1.
Today is my birthday
And I’m riding high
Hair is dripping
Hiding that I’m terrified
But this is summer
Playing dumber than in fall
Desceu do carro e bateu a porta com força. Jogou o cigarro no chão e esmagou-o com o salto grosso da bota de couro que vestia.
Sentiu os olhares dos homens no posto sobre si, mas não ligou. Continuou caminhando em direção à loja de conveniências.
Uma senhora de cabelos mal tingidos de loiro cumprimentou-a com simpatia, mas o olhar frio que a garota de preto lançou a ela fez com que se calasse.
Ela pegou duas garrafas da vodca mais cara do bar e dirigiu-se ao balcão.
A mulher não pediu nenhum tipo de identidade, e encarou com a naturalidade mais fingida possível o cartão dourado que a jovem lhe entregava.
Ela não agradeceu. Apenas pegou de volta o cartão e tomou para si as garrafas de vodca.
Olhou para o cartão em sua mão e, sem hesitar, quebrou-o ao meio, jogando os pedaços na calçada.
Voltou para a caminhonete de luxo que dirigia, onde acendeu outro cigarro e colocou o cinto de segurança apenas para calar o alarme.
Deu a partida e ligou o rádio no volume mais alto. Precisava espantar todos os pensamentos, mandar tudo para longe...
Responsibility, an anchor around my neck
(Responsabilidade, uma âncora em volta do meu pescoço)
Dependability, made me a nervous wreck
(Confiabilidade, me fez uma ruína de nervos)
Accountability, I live from check to check
(Contabilidade, eu vivo de cheque em cheque)
Volatility, neglect and no respect*
(Volatibilidade, negligência e nenhum respeito)
No banco do carona, o celular tocava.
Ela esticou a mão, abriu o vídeo e, com raiva, atirou o celular pela janela.
Faltava pouco. Faltava pouco para apagar de vez tudo que restava daquela vida.
O relógio em seu pulso marcava 23:50. Dez minutos, dez minutos para o fim, dez minutos para começar a moldar seu novo destino.
Dirigiu cantando alto a música que tocava, tentando esvaziar a mente de tudo que não fosse letra e melodia.
Às 23:59, parou o carro, desceu, tirou sua mala do banco de trás e soltou o freio de mão.
A luz refletida pela lua iluminava seus longos cabelos molhados.
Era meia noite quando o estrondo foi ouvido. Olhando para o abismo à sua frente, sorriu.
Era seu aniversário.
Era o fim, era o começo.
O começo de tudo.
*Trecho da música Moto Psycho da banda Megadeth.
2.
Everything I say falls right back
Into everything
I’m not in the swing of things
But what I really mean is
Not in the swing of things yet
ANTES
Tem 17 anos e fugiu de casa
Às sete horas da manhã no dia errado
Levou na bolsa umas mentiras pra contar
Deixou pra trás os pais e o namorado
Um passo sem pensar Um outro dia, um outro lugar**
Quando desceu do carro, sentiu o corpo esfriar com o medo. Sua casa estava cheia de viaturas policiais. Dentro de um dos carros, de cabeça baixa, estava seu pai. Do lado de fora, mantendo a compostura como sempre, sua madrasta, impassível, quase uma estátua decorando a cena.
quis correr, mas seu corpo não obedecia a seus comandos. Tara puxou-a pelo braço, arrastando-a para longe dos acontecimentos.
Horas depois, ela descobriria toda a verdade. Horas depois, tudo que ainda lhe restava desmoronou como um castelo de areia.
Nada nunca fora real. Nem mesmo todo o dinheiro que sustentava sua vida luxuosa era real. Não era seu.
Dan entrou no apartamento trazendo flores. Isso fez com que torcesse o nariz.
— Como você está, meu amor?
Ela não sabia o que dizer. Nos últimos três dias, não dissera sequer uma palavra.
—Vai ficar tudo bem, você vai ver.
Mentira. Agora ela sabia como identificar uma.
Enquanto Dan e Tara falavam, em vão, com ela, desenvolvia uma ideia que colocaria em prática em dois dias.
**Trecho da canção , da banda brasileira Capital Inicial.
3.
Riding around on the bikes
We’re still sane
I won’t be her
Tripping over onstage
Hey, it’s all cool I still like hotel
But I think that’ll change
Still like hotels
And my newfound fame
Hey, promise I can stay good
Ela pagou o hotel barato em que estava hospedada, na beira da estrada, e saiu com sua mochila, como vinha fazendo todos os dias. Nunca sabia se teria vontade de voltar no fim do dia.
Girando nos dedos um cigarro entre uma tragada e outra, suas botas de couro esmagavam folhas secas no caminho. O cheiro do xampu barato do hotel se espalhava quando ela andava. Por algum motivo, parecia cheiro de liberdade.
Parou quando viu um pequeno casebre de madeira envernizada do outro lado da estrada de terra. Era um bar. Ao meio dia, não devia estar lotado.
Cantarolando uma música antiga, ela atravessou a rua até lá.
You can run on for a long time
(Você pode fugir por um longo tempo)
Run on for a long time
(Fugir por um longo tempo)
Run on for a long time
(Fugir por um longo tempo)
Sooner or later god'll cut you down
(Cedo ou tarde Deus vai te reduzir)
Sooner or later god'll cut you down***
(Cedo ou tarde Deus vai te reduzir)
*** Trecho da canção “God’s Gonna Cut You Down”, do cantor norte americano Johnny Cash.
***
Pelo caminho, garrafas e cigarros
Sem amanhã, por diversão, roubava carros
Era Ana Paula, agora é
Usa salto quinze e saia de borracha
Um passo sem pensar
Um outro dia, um outro lugar*
Ela tinha acertado. O bar estava praticamente vazio, exceto por um homem de boné sentado junto ao balcão. Ele se virou quando a ouviu entrar, depois voltou-se para o seu copo de uísque barato.
sentou-se a dois bancos de distância. O barman foi até ela com um sorriso amarelo no rosto.
— A senhorita não acha que está bem cedo?
Ela apenas sorriu para ele e tirou o dinheiro do bolso.
Ouviu a risada do homem de boné, mas ignorou-o por completo.
Ele sentou-se mais perto dela.
— . — ele disse, estendendo a mão para ela.
Naquele momento, virou .
— Belo nome. Pena que eu sei que você está mentindo.
Ela sorriu de novo.
— . — ela repetiu.
— . — aceitou.
O barman deixou o copo de uísque dela no balcão e voltou a limpar os copos das prateleiras.
— O que faz aqui nesse fim de mundo? — perguntou.
— Não me lembro de isso ser da sua conta. – respondeu, dando um gole na bebida.
ergueu os braços em sinal de rendição.
— Entendi. Uma fugitiva. É isso que você faz da vida?
Uma fugitiva. Era isso que ela era?
— E o que você faz da vida? — ela perguntou.
