Última atualização: 17/05/2016

Capítulo Único

[Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal. (F. Nietzsche)]

Eu nunca fui muito fã de clichês. Eu sei que parece clichê dizer isso, mas acontece que clichês costumam ter finais felizes e quem me conhece, sabe que finais felizes não fazem bem o meu tipo: eu sou o raio que cai duas vezes no mesmo lugar, exceto que os últimos três meses foram uma série de clichês elásticos e inexplicáveis, e eu só reparei depois de voltar pro Brasil. O amor clichê nem sempre tem finais felizes, tenha isso em mente enquanto eu te conto essa história. Algumas princesas da Disney aparentemente não merecem contos de fadas.
Eu sou brasileira, mas nesse momento, eu estou escrevendo de Orlando, não sei se vocês acompanham o blog, mas estive trabalhando na Disney nos últimos meses. Fazer um intercâmbio parece sempre a coisa mais legal do mundo, mas foi uma ideia idiota vir trabalhar na Disney. Não me leve a mal, eu sei que passei por muita coisa pra chegar aqui, mas ficar três meses morando em outro país, lidando com muita gente que eu nunca vi na vida não estava sendo a coisa mais confortável do mundo. Acordar muito cedo, correr de um lado para o outro. Eu tinha chegado a menos de duas semanas e já estava exausta de chegar em casa às três da manhã todos os dias, e enquanto eu assistia Gabby, uma das minhas cinco colegas de casa, requentando taquitos enquanto eu brincava no Tinder, reparei que se eu me esforçasse um pouco, talvez as coisas estivessem tendendo a melhorar. Pra ser bem honesta, eu nunca conheci ninguém do Tinder pessoalmente, era mais uma diversão mesmo. Os riscos eram muito altos, e eu não via nenhuma perspectiva de mudar esse ponto, quando o rosto de pulou na tela, me avisando que havíamos combinado.
Nesse ponto da minha vida, eu tenho que comentar que trabalhar na Disney é um processo complicado, que envolve muitas coisas e muito crescimento pessoal, mas se você se interessa, não deixe o que eu disse ainda a pouco te assustar: minha ideia mudou entre a primeira e a última semana, e parte disso se deve ao fato de que pelo caminho eu conheci pessoas maravilhosas. Acontece que, quando você é intercambista, você tem tempo limitado, e eu queria tudo ao mesmo tempo, o tempo inteiro. Estou bem, estou feliz por estar voltando pra casa.

’S P.O.V.
[We were going way too fast, chasing down the hourglass. Running from the past headed out with no direction.]

