Prólogo
Passei as mãos uma nas outras e respirei fundo, balançando com a cabeça. Effie me deu um sorriso confiante que não combinou com seus cabelos coloridos, mas eu assenti com a cabeça, em agradecimento. Dei dois toques na porta, segurei a maçaneta e girei-a, entrando no quarto de Katniss.
- Posso falar com você um minutinho? – Pergunto a ela e vejo a equipe que a preparava para a cerimônia se esbarrar e esconder dentro do banheiro. Caminho até ela que se olhava no espelho. – Trouxe isso para você. – Estendi a ela uma aljava com somente uma flecha. – É para ser uma coisa simbólica. – Falei, coçando a cabeça. – Você dando o último tiro da guerra.
- E se eu errar? – Ela perguntou. – Será que Coin vai retirar a flecha e trazê-la de volta para mim? Ou vai simplesmente dar um tiro ela própria na cabeça de Snow? – Achei engraçada essa suposição e ri.
- Você não vai errar. – Falei, colocando a aljava em seu ombro. Ela suspirou, dando um sorriso triste.
- Você não foi me visitar no hospital. – Soltei um suspiro alto. – Aquela bomba era das suas? – Ela perguntou, fazendo o choro subir à garganta.
- Não sei. – Fui honesto. – E Beetee também não sabe. Faz alguma diferença? – Perguntei, sabendo que ela me culpava pela morte de Prim, eu também me culpava por isso. – Você nunca vai deixar de pensar nisso. – Dei de ombros, esperando por alguma resposta dela, mesmo sabendo que ela não me perdoaria por isso, mesmo se não fosse o culpado. Ela ficou em silêncio e eu sabia que aquela era minha deixa.
- A minha única responsabilidade era cuidar da sua família. – Falei, balançando a cabeça. – Vê se atira direito, certo? – Fiz um carinho em sua bochecha e não esperei que ela respondesse e saí da sala, observando Effie lá fora novamente.
- Como foi? – Ela perguntou.
- Como deveria ser. – Dei de ombros. – Meu tempo aqui acabou. – Ela me puxou para um abraço, me apertando fortemente.
- Eu não vou te impedir de ir embora, mas me prometa que vá ficar bem, ok?! – Ri fraco.
- Eu sei me defender sozinho. – Falei, afastando-a de mim. – Até mais.
Ela assentiu com a cabeça e eu andei pelos corredores do palácio presidencial, entrando em um dos quartos, começando a juntar minhas coisas que estavam meio ajeitadas. Joguei minha mochila nas costas e peguei minha besta com a mão.
- Ei cara! – Um dos rebeldes do esquadrão se aproximou. – Está indo? Vai perder o show? – Ele perguntou.
- Meu lugar não é mais aqui. – Falei. – Vou encontrar outro lugar.
- O Distrito Dois tomará conta do exército de Panem agora, talvez eles pudessem usar alguém com as suas especialidades. – Ele deu de ombros.
- O dois? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça. – Valeu cara. – Cumprimentei-o. – A gente se esbarra por aqui.
- Até mais ver, soldado Hawthorne. – Bati uma continência para ele e saí para a rua, em direção à estação de trem.
- Posso falar com você um minutinho? – Pergunto a ela e vejo a equipe que a preparava para a cerimônia se esbarrar e esconder dentro do banheiro. Caminho até ela que se olhava no espelho. – Trouxe isso para você. – Estendi a ela uma aljava com somente uma flecha. – É para ser uma coisa simbólica. – Falei, coçando a cabeça. – Você dando o último tiro da guerra.
- E se eu errar? – Ela perguntou. – Será que Coin vai retirar a flecha e trazê-la de volta para mim? Ou vai simplesmente dar um tiro ela própria na cabeça de Snow? – Achei engraçada essa suposição e ri.
- Você não vai errar. – Falei, colocando a aljava em seu ombro. Ela suspirou, dando um sorriso triste.
- Você não foi me visitar no hospital. – Soltei um suspiro alto. – Aquela bomba era das suas? – Ela perguntou, fazendo o choro subir à garganta.
- Não sei. – Fui honesto. – E Beetee também não sabe. Faz alguma diferença? – Perguntei, sabendo que ela me culpava pela morte de Prim, eu também me culpava por isso. – Você nunca vai deixar de pensar nisso. – Dei de ombros, esperando por alguma resposta dela, mesmo sabendo que ela não me perdoaria por isso, mesmo se não fosse o culpado. Ela ficou em silêncio e eu sabia que aquela era minha deixa.
- A minha única responsabilidade era cuidar da sua família. – Falei, balançando a cabeça. – Vê se atira direito, certo? – Fiz um carinho em sua bochecha e não esperei que ela respondesse e saí da sala, observando Effie lá fora novamente.
- Como foi? – Ela perguntou.
- Como deveria ser. – Dei de ombros. – Meu tempo aqui acabou. – Ela me puxou para um abraço, me apertando fortemente.
- Eu não vou te impedir de ir embora, mas me prometa que vá ficar bem, ok?! – Ri fraco.
- Eu sei me defender sozinho. – Falei, afastando-a de mim. – Até mais.
Ela assentiu com a cabeça e eu andei pelos corredores do palácio presidencial, entrando em um dos quartos, começando a juntar minhas coisas que estavam meio ajeitadas. Joguei minha mochila nas costas e peguei minha besta com a mão.
- Ei cara! – Um dos rebeldes do esquadrão se aproximou. – Está indo? Vai perder o show? – Ele perguntou.
- Meu lugar não é mais aqui. – Falei. – Vou encontrar outro lugar.
- O Distrito Dois tomará conta do exército de Panem agora, talvez eles pudessem usar alguém com as suas especialidades. – Ele deu de ombros.
- O dois? – Perguntei e ele assentiu com a cabeça. – Valeu cara. – Cumprimentei-o. – A gente se esbarra por aqui.
- Até mais ver, soldado Hawthorne. – Bati uma continência para ele e saí para a rua, em direção à estação de trem.
Capítulo Único
O trem parou na estação em um solavanco forte, os trilhos ainda estavam com resquícios da guerra contra a capital. Peguei meus aparatos e saí do mesmo, acompanhado de poucas pessoas, já que o trem estava vazio. Havíamos perdido muitas pessoas na revolução.
Olhei rapidamente a estação e como toda Panem, ela estava em ruínas com pedaços de concreto caindo pelos lados e terra para todo lado. Saí da mesma e achei que tinha caído em um deserto, mas não. O Distrito Dois era o distrito da construção, eram eles que faziam as grandes reformas de todo país.
- Gale Hawthorne? – Um jovem loiro e claro estava do lado de fora da estação me esperando.
- Sim! – Falei.
- Edward Hanson, senhor. Me enviaram para te recepcionar aqui no Distrito Dois. – Ele falou e eu apertei sua mão.
- É um prazer, Edward. – Falei.
- Então, você trabalhou com o tordo, certo? – Assenti com a cabeça.
- Sim! No Esquadrão Estrela também. – Ele assentiu com a cabeça.
- Bem, você verá que aqui no Distrito Dois nós também temos nosso esquadrão de elite e nosso próprio tordo. – Ele deu de ombros. – Mas cuidamos de assuntos diferentes. – Ele abanou as mãos e eu franzi a testa. – Gostaria de passar no seu novo aposento ou já quer ir direto para a base?
- Podemos ir para a base. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Bem, segure-se firme. – Ele falou e pulou em um ônibus aberto que passou por nós e eu repeti o movimento, subindo no mesmo. – Você verá que o Distrito Dois também foi muito afetado pela guerra por estar próxima à capital. Então ele foi quase inteiro destruído, mas como somos o distrito construtor, preferimos colocar tudo para baixo e reconstruir do zero, aproveitando boa parte dos materiais do que perder tempo consertando algo que já tinha sua fundação danificada. – Ele deu de ombros.
- Então, estamos em um canteiro de obras? – Perguntei.
- Sim! – Ele falou. – 30% do Distrito Dois está pronto, o resto que você vê é essa areia branca que imita um deserto. Mas não se preocupe, existe água encanada e camas confortáveis. – Ri fraco.
- Acredite, essa é a minha última preocupação. – Falei.
- Vamos! – Ele falou e pulou do ônibus, fui atrás.
Eu esperava algo diferente. Talvez realmente uma área militar ou algo assim, mas não passava de um canto separado perto de algumas grandes obras com um grupo seleto de pessoas treinando com armas pesadas. Mas ninguém estava vestido para lutar, todos usavam roupas do dia-a-dia.
- Bem-vindo ao novo exército da capital. – Ele falou. – Bem, seremos isso quando sua querida Katniss ou outra pessoa se tornar presidente.
- Vocês não parecem muito preparados. – Falei.
- Você que pensa. – Ele falou debochado e continuou andando, subindo e descendo pelas pedras e raspando os pés na areia fina.
- Ei, trouxe carne fresca? – Um negro alto perguntou.
- Gale Hawthorne. – Falei, esticando minha mão.
- Ah, o braço direito do Tordo. – Ele falou, apertando minha mão. – Flick.
- Prazer! – Falei. – Então, ouvi que vocês precisam de ajuda.
- Talvez. – Ele falou e soltou um assovio ardido. – Ei, general! – Ele falou alto. – O amiguinho do Tordo está aqui. – Senti a ironia na voz novamente e vi uma faca cair em pé na areia, me fazendo dar dois passos para trás.
Alguma coisa pulou do andaime de cinco metros de altura que tinha na nossa frente e pousou perfeitamente em minha frente. Seu rosto possuía algumas cicatrizes profundas, uma que passava pelo meio do olho até o nariz e outra da bochecha até a boca. Mesmo com elas, ela não deixava de ser bonita. Seus olhos azuis acinzentados brilhavam com a luz do sol.
Para quebrar a seriedade em seu rosto, ela tinha os cabelos azuis desbotados divididos ao meio e presos em duas Maria Chiquinha trançadas, uma de cada lado. Ela me analisou de cima abaixo, sem precisar erguer muito a cabeça para o feito e assentiu com a cabeça.
- Você deve ser Gale. – Ela falou, esticando a mão.
- Sim, e você é? – Perguntei.
- . O Tordo do Distrito Dois. – Ela falou. – E a general do exército de Panem.
- Quem te deu essa patente? – Perguntei e ela não me pareceu surpresa. – Você parece muito nova para já ser general. – Ela deu de ombros, soltando minha mão.
- A vida me deu essa patente. Como a sua lhe deu experiência. – Assenti com a cabeça.
- Justo. – Falei. – Então, disseram que talvez precisem da minha ajuda? – Perguntei.
- Com todas as reviravoltas e espetáculos acontecendo na capital, nos juntamos a outros distritos e decidimos montar nosso próprio exército da capital. Um justo e necessário, caso haja outro infortúnio como este. – Assenti com a cabeça. – Inicialmente nosso trabalho é mais inspeção, organização e treino. Em breve saberemos quem é nosso presidente e poderemos decidir sobre proteção, divisão e recrutamento. – Assenti com a cabeça. – Fazemos muito trabalho de ronda, especialmente próximo às obras para que não aconteça nenhum acidente com as crianças e visitamos um distrito por semana para ver nossas instalações operárias neles.
- “Operárias” você diz...
- Obras. – Ela falou. – O Distrito Dois ainda é o distrito mais importante na engenharia, mas atualmente não confiamos nos outros. – Dei de ombros.
- E como você confia no seu pelotão? – Perguntei e ela franziu os lábios.
- Eu não confio. – Arregalei os olhos. – Eles serão confiados quando provarem seu valor. – Ela falou, colocando as mãos para trás. – E você, soldado Hawthorne? Posso confiar em você?
- Você vai descobrir! – Entrei no jogo dela e ela deu um sorriso de lado.
- Bom, Edward, Flick, deem uma volta com ele, depois tragam-no de volta para mim que eu decidirei seu posto. – Ela falou, assentindo com a cabeça. – Está ok para você?
- O que a senhora decidir. – Ela riu fraco.
- Senhora não, aqui me chamam de Dinamite ou . – Ela falou e se virou novamente, pegando sua faca do chão.
Observei-a subir de volta pelo andaime, escalando-o perfeitamente com as mãos nuas, até ficar em cima do mesmo, escondida pela luz do sol. Franzi a testa surpreso e fui puxado para o outro lado por Flick.
- Andando. – Ele falou. – Vamos conhecer o local.
- Lugar bacana! – Falei quando Flick me mostrou minha casa.
- É pequena para um cara grandalhão como você, mas posso afirmar que é confortável. – Assenti com a cabeça.
- Está ótimo. Sério! – Falei e ele assentiu com a cabeça.
Olhei para o espaço e era quase uma cabana. Ficava em uma das partes já prontas do Distrito Dois. Era designado especialmente para as pessoas que serviriam ao exército de Panem. Achei bem similar ao que eu estava acostumado no Distrito 13.
Era um longo corredor, com diversas portas com o nome do morador na mesma. Dentro dos quartos tinha uma cama em formato de beliche, abaixo dela uma mesa de apoio com uma cadeira. Em frente à cama tinha uma cômoda onde ajeitei as poucas coisas que havia trazido e na lateral a porta para um pequeno banheiro com alguns mantimentos para esse começo.
As refeições eram coletivas, como no Distrito 13, um refeitório com longas mesas estavam dispostos no centro dessa parte reservada para o exército. Lá possuía também algumas televisões e lugares para diversão com algumas mesas de pingue-pongue e pebolim, coisas que eu não via há muitos anos. E também três áreas para treinamento: uma para musculação com alguns aparelhos pesados, outro para treinamento de mira e tiro ao alvo, com armas muito mais interessantes que minha besta e, a última, para treinamento corporal. Só não era tão tecnológica quanto as que eu havia visto pela televisão do Centro de Treinamento para os Jogos Vorazes, mas era tão interessante quanto.
- Vem ver isso! – Flick me chamou enquanto ele fazia um tour comigo e apontou para o espaço aberto na porta de uma das salas. – Talvez você a entenda um pouco.
Franzi a testa com o que ele havia dito e me aproximei da porta, olhando para dentro da sala. , a nossa general, estava sozinha lá dentro, reconheci pelos cabelos azuis, porque ela estava de costas.
Ela tinha uma faca pequena em cada mão e duas longas cruzadas nas costas como um xis. Ela esperava por alguma coisa. Aguardei por alguns segundos e a ação começou. Os hologramas da sala de treinamento começaram a ataca-la de todas as formas, corporalmente, com arcos, facas e bestas como a minha.
Ela desviava de todas com destreza e facilidade. Socava os necessários e atirava facas com maestria. As duas facas em suas mãos foram atiradas nos primeiros segundos e ela abusou do corporal quando dois hologramas se aproximaram dela e ela deu um chute alto em um deles, enroscando a mão no segundo e desmontou os dois no chão como um quebra-cabeça.
Um terceiro a pegou pelas costas e ao invés dela se desviar por cima, ela jogou seu corpo para trás, caindo por cima dele que também se desmontou. Ela puxou uma das facas de suas costas e jogou longe, em algo que minha visão não permitia que eu visse.
Outros se aproximaram dela e ela correu em uma das direções contrárias, pisando forte na parede e se jogando para trás deles com a segunda faca em mãos e passou horizontalmente pelos três de uma vez só.
Ela teve três segundos para respirar, ou menos, uma flecha passou rente ao seu rosto, fazendo-a desviar e se abaixar rapidamente pegando outra faca escondida na meia, e atirou em minha direção, me assustando quando ela bateu no vidro e caiu.
As luzes da sala se desligaram como se o treino tivesse acabado e olhou para mim com a respiração acelerada, seu peito subia e descia com rapidez. Ela não esboçou nenhum tipo de reação, mas seus olhos acinzentados tocaram fundo na minha alma, talvez fundo até demais.
Prendi a respiração, como se precisasse me esconder de algo e saí do transe quando ela se mexeu novamente, começando a recolher as armas utilizadas durante o treinamento. Soltei um suspiro longo, balançando a cabeça e virei novamente para Flick que tinha um sorriso presunçoso no rosto.
- Ela é demais, não é?! – Ele falou e eu ri, assentindo com a cabeça.
- Eu tenho que admitir, ela é. – Falei e ele riu, dando de ombros.
- Essa daí tem mais experiência que todos nós.
- Ela era carreirista? – Perguntou.
- Ela treinava com eles para fingir que sim, mas seus pais eram prefeitos do Distrito Dois, então ela nunca seria mandada para os Jogos Vorazes. – Ele deu de ombros. – Eles tiravam o nome dela todo ano.
- E porque ela lutava? – Perguntei.
- Primeiro para não levantar suspeitas. – Ele ponderou com a cabeça. – Segundo porque ela já sentia cheiro de revolução muito antes da Katniss aparecer nos jogos. Terceiro que ela cuidava da segurança dos pais dela enquanto eles eram prefeitos.
- Ela é demais! – Falei um tanto deslumbrado demais.
- É, cara! Por isso que a escolha foi unânime quando estourou a revolução. Aqui não tem dessa de idade. Se você tem experiência e tem compromisso, você pode ter um cargo alto com pouca idade, como ela que só tem 20 anos. – Assenti com a cabeça.
- O que aconteceu com os pais dela? – Perguntei.
- O que você acha? – Ele balançou a cabeça. – Morreram junto de quase todos os prefeitos que apoiaram a rebelião. – Ele falou coçando a cabeça. – Bom, seguindo?
Olhei novamente para dentro da sala de treinamento e vi que ela estava vazia novamente. Fiquei com uma pulga atrás da orelha por não saber mais sobre ela. Ela era incrível, isso sem dúvidas, mas por trás de toda incredibilidade sempre vinha algo mais obscuro. Talvez algo que a torturasse por dentro e que nem mesmo Flick e Edward sabiam.
- Ela está chamando. – Flick passou por mim, correndo em direção ao local e larguei o arco que estava entalhando e segui os homens e mulheres que passavam por mim.
Me levantei com outras pessoas que estavam ao meu redor e corri na direção que estavam: a sala de ou o atual andaime, que ela se apossava quando outro prédio começava a subir. Me aproximei das pessoas e nossa general já estava num andar mais baixo do mesmo, abraçada à uma perna e sentada cerca de dois metros acima do solo.
- Todos estão aqui? – Ela perguntou, ficando em pé e as pessoas se entreolharam. – Perfeito! – Ela falou. – Juntei todos vocês para anunciar que Panem tem uma nova presidente. – O pessoal animou aplaudindo e comemorando. – É a comandante Paylor. Responsável pela rebelião no Distrito Oito. – Aplaudi animado, achando a escolha muito boa. – Com isso, teremos uma nova constituição, novas leis e um controle totalmente novo. – Ela falou animada. – Eu serei oficialmente nomeada chefe mor das Forças Armadas de Panem e... – As pessoas a interromperam para aplaudi-la e eu fiquei feliz por isso. – Obrigada! – Ela sorriu. – E eu vou começar a criar um grupo de confiança para me ajudar a controlar isso. Vou precisar de um representante em cada distrito para que possamos organizar processualmente: grupos de segurança, recrutamento, treinamento, enfim, tudo sem que a pessoa precise sair do distrito dela. – Ela abanou as mãos. – Chega, eu estou muito corporativa para o meu gosto. Só esperem novidades minhas ou de algum dos novos subgerentes. Beleza? – Ela falou sorrindo e assentimos com a cabeça. – Liberados! – Ela falou, batendo as mãos e as pessoas começaram a se dissipar. – Hawthorne! – Ela falou e eu virei assustado, vendo-a descer do andaime.
- General. – Falei, me colocando em posição na sua frente.
- Eu já falei sobre isso. – Ela disse, revirando os olhos. – Mas aparentemente vai ser algo verdadeiro agora. – Ela deu de ombros.
- Eu não sei sua história, mas se essas cicatrizes falassem, já sei um pouco. – Ela deu de ombros.
- Elas não contam nem metade da minha história. – Ela piscou. – Enfim, sei que temos diversos distritos destruídos por Panem, mas eu tenho a intenção de sugerir para a presidente Paylor a reconstrução total de todos os distritos, incluindo o 13. – Assenti com a cabeça.
- Eu não sei onde essa conversa está indo, mas se você quiser que eu seja um dos subgerentes do Distrito 12, eu prefiro não. – Ela assentiu com a cabeça.