— Eu roubo motos. — ele estendeu a mão de novo.
começou a rir.
— Eu roubo carros. — respondeu.
*Trecho da canção , da banda brasileira Capital Inicial.
We’re still sane
I won’t be her
Tripping over onstage
Hey, it’s all cool I still like hotel
But I think that’ll change
Still like hotels
And my newfound fame
Hey, promise I can stay good
Ela pagou o hotel barato em que estava hospedada, na beira da estrada, e saiu com sua mochila, como vinha fazendo todos os dias. Nunca sabia se teria vontade de voltar no fim do dia.
Girando nos dedos um cigarro entre uma tragada e outra, suas botas de couro esmagavam folhas secas no caminho. O cheiro do xampu barato do hotel se espalhava quando ela andava. Por algum motivo, parecia cheiro de liberdade.
Parou quando viu um pequeno casebre de madeira envernizada do outro lado da estrada de terra. Era um bar. Ao meio dia, não devia estar lotado.
Cantarolando uma música antiga, ela atravessou a rua até lá.
You can run on for a long time
(Você pode fugir por um longo tempo)
Run on for a long time
(Fugir por um longo tempo)
Run on for a long time
(Fugir por um longo tempo)
Sooner or later god'll cut you down
(Cedo ou tarde Deus vai te reduzir)
Sooner or later god'll cut you down***
(Cedo ou tarde Deus vai te reduzir)
*** Trecho da canção “God’s Gonna Cut You Down”, do cantor norte americano Johnny Cash.
Pelo caminho, garrafas e cigarros
Sem amanhã, por diversão, roubava carros
Era Ana Paula, agora é
Usa salto quinze e saia de borracha
Um passo sem pensar
Um outro dia, um outro lugar*
Ela tinha acertado. O bar estava praticamente vazio, exceto por um homem de boné sentado junto ao balcão. Ele se virou quando a ouviu entrar, depois voltou-se para o seu copo de uísque barato.
sentou-se a dois bancos de distância. O barman foi até ela com um sorriso amarelo no rosto.
— A senhorita não acha que está bem cedo?
Ela apenas sorriu para ele e tirou o dinheiro do bolso.
Ouviu a risada do homem de boné, mas ignorou-o por completo.
Ele sentou-se mais perto dela.
— . — ele disse, estendendo a mão para ela.
Naquele momento, virou .
— Belo nome. Pena que eu sei que você está mentindo.
Ela sorriu de novo.
— . — ela repetiu.
— . — aceitou.
O barman deixou o copo de uísque dela no balcão e voltou a limpar os copos das prateleiras.
— O que faz aqui nesse fim de mundo? — perguntou.
— Não me lembro de isso ser da sua conta. – respondeu, dando um gole na bebida.
ergueu os braços em sinal de rendição.
— Entendi. Uma fugitiva. É isso que você faz da vida?
Uma fugitiva. Era isso que ela era?
— E o que você faz da vida? — ela perguntou.
— Eu roubo motos. — ele estendeu a mão de novo.
começou a rir.
— Eu roubo carros. — respondeu.
*Trecho da canção , da banda brasileira Capital Inicial.
4.
Quando acordou, não estava no hotel dos últimos dias.
E, ao seu lado, estava o homem do bar.
Levantou-se sem se preocupar em acordá-lo ou não. O banheiro logo à frente era pequeno, mas ela jogou-se embaixo do chuveiro como se fosse a última e melhor coisa do mundo.
Não ouviu quando deixou o quarto, muito menos quando ele voltou, quinze minutos depois, com um saco de papel pardo com dois hambúrgueres e muita batata frita.
enrolou-se na toalha cinza pendurada na porta e voltou para o quarto.
estava sentado na cama, abrindo o saco de comida.
Ele sorriu para ela.
— O que ainda está fazendo aqui? — ela perguntou.
— Esse é o meu quarto de hotel.
assentiu.
— Trouxe comida. — esticou a sacola para ela, que não recusou.
— Por quê?
— Porque acho que vamos ser muito úteis um para o outro.
Ela novamente assentiu, mas, ao contrário dele, não sorriu.
Levantando-se da cama e se aproximando, dela, disse:
— Nós vamos até o topo.
Sem pensar duas vezes, beijou-o.
E, ao seu lado, estava o homem do bar.
Levantou-se sem se preocupar em acordá-lo ou não. O banheiro logo à frente era pequeno, mas ela jogou-se embaixo do chuveiro como se fosse a última e melhor coisa do mundo.
Não ouviu quando deixou o quarto, muito menos quando ele voltou, quinze minutos depois, com um saco de papel pardo com dois hambúrgueres e muita batata frita.
enrolou-se na toalha cinza pendurada na porta e voltou para o quarto.
estava sentado na cama, abrindo o saco de comida.
Ele sorriu para ela.
— O que ainda está fazendo aqui? — ela perguntou.
— Esse é o meu quarto de hotel.
assentiu.
— Trouxe comida. — esticou a sacola para ela, que não recusou.
— Por quê?
— Porque acho que vamos ser muito úteis um para o outro.
Ela novamente assentiu, mas, ao contrário dele, não sorriu.
Levantando-se da cama e se aproximando, dela, disse:
— Nós vamos até o topo.
Sem pensar duas vezes, beijou-o.
5.
(Everything feels right)
I’m little, but I’m coming for the crown
I’m little, but I’m coming for you
(Chase paper, get it)
I’m little, but I’m coming for the title
Held by everyone who’s up
ANTES
Esticando o tecido da saia que usava no escritório, saiu do elevador.
Sorriu para Dan, que a seguiu até sua pequena sala ao lado do escritório dele.
Dan a abraçou e beijou com gentileza, como sempre fazia.
— Oi, secretária.
Ela sorriu.
— Quer sair para almoçar hoje?
— Claro. Mas tenho muita coisa para fazer, não sei se dá tempo.
— Eu posso conversar com seu chefe. — Dan sorriu.
— Sem privilégios, Dan. Você prometeu.
Dan fez uma careta.
— Certo. Quando você terminar, estarei te esperando ali do lado.
sorriu.
— Está bem.
Naquela manhã, ligou para diversos investidores, marcou várias reuniões, encaminhou documentos e arquivos, respondeu e-mails e ligações e anotou compromissos, enquanto seu chefe e namorado, Dan, dormia na sala ao lado.
Ela precisava fazer por merecer...precisava mostrar ao pai que era boa nos negócios, tanto quanto ele.
Quando terminou, foi à sala de Dan para chama-lo para almoçar.
Jogado no imenso sofá, ele ainda dormia.
não sorriu.
Não sabia direito o que sentia por Dan, mas estar com ele era bom.
Estar ali era bom. Era tudo que ela queria. Era sua vida.
6.
All work and no play
Never made me lose it
All business all day
Keeps me up a level
All work and no play
Keeps me on the new shit
ANTES
Descobrir os crimes do pai foi como ter um punhal enfiado em seu peito e continuar vivendo.