O barulho do despertador parecia longe demais para que meus braços curtos alcançassem. Me revirei outra vez na cama sem abrir os olhos, tentando fazer com que o lençol cobrisse meus pés, mas ele estava completamente enrolado em volta da minha cintura, seria impossível chegar aos pés. Estava prestes a desistir e me levantar, quando ouvi o resmungo vindo da cama ao lado. Mal me lembrava de , enrolada praticamente numa bola que agora, se debatia de um lado para o outro com o rosto franzido, estava dormindo no meu dormitório. Em geral, aquela era a cama de Anna, mas eu já estava tão acostumada com a sua ausência, que já estava achando que estava ouvindo vozes. Eu e Anna dividíamos a casa com outras quatro meninas, quatro americanas ligeiramente mal humoradas com as quais pouco conversamos desde que chegamos ali, duas semanas atrás.
– Você vai desligar essa coisa ou vai me obrigar a levantar? – Sua voz irritada me fez abrir os olhos e encarar o teto como se nunca o tivesse visto antes, e então, empurrar para cima o botão pequeno na parte de trás do relógio. Eu estava exausta e psicologicamente despreparada para mais um dia de trabalho. – Que horas são?
– Sete horas. – Respondi, enquanto me sentava na cama, tratando de desenrolar o lençol para jogá-lo ao lado de qualquer jeito. A última vez que arrumei minha cama ia fazer quinze dias na manhã seguinte, o que significava que era hora de trocar a roupa de cama. – Não posso me atrasar pro trabalho hoje, nem nunca, no caso. Mas preciso tentar um early release¹ se não, não vou conseguir chegar ao encontro com o cara da internet.
– Eu não vou te atrasar, ainda temos uma hora e meia pra estar lá, e daqui até a parada de ônibus, é uma caminhada de o quê? Dois minutos? – Ela abriu um sorriso largo mostrando os dentes pequenos e tortos, e esticando os braços magros no alto da cabeça. era a minha melhor amiga desde a quinta série, o que significava que nos conhecíamos há oito anos , e pouca coisa havia mudado em ambas, além das cores dos cabelos.
Os dela sempre foram de um castanho claro e um corte nos ombros, meio cor de rato como eu dizia quando éramos mais novas, e agora eram loiros de verdade, longos e tratados, e os meus sempre foram escuros de tamanhos variados, mas sempre preto, e agora eram de um tom acaju que eu balançava orgulhosa em um rabo de cavalo. Nossa altura era praticamente a mesma, e frequentemente éramos confundidas com garotas de 14 anos na entrada de bares e festas, mas nada que realmente importasse aqui na Flórida.
A História de como chegamos aqui era imprevisível, eu nunca achei que fosse realmente fazer um intercâmbio, e vez por outra, eu ainda não acreditava. Quando resolvemos aplicar para o Cultural Exchange Program da Disney, tudo parecia muito distante, mas dizer que a gente trabalhava aqui era simplesmente absurdo.
– Certo, certo. – Eu amarrei meu cabelo com um elástico do pulso e peguei a nécessaire de dentro do armário, me enfiando no banheiro e colocando a cabeça pra fora da porta. – Eu vou tomar banho, ok? Se você quiser, vem logo, porque eu tenho que enviar a droga de um trabalho sobre vida, história e saúde hoje à noite, e eu preciso passar com honras nessa matéria se ainda quiser salvar meu currículo.
– Dá pra você se formar em Antropologia Biológica sem ser com honras? Você faz humanas, porra.
– Há, ha. Como Bishop é engraçada, mas não sempre e não muito. E não é como se um bacharel em psicologia comportamental fosse um médico, não se esqueça.
– Reclame o quanto quiser, mas você adorou minha ajudinha pra passar em Sociedades Modernas I.
Nossa relação foi construída na base de socos e pontapés, eu e jamais conseguiríamos manter uma amizade estável se não fossem nossos xingamentos ocasionais, mas eu também não sei mais tocar a vida sem ela, mesmo não dividindo a mesma casa aqui na Disney.
– Bom dia, princesa! – Ouvi a voz rouca de Anna invadiu o quarto, e ela deu pequenos tapas no armário. – Poxa, achei que ia chegar aqui e encontrar você chorando no canto de saudade, mas vejo que foi fácil encontrar uma substituta. Passei a noite na casa do Brady, me perdoem por ter furado com a nossa noite de porcarias pra comer, cheguei do trabalho tão cansada, eu simplesmente apaguei às sete da noite! A gente pode marcar pra hoje?
– Tá, tudo bem, não se preocupe, mas hoje eu não posso, tenho aquele encontro.
– Ah, sim, o cara da internet que trabalha no Blizzard, né? – Anna riu, fingindo que estava assoprando um apito. Minha vida estava resumida naquele quarto. Eu, Anna e éramos como os três mosqueteiros modernos, tudo que podíamos fazer juntas nós fazíamos, desde aulas à passeios e tudo que havia no meio disso. Anna era uma aquisição mais recente, nos conhecemos logo depois que soubemos que faríamos o intercâmbio juntas e aquela aluna de Química passou a fazer parte da nossa rotina. A presença de ali dentro era uma constante, e Anna lutaria contra isso ou se acostumaria. Demos sorte de ela ter se acostumado.
Em pouco menos de meia hora, eu já havia tomado banho e vestido a costume de trabalho, a roupa cinza e preta da Tomorrowland era quase confortável, exceto que o tecido da blusa pinicava meus braços. O calor esquisito da semana de pré-inverno me deixava irritadiça e quanto menos peças de roupa estivessem no meu caminho, mais feliz eu ficaria.
, você falou com o seu irmão essa semana? – me perguntou, enquanto atirava a própria mochila em cima dos ombros, jogando o rabo de cavalo loiro para o lado.
– Não falo com ele há quase duas semanas, por quê? – Eu procurava as chaves de casa dentro da gaveta do criado, jogando alguns papéis com meus horários impressos em cima da cama. Não havia nenhum motivo especial para eu não estar falando com James, até porque ele estudava no Brasil, praticamente do lado de casa, e ligar para a minha mãe significava falar com ele, no entanto, nós simplesmente não tínhamos nenhum assunto importante a ser tratado.
– Nah, nada, achei que talvez ele pudesse me ajudar com um termo de fim de semestre, preciso de alguém pra revisar. – e James tinham sido um casal em algum momento do ano passado, e não foram, e foram de novo, eu não sabia como estavam quando embarcamos, mas ficar sem ele pelos próximos três meses podia ser bom pra ela.
