08. Calma Amor

Última atualização: 15/09/2018

Capítulo Único

É uma merda. Era o pensamento que se repetia na cabeça de enquanto ela bebericava uma caipirinha de morango, sentada em um sofá esquecido tentando a toda maneira evitar alguns sentimentos que lhe invadiam mesmo contra sua vontade.
De longe ela observava seu namorado, parecia feliz conversando com os parças e algumas amigas, mas ela tinha certeza que uma ali no meio fazia algumas coisas na maldade, como tocar ele o tempo inteiro e fazer um carinho no ombro como se ele precisasse muito daquilo. Ainda que ele se afastasse e negasse todas as investidas, não podia deixar de se sentir incomodada, porque onde caralhos as pessoas enfiavam a palavra respeito?
Ela soltou o ar frustrada, deixando o copo vazio de lado e dobrando os braços, preferia mil vezes ficar em casa vendo netflix do que em uma festa que ela mal conhecia as pessoas, mas fez esse esforcinho pelo namorado e ali estava ela, ignorando coisas que não deveria e compartilhando xingamentos gratuitos com as amigas por mensagem.
, certo? — Uma menina que ela já tinha visto antes, mas não fazia ideia do nome, sentou ao seu lado e ela soltou um sorriso forçado em resposta, na tentativa falha de ser simpática.
— Pode me chamar de — disse, guardando o celular na bolsinha que carregava consigo para dar atenção a ela. — Me desculpa, mas não faço ideia de quem você seja.
Mal tinha terminado de falar quando colocou a mão na boca, percebendo tarde demais o quanto aquela frase tinha soado grossa.
— Tá tudo bem — a garota riu do constrangimento de , oferecendo salgadinho que tinha aos montes em seu prato. — Gisela, tô na mesma turma que o .
— Engenharia elétrica, hein?! — pegou uma coxinha ainda tímida, a primeira impressão que Gisela tinha deixado fora boa.
— E você a louca das ciências contábeis? é muito esperto mesmo, com uma mulher dessas do lado e ainda inteligente — Gisela elogiou, fazendo as bochechas de ficarem vermelhas enquanto ela ria de nervoso.
— Obrigada, eu acho, mas vocês têm umas matérias que eu realmente não posso ajudar muito além de dar apoio moral. Dou graças a Deus todos os dias por já ter me formado — disse, pegando dessa vez uma bolinha de queijo.
— Eu não vejo a hora de pegar o meu diploma, sinceramente… — Ela encheu a boca de salgadinho e logo voltou a falar. — Mas olha, eu não sabia que tava namorando até ele falar uns dias atrás que ia trazer a namorada junto, a gente já tava estranhando que ele tava muito sossegado, e durante esse meio tempo você foi um assunto muito frequente, então não estranhe.
— Sério? — riu, já fazia dois meses e pouco que estavam juntos, mas por ainda ficar nervosa com o termo “namoro”, pediu que os rótulos ficassem só entre eles por um tempo para que se acostumasse com aquilo, tanto que o seu relacionamento no facebook continuava não definido.
A única vez que tinha namorado foi aos 17 anos pela internet, um cara que ela tinha conhecido quando ele veio para um evento no Brasil e, depois que ele voltou para seu país, foram poucos meses até o contato decair e a coisa ficar meio fria, trazendo o fim de algo que até o Papa sabia, tinha validade.
— Sério — ela respondeu, tomando um pouco da coca-cola que tinha trago. — E olha, já gostei mais de você em 5 minutos do que da Carla em 2 anos, porque ela era louca, sofreu na mão dela e eu dei graças a Deus quando terminaram, não era nada saudável — contou e balançou a cabeça, já tinha escutado algumas coisas pelo próprio namorado, mas não se importava muito de saber sobre os relacionamentos passados dele até porque era passado. — Inclusive, não sei como você tá lidando com ela em cima dele daquele jeito…
virou o pescoço tão rápido que até sentiu um pouco de tontura ao chegar à conclusão que a bonita que estava em cima do seu namorado era a ex, então abriu a boca e fechou, sem saber exatamente como responder.
— Acho que vou pegar outra bebida — foi tudo o que disse, se levantando do sofá e andando até o bar improvisado.