Seu modelo de vida, seu espelho e maior ídolo, a pessoa para quem ela se esforçava em ser a melhor, a pessoa que ela queria impressionar e agradar o tempo todo...
Tudo era uma mentira. Todo o dinheiro, todo o conforto em que viveu a vida toda... tudo fora tirado de outras pessoas. Tudo fora manobrado... tudo fora um crime.
Sentada sozinha em seu quarto, ouvindo a conversa da mãe com o advogado no andar de baixo, ela fechou os olhos e pensou.
Sua vida sempre fora uma mentira. Precisava levantar-se e procurar sua verdade.
Never made me lose it
All business all day
Keeps me up a level
All work and no play
Keeps me on the new shit
ANTES
Descobrir os crimes do pai foi como ter um punhal enfiado em seu peito e continuar vivendo.
Seu modelo de vida, seu espelho e maior ídolo, a pessoa para quem ela se esforçava em ser a melhor, a pessoa que ela queria impressionar e agradar o tempo todo...
Tudo era uma mentira. Todo o dinheiro, todo o conforto em que viveu a vida toda... tudo fora tirado de outras pessoas. Tudo fora manobrado... tudo fora um crime.
Sentada sozinha em seu quarto, ouvindo a conversa da mãe com o advogado no andar de baixo, ela fechou os olhos e pensou.
Sua vida sempre fora uma mentira. Precisava levantar-se e procurar sua verdade.
7.
All work and no play
Let me count the bruises
All business all day
Keeps me up a level
All work and no play
Lonely on that new shit
Sentada em uma mesa suja de madeira em um pequeno restaurante ao lado de , assistia às imagens sem som na minúscula televisão presa à parede.
Era estranho ver a si mesma ali, suas fotos passando enquanto noticiavam seu sumiço.
Não foi como nos filmes, ninguém a reconheceu, já que ninguém prestava atenção. Além do mais, ela ostentava os documentos falsos de no bolso.
Não era mais . não mais existia.
Ver sua mãe falando na televisão doeu seu coração por alguns segundos, mas, logo depois, voltou-se para seu prato de macarrão gelado e comeu como se não houvesse amanhã.
Porque não havia.
— Tem esse festival no sábado... os riquinhos vêm de longe com seus carros e coroas e...
— Seja qual for o plano, tô dentro. — ela respondeu.
***
estava no banheiro quando ouviu a porta do quarto batendo. chegara.
Ela lavou as mãos e abriu a porta.
segurava cuidadosamente um pacote de papel pardo que, definitivamente, não era comida, já que as duas caixinhas com donuts estavam numa sacola plástica em cima da mesinha.
só esperou, encarando-o com curiosidade.
, então, desdobrou o saco e tirou de lá um revólver calibre 38.
— Mas que porra é essa? — ela perguntou. — Onde arrumou essa coisa?
— Não interessa. Nessa vida que você está agora, talvez acabe precisando. — ele esticou a arma para ela. — Tome aqui. — ela hesitou. — , pegue.
O mundo vai acabar
E ela só quer dançar
O mundo vai acabar
E ela só quer dançar, dançar, dançar*
No final da tarde, eles roubaram um Grand Cherokee preto. Foi com eles que seguiram para o festival a 102 quilômetros.
O lugar em questão ficava no meio do deserto, e reunia tanta gente que era impossível estimar uma quantidade. As luzes piscantes eram vistas de longe, e o longo estacionamento ostentava carros que adorava.
Ela colocou os olhos em um Porsche Panamera no meio da multidão e apontou para ele.
— Quero aquele. — disse.
— Se você quer, é o que você vai ter. — respondeu.
Os dois desceram do carro e se juntaram à multidão que dançava uma música eletrônica sem letra.
Por um momento, esqueceu o Porsche, esqueceu o que está fazendo ali. Esqueceu tudo.
E observou.
Ela só queria dançar.
*Trecho da canção , da banda brasileira Capital Inicial.
Let me count the bruises
All business all day
Keeps me up a level
All work and no play
Lonely on that new shit
Sentada em uma mesa suja de madeira em um pequeno restaurante ao lado de , assistia às imagens sem som na minúscula televisão presa à parede.
Era estranho ver a si mesma ali, suas fotos passando enquanto noticiavam seu sumiço.
Não foi como nos filmes, ninguém a reconheceu, já que ninguém prestava atenção. Além do mais, ela ostentava os documentos falsos de no bolso.
Não era mais . não mais existia.
Ver sua mãe falando na televisão doeu seu coração por alguns segundos, mas, logo depois, voltou-se para seu prato de macarrão gelado e comeu como se não houvesse amanhã.
Porque não havia.
— Tem esse festival no sábado... os riquinhos vêm de longe com seus carros e coroas e...
— Seja qual for o plano, tô dentro. — ela respondeu.
estava no banheiro quando ouviu a porta do quarto batendo. chegara.
Ela lavou as mãos e abriu a porta.
segurava cuidadosamente um pacote de papel pardo que, definitivamente, não era comida, já que as duas caixinhas com donuts estavam numa sacola plástica em cima da mesinha.
só esperou, encarando-o com curiosidade.
, então, desdobrou o saco e tirou de lá um revólver calibre 38.
— Mas que porra é essa? — ela perguntou. — Onde arrumou essa coisa?
— Não interessa. Nessa vida que você está agora, talvez acabe precisando. — ele esticou a arma para ela. — Tome aqui. — ela hesitou. — , pegue.
O mundo vai acabar
E ela só quer dançar
O mundo vai acabar
E ela só quer dançar, dançar, dançar*
No final da tarde, eles roubaram um Grand Cherokee preto. Foi com eles que seguiram para o festival a 102 quilômetros.
O lugar em questão ficava no meio do deserto, e reunia tanta gente que era impossível estimar uma quantidade. As luzes piscantes eram vistas de longe, e o longo estacionamento ostentava carros que adorava.
Ela colocou os olhos em um Porsche Panamera no meio da multidão e apontou para ele.
— Quero aquele. — disse.
— Se você quer, é o que você vai ter. — respondeu.
Os dois desceram do carro e se juntaram à multidão que dançava uma música eletrônica sem letra.
Por um momento, esqueceu o Porsche, esqueceu o que está fazendo ali. Esqueceu tudo.
E observou.
Ela só queria dançar.
*Trecho da canção , da banda brasileira Capital Inicial.
8.
Only bad people live to see
Their likeness set in stone
Only bad people live to se
e Their likeness set in stone
What does that make me?
dançou por quase duas horas antes de correrem de volta para o estacionamento e pegarem para si o Panamera que ela tinha visto antes.
— Eu nunca dirigi um desses. — confessou.
— Eu já.
— Quero ver como é.
— Só as pessoas más vivem para ver. — respondeu, sorrindo, enquanto ligava o carro e acelerava sem uma direção definida.