Nós estávamos andando pelo corredor rumo às escadas e só então, eu reparei em quatro pequenas marcas roxas no braço de Anna. Eu ainda não tinha minha especialização em perícia judicial, mas pela distância e largura eu poderia dizer que eram marcas perfeitas de dedos, como se alguém a tivesse apertado com força. Minha intenção era comentar, mas seus braços foram cobertos por uma camisa de flanela e eu achei melhor me manter quieta. Se Anna quisesse falar alguma coisa em outro momento, com certeza diria.
– Encontro com vocês no almoço para voltarmos juntas, e uma de vocês me ajuda com o que vestir? – Perguntei, amarrando o avental preto na cintura e abrindo um sorriso discreto.
– Não posso, prometi que almoçaria com Brady, vejo vocês em genética. – Anna pulou na frente e saiu andando apressada. Seu corpo balançava pouco e a forma como ela apertava a bolsa contra o peito parecia nervosa.
– Eu, hm... Eu almoço com você . Acho que temos algumas coisas pra conversar antes de você ir encontrar com esse cara, vou te dar o maior sermão sobre minha anti-baby propaganda. Agora vai, antes que você perca a hora e não possa encontrar essa droga desse cara. – espalmou a mão de leve na minha bunda e soltou uma risada engasgada e desconfortável, e eu me obriguei a rir de volta.
Dei um impulso rápido nas pernas e segui apressada do prédio trinta e sete até o ponto de ônibus. Por algum motivo, a sedentária aqui foi colocada em um dos últimos prédios do condomínio e não podia nem reclamar. Meus olhos percorriam o percurso mais rápido, tentando se acostumar com o sol fraco da manhã e a procura de um dos cafés vazios para poder engolir alguma coisa antes da aula. O relógio marcava 7:46, naquela hora, a maioria dos outros Cast Members já estavam a caminho do trabalho. Deixando o caminho menos solitário conforme os segundos passavam a maioria com fones de ouvido ou muito atentos aos celulares, enquanto o ônibus balançava desconfortável. Mal sabia eu, que ia sentir saudades do transtar voltando pro Brasil.
Eu estava correndo contra o tempo desde que o dia começou, imersa na música da Selena Gomez que tocava, não notei o par de tênis parado a minha frente. Levantei o rosto, colocando a mão acima dos olhos para me proteger do sol e então enxerguei os olhos escuros de , me encarando de cima.
– Achei que fosse perder a hora, pra variar. – Ele me estendeu um copo térmico com um Disney Parks escrito em um dos lados, junto com um saco pequeno de papel, enquanto mostrava os dentes extremamente brancos em um sorriso. – Mas se isso acontecesse, você ia ser mandada de volta pra casa e não iria nesse encontro que falou a semana inteira.
– Se eu perdesse a hora, você me ligaria e se ofereceria pra trabalhar no meu lugar, nós iríamos até a porta do banheiro, eu te entregaria meu número, você mudaria as coisas no sistema e avisaria quem tivesse que avisar, porque você já me ama. – Pisquei, puxando o copo da sua mão e dando um beijo estalado em uma das suas bochechas. – Ah, ! Não acredito que você trouxe meu bagel de blueberry! Você foi andando até a Wallgreens hoje cedo pra arrumar um desses pra mim?
Reparei que enfiou uma das mãos no bolso da calça, e a outra foi direto puxar o cordão da mochila, claramente desconcertado. Eu e ele éramos amigos desde o início da seletiva, ele era a única pessoa que atendia a todas as minhas ligações e às vezes, ainda saía com as minhas amigas (com os dele junto, obviamente) e por isso sabia muito bem do que eu gostava de comer no café da manhã, no almoço e até no jantar, mas nossa relação sempre tinha sido estritamente… Profissional, o que me deixava confusa das suas intenções.
– Você é dez, sabia disso, ? – Subíamos as escadas lado a lado e eu me senti na obrigação de furar o silêncio desconfortável de segundos atrás. estava nervoso por motivo nenhum, e eu não queria que o resto do dia se passasse assim.
– Eu sei. – Ele me piscou um dos olhos, enquanto segurava a porta da sala aberta para que eu passasse a sua frente. – Vai pra casa no fim do turno ou vai para o encontro direto?
– Tudo vai depender, vou colocar um pedido pra sair mais cedo, se aceitarem, eu passo em casa e tomo banho, ou talvez resolva que não quero enfrentar essa bagunça e confusão de ter que falar com as meninas lá de casa e vá direto, ainda não tenho muita certeza do que eu quero fazer.
– Hum… Seu namorado vai estar lá no trabalho? – Soltei uma risada divertida sabendo que ele falava de Cody. Assim que cheguei ao trabalho pela primeira vez, Cody tinha sido super receptivo, até demais, se é que você entende, se oferecendo pra me levar em casa e tudo mais.
– Não somos mais namorados, e eu já te disse isso umas cinquenta vezes só na semana passada. – Revirei meus olhos à menção de Cody, era óbvio que tínhamos concordado em continuar amigavelmente, mas não existe um nada de amigável nas intenções daquele cara que parecia completamente louco. – Mas ele provavelmente vai estar lá… Quer dizer, ele trabalha comigo, então isso é bem óbvio. Talvez ele vá… Você bem que podia ir me visitar mais tarde.
– EU?
– Fala baixo, animal! Sim, você bem que podia ir com os seus amigos, sabe? – Sorri pra rezando para ele não ter entendido que era um convite a ele, como se fosse pra me encontrar lá ou algo do tipo. – Quer dizer, vai ter um monte de amigas minhas lá, você vai adorar conhecer minhas coworkers e eu juro que são melhores que as meninas que moram comigo!
parecia estar pensando seriamente quando o ônibus parou pra mim. Seslizando os olhos rapidamente da minha mochila para o meu rosto, ele abriu um sorriso. – Talvez a gente possa sair daqui juntos. Ah, o Peter vai dar uma festa no apê dele, só precisamos de um lugar pra colar no fim da festa.
– Acho que podemos transformar a casa da num QG... Cola todo mundo lá no fim da festa, quem sabe amanhã a gente não vai pro Animal Kingdom ou algo assim.
, a gente mal conhece a … – O ônibus esvaziou e eu precisava descer ou não chegaria no trabalho. – Não se preocupe, tenho certeza de que ela não vai se importar.

