiu com a cabeça.
Apoiei minha mão no ombro de e segui com as duas até a cozinha. Os pais de estavam parados na porta com sorrisos no rosto. Seu pai bateu em minha mão rapidamente e eu assenti com a cabeça.
– Vai melhorar com o tempo. – Comentei baixo para quando ela sentou Naomi na bancada.
– Eu sei. – A mesma falou com um pequeno sorriso no rosto e eu dei um beijo em sua cabeça. – Vai ficar tudo bem.
– Vai sim. – Comentei, me aproximando de Naomi. – Você quer picolé de uva com creme?
– Quero! – Naomi falou animada, mas percebia que seus olhinhos ainda estudavam .
Sabia que o caminho não seria fácil mas, falando de mim e , nada era fácil. Havíamos passado por poucas e boas durante os 15 anos em que nos conhecíamos. Fazer parte de uma gangue parecia ser a pior coisa para mim antes, fazer sofrer por culpa minha. Depois, quase levar uma pena de morte por um acidente e legítima defesa. E depois, a cadeia. Muita coisa aconteceu, mas eu estava pronto para viver uma vida da mais comum possível.
Viver sempre no meio da aventura foi uma opção para mim, mas minha maior aventura seria viver uma vida normal com minha esposa e minha filha. Sabia que seria difícil para Naomi se acostumar com , mas eu estava preparado para aquilo e estava pronto para o que viesse. Com comigo, tudo estaria bem.


Epílogo


olhou nervoso para a porta que dava para o quintal e respirou fundo, sentindo as mãos suarem. Era besteira ele ficar nervoso só porque aquele dia tinha um nome especial, mas ele conhecia aquela mulher há mais de 18 anos, já passaram por poucas e boas juntos. Falar “sim” em frente a um juiz não deveria parecer tão nervoso assim.
A música começou a tocar e os poucos convidados se levantaram. A mistura era incrível. Tinha a família, pessoal da antiga gangue de , pessoal da polícia, oficiais e conhecidos da cadeia, amigos de do seu trabalho na fábrica de chocolate, até alguns conhecidos de infância. Apesar de tudo o que passaram, eles ainda conseguiam agregar pessoas de diversos lugares e elas se importavam o suficiente com os noivos para não se importarem com os outros presentes.
Naomi apareceu no curto caminho improvisado feito de dentro da casa dos pais de até o quintal, e seus quatro anos a deixavam mais linda ainda. Ela jogou as pétalas de flores que insistiam em voar antes mesmo de cair no chão, fazendo-a rir com a brincadeira, e a mesma se colocou em frente ao pai.
a pegou no colo, estalando um beijo em sua bochecha, e depois a devolveu ao chão, fazendo a mesma correr na direção da mãe de na primeira fileira, fazendo os convidados rirem com a fofura.
apareceu no final do corredor com seu pai e prendeu sua respiração ao ver como ela estava cada vez mais deslumbrante. Era possível alguém ficar tão bem de branco? sabia que ninguém ficaria melhor nessa cor do que . A mesma também tinha o véu e cabelos bagunçados devido ao vento e ambos sorriram quando seus olhos se encontraram durante o pequeno caminhar.
desceu o pequeno degrau do altar improvisado e o senhor deu um beijo na testa da filha. Abraçou fortemente antes de entregar a mão de sua filha para o cara que ele sabia que faria realmente tudo para proteger sua menina. Tudo mesmo.
– Você está maravilhosa. – sussurrou para , fazendo-a franzir o rosto de vergonha, e ambos se colocaram em frente ao juiz de paz.
O casal entrelaçou as mãos, deixando-as caírem na lateral do corpo, e eles começaram a prestar atenção no juiz. Bom, eles fingiam que estavam prestando atenção, mas os dedos dançantes às costas deles faziam os convidados perceberem o quão empolgados eles estavam em acabar com tudo aquilo e viver da forma mais simples possível: juntos.
– Pelo estado de Massachusetts, eu vos declaro marido e mulher. – O juiz falou. – Pode beijar a noiva. – Ele falou sugestivamente para .
O mesmo ergueu o véu de sua então esposa, deixando que o mesmo voasse mais ainda para trás, e levou as mãos à cintura da mesma, aproximando o rosto lentamente. , com um pouco mais de pressa, ergueu sua mão direita, tapando a visão dos fotógrafos, e trouxe para mais perto de si, fazendo seus lábios colarem com mais rapidez.
Os convidados bateram palmas animados e inclinou seu corpo para frente, como naqueles beijos de cinema, fazendo os convidados darem risada e ambos sorrirem quando se separaram. chamou Naomi e a menina foi animada em direção a seus pais. pegou a menina no colo, dando um beijo em uma bochecha, e copiou, fazendo o mesmo na outra.
Dois anos mudaram muito na vida de ambos. Naomi havia se acostumado com os dois em sua vida como se nunca tivesse ficado sem eles. As vidas de e foram mais difíceis de recomeçar, principalmente na parte de empregos mas, como quem tem amigos, tem tudo na vida, eles foram se ajeitando para cumprir tudo o que tinham.
Eles sabiam que ainda poderiam aparecer alguns percalços pelo meio do caminho, mas contavam o começo de suas vidas a partir do dia em que saiu da cadeia. O que ficou para trás, ficou. Eles também não escondiam os problemas. Não era algo para se abrir para qualquer um, mas também não era vergonha nenhuma para eles.
Sim, alguém tinha morrido por causa deles.
Mas outros também tinham sido salvos por causa deles.
E esses alguéns eram Naomi e eles mesmos.




Fim.



Nota da autora: Estou surpresa que essa história saiu e como ela realmente ficou boa! Hahaha Eu adoro essa música do Bon Jovi e quando apareceu a oportunidade, eu peguei, mas eu só queria fugir do óbvio da música, mas acabou que eu misturei o óbvio com o que não é óbvio e fiquei muito satisfeita do resultado final!
Estou apaixonada pelos meus personagens e pensando em mil opções para contar o passado deles em outra oportunidade, quem sabe? Hahaha.
Espero que vocês tenham gostado e não se esqueçam de deixar aquele comentário bacana no final, hein?!
Beijos.



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