— Então... eu me pergunto o que isso faz de mim. — triplicou.
Their likeness set in stone
Only bad people live to se
e Their likeness set in stone
What does that make me?
dançou por quase duas horas antes de correrem de volta para o estacionamento e pegarem para si o Panamera que ela tinha visto antes.
— Eu nunca dirigi um desses. — confessou.
— Eu já.
— Quero ver como é.
— Só as pessoas más vivem para ver. — respondeu, sorrindo, enquanto ligava o carro e acelerava sem uma direção definida.
— Então... eu me pergunto o que isso faz de mim. — triplicou.
9.
Repassando o cigarro para , ela levantou a cabeça para fitar a lua. Tão linda... Nunca tinha parado realmente para admirá-la.
Sua nova vida inacreditavelmente lhe proporcionava muito mais que a anterior.
— No que está pensando? — perguntou.
Ela manteve a cara fechada. Apesar de estar passando as últimas semanas com ele, não queria compartilhar sua vida inteira com .
It took time to recognize
(Demorou para reconhecer)
We are all filled with pride
(Estamos todos cheios de orgulho)
I'm a wreck when I'm not by your side
(Eu sou uma ruína quando não estou ao seu lado)
Yes I know, yes I know
(Sim, eu sei. Sim, eu sei)
That I have to agree
(Que eu tenho que concordar)
There is no one as reckless as me****
(Não há ninguém tão imprudente quanto eu)
Por incrível que parecesse, ela precisou pensar algumas vezes antes de deixá-lo sozinho na pousada às quatro da manhã.
dormia como uma criança quando ela saiu. Antes de fechar a porta, perguntou-se onde estava com a cabeça por deixar aquele cara chegar tão perto. Percebeu, então, que já compartilhava com ele muito mais do que queria.
Ela precisava dar uma volta. Ficar parada fazia com que seus pensamentos tomassem conta de si por inteiro. Perder o controle de si mesma não estava nos planos.
Desceu as escadas correndo e saiu pelos fundos. Andando sem rumo ela adentrou a noite.
Andou por quase três quilômetros antes de encontrar um hotel requintado. O estacionamento subterrâneo não tinha a entrada protegida por seguranças, mas ela sabia que as câmeras deviam estar por todo lado. Grande merda.
Ajeitando o capuz do moletom para garantir que não fosse vista nas imagens, esgueirou-se pelos locais menos iluminados até o fundo do estacionamento.
Parado longe dos outros carros, um Lamborghini Huracán prateado chamava toda a atenção. Quem ela conhecia que tinha um carro como aquele?
Não era importante.
Não pensou duas vezes antes de tomá-lo para si.
Com o vidro aberto, o vento lhe chicoteava o rosto com força. Quando já estava bem longe do hotel, parou em um posto de gasolina abandonado para admirar o carro. Pulou para o banco do carona e abriu o porta-luvas. Puxou de lá uma montanha de papeis desorganizados. Alguma coisa caiu e, instintivamente, abaixou-se para pegar.
Era uma foto. A curiosidade falou mais alto e ela acendeu a luz para ver melhor.
Quando a luz iluminou a imagem, ela precisou conter um grito de tamanha surpresa.
**** Trecho da canção Reckless, de Martin Hall
10.
I’m not in the swing of things
But what I really mean is
Not in the swing of things yet
I’m not in the swing of things
But what I really mean is
Not in the swing of things yet
Quando viu, precisou piscar três vezes antes de acreditar nos próprios olhos.
Não podia ser.
A tentativa de controlar as lágrimas foi completamente em vão.
A família feliz na foto...
Aquela família feliz...
Na foto, ela, os pais, os tios e os dois primos pequenos posavam orgulhosamente ao lado dos avós.
Foi a primeira vez que ela sentiu saudade.
Não daquela vida, no geral, porque ela sabia que tudo tinha sido uma mentira. Mas dos avós, sempre tão carinhosos com ela e com todos os outros, sempre mais verdadeiros que todo o mundo ao seu redor...
Fechou os olhos para tirar-se dali. Eles já não existiam mais... não precisaram ver tudo ruir. Por um momento, ela sentiu paz.
Antes de pensar mais uma vez, soube o que tinha que fazer.
***
Enquanto o segundo carro de seu passado desmoronava com ele penhasco abaixo, ela não sentiu nada.
Nem tristeza, nem alegria, nem o toque gelado do vento da madrugada contra seu rosto e colo.
Caminhou decididamente por alguns quilômetros até a estrada mais movimentada, onde esticou a mão para pedir carona.
Depois de uns cinco minutos, um Ford Fiesta preto encostou.
O homem que abriu o vidro parecia mil vezes mais ingênuo e inocente que ela.
— Tô indo para a Pousada Stahl. — ela disse.
O homem apenas assentiu e ela ouviu o barulho da porta destravando.
Sem dizer mais nada, entrou no carro, afivelou o cinto e esperou o estranho dar partida.
Durante todo o trajeto, ele não abriu a boca, mas, quando o carro parou no primeiro semáforo na cidade, ele se esticou sobre ela. ficou em alerta, enrijecendo os músculos e se preparando para reagir, mas ele só abriu o porta-luvas e tirou de lá dois pequenos saquinhos de cocaína e ofereceu um a ela.
não pensou duas vezes antes de aceitar um deles.
***
— Larga isso. — surgiu atrás dela e, quando ela o encarou, viu que ele estava nervoso.
— O quê? — o choque foi maior que a raiva. — Quem você pensa que é pra me dizer o que fazer?
puxou os cabelos para trás.
— Eu não sou ninguém pra te dizer o que fazer. — ele disse. — Mas sou a única pessoa pra te lembrar o que você quer fazer.
— O que você quer dizer, ?
— Você quer ser livre. — respondeu. — Isso não vai te fazer livre. Pelo contrário. Isso vai tirar sua liberdade. E isso é algo que você não quer.
Irritada, ela varreu a sujeira com a mão e despejou os restos na lixeira.
— Eu te odeio. — disse, e puxou para si.
— Eu também. — ele respondeu.
But what I really mean is
Not in the swing of things yet
I’m not in the swing of things
But what I really mean is
Not in the swing of things yet
Quando viu, precisou piscar três vezes antes de acreditar nos próprios olhos.
Não podia ser.
A tentativa de controlar as lágrimas foi completamente em vão.
A família feliz na foto...
Aquela família feliz...
Na foto, ela, os pais, os tios e os dois primos pequenos posavam orgulhosamente ao lado dos avós.
Foi a primeira vez que ela sentiu saudade.
Não daquela vida, no geral, porque ela sabia que tudo tinha sido uma mentira. Mas dos avós, sempre tão carinhosos com ela e com todos os outros, sempre mais verdadeiros que todo o mundo ao seu redor...