[A kerosene beauty queen, looking for her match stick king to burn into my heart, hand into the flame. We could set the world ablaze ‘cause.]

– Vadia. – reclamou me atirando em cima da minha cama e fazendo cócegas entre as minhas costelas, eu tinha que me esforçar para respirar enquanto ela parecia se divertir. Ela finalmente pareceu ceder, sentando-se ao meu lado, enquanto eu tentava recuperar o fôlego. – Você me deu uma grande ideia, apesar de ter oferecido minha casa praqueles três insuportáveis.
– Três não. Você está se esquecendo de Brady, o namorado lindo e amoroso de Anna. – Joguei uma das almofadas da cama de Anna em cima de , fazendo com que ela soltasse um ganido de dor quando acertei sua barriga. – Ei, o que houve?
– Eu estou com um pouco de cólica. Minha barriga está doendo. E sim, Brady pode ir com a gente na sexta… Como você foi no trabalho, ?
– Tranquilo, o parque estava praticamente às moscas na medida do possível pro Magic Kindgom, e o idiota do Cody continua me seguindo dentro do restaurante, mas tranquilo.
– Quinta feira a gente vai-ter-que ir na Cowboys²! – falou batendo palmas animadamente. – Uns colegas ga-tos do Hollywood Studios vão, e eu estou louca pra que vocês conheçam.
– Eu não preciso conhecer ninguém! – Me peguei reclamando e dando um soco leve no braço de .
– Claro que não, você tem o Cody e o esquisito da internet. – Ela se pôs a beijar as costas da mão como se fossemos eu e o cara. Eu juro que não queria achar graça, mas senti um sorriso brincar nos cantos do rosto e revirei os olhos por hábito.
– Escrota.
– Putiane.
– Falsianes do caralho! – Anna gritou enquanto abria a porta, se jogando em cima de mim.
– Gente, sabe o que eu tava pensando? Foi burrice pedir pizza pro almoço, eu queria um MC lanche feliz. – Cortei as risadas batendo com as mãos no colchão.
, o McDonalds mais perto fica a quase meia hora daqui, ainda mais levando em conta a lentidão desses ônibus, burrice seria ir até lá sendo que entregam uma pizza quentinha na nossa porta. – Anna reclamou fazendo cara de poucos amigos. Revirei os olhos. Sabia muito bem que não tinha quase nada ali perto e que sempre tinha sido mais fácil pedir coisas pra entrega, mas ela tinha um carro estacionado na porta do conjunto que só usava em dias de necessidade. Olhares de indagação e reprovação me cercaram, mas mudei rapidamente de assunto, deixando que minha boca descrevesse uma a uma as coisas que eu mais gostava de cozinhar e comer. e Anna faziam pequenas interrupções de tempos em tempos, comentando o quanto também gostavam daquilo ou como sabiam cozinhar tal coisa muito bem.
– Horas. – Estendi o braço pra , com medo de cair no sono.
– São dez pras quatro, você marcou com o cara às quatro e meia? – Ela falou, enquanto brincava com a pulseira do celular. – Acho que já dá pra terminar de se arrumar.
Me livrei do corpo de Anna parando em frente à penteadeira. A história desse encontro não tinha nada demais até então, eu tinha conhecido um cara num desses aplicativos da internet, conversamos um pouco e ele me chamou pra um encontro. A história era só essa, mas eu estava nervosa. Não costumo me sentir nervosa, os encontros passados que eu tive foram todos no cinema e no meu país. Às duas da tarde, eu já havia trocado de roupa algumas vezes, visivelmente irritada, tentei inutilmente passar um delineador, mas o traço ficou tão fino que mal dava pra ver. Troquei minha sapatilha por um par de vans e calcei a sapatilha outra vez.
– Com batom ou sem batom? – Perguntei balançando o tubo na frente do rosto, fazendo um biquinho divertido.
– Você quer dar umas beijocas no cara? Se sim, eu diria pra ir sem batom, pra não cagar a cara inteira. – e Anna pareciam muito entretidas por alguma coisa na TV, aparentemente já tinham desistido de todas as minhas perguntas ansiosas. Resolvi não passar o batom, recebi um beijo em cada bochecha e saí.
Assim que bati a porta nas minhas costas, me arrependi de sair de sapatilha. Enquanto eu tentava apertar o passo, ouvindo os carros zumbirem na 535, também achei que tinha sido má ideia sair de saia.
A cafeteria onde tínhamos combinado era bem em frente ao condomínio, uns cinco minutos de caminhada no máximo. A casa que eu dividia com as outras cinco meninas ficava bem próxima ao complexo Disney, mas longe de contato com a civilização. O Vista Way era uma verdadeira bolha de drama adolescente, como se tudo que eu tivesse vivido na faculdade não chegasse nem aos pés das festas que passavam do horário e das pessoas que chegavam vomitando em casa.
E olha que de drama na faculdade, eu entendo bem. Antes de fazer esse intercâmbio todo torto, eu estava namorando. Estava do tipo, gastei três anos da minha vida com um cara que me deixou em pedacinhos, porque eu queria ver o mundo. Essa era a primeira vez que eu ia sair com alguém desde quando tudo aconteceu, e eu estava me esforçando pra deixar isso no passado, enquanto corria contra o curto tempo que tinha aqui na Flórida. Três meses não seriam o suficiente pra recuperar três anos, mas eu poderia me divertir bastante.
Meu estômago deu um pulo quando alcancei o estacionamento, uma parte de mim achava que não fosse aparecer, e essa parte foi humilhada quando vi o cara sorridente caminhando na minha direção.
– Você é a ? – Ele perguntou, estendendo a mão na minha direção, ainda sorrindo.
– Você provavelmente é o .
Nós dois rimos, enquanto entrávamos na cafeteria e eu me peguei falando de astrologia e planetas na fila. ria, fazendo um ou outro comentário. Com os cafés em mãos, nos sentamos numa mesa pequena do lado de fora, uma chuva fraca começava do nada. Eu contava sobre o Brasil e ouvia histórias sobre como era ser um cast member.
– Qual a primeira coisa que você pensa quando eu falo que sou do Brasil? – Perguntei com um sorriso. A conversa com fluía fácil, mas havendo espaço para silêncio.
– Grupos de turistas. – Ele balançou os ombros como quem pede desculpas e sorriu. – Penso em muitas quinceañeras gritando e tentando fazer tudo que não podem fazer dentro do parque. – Seus olhos azuis reviraram nas órbitas. – Mas você ainda não me disse o que está estuando na faculdade.
– Antropologia Biológica… É, eu sei que você vai me perguntar por que eu vim trabalhar na Disney, e eu te confesso que ainda não sei direito.
– O que você conhece de Orlando até agora? – perguntou assim que terminou seu café, parecia querer saber se eu tinha ou não interesse em continuar com o encontro.
A cafeteria era pequena, durante a hora em que passamos ali, muitas pessoas passaram por nós, entretidos um no outro mesmo sem se tocar. Eu não sabia explicar o que estava sentindo naquela hora, mas queria ficar mais, ouvir mais, falar sobre tudo.
- Na verdade, quase nada. Cheguei há quase duas semanas e fiquei correndo de um lado pro outro, entre o Magik Kingdom e o Vista. – Respondi rindo, enquanto colocava uma mecha de cabelo pra trás da orelha.
–Se você quiser, eu posso te levar pra conhecer celebration… Não sei se você queria fazer alguma outra coisa. –Ele girou a chave do carro entre os dedos e se levantou. Acompanhei o movimento me colocando ao seu lado.
–Eu sou uma pessoa fácil de agradar, vou querer ver o que você quiser me mostrar.
Fiquei impressionada quando entramos no carro. O cheiro suave daqueles aromatizadores e a limpeza do chão eram de impressionar. Me encolhi no banco, com os braços cruzados no colo e as pernas cruzadas, com medo de me mexer demais. ria, enquanto me falava da cidade e de seus filmes preferidos, as mãos firmes no volante e os olhos na via. Eu não me importaria de ficar daquele jeito por horas, estar com ele era tranquilo e confortável.

’ P.O.V.
[I look into your sunset eyes waiting for the moon to rise, so I can feel your heat. This love is so completely crazy.]

–Sou uma pessoa fácil, vou querer ver o que você quiser me mostrar. – era uma garota de riso fácil, acompanhar seu ritmo era descomplicado e divertido.