— Olha se não é a minha garota favorita — Júnior, o melhor amigo de e aspirante a barman, gritou assim que ela chegou perto do balcão de mármore na área de churrasco. — Você precisa experimentar o flamejante, a gente fez um desafio sobre quem consegue beber tudo mais rápido, topa?
— É forte? — perguntou, se arrependendo de ter levantado do sofá quando os pés começaram a doer de novo por causa do salto alto que usava na intenção de parecer um pouco mais alta, ainda que batesse no ombro do namorado.
Júnior só sorriu em resposta e ela concordou com a cabeça, assistindo ele colocar a bebida no copo de vidro, espirrar álcool no mármore e depois colocar fogo. Já com o canudo em mãos, tomou até a última gota em questão de segundos.
— Temos uma nova vencedora — Júnior gritou e todos começaram a bater palmas para uma que só queria se esconder por se tornar o centro das atenções, batendo no braço dele depois que as pessoas voltaram a fazer o que estavam fazendo antes.
— Você é ridículo! — exclamou, quando ele fez uma careta ainda que o sorriso não tivesse saído do seu rosto.
— Eu nunca me canso de te ver vermelha — disse, abraçando ela de lado. — Peço desculpas mesmo assim, sei que você detesta isso.
— Ainda bem que sabe — sorriu, apertando a bochecha fofa dele só para irritá-lo quando sentiu mãos na sua cintura. — Não me diga que é ele.
— É ele. — Júnior deu de ombros como quem dissesse que sentia, mas não muito.
sabia que era ele pelo perfume inconfundível, já tinha até decorado o nome das fragrâncias que usava.
— O que você aprontou? — ele sussurrou no ouvido dela e ela sentiu o estômago se afundando, talvez estivesse errada e nunca de fato se acostumaria com o fato de namorar o cara que causava tantas reações nela. Deveria ser proibido um homem desses.
— Tomei um copo de flamejante em tempo recorde — respondeu, se virando só para encontrar os olhos brilhantes dele nela. — E você? O que aprontou? — Ergueu uma sobrancelha como quem dissesse “eu sei o que você fez no verão passado”, desafiando ele a dizer algo.
— Tava só conversando com a galera, mas então vi Gisela do seu lado e depois você saiu correndo, aí vim ver se tá tudo ok — explicou e ela mordeu o lábio, segurando o sorriso porque sempre criava expectativa de que ele morderia a isca, mas sempre superestimava a capacidade do … Afinal, ele não lia mentes.
— Gostei da Gisela, ela é simpática. — Apoiou as mãos nos ombros dele, se lembrando que a outra lá ficava se esfregando no lado direito e talvez tenha encarado demais quando ouviu limpar a garganta.
— Então tá tudo bem? Você não tá morrendo de tédio? — perguntou e ela balançou a cabeça em resposta, desviando o olhar e se achando ridícula por estar pensando ainda em coisas que só trariam um estresse desnecessário.
— Tá tudo bem, vai se divertir com os seus amigos, eu vou… Sei lá, acho que vou arrastar o Júnior pra sinuca — disse, já se afastando dele quando ele a prendeu entre seus braços, olhando para ela de uma forma bem sugestiva, roubando um sorriso dela. — O que foi?
— Nada, só quero um beijo — pediu e o sorriso de se abriu ainda mais, ela era péssima naquilo, mas às vezes era como um filhotinho que adorava carinho.
Então ela se aproximou dele, passando a mão pela bochecha dele e sentindo a barba que já queria crescer, chegou a sentir o contato da boca dele na sua, mas se afastou no último segundo. Não era como se ela quisesse construir algum tipo de tensão sexual entre dois, era mais uma tensão ruim, por isso franziu a testa ao ver séria, porque de fato ela não estava contente com a forma que vinha agindo. A natureza humana sempre a surpreendia, em outras situações ele não teria nem que ter pedido o beijo, ela daria de graça. Porém, tratou de se recuperar e deu um selinho rápido em seu namorado, saindo de seu abraço e rumando até onde Júnior estava, puxando-o para a mesa de sinuca.