Fechou os olhos para tirar-se dali. Eles já não existiam mais... não precisaram ver tudo ruir. Por um momento, ela sentiu paz.
Antes de pensar mais uma vez, soube o que tinha que fazer.
Enquanto o segundo carro de seu passado desmoronava com ele penhasco abaixo, ela não sentiu nada.
Nem tristeza, nem alegria, nem o toque gelado do vento da madrugada contra seu rosto e colo.
Caminhou decididamente por alguns quilômetros até a estrada mais movimentada, onde esticou a mão para pedir carona.
Depois de uns cinco minutos, um Ford Fiesta preto encostou.
O homem que abriu o vidro parecia mil vezes mais ingênuo e inocente que ela.
— Tô indo para a Pousada Stahl. — ela disse.
O homem apenas assentiu e ela ouviu o barulho da porta destravando.
Sem dizer mais nada, entrou no carro, afivelou o cinto e esperou o estranho dar partida.
Durante todo o trajeto, ele não abriu a boca, mas, quando o carro parou no primeiro semáforo na cidade, ele se esticou sobre ela. ficou em alerta, enrijecendo os músculos e se preparando para reagir, mas ele só abriu o porta-luvas e tirou de lá dois pequenos saquinhos de cocaína e ofereceu um a ela.
não pensou duas vezes antes de aceitar um deles.
— Larga isso. — surgiu atrás dela e, quando ela o encarou, viu que ele estava nervoso.
— O quê? — o choque foi maior que a raiva. — Quem você pensa que é pra me dizer o que fazer?
puxou os cabelos para trás.
— Eu não sou ninguém pra te dizer o que fazer. — ele disse. — Mas sou a única pessoa pra te lembrar o que você quer fazer.
— O que você quer dizer, ?
— Você quer ser livre. — respondeu. — Isso não vai te fazer livre. Pelo contrário. Isso vai tirar sua liberdade. E isso é algo que você não quer.
Irritada, ela varreu a sujeira com a mão e despejou os restos na lixeira.
— Eu te odeio. — disse, e puxou para si.
— Eu também. — ele respondeu.
11.
Dois meses depois...
All work and no play
Never made me lose it
All business all day
Keeps me up a level
All work and no play
Keeps me on the new shit, yeah
Eles param a Harley Cvo que roubaram na noite passada no estacionamento da padaria e descem com as mochilas. Ambos sabem que, pela condição do lugar, ali não não tem câmeras, mas dão uma volta para ter certeza. Depois de constatar que não tem, tiram as luvas e guardam nas bolsas.
— Cara... — ele suspira. — Eu tô morrendo de fome.
sorri ironicamente para ele.
— Quando você não está?
Os dois entram na padaria e sentam-se nos banquinhos que rangem perto do balcão.
— De todos os lugares em que estivemos, esse acabou de ganhar o prêmio de pior. — constatou.
riu.
— De todos os lugares em que ainda estaremos, esse acabou de ganhar o prêmio de pior até agora. — ele corrigiu.
Os dois pediram seus cafés e comeram pães com queijo enquanto assistiam ao noticiário que passava na TV jurássica do estabelecimento.
— Me dê um minuto. — pediu. — Vou ao banheiro.
assentiu e, distraída, continuou tomando seu café ralo e frio.
Além dela e , outros três homens comiam no lugar, batendo os talheres como se fossem instrumentos de guerra.
Por algum motivo, todos olharam quando a porta se abriu num rangido.
Quando reconheceu o recém chegado, arregalou os olhos e deixou o copo de café cair.
Não podia ser...
Antes que pudesse pensar em uma saída, ele já estava correndo em sua direção.
Ela recuou um pouco quando ele se aproximou.
— Finalmente! — Dan abraçou-a com força. — Finalmente, .
Ouvir aquele nome depois de tanto tempo foi tão estranho quanto estar novamente nos braços daquele homem.
***
— Como você chegou até aqui? — ela perguntou.
— Eu vi uma foto... não tinha certeza, mas resolvi seguir meus instintos... era maluco, mas a garota naquele festival eletrônico parecia muito com você... então eu descobri o lugar, peguei meu carro e fui até lá.
Enquanto ele falava, tudo que ela conseguia pensar era não, não, não.
— Então um cara de um bar horrível reconheceu você na foto, mesmo com o cabelo diferente... e eu soube que você ainda estava por perto. — Dan falava tudo sorrindo, como se fosse um super herói.
Desesperada, ela só conseguia olhar na direção dos banheiros. Não queria que soubesse, mas ele era a única pessoa que podia ajudá-la a se livrar de Dan.
— O que aconteceu, ? Como você veio parar aqui? — ele deslizava os dedos pelo rosto dela como se ela fosse uma peça sensível. — Você está tão magra! Está usando algum tipo de droga? Quem trouxe você pra cá?
— Dan, você precisa ir...
— Estão ameaçando você? — ele perguntou, balançando-a pelos ombros. — São esses homens? — ele murmurou.
— Dan, você precisa ir embora. É sério.
— Por quê?
— Porque eu não quero você aqui. — ela respondeu. — Eu estou aqui porque quero.
— Você não está falando sério, ...
A porta do banheiro bateu.
apareceu no corredor e gelou.
— O que está acontecendo? — ele perguntou.
— Vamos embora. — tentou puxá-lo para longe, mas não se moveu.
— Quem é esse? — Dan perguntou.
— Não é da sua conta! — ela gritou. —, por favor, vamos embora. Por favor.
Ele olhou para ela e assentiu.
Correndo, puxou-o pela mão para fora da padaria.
Eles subiram novamente na moto que pretendiam deixar para trás, mas, em alguns minutos na estrada, perceberam um carro seguindo os dois.
— Filho da puta. — xingou.
Acelerando o máximo que podiam, moto e carro disputavam o presente e o passado de uma garota.
***
Eles demoraram mais de uma hora para conseguir despistar Dan e voltar ao hotel onde tinha hospedado os dois. Deixaram a moto jogada no mato no meio do caminho e seguiram andando até lá.
Jogaram as mochilas na cama e sentaram-se de lados opostos.
não fez nenhuma pergunta. Sabia que ela não ia falar.
— Você quer ir para mais longe? — foi tudo que ele quis saber.
— Podemos partir de madrugada.
Ele assentiu.
— Vou sair para procurar um carro mais tarde. Depois volto para te buscar.
Ele arqueou a sobrancelha.
— Eu juro. — prometeu.
assentiu.
Only bad people live to see
Their likeness set in stone
Only bad people live to see
Their likeness set in stone
What does that make me?
acabara de desligar o carro no restaurante do hotel caindo aos pedaços em que estavam quando ouviu um barulho no vidro ao seu lado.
— Abre.
Um rapaz usando máscara estava parado de forma fantasmagórica, mal iluminado pela luz fraca de um poste antigo.