Seus olhos escuros passeavam junto com o carro, a boca pequena, fechada sem força, enquanto o cabelo caía teimosamente em cima dos olhos escuros. Dirigi por alguns minutos e então estacionei, pulando do carro mais rápido para poder abrir sua porta. Celebration era uma enorme propriedade particular denominada de Celebration Community Development District, a ideia era construir uma comunidade onde os moradores não precisassem ir muito longe por nada que precisassem, o terreno incluía várias trilhas, um cinema ,que estava atualmente fechado, várias lojas e médicos, até uma faculdade pequena tinha ali. Andamos pela parte da cidade enquanto eu contava histórias locais.
–Esse lugar parece ter sido tirado direto de um filme de terror. –Entendi exatamente o que quis dizer, as casas de estilo colonial deviam ser completamente assustadoras durante a noite. –Acho que Walt Disney era um cara completamente assustador.
Continuamos andando pelas ruas não mito largas, seus olhos brilhavam conforme as histórias iam se encaixando, porque o cinema estava fechado, e porque só havia um hotel em Celebration. –Quer ouvir uma curiosidade boba? – Perguntei, enquanto passávamos por uma feira de produtos orgânicos que estava sendo desmontada.
–Pode falar. – sorriu, virando o rosto pequeno pra mim. Enquanto caminhávamos lado a lado, ficava claro que era pelo menos uns quarenta centímetros menor do que eu.
–Uns anos atrás, Celebration virou um point para casais que estavam com problemas, as pessoas se mudavam pra cá achando que os problemas iam melhorar ou desaparecer. –Me lembrava claramente de uma das amigas da minha mãe me contando essa história. –Como aqui é um lugar onde não tem muito o quê fazer, esses casais acabavam passando muito mais tempo juntos e brigavam ainda mais a ponto de acabar se separando, então a galera aqui de Orlando deu o apelido de Separation.
–E você achou super pertinente me trazer aqui pro nosso primeiro encontro? Devo interpretar isso como um sinal? – colocou as mãos na cintura, parando em frente a uma placa com a foto de um pássaro e algumas coisas sobre a espécie. O fato de que ela estava se sentindo confortável o suficiente para brincar comigo me alegrou.
Era apenas a segunda vez que eu vinha até aqui. Nossos passos lentos quase não faziam barulho e as vozes se misturavam enquanto eu ria das espécies de pássaros e das piadas que fazia sobre isso, ainda que seu interesse fosse genuíno.
–Acho que jacaré é uma espécie maravilhosa de pássaro, tem um bico que é ó… De doer. – Suas unhas bateram na placa de metal e soltou uma risada anasalada, rapidamente envergonhada.
Poucas pessoas andavam por ali às cinco da tarde de um domingo, o sol começava a ir embora e as luzes se acendiam devagar, mas assim que passamos por uma família, Emily abriu um sorriso e me cutucou na altura das costelas.
–Você ouviu? Consegue entender o que eles dizem? – balançou a cabeça na direção deles como se quisesse muito que eu entendesse ao que ela estava se referindo, claramente não entendi.
–Nope. Absolutamente nada. –Falei assim que eles ficaram para trás. Seus olhos brilharam contra a pouca luz.
–Eles estão falando português.
–Você já está com saudades?
–Um pouco. –Ela parou num pequeno deque de onde dava pra ver a trilha que se estendia por dentro da pequena mata.
Seus pés ergueram o corpo na mureta numa tentativa falha de ficar da mesma altura que eu. balançou o corpo pra frente e por impulso, coloquei as mãos em sua cintura fina.
–Eu podia te deixar cair daqui. – Brinquei, tirando uma das mãos.
–Poder você podia fazer várias coisas. –Ela respondeu se virando de frente pra mim, com os braços magros jogados no meu pescoço. –Mas eu posso te dar um bom motivo pra não fazer isso.
Senti suas unhas arranharem a parte de trás da minha nuca e seus lábios macios e quentes finalmente apertarem contra os meus, a sensação pela qual eu tinha esperado a tarde inteira. Minha língua pediu passagem, que não foi negada, minhas mãos apertaram seu corpo magro contra o meu com firmeza num encaixe perfeito que fez com que meu sangue corresse mais rápido na direção de todos os lugares errados.
–Acho que esse motivo é…
–Suficiente. –Sua voz suave penetrou meus ouvidos como se me despertasse de um transe e não consegui evitar uma gargalhada.
Minha mão procurou pela de e nossos dedos se entrelaçaram firmemente apertando os meus contra os dela. Seu corpo pareceu relaxar no meu, suas bochechas vermelhas agora exibiam um sorriso bobo e ali, eu soube que tudo que eu queria era jogar no meu carro e dar mais um ou cinquenta beijos iguais àquele. Não me leve a mal, não me entenda como o tipo de cara que conhece meninas na internet para uma transa de uma noite, mas eu estava acostumado a sair com as maiores de vinte e um, encontrá-las a noite para tomar uma cerveja e de lá, eu sabia que a gente só ia acordar com a boca dela na minha, na posição horizontal, na casa dela. Eu nunca tinha passado tanto tempo assim em um encontro, e na minha concepção, a coisa mais romântica que eu poderia fazer com alguém era passar muito tempo junto, mas a sensação que eu tive com as mãos de no meu pescoço era a de que o meu coração estava pegando fogo e o mundo tivesse sido congelado por alguns instantes.
Andamos devagar de volta para o carro, assisti paciente, enquanto colocava o cinto e ajeitava o cabelo. Suas mãos não estavam mais cruzadas no colo, mas seus dedos deslizavam na minha nuca e eu mal conseguia manter meus olhos fixos quando girei a chave na ignição.
–Acho que preciso te levar de volta pra casa ou suas colegas de quarto vão achar que eu te sequestrei. –Estávamos juntos há algumas horas e eu não tinha visto ela mexer no telefone pra nada.
–Elas não são minha mãe, não vão me esperar numa poltrona do lado da porta com um abajur pronto pra ser aceso. –Seus ombros se mexeram e vi seus braços se arrepiarem levemente. Eu podia ver seus olhos encarando meu rosto pelo canto dos meus. –Além disso, eu posso muito bem mandar uma mensagem. – balançou o celular amarelo na frente dos olhos. –Anda, me leve a outro lugar.
Considerei seu pedido como uma ordem, mudando o carro de faixa imediatamente. Se eu fosse deixá-la em casa, deveria virar à esquerda, eu tinha poucos segundos para decidir. Muitas coisas passavam pela minha cabeça, cinco delas eram absurdas e nem era café da manhã. Não sabia mais o que mostrar, Orlando era a minha cidade e Celebration era tudo que eu tinha planejado. Tomei uma última lufada de ar, convencido por uma das ideias impossíveis, e estendi meu braço, deixando que as pontas dos meus dedos alcançasse a pele clara das suas coxas.
–Se eu pegar um quarto de hotel, você fica comigo essa noite? –Parei num sinal vermelho e vi um sorriso torto surgir em seus lábios, os olhos cravados nos meus tentando tomar uma decisão. balançou a cabeça, vi a mecha de cabelo cair por cima dos seus olhos enquanto suas bochechas tomaram uma cor vermelha.
Parei o carro em um posto de gasolina, voltei com seis cervejas, enquanto fazia a reserva no celular, mal acreditando na sorte que tinha de ter aquela garota sentada no meu banco do passageiro. Mal acreditando na sorte que tinha.
Emily tinha o próprio celular nas mãos, digitava alguma coisa muito rápida, mas não demorou pra jogá-lo de volta pra dentro da mochila, voltando a arranhar minha nuca.

