08. Games

Finalizado em: 20/12/2019

Capítulo Único


I'm waiting for you right outside
Estou esperando por você bem ali fora
The place we first locked eyes (oh)
O lugar onde cruzamos os olhos pela primeira vez (oh)
I feel like we're both losing sight
Eu sinto como se nós dois estivéssemos perdendo de vista
We don't get to do this twice
Nós não iremos fazer isso duas vezes
And I wonder
E eu me pergunto


estava em pé, próximo aos outros homens que fumavam seus charutos e bebiam vinho, após o jantar na residência dos Hunt. O pai havia solicitado que fosse representado, pois havia ficado indisposto horas antes e, por isso, tornou-se obrigado a seguir para o compromisso acompanhando sua mãe. Estava evitando aquela família desde o desentendimento com Hunt, sua melhor amiga desde as fraldas e o amor da sua vida.
Ben, um dos seus melhores amigos, possuía toda razão: estava se tornando um maricas! Deveria estar aproveitando os seus vinte e um anos, frequentando os clubes de cavalheiros, praticando pugilismo e viajando ao redor do mundo enquanto o pai não lhe obrigava a trabalhar na empresa marítima, mas não; lá estava ele sofrendo por amor.
Tomou um gole do vinho do Porto enquanto se esforçava para acompanhar a conversa dos outros senhores, mas estava muito difícil. A sua expressão congelada em um falso interesse escondia o que acontecia internamente em sua mente e coração. Os olhos azuis acinzentados do senhor Hunt lhe lembravam os belíssimos olhos azuis acinzentados de . Os cabelos louros que lembravam uma espiga de milho, porém, em nada lembravam as madeixas castanhas e sedosas da jovem.
queria chorar com aqueles pensamentos e, inconscientemente, soltou um suspiro derrotado. Sentiu dois tapinhas em seu ombro esquerdo, despertando sua atenção. Encarou o dono do gesto e identificou que era o pai de .
— Excelente jantar, senhor. — elogiou, numa tentativa de esconder os seus reais sentimentos em estar naquela casa ou acompanhado do homem que lembrava a sua amada. Levantou o copo em um gesto de agradecimento e tomou mais um gole de seu vinho.
O senhor Hunt deu mais dois tapinhas no ombro do rapaz e abriu um sorriso divertido que estava escondido por um bigode.
— Ah, meu garoto! Está elogiando a pessoa errada, mas garanto que irei repassar a Lucinda o seu elogio. Ela ficará exultante, como sempre. — ele riu novamente e tomou um último gole de seu vinho.
— Não será necessário, senhor. Antes de partir ao lado de minha mãe, transmitirei os meus sentimentos diretamente. — garantiu num tom simpático ao colocar o copo vazio em cima da mesa de mogno e enfiar as mãos no bolso do paletó.
Continuou parado ao lado do senhor Hunt enquanto observavam os outros senhores que conversavam animadamente sobre algum negócio local. Quando sua cabeça estava prestes a seguir pelo mesmo rumo que levava à , a voz do pai libertou-o novamente.
— E a saúde de seu pai?
encarou-o e soltou um suspiro preocupado.
— Ficou em repouso por ordens médicas. Minha mãe acredita que ele precisa de férias, mas o homem é irredutível. — riu divertido ao recordar-se da cena de horas antes.
O mais velho acompanhou a risada.
— Entendo-o perfeitamente, ao menos ele tem um filho homem para ajudá-lo nos negócios. — comentou num tom condescendente.
— Sim. — confirmou educadamente.
— A minha única esperança é que se case e me dê um genro para ser o meu herdeiro nos negócios da família. — revelou e sorriu sugestivamente em direção ao mais jovem.
O rapaz lutou contra a vontade de abrir a boca e dizer a verdade para o senhor Hunt. Queria gritar e espernear feito uma criança mimada quando não ganha o presente que tanto pediu de Natal, confessando que a tão adorada filha não possuía um por cento de interesse nele.
— O senhor o terá e acredito que muito em breve, afinal, a senhorita Hunt se saiu muito bem na temporada passada. — animou-o, forçando um sorriso enquanto na verdade gostaria de chorar.
— Sim, meu caro rapaz. Muito breve. — afirmou o senhor Hunt com um olhar misterioso enquanto se aproximava dos outros convidados, deixando-o sozinho com seus pensamentos.
não queria que esse em breve chegasse, ou, quando acontecesse, que ele estivesse a milhas de distância dos acontecimentos.