- Cogitei, na verdade, mas não. – Ela sorriu. – Eu não te conheço para tanto, mas você tem um currículo de dar inveja. – Ela falou, franzindo os lábios. – Têm experiências com diversas armas, armadilhas para captura e sabotagem, além de caça. Você é um soldado, Hawthorne. – Ela falou. – Eu quero que você considere trabalhar junto comigo, no meu esquadrão pessoal. – Assenti com a cabeça.
- Eu estou aqui para isso. Não possuo nada que me impeça de pegar no pesado. – Ela deu uma risada que eu nunca havia visto nesses 20 dias de Distrito Dois.
- Pega leve, Hawthorne. – Ela falou. – Acabamos de passar por uma guerra, não espero outra tão cedo.
- Mas você age como se fosse ter outra.
- Precaução. – Ela falou. – As coisas não foram fáceis por aqui. – Ela assentiu com a cabeça.
- O que aconteceu? – Perguntei e ela ficou em silêncio.
- Muito cedo para falar ainda. – Ela ignorou minha pergunta e pegou sua faca. – Espero contar contigo. Eu vou para a capital em alguns dias com a prefeita do Distrito Dois para decidir alguns detalhes com a presidente Paylor. Depois disso saberemos melhor com o que estamos lidando. – Assenti com a cabeça.
- Com o que precisar, só chamar. – Falei e ela assentiu com a cabeça, começando a marchar para a arena de treinamento onde dois homens se acertavam com lanças de madeira e flechas.
Observei seu andar e fiquei imaginando o que será que tinha acontecido durante a rebelião aqui no Distrito Dois. Ela não me parecia uma pessoa normal que havia passado por isso e superado. Apesar de tudo, eu havia superado. Ela parecia machucada e pelo jeito não tinha sido hoje que eu descobriria o por que.
Voltei para onde estava e peguei o aro em minha mão, voltando a raspar a ponta da faca no mesmo, moldando a madeira em um arco. Eu não era tão bom quanto Katniss nisso, mas daria para o gasto.
Lembrei-me de Katiniss por um minuto e confesso que não fiquei surpreso em saber que ela não aceitara o posto de presidente de Panem, ela só queria o fim disso para voltar a viver em paz. Talvez ela voltasse para o Distrito 12 para viver com o padeiro e só Deus sabe o que aconteceria.
Eu já não sei o que esperava de mim no Distrito Dois, eu tinha uma casa pequena, mas ajeitada, estava fazendo amigos, mas eu ainda era um pouco assombrado por lembranças da rebelião. Todos tinham pesadelos.
Cocei o rosto com a mão cheia de terra e balancei a cabeça, suspirando. Talvez ser soldado seja a melhor coisa que eu faça na vida. Receber ordens, apontar e atirar. Pelo menos tinha me dado bem na época da rebelião, agora tinha virado meu emprego.
- Aqui! – Edward me entregou um papel. – Ela quer treinar contigo amanhã cedo. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Por quê? – Perguntei.
- Não é exclusividade sua. – Ele falou. – Ela faz isso com todos os novatos.
- E alguém já venceu? – Perguntei e ele riu.
- Não, nunca! – Ele falou sorrindo.
- Então, para que serve esse treino? – Perguntei.
- Habilidades. – Ele falou. – E ela vê caráter na pessoa que aceitar enfrenta-la de igual para igual, sabendo que tem 99 por cento de chances de perder. – Ponderei com a cabeça.
- É algo mais moral do que prático. – Ele assentiu com a cabeça.
- Exatamente! – Ponderei com a cabeça.
- Armas são liberadas? – Perguntei.
- Não! – Ele falou sorrindo. – É corporal mesmo. Ninguém quer se machucar em um simples treinamento. – Ele falou.
- E tem plateia? – Ele ponderou com a cabeça.
- Mais ou menos. – Ele falou. – É na sala de treinamento, os que chegam antes se amontoam nos andares de cima e, quem não tem coragem de ficar lá embaixo por medo de ser acertado, fica espiando na porta. – Assenti com a cabeça.
- Que horas?
- Sete da manhã. – Ele falou sorrindo. – Se quiser ir embora para descansar ou treinar, fique à vontade.
- Valeu! – Falei. – Vou só terminar aqui. – Ele assentiu com a cabeça e se retirou.
Acordei cedo naquele dia. Sem despertador ou o sol entrando na cara. Ah, sol! Isso era algo que tinha muito por aqui, mal chovia. Em compensação da sobriedade que ficava no 13. Minha pele morena de sol já estava ficando vermelha e qualquer sombrinha já era lucro, principalmente no treinamento.
Nós não tínhamos uniformes, estão me vesti como se fosse caçar no Distrito 12: calça, blusa de manga comprida e botas. Lá dentro tinha ar condicionado, então compensaria um pouco pelo calor lá de fora.
Tomei um café da manhã acompanhado de Flick e Edward. Só acompanhado mesmo, pois o silêncio reinou na nossa mesa e em todo refeitório. Parecia que eu era um competidor dos Jogos Vorazes ou algo assim. Normalmente o refeitório era mais animado. Não comi muito naquele dia, não sabia muito seus movimentos sem a faca, mas não gostaria de vomitar no acolchoado caso ela acertasse a boca do estômago.
Saí do refeitório com uma caravana pouco antes das sete. Todos seguimos direto para a sala de treinamento. Edward e Flick apertavam meus ombros como se me dessem forças, mas só pelas habilidades que eu vi dela ontem, eu sabia que perderia. Além de que estava totalmente despreparado. Observar uma luta dela contra hologramas e com facas, que era sua especialidade, não era um grande estudo.
A porta da sala de treinamentos estava aberta quando eu cheguei, então entrei. O local já estava apinhado de pessoas como Edward falou no dia anterior. Todos amontoados no mezanino que tinha no segundo andar, além de poucas pessoas em volta do tapete acolchoado.
já estava do lado contrário a porta. Ela estava vestida com bermudas, blusa regata de flanela e seu colete longo. Os pés estavam descalços e ela enfaixava a mão com esparadrapo ao lado de uma pequena mesa.
Ela nem deu bola pela minha presença, mas os presentes começaram a cochichar baixo. Eu não costumava lutar sem motivos, mas preferi não discutir quanto a isso, estava até empolgado, confesso.
Dei uma esticada rapidamente em meus braços e pernas, alongando-os e ouvi os estalos dos ossos. Cogitei tirar a camiseta e as botas, mas não o fiz. Em compensação tirei o relógio do pulso.
- Está na hora! – Ouvi Flick falar alto e o vi se colocar no centro, me fazendo-o virar para ele. – As regras são simples. – Ele disse. – É proibido o uso de qualquer tipo de armas, então se tiverem alguma coisa escondida, podem largar. – Ele olhou para nós dois e ninguém se mexeu. – É proibido golpe baixo. Sem chutes em seios, virilhas, puxões de cabelos, mordidas, e blá, blá, blá. – Ele falou como se fosse óbvio. – O primeiro a mobilizar o adversário por 10 segundos vence. – Ele sorriu, batendo as mãos. – Quem quiser sair, a hora é agora! – Ele falou e 90 por cento das pessoas que estavam lá dentro saíram, cerca de 40, 50 pessoas. As outras cinco, sete que sobraram, ocuparam os cantos diagonais da sala. – , se aproxime. – Ele falou e ela se aproximou do mesmo. – Gale, se aproxime. – Me aproximei deles engolindo em seco.
- Tentando entender o motivo disso? – perguntou olhando para mim e eu dei um pequeno sorriso.
- Você quer saber se pode confiar em mim. – Ela ponderou com a cabeça.
- Vamos dizer que sim. – Ela falou, fechando as mãos em punhos.
- Entendidos? – Flick falou, dando alguns passos para trás. – Lutem! – Ele gritou e eu esperei.
Esperei que ela viesse por cima, com as mãos fechadas em punhos, mas ela fez algo totalmente inesperado, se abaixou e deslizou a perna pelo tapete, me dando uma rasteira literal. Eu não estava preparado, então caí rapidamente no chão, me assustando como ela tinha simplesmente me atacado, sem mais nem menos.
Me levantei rapidamente, observando-a com um sorriso no rosto e rondei um pouco o tapete, antes de ataca-la. Tentei acertar um soco na lateral de seu rosto e um chute esquerdo em seu corpo, mas ela era muito rápida. Parecia que ela antecipava os movimentos antes do que eu.
Ela acertou dois socos em meu rosto, me atordoando por um tempo, mas girei o corpo, repetindo seu movimento e passando uma rasteira nela, mas ela não acompanhou a mesma, ela pulou antes, mas esbarrou o pé no meu ao cair no chão, se chocando contra o tapete e aproveitei para me ajoelhar no mesmo, me debruçar em cima dela e acertando um soco na lateral do seu corpo.
Ela não deixou barato, fechou as pernas em torno da minha e girou o corpo com rapidez que fez com que eu fosse jogado no tapete e empurrei o chão, me levantando, encontrando-a em minha frente novamente. O suor começava a escorrer de meu corpo e eu me arrependi em não ter tirado a blusa.
Ela deu três socos cruzados e eu consegui desviar deles, mas em seguida ela ergueu a perna, acertando um chute na minha barriga e outro em meu queixo, me jogando para trás, me escorando contra a parede.
Ela aproveitou essa leva e começou a distribuir socos e chutes em meu rosto e torso. Eu já tentava desviar eles com as mãos, mas eu estava milésimos de segundo atrasado, então ela sempre acabava me acertando. Em um movimento de sorte, eu consegui segurar seu calcanhar e virar, fazendo-a se virar junto com o pé e empurrei-a para frente, fazendo-a cair de bruços no chão.
Quando fui tentar o movimento por cima dela novamente, ela se virou rapidamente, erguendo o pé e chutando minha barriga. No que eu abracei a barriga com a dor, ela se aproveitou e deu outra rasteira em um dos pés, me puxando para frente. Perdi o equilíbrio e caí de bunda no chão.
Ela se debruçou em cima de mim, com os joelhos presos de cada lado do meu corpo e cruzei as mãos em frente ao meu rosto que recebeu o impacto de seu corpo. Girei as pernas, na tentativa de fazer com que ela caísse para o lado, mas notei meu erro quando percebi que essa era sua tática.
Comigo de bruços, ela se arrumou em cima de mim e prendeu minhas pernas com as dela. Com meus braços livres, tentei me levantar, mas ela segurou um e aproximou-o das minhas pernas, pressionando as juntas dos três membros.
Tentei me movimentar para sair daquilo, mas para o lado que eu me virara, ela se equilibrava e apertava mais as pernas e mãos ao redor do meu corpo, fazendo alguns ossos estalar. Eu não queria desistir, mas esse movimento dela fazia com que meu rosto ficasse colado no chão e pressionasse meu pescoço no mesmo, faltando o ar.
- Chega! – Bati a mão livre no chão e o pessoal em volta começou a gritar e ela soltou meus membros, me deixando debruçado no chão com as juntas doendo.
Me coloquei de barriga para cima novamente e ela estava lá, estendendo a mão para mim, assenti com a cabeça e segurei-a, me levantando, sentindo meu ombro doer. Ela não esboçou nenhuma reação, nem falou algo. Somente seguiu para o outro lado do tapete, com a perna manca, começando a tirar o esparadrapo das mãos. As pessoas em volta só gritaram quando eu desisti, mas depois já começaram a sair da sala. Estralei meus ombros e me aproximei dela.
- Boa luta. – Falei e ela deu um riso de lado, balançando a cabeça. – Como eu fui? – Perguntei e ela se virou para mim.
- Você tem experiência. – Ele falou. – Aguentou muito bem. – Assenti com a cabeça.
- Agora pode confiar em mim? – Perguntei.
- Essa luta não é sobre confiança literal. – Ela falou, olhando para os lados. - Na verdade, eu precisava saber se você vai me matar um dia, caso isso defina o sucesso ou falha de uma missão. – Ela falou quando o local estava vazio, tirando o esparadrapo de uma das mãos e eu arregalei os olhos.
- Por quê? – Perguntei. – Não estamos mais em guerra. – Falei.
- Sei que preciso mudar minha forma de confiar nas pessoas e minhas ações, mas essa ainda é mais eficaz, apesar de ter falhado algumas vezes. – Franzi a testa.
- Como assim? – Ela passou por mim, andando em direção à saída.
- Muitas pessoas poderiam ter atirado, mas preferiram me deixar a viver. – Ela deu de ombros. – Talvez eu preferisse ter morrido nessas situações. – Ela bateu a mão no botão, abrindo a porta. – Falando nisso, você passou. – Ela falou se retirando da sala com os sapatos nas mãos, me deixando sozinho.
- Eu vou precisar colocar isso no lugar! – A enfermeira falou, tocando meu ombro delicadamente. – Vai doer! – Ela falou e eu ri fraco.
- Faça logo! – Falei, fechando os olhos.
A senhora mais velha riu com o meu nervosismo e colocou as duas mãos em meu ombro esquerdo que havia saído do lugar durante a imobilização de que me fez ficar de bruços como um porco sendo assado.
- Ah! – Gemi de dor quando ela movimentou meu ombro com força e ouvi um estralo alto, me fazendo jogar a cabeça para frente.
- Pronto! – Ela falou, batendo as mãos umas na outra como se tivesse finalizado seu trabalho.
- Obrigado? – Falei em tom de pergunta e ela riu.
- Sempre que precisar! – Ela se virou para sua mesa, pegando alguma coisa e se virando para mim novamente. – Isso é um anteinflamatório. – Ela me entregou a caixa. – Tome um a cada 12 horas em caso de dor constante. – Assenti com a cabeça, pegando o remédio. – Só saiu do lugar, vai estar melhor em uns dois ou três dias.
- Obrigado! – Pulei da maca, seguindo para o cabideiro onde minha blusa estava pendurada.
- Você pode, por favor, parar de graça e vir aqui? – Me desviei do meu caminho quando notei e outra moça paradas na porta da enfermaria. – Vem logo! – A moça falou, puxando pela mão que notei que ela ainda mancava. – Dana, você pode dar uma olhada nessa garota?
- O que aconteceu, general? – A enfermeira falou, batendo na maca e seguiu pulando até a mesma e se sentou onde eu estava antes.
- Só uma torção. – falou e eu vesti minha blusa, voltando a me preocupar com a minha vida. – Estou bem, Carrie. Você pode ir. – falou para sua amiga que fez uma careta de desdém e se retirou da sala, sacudindo seus cabelos cacheados.
- Eu vou pegar os materiais para enfaixar. – Dana falou.
- É realmente necessário? – Ela perguntou.
- Sim, como foi das últimas sete vezes. – Dana revirou os olhos, se retirando da sala. Achei que era minha deixa e segui para a porta da saída também.
- O que aconteceu com as suas costas? – Ouvi a voz de e parei antes de chegar ao corredor.
- Você é bem curiosa para alguém que parece não se importar. – Não sei por que falei aquilo, mas senti necessidade.
- Desculpe. – Ela falou, se virando novamente e eu suspirei, jogando a cabeça para trás. Cogitei ir embora, mas balancei a cabeça, voltando alguns passos.
- Pouco antes de ser anunciado o Massacre Quartenário... – Suspirei. – Aquele antes da flecha e tudo mais. – Ela se virou novamente, apoiando uma das pernas na cama. – Os Pacificadores invadiram o Distrito 12. – Coloquei as mãos no bolso. – Eles começaram a destruir o mercado de pulgas, machucar pessoas que estavam descumprindo a ordem... – Ri fraco lembrando-me daquela injustiça. – Eu ataquei um Pacificador. – Falei e ela riu.
- Você? – Ela perguntou.
- Por quê? Não faço o tipo? – Ela riu.
- Até faz, mas você parece meio quieto. – Assenti com a cabeça.
- Eu não gosto de ver injustiça. Ainda mais quando não tivemos culpa de nada. – Falei.
- O que aconteceu depois que você atacou o Pacificador? – Ela me olhou.
- Eu fui chicoteado em praça pública. – Ela arregalou os olhos, se levantando da maca.
- Foi você? – Ela me encarou surpresa.
- Você viu? – Perguntei surpresa.
- Sim. – Ela falou, mordendo o lábio inferior. – Transmitia ao vivo, principalmente porque foi logo depois da turnê dos vencedores dos jogos anteriores e o seu distrito ganhou com aquela história de amor adolescente e blá, blá, blá. – Ela revirou os olhos.
- Você não acreditou? – Ela riu, cruzando os braços.
- Até eu faria tudo para sobreviver. – Ela falou, dando de ombros. – Amar um estranho, fingir que vou me casar ou até gravidez. – Ela sorriu. – Ou aguentar torturas o máximo possível. – Ela falou, suspirando.
- Acho que você está certa! – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Depois disso, o que houve? – Ela perguntou.
- Eles foram para os jogos, a vida no meu distrito aconteceu de forma natural. Quando Katniss soltou a flecha, os Pacificadores se retiraram e tudo ficou em silêncio, por umas duas horas talvez. – Suspirei. – Eu sabia que vinha algo ruim por aí. E veio, eles começaram a incendiar tudo, casas, construções, trabalhos, lojas, pessoas... – Ela não esboçou nenhuma reação, só assentiu com a cabeça.
- O que você fez? – Ela perguntou.
- Eu sempre fugia dos limites do Distrito 12 para caçar com Katniss. Falei com algumas pessoas próximas e tirei as que eu consegui e fugi com elas para a floresta. – Dei de ombros.
- Soube que vocês estavam escondidos no Distrito 13. – Assenti com a cabeça.
- Sim! Eles acabaram nos resgatando alguns dias depois e eu fiquei sabendo que aquele jogo estava todo programado para resgatar Katniss e começar a revolução. – Dei de ombros e ela assentiu com a cabeça.
- Você é um herói, Gale. – Ela falou.
- Por quê? Porque eu salvei algumas pessoas? – Perguntei e ela deu de ombros.
- E não é? – Ela cruzou os braços.
- Eu não me sinto muito heroico depois de tudo. – Ela assentiu com a cabeça.
- Creio que nenhum de nós. – Ela tocou meu braço. – Mas temos que continuar vivendo um dia de cada vez.
- É! – Falei e ela deu um sorriso de lado.
- Sente-se, . – Dana voltou e revirou os olhos, me fazendo rir e ela voltou para a maca.
- Você falou muito da Katniss isso, Katniss aquilo. Você sente algo por ela? – Ela perguntou e eu abaixei a cabeça.
- Sentia! – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Senta direito! – Dana falou e ela se virou rindo.
- Desculpe pelo pé. – Falei me retirando de verdade dessa vez.
- Desculpe pelo ombro! – Ela falou e eu ri, saindo da enfermaria.
- E aí, galera? – Falei alguns dias depois, descendo as pedras que davam para arena de treinamento externa e encontrando Edward e Flick rindo. – Qual o motivo da piada? – Me sentei ao lado deles, apoiando minha besta no colo.
- Estávamos falando da sua briga. E de como você precisou se ausentar por três dias. – Revirei os olhos, jogando a cabeça para trás.
- Todo mundo só fala disso! – Edward falou rindo.
- Notei! – Balancei a cabeça. – Qual é a parte da honra e moral na luta? – Ambos se entreolharam e gargalharam.
- Você apanhou bonito, Gale. – Balancei a cabeça.
- Valeu, valeu! – Dei um soco no ombro de Edward que encolheu o mesmo.
- Ai! – Ele reclamou.
- Mas, falando sério, você aguentou bastante lá. Acho que a luta durou uns oito minutos. – Flick ponderou com a cabeça.
- Ele tem treinamento, não é?! – Edward gemeu. – Eu fui nocauteado no primeiro soco. – Ri fraco, abrindo um largo sorriso.
- Clássico! – Falei rindo.
- Mas ela é boa, gente! – Comentei. – Parece que ela antecipa nossos movimentos antes da gente. – Eles assentiram com a cabeça. – Ela está sempre um ou dois segundos na frente, é difícil desviar ou atacar primeiro.
- Ela é foda! – Flick falou, bebendo um pouco de água do seu cantil.
- Ela era carreirista, galera. – Edward deu de ombros.
- Ainda bem que não fui! – Nos assustamos quando uma sombra pairou sobre nós, tendo acima de nós. - Provavelmente nenhum de vocês estaria vivo para contar a história. – Ela deu de ombros e pulou no meio de nós três.
- Fala aí, chefia! – Edward falou sarcástico e eu e Flick nos entreolhamos, segurando para não rir.
- Vejo que estão muito ocupados! – Ela cruzou os braços.