’ P.O.V.
You've been fucking with my dreams, ripped me like your torn up jeans. I don't even care you can take me there you can set me my world ablaze 'cause]

Meus braços caíram pesados ao lado do corpo. Eu tentava soar sexy, divertida e despreocupada, mas conforme a noite caía do lado de fora do carro, eu não sabia se conseguiria descer sem cair de vez no chão. Muita coisa passou pela minha cabeça nos breves segundos em que dava a volta para abrir a minha porta, mas tudo ficou enevoado quando sua mão apertou a minha com firmeza. Eu estava certa em ter decidido ir com ele. Do momento em que pediu para que eu passasse a noite com ele, até a hora que o carro estacionou, eu senti meu coração disparar sem controle e queimar como se eu tivesse o sol dentro do peito. A conversa que existia antes tinha sido substituída por uma tensão quase palpável. Sua mão deslizava pela minha coxa, brincando com a barra da saia e eu queria gritar ou pelo menos me jogar em cima dele logo de uma vez. Desci do carro achando com as pernas trêmulas, achando que fosse cair e desmaiar a qualquer momento.
Eu já tive segundos eternos nesses vinte anos de vida, um ou dois minutos que pareciam que não iam acabar nunca, mas nada se compara ao que aconteceu no meio tempo entre o saguão do hotel e o décimo nono andar. Eu sentia uma espécie de nervosismo digna de quem estava ao lado de alguém pela primeira vez, as mãos suavam e o coração acelerava sem muita razão, mas nada se comparava à boca que pedia mais beijo, ou ao corpo que pedia mais toque.
me puxou pela mão até o elevador sem falar nada. Encostou-se em um dos cantos, os lábios fechados num meio sorriso, e seus olhos que me observavam sem nenhum pudor. Eu podia senti-lo me despir com os olhos e sem me tocar, e não consegui segurar uma risada constrangida que com certeza, deixou meu rosto corado. Ele sabia que tinha me vencido e isso era bem óbvio. A subida de dezenove andares foi longa e torturante, mas o suficiente para que todos os meus instintos gritassem por ele. Assim que o elevador parou, nossas mãos voltaram a se enroscar, mas só as mãos já não eram suficientes. me puxou pelo corredor, seus passos mais largos e rápidos que os meus, me fazendo quase correr.
–Acho que já tá bom demais. – murmurou, empurrando minhas costas contra a porta do quarto. Os olhos semicerrados me encarando firmemente, as mãos apertando minha cintura.
destravou a porta e empurrou meu corpo pra dentro, me fazendo andar de costas. Eu assisti a cena se desenrolar rapidamente, seus passos tranquilos pra dentro do quarto do hotel, os olhos correndo diretamente para a janela. Do décimo nono andar, podíamos ver absolutamente tudo da cidade, a Orlando Eye, o Human Slingshot, luzes que se estendiam por todo o caminho durante a noite. Seu sorriso abobado se alargou, reparando no tamanho das pessoas lá embaixo, e voltando a me segurar pela cintura. A cama de lençóis brancos era quase assustadora, pelo tamanho e pela cor. Seus lábios encontraram o caminho do meu pescoço, e suas mãos me puxaram para o seu colo. Era como se eu tivesse saído de um dos meus sonhos eróticos desde o início.
Senti minhas costas baterem contra o colchão sob seus olhos atentos, minhas mãos caíram pesadamente acima da minha cabeça, esperando que ele puxasse minha blusa com pressa, puxando junto o top que estava por baixo. Eu tive vontade de cobrir o rosto de vergonha, mas não o fiz, deixando que eles caíssem ao lado da cama. desceu os beijos pelo meu pescoço, segurando meus seios entre as mãos e deixando que elas descessem pela minha coxa, sob seus olhos atentos, acompanhando cada movimento como uma descoberta espetacular. Não demorou para que seus dedos encontrassem o caminho por baixo da barra da minha saia. Não consegui segurar um suspiro afetado quando assisti a calcinha e a saia tomarem o mesmo rumo do resto das minhas roupas. parou ajoelhado na cama, atirando as próprias roupas no chão e puxando meu quadril pra mais perto. Ele não precisava dizer nada, e nem eu, suas mãos desceram pela minha bunda mantendo minhas pernas abertas até alcançar minha intimidade com a boca.