Will you care when I'm gone?
Você vai se importar quando eu me for?
And it's time, and I've really had enough
E já é hora, e eu realmente já cansei
And I'm sorry for the trouble
Eu sinto muito pela bagunça
It's been costing us so much
Que tem nos custado muito


! — chamou-o uma voz feminina, extremamente conhecida, que daria o mundo para não ter que ouvir naquele instante. Praguejou baixo enquanto encarava os dois lados do corredor numa procura desesperada por uma rota de fuga. Soltou um suspiro de alívio ao avistar a porta que levava ao reservado, enfiou-se lá dentro numa prece desesperada para que algo distraísse . Afinal, ela não perdia a atenção sobre algo com facilidade.

Splitting apart
Dividindo em pedaços
It’s getting harder to tell what you want
Está ficando difícil dizer o que você quer
I'm so bored with these games (games)
Estou tão entediado com esses jogos (jogos)
Games (games)
Jogos (jogos)


Encarou o penico, lavou o rosto e as mãos na bacia de água, olhou-se no espelho, tirando qualquer migalha de comida perdida nos dentes. Parecia que estava preso há horas ali dentro, quando na realidade não foram cinco minutos.
Respirou fundo, tentando se acalmar, enquanto começava a roer a unha do polegar, gesto que sua mãe odiava que o fizesse.
Deveria criar coragem e sair, como um verdadeiro homem. Ele não era um menino! Precisava encarar de cabeça erguida o fato de ter sido rejeitado pela melhor amiga. Olhou a porta do banheiro e resolveu sair, rezando baixinho para que ela não estivesse esperando por ele.
— Maldição! — praguejou com o coração aos pulos quando pisou no corredor e avistou em pé ao lado da porta, os olhos azuis observando-o em desafio.
— Olá, . — cumprimentou-o com um sorriso provocador enquanto os seus olhos denunciavam o caminho que a jovem pensava em seguir.
— Olá, . — soltou tentando soar o mais normal possível enquanto admirava-a com o seu belo vestido de mangas bufantes que combinava com a cor de seus olhos. Ela parecia uma verdadeira rainha com aquela roupa e o cabelo preso naquele penteado tão elaborado. Enfiou as mãos no bolso do paletó e tentou forçar uma expressão de tranquilidade.
Como poderia amar tanto alguém além de seus pais? Como isso é possível? Conhecia desde as fraldas, cresceram juntos. Eles sempre foram muito unidos, inseparáveis, praticavam muitas travessuras pelas residências dos Hunt e Bommer. A amizade sobreviveu as fases da vida, a ida dele até Eton College, as viagens, a universidade, mas não estava sobrevivendo ao beijo.
— Como está o funcionamento da sua audição? — perguntou num tom debochado enquanto o encarava com os olhos acusadores.
— Funcionando perfeitamente. — respondeu com a expressão mais dissimulada do mundo enquanto colocava as mãos no bolso e encostava-se na parede do corredor. soltou um ruído de indignação e parou na frente dele, o rosto vermelho que se assemelhava a um pimentão enquanto apontava o dedo indicador em direção a ele.
— Como possui a audácia de admitir isso! — acusou, indignada, enquanto o encarava e gesticulava com o rosto em chamas.
abriu um sorriso debochado enquanto observava-a se alterar, sabendo que ficaria extremamente irritada com o seu silêncio. Ao longo dos seus vinte e um anos, perdeu a conta de quantas vezes presenciou a jovem perder o controle com ele e sempre achou extremamente divertido irritá-la. Entretanto, dessa vez estava sendo diferente. Para ele, estava muito bonita com o rosto vermelho e sentia vontade de abraçá-la bem apertado até que risse.
— Audacioso é o meu sobrenome. — debochou. Afastou-se da parede e da jovem enquanto tentava manter o decoro. A última coisa que desejava era ser obrigado a casar com ela por estarem em atitude suspeita num corredor.
encarou-o com uma expressão confusa enquanto o via se afastar com as mãos no bolso.
! — chamou-o.
Ele soltou um suspiro cansado, virando-se com as mãos no bolso.
— E a nossa amizade? — ela perguntou num sussurro, com a expressão triste.