O amigo tagarela em sua cabeça enquanto ela tentava colocar a bagunça de pensamentos em ordem, sempre soube que era o completo oposto dela, bem mais sociável e divertido, enquanto ela era bem mais quieta e reservada. Se conheceram em uma bienal, depois que foram parar no mesmo grupinho de amizades e ele podia jurar que ela era bem mais nova até descobrir que ela já era formada. Dali trocaram os contatos e a conversa foi fluindo por meses, até incrivelmente chamá-lo para assistir um filme no cinema porque ela não queria ir sozinha e aceitar sem nem pensar duas vezes, pouco tempo depois ela soube que ele estava arquitetando muito bem como convencê-la a sair com ele.
Era um casal inesperado, mas que juntos tinham uma química absurda porque ter os gostos diferentes sempre dava margem para um ter sempre algo diferente para contar para o outro, fora o fato de que amava os toques de e ele não sabia mais como viveu todos os anos de sua vida sem ter experimentado um beijo dela.
— Eu acho meu nome ridículo — ouviu Júnior reclamar e voltou ao mundo, vendo que agora Gisela estava ao lado dele. — Quem bota o nome do filho de Geraldo Júnior? Só meu pai mesmo.
— Meu nome é uma homenagem a minha avó, imagina — se enfiou na conversa e Gisela riu.
pelo menos é um nome bonito.
— Porra, também não precisa jogar na cara que meu nome é feio. — Júnior falou sentido e Gisela riu ainda mais.
— Ok, eu só vim buscar a porque ela foi apresentada a uma parte do pessoal, mas ela precisa conhecer os que chegaram depois — Gisela anunciou, entrelaçando o braço ao de e a guiando para onde estavam antes. — Você também precisa ouvir os micão que já pagou, aposto que Júnior protege bastante ele da vergonha.
— São muitos? — perguntou, rindo só pela expectativa porque quando queria, conseguia ser a pessoa mais exagerada do mundo.
— Você conhece o namorado que tem, . — Piscou para ela.
Quando chegaram perto do grupinho que estava agora espalhado entre os sofás e os tapetes, estava animada para conhecer os amigos próximos de que ainda não conhecia e ouvir o que tinham a dizer, mas a sua expressão mudou totalmente quando encontrou Carla sentada no braço do sofá, mais um pouco e ela estaria é no colo dele. Ela respirou fundo, tentando se controlar para não bancar a namorada possessiva ou uma maníaca que claramente não era.
— Galera, sei que parte já conhece a , mas agora chegou o Marco com a Ana Luiza, Leo, João, Pedro, Joana e Antonella. — Foi mostrando cada um, que deu abraço e dois beijos em mesmo que ela quisesse só um aperto de mão. — E claro, acho que você não chegou a ser devidamente apresentada a Ana Carla.
podia sentir o veneno escorrendo em cada palavra de Gisela, ela pensou que a doida ia ignorar a presença da outra, porém devia ter suspeitado que o signo dela era algo como sol em quero ver e lua em circo pegar fogo. Um aceno serviu para cumprimentar a tal da Carla que agora tinha se endireitado e o clima na sala tinha ficado tenso, ainda mais quando Gisela decidiu dar o golpe final.
— Ela é a namorada no . — Deu um sorriso satisfeito e ainda estava meio sem reação quando a puxou para que ela sentasse no seu colo.
— Então é agora que a gente envergonha o na frente dela? Ela vai ver que cometeu um erro terrível ao se apaixonar logo por esse cara — Marco disse e então todo o burburinho voltou.
No início, ainda se sentia incomodada com a presença de Carla tão perto, mas eles eram tão engraçados que aos poucos foi relaxando e mal percebeu quando ela já estava bem longe dali. Pagode tocava enquanto eles se divertiam em meio a conversas, piadas e cervejas.
— Gente — Ana gritou, com uma capa de cd em mãos —, achei o cd do Exaltasamba!
— Bota pra tocar — Marco levantou uma garrafa de cerveja e todos eles bateram palmas em comemoração.
— Tá se divertindo? — perguntou no ouvido dela e ela concordou, tomando um gole de sua cerveja e sentando ao lado dele no sofá já que Marco tinha se levantado para fazer graça.
— Seus amigos são mesmo muito engraçados — disse, dando mais um selinho nele antes de voltar a prestar atenção no que Pedro dizia, agora que todo mundo já estava meio bêbado, o assunto já tinha ido para um certo lugar que tinha quartos com números como 503 e paredes de vidros.