Sua língua descreveu um círculo lento e meu corpo reagiu, aceso como fogos de artifício. Minhas costas arquearam contra a cama, enquanto os movimentos aceleraram e meus dedos se embrenharam no seu cabelo curto. Um gemido mais alto escapou pela minha boca e eu movimentei o quadril contra sua boca, mas não me deixou gozar ao jogar o corpo por cima do meu e se encaixando entre as minhas pernas, levantando meus joelhos. As pontas dos narizes se tocando sem jeito entre as respirações erráticas que escapavam pelas bocas abertas sem se beijar. ainda me olhava como se eu fosse a única garota na face da terra, mas seus olhos finalmente se fecharam quando ele me penetrou. Primeiro devagar e com cuidado, e então uma estocada bruta que me fez gemer alto. Minhas unhas se cravavam contra a pele macia dos ombros, enquanto os olhos lutavam pra ficarem abertos.
se ajoelhou na cama outra vez, ainda investindo com força, mas agora seus dedos faziam um movimento circular rápido contra a minha intimidade. Minha coluna arqueou outra vez, não conseguindo mais segurar os gemidos altos que agora preenchiam todo o quarto. Suas mãos apertaram o travesseiro acima da minha cabeça com força e seus músculos se retesaram de uma vez, e então relaxaram. Seu corpo relaxou em cima do meu, sem sair de dentro de mim, abraçando minhas costas com força. Uma risada doce escapou da sua garganta e senti vergonha outra vez.
Seu corpo caiu ao meu lado, nu, exausto, e com um sorriso abobado no rosto, enquanto me puxava de volta num abraço cansado. Meu rosto se afundou na curva do seu pescoço, deixando que os dois corpos se ajeitassem dentro do edredom.
– Você deve estar com uma imagem toda errada de mim. – Ele falou algum tempo depois. Enrolados no lençol, ainda abraçados. Estávamos olhando pra TV, mas sem realmente absorver nada. A TV ligada era menos que um barulho de fundo em relação a tudo que eu estava pensando. – Quer dizer, você agora deve achar que eu conheço meninas online pelo sexo fácil.
– Oh, wow. Bom saber que eu sou seu sexo fácil. –Murmurei com a boca colada em sua orelha.
– Não foi isso que eu quis dizer, . - virou rapidamente o rosto, me roubando um beijo rápido. –Quis dizer que você é a primeira. –Sua barba bem feita desceu pelo meu rosto e pescoço. Eu tive certeza que a minha pele ia ficar marcada depois, mas e daí.
– Pioneira, é? – Brinquei, jogando minha pena em cima das de , dando um impulso rápido para que eu parasse sentada em seus joelhos. –E a que devo essa honra?
me puxou pelo quadril, se sentando contra o dossel da cama de forma que nossas intimidades se tocassem, me balancei lentamente deixando claras as minhas não tão bobas intenções. Seu rosto mudou rapidamente de um sorriso abobado para luxúria dissimulada.
– Porque você é inteligente. – Ele me deu um selinho rápido. Divertida. – Senti suas mãos descerem para o meu quadril e num movimento brusco, eu me vi apoiada nos cotovelos e joelhos, parada no meio de uma risada alta. – E além disso, você tem uma bunda maravilhosa.
Nós dois soltamos uma risada, entretidos um pelo outro. Uma das suas mãos se embrenhou no meu cabelo de uma forma quase bruta, me fazendo arfar, enquanto sua outra mão correu pela minha bunda, puxando uma das minhas pernas e afastando-as. Seus dedos correram pela parte interna das minhas coxas, as pontas geladas fazendo a minha pele se arrepiar.
– Eu acho que você não percebe o quanto você é maravilhosa. – Ouvi sua voz rouca murmurar assim que um de seus dedos me tocou em um movimento lento e circular. – Não só sexy, maravilhosa mesmo. – me penetrou com um dos dedos, enquanto mantinha o movimento circular, senti seu corpo se mover até que seus dedos fossem substituídos. Suas mãos agora agarravam os meus seios e meu rosto se afundava no travesseiro tentando não gritar.
O barulho da TV se misturava ao dos lençóis e gemidos altos. manteve os movimentos em um único compasso acelerado, me fazendo praticamente gritar. Não demorou muito para que eu gozasse pela segunda vez e não segurou muito, caindo outra vez ao meu lado, com os braços por cima da minha cintura.
Nos minutos que se passaram, nós trocamos olhares e risadas. Ouvi pela primeira vez o seu sobrenome, mas também o seu filme favorito, comida e sobre a família, tudo enquanto seus braços apertavam meus ombros e nossas bocas se tocavam devagar. Eu estava me sentindo feliz e segura, como se o mundo não existisse além daquele quarto de hotel.
’ P.O.V.
[Play me like your first guitar where every single notes too hard. I don't even care you can take me there. We can set the world on fire]