The last time that I left these steps
A última vez que eu parti nesses passos
Was after our first kiss
Foi depois do nosso primeiro beijo
I wonder why you haven't shown Me pergunto por que você não apareceu
I'll be leaving here alone Eu estarei partindo daqui sozinho
And I wonder
E eu me pergunto


riu. Ele cobriu o rosto com as mãos e riu, mas era perceptível a dor. Soltou o ar dos pulmões e encarou-a com uma expressão fria.
— Nossa amizade? — repetiu a pergunta num tom debochado.
ficou com uma expressão surpresa enquanto o encarava e confirmava com um gesto de cabeça. Ela estava parada a alguns passos de distância, os braços caídos ao lado do corpo.
— As coisas mudaram entre nós, . — ele respondeu num tom mais controlado.
— Por quê, ? — perguntou num tom triste enquanto continuava a encará-lo atentamente. Os olhos azuis que lembravam o céu de Londres estavam tristes e pareciam sufocá-lo.
— Você realmente vai seguir por esse destino, ? — perguntou sem realmente desejar alguma resposta. ― Vai realmente fingir que nada aconteceu? — disse, indignado.
Ele soltou um suspiro frustrado.
— Você é o meu melhor amigo. — sussurrou tristemente e desviou o olhar rapidamente, mas ele foi capaz de ver as lágrimas que ameaçavam cair.
Por um pequeno momento, amoleceu o seu coração ao ponto de desejar pedir perdão por suas palavras e evitar que ela sofresse, mas tinha a si mesmo também. Até quando seria obrigado a fingir que nada aconteceu? Até quando teria que sufocar os seus sentimentos?

I'm left in the dark
Estou deixado na escuridão
Never thought you'd be breaking my heart
Nunca pensei que você estaria partindo meu coração
And I'm so bored with these games (games)
E estou tão entediado com esses jogos (jogos)
Games (games)
Jogos (jogos)


Quem vai se preocupar com o fato de que ele está sofrendo? Ele também tem direito de demonstrar que sofre.
— Por que retribuiu o beijo? Por que apareceu aquela noite? — ele perguntou num tom gélido.
— Não imaginei que fosse acontecer. — ela sussurrou num tom perdido enquanto tocava os lábios levemente com uma das mãos, o olhar distante e perdido nas lembranças daquela fatídica noite.
— Estou cansado disso, Emma. — confessou num sussurro enquanto sentia a umidade em seus olhos. — Cansado de você e seus joguinhos. Você age como se não gostasse de mim da mesma forma, me ignora, e, do nada, me aborda em um corredor sozinha, irritada porque fugi de você.
Emma ofegou, surpresa com as palavras do amigo, e as lágrimas escorreram por seu rosto ao compreender o limite que estavam prestes a cruzar ou já haviam atravessado, pois somente ela se negava a enxergar.
— Eu não quero fazer uma escolha, .
— Ah, você não quer? — perguntou, indignado, controlando o temperamento para não elevar o tom de voz e atrair atenção ao lugar. — Mas e eu? E os meus sentimentos? — perguntou num tom sofrido enquanto uma lágrima escorria por seu rosto. Limpou desesperado com uma das mãos, tentando escondê-la. A sua expressão de surpresa, denunciou a situação da lágrima.
— Eu te amo, Harry. — confessou. — Juro pela minha coleção de fitas de seda que lhe amo! — ela colocou a palma da mão no coração e o encarou. Tomou fôlego enquanto secava algumas lágrimas. ― Mas amo você como o meu melhor amigo.
respirou fundo e olhou-a.
ameaçou dar um passo em direção ao rapaz, mas ele gesticulou negativamente para que permanecesse no lugar.
— Com licença. — o mordomo quebrou o silêncio do corredor e encarou-os com um olhar curioso. — a senhora Bommer deseja partir, sr. Bommer.
— Obrigado, Charles. — agradeceu enquanto virava-se, sem ao menos olhar uma última vez para .
Quando o rapaz e o mordomo sumiram do campo de visão da jovem, ela praguejou baixinho e entrou no reservado para tentar esconder as marcas que o choro deixou em seu rosto.
Encarando o seu próprio reflexo no espelho, jurou para si mesma que não iria perder o melhor amigo. 



Fim.



Nota da autora: Sem nota.



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