- Ah... Bem! – Flick olhou para os lados e pegou uma flecha caída ali perto. – Em partes.
- Claro! – Ela falou irônica. – Eu estou indo vistoriar as obras do trem que vão cortar o antigo armazém, vulgo mina, que os empreiteiros guardavam materiais, na época. – Assentimos com a cabeça. – Eles não querem que eu vá sozinha, alguém vai se voluntariar para me acompanhar ou...?
- Nós vamos contigo! – Edward se levantou prontamente e eu ri.
Ela não confirmou, nem discordou, seguiu em frente como se não tivesse falado com a gente. Edward seguiu em frente, ajeitando sua aljava nas costas e Flick foi atrás, prendendo suas facas nas costas. Peguei minha besta novamente e segui os três.
Ela não tinha nada em mãos, mas possuía as duas longas espadas nas costas, como no dia que eu a vi treinando. Um carrinho aberto nas laterais esperava por nós e ela se sentou na frente ao lado do motorista e eu, Edward e Flick nos apertamos no banco de trás.
Seguimos o caminho em silêncio, descendo por entre os níveis da terra, até realmente chegar a um lugar que não tinha muita coisa em volta. Era uma grande rocha, com andaimes colocados dos dois lados e uma larga e alta abertura no meio. Era quase como a entrada da mina que eu trabalhava no Distrito 12, mas a entrada era muito mais alta e larga. Daria umas cinco ou seis do meu antigo distrito.
- Já que vocês estão aqui, vamos abusar do que temos. – Ela falou quando desceu. – Vocês cuidam daqui de fora e eu entro. – Ela falou.
- Isso é seguro? – Perguntei, olhando a sombra que a entrada projetava no solo.
- Animal? – Por um momento pensei que ela estava me xingando, mas ela falou para o motorista.
- Tudo certo! – Ele falou e eu franzi a testa, ainda um pouco assustado. Franzi a testa olhando para cima e notei os trabalhadores no alto da rocha.
- Porque você não fica aqui com Edward e Flick e eu entro? – Falei, me aproximando dela.
- Preocupado comigo? – Ela falou no tom mais irônico possível.
- Só querendo dividir tarefas, mesmo. – Ele falou. – É o que soldados fazem, não?! – Perguntei.
- Não se preocupe. Eu vou! – Ela falou e eu segurei-a pelo braço, afastando-a com a mesma rapidez.
- Por favor. – Falei. – Eu vou!
- Eu não pedi para virem para tentar me controlar. – Balancei a cabeça.
- Mas aposto que uma ajuda de vez em quando livraria o peso dos seus ombros. – Falei e ela me fuzilou com o olhar.
- Eu cuido disso! – Ela falou, puxando uma das espadas de suas costas e eu me afastei dois passos. – Você precisa aprender que tem muito mais para saber para me conhecer. Não foi só você que perdeu tudo! – Ela falou, passando por dentro do portal.
- Se você se abrisse um pouco! – Falei, dando de ombros e seguindo pela lateral com Flick.
- Você realmente não me conhece! – Ela deu de ombros, sua voz ficando mais longe e eu balancei a cabeça, dando e ombros.
Comecei andar para o lado, rente à rocha e Flick seguiu para outro lado, enquanto Edward ficou parado na entrada. Franzi a testa quando tive a impressão de sentir um leve tremor no chão e olhei para cima, vendo algumas pequenas pedras e areia cair em meu rosto, me fazendo balançar a cabeça.
O tremor ficou mais rápido, fazendo com que minhas pernas se transformassem em gelatina e eu olhei para cima rapidamente, vendo grandes pedras começarem a cair do topo em nossa direção.
- Avalanche! – Gritei, passando os braços pela pessoa que estava próxima a mim e pulei alguns metros para frente, na intenção de que nada caísse em cima de mim.
O barulho ficou ensurdecedor e minha visão ficou embaçada com a poeira que subiu. Fui me arrastando pela areia o mais longe que eu conseguisse das rochas que caíam lá de cima. Senti um baque em minha cabeça e tudo ficou escuro.
Abri os olhos devagar, sentindo a visão meio turva e um zumbido alto em meu ouvido. Notei que estava de cara em uma pedra e apoiei as mãos na areia para me levantar devagar. Sentei no chão e só vi uma forte massa de poeira branca ao meu redor.
Passei a mão atrás da minha cabeça, onde doía, e vi que a mesma voltou ensanguentada, mas eu estava bem, a dor era suportável. Me levantei devagar, não sabendo onde minha besta tinha parado e comecei a notar algumas pessoas se mexendo no chão.
- Vocês estão bem? – Perguntei meio alto e ninguém respondeu, mas todos se mexiam e ninguém estava soterrado por pedras, o que era um bom sinal.
- Gale! – Ouvi alguém gritar meu nome e virei para trás, me assustando quando a poeira finalmente baixou.
As rochas que estavam no topo vieram para baixo e a entrada para a antiga mina estava totalmente coberta. Do chão até o topo, sem nenhuma fresta vazia. No chão, algumas pessoas também se mexiam, se levantavam e ajudavam uns aos outros. Segurei a respiração por um tempo e engoli em seco, sentindo meus olhos marejarem.
- Gale! – Alguém me empurrou quando se aproximou e eu olhei Edward ao meu lado. – Você está bem? – Passei a mão em seus ombros e rosto esbranquiçado pela poeira.
- Estou bem! – Falei, respirando fundo. – E você?
- Você está sangrando. – Ele falou e eu balancei a cabeça
- Está tudo bem. – Suspirei. – Cadê Flick? – Perguntei, virando para o lado.
- Está do outro lado, uma pedra caiu no pé dele, ele não consegue andar.
- Ele está preso? – Perguntei.
- Não. – Ele falou. – Já pedi para Animal chamar ajuda. – Assenti com a cabeça.
- E ? – Perguntei e ele se calou, engolindo em seco. – Edward... – Falei
- Ela não está aqui, cara. - Balancei a cabeça.
- Não, não, não! – Falei, empurrando-o e seguindo em direção às rochas deslizadas, desviando de algumas menores que estavam mais perto. – ! – Gritei, tentando puxar com as mãos algumas pedras maiores. – ! – Gritei novamente, sentindo as unhas doerem com os movimentos, mas sem chance das pedras maiores se mexerem. – ! – Forcei a garganta da última vez e Edward chegou a meu lado.
- ! – Ele gritou junto e eu engoli em seco.
- ! – Bati a mão da pedra, ficando em silêncio em seguida.
- Fica quieto! – Edward falou, apoiando a mão em meu ombro e aproximei o ouvido das rochas.
- ! – Gritei novamente, respirando fundo. – ? – Falei mais baixo, sentindo a respiração pesar.
- ...
- Parem de gritar! – Senti um alívio quando ouvi sua voz do outro lado e Edward me abraçou desengonçado e eu sorri.
- Você está aí dentro? – Perguntei.
- O que parece, idiota? – Ela perguntou com um gemido na voz.
- Está tudo bem? – Perguntei.
- Acho que sim! – Ela gemeu novamente. – Acho que bati o braço, mas está tudo certo. – Ela suspirou.
- Você vê alguma pedra solta aí? Algum lugar que você consiga puxar para sair? – Perguntei.
- As pedras estão inclinadas lá em cima, se eu mexer em alguma coisa tem perigo de tudo ir para baixo. – Ela falou.
- Então, não faça nada. Vamos chamar o pessoal para ajudar e te tirar daqui, ok?
- Relaxa, Hawthorne. – Ela falou. – Eu já me meti em encrencas piores. Eu saio dessa.
- Boa sorte, então! – Falei, revirando os olhos. – Não saia daí, viu? – Brinquei e pude imaginá-la rolando os olhos.
- Eu vou ver se tem saída do outro lado. – Ela falou.
- Ok! – Falei, me afastando das pedras.
- Pelo menos ela está viva. – Edward falou.
- Vamos ver por quanto tempo. – Respirei fundo. – Ela não tem comida, não tem água, pode estar machucada e as máquinas grandes que ajudariam a tirá-la dali, não chegam pelo solo desnivelado. – Falei.
- Você entende. – Ele disse e eu balancei a cabeça.
- Enfim, planos? – Virei para ele.
- Vou chamar o pessoal da engenharia e ver no que eles podem ajudar. – Assenti com a cabeça.
- Peça também para alguém vir buscar os feridos. Eu vou ficar aqui tentando mantê-la acordada, vai saber como ela está... – Falei.
- Eu estou bem! – Ela gritou, me fazendo revirar os olhos.
- Só vai! – Falei para Edward que saiu correndo.
- Sobe! – O empreiteiro falou e o homem na pequena escavadeira mexeu a pá, tentando puxar as pedras e nada. – De novo!
Suspirei, balançando a cabeça e saí de perto ao ver um ônibus chegar até nós. Corri em direção ao mesmo, vendo Edward ajudando Flick com uma mão e ajudei um homem ali perto com sangue no rosto a entrar no mesmo. Eram cerca de cinco pessoas que haviam sido atingidas e que precisavam de cuidados médicos.
- Vai com ele, organize isso no hospital, por favor. – Falei para Edward que assentiu com a cabeça.
- Você não vai?
- Não, eu vou ficar acompanhando aqui. – Falei.
- Mas você precisa ver essa cabeça, Gale. – Balancei a cabeça.
- Eu estou bem! Provavelmente preciso levar um ponto ou dois, mas eu estou bem, lúcido, racional. – Bati em seus ombros. – Vá com eles.
- Cuida dela. – Edward falou e eu assenti com a cabeça.
- Pode deixar. – Falei.
- Eu volto assim que estiver tudo certo com o pessoal. – Confirmei com a cabeça.
- Vamos ver até que horas isso vai, mas me mantenha informado. – Ele assentiu com a cabeça, entrando no ônibus.
- Você também! – Ele falou e me afastei para que o ônibus pudesse sair dali.
Ergui o rosto para o céu, vendo-o cheio de estrelas e virei em direção aos trabalhadores perto das rochas. Franzi a testa ao ver os engenheiros começarem a se afastar do local e corri em direção a eles.
- O que está acontecendo? – Perguntei.
- Não estamos tendo sorte, garoto. Não tem luz, está frio, vamos continuar amanhã. – Ele falou e eu ergui as mãos.
- E vocês a deixarão sozinha aqui a noite toda?
- Antes de o sol nascer nós voltamos. – Ele deu uns tapinhas nas minhas costas e eu fiquei travado por um tempo. – Vai voltar conosco? – Ele perguntou.
- Depois eu vou! – Falei, balançando a cabeça e corri em direção à pedra, enquanto os funcionários se retiravam.
- Boa noite. – Ele falou e eu preferi ignorá-lo, pois queria enchê-lo de porrada.
- ? – Perguntei contra a rocha.
- Estou aqui! – Ela falou baixo e eu suspirei.
- Eles não tiveram sucesso. Vão voltar amanhã cedo. – Suspirei.
- Tudo bem! – Ela falou. – Que horas são? – Ela perguntou.
- Algo perto de dez da noite. – Falei.
- Nossa! Parece que é muito mais tarde. – Ouvi seu longo suspiro.
- Você está bem aí dentro? – Perguntei.
- Sim! – Ela falou. – Consegui fazer uma fogueira com uns galhos que tinha por aqui.
- Bom. – Assenti com a cabeça. – Está com frio? Com fome?
- Um pouco de fome. – Ela falou. – Mas eu já aguentei situações piores, acredite. – Ri fraco, me sentando no chão, encostando-me à parede.
- Você não precisa se fazer de forte sempre, sabia? – Falei.
- Eu preciso, acredite. – Ela suspirou. – Não sei como não me fizeram prefeita quando tudo isso acabou. – Segurei minha besta firmemente, caso algo ou alguém aparecesse por ali.
- Talvez porque você valha mais em campo do que atrás de uma mesa. – Ela gargalhou alto.
- Talvez! – Sorri. – Apesar de que parece que eu sempre sou capturada ou presa de formas ridículas. – Ela disse.
- Porque diz isso? – Perguntei.
- Olha minha situação! – Ela riu.
- Verdade! – Falei.
- Os feridos foram levados? – Ela perguntou.
- Foram sim, agora pouco, na verdade, junto dos empreiteiros. Só agora um ônibus conseguiu chegar até...
- Os empreiteiros também já foram? – Ela perguntou.
- Sim! – Falei, olhando o espaço vazio sendo somente iluminado pela lua.
- E você não foi com eles? – Ela perguntou.
- Eu não vou! – Falei firme. – Vou ficar contigo.
- Você não precisa fazer isso. – Ela falou. – Eu estou bem. Acredite, eu não vou a lugar nenhum. – Ri fraco.
- Minha preocupação não é essa. – Suspirei. – Eu não sei como você está, preciso te manter lúcida. – Falei.
- Mas você deve estar cansado. Voltou hoje, deve estar meio fora de forma. – Ela riu e eu balancei a cabeça. Só Deus sabe como você está. – Ri fraco e olhei minha mão manchada de sangue.
- Eu estou bem! – Falei. – Obrigado por me lembrar da luta. – Ela riu. – Por falar nisso, você luta muito bem, você é muito ágil. – Suspirei. – Qual é o segredo? - Ela ficou em silêncio e eu suspirei, fechando os olhos. – Eu te contei sobre minha vida. – Falei baixo.
- Eu não posso te contar esperando que você entenda. – Ela falou em seguida. – Você não compreende.
- Se você me contar, eu posso tentar entender. – Falei e o silêncio reinou novamente.
Balancei a cabeça e cruzei os braços em cima do corpo, estava muito frio à noite e eu só estava com uma blusa de manga comprida. Tentei procurar algum tipo de madeira para fazer igual e acender uma fogueira, mas eu só via rochas e areia fina. As rochas ajudavam na criação do fogo, mas eu precisava de alguma coisa para queimar. Suspirei e ergui os olhos para o céu. Pelo menos era noite de lua cheia e ela iluminava o local.
- Acho melhor falar de outra coisa, então. – Falei. – Eu vou ficar a noite toda contigo, sendo que eu tentei te ajudar e ficar preso no seu lugar. – Achei que a ouvi rir baixo novamente.
- Veja o favor que eu te fiz. – Ela falou.
- Você deve estar melhor do que eu. – Brinquei e suspirei.
- Sabe... – Ela falou e eu aproximei o ouvido, tentando escutar algo. – Foi difícil se tornar quem eu sou.
- Por quê? – Perguntei, tentando não assustá-la.
- Morar no Distrito Dois, ter algumas regalias da capital, filha do prefeito. – Suspirei. – Além de ser carreirista que era quase tão bom quanto vencer os Jogos. – Virei de lado, apoiando a cabeça na pedra. – Eu achava que só porque vivia nessa bolha, nunca seria atingida. – Suspirei. – Mas parecia que eu sabia que algo estava por vir. Eu nunca precisei treinar, sabe? – Engoli em seco. – Meu pai era prefeito. Então, todo ano ele descumpria as regras e tirava minha única inscrição dos Jogos antes de Effie aparecer por aqui. – Fechei os olhos. – Mas eu sabia que não estava lutando só para os Jogos. Era outro tipo de sobrevivência. Esperar uma rebelião, uma forma de se livrar deles. – Suspirei, cruzando os braços. – Qualquer coisa. – Ela falou.
- Você disse que era o Tordo do Distrito Dois, por quê? – Perguntei com a voz trêmula.
- Quando Katniss estourou a arena no último jogo, estava tudo muito estranho. Os Pacificadores foram embora e a energia foi cortada. Algo similar que aconteceu no seu distrito. – Assenti com a cabeça. – Nesse tempo, entraram na minha casa e sequestraram nós três. – Suspirei. – Nos doparam com alguma coisa e cobriram nossos rostos com sacos pretos. – Engoli em seco. – Quando eu acordei, eu estava presa a uma cadeira e minha mãe já estava toda ensanguentada no chão, alguns dedos cortados fora e muito sangue. – Franzi os lábios, sentindo meu corpo arrepiar. – Meu pai foi logo depois. – Suspirei. – Eu vi seu corpo ser cortado e desmembrado de diversas formas possíveis. – Engoli em seco. – Primeiro eles fizeram sangria nele. Penduraram-no de cabeça para baixo, cortaram uma veia da axila e deixaram escorrer até que ele ficasse roxo... – Engoli em seco. – Depois cortaram seu peito, abrindo-o ainda vivo. – Senti algumas lágrimas começarem a embaçar meus olhos. – Pouco tempo depois cortaram o pescoço fora. – Ela soluçou e notei que estava chorando.
- Porque isso? – Perguntei, tentando normalizar a voz.
- Eu não sei! – Suspirei. – Tem pessoas que simplesmente são más para mostrar que podem. – Engoli em seco. – Eles me atacaram em seguida. – Ela suspirou. – Eu tive flechas enfiadas nas minhas duas coxas e na minha barriga. – Engoli em seco. – Eu queria aguentar, queria lutar, mas eles eram quatro e eu estava sozinha e desarmada. – Passei a mão no rosto, secando uma lágrima. – Minha sorte foi que outros carreiristas descobriam onde eu estava, mataram os Pacificadores e me tiraram de lá. – Suspirei. – Eu apaguei quando me encontraram. Achei que meu pesadelo tinha acabado, mas só estava começando. – Engoli em seco. – Eu acordei num hospital na capital. – Franzi os lábios. – Eu estava bem fisicamente, me curando, sendo tratada, mas agora eu era prisioneira de Snow. – Suspirei. – O que os Pacificadores fizeram foi um erro. – Ela falou. – Era para ser feito com outros prefeitos, que realmente apoiassem a rebelião. – Me ajeitei na areia. – O Distrito Dois sempre foi o que mais ignorava questões como rebeliões, motins ou algo assim. Tínhamos uma vida boa, com exceção do nervosismo e pressão que nos era posta dos Jogos Vorazes, nós íamos muito bem.
- O Dois foi um dos que mais venceu, não? – Perguntei.
- Sim! – Ela falou. – Tivemos 12 vencedores. – Suspirei. – Aqui era incutida na cabeça das crianças que ir para os Jogos era uma honra, que tínhamos fome de glória, principalmente para se voluntariarem. – Ela riu. – Como isso é ridículo agora. – Abri um pequeno sorriso. – Eu fiquei protegida na capital até vocês chegarem aqui, na verdade. Quando Snow se distraía com Katniss, eu fugi. – Ela falou. – Eu tentei fugir. Primeiro de helicóptero, depois pelo esgoto e depois a pé... – Suspirei. – Eu sempre era capturada, torturada pior do que a vez anterior e precisava de um tempo maior para me recuperar, o que acabava me trazendo planos e estratégias de fuga.
- Mas não entendo porque Snow queria você. Katniss provocou-o, mas você?
- O Distrito Dois controla todas as armas de Panem, Gale. – Ela falou e eu entendi. – Nós temos a base militar de Panem, nós temos os melhores lutadores e o maior número de vencedores dos Jogos. – Ela riu. – Quando eu me toquei disso, tudo ficou claro. Ele queria controle total. Imagina o que poderia acontecer se os outros Distritos, principalmente o 12 e o 13, descobrissem o nosso arsenal? - Ela gargalhou alto. – Seria muito mais fácil derrubar Snow, não precisaria de nenhum espetáculo. – Ela suspirou.
- Como você fugiu? – Perguntei.
- A pé deu mais certo. – Ela falou. – Eu me passei por uma enfermeira ou algo assim, segui pela floresta. Apesar de sermos o Distrito Dois, somos o mais próximo da capital. Eu acabei desmaiando de cansaço na divisa. Quando acordei, estava em casa. – Ela falou. – Literalmente, a mansão do prefeito havia se tornado um refúgio de guerra. Aquela última vez foi sorte. – Assenti com a cabeça.
- E o que você disse aquele dia sobre quase ser morta algumas vezes?
- A luta não acabou quando eu voltei. – Ela falou. – Snow queria o arsenal ainda, certo? E ele veio atrás. – Suspirei. – Teve duas ou três situações que o pessoal ficou entre me matar para conseguir capturar um dos Pacificadores, sei lá como eles se chamavam na época da rebelião, ou me deixar ser capturada novamente.
- Eles preferiram te manter viva para você continuar a luta. – Ela riu.