Nunca excedi expectativas em nada. Quer dizer, não é que eu não seja bom nas coisas que faço, muito pelo contrário, sempre fui muito bom em tudo, mas não excepcional. Não sou excepcional em absolutamente nada. Não sou o mais bonito dos meus amigos, nem o mais inteligente, talvez possa até ser o melhor na cama, mas não me considero nada demais. Não precisei de muito para terminar o segundo ano de faculdade, me contentava com um B+ nas matérias mais complicadas, o que viesse além disso, seria vantagem. Meu antigo colega de dormitório resolveu desistir da faculdade do nada e no meio do semestre, eu ainda não tinha tido tempo de sentir saudades da companhia dele, já que vinha mantendo minha cabeça ocupada com bebidas, e bem, elas eram melhor companhia do que Henry jamais tinha sido. E se contarmos com o fato de que eu já não tinha mais uma namorada durante a noite, eu contava com a ajuda dos amigos pra me manter sã. Medicina nunca foi o meu primeiro plano de vida, pra ser bem honesto, eu achava muito mais legal viver da minha música do que analisar os problemas alheios dia pós dia sem ter ninguém pra ligar pros meus, mas era meu segundo plano, algo que eu sabia que daria pra fazer caso precisasse e se tudo desse errado. Não que eu contava com a possibilidade de dar errado.
Meu relógio despertou na cabeceira e me apressei para desligá-lo. A cortina escancarada deixava a luz do sol entrar no quarto, nem mesmo Orlando parecia acordada o suficiente para que eu saísse da cama. não pareceu acordar também, o cabelo avermelhado estava espalhado pelo travesseiro, enquanto seu braço magro apertava minha cintura. O cheiro de protetor solar impregnava a cama e assim tão de perto, eu podia ver cada sarda no seu nariz e ouvir o som baixo da sua respiração, seu peito subindo e descendo num compasso tranquilo.
Tentei sair da cama com cuidado para não acordá-la, mas foi em vão. O corpo pequeno revirou e seus olhos abriram, tentando contemplar tudo ao mesmo tempo. Seu rosto se derreteu num sorriso sereno. Se aquela era a sua forma de me dar bom dia, eu não ia me importar de ter que acordar assim mais algumas vezes. empurrou o edredom, deixando seu corpo exposto coberto apenas pela calcinha enquanto se espreguiçava.
– Achei que tinha sido um sonho. – Ela falou mole, meio sorrindo. Sua mão desceu pela minha coxa, as unhas curtas arranhando minha pele com cuidado.
– Eu preciso tomar um banho. – Falei jogando minha perna pra fora da cama, soltou um grunhido xoxo, se levantando e caminhando até a janela.
Ela caminhava rebolando e eu sabia que estava fazendo de propósito. Do décimo nono andar ninguém veria seus peitos, mas me levantei com urgência, caminhando atrás dela e cobrindo seus seios com as mãos. Eu nem precisei pensar muito quando ela se virou, apertando os lábios nos meus e dando um impulso para que eu a puxasse pro meu colo. O riso macio ecoava no meu ouvido entre o beijo.
Joguei-a contra a cama, deitada, e escorreguei a mão por sua perna deixando que meus dedos deslizassem por cima da calcinha de renda. Senti seus lábios se curvarem em um sorriso quando forcei minha boca contra a dela outra vez, e seus quadris magros se contorceram pouco quando deixei que dois dos dedos escorregassem pra dentro, um grito velado tentando escapar. forçou os olhos fechados e mordeu meu lábio tranquilamente, concentrada em me ajudar ao mexer os quadris. Minha cueca estava apertada demais, e tudo incomodava, eu sentia meu membro dilatar contra o tecido da cueca e minha reação instantânea foi tentar tirá-la e jogá-la para o canto outra vez, mas ela me parou com o pé, tirando minha mão de perto. Coloquei mais força nos movimentos e um terceiro dedo, minha mão livre puxava seu cabelo sem mais nenhuma delicadeza, e desceu até que eu apertasse seu seio com mais força do que eu queria, mas eu estava fora de controle, precisava penetrá-la. Demorei bastante entre seus seios, apertões, mordiscadas e beijos. Seus olhos estavam vidrados nos meus e ela fazia força para não emitir nenhum som, mas os gemidos escaparam e ficavam cada vez mais altos, tapei sua boca com a minha em um beijo desastrado, mal conseguia deixar os lábios fechados e isso estava me deixando louco. Senti que a garota ficou cada vez mais arqueada e de repente, seu corpo relaxou, batendo contra o banco tranquilamente. sorria tranquila ao lamber meus dedos e se sentar.
– Um bom cavalheiro segue a regra. – Ela murmurou ao meu ouvido, mordiscando meu pescoço enquanto arfava. Vi seu peito subir e descer e sua pele branca, agora vermelha, voltar ao normal. – Primeiro as damas.
– Minha vez? – Perguntei, enquanto ela me dava um beijo descente.
Sua mão deslizou num movimento rápido até o elástico da minha cueca, os dedos roçando lentamente só por provocação. Ela atirou-a para longe, e me empurrou no sentido contrário da cama, agora eu estava deitado, enquanto a observava caminhar de quatro em cima do meu corpo. Meus dedos se embrenharam no seu cabelo outra vez e empurrei seu rosto com cuidado até sentir sua boca na cabeça do meu pau.
não fechou mais os olhos, mantinha-os fixos nos meus como se aproveitasse a visão, e eu estava aproveitando e muito.
Sua língua quente brincava com toda a extensão, deslizando com vontade antes que os lábios se fechassem em torno do meu pau, sua mão acompanhava o movimento descendo pra cima e pra baixo cada vez mais rápido, as unhas arranhando as minhas coxas enquanto ela me sugava até a metade. Deixei que ela controlasse a cena, ainda que estivesse me segurando para não mexer o quadril. Eu ouvi procurar por ar várias vezes conforme ia mais fundo, meu pau estava por inteiro na sua boca.
Soltei um gemido alto conforme senti meu corpo ficar quente, meio sem controle dos músculos, e senti me apertar com mais força. Gemi ainda mais alto quando ela deu um chupão mais forte, não precisei segurar seu cabelo para que ela mantivesse a boca onde estava.
se levantou sorrindo satisfeita. Os lábios pequenos curvados em um sorriso sacana.
– É, agora eu realmente preciso de um banho. – Ela riu alto, se atirando contra os travesseiros, olhei no relógio do celular, querendo ter mais tempo para enrolar ali, mas eu já tinha me desligado do mundo por muitas horas e precisava ir trabalhar.
Tomei um banho rápido e quando voltei, já estava vestida, parada na janela com uma xícara de café entre as mãos. Outra me esperava ao lado da TV.
– Ontem a noite parecia que o mundo estava pegando fogo. – Ela apontou pra cidade lá embaixo, seus olhos escuros passeando pela extensão de Orlando. – Pela manhã nada é tão bonito.
– Só você. – Murmurei rapidamente, vendo seu sorriso se alargar. – A gente precisa ir embora.
A volta pra casa foi silenciosa e tensa. parecia preocupada, imersa em seus próprios pensamentos, e decidi não falar nada, nem interferir nisso. Parei o carro na entrada do condomínio, virou o rosto para mim, mordendo o lábio inferior.
– Eu não vou te ver nunca mais, né? – Suas palavras ecoaram dentro do carro, eu quis fazer várias coisas, abraçá-la, rir da cara dela, pedir pra que ela calasse a boca, mas a deixei continuar. – Eu sei que os caras não costumam gostar de meninas que dão na primeira noite, e que você vai sumir. Mas eu queria que você soubesse que você é… Sei lá, você é divertido, inteligente e eu gostaria muito de te ver de novo.
– Você só não vai me ver de novo se não quiser.




Fim.



Nota da autora: Escrever essa fic foi muito gratificante e ligeiramente sofrido hahaha. Essa música e essa história são duas coisas muito interligadas e eu espero que vocês curtam como eu curti. e se viram novamente., algumas várias vezes antes que ela voltasse pro Brasil, não tiveram o final feliz de princesa da Disney que ela sonhava, mas deu tudo mais ou menos certo. Foi com amor, por amor. - Skye.



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