Mas o clima descontraído logo acabou para quando Carla voltou como o diabo no ombro direito de , ela ainda fazia comentários e piadinhas internas que era suposto que só eles entendiam, mesmo que seu namorado parecesse meio monossilábico nas respostas que dava. O fim de sua paciência veio mais rápido do que imaginava e ela se levantou, saindo da sala e indo para a varanda com a desculpa de que tinha ficado tonta e precisava de ar.
veio logo atrás e precisou respirar fundo para que não explodisse, não queria que nada disso estivesse acontecendo e muito menos estivesse naquele estado. O mais engraçado foi quando Calma Amor começou a tocar e ela rolou os olhos com a letra e sua situação atual.
— Não vou fazer piadinha com a letra dessa música até porque ela é meio escrotinha, não acha? — indagou e balançou a cabeça em resposta. — Mas queria reforçar que você sabe muito bem o seu valor pra mim e nem se compara com qualquer coisa que possa ser descrita.
— Não me venha com essa, . — cruzou os braços, como quem dissesse que não seria fácil desarmá-la.
Ele sabia a merda que tinha se metido quando Carla começou a agir como se não existisse, tinha tentado fugir de todas formas e por fim não teve saída além de deixar as coisas bem claro para que ela tomasse tenência e respeitasse a sua namorada. Aquilo o incomodava, mas estava ciente que incomodava mil vezes mais e só de pensar no que poderia estar se passando na cabeça dela o matava.
— Eu peço desculpas por não ter percebido mais cedo que era isso que tinha te deixado daquela forma, mas eu preciso que você fale comigo, ! — pediu e pareceu pensar, antes de colocar as mãos no bolso da calça que usava.
— Você sabe que isso é novo pra mim e eu não queria bancar a louca ciumenta, não queria mesmo, isso não sou eu, . Você tem seus amigos e se ela é uma, tudo bem, mas realmente me incomodou ela ter zero respeito sobre nosso namoro — confessou e ele concordou com a cabeça, oferecendo a mão para ela como quem quisesse levantar uma bandeira de paz.
olhou para sua mão por alguns instantes, antes de tirar uma do bolso e entrelaçar seus dedos aos dele.
— Gosto quando você é honesta comigo — disse e ela revirou os olhos, estava ciente que ela achava ridículo quando ele falava coisas daquele tipo. — Para de ser chata.
— Infelizmente ainda não descobri como parar de ser chata — ela fez birra e ele sorriu, puxando-a para seus braços novamente e dessa vez não houve recusa.
colocou uma mecha de cabelo dela atrás da orelha e ficou alguns minutos admirando o quanto ela era bonita de perto, nunca se cansava disso, ainda mais quando podia beijar cada partezinha de seu rosto e depois sua boca. Era um vício beijá-la, ter a língua dela junto da sua lhe causava coisas que deveriam ser estudadas, era mais que paixão ou um tesão absurdo, ele sempre tinha vontade de beijar aquela mulher a noite inteira e depois o dia inteiro e tudo de novo.
E com pensamentos do tipo, aos poucos eles foram pegando fogo, e quando se afastou dele completamente sem fôlego, era como se tudo já estivesse incendiando. mal tinha percebido que já tinha pressionado ela contra a grade da varanda e algo já estava duro entre eles, ficou claro quando mexeu o quadril timidamente e um suspiro saiu daquela boquinha linda.
— Acho melhor a gente ir pra casa — foi ela que falou, prendendo entre os dentes o lábio inferior do namorado e o beijando novamente em seguida. — Porque depois das histórias da Ana e do Marco, sou capaz de tirar a sua roupa aqui mesmo e acho que ninguém ligaria.
— Quer testar? — sorriu sugestivo e sorriu, tentada.
Vamos pra casa.
— Calma, amor…




Fim



Nota da autora: Olá! Eu sempre esqueço de colocar nota em ficstape, mas esse aqui é especial porque faz parte de um universo que talvez vocês conheçam e caso não conheçam, vão conhecer agora: 503 o nome dele AHAHHA. Está disponível aqui no site e prontinho para ser lido, ainda mais para os que ficaram curiosos sobre um certo quarto de hotel envidraçado (e sedentos por uma cena restrita).
Mas voltando ao conto, espero que tenham gostado, acabei expressando o que acho sobre a letra aí no meio e demorei bastante para ter uma ideia que me deixasse satisfeita.
Muito obrigada por ler e um beijo <3



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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