- Eu não sei como eu ainda ando, Gale. – Ela falou alto. – As pessoas gostam de acertar minhas pernas. Cada vez era pior, eu não me lembro da maioria, estava anestesiada demais para lembrar. – Suspirei. – E de pensar que antes daquela flecha, tudo estava bem. – Suspirei. – Eu tinha uma família, um propósito, apesar de fraco. Eu tinha um noivo. – Ela falou, me surpreendendo. – Nos casaríamos quando completássemos 21 anos. – Fechei os olhos. – Agora de todos os 213 mil moradores do Distrito Dois, temos nem 10 por cento que estão espalhados tentando reerguer Panem. – Ela falou e eu engoli em seco.
- Me desculpe! – Falei, sem encontrar outras palavras.
- Você não tem culpa.
- Talvez sim. – Falei. – Cada distrito teve suas lutas e a gente só pensava nas nossas. – Soltei o ar devagar pela boca.
- Eu também não pensei na de vocês e estamos aqui, certo? – Ela falou e eu suspirei.
- Certo. – Falei baixo, balançando a cabeça. – Você só não precisa se fechar no mundo. – Falei. – Pelo que você me disse, parecia que você tinha amigos antes de tudo.
- Sim! – Ela falou.
- Agora você tem soldados. – Falei. – O que mudou?
- Eu confiava em todo mundo, agora não confio em mais ninguém.
- Você me contou sua história. – Falei. – Devo ter feito algo certo para você confiar em mim.
- Você ficou. – Ela falou e eu dei um pequeno sorriso. – Agradeço por isso.
- Está tudo bem. – Falei, suspirando. – Eu sei que você está magoada com tudo e com todos, mas não precisa ser mais assim, sabia? Você mesma disse que não estamos nos preparando para nenhuma guerra.
- Eu sei, é que é tão difícil. – Ela falou com a voz falha.
- Não mais. – Falei baixo, suspirando.
- Deixa isso para lá, ok?! – Fiquei quieto, suspirando. - Obrigada Hawthorne. – Ela falou e eu assenti com a cabeça, olhando para a lua novamente. – Eu vou tentar dormir aqui, ok?!
- Tem certeza que está tudo bem? – Perguntei.
- Sim, só estou cansada mesmo. – Assenti com a cabeça, suspirando. - Boa noite. – Falei.
- Boa noite. – Respondi, suspirando e me ajeitei um pouco para o lado, inseguro que aquilo pudesse cair novamente e apoiei minha cabeça para trás, observando a lua se movimentar devagar conforme o passar das horas.
- Cara! – Acordei assustado com Edward me chacoalhando e eu senti meu pescoço doer.
Olhei em volta e vi que o sol começava a surgir por entre as colinas e os trabalhadores voltavam para dentro do buraco em que eu estava. Me mexi desajeitado e Edward esticou a mão para mim. Segurei a mesma e me levantei, sentindo todo meu corpo estalar.
- Que horas são? – Perguntei, me espreguiçando.
- Cinco e meia. – Ele falou e eu bocejei, balançando a cabeça. – Trouxemos outros equipamentos, vamos tirar ela daí.
- Ela! – Falei, virando para a pedra. – , está tudo bem? – Perguntei alto, colando o ouvido nas pedras novamente.
- Estou bem! – Ela falou. – Você que parece que acabou capotando. – Ri fraco.
- Acordou faz muito tempo? – Perguntei.
- Há anos não consigo ter uma boa noite de novo. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Edward trouxe mais pessoas para ajudar, mais equipamento. Vamos começar o trabalho.
- Ok! – Ela falou. – Eu tive uma ideia, enquanto estava aqui esperando minha companhia acordar. Talvez possa ajudar. – Ri fraco.
- Diga! – Edward falou. – Vamos tentar aqui.
- Porque vocês não usam dinamite? – Ela perguntou e eu arregalei os olhos.
- O quê? – Gritei. – Ficou louca?
- Lembre com quem você está falando. – Edward falou e eu revirei os olhos.
- Uma explosão pode causar outro deslizamento e te matar. – Falei.
- Eu sou dura na queda, Hawthorne, mas só Deus sabe quando eu vou sair daqui. – Suspirei. – E também não tem comida. Tentei caçar um rato aqui, mas ele me assustou mais e ganhou.
- Você com medo de um rato? – Ela não respondeu e eu ri fraco. - Eu não posso fazer isso, . – Falei, respirando fundo. – Eu não posso te colocar em mais risco.
- Eu já aguentei coisas piores, Gale. – Ela falou e eu respirei fundo. – Cicatrizes maiores, brigas maiores. – Suspirei. – Lidar com isso pode ser fichinha.
- Fala com ela, Edward! – Balancei a cabeça, me afastando da rocha.
- Isso pode ser uma boa ideia, Gale! – Ele falou, me seguindo. – O espaço que ela tem lá dentro é grande. Ela consegue se esconder e, com sorte, não causa impacto dentro dela.
- “Com sorte”? – Falei. – Eu já trabalhei em uma mina, eu sei o que é o impacto de qualquer coisa enquanto você está lá embaixo, imagina na mesma superfície. – Falei, suspirando. – Ela já lutou muito para morrer de uma forma tão ridícula. – Suspirei, colocando as mãos na cabeça.
- O que aconteceu com vocês dois ontem à noite? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Nos conectamos. – Falei, suspirando. – Não importa, eu não posso perder essa garota, Edward.
- Talvez seja bem pior se você deixá-la lá dentro. – Suspirei. – Aqui fora pelo menos podemos cuidar de algum machucado que ela possa ter. – Ergui os olhos para cima, tentando dissipar as lágrimas que se formavam no mesmo.
- Gale? – Ouvi sua voz e me aproximei da rocha novamente.
- Estou aqui! – Falei, apoiando as mãos na mesma.
- Deixe que eles façam isso. – Balancei a cabeça. – Eu ficaria bem.
- Você pode morrer, . – Suspirei, engolindo o choro.
- Por favor, não me deixe fazer isso. – Ela falou quase em um gemido e eu franzi o rosto.
- O quê? – Perguntei.
- Edward está aí? – Ela perguntou.
- Sim! – Ele falou, se aproximando.
- Traga as dinamites, Edward. Sua general está mandando. – Arregalei os olhos, olhando suplicante para Edward.
Ele abanou as mãos, dando de ombros e foi se afastando devagar, balançando a cabeça. Ele cruzou as mãos em sinal de súplica e eu balancei a cabeça, apoiando a cabeça novamente na rocha, tentando normalizar a respiração.
- Eu ficarei bem, Gale. Você sabe que sim. – Ela falou e eu preferi não responder, me afastando da mesma.
Finalmente eu tinha me dado bem com uma garota fascinante e eu a perderia na mesma velocidade.
- Está tudo pronto. – Edward voltou ao local que eu ainda estava há uns 40 minutos e eu suspirei.
- Porque está fazendo isso? – Perguntei, segurando seu braço e ele suspirou.
- Você está apaixonado por ela. – Franzi a testa. – Você não estaria tão preocupado com a vida dela se ela não tivesse te contado sua história. – Suspirei. – Estou certo, não? – Assenti com a cabeça, suspirando. – Em uma das muitas tragédias da vida dela, eu tive que fazer uma escolha: atirar em quem estava mantendo-a prisioneira e talvez acertá-la, mas se eu não acertasse, ela ficaria livre. Ou recuar e deixar que ela fosse levada e só Deus sabe o que aconteceria com ela. – Assenti com a cabeça. – Depois que tudo se resolveu, prometemos nunca mais recuar por segurança. – Ele deu de ombros. – A vida pode nos machucar de outras formas.
- Então, você está fazendo isso por uma promessa? – Ele assentiu com a cabeça.
- Afinal, não tem outra saída. Ou é isso, ou vamos tirar ela dali dois, três meses, só que não vai ser viva. – Engoli em seco. – O que você prefere? – Balancei a cabeça.
- Eu não quero me envolver nisso. – Balancei a cabeça. – Me avisem se ela sobreviver.
- Você não vai sair daqui! – Ouvi o grito de lá de dentro.
- Eu não vou ficar aqui para encontrar seu corpo soterrado aí dentro. – Respondi de volta.
- Ah Gale, vai dizer que se apaixonou por mim? – Ela deu uma risada alta e eu fechei os olhos, respirando fundo.
- Te vejo depois. Isso se você sobreviver! – Falei e já ia sair quando Edward me segurou pela blusa.
- Fica Gale! – Ela falou e eu respirei fundo. – Você sabe que eu estou brincando. – Engoli em seco. – Acredite, eu também estou surpresa com tudo que aconteceu em pouco tempo. – Apoiei minha mão na rocha.
- Eu não consigo assistir isso. – Suspirei.
- Por favor! – Ela falou. – Só esteja aqui quando isso cair. Eu vou precisar de você.
- Porque eu ficaria aqui? – Perguntei.
- Porque eu também me apaixonei por você. – Ela falou e eu engoli em seco, suspirando.
- Eu não sei, ... – Balancei a cabeça.
- Acenda isso, Gale. Eu prometo que vai ficar tudo bem. Pense bem, nós poderemos ver se isso não foi só o calor do momento. – Ri fraco.
- Ok. – Falei. – Mas vai para longe e conte uns minutos antes de voltar. – Edward assentiu com a cabeça.
- Quanto eu vou? – Ela perguntou.
- Você tem relógio aí? – Edward perguntou.
- Tenho! – Ela falou.
- Cronometra dois minutos e corra! – Ele falou. – Provavelmente você vai sentir o sacudir aí dentro. Espere tudo se acalmar antes de voltar.
- Nós estaremos aqui! – Falei, sentindo Edward me apertar meus ombros.
- Posso ir? – Ela perguntou e eu olhei o relógio.
- Vai! – Edward respondeu e eu comecei a contar os minutos.
Fechei as mãos em punhos enquanto encarava o relógio. Dessa vez parece que os segundos começaram a correr loucamente, em compensação com a demora da noite passada quando precisei aguentar o frio congelante do Distrito Dois, além de alguns insetos irritantes. Senti minhas pernas tremeram como gelatina quando o relógio passou dois minutos e eu engoli em seco.
Olhei para Edward e ele assentiu com a cabeça. Nos afastamos da rocha, seguindo o fio de pólvora que estava ligado às dinamites coladas nas rochas. Subimos algumas rochas e pulamos para dentro de outro buraco, onde os trabalhadores estavam. Edward me estendeu um pedaço de madeira onde o fogo queimava na ponta e eu respirei fundo, pegando o mesmo.
Observei a corda em minha frente e respirei fundo algumas vezes antes de criar coragem para fazer isso. Aproximei a chama da corda e ela rapidamente incendiou, Edward pegou a madeira da minha mão e a derrubou em um balde com água e me pegou pelo ombro, me abaixando.
Aquilo demorou mais que os dois minutos. Abaixei com Edward e os outros homens, colocando as mãos nos ouvidos e abaixando a cabeça. Senti a terra tremer e tudo explodiu pelos ares em um grande estouro. Senti uma lágrima solitária escorrer pelo meu rosto e engoli em seco.
Quando a tremedeira parou novamente, senti Edward me sacudir e eu me levantei devagar, olhando toda a poeira branca cobrar minha visão novamente. Eu já estava sozinho no buraco. Saí do mesmo, escalando as rochas novamente e observei toda a parede de rochas no chão e os homens escalando a mesma para chegar do outro lado.
Os acompanhei, fazendo o mesmo movimento e escalando as pedras que ainda se deslizavam por entre nossos pés. Pulei do outro lado, deslizando até o chão e fiquei aliviado em ver que a maioria das pedras haviam caído para o lado de fora e não para dentro.
A visão branca da areia me atrapalhava um pouco, mas os feixe de luz nos capacetes dos empreiteiros me ajudavam a enxergar um pouco. Meu coração voltou a bater novamente quando observei uma criatura andar em nossa direção. Respirei aliviado ao ver os cabelos azuis de brancos como a areia lá de fora e corri em sua direção, vendo-a fazer a mesma coisa.
Passei os braços pelos seus ombros, abraçando-a fortemente e ela apertou minhas costas, escondendo o rosto em meu peito. Afaguei seus cabelos, sentindo um alívio e me afastei um pouco, segurando seu rosto com as mãos, observando um pequeno sorriso no mesmo.
Passei as mãos em seu rosto, tirando toda a poeira branca que o cobria e colei meus lábios nos dela rapidamente. Ela retribuiu com a mesma urgência, segurando meu rosto com as mãos. Soltei um suspiro, nos afastando e ela abriu um pequeno sorriso, olhando em meus olhos.
- Você está bem? – Perguntei.
- Sim. – Ela sorriu. – Está tudo bem. – Assenti com a cabeça, suspirando.
- Eu preciso de você. – Falei, engolindo em seco.
- Não, Gale! – Ela falou. – Eu que preciso de você. – Ri fraco, depositando um beijo em sua testa, abaixando as mãos e entrelaçando meus dedos nos seus.
- Nós precisamos um do outro e não brigamos por isso, pode ser? – Ela riu, assentindo com a cabeça.
- Podemos ir comer alguma coisa? Eu estou morrendo de fome. – Ela perguntou e eu gargalhei alto.
- É, vamos sim! – Falei.
- Pode parar! – Edward nos interrompeu. – Vocês dois vão para o hospital ver se não tem ferimentos e depois vocês fiquem de amorzinho por aqui e por ali. – Ri fraco. - Falando nisso, chefe, é bom ver que você tem alguém. – Ela assentiu com a cabeça.
- É. – Ela virou para mim. – Mas não vai ser fácil assim. – Arregalei os olhos. – Vai ter que lutar muito para me conquistar.
- Ei! – Ergui as mãos e ela riu.
- Vamos, soldado. Vamos tirar um tempinho para gente se conhecer. – Edward gargalhou em nossa frente.
- É, um tempinho no hospital! – Ele falou, segurando em nossos ombros e eu balancei a cabeça.
- Vamos lá! – Falei e ela segurou minha mão novamente, entrelaçando os dedos.
- Obrigada! – Ela falou e eu olhei para ela. – Por ficar aqui comigo quando ninguém ficou. – Assenti com a cabeça.
- Eu não podia deixar minha general sozinha. – Ela sorriu, assentindo com a cabeça.
- Namorada! – Ela me corrigiu antes de começar a escalar as pedras e eu sorri sozinho, assentindo com a cabeça.
Olhei rapidamente a estação e como toda Panem, ela estava em ruínas com pedaços de concreto caindo pelos lados e terra para todo lado. Saí da mesma e achei que tinha caído em um deserto, mas não. O Distrito Dois era o distrito da construção, eram eles que faziam as grandes reformas de todo país.
- Gale Hawthorne? – Um jovem loiro e claro estava do lado de fora da estação me esperando.
- Sim! – Falei.
- Edward Hanson, senhor. Me enviaram para te recepcionar aqui no Distrito Dois. – Ele falou e eu apertei sua mão.
- É um prazer, Edward. – Falei.
- Então, você trabalhou com o tordo, certo? – Assenti com a cabeça.
- Sim! No Esquadrão Estrela também. – Ele assentiu com a cabeça.
- Bem, você verá que aqui no Distrito Dois nós também temos nosso esquadrão de elite e nosso próprio tordo. – Ele deu de ombros. – Mas cuidamos de assuntos diferentes. – Ele abanou as mãos e eu franzi a testa. – Gostaria de passar no seu novo aposento ou já quer ir direto para a base?
- Podemos ir para a base. – Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Bem, segure-se firme. – Ele falou e pulou em um ônibus aberto que passou por nós e eu repeti o movimento, subindo no mesmo. – Você verá que o Distrito Dois também foi muito afetado pela guerra por estar próxima à capital. Então ele foi quase inteiro destruído, mas como somos o distrito construtor, preferimos colocar tudo para baixo e reconstruir do zero, aproveitando boa parte dos materiais do que perder tempo consertando algo que já tinha sua fundação danificada. – Ele deu de ombros.
- Então, estamos em um canteiro de obras? – Perguntei.
- Sim! – Ele falou. – 30% do Distrito Dois está pronto, o resto que você vê é essa areia branca que imita um deserto. Mas não se preocupe, existe água encanada e camas confortáveis. – Ri fraco.
- Acredite, essa é a minha última preocupação. – Falei.
- Vamos! – Ele falou e pulou do ônibus, fui atrás.
Eu esperava algo diferente. Talvez realmente uma área militar ou algo assim, mas não passava de um canto separado perto de algumas grandes obras com um grupo seleto de pessoas treinando com armas pesadas. Mas ninguém estava vestido para lutar, todos usavam roupas do dia-a-dia.
- Bem-vindo ao novo exército da capital. – Ele falou. – Bem, seremos isso quando sua querida Katniss ou outra pessoa se tornar presidente.
- Vocês não parecem muito preparados. – Falei.
- Você que pensa. – Ele falou debochado e continuou andando, subindo e descendo pelas pedras e raspando os pés na areia fina.
- Ei, trouxe carne fresca? – Um negro alto perguntou.
- Gale Hawthorne. – Falei, esticando minha mão.
- Ah, o braço direito do Tordo. – Ele falou, apertando minha mão. – Flick.
- Prazer! – Falei. – Então, ouvi que vocês precisam de ajuda.
- Talvez. – Ele falou e soltou um assovio ardido. – Ei, general! – Ele falou alto. – O amiguinho do Tordo está aqui. – Senti a ironia na voz novamente e vi uma faca cair em pé na areia, me fazendo dar dois passos para trás.
Alguma coisa pulou do andaime de cinco metros de altura que tinha na nossa frente e pousou perfeitamente em minha frente. Seu rosto possuía algumas cicatrizes profundas, uma que passava pelo meio do olho até o nariz e outra da bochecha até a boca. Mesmo com elas, ela não deixava de ser bonita. Seus olhos azuis acinzentados brilhavam com a luz do sol.
Para quebrar a seriedade em seu rosto, ela tinha os cabelos azuis desbotados divididos ao meio e presos em duas Maria Chiquinha trançadas, uma de cada lado. Ela me analisou de cima abaixo, sem precisar erguer muito a cabeça para o feito e assentiu com a cabeça.
- Você deve ser Gale. – Ela falou, esticando a mão.
- Sim, e você é? – Perguntei.
- . O Tordo do Distrito Dois. – Ela falou. – E a general do exército de Panem.
- Quem te deu essa patente? – Perguntei e ela não me pareceu surpresa. – Você parece muito nova para já ser general. – Ela deu de ombros, soltando minha mão.
- A vida me deu essa patente. Como a sua lhe deu experiência. – Assenti com a cabeça.
- Justo. – Falei. – Então, disseram que talvez precisem da minha ajuda? – Perguntei.
- Com todas as reviravoltas e espetáculos acontecendo na capital, nos juntamos a outros distritos e decidimos montar nosso próprio exército da capital. Um justo e necessário, caso haja outro infortúnio como este. – Assenti com a cabeça. – Inicialmente nosso trabalho é mais inspeção, organização e treino. Em breve saberemos quem é nosso presidente e poderemos decidir sobre proteção, divisão e recrutamento. – Assenti com a cabeça. – Fazemos muito trabalho de ronda, especialmente próximo às obras para que não aconteça nenhum acidente com as crianças e visitamos um distrito por semana para ver nossas instalações operárias neles.
- “Operárias” você diz...
- Obras. – Ela falou. – O Distrito Dois ainda é o distrito mais importante na engenharia, mas atualmente não confiamos nos outros. – Dei de ombros.
- E como você confia no seu pelotão? – Perguntei e ela franziu os lábios.
- Eu não confio. – Arregalei os olhos. – Eles serão confiados quando provarem seu valor. – Ela falou, colocando as mãos para trás. – E você, soldado Hawthorne? Posso confiar em você?
- Você vai descobrir! – Entrei no jogo dela e ela deu um sorriso de lado.
- Bom, Edward, Flick, deem uma volta com ele, depois tragam-no de volta para mim que eu decidirei seu posto. – Ela falou, assentindo com a cabeça. – Está ok para você?
- O que a senhora decidir. – Ela riu fraco.
- Senhora não, aqui me chamam de Dinamite ou . – Ela falou e se virou novamente, pegando sua faca do chão.
Observei-a subir de volta pelo andaime, escalando-o perfeitamente com as mãos nuas, até ficar em cima do mesmo, escondida pela luz do sol. Franzi a testa surpreso e fui puxado para o outro lado por Flick.
- Andando. – Ele falou. – Vamos conhecer o local.
- Lugar bacana! – Falei quando Flick me mostrou minha casa.