Quão irônico era aquilo?
pensou em levar a mão à cintura e pegar o revólver que carregava ali, mas não tinha certeza se o homem estava armado ou não. Estava demasiado escuro para que ela pudesse enxergar.
Com as mãos em sinal de rendição, ela abriu a porta do carro e desceu.
Não conseguia identificar nem mesmo os olhos do rapaz, mas o encarava como se pudesse ver sua alma.
— Me dá a chave. — ele disse.
negou com a cabeça.
— Eu não tenho chave. — respondeu.
Nervoso, o homem riu.
— Como assim “não tem chave”?
— Eu roubei essa merda.
Ele riu nervosamente outra vez.
— Me dá a chave. — ele repetiu.
— Você quer entrar aqui e ver que não tenho a porra da chave? — repetiu, abrindo a porta do carro e saindo.
Assim que afastou-se da porta para o carro entrar, sentiu a dor. Praticamente antes do barulho.
Aquela dor...
Levou a mão ao estômago, voltando-a para a frente do rosto com pavor. Sangue.
Antes que pudesse pensar em alguma coisa, caiu.
A visão turva mostrou se aproximando correndo.
Ele se curvou sobre ela e tocou-a na testa.
Ele provavelmente sempre soubera. Ele devia saber como acabaria. Ela sabia.
sorriu para ele.
— . — ela disse, a voz entrecortada pelo sangue que saía de sua boca.
Viu Dan correndo em direção a eles.
balançou a cabeça em negativa.
— Não. — ele murmurou. — . Você sempre vai ser minha .
A garota que fora e deixara de ser.
Ela não fechou os olhos.
All work and no play
Never made me lose it
All business all day
Keeps me up a level
All work and no play
Keeps me on the new shit, yeah
Eles param a Harley Cvo que roubaram na noite passada no estacionamento da padaria e descem com as mochilas. Ambos sabem que, pela condição do lugar, ali não não tem câmeras, mas dão uma volta para ter certeza. Depois de constatar que não tem, tiram as luvas e guardam nas bolsas.
— Cara... — ele suspira. — Eu tô morrendo de fome.
sorri ironicamente para ele.
— Quando você não está?
Os dois entram na padaria e sentam-se nos banquinhos que rangem perto do balcão.
— De todos os lugares em que estivemos, esse acabou de ganhar o prêmio de pior. — constatou.
riu.
— De todos os lugares em que ainda estaremos, esse acabou de ganhar o prêmio de pior até agora. — ele corrigiu.
Os dois pediram seus cafés e comeram pães com queijo enquanto assistiam ao noticiário que passava na TV jurássica do estabelecimento.
— Me dê um minuto. — pediu. — Vou ao banheiro.
assentiu e, distraída, continuou tomando seu café ralo e frio.
Além dela e , outros três homens comiam no lugar, batendo os talheres como se fossem instrumentos de guerra.
Por algum motivo, todos olharam quando a porta se abriu num rangido.
Quando reconheceu o recém chegado, arregalou os olhos e deixou o copo de café cair.
Não podia ser...
Antes que pudesse pensar em uma saída, ele já estava correndo em sua direção.
Ela recuou um pouco quando ele se aproximou.
— Finalmente! — Dan abraçou-a com força. — Finalmente, .
Ouvir aquele nome depois de tanto tempo foi tão estranho quanto estar novamente nos braços daquele homem.
— Como você chegou até aqui? — ela perguntou.
— Eu vi uma foto... não tinha certeza, mas resolvi seguir meus instintos... era maluco, mas a garota naquele festival eletrônico parecia muito com você... então eu descobri o lugar, peguei meu carro e fui até lá.
Enquanto ele falava, tudo que ela conseguia pensar era não, não, não.
— Então um cara de um bar horrível reconheceu você na foto, mesmo com o cabelo diferente... e eu soube que você ainda estava por perto. — Dan falava tudo sorrindo, como se fosse um super herói.
Desesperada, ela só conseguia olhar na direção dos banheiros. Não queria que soubesse, mas ele era a única pessoa que podia ajudá-la a se livrar de Dan.
— O que aconteceu, ? Como você veio parar aqui? — ele deslizava os dedos pelo rosto dela como se ela fosse uma peça sensível. — Você está tão magra! Está usando algum tipo de droga? Quem trouxe você pra cá?
— Dan, você precisa ir...
— Estão ameaçando você? — ele perguntou, balançando-a pelos ombros. — São esses homens? — ele murmurou.
— Dan, você precisa ir embora. É sério.
— Por quê?
— Porque eu não quero você aqui. — ela respondeu. — Eu estou aqui porque quero.
— Você não está falando sério, ...
A porta do banheiro bateu.
apareceu no corredor e gelou.
— O que está acontecendo? — ele perguntou.
— Vamos embora. — tentou puxá-lo para longe, mas não se moveu.
— Quem é esse? — Dan perguntou.
— Não é da sua conta! — ela gritou. —, por favor, vamos embora. Por favor.
Ele olhou para ela e assentiu.
Correndo, puxou-o pela mão para fora da padaria.
Eles subiram novamente na moto que pretendiam deixar para trás, mas, em alguns minutos na estrada, perceberam um carro seguindo os dois.
— Filho da puta. — xingou.
Acelerando o máximo que podiam, moto e carro disputavam o presente e o passado de uma garota.
Eles demoraram mais de uma hora para conseguir despistar Dan e voltar ao hotel onde tinha hospedado os dois. Deixaram a moto jogada no mato no meio do caminho e seguiram andando até lá.
Jogaram as mochilas na cama e sentaram-se de lados opostos.
não fez nenhuma pergunta. Sabia que ela não ia falar.
— Você quer ir para mais longe? — foi tudo que ele quis saber.
— Podemos partir de madrugada.
Ele assentiu.
— Vou sair para procurar um carro mais tarde. Depois volto para te buscar.
Ele arqueou a sobrancelha.
— Eu juro. — prometeu.
assentiu.
Only bad people live to see
Their likeness set in stone
Only bad people live to see
Their likeness set in stone
What does that make me?
acabara de desligar o carro no restaurante do hotel caindo aos pedaços em que estavam quando ouviu um barulho no vidro ao seu lado.
— Abre.
Um rapaz usando máscara estava parado de forma fantasmagórica, mal iluminado pela luz fraca de um poste antigo.
Quão irônico era aquilo?
pensou em levar a mão à cintura e pegar o revólver que carregava ali, mas não tinha certeza se o homem estava armado ou não. Estava demasiado escuro para que ela pudesse enxergar.
Com as mãos em sinal de rendição, ela abriu a porta do carro e desceu.
Não conseguia identificar nem mesmo os olhos do rapaz, mas o encarava como se pudesse ver sua alma.
— Me dá a chave. — ele disse.
negou com a cabeça.
— Eu não tenho chave. — respondeu.
Nervoso, o homem riu.
— Como assim “não tem chave”?
— Eu roubei essa merda.
Ele riu nervosamente outra vez.