- É pequena para um cara grandalhão como você, mas posso afirmar que é confortável. – Assenti com a cabeça.
- Está ótimo. Sério! – Falei e ele assentiu com a cabeça.
Olhei para o espaço e era quase uma cabana. Ficava em uma das partes já prontas do Distrito Dois. Era designado especialmente para as pessoas que serviriam ao exército de Panem. Achei bem similar ao que eu estava acostumado no Distrito 13.
Era um longo corredor, com diversas portas com o nome do morador na mesma. Dentro dos quartos tinha uma cama em formato de beliche, abaixo dela uma mesa de apoio com uma cadeira. Em frente à cama tinha uma cômoda onde ajeitei as poucas coisas que havia trazido e na lateral a porta para um pequeno banheiro com alguns mantimentos para esse começo.
As refeições eram coletivas, como no Distrito 13, um refeitório com longas mesas estavam dispostos no centro dessa parte reservada para o exército. Lá possuía também algumas televisões e lugares para diversão com algumas mesas de pingue-pongue e pebolim, coisas que eu não via há muitos anos. E também três áreas para treinamento: uma para musculação com alguns aparelhos pesados, outro para treinamento de mira e tiro ao alvo, com armas muito mais interessantes que minha besta e, a última, para treinamento corporal. Só não era tão tecnológica quanto as que eu havia visto pela televisão do Centro de Treinamento para os Jogos Vorazes, mas era tão interessante quanto.
- Vem ver isso! – Flick me chamou enquanto ele fazia um tour comigo e apontou para o espaço aberto na porta de uma das salas. – Talvez você a entenda um pouco.
Franzi a testa com o que ele havia dito e me aproximei da porta, olhando para dentro da sala. , a nossa general, estava sozinha lá dentro, reconheci pelos cabelos azuis, porque ela estava de costas.
Ela tinha uma faca pequena em cada mão e duas longas cruzadas nas costas como um xis. Ela esperava por alguma coisa. Aguardei por alguns segundos e a ação começou. Os hologramas da sala de treinamento começaram a ataca-la de todas as formas, corporalmente, com arcos, facas e bestas como a minha.
Ela desviava de todas com destreza e facilidade. Socava os necessários e atirava facas com maestria. As duas facas em suas mãos foram atiradas nos primeiros segundos e ela abusou do corporal quando dois hologramas se aproximaram dela e ela deu um chute alto em um deles, enroscando a mão no segundo e desmontou os dois no chão como um quebra-cabeça.
Um terceiro a pegou pelas costas e ao invés dela se desviar por cima, ela jogou seu corpo para trás, caindo por cima dele que também se desmontou. Ela puxou uma das facas de suas costas e jogou longe, em algo que minha visão não permitia que eu visse.
Outros se aproximaram dela e ela correu em uma das direções contrárias, pisando forte na parede e se jogando para trás deles com a segunda faca em mãos e passou horizontalmente pelos três de uma vez só.
Ela teve três segundos para respirar, ou menos, uma flecha passou rente ao seu rosto, fazendo-a desviar e se abaixar rapidamente pegando outra faca escondida na meia, e atirou em minha direção, me assustando quando ela bateu no vidro e caiu.
As luzes da sala se desligaram como se o treino tivesse acabado e olhou para mim com a respiração acelerada, seu peito subia e descia com rapidez. Ela não esboçou nenhum tipo de reação, mas seus olhos acinzentados tocaram fundo na minha alma, talvez fundo até demais.
Prendi a respiração, como se precisasse me esconder de algo e saí do transe quando ela se mexeu novamente, começando a recolher as armas utilizadas durante o treinamento. Soltei um suspiro longo, balançando a cabeça e virei novamente para Flick que tinha um sorriso presunçoso no rosto.
- Ela é demais, não é?! – Ele falou e eu ri, assentindo com a cabeça.
- Eu tenho que admitir, ela é. – Falei e ele riu, dando de ombros.
- Essa daí tem mais experiência que todos nós.
- Ela era carreirista? – Perguntou.
- Ela treinava com eles para fingir que sim, mas seus pais eram prefeitos do Distrito Dois, então ela nunca seria mandada para os Jogos Vorazes. – Ele deu de ombros. – Eles tiravam o nome dela todo ano.
- E porque ela lutava? – Perguntei.
- Primeiro para não levantar suspeitas. – Ele ponderou com a cabeça. – Segundo porque ela já sentia cheiro de revolução muito antes da Katniss aparecer nos jogos. Terceiro que ela cuidava da segurança dos pais dela enquanto eles eram prefeitos.
- Ela é demais! – Falei um tanto deslumbrado demais.
- É, cara! Por isso que a escolha foi unânime quando estourou a revolução. Aqui não tem dessa de idade. Se você tem experiência e tem compromisso, você pode ter um cargo alto com pouca idade, como ela que só tem 20 anos. – Assenti com a cabeça.
- O que aconteceu com os pais dela? – Perguntei.
- O que você acha? – Ele balançou a cabeça. – Morreram junto de quase todos os prefeitos que apoiaram a rebelião. – Ele falou coçando a cabeça. – Bom, seguindo?
Olhei novamente para dentro da sala de treinamento e vi que ela estava vazia novamente. Fiquei com uma pulga atrás da orelha por não saber mais sobre ela. Ela era incrível, isso sem dúvidas, mas por trás de toda incredibilidade sempre vinha algo mais obscuro. Talvez algo que a torturasse por dentro e que nem mesmo Flick e Edward sabiam.
- Ela está chamando. – Flick passou por mim, correndo em direção ao local e larguei o arco que estava entalhando e segui os homens e mulheres que passavam por mim.
Me levantei com outras pessoas que estavam ao meu redor e corri na direção que estavam: a sala de ou o atual andaime, que ela se apossava quando outro prédio começava a subir. Me aproximei das pessoas e nossa general já estava num andar mais baixo do mesmo, abraçada à uma perna e sentada cerca de dois metros acima do solo.
- Todos estão aqui? – Ela perguntou, ficando em pé e as pessoas se entreolharam. – Perfeito! – Ela falou. – Juntei todos vocês para anunciar que Panem tem uma nova presidente. – O pessoal animou aplaudindo e comemorando. – É a comandante Paylor. Responsável pela rebelião no Distrito Oito. – Aplaudi animado, achando a escolha muito boa. – Com isso, teremos uma nova constituição, novas leis e um controle totalmente novo. – Ela falou animada. – Eu serei oficialmente nomeada chefe mor das Forças Armadas de Panem e... – As pessoas a interromperam para aplaudi-la e eu fiquei feliz por isso. – Obrigada! – Ela sorriu. – E eu vou começar a criar um grupo de confiança para me ajudar a controlar isso. Vou precisar de um representante em cada distrito para que possamos organizar processualmente: grupos de segurança, recrutamento, treinamento, enfim, tudo sem que a pessoa precise sair do distrito dela. – Ela abanou as mãos. – Chega, eu estou muito corporativa para o meu gosto. Só esperem novidades minhas ou de algum dos novos subgerentes. Beleza? – Ela falou sorrindo e assentimos com a cabeça. – Liberados! – Ela falou, batendo as mãos e as pessoas começaram a se dissipar. – Hawthorne! – Ela falou e eu virei assustado, vendo-a descer do andaime.
- General. – Falei, me colocando em posição na sua frente.
- Eu já falei sobre isso. – Ela disse, revirando os olhos. – Mas aparentemente vai ser algo verdadeiro agora. – Ela deu de ombros.
- Eu não sei sua história, mas se essas cicatrizes falassem, já sei um pouco. – Ela deu de ombros.
- Elas não contam nem metade da minha história. – Ela piscou. – Enfim, sei que temos diversos distritos destruídos por Panem, mas eu tenho a intenção de sugerir para a presidente Paylor a reconstrução total de todos os distritos, incluindo o 13. – Assenti com a cabeça.
- Eu não sei onde essa conversa está indo, mas se você quiser que eu seja um dos subgerentes do Distrito 12, eu prefiro não. – Ela assentiu com a cabeça.
- Cogitei, na verdade, mas não. – Ela sorriu. – Eu não te conheço para tanto, mas você tem um currículo de dar inveja. – Ela falou, franzindo os lábios. – Têm experiências com diversas armas, armadilhas para captura e sabotagem, além de caça. Você é um soldado, Hawthorne. – Ela falou. – Eu quero que você considere trabalhar junto comigo, no meu esquadrão pessoal. – Assenti com a cabeça.
- Eu estou aqui para isso. Não possuo nada que me impeça de pegar no pesado. – Ela deu uma risada que eu nunca havia visto nesses 20 dias de Distrito Dois.
- Pega leve, Hawthorne. – Ela falou. – Acabamos de passar por uma guerra, não espero outra tão cedo.
- Mas você age como se fosse ter outra.
- Precaução. – Ela falou. – As coisas não foram fáceis por aqui. – Ela assentiu com a cabeça.
- O que aconteceu? – Perguntei e ela ficou em silêncio.
- Muito cedo para falar ainda. – Ela ignorou minha pergunta e pegou sua faca. – Espero contar contigo. Eu vou para a capital em alguns dias com a prefeita do Distrito Dois para decidir alguns detalhes com a presidente Paylor. Depois disso saberemos melhor com o que estamos lidando. – Assenti com a cabeça.
- Com o que precisar, só chamar. – Falei e ela assentiu com a cabeça, começando a marchar para a arena de treinamento onde dois homens se acertavam com lanças de madeira e flechas.
Observei seu andar e fiquei imaginando o que será que tinha acontecido durante a rebelião aqui no Distrito Dois. Ela não me parecia uma pessoa normal que havia passado por isso e superado. Apesar de tudo, eu havia superado. Ela parecia machucada e pelo jeito não tinha sido hoje que eu descobriria o por que.
Voltei para onde estava e peguei o aro em minha mão, voltando a raspar a ponta da faca no mesmo, moldando a madeira em um arco. Eu não era tão bom quanto Katniss nisso, mas daria para o gasto.
Lembrei-me de Katiniss por um minuto e confesso que não fiquei surpreso em saber que ela não aceitara o posto de presidente de Panem, ela só queria o fim disso para voltar a viver em paz. Talvez ela voltasse para o Distrito 12 para viver com o padeiro e só Deus sabe o que aconteceria.
Eu já não sei o que esperava de mim no Distrito Dois, eu tinha uma casa pequena, mas ajeitada, estava fazendo amigos, mas eu ainda era um pouco assombrado por lembranças da rebelião. Todos tinham pesadelos.
Cocei o rosto com a mão cheia de terra e balancei a cabeça, suspirando. Talvez ser soldado seja a melhor coisa que eu faça na vida. Receber ordens, apontar e atirar. Pelo menos tinha me dado bem na época da rebelião, agora tinha virado meu emprego.
- Aqui! – Edward me entregou um papel. – Ela quer treinar contigo amanhã cedo. – Ele falou e eu assenti com a cabeça.
- Por quê? – Perguntei.
- Não é exclusividade sua. – Ele falou. – Ela faz isso com todos os novatos.
- E alguém já venceu? – Perguntei e ele riu.
- Não, nunca! – Ele falou sorrindo.
- Então, para que serve esse treino? – Perguntei.
- Habilidades. – Ele falou. – E ela vê caráter na pessoa que aceitar enfrenta-la de igual para igual, sabendo que tem 99 por cento de chances de perder. – Ponderei com a cabeça.
- É algo mais moral do que prático. – Ele assentiu com a cabeça.
- Exatamente! – Ponderei com a cabeça.
- Armas são liberadas? – Perguntei.
- Não! – Ele falou sorrindo. – É corporal mesmo. Ninguém quer se machucar em um simples treinamento. – Ele falou.
- E tem plateia? – Ele ponderou com a cabeça.
- Mais ou menos. – Ele falou. – É na sala de treinamento, os que chegam antes se amontoam nos andares de cima e, quem não tem coragem de ficar lá embaixo por medo de ser acertado, fica espiando na porta. – Assenti com a cabeça.
- Que horas?
- Sete da manhã. – Ele falou sorrindo. – Se quiser ir embora para descansar ou treinar, fique à vontade.
- Valeu! – Falei. – Vou só terminar aqui. – Ele assentiu com a cabeça e se retirou.
Acordei cedo naquele dia. Sem despertador ou o sol entrando na cara. Ah, sol! Isso era algo que tinha muito por aqui, mal chovia. Em compensação da sobriedade que ficava no 13. Minha pele morena de sol já estava ficando vermelha e qualquer sombrinha já era lucro, principalmente no treinamento.
Nós não tínhamos uniformes, estão me vesti como se fosse caçar no Distrito 12: calça, blusa de manga comprida e botas. Lá dentro tinha ar condicionado, então compensaria um pouco pelo calor lá de fora.
Tomei um café da manhã acompanhado de Flick e Edward. Só acompanhado mesmo, pois o silêncio reinou na nossa mesa e em todo refeitório. Parecia que eu era um competidor dos Jogos Vorazes ou algo assim. Normalmente o refeitório era mais animado. Não comi muito naquele dia, não sabia muito seus movimentos sem a faca, mas não gostaria de vomitar no acolchoado caso ela acertasse a boca do estômago.
Saí do refeitório com uma caravana pouco antes das sete. Todos seguimos direto para a sala de treinamento. Edward e Flick apertavam meus ombros como se me dessem forças, mas só pelas habilidades que eu vi dela ontem, eu sabia que perderia. Além de que estava totalmente despreparado. Observar uma luta dela contra hologramas e com facas, que era sua especialidade, não era um grande estudo.
A porta da sala de treinamentos estava aberta quando eu cheguei, então entrei. O local já estava apinhado de pessoas como Edward falou no dia anterior. Todos amontoados no mezanino que tinha no segundo andar, além de poucas pessoas em volta do tapete acolchoado.
já estava do lado contrário a porta. Ela estava vestida com bermudas, blusa regata de flanela e seu colete longo. Os pés estavam descalços e ela enfaixava a mão com esparadrapo ao lado de uma pequena mesa.
Ela nem deu bola pela minha presença, mas os presentes começaram a cochichar baixo. Eu não costumava lutar sem motivos, mas preferi não discutir quanto a isso, estava até empolgado, confesso.
Dei uma esticada rapidamente em meus braços e pernas, alongando-os e ouvi os estalos dos ossos. Cogitei tirar a camiseta e as botas, mas não o fiz. Em compensação tirei o relógio do pulso.
- Está na hora! – Ouvi Flick falar alto e o vi se colocar no centro, me fazendo-o virar para ele. – As regras são simples. – Ele disse. – É proibido o uso de qualquer tipo de armas, então se tiverem alguma coisa escondida, podem largar. – Ele olhou para nós dois e ninguém se mexeu. – É proibido golpe baixo. Sem chutes em seios, virilhas, puxões de cabelos, mordidas, e blá, blá, blá. – Ele falou como se fosse óbvio. – O primeiro a mobilizar o adversário por 10 segundos vence. – Ele sorriu, batendo as mãos. – Quem quiser sair, a hora é agora! – Ele falou e 90 por cento das pessoas que estavam lá dentro saíram, cerca de 40, 50 pessoas. As outras cinco, sete que sobraram, ocuparam os cantos diagonais da sala. – , se aproxime. – Ele falou e ela se aproximou do mesmo. – Gale, se aproxime. – Me aproximei deles engolindo em seco.
- Tentando entender o motivo disso? – perguntou olhando para mim e eu dei um pequeno sorriso.
- Você quer saber se pode confiar em mim. – Ela ponderou com a cabeça.
- Vamos dizer que sim. – Ela falou, fechando as mãos em punhos.
- Entendidos? – Flick falou, dando alguns passos para trás. – Lutem! – Ele gritou e eu esperei.
Esperei que ela viesse por cima, com as mãos fechadas em punhos, mas ela fez algo totalmente inesperado, se abaixou e deslizou a perna pelo tapete, me dando uma rasteira literal. Eu não estava preparado, então caí rapidamente no chão, me assustando como ela tinha simplesmente me atacado, sem mais nem menos.
Me levantei rapidamente, observando-a com um sorriso no rosto e rondei um pouco o tapete, antes de ataca-la. Tentei acertar um soco na lateral de seu rosto e um chute esquerdo em seu corpo, mas ela era muito rápida. Parecia que ela antecipava os movimentos antes do que eu.
Ela acertou dois socos em meu rosto, me atordoando por um tempo, mas girei o corpo, repetindo seu movimento e passando uma rasteira nela, mas ela não acompanhou a mesma, ela pulou antes, mas esbarrou o pé no meu ao cair no chão, se chocando contra o tapete e aproveitei para me ajoelhar no mesmo, me debruçar em cima dela e acertando um soco na lateral do seu corpo.
Ela não deixou barato, fechou as pernas em torno da minha e girou o corpo com rapidez que fez com que eu fosse jogado no tapete e empurrei o chão, me levantando, encontrando-a em minha frente novamente. O suor começava a escorrer de meu corpo e eu me arrependi em não ter tirado a blusa.
Ela deu três socos cruzados e eu consegui desviar deles, mas em seguida ela ergueu a perna, acertando um chute na minha barriga e outro em meu queixo, me jogando para trás, me escorando contra a parede.
Ela aproveitou essa leva e começou a distribuir socos e chutes em meu rosto e torso. Eu já tentava desviar eles com as mãos, mas eu estava milésimos de segundo atrasado, então ela sempre acabava me acertando. Em um movimento de sorte, eu consegui segurar seu calcanhar e virar, fazendo-a se virar junto com o pé e empurrei-a para frente, fazendo-a cair de bruços no chão.
Quando fui tentar o movimento por cima dela novamente, ela se virou rapidamente, erguendo o pé e chutando minha barriga. No que eu abracei a barriga com a dor, ela se aproveitou e deu outra rasteira em um dos pés, me puxando para frente. Perdi o equilíbrio e caí de bunda no chão.
Ela se debruçou em cima de mim, com os joelhos presos de cada lado do meu corpo e cruzei as mãos em frente ao meu rosto que recebeu o impacto de seu corpo. Girei as pernas, na tentativa de fazer com que ela caísse para o lado, mas notei meu erro quando percebi que essa era sua tática.
Comigo de bruços, ela se arrumou em cima de mim e prendeu minhas pernas com as dela. Com meus braços livres, tentei me levantar, mas ela segurou um e aproximou-o das minhas pernas, pressionando as juntas dos três membros.
Tentei me movimentar para sair daquilo, mas para o lado que eu me virara, ela se equilibrava e apertava mais as pernas e mãos ao redor do meu corpo, fazendo alguns ossos estalar. Eu não queria desistir, mas esse movimento dela fazia com que meu rosto ficasse colado no chão e pressionasse meu pescoço no mesmo, faltando o ar.
- Chega! – Bati a mão livre no chão e o pessoal em volta começou a gritar e ela soltou meus membros, me deixando debruçado no chão com as juntas doendo.
Me coloquei de barriga para cima novamente e ela estava lá, estendendo a mão para mim, assenti com a cabeça e segurei-a, me levantando, sentindo meu ombro doer. Ela não esboçou nenhuma reação, nem falou algo. Somente seguiu para o outro lado do tapete, com a perna manca, começando a tirar o esparadrapo das mãos. As pessoas em volta só gritaram quando eu desisti, mas depois já começaram a sair da sala. Estralei meus ombros e me aproximei dela.
- Boa luta. – Falei e ela deu um riso de lado, balançando a cabeça. – Como eu fui? – Perguntei e ela se virou para mim.
- Você tem experiência. – Ele falou. – Aguentou muito bem. – Assenti com a cabeça.
- Agora pode confiar em mim? – Perguntei.
- Essa luta não é sobre confiança literal. – Ela falou, olhando para os lados. - Na verdade, eu precisava saber se você vai me matar um dia, caso isso defina o sucesso ou falha de uma missão. – Ela falou quando o local estava vazio, tirando o esparadrapo de uma das mãos e eu arregalei os olhos.
- Por quê? – Perguntei. – Não estamos mais em guerra. – Falei.
- Sei que preciso mudar minha forma de confiar nas pessoas e minhas ações, mas essa ainda é mais eficaz, apesar de ter falhado algumas vezes. – Franzi a testa.
- Como assim? – Ela passou por mim, andando em direção à saída.