— Me dá a chave. — ele repetiu.
— Você quer entrar aqui e ver que não tenho a porra da chave? — repetiu, abrindo a porta do carro e saindo.
Assim que afastou-se da porta para o carro entrar, sentiu a dor. Praticamente antes do barulho.
Aquela dor...
Levou a mão ao estômago, voltando-a para a frente do rosto com pavor. Sangue.
Antes que pudesse pensar em alguma coisa, caiu.
A visão turva mostrou se aproximando correndo.
Ele se curvou sobre ela e tocou-a na testa.
Ele provavelmente sempre soubera. Ele devia saber como acabaria. Ela sabia.
sorriu para ele.
— . — ela disse, a voz entrecortada pelo sangue que saía de sua boca.
Viu Dan correndo em direção a eles.
balançou a cabeça em negativa.
— Não. — ele murmurou. — . Você sempre vai ser minha .
A garota que fora e deixara de ser.
Ela não fechou os olhos.
Epílogo
> segurava com força as grossas barras de metal que o prendiam ali. Ainda não parara de gritar.
Não parara de gritar por nem um minuto desde que Dan chamara a polícia na noite anterior, com caída aos pés dos dois.
ANTES:
Abraçado ao corpo sem vida da garota que mudara sua vida nos últimos meses, não conseguia acreditar no que estava diante de seus olhos.
— Fale comigo. — ele implorava. — Por favor, fale comigo.
Ele não percebeu quando Dan ligou para a polícia. Mas e se tivesse percebido? Ele teria fugido? Teria sido capaz de deixa-la para trás?
Quando deu por si, as luzes vermelhas e azuis e as vozes imponentes já tomavam conta de tudo. De início, não resistira, mas, quando percebeu o que estava acontecendo, começou a gritar.
— O que é isso? O que está acontecendo?
— O senhor tem o direito de permanecer calado. — a policial que o algemava repetiu.
— O quê? Eu não fiz nada! Eu não fiz nada! — gritava sem parar. — Ela... um cara... ele saiu correndo... — parecia que suas lágrimas acabariam levando-o com elas. — Eu não fiz nada... pelo amor de Deus... eu nunca faria nada... nunca... nada!
Enquanto era jogado na viatura, chorou como nunca antes.
***
— Hora de acordar, Bela Adormecida. — o carcereiro bateu com força nas barras para acordá-lo. — Você tem uma visita.
— Uma visita?
O pior cenário que conseguia imaginar era encontrar alguém de sua família ali. Se fosse um de seus irmãos... ele não saberia como reagir. Uma coisa era eles ficarem sabendo que ele estava preso. Outra, completamente diferente, era encontra-los cara a cara.
Quando chegou à saleta que cheirava a água sanitária em excesso, o ódio que sentia tomou conta de si por completo.
— O que você está fazendo aqui? — ele pronunciava as palavras engolindo com dificuldade. — O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?
— Você matou a .
— EU NÃO MATEI NINGUÉM! EU AMAVA ELA!
— Pare de gritar, seu animal. — Dan disse, levantando-se de sua cadeira. — É tudo culpa sua. Tudo que aconteceu com ela... foi você que causou tudo isso. E você vai ver amanhã, no seu julgamento.
Dan esbarrou em de propósito enquanto deixava a sala.
***
Dan estava lá com um grupo de pessoas que deduziu ser a família da garota que sempre chamaria de . Uma das mulheres mais velhas, uma loira atraente que não devia passar dos 40, chorava copiosamente. Isso somado à inegável semelhança dos traços já era o suficiente para que ele soubesse que era a mãe dela.
Ele quis sair de lá, conversar com ela, contar os momentos felizes que a filha vivera em seus últimos meses, mas não podia. Estava ali para ser julgado por um crime que não cometera. Um crime que jamais cometeria.
Mas não era isso que Dan dizia aos quatro cantos. E Dan tinha dinheiro... o suficiente para comprar qualquer coisa. O suficiente para comprar justiça.
Foi aí que ele desistiu.
Abaixou a cabeça e desligou-se do mundo.
Tudo correu como ele imaginara. As acusações, as fotos dos dois no festival... tudo que o fizera feliz nos últimos meses agora era usado para acusa-lo. Para culpa-lo.
Ele fechou os olhos quando uma testemunha foi chamada. Sem prestar atenção em todo o processo, ele não fazia ideia de como teriam encontrado alguma testemunha de qualquer coisa.
— Ele é inocente. — foi a frase que o tirou do transe. — Ele é inocente. Eu vi tudo... Eu filmei tudo. — a garota disse. — Eu entreguei tudo para a polícia hoje cedo.
O advogado que seus irmãos conseguiram para ele levantou-se quando um oficial entrou trazendo um pen drive para a juíza, que anunciou um intervalo no julgamento.
— O vídeo que a senhorita Sterling filmou já foi anexado às provas oficiais. A juíza não deve fazer vista grossa sobre o que ele mostra. É tudo óbvio demais. Você chegando correndo, abraçando a garota... o choro, a prisão. Está tudo lá. — o advogado disse, enquanto mexia um copinho plástico com café. — Além do mais, todas as provas apresentadas pela acusação são provas circunstanciais... são meras deduções.
— Mas o que aquele idiota está dizendo é que aquele homem trabalhava para mim... que eu o mandei matar a ... . Que eu o mandei matar a .
— Eu não posso garantir que a juíza veja dessa maneira, mas o mais sensato seria desconsiderar essa linha de pensamento. Dan tem tudo para fazer uma acusação passional. Ele era o namorado, mas ela estava com você. Quando voltarmos ao tribunal, essa vai ser a linha que eu vou seguir.
assentiu.
— Espero que funcione.
***
Enquanto a juíza falava, Dan não conseguia parar quieto em seu assento.
— Isso é um absurdo de se afirmar! — ele gritou.
— Senhor, mantenha o silêncio ou será retirado do tribunal. — a juíza tranquilamente declarou, voltando-se ao seu discurso. — Partindo do ponto de que o senhor Daniel Friar tinha um relacionamento concreto com a vítima e a mesma vinha mantendo um relacionamento amoroso com o réu, o mais coerente a se afirmar é que a defesa tem razão em sugerir que a acusação do senhor Friar é passional, uma vez que as imagens apresentadas pela testemunha de defesa e as apresentadas pela própria acusação mostram que o relacionamento entre a vítima e o réu era positivo. Portanto, declaro o senhor Rowling inocente.
***
Sentado à mesa, assinando e assinando sem parar, só conseguia pensar em como ela estaria orgulhosa de si mesma.
O livro que ele escrevera, a história dela, vendia como água no deserto.
E essa não era a melhor parte.
Ele sorriu quando viu Melissa chegando na livraria. A mãe de sorriu e acenou para ele enquanto entrava na fila para o autógrafo.