- Muitas pessoas poderiam ter atirado, mas preferiram me deixar a viver. – Ela deu de ombros. – Talvez eu preferisse ter morrido nessas situações. – Ela bateu a mão no botão, abrindo a porta. – Falando nisso, você passou. – Ela falou se retirando da sala com os sapatos nas mãos, me deixando sozinho.
- Eu vou precisar colocar isso no lugar! – A enfermeira falou, tocando meu ombro delicadamente. – Vai doer! – Ela falou e eu ri fraco.
- Faça logo! – Falei, fechando os olhos.
A senhora mais velha riu com o meu nervosismo e colocou as duas mãos em meu ombro esquerdo que havia saído do lugar durante a imobilização de que me fez ficar de bruços como um porco sendo assado.
- Ah! – Gemi de dor quando ela movimentou meu ombro com força e ouvi um estralo alto, me fazendo jogar a cabeça para frente.
- Pronto! – Ela falou, batendo as mãos umas na outra como se tivesse finalizado seu trabalho.
- Obrigado? – Falei em tom de pergunta e ela riu.
- Sempre que precisar! – Ela se virou para sua mesa, pegando alguma coisa e se virando para mim novamente. – Isso é um anteinflamatório. – Ela me entregou a caixa. – Tome um a cada 12 horas em caso de dor constante. – Assenti com a cabeça, pegando o remédio. – Só saiu do lugar, vai estar melhor em uns dois ou três dias.
- Obrigado! – Pulei da maca, seguindo para o cabideiro onde minha blusa estava pendurada.
- Você pode, por favor, parar de graça e vir aqui? – Me desviei do meu caminho quando notei e outra moça paradas na porta da enfermaria. – Vem logo! – A moça falou, puxando pela mão que notei que ela ainda mancava. – Dana, você pode dar uma olhada nessa garota?
- O que aconteceu, general? – A enfermeira falou, batendo na maca e seguiu pulando até a mesma e se sentou onde eu estava antes.
- Só uma torção. – falou e eu vesti minha blusa, voltando a me preocupar com a minha vida. – Estou bem, Carrie. Você pode ir. – falou para sua amiga que fez uma careta de desdém e se retirou da sala, sacudindo seus cabelos cacheados.
- Eu vou pegar os materiais para enfaixar. – Dana falou.
- É realmente necessário? – Ela perguntou.
- Sim, como foi das últimas sete vezes. – Dana revirou os olhos, se retirando da sala. Achei que era minha deixa e segui para a porta da saída também.
- O que aconteceu com as suas costas? – Ouvi a voz de e parei antes de chegar ao corredor.
- Você é bem curiosa para alguém que parece não se importar. – Não sei por que falei aquilo, mas senti necessidade.
- Desculpe. – Ela falou, se virando novamente e eu suspirei, jogando a cabeça para trás. Cogitei ir embora, mas balancei a cabeça, voltando alguns passos.
- Pouco antes de ser anunciado o Massacre Quartenário... – Suspirei. – Aquele antes da flecha e tudo mais. – Ela se virou novamente, apoiando uma das pernas na cama. – Os Pacificadores invadiram o Distrito 12. – Coloquei as mãos no bolso. – Eles começaram a destruir o mercado de pulgas, machucar pessoas que estavam descumprindo a ordem... – Ri fraco lembrando-me daquela injustiça. – Eu ataquei um Pacificador. – Falei e ela riu.
- Você? – Ela perguntou.
- Por quê? Não faço o tipo? – Ela riu.
- Até faz, mas você parece meio quieto. – Assenti com a cabeça.
- Eu não gosto de ver injustiça. Ainda mais quando não tivemos culpa de nada. – Falei.
- O que aconteceu depois que você atacou o Pacificador? – Ela me olhou.
- Eu fui chicoteado em praça pública. – Ela arregalou os olhos, se levantando da maca.
- Foi você? – Ela me encarou surpresa.
- Você viu? – Perguntei surpresa.
- Sim. – Ela falou, mordendo o lábio inferior. – Transmitia ao vivo, principalmente porque foi logo depois da turnê dos vencedores dos jogos anteriores e o seu distrito ganhou com aquela história de amor adolescente e blá, blá, blá. – Ela revirou os olhos.
- Você não acreditou? – Ela riu, cruzando os braços.
- Até eu faria tudo para sobreviver. – Ela falou, dando de ombros. – Amar um estranho, fingir que vou me casar ou até gravidez. – Ela sorriu. – Ou aguentar torturas o máximo possível. – Ela falou, suspirando.
- Acho que você está certa! – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Depois disso, o que houve? – Ela perguntou.
- Eles foram para os jogos, a vida no meu distrito aconteceu de forma natural. Quando Katniss soltou a flecha, os Pacificadores se retiraram e tudo ficou em silêncio, por umas duas horas talvez. – Suspirei. – Eu sabia que vinha algo ruim por aí. E veio, eles começaram a incendiar tudo, casas, construções, trabalhos, lojas, pessoas... – Ela não esboçou nenhuma reação, só assentiu com a cabeça.
- O que você fez? – Ela perguntou.
- Eu sempre fugia dos limites do Distrito 12 para caçar com Katniss. Falei com algumas pessoas próximas e tirei as que eu consegui e fugi com elas para a floresta. – Dei de ombros.
- Soube que vocês estavam escondidos no Distrito 13. – Assenti com a cabeça.
- Sim! Eles acabaram nos resgatando alguns dias depois e eu fiquei sabendo que aquele jogo estava todo programado para resgatar Katniss e começar a revolução. – Dei de ombros e ela assentiu com a cabeça.
- Você é um herói, Gale. – Ela falou.
- Por quê? Porque eu salvei algumas pessoas? – Perguntei e ela deu de ombros.
- E não é? – Ela cruzou os braços.
- Eu não me sinto muito heroico depois de tudo. – Ela assentiu com a cabeça.
- Creio que nenhum de nós. – Ela tocou meu braço. – Mas temos que continuar vivendo um dia de cada vez.
- É! – Falei e ela deu um sorriso de lado.
- Sente-se, . – Dana voltou e revirou os olhos, me fazendo rir e ela voltou para a maca.
- Você falou muito da Katniss isso, Katniss aquilo. Você sente algo por ela? – Ela perguntou e eu abaixei a cabeça.
- Sentia! – Falei e ela assentiu com a cabeça.
- Senta direito! – Dana falou e ela se virou rindo.
- Desculpe pelo pé. – Falei me retirando de verdade dessa vez.
- Desculpe pelo ombro! – Ela falou e eu ri, saindo da enfermaria.
- E aí, galera? – Falei alguns dias depois, descendo as pedras que davam para arena de treinamento externa e encontrando Edward e Flick rindo. – Qual o motivo da piada? – Me sentei ao lado deles, apoiando minha besta no colo.
- Estávamos falando da sua briga. E de como você precisou se ausentar por três dias. – Revirei os olhos, jogando a cabeça para trás.
- Todo mundo só fala disso! – Edward falou rindo.
- Notei! – Balancei a cabeça. – Qual é a parte da honra e moral na luta? – Ambos se entreolharam e gargalharam.
- Você apanhou bonito, Gale. – Balancei a cabeça.
- Valeu, valeu! – Dei um soco no ombro de Edward que encolheu o mesmo.
- Ai! – Ele reclamou.
- Mas, falando sério, você aguentou bastante lá. Acho que a luta durou uns oito minutos. – Flick ponderou com a cabeça.
- Ele tem treinamento, não é?! – Edward gemeu. – Eu fui nocauteado no primeiro soco. – Ri fraco, abrindo um largo sorriso.
- Clássico! – Falei rindo.
- Mas ela é boa, gente! – Comentei. – Parece que ela antecipa nossos movimentos antes da gente. – Eles assentiram com a cabeça. – Ela está sempre um ou dois segundos na frente, é difícil desviar ou atacar primeiro.
- Ela é foda! – Flick falou, bebendo um pouco de água do seu cantil.
- Ela era carreirista, galera. – Edward deu de ombros.
- Ainda bem que não fui! – Nos assustamos quando uma sombra pairou sobre nós, tendo acima de nós. - Provavelmente nenhum de vocês estaria vivo para contar a história. – Ela deu de ombros e pulou no meio de nós três.
- Fala aí, chefia! – Edward falou sarcástico e eu e Flick nos entreolhamos, segurando para não rir.
- Vejo que estão muito ocupados! – Ela cruzou os braços.
- Ah... Bem! – Flick olhou para os lados e pegou uma flecha caída ali perto. – Em partes.
- Claro! – Ela falou irônica. – Eu estou indo vistoriar as obras do trem que vão cortar o antigo armazém, vulgo mina, que os empreiteiros guardavam materiais, na época. – Assentimos com a cabeça. – Eles não querem que eu vá sozinha, alguém vai se voluntariar para me acompanhar ou...?
- Nós vamos contigo! – Edward se levantou prontamente e eu ri.
Ela não confirmou, nem discordou, seguiu em frente como se não tivesse falado com a gente. Edward seguiu em frente, ajeitando sua aljava nas costas e Flick foi atrás, prendendo suas facas nas costas. Peguei minha besta novamente e segui os três.
Ela não tinha nada em mãos, mas possuía as duas longas espadas nas costas, como no dia que eu a vi treinando. Um carrinho aberto nas laterais esperava por nós e ela se sentou na frente ao lado do motorista e eu, Edward e Flick nos apertamos no banco de trás.
Seguimos o caminho em silêncio, descendo por entre os níveis da terra, até realmente chegar a um lugar que não tinha muita coisa em volta. Era uma grande rocha, com andaimes colocados dos dois lados e uma larga e alta abertura no meio. Era quase como a entrada da mina que eu trabalhava no Distrito 12, mas a entrada era muito mais alta e larga. Daria umas cinco ou seis do meu antigo distrito.
- Já que vocês estão aqui, vamos abusar do que temos. – Ela falou quando desceu. – Vocês cuidam daqui de fora e eu entro. – Ela falou.
- Isso é seguro? – Perguntei, olhando a sombra que a entrada projetava no solo.
- Animal? – Por um momento pensei que ela estava me xingando, mas ela falou para o motorista.
- Tudo certo! – Ele falou e eu franzi a testa, ainda um pouco assustado. Franzi a testa olhando para cima e notei os trabalhadores no alto da rocha.
- Porque você não fica aqui com Edward e Flick e eu entro? – Falei, me aproximando dela.
- Preocupado comigo? – Ela falou no tom mais irônico possível.
- Só querendo dividir tarefas, mesmo. – Ele falou. – É o que soldados fazem, não?! – Perguntei.
- Não se preocupe. Eu vou! – Ela falou e eu segurei-a pelo braço, afastando-a com a mesma rapidez.
- Por favor. – Falei. – Eu vou!
- Eu não pedi para virem para tentar me controlar. – Balancei a cabeça.
- Mas aposto que uma ajuda de vez em quando livraria o peso dos seus ombros. – Falei e ela me fuzilou com o olhar.
- Eu cuido disso! – Ela falou, puxando uma das espadas de suas costas e eu me afastei dois passos. – Você precisa aprender que tem muito mais para saber para me conhecer. Não foi só você que perdeu tudo! – Ela falou, passando por dentro do portal.
- Se você se abrisse um pouco! – Falei, dando de ombros e seguindo pela lateral com Flick.
- Você realmente não me conhece! – Ela deu de ombros, sua voz ficando mais longe e eu balancei a cabeça, dando e ombros.
Comecei andar para o lado, rente à rocha e Flick seguiu para outro lado, enquanto Edward ficou parado na entrada. Franzi a testa quando tive a impressão de sentir um leve tremor no chão e olhei para cima, vendo algumas pequenas pedras e areia cair em meu rosto, me fazendo balançar a cabeça.
O tremor ficou mais rápido, fazendo com que minhas pernas se transformassem em gelatina e eu olhei para cima rapidamente, vendo grandes pedras começarem a cair do topo em nossa direção.
- Avalanche! – Gritei, passando os braços pela pessoa que estava próxima a mim e pulei alguns metros para frente, na intenção de que nada caísse em cima de mim.
O barulho ficou ensurdecedor e minha visão ficou embaçada com a poeira que subiu. Fui me arrastando pela areia o mais longe que eu conseguisse das rochas que caíam lá de cima. Senti um baque em minha cabeça e tudo ficou escuro.
Abri os olhos devagar, sentindo a visão meio turva e um zumbido alto em meu ouvido. Notei que estava de cara em uma pedra e apoiei as mãos na areia para me levantar devagar. Sentei no chão e só vi uma forte massa de poeira branca ao meu redor.
Passei a mão atrás da minha cabeça, onde doía, e vi que a mesma voltou ensanguentada, mas eu estava bem, a dor era suportável. Me levantei devagar, não sabendo onde minha besta tinha parado e comecei a notar algumas pessoas se mexendo no chão.
- Vocês estão bem? – Perguntei meio alto e ninguém respondeu, mas todos se mexiam e ninguém estava soterrado por pedras, o que era um bom sinal.
- Gale! – Ouvi alguém gritar meu nome e virei para trás, me assustando quando a poeira finalmente baixou.
As rochas que estavam no topo vieram para baixo e a entrada para a antiga mina estava totalmente coberta. Do chão até o topo, sem nenhuma fresta vazia. No chão, algumas pessoas também se mexiam, se levantavam e ajudavam uns aos outros. Segurei a respiração por um tempo e engoli em seco, sentindo meus olhos marejarem.
- Gale! – Alguém me empurrou quando se aproximou e eu olhei Edward ao meu lado. – Você está bem? – Passei a mão em seus ombros e rosto esbranquiçado pela poeira.
- Estou bem! – Falei, respirando fundo. – E você?
- Você está sangrando. – Ele falou e eu balancei a cabeça
- Está tudo bem. – Suspirei. – Cadê Flick? – Perguntei, virando para o lado.
- Está do outro lado, uma pedra caiu no pé dele, ele não consegue andar.
- Ele está preso? – Perguntei.
- Não. – Ele falou. – Já pedi para Animal chamar ajuda. – Assenti com a cabeça.
- E ? – Perguntei e ele se calou, engolindo em seco. – Edward... – Falei
- Ela não está aqui, cara. - Balancei a cabeça.
- Não, não, não! – Falei, empurrando-o e seguindo em direção às rochas deslizadas, desviando de algumas menores que estavam mais perto. – ! – Gritei, tentando puxar com as mãos algumas pedras maiores. – ! – Gritei novamente, sentindo as unhas doerem com os movimentos, mas sem chance das pedras maiores se mexerem. – ! – Forcei a garganta da última vez e Edward chegou a meu lado.
- ! – Ele gritou junto e eu engoli em seco.
- ! – Bati a mão da pedra, ficando em silêncio em seguida.
- Fica quieto! – Edward falou, apoiando a mão em meu ombro e aproximei o ouvido das rochas.
- ! – Gritei novamente, respirando fundo. – ? – Falei mais baixo, sentindo a respiração pesar.
- ...
- Parem de gritar! – Senti um alívio quando ouvi sua voz do outro lado e Edward me abraçou desengonçado e eu sorri.
- Você está aí dentro? – Perguntei.
- O que parece, idiota? – Ela perguntou com um gemido na voz.
- Está tudo bem? – Perguntei.
- Acho que sim! – Ela gemeu novamente. – Acho que bati o braço, mas está tudo certo. – Ela suspirou.
- Você vê alguma pedra solta aí? Algum lugar que você consiga puxar para sair? – Perguntei.
- As pedras estão inclinadas lá em cima, se eu mexer em alguma coisa tem perigo de tudo ir para baixo. – Ela falou.
- Então, não faça nada. Vamos chamar o pessoal para ajudar e te tirar daqui, ok?
- Relaxa, Hawthorne. – Ela falou. – Eu já me meti em encrencas piores. Eu saio dessa.
- Boa sorte, então! – Falei, revirando os olhos. – Não saia daí, viu? – Brinquei e pude imaginá-la rolando os olhos.
- Eu vou ver se tem saída do outro lado. – Ela falou.
- Ok! – Falei, me afastando das pedras.
- Pelo menos ela está viva. – Edward falou.
- Vamos ver por quanto tempo. – Respirei fundo. – Ela não tem comida, não tem água, pode estar machucada e as máquinas grandes que ajudariam a tirá-la dali, não chegam pelo solo desnivelado. – Falei.
- Você entende. – Ele disse e eu balancei a cabeça.
- Enfim, planos? – Virei para ele.
- Vou chamar o pessoal da engenharia e ver no que eles podem ajudar. – Assenti com a cabeça.
- Peça também para alguém vir buscar os feridos. Eu vou ficar aqui tentando mantê-la acordada, vai saber como ela está... – Falei.
- Eu estou bem! – Ela gritou, me fazendo revirar os olhos.
- Só vai! – Falei para Edward que saiu correndo.
- Sobe! – O empreiteiro falou e o homem na pequena escavadeira mexeu a pá, tentando puxar as pedras e nada. – De novo!
Suspirei, balançando a cabeça e saí de perto ao ver um ônibus chegar até nós. Corri em direção ao mesmo, vendo Edward ajudando Flick com uma mão e ajudei um homem ali perto com sangue no rosto a entrar no mesmo. Eram cerca de cinco pessoas que haviam sido atingidas e que precisavam de cuidados médicos.
- Vai com ele, organize isso no hospital, por favor. – Falei para Edward que assentiu com a cabeça.
- Você não vai?
- Não, eu vou ficar acompanhando aqui. – Falei.
- Mas você precisa ver essa cabeça, Gale. – Balancei a cabeça.
- Eu estou bem! Provavelmente preciso levar um ponto ou dois, mas eu estou bem, lúcido, racional. – Bati em seus ombros. – Vá com eles.
- Cuida dela. – Edward falou e eu assenti com a cabeça.
- Pode deixar. – Falei.
- Eu volto assim que estiver tudo certo com o pessoal. – Confirmei com a cabeça.
- Vamos ver até que horas isso vai, mas me mantenha informado. – Ele assentiu com a cabeça, entrando no ônibus.
- Você também! – Ele falou e me afastei para que o ônibus pudesse sair dali.
Ergui o rosto para o céu, vendo-o cheio de estrelas e virei em direção aos trabalhadores perto das rochas. Franzi a testa ao ver os engenheiros começarem a se afastar do local e corri em direção a eles.
- O que está acontecendo? – Perguntei.
- Não estamos tendo sorte, garoto. Não tem luz, está frio, vamos continuar amanhã. – Ele falou e eu ergui as mãos.
- E vocês a deixarão sozinha aqui a noite toda?
- Antes de o sol nascer nós voltamos. – Ele deu uns tapinhas nas minhas costas e eu fiquei travado por um tempo. – Vai voltar conosco? – Ele perguntou.
- Depois eu vou! – Falei, balançando a cabeça e corri em direção à pedra, enquanto os funcionários se retiravam.
- Boa noite. – Ele falou e eu preferi ignorá-lo, pois queria enchê-lo de porrada.
- ? – Perguntei contra a rocha.
- Estou aqui! – Ela falou baixo e eu suspirei.
- Eles não tiveram sucesso. Vão voltar amanhã cedo. – Suspirei.
- Tudo bem! – Ela falou. – Que horas são? – Ela perguntou.
- Algo perto de dez da noite. – Falei.
- Nossa! Parece que é muito mais tarde. – Ouvi seu longo suspiro.
- Você está bem aí dentro? – Perguntei.
- Sim! – Ela falou. – Consegui fazer uma fogueira com uns galhos que tinha por aqui.
- Bom. – Assenti com a cabeça. – Está com frio? Com fome?
- Um pouco de fome. – Ela falou. – Mas eu já aguentei situações piores, acredite. – Ri fraco, me sentando no chão, encostando-me à parede.
- Você não precisa se fazer de forte sempre, sabia? – Falei.
- Eu preciso, acredite. – Ela suspirou. – Não sei como não me fizeram prefeita quando tudo isso acabou. – Segurei minha besta firmemente, caso algo ou alguém aparecesse por ali.
- Talvez porque você valha mais em campo do que atrás de uma mesa. – Ela gargalhou alto.
- Talvez! – Sorri. – Apesar de que parece que eu sempre sou capturada ou presa de formas ridículas. – Ela disse.
- Porque diz isso? – Perguntei.
- Olha minha situação! – Ela riu.
- Verdade! – Falei.
- Os feridos foram levados? – Ela perguntou.
- Foram sim, agora pouco, na verdade, junto dos empreiteiros. Só agora um ônibus conseguiu chegar até...
- Os empreiteiros também já foram? – Ela perguntou.