Quando chegou sua vez, esticou a mão para cumprimenta-la. Melissa segurou a mão dele com força e carinho.
— Ela estaria feliz. — afirmou. — Mais uma vez você está fazendo minha filha feliz, .
Timidamente, ele assentiu.
— Espero que ela esteja.
— Eu nunca vou conseguir expressar quão grata eu sou por você ter cuidado da minha filha. Nunca vou conseguir te agradecer o suficiente por tê-la amado.
Era isso.
Ele a amava.
Ele sempre amaria.
Com esse pensamento, sorriu como se ela estivesse com ele.
Porque estava.
Não parara de gritar por nem um minuto desde que Dan chamara a polícia na noite anterior, com caída aos pés dos dois.
ANTES:
Abraçado ao corpo sem vida da garota que mudara sua vida nos últimos meses, não conseguia acreditar no que estava diante de seus olhos.
— Fale comigo. — ele implorava. — Por favor, fale comigo.
Ele não percebeu quando Dan ligou para a polícia. Mas e se tivesse percebido? Ele teria fugido? Teria sido capaz de deixa-la para trás?
Quando deu por si, as luzes vermelhas e azuis e as vozes imponentes já tomavam conta de tudo. De início, não resistira, mas, quando percebeu o que estava acontecendo, começou a gritar.
— O que é isso? O que está acontecendo?
— O senhor tem o direito de permanecer calado. — a policial que o algemava repetiu.
— O quê? Eu não fiz nada! Eu não fiz nada! — gritava sem parar. — Ela... um cara... ele saiu correndo... — parecia que suas lágrimas acabariam levando-o com elas. — Eu não fiz nada... pelo amor de Deus... eu nunca faria nada... nunca... nada!
Enquanto era jogado na viatura, chorou como nunca antes.
— Hora de acordar, Bela Adormecida. — o carcereiro bateu com força nas barras para acordá-lo. — Você tem uma visita.
— Uma visita?
O pior cenário que conseguia imaginar era encontrar alguém de sua família ali. Se fosse um de seus irmãos... ele não saberia como reagir. Uma coisa era eles ficarem sabendo que ele estava preso. Outra, completamente diferente, era encontra-los cara a cara.
Quando chegou à saleta que cheirava a água sanitária em excesso, o ódio que sentia tomou conta de si por completo.
— O que você está fazendo aqui? — ele pronunciava as palavras engolindo com dificuldade. — O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?
— Você matou a .
— EU NÃO MATEI NINGUÉM! EU AMAVA ELA!
— Pare de gritar, seu animal. — Dan disse, levantando-se de sua cadeira. — É tudo culpa sua. Tudo que aconteceu com ela... foi você que causou tudo isso. E você vai ver amanhã, no seu julgamento.
Dan esbarrou em de propósito enquanto deixava a sala.
Dan estava lá com um grupo de pessoas que deduziu ser a família da garota que sempre chamaria de . Uma das mulheres mais velhas, uma loira atraente que não devia passar dos 40, chorava copiosamente. Isso somado à inegável semelhança dos traços já era o suficiente para que ele soubesse que era a mãe dela.
Ele quis sair de lá, conversar com ela, contar os momentos felizes que a filha vivera em seus últimos meses, mas não podia. Estava ali para ser julgado por um crime que não cometera. Um crime que jamais cometeria.
Mas não era isso que Dan dizia aos quatro cantos. E Dan tinha dinheiro... o suficiente para comprar qualquer coisa. O suficiente para comprar justiça.
Foi aí que ele desistiu.
Abaixou a cabeça e desligou-se do mundo.
Tudo correu como ele imaginara. As acusações, as fotos dos dois no festival... tudo que o fizera feliz nos últimos meses agora era usado para acusa-lo. Para culpa-lo.
Ele fechou os olhos quando uma testemunha foi chamada. Sem prestar atenção em todo o processo, ele não fazia ideia de como teriam encontrado alguma testemunha de qualquer coisa.
— Ele é inocente. — foi a frase que o tirou do transe. — Ele é inocente. Eu vi tudo... Eu filmei tudo. — a garota disse. — Eu entreguei tudo para a polícia hoje cedo.
O advogado que seus irmãos conseguiram para ele levantou-se quando um oficial entrou trazendo um pen drive para a juíza, que anunciou um intervalo no julgamento.
— O vídeo que a senhorita Sterling filmou já foi anexado às provas oficiais. A juíza não deve fazer vista grossa sobre o que ele mostra. É tudo óbvio demais. Você chegando correndo, abraçando a garota... o choro, a prisão. Está tudo lá. — o advogado disse, enquanto mexia um copinho plástico com café. — Além do mais, todas as provas apresentadas pela acusação são provas circunstanciais... são meras deduções.
— Mas o que aquele idiota está dizendo é que aquele homem trabalhava para mim... que eu o mandei matar a ... . Que eu o mandei matar a .
— Eu não posso garantir que a juíza veja dessa maneira, mas o mais sensato seria desconsiderar essa linha de pensamento. Dan tem tudo para fazer uma acusação passional. Ele era o namorado, mas ela estava com você. Quando voltarmos ao tribunal, essa vai ser a linha que eu vou seguir.
assentiu.
— Espero que funcione.
Enquanto a juíza falava, Dan não conseguia parar quieto em seu assento.
— Isso é um absurdo de se afirmar! — ele gritou.
— Senhor, mantenha o silêncio ou será retirado do tribunal. — a juíza tranquilamente declarou, voltando-se ao seu discurso. — Partindo do ponto de que o senhor Daniel Friar tinha um relacionamento concreto com a vítima e a mesma vinha mantendo um relacionamento amoroso com o réu, o mais coerente a se afirmar é que a defesa tem razão em sugerir que a acusação do senhor Friar é passional, uma vez que as imagens apresentadas pela testemunha de defesa e as apresentadas pela própria acusação mostram que o relacionamento entre a vítima e o réu era positivo. Portanto, declaro o senhor Rowling inocente.
Sentado à mesa, assinando e assinando sem parar, só conseguia pensar em como ela estaria orgulhosa de si mesma.
O livro que ele escrevera, a história dela, vendia como água no deserto.
E essa não era a melhor parte.
Ele sorriu quando viu Melissa chegando na livraria. A mãe de sorriu e acenou para ele enquanto entrava na fila para o autógrafo.
Quando chegou sua vez, esticou a mão para cumprimenta-la. Melissa segurou a mão dele com força e carinho.
— Ela estaria feliz. — afirmou. — Mais uma vez você está fazendo minha filha feliz, .
Timidamente, ele assentiu.
— Espero que ela esteja.
— Eu nunca vou conseguir expressar quão grata eu sou por você ter cuidado da minha filha. Nunca vou conseguir te agradecer o suficiente por tê-la amado.
Era isso.
Ele a amava.
Ele sempre amaria.
Com esse pensamento, sorriu como se ela estivesse com ele.
Porque estava.