- Sim! – Falei, olhando o espaço vazio sendo somente iluminado pela lua.
- E você não foi com eles? – Ela perguntou.
- Eu não vou! – Falei firme. – Vou ficar contigo.
- Você não precisa fazer isso. – Ela falou. – Eu estou bem. Acredite, eu não vou a lugar nenhum. – Ri fraco.
- Minha preocupação não é essa. – Suspirei. – Eu não sei como você está, preciso te manter lúcida. – Falei.
- Mas você deve estar cansado. Voltou hoje, deve estar meio fora de forma. – Ela riu e eu balancei a cabeça. Só Deus sabe como você está. – Ri fraco e olhei minha mão manchada de sangue.
- Eu estou bem! – Falei. – Obrigado por me lembrar da luta. – Ela riu. – Por falar nisso, você luta muito bem, você é muito ágil. – Suspirei. – Qual é o segredo? - Ela ficou em silêncio e eu suspirei, fechando os olhos. – Eu te contei sobre minha vida. – Falei baixo.
- Eu não posso te contar esperando que você entenda. – Ela falou em seguida. – Você não compreende.
- Se você me contar, eu posso tentar entender. – Falei e o silêncio reinou novamente.
Balancei a cabeça e cruzei os braços em cima do corpo, estava muito frio à noite e eu só estava com uma blusa de manga comprida. Tentei procurar algum tipo de madeira para fazer igual e acender uma fogueira, mas eu só via rochas e areia fina. As rochas ajudavam na criação do fogo, mas eu precisava de alguma coisa para queimar. Suspirei e ergui os olhos para o céu. Pelo menos era noite de lua cheia e ela iluminava o local.
- Acho melhor falar de outra coisa, então. – Falei. – Eu vou ficar a noite toda contigo, sendo que eu tentei te ajudar e ficar preso no seu lugar. – Achei que a ouvi rir baixo novamente.
- Veja o favor que eu te fiz. – Ela falou.
- Você deve estar melhor do que eu. – Brinquei e suspirei.
- Sabe... – Ela falou e eu aproximei o ouvido, tentando escutar algo. – Foi difícil se tornar quem eu sou.
- Por quê? – Perguntei, tentando não assustá-la.
- Morar no Distrito Dois, ter algumas regalias da capital, filha do prefeito. – Suspirei. – Além de ser carreirista que era quase tão bom quanto vencer os Jogos. – Virei de lado, apoiando a cabeça na pedra. – Eu achava que só porque vivia nessa bolha, nunca seria atingida. – Suspirei. – Mas parecia que eu sabia que algo estava por vir. Eu nunca precisei treinar, sabe? – Engoli em seco. – Meu pai era prefeito. Então, todo ano ele descumpria as regras e tirava minha única inscrição dos Jogos antes de Effie aparecer por aqui. – Fechei os olhos. – Mas eu sabia que não estava lutando só para os Jogos. Era outro tipo de sobrevivência. Esperar uma rebelião, uma forma de se livrar deles. – Suspirei, cruzando os braços. – Qualquer coisa. – Ela falou.
- Você disse que era o Tordo do Distrito Dois, por quê? – Perguntei com a voz trêmula.
- Quando Katniss estourou a arena no último jogo, estava tudo muito estranho. Os Pacificadores foram embora e a energia foi cortada. Algo similar que aconteceu no seu distrito. – Assenti com a cabeça. – Nesse tempo, entraram na minha casa e sequestraram nós três. – Suspirei. – Nos doparam com alguma coisa e cobriram nossos rostos com sacos pretos. – Engoli em seco. – Quando eu acordei, eu estava presa a uma cadeira e minha mãe já estava toda ensanguentada no chão, alguns dedos cortados fora e muito sangue. – Franzi os lábios, sentindo meu corpo arrepiar. – Meu pai foi logo depois. – Suspirei. – Eu vi seu corpo ser cortado e desmembrado de diversas formas possíveis. – Engoli em seco. – Primeiro eles fizeram sangria nele. Penduraram-no de cabeça para baixo, cortaram uma veia da axila e deixaram escorrer até que ele ficasse roxo... – Engoli em seco. – Depois cortaram seu peito, abrindo-o ainda vivo. – Senti algumas lágrimas começarem a embaçar meus olhos. – Pouco tempo depois cortaram o pescoço fora. – Ela soluçou e notei que estava chorando.
- Porque isso? – Perguntei, tentando normalizar a voz.
- Eu não sei! – Suspirei. – Tem pessoas que simplesmente são más para mostrar que podem. – Engoli em seco. – Eles me atacaram em seguida. – Ela suspirou. – Eu tive flechas enfiadas nas minhas duas coxas e na minha barriga. – Engoli em seco. – Eu queria aguentar, queria lutar, mas eles eram quatro e eu estava sozinha e desarmada. – Passei a mão no rosto, secando uma lágrima. – Minha sorte foi que outros carreiristas descobriam onde eu estava, mataram os Pacificadores e me tiraram de lá. – Suspirei. – Eu apaguei quando me encontraram. Achei que meu pesadelo tinha acabado, mas só estava começando. – Engoli em seco. – Eu acordei num hospital na capital. – Franzi os lábios. – Eu estava bem fisicamente, me curando, sendo tratada, mas agora eu era prisioneira de Snow. – Suspirei. – O que os Pacificadores fizeram foi um erro. – Ela falou. – Era para ser feito com outros prefeitos, que realmente apoiassem a rebelião. – Me ajeitei na areia. – O Distrito Dois sempre foi o que mais ignorava questões como rebeliões, motins ou algo assim. Tínhamos uma vida boa, com exceção do nervosismo e pressão que nos era posta dos Jogos Vorazes, nós íamos muito bem.
- O Dois foi um dos que mais venceu, não? – Perguntei.
- Sim! – Ela falou. – Tivemos 12 vencedores. – Suspirei. – Aqui era incutida na cabeça das crianças que ir para os Jogos era uma honra, que tínhamos fome de glória, principalmente para se voluntariarem. – Ela riu. – Como isso é ridículo agora. – Abri um pequeno sorriso. – Eu fiquei protegida na capital até vocês chegarem aqui, na verdade. Quando Snow se distraía com Katniss, eu fugi. – Ela falou. – Eu tentei fugir. Primeiro de helicóptero, depois pelo esgoto e depois a pé... – Suspirei. – Eu sempre era capturada, torturada pior do que a vez anterior e precisava de um tempo maior para me recuperar, o que acabava me trazendo planos e estratégias de fuga.
- Mas não entendo porque Snow queria você. Katniss provocou-o, mas você?
- O Distrito Dois controla todas as armas de Panem, Gale. – Ela falou e eu entendi. – Nós temos a base militar de Panem, nós temos os melhores lutadores e o maior número de vencedores dos Jogos. – Ela riu. – Quando eu me toquei disso, tudo ficou claro. Ele queria controle total. Imagina o que poderia acontecer se os outros Distritos, principalmente o 12 e o 13, descobrissem o nosso arsenal? - Ela gargalhou alto. – Seria muito mais fácil derrubar Snow, não precisaria de nenhum espetáculo. – Ela suspirou.
- Como você fugiu? – Perguntei.
- A pé deu mais certo. – Ela falou. – Eu me passei por uma enfermeira ou algo assim, segui pela floresta. Apesar de sermos o Distrito Dois, somos o mais próximo da capital. Eu acabei desmaiando de cansaço na divisa. Quando acordei, estava em casa. – Ela falou. – Literalmente, a mansão do prefeito havia se tornado um refúgio de guerra. Aquela última vez foi sorte. – Assenti com a cabeça.
- E o que você disse aquele dia sobre quase ser morta algumas vezes?
- A luta não acabou quando eu voltei. – Ela falou. – Snow queria o arsenal ainda, certo? E ele veio atrás. – Suspirei. – Teve duas ou três situações que o pessoal ficou entre me matar para conseguir capturar um dos Pacificadores, sei lá como eles se chamavam na época da rebelião, ou me deixar ser capturada novamente.
- Eles preferiram te manter viva para você continuar a luta. – Ela riu.
- Eu não sei como eu ainda ando, Gale. – Ela falou alto. – As pessoas gostam de acertar minhas pernas. Cada vez era pior, eu não me lembro da maioria, estava anestesiada demais para lembrar. – Suspirei. – E de pensar que antes daquela flecha, tudo estava bem. – Suspirei. – Eu tinha uma família, um propósito, apesar de fraco. Eu tinha um noivo. – Ela falou, me surpreendendo. – Nos casaríamos quando completássemos 21 anos. – Fechei os olhos. – Agora de todos os 213 mil moradores do Distrito Dois, temos nem 10 por cento que estão espalhados tentando reerguer Panem. – Ela falou e eu engoli em seco.
- Me desculpe! – Falei, sem encontrar outras palavras.
- Você não tem culpa.
- Talvez sim. – Falei. – Cada distrito teve suas lutas e a gente só pensava nas nossas. – Soltei o ar devagar pela boca.
- Eu também não pensei na de vocês e estamos aqui, certo? – Ela falou e eu suspirei.
- Certo. – Falei baixo, balançando a cabeça. – Você só não precisa se fechar no mundo. – Falei. – Pelo que você me disse, parecia que você tinha amigos antes de tudo.
- Sim! – Ela falou.
- Agora você tem soldados. – Falei. – O que mudou?
- Eu confiava em todo mundo, agora não confio em mais ninguém.
- Você me contou sua história. – Falei. – Devo ter feito algo certo para você confiar em mim.
- Você ficou. – Ela falou e eu dei um pequeno sorriso. – Agradeço por isso.
- Está tudo bem. – Falei, suspirando. – Eu sei que você está magoada com tudo e com todos, mas não precisa ser mais assim, sabia? Você mesma disse que não estamos nos preparando para nenhuma guerra.
- Eu sei, é que é tão difícil. – Ela falou com a voz falha.
- Não mais. – Falei baixo, suspirando.
- Deixa isso para lá, ok?! – Fiquei quieto, suspirando. - Obrigada Hawthorne. – Ela falou e eu assenti com a cabeça, olhando para a lua novamente. – Eu vou tentar dormir aqui, ok?!
- Tem certeza que está tudo bem? – Perguntei.
- Sim, só estou cansada mesmo. – Assenti com a cabeça, suspirando. - Boa noite. – Falei.
- Boa noite. – Respondi, suspirando e me ajeitei um pouco para o lado, inseguro que aquilo pudesse cair novamente e apoiei minha cabeça para trás, observando a lua se movimentar devagar conforme o passar das horas.
- Cara! – Acordei assustado com Edward me chacoalhando e eu senti meu pescoço doer.
Olhei em volta e vi que o sol começava a surgir por entre as colinas e os trabalhadores voltavam para dentro do buraco em que eu estava. Me mexi desajeitado e Edward esticou a mão para mim. Segurei a mesma e me levantei, sentindo todo meu corpo estalar.
- Que horas são? – Perguntei, me espreguiçando.
- Cinco e meia. – Ele falou e eu bocejei, balançando a cabeça. – Trouxemos outros equipamentos, vamos tirar ela daí.
- Ela! – Falei, virando para a pedra. – , está tudo bem? – Perguntei alto, colando o ouvido nas pedras novamente.
- Estou bem! – Ela falou. – Você que parece que acabou capotando. – Ri fraco.
- Acordou faz muito tempo? – Perguntei.
- Há anos não consigo ter uma boa noite de novo. – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
- Edward trouxe mais pessoas para ajudar, mais equipamento. Vamos começar o trabalho.
- Ok! – Ela falou. – Eu tive uma ideia, enquanto estava aqui esperando minha companhia acordar. Talvez possa ajudar. – Ri fraco.
- Diga! – Edward falou. – Vamos tentar aqui.
- Porque vocês não usam dinamite? – Ela perguntou e eu arregalei os olhos.
- O quê? – Gritei. – Ficou louca?
- Lembre com quem você está falando. – Edward falou e eu revirei os olhos.
- Uma explosão pode causar outro deslizamento e te matar. – Falei.
- Eu sou dura na queda, Hawthorne, mas só Deus sabe quando eu vou sair daqui. – Suspirei. – E também não tem comida. Tentei caçar um rato aqui, mas ele me assustou mais e ganhou.
- Você com medo de um rato? – Ela não respondeu e eu ri fraco. - Eu não posso fazer isso, . – Falei, respirando fundo. – Eu não posso te colocar em mais risco.
- Eu já aguentei coisas piores, Gale. – Ela falou e eu respirei fundo. – Cicatrizes maiores, brigas maiores. – Suspirei. – Lidar com isso pode ser fichinha.
- Fala com ela, Edward! – Balancei a cabeça, me afastando da rocha.
- Isso pode ser uma boa ideia, Gale! – Ele falou, me seguindo. – O espaço que ela tem lá dentro é grande. Ela consegue se esconder e, com sorte, não causa impacto dentro dela.
- “Com sorte”? – Falei. – Eu já trabalhei em uma mina, eu sei o que é o impacto de qualquer coisa enquanto você está lá embaixo, imagina na mesma superfície. – Falei, suspirando. – Ela já lutou muito para morrer de uma forma tão ridícula. – Suspirei, colocando as mãos na cabeça.
- O que aconteceu com vocês dois ontem à noite? – Ele perguntou e eu suspirei.
- Nos conectamos. – Falei, suspirando. – Não importa, eu não posso perder essa garota, Edward.
- Talvez seja bem pior se você deixá-la lá dentro. – Suspirei. – Aqui fora pelo menos podemos cuidar de algum machucado que ela possa ter. – Ergui os olhos para cima, tentando dissipar as lágrimas que se formavam no mesmo.
- Gale? – Ouvi sua voz e me aproximei da rocha novamente.
- Estou aqui! – Falei, apoiando as mãos na mesma.
- Deixe que eles façam isso. – Balancei a cabeça. – Eu ficaria bem.
- Você pode morrer, . – Suspirei, engolindo o choro.
- Por favor, não me deixe fazer isso. – Ela falou quase em um gemido e eu franzi o rosto.
- O quê? – Perguntei.
- Edward está aí? – Ela perguntou.
- Sim! – Ele falou, se aproximando.
- Traga as dinamites, Edward. Sua general está mandando. – Arregalei os olhos, olhando suplicante para Edward.
Ele abanou as mãos, dando de ombros e foi se afastando devagar, balançando a cabeça. Ele cruzou as mãos em sinal de súplica e eu balancei a cabeça, apoiando a cabeça novamente na rocha, tentando normalizar a respiração.
- Eu ficarei bem, Gale. Você sabe que sim. – Ela falou e eu preferi não responder, me afastando da mesma.
Finalmente eu tinha me dado bem com uma garota fascinante e eu a perderia na mesma velocidade.
- Está tudo pronto. – Edward voltou ao local que eu ainda estava há uns 40 minutos e eu suspirei.
- Porque está fazendo isso? – Perguntei, segurando seu braço e ele suspirou.
- Você está apaixonado por ela. – Franzi a testa. – Você não estaria tão preocupado com a vida dela se ela não tivesse te contado sua história. – Suspirei. – Estou certo, não? – Assenti com a cabeça, suspirando. – Em uma das muitas tragédias da vida dela, eu tive que fazer uma escolha: atirar em quem estava mantendo-a prisioneira e talvez acertá-la, mas se eu não acertasse, ela ficaria livre. Ou recuar e deixar que ela fosse levada e só Deus sabe o que aconteceria com ela. – Assenti com a cabeça. – Depois que tudo se resolveu, prometemos nunca mais recuar por segurança. – Ele deu de ombros. – A vida pode nos machucar de outras formas.
- Então, você está fazendo isso por uma promessa? – Ele assentiu com a cabeça.
- Afinal, não tem outra saída. Ou é isso, ou vamos tirar ela dali dois, três meses, só que não vai ser viva. – Engoli em seco. – O que você prefere? – Balancei a cabeça.
- Eu não quero me envolver nisso. – Balancei a cabeça. – Me avisem se ela sobreviver.
- Você não vai sair daqui! – Ouvi o grito de lá de dentro.
- Eu não vou ficar aqui para encontrar seu corpo soterrado aí dentro. – Respondi de volta.
- Ah Gale, vai dizer que se apaixonou por mim? – Ela deu uma risada alta e eu fechei os olhos, respirando fundo.
- Te vejo depois. Isso se você sobreviver! – Falei e já ia sair quando Edward me segurou pela blusa.
- Fica Gale! – Ela falou e eu respirei fundo. – Você sabe que eu estou brincando. – Engoli em seco. – Acredite, eu também estou surpresa com tudo que aconteceu em pouco tempo. – Apoiei minha mão na rocha.
- Eu não consigo assistir isso. – Suspirei.
- Por favor! – Ela falou. – Só esteja aqui quando isso cair. Eu vou precisar de você.
- Porque eu ficaria aqui? – Perguntei.
- Porque eu também me apaixonei por você. – Ela falou e eu engoli em seco, suspirando.
- Eu não sei, ... – Balancei a cabeça.
- Acenda isso, Gale. Eu prometo que vai ficar tudo bem. Pense bem, nós poderemos ver se isso não foi só o calor do momento. – Ri fraco.
- Ok. – Falei. – Mas vai para longe e conte uns minutos antes de voltar. – Edward assentiu com a cabeça.
- Quanto eu vou? – Ela perguntou.
- Você tem relógio aí? – Edward perguntou.
- Tenho! – Ela falou.
- Cronometra dois minutos e corra! – Ele falou. – Provavelmente você vai sentir o sacudir aí dentro. Espere tudo se acalmar antes de voltar.
- Nós estaremos aqui! – Falei, sentindo Edward me apertar meus ombros.
- Posso ir? – Ela perguntou e eu olhei o relógio.
- Vai! – Edward respondeu e eu comecei a contar os minutos.
Fechei as mãos em punhos enquanto encarava o relógio. Dessa vez parece que os segundos começaram a correr loucamente, em compensação com a demora da noite passada quando precisei aguentar o frio congelante do Distrito Dois, além de alguns insetos irritantes. Senti minhas pernas tremeram como gelatina quando o relógio passou dois minutos e eu engoli em seco.
Olhei para Edward e ele assentiu com a cabeça. Nos afastamos da rocha, seguindo o fio de pólvora que estava ligado às dinamites coladas nas rochas. Subimos algumas rochas e pulamos para dentro de outro buraco, onde os trabalhadores estavam. Edward me estendeu um pedaço de madeira onde o fogo queimava na ponta e eu respirei fundo, pegando o mesmo.
Observei a corda em minha frente e respirei fundo algumas vezes antes de criar coragem para fazer isso. Aproximei a chama da corda e ela rapidamente incendiou, Edward pegou a madeira da minha mão e a derrubou em um balde com água e me pegou pelo ombro, me abaixando.
Aquilo demorou mais que os dois minutos. Abaixei com Edward e os outros homens, colocando as mãos nos ouvidos e abaixando a cabeça. Senti a terra tremer e tudo explodiu pelos ares em um grande estouro. Senti uma lágrima solitária escorrer pelo meu rosto e engoli em seco.
Quando a tremedeira parou novamente, senti Edward me sacudir e eu me levantei devagar, olhando toda a poeira branca cobrar minha visão novamente. Eu já estava sozinho no buraco. Saí do mesmo, escalando as rochas novamente e observei toda a parede de rochas no chão e os homens escalando a mesma para chegar do outro lado.
Os acompanhei, fazendo o mesmo movimento e escalando as pedras que ainda se deslizavam por entre nossos pés. Pulei do outro lado, deslizando até o chão e fiquei aliviado em ver que a maioria das pedras haviam caído para o lado de fora e não para dentro.
A visão branca da areia me atrapalhava um pouco, mas os feixe de luz nos capacetes dos empreiteiros me ajudavam a enxergar um pouco. Meu coração voltou a bater novamente quando observei uma criatura andar em nossa direção. Respirei aliviado ao ver os cabelos azuis de brancos como a areia lá de fora e corri em sua direção, vendo-a fazer a mesma coisa.
Passei os braços pelos seus ombros, abraçando-a fortemente e ela apertou minhas costas, escondendo o rosto em meu peito. Afaguei seus cabelos, sentindo um alívio e me afastei um pouco, segurando seu rosto com as mãos, observando um pequeno sorriso no mesmo.
Passei as mãos em seu rosto, tirando toda a poeira branca que o cobria e colei meus lábios nos dela rapidamente. Ela retribuiu com a mesma urgência, segurando meu rosto com as mãos. Soltei um suspiro, nos afastando e ela abriu um pequeno sorriso, olhando em meus olhos.
- Você está bem? – Perguntei.
- Sim. – Ela sorriu. – Está tudo bem. – Assenti com a cabeça, suspirando.
- Eu preciso de você. – Falei, engolindo em seco.
- Não, Gale! – Ela falou. – Eu que preciso de você. – Ri fraco, depositando um beijo em sua testa, abaixando as mãos e entrelaçando meus dedos nos seus.
- Nós precisamos um do outro e não brigamos por isso, pode ser? – Ela riu, assentindo com a cabeça.
- Podemos ir comer alguma coisa? Eu estou morrendo de fome. – Ela perguntou e eu gargalhei alto.
- É, vamos sim! – Falei.
- Pode parar! – Edward nos interrompeu. – Vocês dois vão para o hospital ver se não tem ferimentos e depois vocês fiquem de amorzinho por aqui e por ali. – Ri fraco. - Falando nisso, chefe, é bom ver que você tem alguém. – Ela assentiu com a cabeça.
- É. – Ela virou para mim. – Mas não vai ser fácil assim. – Arregalei os olhos. – Vai ter que lutar muito para me conquistar.
- Ei! – Ergui as mãos e ela riu.
- Vamos, soldado. Vamos tirar um tempinho para gente se conhecer. – Edward gargalhou em nossa frente.
- É, um tempinho no hospital! – Ele falou, segurando em nossos ombros e eu balancei a cabeça.
- Vamos lá! – Falei e ela segurou minha mão novamente, entrelaçando os dedos.
- Obrigada! – Ela falou e eu olhei para ela. – Por ficar aqui comigo quando ninguém ficou. – Assenti com a cabeça.
- Eu não podia deixar minha general sozinha. – Ela sorriu, assentindo com a cabeça.
- Namorada! – Ela me corrigiu antes de começar a escalar as pedras e eu sorri sozinho, assentindo com a cabeça.
Epílogo
Desviei de seus socos duas vezes, mas me distraí por um segundo e ela ergueu sua perna direita, acertando em meu queixo, me derrubando para trás. Coloquei a mão no local atingido e senti-o estalar.
- Cinco anos e você ainda não melhorou sua defesa, Gale. – Ela falou, esticando a mão para mim e eu a segurei, me levantando novamente.
- Você é muito rápida! – Falei, estralando o pescoço. – Eu não consigo ver todos seus movimentos.
- Você está olhando para todos os lugares ao mesmo tempo, tente ver pela sua visão periférica! – Ela falou se afastando um pouco e erguendo os punhos cobertos com esparadrapo. – De novo! – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
Coloquei um passo para frente e consegui pular antes que sua rasteira me atingisse. Essa eu já tinha aprendido faz tempo. Tentei focar no que ela disse e mantive meus olhos focados nos seus, tentando ignorar tudo que acontecia em seu rosto e tentar enxergar pela visão periférica, como ela disse.
Foi como se tudo acontecesse em câmera lenta. Desviei dos seus dois socos e girei o corpo para o lado contrário dela. Ergui a mão na altura do meu peito, sentindo seu pé bater na mesma e ela me olhou surpresa com esse desvio. Abri um sorriso e movimentei meus punhos duas vezes em direção ao seu rosto, que foi facilmente desviado e levantei a perna esquerda, chutando em sua direção.
Me surpreendi quando seu corpo foi jogado para trás quando meu pé atingiu seu peito e eu abri um largo sorriso, parando cansado, com a respiração acelerada. Ela balançou a cabeça, rindo fraco e passou a mão acima de seu peito, sorrindo.
- Essa doeu! – Ela falou e eu segui em sua direção, estendendo minha mão.
- Golpe de sorte? – Perguntei e ela se levantou.
- Não. – Ela falou. – Eu não te vi. – Ela sorriu. – Viu como foi bom te tirar do treino de tiro um pouco? – Ela passou as mãos em meus ombros.
- Talvez. – Respirei fundo. – Mas não confio em Edward com armas, você sabe disso. – Ela riu.
- Ele é bom, vai. Só precisa tomar cuidado com as flechas incendiárias. – Ri, negando com a cabeça.
- Qualquer flecha! – Falei, suspirando. – Ele precisa se manter no trabalho burocrático. – Ela gargalhou.
- Maldade! – Ela falou e eu colei meus lábios nos dela rapidamente.
- Senhora? – Nos separamos e olhei a assistente pessoal de aparecer na porta com uma prancheta.
- Diga, Bev! – falou, virando para frente e eu peguei uma tolha, passando-a em meu rosto.
- Posso voltar depois... – Ela falou.
- Pode falar! – falou rindo e se virou para me olhar rapidamente.
- A assistente da presidente Hoe te ligou. Eles querem saber se podem adiantar a reunião sobre as forças armadas para amanhã cedo. – Olhei o relógio ao mesmo tempo de .
- Quando sai o último trem para capital? – perguntou.
- 11 e 15, senhora. – se virou para mim.
- Dá tempo! – Falei, dando de ombros. – Aposto que Flick, Edward e Driffa estarão prontos. – Ela assentiu com a cabeça.
- Prepare para irmos nesse último trem, então, Bev. – suspirou. – Avise Flick, Edward e Driffa e chame Log, preciso pedir para ele deixar Rock pronto. – Bev apontou para fora.
- Na verdade, ele está aqui agora. – Bev falou e eu olhei uma cabeleira loira aparecer pela porta e eu e nos entreolhamos rindo. – Ele quer saber se seus pais superocupados poderiam lhe conceder uma reunião para falar sobre a excursão da escola. – Balancei a cabeça.
- Peça para que o senhor Rock Hawthorne entre, por favor. – falou e eu gargalhei.
Bev fez um movimento para que Rock entrasse e ele veio correndo em nossa direção, fazendo com que seus cabelos loiros chacoalhassem para todos os lados. se abaixou e Rock se jogou nos braços de sua mãe e eu me aproximei de ambos, passando a mão em seus cabelos.
- Ó, meu pequeno. O que houve? – perguntou, se sentando no tapete acolchoado e eu me sentei ao seu lado.
- O professor Elton vai fazer uma excursão para o museu dos Jogos na capital, eu quero saber se posso ir. – Rock falou e eu sorri.
- Claro que pode, meu amor. – Falei e ele sorriu. – Nós falaremos com ele, está bem?
- Está bem! – Ele me copiou e eu ri.
- Nós vamos para a capital essa noite, quer ir com a gente? – perguntou, segurando-o pela cintura.
- Eu posso? – Ele perguntou.
- Claro que pode! Nós vamos passar o fim de semana lá, não vamos te deixar sozinho! – falou rindo e Rock deu um beijo em sua bochecha.
- Eu vou sim! – Ele falou soltando-a. – Vou pedir para Log me ajudar a arrumar as coisas. – Ele começou a se animar e eu ri.
- Falando nisso, onde ele está? – Perguntei e Rock fez uma careta.
- Então... – Ele falou e eu revirei os olhos. – Eu tenho que ir, vejo vocês depois. – Ele falou, se soltando dos braços de e correndo em direção à saída.
- Esse é nosso menino. – se levantou.
- Não podemos reclamar, amor. – Passei o braço em seus ombros. – Ele é igualzinho a gente. – Ela riu, me abraçando pela cintura e encostando a cabeça em meu peito.
- Pior, talvez. – Ela falou e eu ri.
- Temos tempo para treinar mais um pouco? – Ela perguntou, se afastando de mim com a mesma rapidez.
- Senhora... – Bev chamou, franzindo a testa. – Já que vocês vão para a capital agora cedo, precisamos encontrar a prefeita para pegar os planos das forças armadas e organizar os últimos relatórios de... – fez uma careta.
- Peça isso para Edward, Bev. E precisamos oficializar minha completa remoção de cargos administrativos, ok?! – Ela falou. – Meu negócio é campo de batalha. – Ela piscou para mim e pegou uma toalha, começando a seguir Bev. – Te vejo mais tarde? – Ela me perguntou.
- Sim! – Falei. – Vou encontrar Flick e pegar alguns protótipos de armas. Te vejo em casa mais tarde. – Ela assentiu com a cabeça, mandando um beijo.
- Até mais! – Ela saiu da sala com Bev em seu encalço e eu sorri, seguindo pelo menos caminho, mas em direção ao arsenal.
Observei alguns passos a frente ouvindo as milhões de informações que Bev tinha para lhe passar e voltei alguns anos na memória em como eu havia trocado minha vida pós rebelião por um tiro no escuro e me encontrado no Distrito Dois. Além de encontrar uma pessoa sensacional para dividir a vida e ter a oportunidade de ter um filho incrível, algo que só em sonhos eu imaginaria.
Cinco anos haviam se passado desde que começamos a sair. Panem se reergueu de forma espetacular com a presidente Paylor e agora com a presidente Hoe. Os jogos haviam acabado e agora as únicas pessoas que precisavam realmente treinar éramos nós do Distrito Dois, mas como exército da capital, não para sobreviver. tinha a honraria mais alta do exército e eu cuidava do treinamento com armas e criação de algumas. Rock já tinha quatro anos e também estava começando a se virar e a aprontar.
E sobre a Katniss e meu distrito de nascença, você me pergunta. Acabei encontrando-a e Peeta em um dos bailes na capital em homenagem aos rebeldes que ajudaram a acabar com a opressão de Snow. Eles estão bem, com dois filhos também. Fomos cordiais um com o outro, apresentei e Rock com orgulho a eles que pareceram felizes por mim, mas foi só.
Depois de tanto dar murro em ponta de faca por alguém que não gostava de mim, eu havia encontrado alguém que trazia sorrisos em meu rosto das formas mais bobas possível. Alguns a chamavam de general, outros de chefia, chefa ou até de , mas para mim, quando estávamos só nós dois, com as luzes apagadas, ela ainda era minha dinamite.
- Ah, você chegou! – Flick falou animado quando passei pelas portas do arsenal.
- Você tem que ver isso! – Edward falou, seguindo para perto de algumas mulheres que tinham armas novas.
- O que você está fazendo aqui? – Perguntei a ele. – Eu já não te proibi de vir aqui?
- Ah, qual é, Gale. Aquilo foi um acidente. – Virei para ele.
- Você mandou três pessoas para o hospital, Edward. – Balancei a cabeça. – Não toque em nada. – Falei e ele ergueu as mãos. – Fale comigo, Wanda. – Me aproximei dela que ria.
- O que acha de uma flecha ou bala ser estourada em três tempos? – Ela virou para mim sorrindo.
- Incrível, mas como? – Perguntei.
- Bom... – Ela começou a falar e eu me distraí com a general nos olhando lá de cima por uma das janelas que rodeavam o local. Ela tinha um sorriso presunçoso no rosto, o mesmo sorriso que eu já havia aprendido a domar e ignorei-a, voltando a prestar atenção nas palavras de Wanda.
- Cinco anos e você ainda não melhorou sua defesa, Gale. – Ela falou, esticando a mão para mim e eu a segurei, me levantando novamente.
- Você é muito rápida! – Falei, estralando o pescoço. – Eu não consigo ver todos seus movimentos.
- Você está olhando para todos os lugares ao mesmo tempo, tente ver pela sua visão periférica! – Ela falou se afastando um pouco e erguendo os punhos cobertos com esparadrapo. – De novo! – Ela falou e eu assenti com a cabeça.
Coloquei um passo para frente e consegui pular antes que sua rasteira me atingisse. Essa eu já tinha aprendido faz tempo. Tentei focar no que ela disse e mantive meus olhos focados nos seus, tentando ignorar tudo que acontecia em seu rosto e tentar enxergar pela visão periférica, como ela disse.
Foi como se tudo acontecesse em câmera lenta. Desviei dos seus dois socos e girei o corpo para o lado contrário dela. Ergui a mão na altura do meu peito, sentindo seu pé bater na mesma e ela me olhou surpresa com esse desvio. Abri um sorriso e movimentei meus punhos duas vezes em direção ao seu rosto, que foi facilmente desviado e levantei a perna esquerda, chutando em sua direção.
Me surpreendi quando seu corpo foi jogado para trás quando meu pé atingiu seu peito e eu abri um largo sorriso, parando cansado, com a respiração acelerada. Ela balançou a cabeça, rindo fraco e passou a mão acima de seu peito, sorrindo.
- Essa doeu! – Ela falou e eu segui em sua direção, estendendo minha mão.
- Golpe de sorte? – Perguntei e ela se levantou.
- Não. – Ela falou. – Eu não te vi. – Ela sorriu. – Viu como foi bom te tirar do treino de tiro um pouco? – Ela passou as mãos em meus ombros.
- Talvez. – Respirei fundo. – Mas não confio em Edward com armas, você sabe disso. – Ela riu.
- Ele é bom, vai. Só precisa tomar cuidado com as flechas incendiárias. – Ri, negando com a cabeça.
- Qualquer flecha! – Falei, suspirando. – Ele precisa se manter no trabalho burocrático. – Ela gargalhou.
- Maldade! – Ela falou e eu colei meus lábios nos dela rapidamente.
- Senhora? – Nos separamos e olhei a assistente pessoal de aparecer na porta com uma prancheta.
- Diga, Bev! – falou, virando para frente e eu peguei uma tolha, passando-a em meu rosto.
- Posso voltar depois... – Ela falou.
- Pode falar! – falou rindo e se virou para me olhar rapidamente.
- A assistente da presidente Hoe te ligou. Eles querem saber se podem adiantar a reunião sobre as forças armadas para amanhã cedo. – Olhei o relógio ao mesmo tempo de .
- Quando sai o último trem para capital? – perguntou.
- 11 e 15, senhora. – se virou para mim.
- Dá tempo! – Falei, dando de ombros. – Aposto que Flick, Edward e Driffa estarão prontos. – Ela assentiu com a cabeça.
- Prepare para irmos nesse último trem, então, Bev. – suspirou. – Avise Flick, Edward e Driffa e chame Log, preciso pedir para ele deixar Rock pronto. – Bev apontou para fora.
- Na verdade, ele está aqui agora. – Bev falou e eu olhei uma cabeleira loira aparecer pela porta e eu e nos entreolhamos rindo. – Ele quer saber se seus pais superocupados poderiam lhe conceder uma reunião para falar sobre a excursão da escola. – Balancei a cabeça.
- Peça para que o senhor Rock Hawthorne entre, por favor. – falou e eu gargalhei.
Bev fez um movimento para que Rock entrasse e ele veio correndo em nossa direção, fazendo com que seus cabelos loiros chacoalhassem para todos os lados. se abaixou e Rock se jogou nos braços de sua mãe e eu me aproximei de ambos, passando a mão em seus cabelos.
- Ó, meu pequeno. O que houve? – perguntou, se sentando no tapete acolchoado e eu me sentei ao seu lado.
- O professor Elton vai fazer uma excursão para o museu dos Jogos na capital, eu quero saber se posso ir. – Rock falou e eu sorri.
- Claro que pode, meu amor. – Falei e ele sorriu. – Nós falaremos com ele, está bem?
- Está bem! – Ele me copiou e eu ri.
- Nós vamos para a capital essa noite, quer ir com a gente? – perguntou, segurando-o pela cintura.
- Eu posso? – Ele perguntou.
- Claro que pode! Nós vamos passar o fim de semana lá, não vamos te deixar sozinho! – falou rindo e Rock deu um beijo em sua bochecha.
- Eu vou sim! – Ele falou soltando-a. – Vou pedir para Log me ajudar a arrumar as coisas. – Ele começou a se animar e eu ri.
- Falando nisso, onde ele está? – Perguntei e Rock fez uma careta.
- Então... – Ele falou e eu revirei os olhos. – Eu tenho que ir, vejo vocês depois. – Ele falou, se soltando dos braços de e correndo em direção à saída.
- Esse é nosso menino. – se levantou.
- Não podemos reclamar, amor. – Passei o braço em seus ombros. – Ele é igualzinho a gente. – Ela riu, me abraçando pela cintura e encostando a cabeça em meu peito.
- Pior, talvez. – Ela falou e eu ri.
- Temos tempo para treinar mais um pouco? – Ela perguntou, se afastando de mim com a mesma rapidez.
- Senhora... – Bev chamou, franzindo a testa. – Já que vocês vão para a capital agora cedo, precisamos encontrar a prefeita para pegar os planos das forças armadas e organizar os últimos relatórios de... – fez uma careta.
- Peça isso para Edward, Bev. E precisamos oficializar minha completa remoção de cargos administrativos, ok?! – Ela falou. – Meu negócio é campo de batalha. – Ela piscou para mim e pegou uma toalha, começando a seguir Bev. – Te vejo mais tarde? – Ela me perguntou.
- Sim! – Falei. – Vou encontrar Flick e pegar alguns protótipos de armas. Te vejo em casa mais tarde. – Ela assentiu com a cabeça, mandando um beijo.
- Até mais! – Ela saiu da sala com Bev em seu encalço e eu sorri, seguindo pelo menos caminho, mas em direção ao arsenal.
Observei alguns passos a frente ouvindo as milhões de informações que Bev tinha para lhe passar e voltei alguns anos na memória em como eu havia trocado minha vida pós rebelião por um tiro no escuro e me encontrado no Distrito Dois. Além de encontrar uma pessoa sensacional para dividir a vida e ter a oportunidade de ter um filho incrível, algo que só em sonhos eu imaginaria.
Cinco anos haviam se passado desde que começamos a sair. Panem se reergueu de forma espetacular com a presidente Paylor e agora com a presidente Hoe. Os jogos haviam acabado e agora as únicas pessoas que precisavam realmente treinar éramos nós do Distrito Dois, mas como exército da capital, não para sobreviver. tinha a honraria mais alta do exército e eu cuidava do treinamento com armas e criação de algumas. Rock já tinha quatro anos e também estava começando a se virar e a aprontar.
E sobre a Katniss e meu distrito de nascença, você me pergunta. Acabei encontrando-a e Peeta em um dos bailes na capital em homenagem aos rebeldes que ajudaram a acabar com a opressão de Snow. Eles estão bem, com dois filhos também. Fomos cordiais um com o outro, apresentei e Rock com orgulho a eles que pareceram felizes por mim, mas foi só.
Depois de tanto dar murro em ponta de faca por alguém que não gostava de mim, eu havia encontrado alguém que trazia sorrisos em meu rosto das formas mais bobas possível. Alguns a chamavam de general, outros de chefia, chefa ou até de , mas para mim, quando estávamos só nós dois, com as luzes apagadas, ela ainda era minha dinamite.
- Ah, você chegou! – Flick falou animado quando passei pelas portas do arsenal.
- Você tem que ver isso! – Edward falou, seguindo para perto de algumas mulheres que tinham armas novas.
- O que você está fazendo aqui? – Perguntei a ele. – Eu já não te proibi de vir aqui?
- Ah, qual é, Gale. Aquilo foi um acidente. – Virei para ele.
- Você mandou três pessoas para o hospital, Edward. – Balancei a cabeça. – Não toque em nada. – Falei e ele ergueu as mãos. – Fale comigo, Wanda. – Me aproximei dela que ria.
- O que acha de uma flecha ou bala ser estourada em três tempos? – Ela virou para mim sorrindo.
- Incrível, mas como? – Perguntei.
- Bom... – Ela começou a falar e eu me distraí com a general nos olhando lá de cima por uma das janelas que rodeavam o local. Ela tinha um sorriso presunçoso no rosto, o mesmo sorriso que eu já havia aprendido a domar e ignorei-a, voltando a prestar atenção nas palavras de Wanda.
Fim!
Nota da autora: Essa é uma ideia que eu tive há muito tempo, quando eu estava esperando o último filme da saga para saber o que acontecia com meu personagem favorito (Gale), sabendo que ele obviamente não ficaria com Katniss (e nem queria). Comprei desesperada os livros para ler e quando li que ele só era mencionavo como "ele arranjou um trabalho bacaninha no Distrito Dois", eu fiquei muito brava. COMO ASSIM SÓ ISSO? Esperei o filme louca para que pelo menos isso fosse mudado, mas não. Enfim, imediatamente me veio essa ideia do Gale ficar com uma pp fodástica e maravilhosa. Demorou alguns anos, mas aqui estou! Apesar da história ser curtinha, feliz por ter conseguido escrever e trazer mais uma carta na manga!
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